sábado, 10 de dezembro de 2011

Uma deliciosa história portuguesa

     Tenho me remetido, sistematicamente - notei isso ontem, ao reler alguns textos -, aos meus ascendentes portugueses (avós e pai), de um lado, e africano (bisavó materna), de outro, uma mistura que se consolidou no Brasil e gerou uma população naturalmente generosa e aberta (em sua maioria) e que convive prazerosamente com as diferenças.
     Essa minha retomada das origens tem me levado a viajar virtualmente por Portugal, principalmente, onde estive duas vezes recentemente. Em uma delas, tive a oportunidade de conhecer a cidade de Ponte do Lima, ao Norte, acima do Porto, de onde partiram - no início do século passado - meus avós, Antônio e Maria (um simples vendeiro e uma moleira analfabeta), carregando dois filhos, não por acaso, Maria e Antônio, meu pai.
     Esse momento meio nostálgico me estimulou a, finalmente, começar a ler Equador, romance de Miguel Souza Tavares, de 2003, recomendado insistentemente por Flávia, minha filha mais velha, a mãe de Júlia e Pedro, personagens constantes desse Blog.
     Não estava exatamente relutante. Afinal, em termos literários, me dediquei recentemente a obras com algum contexto histórico, como os excelentes 1908 e 1822, de Laurentino Gomes, O Príncipe Maldito, da ótima Mary del Priori, e o divertido Guia Politicamente Incorreto da América Latina, dos jornalistas Leandro Narloch e Duda Teixeira. E pretendia seguir nesse rumo, voltado, no entanto, para as coisas brasileiras, que me desafiam.
     Equador (Editora Nova Fronteira) tem sido uma ótima descoberta. As páginas estão fluindo com mais rapidez do que eu gostaria - convidando à releitura - e prometem um encontro fantástico com um pedaço da história intimamente ligado ao nosso, avançando dos últimos anos do século 19 ao fim da monarquia lusa, navegando pelo começo do século 20. O texto é ótimo, com um sabor especial, explicado na página de créditos: mantém o português de Portugal, com seus acentos em vogais inimagináveis e construções mais elaboradas do que as nossas.
     Não vou transcrever, por óbvio, suas pouco mais de 500 páginas. Vou me deter, hoje, em uma passagem da vida do personagem principal, Luís Bernardo Valença - acho que não por acaso, também -, um advogado que abandonou a banca, como o autor, que se transformou em jornalista.
     Ao falar de suas conquistas e amores, Luís Bernardo, já com seus 37 anos, lembra a ocasião, única, em que ficou noivo, de um menina "com um devastador peito de adolescente", no qual ele chegou a mergulhar "superficialmente" (não podemos esquecer que o romance se passa no início do século passado, em Portugal).
     Quase casou, mas fugiu, ao ver que teria que conviver, para sempre, com a "ignorância da noiva, que confundia Berlim com Viena". Preferiu abandonar o compromisso, ao colocar na balança "os peitinhos de rola" e as conversas imbecis que precisaria aturar.
     É livro para ler comendo 'pastéis de Belém'.

2 comentários:

  1. Adorei, Marco Antonio! Você escreve super bem, uma delícia ler seus textos. Muito obrigada por escrevê-los!
    Agora também estou com vontade de ler esse livro do Miguel Souza Tavares comendo pastéis de Belém. Vou procura-lo no site da amazon.com.
    Beijos pra você.

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  2. Obrigado, Solange. Costumo dizer, sinceramente, que os temas ajudam até os autores de textos rasos, como os desse nosso Blog. O livro é muito bom, mesmo, o que se pode ver desde o início.

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