domingo, 18 de dezembro de 2011

Esbulho da história

     Alguém poderia argumentar que esse texto chega atrasado ao Blog. Não deixaria de ter relativa razão. A meu favor, no entanto, o fato de já ter abordado o assunto - o mergulho argentino na idade das trevas político-ideológicas - há algum tempo, quando lamentei a mediocriodade escancarada pela reeleita presidente Cristina Kirchner.
     Nada mais antigo e constrangedor do que o culto personalístico que se ensaia no nosso vizinho, com direito a exibições expressas de apelos ao que há de mais demagógico e atrasado nesse país que, há um século, ostentava alguns dos melhores índices de vida do mundo.
     Esse misto de peronismo, evitismo e kirchnerismo, uma sopa com sabor de naftalina, explora o abismo em que o povo argentino vem sendo atirado, por sucessivos governantes divorciados do mundo moderno, responsáveis por atos de irresponsabilidade fiscal e descompromisso com os princípios democráticos.
     O Globo, na edição de sábado, tratou com enorme atualidade a mais nova iniciativa da nova pretensa mãe dos descamisados. A presidente argentina está decidida, sem subterfúgios, a reescrever a história do país, literalmente, fazendo uma intervenção até mesmo no conteúdo dos livros didáticos. Tudo, sob os olhares do grupo que detém o poder, esquecida que a história não pertence a um governo, a uma ideologia, mas à Nação.
     Na Rússia comunista, um dos maiores exemplos dessa intervenção deletéria foi a borracha ideológica passada na foto em que o já então dissidente Leon Trotsky aparecia o lado de Lenin, por ordem de Josef Stalin, um dos maiores genocidas da história do mundo. Outro exemplar digno dessa imbecilidade proposta na Argentina: as fogueiras de livros feitas pela Guarda Vermelha de Mao, na China.
     Cristina, além de tentar escrever uma história à semelhança do seu limitado alcance, avança, como um trator da prepotência, contra a liberdade de pensamento e de expressão, cerceando jornais que não a reverenciam, seguindo os passos do outro gigante da estupidez bananeira, seu financista Hugo Chávez, misto de ditator e prestigitador venezuelano.
     Dessa vez, no entanto, houve reação aos propósitos delinquentes de alterar o passado, para alicerçar o presente e invadir o futuro. Dezenas de intelectuais - professores, escritores - argentinos denunciaram a tentativa de esbulho.
     Cristina Kirchner, admito, tem até o direito de fazer história, mesmo calçada em demagogia e irresponsabilidade financeira. Mas não tem o direito de reescrever os fatos.

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