terça-feira, 31 de maio de 2011

Educação demagógica

     A se acreditar no O Globo, o ministro da Educação, Fernando Haddad, garantiu hoje, em reunião da Comissão de Educação do Senado, que o livro Por uma vida melhor , da professora Heloísa Ramos, não ensina a falar ou a escrever errado, apenas admite a troca dos conceitos "certo e errado" por "adequado ou inadequado". Seguindo esse - digamos - raciocínio, frases como "nós pega o peixe" poderiam ser consideradas corretas em "certos contextos", ressalta o jornal.
     Nenhuma surpresa. Isso é a cara da 'Era Lula' (que não acabou), marcada pelas impropriedades proferidas diuturnamente pelo ex-presidente a quem tudo se desculpa, tudo se perdoa, tudo se aplaude. E que ninguém se atrevesse a criticar asnices como a teoria das vantagens que a Terra teria se não fosse redonda. Seria logo tachado de elitista, preconceituoso ou - maior dos males - direitista militante.
     A falta de esses nos plurais foi incorporada na espécie de dialeto lulo-petista que assola o país. As concordâncias ... Seria exigir muito. Falta de escolaridade passou a ser símbolo de autenticidade. Quantas e quantas vezes fomos obrigados (no meu, caso, pelo menos) a escutar louvações ao fato de um nordestino quase analfabeto ter chegado ao mais alto posto do país, como se a ignorância fosse um atributo, e não um problema a ser enfrentado.
     Respeitar as características de cada região, ou camada da população, é algo saudável. Defender erros e incorreções é só demagogia.

Uma aventura caribenha - Capítulo 29

Terça-feira, 10/08/1999 - O libertador da América
     Manaus – Atravessar a Venezuela e não falar da fortíssima presença de Simon Bolívar seria uma grave falha histórica. Bolivar é, sem a menor sombra de dúvida, a grande figura desse país, seu indiscutível inspirador.
    Não há cidade sem uma estátua do homem que é considerado o libertador da América. O culto à sua imagem é cada vez mais acentuado. E isso ficou ainda mais claro a partir da ascensão ao poder do presidente Hugo Chávez, um indiscutível bolivarista (*).
    Simon Bolivar liderou, na primeira metade do século passado (ao lado de José de San Martin e José Sucre) as guerras de independência da América Espanhola. Sua participação foi decisiva na independência da Venezuela, Bolívia, Colômbia, Peru e Bolívia.
     Bolivar tinha dois sonhos: libertar a América do domínio espanhol e, paralelamente, torna-la uma só nação. Não conseguiu a segunda parte. A unidade hispano-americana não foi para a frente e a Gran-Colombia, que havia criado, dividiu-se em diversos países (Bolivar foi presidente da Venezuela de 1821 a 1828). Assim como o vice-reino do Prata, instituído por San Martin, acabou transformado na Argentina, Paraguai e Uruguai.
     Cansado, doente e, o que é pior, repudiado pelo povo que ajudou a libertar, Bolivar morreu em 1839, aos 56 anos.

(*) O texto toma como referência o momento vivido em 1999.

Teatro barato

     O ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, mostra que segue à risca os mandamentos do seu partido para fugir das explicações do inexplicável. O primeiro deles é a negação, mesmo que os dólares estejam saindo da cueca, ou que alguém tenha sido filmado recebendo propinas no caixa de um banco amigo. Negar até o fim, contando - como já disse aqui algumas vezes - com o esgotamento natural da notícia (há sempre a possibilidade de um terremoto no Japão ou o estupro de uma camareira), com a cumplicidade dos jornalistas companheiros e com a enorme falta de informação e politização da sociedade.
      Segundo a repórter Vera Rosa, do jornal O Estado de S. Paulo, Palocci já definiu o roteiro do que o Governo espera ser o terceiro e último ato da comédia pastelão que vem sendo protagonizada por ele e pelo Palácio do Planalto, conivente com mais um dos escândalos envolvendo altos personagens da República.
     O ministro só estaria esperando o procurador-geral dizer que não há nada de errado em alguém ficar milionário de um dia para outro, fazendo consultoria, para dar uma esclarecedora e definitiva entrevista a uma tevê de grande audiência, depois de quase 20 dias refugiado, escondido, saindo pela porta dos fundos do Palácio.
     Não há como o script dar errado. O procurador, de fato, está analisando atos desabonadores realizados pelo ministro, enquanto ministro, como se alguém estivesse discutindo isso. Eles sabem que não é esse o caso. Nunca foi. O estupendo aumento de renda do atual ministro ocorreu antes de ele voltar de fato ao primeiro escalão, quando era deputado federal (PT-SP) e, a partir de junho do ano passado, coordenador da campanha da presidente Dilma Roussef.
     A questão está em saber que tipo de consultoria o então deputado em atividade e, por coincidência, ex-ministro da Fazenda, prestou nos últimos quatro anos. Quais foram os clientes. Que tipo de 'aconselhamento' foi prestado, e em que situações. Tudo o mais é apenas encenação. E da pior qualidade.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Pérolas da noite de domingo

     Na falta de programas que me atraíssem, no fim da noite de ontem, saí trocando de canal, parando, por mais tempo, nas mesas-redondas esportivas. Dois minutos - se tanto! - num tal de Bate-Bola, da ESPN Brasil, foram mais do que suficientes para esbarrar em absurdos inimagináveis, obras de alguém que, em tese, deveria ser o apresentador ou mediador das discussões esportivas.
     Confesso que não sei o nome do tal ..., vá lá, 'apresentador'. Só me fixo nas ESPNs em situações específicas, de transmissão de alguns jogos de campeonatos europeus, embora goste de alguns componentes da equipe, como o Mauro César Guimarães e o PVC, entre outros. Não sei se ele é titular ou reserva. Só sei que o cabra me saiu com duas pérolas. Vamos a ela.
     A primeira: " Eu vi ele com um preto outro dia", tentando ser engraçado ao comentar a vestimenta de outro componente da mesa. A segunda, no encerramento do ... programa: " Tchau, canalhas".
     Em compensação, no SporTV, o ex-árbitro Leonardo Gaciba demonstrou que tem tudo para fazer sucesso na nova profissão - comentarista de arbitragem. Muito bem articulado e seguro (um erro bem comum, ao misturar ter com haver), teve mais uma ótima participação nos debates que se seguem às rodadas. Didático, sem ser chato, e mostrando independência, apontou erros graves de seus ex-colegas, sem se deixar levar pelos nefastos 'espírito de corpo' e tendência à contemporização tão comuns.
     De ruim, mesmo, uma frase que ficou ressoando no meu ouvido por algum tempo: " ... o quarteto de arbitragem usem comunicação ...". A bem da verdade: não foi ele quem disse tal desatino. Mas há que se entender: falar, ao vivo e a cores, é muito difícil.
     Para encerrar esse texto que mistura esportes e televisão, aí vai minha impressão sobre o GP de Mônaco de Fórmula 1. Não, não vou me fixar no sensacional Sebastian Vetel, vencedor de cinco dos seis GPs corridos esse ano. Vou me prender às condições da corrida, em si.
     Reconheço que o Principado é absolutamente charmoso, lindo, fascinante. Mas não há justificativa esportiva que me convença de que rua é lugar para corrida. Para aprovar um autódromo, a tal da FIA faz centenas de exigências. Em Mônaco, os pilotos passam por  um túnel a quase 300 por hora. E, como aconteceu com Felipe Massa, ontem, batem por causa da sujeira na pista.

Introdução aos textos 'politicamente corretos'

     Vou me permitir esboçar algo semelhante a uma aula de jornalismo para iniciantes na profissão, leitores e telespectadores desavisados. Uma espécie de introdução à produção de textos politicamente corretos que jamais poderão ser tachados de mentirosos, embora absolutamente manipulados.
     Tomemos como exemplo um fato bem recente, a manifestação favorável ao ex-general sérvio Ratko Mladic, prestes a ser enviado ao Tribunal de Haia pelo governo bósnio. É fato notório que Mladic é um genocida, responsável pelo extermínio de milhares de pessoas na Guerra da Bósnia. Um assassino que merece a forca, sem dúvida, mas com um agravante: é de - vamos dizer - direita.
     Atenção: o fato de ser um genocida ou terrorista nem sempre vai merecer críticas definitivas. Se for um Stalin, um Mao ou um Bin Ladem, haverá sempre a possibilidade de encontrar justificativas sociológicas e componentes históricos para atos simplesmente sanguinários. Portanto, cuidado! Na dúvida, é sempre bom colocar uma frase ou duas de um barbicha da UFF ou da USP.
     Voltando ao tema principal. Por ser indesculpável, tudo o que se relaciona a ele - o tal criminoso - também o é, por óbvio. Especialmente manifestações, como a ocorrida ontem e que reuniu milhares de pessoas. Sendo assim, pode-se defender - sem constrangimento - a atuação da polícia para reprimir esse tipo de manifestante.
     Nesses casos - isso é importante! -, os policiais, ao atirar e lançar bombas, estarão apenas 'reagindo' aos ataques de desordeiros. Afinal, fazer o quê, quando grupos de jovens fascistas (e parte dos apoiadores do general sérvio fez, mesmo, pura baderna) saem pela rua jogando pedras e coquetéis molotov nos agentes da lei e da ordem?
     As imagens? Na edição, devem ser usadas as imagens panorâmicas, que exibam os manifestantes raivosos, atacando. Nada de detalhes de policiais 'descendo o sarrafo' em uma jovem acuada.
     Em situações exatamente iguais, mas que envolvam manifestantes que não se enquadrem no perfil 'direitista', é só aplicar o inverso dessas regras. Os policiais serão sempre violentos e reagirão com 'força desproporcional' (é assim que as ações do Exército de Israel são descritas, sempre, por exemplo). As pedras e bombas serão apenas instrumentos da luta pela liberdade, pelo direito de expor ideias.

domingo, 29 de maio de 2011

Uma aventura caribenha - Capítulo 28


O marco da fronteira com a Venezuela

Terça-feira, 10/08/1999 - Viagem para carro grande
     Manaus - Vou aproveitar o tempo livre aqui em Manaus (a balsa que nos levará a Belém, nossa próxima escala, por esse fantástico Rio Amazonas, só deve sair hoje à noite) para responder, de uma só vez, a um enorme número de pessoas que nos enviaram mensagens com uma questão básica: se é possível fazer essa viagem com um carro comum, de passeio.
     Domingo, percorrendo os caminhos alternativos da Grande Savana, tivemos (eu, Alexandre Viana e João Marcos Venturini) a certeza de que a resposta é não.
     Um carro comum teria enormes dificuldades (acreditamos que não conseguiria) em superar os quilômetros de buracos, pedras, lama e areia que separam a estrada principal dos pontos turísticos mais interessantes da região.
     O sofrimento começaria já nas estradas brasileiras atravessadas por nós desde a saída do Rio. Há muitos buracos espalhados pelo caminho. Uma ameaça constante à integridade de um veículo menos resistente. Mas, com muita calma, seria possível. Atravessar a BR-319, que liga (?) Porto Velho a Manaus, nem pensar. Enfrentar a grande savana, de maneira alguma.
     Nossa, picape (Dakota), embora não tenha sido projetada para desafios off-road (não é um veiculo 4x4), mostrou que tem a seu favor alguns atributos invejáveis, como um motor valente (turbo-diesel de 4 cilindros e 2,5 litros) e boa distância livre do solo (fundamental para escapar de pedregulhos).
     Em alguns momentos, graças, em especial, à habilidade de Alexandre Viana e João Marcos, as Dakotas chegaram a se superar, vencendo aclives muito acentuados e escorregadios.

Palocci coleciona denúncias

     Mais uma 'enxadada' da Folha, novas minhocas surgiram para essa inesgotável pesca de variantes cabulosas do estupendo enriquecimento do ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, o 'Pelé dos consultores', segundo mais uma recente brincadeira idiota e inoportuna do inimputável ex-presidente Lula.
     Na edição de hoje, os repórteres José Ernesto Credendio, Fernanda Oldilla e Matheus Leitão revelam que o grosso da dinheirama do ministro, ano passado, foi ganha quando ele já tinha acesso oficialmente a dados confidenciais do governo, por chefiar a equipe de transição da candidata eleita Dilma Roussef. Nesse período, Palocci, por força da lei, podia requisitar todas as informações sobre projetos, investimentos etc previstos pelo governo.
     Se fez uso dessa facilidade, ajudando seus clientes a faturar mais e melhor, é algo que somente a avaliação de sua carteira de contratos pode ajudar a provar. Mas, até agora, valendo-se de uma providencial cláusula de sigilo, Palocci vem se negando a fornecer os nomes.
     Paralelamente, outra informação sobre seu (de Palocci) exuberante novo estilo de vida - ele que é um dos mais destacados militantes do socialista Partido dos Trabalhadores - vem acrescentar mais tempero às críticas e desconfianças que desabaram sobre o ministro: as despesas com aluguel, condomínio e taxas do suntuoso apartamento em que mora, em São Paulo (não é o que ele comprou, por R$ 6,6 milhões), consumiriam mais de 80% do seu salário.
     Além de ser um gênio nas consultorias, o ministro, que é médico de formação, vem se mostrando um fenômeno na administração de finanças - as suas, em especial.

sábado, 28 de maio de 2011

Serra ganha prêmio de consolação

     José Serra, o duas vezes derrotado candidato à presidência, não tem do que reclamar. Poucas pessoas - Lula foi uma delas - conquistaram mais de uma vez, como ele conquistou - apesar de derrotado na estréia - o direito de disputar o mais alto cargo de um país. Insistir com seu nome, embora honrado e bem avaliado administrativamente, seria um suicídio, em especial para uma oposição moribunda e sem rumo.
     Fez bem o PSDB, na convenção realizada hoje em Brasília, em - vamos dizer assim - realocar o ex-governador de São Paulo. A futura participação no Conselho Político previsto pela Executiva nacional do partido, é um ótimo prêmio de consolação. Serra não pode esquecer que estará 'sentado' ao lado do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, dos governadores Geraldo Alckmin (SP) e Marconi Perillo ( GO) e do deputado pernambucado Sérgio Guerra - reeleito presidente do partido - num colegiado que ajudará definir as linhas da ação oposicionista.
     A presidência do Instituto Teotônio Vilella, responsável, de fato, pela formatação da política do PSDB, que era pleiteada por ele, ficou mesmo com o ex-senador Tasso Jereissati, derrotado na tentativa de se reeleger.
     Fernando Henrique, como se fosse um motorista de ônibus lotado acionando o 'freio de arrumação', conseguiu, por enquanto, contornar as enormes arestas existentes no principal partido de oposição. Um partido com um grande número de cabeças coroadas lutando pela indicação a um único trono. Nessa campanha, ficou evidente a 'pole position' do senador Aécio Neves, um dos que perderam a noite de sono tentando reduzir as fraturas expostas do PSDB. Correndo por fora, também com direito a claque, o governador Maconi Perillo.

Uma aventura caribenha - Capítulo 27

Entre João Marcos e João Carlos, tendo o mar do Caribe ao fundo


Domingo, 8/08/1999 - Para não dizer que não falei do Caribe

     Boa Vista - Assim, de repente, nos demos conta, já aqui em Boa Vista, depois de uma longa jornada de quase oito horas seguidas, que mal falamos do Caribe. Na verdade, para nós, o mar do Caribe sempre foi um emblema, não o objetivo. A proposta do Projeto Integração era mostrar que é possível sair das margens da Baía de Guanabara, de carro, e desembocar no Caribe.
     Não nas já famosas ilhas paradisíacas (Margaritas, San Martin... ), mas simplesmente no Caribe. E nós chegamos lá, como mostra a foto de Alexandre Viana. Reservamos, até, uma tarde para passar na orla marítima de Puerto la Cruz, uma cidade eminentemente turística, de onde partem os ferry boats.

Reféns dos 'subalternos'

     O Governo e o PT ainda estão grogues. O golpe inesperado, com os efeitos de um cruzado no fígado, deixou os dois na lona, rezando para o juiz demorar muito na contagem. Acostumadas à histórica postura subserviente do PMDB, seu maior aliado nos últimos anos, as cabeças pensantes dos seguidores de Lula foram surpreendidos pela inesperada determinação (?) do partido de José Sarney, do vice Michel Temer e de Renan Calheiros, entre outros.
     Logo o PMDB, reconhecidamente o grupo menos propenso a embates, exceto os destinados aos preenchimento de cargos em todos os escalões. Foi como se o partido do senador Romero Jucá, de um momento para o outro, tivesse descoberto uma verdade eterna, que não desperta o menor respeito no 'aliado', que é apenas usado no projeto petista, para garantir espaço nas campanhas eleitorais, vitórias nas votações e o acobertamento de atos criminosos do pessoal ligado ao Planalto. Em síntese: o sapo que se tem que engolir, uma turma subalterna com a qual o PT é obrigado a conviver, em prol do objetivo maior.
     A divergência em torno da aprovação do Código Florestal, nesse contexto, foi apenas o deflagrador, especialmente por que - na verdade - ela não existia. A imensa maioria de votos, incluindo os do PT, mostra que havia, sim, um consenso - e não vou entrar, nesse momento, no mérito do projeto.
     A reação governamental ao que a sua base aprovou, teve, sim, o dedo do marketing. A avaliar o sentimento da população e as expectativas da mídia em geral, o Palácio do Planalto tentou posar, como de hábito, como traído. "Nós somos contra os desmatadores, os mocinhos", procuraram bradar a presidente e seus garotos de recado. "Eles são os maus, os bandidos".
     Dessa vez, a fantasia não colou. À ameaça de cortes na cota de cargos, o PMDB acenou com a aprovação da convocação dos ministros Antonio Palocci e Fernando Hadad para prestarem esclarecimentos sobre determinados comportamentos não-republicanos. A presidente Dilma e o PT, ao que parece, esqueceram que não têm a capacidade de manipulação dos fatos exibida pelo ex-presidente Lula. De arrogantes, passaram a reféns.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Um torcedor à moda antiga

     Redescobri, quarta-feira à noite, depois da vitória do Vasco sobre o Avaí (2 a 0), que -parodiando Roberto Carlos, o Rei, não o lateral-esquerdo - eu sou um torcedor à moda antiga, do tipo que ainda se emociona com declarações de amor ao clube, especialmente quando partem de jogadores.
     Talvez por que o desabafo do zagueiro Dedé, um menino de 22 anos, tenha me parecido tão sincero, tão convincente. Em meio às comemorações pela classificação à fase final da Copa do Brasil, Dedé falou à TV Globo da sua emoção a cada vez que veste a camisa do Vasco, da paixão que descobriu sentir pelo clube. Foi uma fala espontânea, solta, olhando nos olhos dos milhões de torcedores que comemoravam em suas casas, por todo o país.
     Dedé transmitiu sentimentos - pelo menos para mim - que nada têm a ver com os ensaiados beijos nos escudo que se tornaram obrigatórios a cada assinatura de contrato, exigências das torcidas organizadas. Escutando as declarações de um dos melhores zagueiros do país, me remeti à minha infância, quando sonhava jogar pelo Vasco, fazer gols decisivos, festejar conquistas. E chorar nas derrotas.
     Um sonho que sucumbiu rapidamente à minha absoluta falta do talento necessário aos atletas profissionais. Deficiência técnica que não me impediu, no entanto - e quero deixar registrado - de exercer uma longa e, por vezes, bem-sucedida trajetória, primeiro, de peladeiro nos campos suburbanos; depois, de artilheiro quase imbatível no antigo futebol de salão (modéstia à parte).
     Prevaleceu, para além do sonho, entretanto, a paixão que me faz desculpar, ainda hoje, até mesmo um eventual gol contra em uma partida decisiva, se feito por um atleta sabidamente torcedor, que vai sofrer não apenas como 'um-profissional-do-futebol', mas como o menino que economiza a mesada para comprar noventa minutos de emoção num estádio.

O naufrágio de um governo que não começou

     Talvez esteja ecoando outros autores, não sei. Mas admito que sim, pela lógica do raciocínio. A julgar pelos últimos acontecimentos, o governo Dilma Roussef acabou, espancado pela intervenção direta, ostensiva e totalmente constrangedora do ex-presidente Lula, personagem, hoje, de mais uma concorrida aparição pública, ao lado de dirigentes de centrais sindicais, aos quais deve ter ido exigir lealdade ao projeto de poder liderado pelo PT.
     Até mesmo a presença da presidente de direito (não mais de fato), ontem, em solenidade na qual saiu em defesa do seu chefe da casa Civil, Antonio Palocci, foi atribuída a uma determinação do seu antecessor no cargo, que já assumira o controle da movimentação política, ao reunir o vice-presidente e senadores do PMDB; cobrar postura dos senadores do seu partido; e invadir o Palácio do Planalto, para se reunir com sua sucessora e o ministro acusado de enriquecimento 'não-republicano".
     Que Lula, o inimputável, continuava imprimindo os rumos do governo, ninguém duvidava. Basta ver a composição do ministério, cujos postos mais importantes foram ocupados por remanescentes de sua governança. Mas não se imaginava que Dilma - presidente - fosse tão submissa, a ponto de reconhecer - indiretamente, é claro - sua incapacidade de reagir e liderar sem a presença do mentor.
     Triste fim para algo que sequer começou de fato. O recolhimento da presidente nos primeiros meses de mandato, vê-se claramente, não representava um estilo de governar. Era apenas a admissão da falta de capacitação para o cargo, o encolhimento face à liturgia, às exigências. Com Lula, temos que admitir, isso jamais aconteceu. Ele nunca admitiu sua enorme e vergonhosa mediocridade, por absoluta ausência de superego.

Uma nova chance de vida

     Sou o que posso classificar como um crítico rigoroso do atual prefeito do Rio de Janeiro, o convertido Eduardo Paes. Muito mais pela sua falta de identidade ideológica - seja ela qual for - do que pelas suas artes de governança, embora essa seja claramente ampliada à base de factóides e golpes de marketing, bem no estilo do seu antecessor.
     Mas seria injusto comigo mesmo - nem tanto com ele - se não aplaudisse a decisão tomada ontem, em parceria e de acordo com os órgãos de proteção à infância e juventude, com relação a essa legião abandonada nas ruas e vítima dos males abissais do crack.
     Desde ontem, aqui no Rio, prevalece a lógica, a decência, o respeito à dignidade, a admissão da responsabilidade do governo municipal com uma parcela enorme de seus governados. Jovens e crianças recolhidos nesses lugares deprimentes - chamados de 'cracolândias' - não mais serão abandonados à própria infelicidade, por conta de uma interpretação demagógica, 'politicamente correta', do que vem a ser o direito à autodeterminação.
     Finalmente um ente do Estado - e por estado entenda-se a nação - assume sua obrigação e desenvolve um projeto destinado a cuidar e livrar do vício, da degradação e da morte prematura uma geração que apenas sobrevive, e da maneira mais miserável.
     A esses jovens e crianças, ao menos, será oferecida - esperamos todos - a oportunidade de conquistar um espaço digno na sociedade.

O importante é saber de onde saiu o dinheiro

 
     A manchete da página de O Globo ("Ministério Público abre investigação sobre enriquecimento de Palocci") pode - e deve - ter duas interpretações, especialmente se ligada ao complemento, o subtítulo: "Procuradores querem saber se aumento de patrimônio é compatível com que a empresa dele, a Projeto, obteve com contratos".
     À primeira vista, parece que, afinal, o pudor começa a conquistar algum espaço em Brasília. Foram necessárias duas semanas para que representantes da Justiça, em tese, começassem a pensar que alguma coisa não andava bem, não batia. Afinal, o atual ministro da Casa Civil, ex-ministro da Fazenda e ex-deputado federal acabara de ficar milionário prestando 'consultoria'.
     Milionário, mesmo. Daqueles que ganham R$ 20 milhões em dois meses, o equivalente a uma 'dízima periódica' diária de R$ 333.333,33. Sem falar na compra dos imóveis (o tal apartamento de R$ 6,6 milhões no bairro mais 'reacionário' de São Paulo e o escritório de quase R$ 900 mil).
     O problema está nas entrelinhas. Saber se o espetacular aumento de patrimônio do ministro Antonio Palocci é compatível com a receita da sua empresa não quer dizer, absolutamente, nada. A questão está 'na' receita em si, em como foi obtida, de onde saiu, quem pagou pelos - digamos - serviços especiais de consultoria. E quanto. Simples assim.
     Eu, por exemplo, não tenho a menor dúvida que o aumento patrimonial do senhor Luis Fernando da Costa era totalmente compatível com a receita de seu trabalho. Só que o dinheiro desse senhor - mais conhecido como 'Fernandinho Beira-Mar' - vinha de atividades ilícitas. E por isso ele está preso.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Uma pausa para a paixão

     Vou me permitir abrir um parêntese nessa série de comentários políticos, para tratar de um momento vivido por uma paixão antiga e sedimentada: o Vasco.
     Talvez não se repita. Ou - quem sabe? - se transforme, aos poucos, em uma constante, como eu espero. A verdade é que a atuação do Vasco nos primeiros 40 minutos da vitória sobre o Avaí (2 a 0), que garantiu uma vaga na final da Copa do Brasil, foi muito, muito boa. O time todo jogou bem, mas Felipe, Dedé, Anderson Martins, Rômulo, Diego Souza, Eder Luís e Alecsandro, em especial, estiveram perto do ideal possível.
     Jogadas rápidas, toque de bola quase perfeito, deslocamentos, antecipações. Tudo o que se pode exigir de uma equipe que carrega a responsabilidade de representar uma das mais belas histórias do futebol brasileiro.
     O segundo tempo não foi lá essas coisas, reconheço. Como o resultado parcial exigia que o adversário virasse o jogo (precisaria de, pelo menos, três gols), o Vasco apostou nos contra-ataques e, mesmo sem repetir a ótima atuação dos primeiros minutos, poderia ter feito dois ou três gols. Chegou a fazer um, mal anulado pela arbitragem.
     Ainda há falhas importantes, como a cobertura da lateral-direita e os momentos de indefinição tática de Diego Souza (fica perdido, sem saber se volta para compor a defesa ou fica mais à frente). Mas o progresso da equipe é evidente. Além da determinação, da vontade, da entrega em campo.
     Para coroar o ótimo fim de noite, os torcedores ainda puderam saborear a entrevista de Dedé, um dos dois melhores zagueiros em atividade no país. Emocionado, Dedé falou da sensação de vestir a camisa do Vasco, da sua paixão pelo clube. Nem precisava ter jogado tão bem.

Presidente acata ordem de Lula e defende Palocci

     A presidente Dilma Roussef cumpriu à risca as ordens do seu antecessor e mentor, o chefe dos chefes, o inimputável Lula, primeiro e único. E, como se fosse um Gilberto Carvalho de saias, saiu em defesa do ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, formalmente, pela primeira vez  desde o início do escândalo do estupendo aumento de patrimônio do seu principal auxiliar. Seu argumento não poderia ser mais medíocre: o caso estava sendo "politizado".
    Podemos inferir, com base nessa constatação, que, na visão do Planalto, um deputado federal do PT e ex-ministro da Fazenda receber R$ 20 milhões em apenas dois meses (por coincidência, nos dois meses que se seguiram à eleição da presidente), depois de ter comprado um suntuoso apartamento (R$ 6,6 milhões) e um superescritório (R$ 800 mil) é algo absolutamente normal, corriqueiro.
     Ou, como destacou o prestigitador-mor da República, ontem, durante encontro com os senadores Renan Calheiros, José Sarney e Romero Jucá, entre outros luminares do PMDB, o resultado do trabalho de consultoria "do Pelé da economia".
     A cena envolvendo a presidente do Brasil e seu ministro da Casa Civil não poderia ter sido mais constrangedora. Palocci, com a expressão de menino pego roubando doces de uma compoteira, teve que ouvir Dilma Roussef garantir que ele está explicando tudo a quem de direito.
     Esquece, a presidente, que ela e seus ministros devem explicações, sim, mas à sociedade, que assistou, também, nas últimas horas, a uma inédita intervenção direta em um Governo recém-eleito, promovida pelo ex-presidente que prometera sair do foco dos holofotes.
     A presidente, além do papel lamentável a que se submeteu, deixou evidente, ontem, que foi atropelada no exercício do mais importante cargo do país.


O Código Florestal é do Governo, sim

     A cada comentário, título ou notícia sobre a 'derrota' do Governo na aprovação do novo Código Florestal, mais eu me sinto tratado como um idiota - ou por idiotas. Nunca, jamais, em tempo algum, houve um governo com tão acachapante maioria no Congresso. Nada - repito, nada - é aprovado sem o aval dos partidos da base governista, especialmente o PT, o maior deles, o mais importante, o líder.
     Essa tentativa ridícula de tentar separar o governo dos eventuais vícios contidos no Código é mais um factóide, comprado e disseminado por jornais e jornalistas - incluindo  em especial os mistos de artistas e comentaristas da Globo News - que não se dão sequer ao trabalho de parar e pensar por alguns minutos, antes de divulgar o que interessa apenas  à imagem que o Planalto tenta nos impingir. Se o Código é ruim e danoso ao ambiente, devemos cobrar, sim, do Governo. Acusar a 'bancada ruralista' da Câmara é uma bobagem sem limites. Foram 410 votos a favor e apenas 63 contra. Haja ruralista ...
     O caso da emenda que exime de multa os desmatadores, embora tenha sido aprovado por uma margem bem menor, também não pode ser atribuído apenas aos demônios da oposição. Insisto: nada acontece nesse país sem o apoio da base de sustentação da presidente da República. Uma base heterogênea, composta pelo que há de mais pernicioso na vida pública. Mas é a base que o Governo escolheu e acolheu para efetivar o projeto de poder petista. E que funciona à sua semelhança.
     Dirão alguns ingênuos - como se existisse essa categoria na política - que o Governo foi vencido, traído até, por parlamentares sem escrúpulos e interessados apenas em vantagens pessoais. A presidente Dilma, não. Ela seria a defensora perpétua das florestas, uma espécie de D. Pedro I da Amazônia.
     A julgar pelo raciocínio simplista que o Governo tenta nos impor, a base governista só é boa quando impede a convocação de ministros e afins envolvidos em falcatruas e amplia o tempo de tevê nos períodos eleitorais. Nos demais casos, seria um amontoado de partidos de aluguel, politicos venais e aspirantes a cargos, qualquer cargo.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Chantagem faz Governo recuar

     A 'era petista' mostra, a cada tema polêmico, que não há ideologia que resista à boa e velha chantagem usada pelos 'partidos da base' para salvar os figurões do governo da degola, da execração pública, das eventuais cassações. Foi assim no mensalão. Foi assim no caso da quebra de sigilo do caseiro do casarão frequentado pelo ministro Palocci. Vem sendo assim agora, quando novo escândalo envolve o ministro mais poderoso do governo.    
     E não poderia deixar de ser assim no caso da distribuição de cartilhas e vídeos contra a homofobia, produzidos pelos Ministérios da Educação e da Saúde. E, mais uma vez, surge a figura soturna do ministro Gilberto Carvalho, o carregador de malas não-republicanas, a 'mula petista', para afirmar o que seus atos desmentem. Jurar pelo que suas ações solapam.
     Sequer entro no mérito - se o tal material era bom ou ruim, se era conveniente, ou não. A grande verdade, a enorme constatação, é que ele existia e seria distribuído. Não será mais. A bancada do atraso - independentemente da religião que seus membros professam - exigiu que tudo fosse cancelado, ou os ministros Antônio Palocci (Casa Civil) e Fernando Haddad (Educação), teriam que prestar contas de seus desatinos.
     O ex-seminarista que adora o ex-presidente Lula sobre todas as coisas, a ponto de morrer por ele, se preciso for, cumpriu seu papel de garoto de recados e, com toda a firmeza, garantiu a repórteres embasbacados que a presidente Dulma ''não gostou" do conteúdo da cartilha e do vídeo, mas que o governo continua contra a homofobia. Contra a homofobia e a favor da ocultação dos fatos, deveria ter completado.
     Segundo O Globo, o ministro ainda teve a coragem de dizer (esse comentário é meu, não do jornal), que "a partir de agora todo o material sobre costumes será feito a partir de consultas mais amplas à sociedade e às bancadas, como a da educação, a da família e as religiosas". É muita cara-de-pau dessa gente.

Uma aventura caribenha - Capítulo 26

Estradas de terra cortam a região, levando aos pontos turísticos


Domingo, 8/08/1999 - Os caminhos para os tepuys
     Gran sabana, Venezuela - A Grande Savana, esse imenso parque natural, fica no centro da região denominada Guayana (sul da Venezuela, norte do Brasil e sul da Guiana e Suriname). Na verdade, é uma grande planície de 900 a 1.400 metros de altura, com mais ou menos 15 mil quilômetros quadrados de extensão.
     Sobre ela, reinam os 'tepuys', enormes montanhas de até 2.800 metros. São eles que dominam a paisagem e a imaginação dos indígenas. É nos tepuys (o principal deles é o Roraima, exatamente na fronteira de Venezuela, Brasil e Guiana, zona em litígio), também, que nascem os rios que cortam toda essa belíssima região, acessível aos brasileiros pela chamada 'rota da integração', que parte de Manaus e chega a Caracas ao longo de 2.500 quilômetros de estradas.
     A porta de entrada da grande savana, para os brasileiros, é a cidade de Santa Elena de Uairén, a apenas 17 quilômetros da fronteira. Mas há que tomar algumas precauções.
     A primeira delas, óbvia, é estar com o passaporte em dia. A situação dos carros também deve ser regularizada, o que pode ser feito no Departamento de Trânsito de Boa Vista. Além disso, o Brasil exige vacina contra febre amarela.
     No lado venezuelano, os brasileiros contam com a assistência do consulado brasileiro (Calle Antônio José de Sucre, 24, Santa Elena de Uairén, telefone 088.951256).
     Em Santa Elena há várias agencias de turismo autorizadas a funcionar, como a Anaconda, Adventure, Afonso e Happy. Mais detalhes com o escritório de turismo do estado Bolivar.

Governistas aprovaram novo Código Florestal

     Confesso que ainda não me sinto em condições de avaliar, sem paixão, o conteúdo do Código Florestal aprovado ontem na Câmara. Pelo seu histórico, não creio que o deputado Aldo Rebelo (PCdoB) seja uma espécie de aliado de latifundiários. Em contrapartida, as manifestações de regozijo da turma das queimadas me levam a pensar que o país , como um todo, não deve ter ganho com a decisão.
     O que eu ainda sei, no entanto, é fazer conta de somar e diminuir, pelo menos. E pelos meus cálculos, a grande maioria da bancada do PT votou a favor do novo Código. Vamos aos números: foram 410 votos a favor e apenas 63 contra, dos quais 35 de deputados do PT, cuja bancada tem 87 membros. Ora: 87 menos 35, é igual a 52. Isso quer dizer que 52 petistas (quase 60%) optaram pelo texto de Aldo Rebelo.
      Ou o texto é muito bom e agradou maciçamente a todas as vertentes políticas, ou a imensa maioria dos congressistas, especialmente da base do governo, é composta por amantes da devastação. Não há outra alternativa. Hoje, no Brasil, nada é aprovado no Congresso sem o apoio da base governista, que é esmagadora. O resto é conversa fiada.

Palocci sobrevive a escândalos

     O ainda ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, é um sobrevivente. Ninguém, nem mesmo no Brasil - exceto o inimputável ex-presidente Lula -, teria fôlego para emergir de tantos casos nebulosos ao longo da carreira. Imaginemos, apenas como exercício de raciocínio, um ministro do PSDB que acumulasse acusações que vão de uma simplória corrupção (receberia R$ 50 mil mensais de uma quadrilha que fraudava licitações, quando era prefeito de Ribeirão Preto, de 1993 a 1996) ao estupendo enriquecimento registrado nos últimos quatro anos, passando por montagem de 'caixa 2' para o partido, com recursos criminosos, e a quebra de sigilo bancário de um prosaico caseiro. Não restaria pedra sobre pedra na República.
     CUT e MST estariam incendiando o país com invasões, greves e passeatas. Jornalistas de aluguel, sociólogos e cientistas políticos da UFF, de barbicha e rabicho de cavalo, estariam na Globo News denunciando nervosamente o envolvimento do governo neo-liberal com a corrupção, entremeando seus discursos com disfarçados vivas aos regimes cubano e iraniano, críticas severas a Israel e lamentações pelo assassinato de Bin Ladem, não necessariamente nessa ordem. As redes sociais seriam invadidas por maltas de revolucionários dispostos a quebrar vidraças de bancos e de redes americanas de fast-food. O Governo certamente não resistiria e, como se fora um vulgar bando collorido, seria enxotado de Brasília a pontapés nos fundilhos.
     Mas Palocci é do PT, participou de todo o processo que levou o partido à presidência. Conheceu os bastidores das campanhas. É tão importante que obrigou o próprio Lula a reunir a companheirada senadora para apoiá-lo. "Não há provas", gritam o ex-presidente e seus seguidores. "Houve vazamento de dados", ecoa o ministro Gilberto Carvalho, o carregador de malas não muito republicanas, segundo denúncia aceita pela Justiça de São Paulo.
     A CUT? Está agindo, sim. Nos dois estados do Nordeste governados pela oposição (Alagoas - PSDB; e Rio Grande do Norte - DEM). O MST também não ficou parado: mantém a taxa de invasões do 'psdbista' São Paulo. No Rio Grande do Sul, ao que parece, os 'problemas agrários' foram solucionados nos cinco meses de governo do petista Tarso Genro.
     E assim caminha o Brasil.

     PS: Já ia esquecendo: o Estadão publica matéria do repórter Fausto Macedo sobre o incrível esquema de corrupção em Campinas, município partilhado entre PDT e PT. Segundo a matéria, um amigo do peito do ex-presidente, o pecuarista e empresário José Carlos Bumlai, apontado como o articulador da maracutaia, estaria decidido a usar o artifício da delação premiada para "proteger Lula".

terça-feira, 24 de maio de 2011

A 'mula petista' contra-ataca

     Mais um exemplo do nível do contra-ataque petista às acusações que desabaram sobre o ministro da casa Civil, Antônio Palocci. O impoluto ministro Gilberto Carvalho - aquele que está sendo acusado de ser o transportador, em seu fusquinha, da propina extraída de linhas de ônibus de Santo André para alimentar os cofres petistas, na época do assassinato do prefeito Celso Daniel - acusou a prefeitura de São Paulo de estar envolvida na divulgação dos dados sobre o fabuloso enriquecimento do seu parceiro de palácio.
     Segundo ele, em entrevista ao Estadão, os números, divulgados primeiramente pela Folha, teriam sido conseguidos na Secretaria de Finanças. O jornal não o fez (pelo menos não está na matéria), mas eu me permito questionar: e daí? São números mentirosos? Palocci ficou milionário, ou não? Recebeu R$ 20 milhões, em dois meses, ou não?
     Gilberto Carvalho, para quem ainda não conseguiu fazer a ligação, é aquele ex-seminarista que, ao ser confirmado no governo Dilma, jurou ser tão devotado ao ex-chefão Lula que daria a vida por ele. Pelo visto, continua exercendo com sofreguidão o papel de mula do petismo, carregando, no caso, os recados que o Governo quer passar à sociedade.

A coragem dos irresponsáveis

     Precisamos admitir - nós, os não-crédulos - que o ex-presidente Lula é um sujeito de coragem. No mensalão, como se fosse um apóstolo da vergonha, negou pelo menos três vezes o que o mundo sabia ser verdade. No começo, se fez de surpreso, traído, indignado. No fim, passado o risco real de ser cassado, já arrotava arrogância, ao acusar os acusadores, blasfemar, debochar.
     No primeiro caso Palocci (o da criminosa quebra de sigilo do caseiro que o flagrou participando de encontros em uma mansão de lobistas, em Brasília), Lula foi mais discreto. Não havia como negar o que o próprio governo divulgava. Como de hábito, algumas cabeças rolaram - a do então ministro da Fazenda, em especial -, para manter as aparências. Mais recentemente, vivemos o lamentável episódio de venda de favores na Casa Civil de Erenice Guerra, o braço direito da então candidata Dilma Roussef. E mais uma vez o chefe dos chefes atirou para todos os lados.
     Diante de novo escândalo envolvendo o mesmo Antonio Palocci, Lula manteve-se quieto por alguns dias, assuntando, liderando o movimento dos que não tinham o que dizer e, como os demais, torcendo para o caso esfriar, sair das manchetes, cair no esquecimento. Não houve jeito. Como reza o antigo adágio, a cada enxadada dos repórteres da Folha, especialmente, surge um bom par de minhocas.
     Sem ter como escapar, mas evitando o olho-no-olho, o maior prestigitador da política brasileira armou-se com as antigas armas e exigiu, segundo seus pares em reunião do PT, que os acusadores provem que Palocci comprou um apartamento por R$ 6,6 milhões; um escritório por R$ 800 mil; e ganhou R$ 20 milhões em apenas dois meses, por acaso os dois que se seguiram à eleição de Dilma Roussef. Tudo isso tendo que assinar o ponto no Câmara, pois era deputado federal. Exige provas, como se os fatos fossem mera invenção dos jornais e revistas. É muita coragem, convenhamos.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Uma aventura caribenha - Capítulo 25

Ao fundo, um tepuy, marca registrada da Grande Savana


Sábado, 7/08/1999 - Na vizinhança do paraíso
     Gran Sabana, Parque Nacional Canaima, Venezuela - Um dia e uma noite passados na Grande Savana, ao sul da Venezuela, convenceram a todos nós que a região merece pelo menos uma semana de dedicação exclusiva para, ainda sim, ir embora com vontade de voltar.
     É bem verdade que o dia claro ajudou muito. Em primeiro lugar, por nos deixar contemplar seus imponentes tepuys, platôs remanescentes dos tempos mais antigos da terra e berço das dezenas de rios e cachoeiras espalhados por toda a parte. Nessa época do ano, com o período de férias mal começando aqui na Venezuela, a grande savana é um "privilégio" de poucos (para usar a palavra preferida do jipeiro João Marcos, substituto de João Carlos Nogueira na direção de uma das picapes.
     Nos grandes feriados e férias, as margens dos rios e os imensos campos, segundo garantem os locais, ficam repletos de barracas. Aliás, acampar é a grande pedida por aqui - quase a única. Há alguns hotéis, é verdade, mas sem capacidade para atender à justa demanda. Como a área é protegida contra tudo que possa desfigurá-la, o acampamento é a solução. Por isso, praticamente todos os veículos que trafegam pela rota que vai de Santa Elena de Uairén a Upata carregam tendas em seus bagageiros.
      Os rios são absolutamente limpos, como o que escolhemos para acampar de sexta para sábado. Há cursos d'água de todos os tamanhos. A Grande Savana, com seus 15 mil quilômetros quadrados, tem espaços para todos. Seria o paraíso, segundo a gente daqui, se não fossem o mosquito puri-puri e a Guarda Nacional, tão voraz e endêmica quanto os insetos que infestam a região.

A encruzilhada oposicionista

     O PSDB, em especial, vive um momento decisivo, às vésperas da sua convenção nacional, marcada para sábado. Paralisado pela indefinição quanto ao futuro - e, por futuro, leia-se candidatura à presidência, em 2014 -, o partido se vê frente a três opções: ser mais do que uma sopa de consoantes; virar serrista; ou ser aecista. Por indignas, as duas últimas opções não deveriam, sequer, ser consideradas, como são, mesmo não oficialmente.
     Um partido político deve mover-se impulsionado por ideias, projetos do governo, pela interpretação que dá aos conceitos de bem-estar social e de igualdade. Conceitos que, embora possam ser encarnados por pessoas, não podem ficar atrelados a individualidades.
     Talvez o sucesso do modelo petista de ser esteja influindo nessa descaminho. O PSDB parece não ter consciência que o fenômeno Lula é um daqueles 'abortos da natureza'. Ele, sim - graças a distorções, à ignorância do povo e à incompetência dos políticos oposicionistas -, se transformou em algo maior do que a ideologia, até por que ele não a tem muito definida. Esquecem (PSDB, DEM e PPS, principalmente) que sua excelência a metamorfose ambulante é primeiro e único. Ninguém, a não ser ele, sobreviveria incólume ao mensalão, aos dólares na cueca, aos acordos espúrios, às erenices, paloccis e à sua própria e imensa limitação intelectual, exposta dolorosamente quase diariamente, durante oito anos seguidos.
     A simples possibilidade de transformar o universo político brasileiro oposicionista numa simples escolha entre dois nomes deveria envergonhar os representantes desse conglomerado liderado pelo PSDB.
     Sérgio Guerra, atual presidente do PSDB e candidato único à reeleição, garantiu à repórter Carolina Freitas, do site da revista Veja, que a convenção não irá sacramentar blocos e/ou grupos. E acenou com a integração efetiva do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso nos debates e na definição dos caminhos dos tucanos. Caberia a FHC presidir um futuro Conselho Político do partido, que teria como membros, entre outros, os dois últimos candidatos derrotados à presidência, José Serra e e o governador paulista Geraldo Alckmin.
     Haja espaço para tanto ego.

domingo, 22 de maio de 2011

Poupem-me

     Deu certo, é verdade. O Vasco foi a Fortaleza e derrotou o Ceará por 3 a 1, de virada, com direito a dois belos gols de Bernardo (o outro foi marcado por Jéferson). Mas ainda não encontrei argumentos que me convençam da necessidade de 'poupar' titulares, para usá-los em partidas 'mais decisivas'. E quando eu destaco o fato de serem 'mais decisivas', quero lembrar que o mesmo Vasco caiu para a segunda divisão, recentemente, por apenas três pontos, ou uma vitória. Seguindo esse raciocínio, todo jogo é decisivo para algum objetivo. De ser campeão a evitar o rebaixamento.
     Se houvesse perdido o jogo de ontem (eu sei que 'se' não entra em campo), poderia chegar a dezembro lamentando profundamente a opção. Ganhou, parabéns. Mas a decisão não tem muito sentido, especialmente num começo de temporada, quando, teoricamente, os jogadores ainda estão evoluindo, e não na fase de esgotamento.
     Além do mais, não consigo admitir que um atleta não possa atuar com intervalo de três dias, mesmo com viagens no meio do caminho. Ninguém vai de ônibus ou táxi. Um vôo entre o Rio e Fortaleza pode, até, ser aproveitado para relaxar.
     Um brasileiro normal trabalha dez horas por dia e gasta outras quatro em ônibus ou trens. Um jogador de futebol de clube grande tem todo o acompanhamento possível. É lógico que há desgaste físico, mas totalmente recuperável em um dia ou dois.

Uma aventura caribenha - Capítulo 24

O marco da passagem da Linha do Equador

Sexta-feira, 6/08/1999 - Por falar em reservas
     Gran Sabana, Venezuela - Aí vai mais uma admissão de culpa, esquecimento ou coisa que o valha. Como única desculpa, aceno com o número enorme de cenários, personagens e fatos que passaram por nós (eu, Alexandre Viana, João Carlos Nogueira e João Marcos Venturini) nesses primeiros 23 dias de viagem, desde o Rio de Janeiro até Caracas, através do Pantanal Mato-Grossense, Amazônia e Gran Sabana.
     Pois bem. Dois momentos merecem ser citados, cada um deles por razões diferentes. Vamos lá: o primeiro é a passagem pela reserva indígena Waimiri Atroari, no coração do Amazonas, cortada pela BR-174, parte da rota de integração entre o Brasil e a Venezuela. A primeira impressão, na verdade, não é das melhores. Aquela pista de pouso bem no início chega a assustar. Mas em poucos minutos tudo começa a mudar. A floresta amazônica, ou parte dela, corre ao lado da estrada, bem preservada. As placas no caminho não deixam dúvida: todas as riquezas naturais são de uso exclusivo dos indígenas. Que continuem fazendo bom uso delas, como pareceu a todos nós.
     O outro momento marcante, mais pelo simbolismo, foi quando atravessamos o Equador, linha imaginária que divide a terra em dois hemisférios. Há uma praça e um pequeno monumento no lugar, indicando que, naquele ponto, a latitude é zero.

Norte e sul, ao alcance dos pés

     Além, é claro da própria linha, providencialmente pintada na estrada. Um passo para um lado, hemisfério sul; para o outro, norte. Vale uma foto.

Aventureiro, só Santo Antônio





A pracinha: calçamento de paralelepípedos e bem conservada

  Santo Antonio do Aventureiro é uma cidadezinha da Zona da Mata de Minas, com pouco mais de quatro mil habitantes. Fica perto de Além Paraíba, a algo em torno de 200 quilômetros do Rio. O centro do município tem alguns casarões preservados, plantados em ruas de paralelepípedos. A igreja fica no alto de uma pequena elevação, circundada por uma pracinha bem-conservada.
     Foi por lá que eu passei algumas boas horas dos últimos dois dias (sexta e sábado), acompanhando um velho amigo que resolveu comprar um pedaço de terra naquela lonjura. Um sítio repleto de bananeiras e laranjeiras, jaboticabeiras, mangueiras e outras eiras, com direito a um riacho pedregoso, de águas claras, atravessando toda a propriedade, e vôos de tucanos. É lá que esse meu amigo pretende gastar suas horas lazer, fazer uma boa horta, criar algumas galinhas e - quem sabe? - uns três cavalos para oferecer passeios aos que por lá aparecerem.

Na estradinha de acesso a Aventureiro, a cachoeira, uma das marcas da cidade

     Foram quase dois dias longe do noticiário. É bem verdade que, nas horas de estrada, a política volta e meia (ou de curva em curva) surgia na conversa, mas perdia espaço rapidamente para os comentários sobre a bela paisagem da serra.

Um dos casarões do Aventureiro, o município, que fique bem claro

     A realidade, no entanto, voltou imediatamente ao abrir o jornais que o entregador deixara pendurado no portão. Como era de se esperar, novas denúcias envolvendo o ministro da Casa Civil, outro Antonio, o Palocci. Na Folha, a revelação de que sua 'empresa' de consultoria, a Projeto, faturara a nada desprezível soma de R$ 20 milhões somente no ano passado. É um enorme sucesso, pois trata-se de uma empresa de uma pessoa, de fato (ele detém 99,9% das ações). O sócio original era a esposa do ministro, que saiu para dar lugar a um jovem economista que mora em Nova Iorque.
     Para aumentar o - digamos - desconforto do mais bem-sucedido consultor da história recente do país, o procurador-geral da República sugeria ao ministro que divulgasse a relação de clientes, para dar mais transparência ao fato. Até agora, nada transpareceu. Palocci continua entocado, saindo pelas portas dos fundos dos edifícios, usando porta-vozes para distribuir notas nas quais ninguém acredita. Paralelamente, sua chefe, a presidente da República, mantém um conveniente silêncio sobre o assunto. Na pior das hipóteses, a resposta já deve estar na ponta da língua: "Eu não sabia".
     Os demais petistas de carteirinha ainda cometem algumas tentativas de defesa do indefensável, sob os mais variados e deploráveis argumentos, numa cantilena que remete aos muitos escândalos que vêm marcando a 'era Lula'. Uma era que não fechou em oito anos. Ao contrário, ampliou-se com a eleição de Dilma Roussef e com o adesismo de mais e mais siglas 'sem muito conteúdo ideológico' (estou usando um eufemismo, sim).
     Aventureiro por aventureiro, Antônio por Antônio, quero deixar gravada minha opção pelo lugarejo. Um lugar fisicamente limpo, com gente amável e certamente honesta.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Uma aventura caribenha - Capítulo 23

O acampamento às margens de um rio cristalino da Grande Savana


Sexta e sábado, 5 e 6/08/1999 - O arauto do fim do mundo

     Gran Sabana, Venezuela - De volta à fronteira, depois de conhecer de perto a bela Ciudad Guayana e o Rio Orinoco, ganhamos um presente do vice-cônsul Rubens de Lima Jorge, sediado em Santa Elena de Uairén: a companhia de um guia especial, o nicaragüense Roberto, um conhecedor da região, para nos ajudar a explorar parte desse imenso parque natural que é a Grande Savana.
     Mas como tudo tem um 'preço1, carregamos conosco seu filho, Igor, um corintiano de 11 anos que parece conhecer todas as páginas do almanaque Abril e todos os cinco mil habitantes da pequena cidade fronteiriça, com os quais conversa num espanhol perfeito.
     É na grande savana, dentro do parque nacional Canaima, que estamos nesse momento, às 10 horas da noite de sexta-feira, acampados ao lado de um das dezenas de rios que nascem aqui, depois de ter visto de perto um dos cartões-postais da região, o Rio Jaspe, com seu piso de ... jaspe, uma cobiçada pedra vermelha protegida por decreto (há também pedras verdes e pretas).
     Também vimos, da estrada, ao longe, um dos tepuys (platôs) mais famosos, que se assemelha (com um pouco de boa vontade, é verdade), a um índio deitado.
     Enquanto o índio permanecer deitado, tudo bem. Reza a lenda que ele vai se levantar um dia, e que nesse dia o mundo vai acabar.

Negando o inegável

     Seguindo a cartilha governista com rigor, a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira (?), negou terminantemente que o desmatamento da Amazônia esteja aumentando. Espancando a realidade, esqueceu que o Inpe registrou um aumento espetacular da devastação nos últimos doze meses (27% acima do que já era péssimo), se comparados com o mesmo período anterior.      Ao lado do ministro da Defesa, Nelson Jobim, uma espécie de 'general da banda', defendeu atuação do Ibama e anunciou a utilização do Exército na fiscalização da área. Aproveitou para ampliar o abismo que separa o atual governo do seu antigo aliado, o deputado Aldo Rebelo (PCdoB SP), relator do Código Florestal, reagindo duramente a críticas feitas pelo parlamentar.
     Palocci? Não, não foi citado.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

O caseiro foi obrigado a falar

     “Por que ele não explicou de onde veio o dinheiro? Na minha época, eu tive que explicar”.
     Responder a esse misto de desabafo e interrogação, feito pelo ex-caseiro Francenildo dos Santos Costa ao site da revista Veja, deveria ser a grande prioridade das autoridades brasileiras. Ele resume, por simples e direto, tudo o que deve estar se passando na cabeça das pessoas de bem desse país.
     Francenildo é um daqueles brasileiros que o partido do ministro da Casa Civil, Antônio Palocci, jura defender. "Meu patrimônio são meus filhos", disse à repórter Mirella D'Elia. Francenildo - é bom que a sociedade não esqueça - teve seu sigilo bancário quebrado pela Caixa Econômica Federal, há cinco anos, sob a 'suspeição' de ter recebido R$ 30 mil para dizer que vira o então ministro da Fazenda - o mesmo Palocci de agora - frequentar uma mansão no Lago Sul, com fama de receber lobistas etc (por etc, cada um pode entender o que quiser...).
     Compelido, o ex-caseiro foi obrigado a expor sua vida, ao revelar que o dinheiro viera de seu pai biológico, que não assumira a paternidade. Francenildo perdeu o emprego, quase perdeu a família e vive de bicos, com  os quais - segundo a Veja - ganha cerca de R$  1 mil por mês.
     O ministro, em virtude do escândalo - o de 2006, não o de agora -, foi obrigado a sair do governo. Eleito deputado federal por São Paulo, conseguiu o milagre de multiplicar seu patrimônio por 20, graças ao que classifica de consultorias. Novamente ministro, teima em não revelar a fonte do seu sucesso. Francenildo contou tudo.

Negar, sempre, até o fim

     Governo, entidades e personagens vêm seguindo à risca - no escândalo que envolve o enriquecimento galopante do ministro da casa Civil, Antônio Palocci - o manual petista usado nos casos de crise, denúncias, dinheiro na cueca, distribuição de 'recursos não contabilizados' e outros comportamentos 'não republicanos' afins: negar, negar sempre, até o fim, mesmo que confrontados com as provas mais escandalosas, com as evidências mais desabonadoras. Exatamente o que fez, com sucesso absoluto, o ex-presidente Lula.
     Paralelamente, o manual - a prevalecer o histórico - recomenda acusar a oposição de estar fazendo ... política. É isso mesmo. Os políticos da oposição vêm sendo acusados de usar politicamente o milagre da multiplicação do 'patrimônio palocciano'. Logo essa oposição cordata e desfibrada, incapaz de assumir o papel que lhe cabe, como em qualquer democracia.
     Essa tática diversionista vem sendo empregada ao extremo em todos os casos policiais que envolvem a história mais recente do PT. Do ainda nebuloso assassinato do ex-prefeito de Santo André, Celso Daniel, ao caso Palocci, passando pelo mensalão, a mãe de todos os escândalos. O segredo, a fórmula mágica da impunidade - mostram os resultados práticos provenientes das denúncias - é negar, postergar, explorar o aparelhamento das instituições e apostar na falta de discernimento e memória da população brasileira.
     A receita vem dando certo. Todos os principais personagens de todos os escândalos da chamada 'era petista' estão por aí, renascidos, mais fortes do que nunca. Do prosaico ex-seminarista e ministro Gilberto Carvalho (aquele que se prontificou a morrer por Lula), apontado pela Justiça como 'carregador' da propina extraída de empresas de ônibus de Santo André (num fusquinha amarelo), ao medíocre  Delúbio Soares, o tesoureiro do mensalão.
     José Dirceu, João Paulo Cunha e José Genuíno são outros exemplos estelares de sobrevivência às catástrofes comportamentais e ideológicas. O próprio ministro Palocci parecia ter sucumbido à quebra de sigilo do simplório caseiro que ousou confrontá-lo, ao afirmar que o vira diversas vezes em uma casa bem tolerante situada às margens do Lago Paranoá, em Brasília.
     A sorte - acho que podemos chamar assim - das instituições é que quase sempre há um descontente no grupo do poder. Alguém preterido, magoado, disposto a vazar notícias, como a a mais recente, envolvendo o Conselho de Atividades Financeiras (Coaf), vinculado ao Ministério da Fazenda, velho feudo de Palocci. Pois vem de lá a última informação: os imóveis milionários (escritório e apartamento) foram comprados pelo ministro em uma operação financeira suspeita.
     Ninguém foi preso, ou demitido, ainda.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Agora, sim: Sarney também 'absolveu' Palocci

     Agora, sim. O ministro da Casa Civil, Antônio Palocci, pode botar a cabeça no travesseiro e dormir o sono dos novos milionários, sem qualquer problema de consciência. O presidente do Senado, José Sarney, uniu-se à turma da defesa do indefensável e absolveu o 'Pelé das consultorias' de toda e qualquer acusação de quebra  da ética. Para o maranhense senador do PMDB do Amapá, é natural que uma pessoa enriqueça desmesuradamente logo após deixar o governo.
     Segundo matéria de O Estado de São Paulo, Sarney destacou também a tal aprovação do Conselho de Ética da Presidência da República que, soube-se mais tarde, não existiu (pelo menos nos termos apresentados), para encerrar a discussão, como se fosse o arauto do sentimento de decência da sociedade. Logo ele.
     O ministro continua desaparecido. Ontem, saiu do Palácio pela porta dos fundos, escondido, fugindo dos repórteres que o aguardavam ansiosamente. Hoje, a 'base governamental' (aquele ensopado formado, entre outros, pelo PT e pelo mafulista PP) fez a sua parte no Congresso, impedindo sua convocação para esclarecimentos.
     Prevalece em Brasília, no entanto, o sentimento que poderia ser chamado de 'síndrome do fim de semana', que acometia os responsáveis pela campanha da presidente Dilma Roussef no ano passado, às vésperas da chegada às bancas das principais revistas. "O que será que vem por aí?", deve estar se perguntando a turma palaciana.

Uma aventura caribenha - Capítulo 22

Quinta-feira, 5/08/1999 - Um rápido perfil da Venezuela

     Ciudad Guayana, Venezuela - A cidade, a meio caminho da fronteira com o Brasil (fica às margens do Rio Orinoco, um dos maiores geradores de energia do mundo, graças ao seu volume de água e geografia), retrata o que pode vir a ser a nova Venezuela sonhada pela população venezuelana (*). Jovem (nasceu há apenas 33 anos), incorporou os atributos de qualquer cidade ocidental moderna: carros mais novos, shoppings, praças bem-cuidadas, ruas e avenidas largas.
     É bem verdade que Ciudad Guayana, que cresceu a partir do embrião chamado Puerto Ordaz, pôde contar com a riqueza dos seus recursos naturais (tem ferro e alumínio, além de gerar energia elétrica). Não está livre, no entanto, dos males que afligem a maior parte do país, engolfado por uma crise que desaguou num inquietante índice de desemprego que beira os 40 % da força produtiva.
     O país, que viveu um momento espetacular na crise do petróleo, sobrevive, hoje, desse passado. O petróleo continua sendo sua maior fonte de renda (50 % da receita). As reservas são enormes, mas os preços oscilam sem que o governo possa interferir.
     Para se ter uma idéia da importância do petróleo na economia venezuelana, basta lembrar que cada dólar a menos na cotação internacional do barril representa um buraco de 700 milhões de dólares nas finanças nacionais. Com as variações na economia mundial, as desigualdades na sociedade venezuelana se acentuaram e hoje há uma enorme esperança de mudanças. É o que a população exige de Hugo Chávez.

(*) As expectativas retratam o momento do país, em meados de 1999.

Um chute na 'ideologia'

     A cada tentativa estapafúrdia de explicação para o estrondoso aumento de seu patrimônio em apenas quatro anos (de prosaicos R$ 374 mil para nababescos R$ 7,5 milhões), mais complicada fica a situação do ainda ministro da Casa Civil Antônio Palocci. Esgotadas, por risíveis, as primeiras versões, o acusado e seus cúmplices nos partidos que dão sustentação ao Governo decidiram revisitar uma velha estratégia, usada - sem sucesso, é bom destacar - para desqualificar o escândalo do mensalão.
     Palocci e a companheirada começam a apostar no "todos fazem a mesma coisa". E, se todos fazem, não haveria crime algum na sua atuação como dublê de eminência e deputado federal do PT e dono de uma - podemos chamar assim - consultoria. Seria o equivalente 'intelectual' ao deletério caixa 2 alegado pelo PT para justificar - há cinco anos - a distribuição de dinheiro público entre governistas e apaniguados.
     Paralelamente, o PT invoca, em sua defesa, o comportamento de personalidades ligadas, de alguma forma, ao governo Fernando Henrique. Como um menininho levado que, pego em flagrante roubando doces da compoteira, acusa o irmão mais velho e comportado de também cometer seus pecadilhos.
     Nesse episódio lamentável sob todos os aspectos, fica patente, mais uma vez, o desprezo  da nova classe dirigente brasileira  pela sociedade, além de seu despreparo assustador. Um dos personagens mais importantes do projeto petistas de poder não tem o menor constrangimento pessoal de chutar a ideologia e mergulhar de cabeça num esquema de vantagens capaz de transformá-lo em milionário, de um momento para outro.
     E um milionário sedento das inconsistências da 'burguesia' que seu partido finge criticar, criando factoides e um corte na sociedade, dividida eleitoreiramente - por Lula e suas ovelhas - em bons (pobres e analfabetos) e maus (alfabetizados da classe média alta para cima).
     Palocci não comprou simplesmente uma sala comercial e um apartamento para descansar na velhice. Seu escritório custou quase R$ 1 milhão. O apartamento, R$ 6,6 milhões. Um apartamento que, não por caso, fica no bairro mais nobre da capital paulista, no coração da tal burguesia.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Personagens de uma pobre república

     O jornal O Estado de São Paulo, no dia 23 de outubro do ano passado, publicou com destaque a reportagem que tomo a liberdade de relembrar. Vale a pena ler, até para conhecer melhor alguns personagens da política nacional. Na época, o assunto foi tratado - pelos marqueteiros oficiais - como se fizesse parte da campanha eleitoral da oposição, e não teve a repercussão que seria normal, num país mais crítico e informado.
     Retomo o tema, hoje, em função das últimas notícias envolvendo o ministro Antônio Palocci, que registrou um fabuloso crescimento patrimonial ainda não explicado devidamente. Além dos deputados e senadores de plantão, coube ao ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria Geral, assumir os microfones, sair em defesa do companheiro de partido e de governo e dar o assunto por encerrado.
     Se estivéssemos em um daqueles julgamentos de série de tevê, o promotor mais inexperiente não teria o menor trabalho em transformar a participação de Gilberto Carvalho na defesa de Palocci em mais um elemento de acusação. Bastaria ler os trechos abaixo, dos repórteres Ana Paula Scinocca e Leandro Colon, sobre um dos cadáveres ainda insepultos da história do PT. Vamos a eles, mantidos os cargos ocupados na época:
     "Uma decisão da Justiça traz de volta um fantasma que acompanha o PT e transforma em réu o partido e o chefe de gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Gilberto Carvalho. O assessor e o PT viraram réus num processo em que são acusados de participar de uma quadrilha que cobrava propina de empresas de transporte na Prefeitura de Santo André para desviar R$ 5,3 milhões dos cofres públicos. O esquema seria o precursor do mensalão petista no governo federal.
     Na segunda-feira, a Justiça tomou uma decisão que abre de vez o processo contra os envolvidos. A juíza Ana Lúcia Xavier Goldman negou recursos protelatórios e confirmou despacho em que aceita denúncia contra Carvalho, o próprio partido, outras cinco pessoas e uma empresa. A juíza entendeu, no primeiro despacho, em 23 de julho deste ano, que há elementos suficientes para processá-los por terem, segundo a denúncia, montado um esquema de corrupção para abastecer o PT. “Há indícios bastantes que autorizam a apuração da verdade dos fatos por meio da ação de improbidade administrativa”, disse.
     Segundo a ação, o assessor de Lula transportava a propina para o comando do PT quando era secretário de governo do então prefeito de Santo André, Celso Daniel, assassinado em janeiro de 2002. “Ele concorreu de qualquer maneira para a prática dos atos de improbidade administrativa na medida em que transportava o dinheiro (propina) arrecadado em Santo André para o Partido dos Trabalhadores”, diz a denúncia aceita pela Justiça. De acordo com a investigação, os recursos eram entregues ao então presidente do PT, José Dirceu."


Dois atentados ao pudor

     A primeira página da Folha é simbólica. Na manchete, a informação dando conta que a Comisssão de Ética e Política Pública da Presidência da República desmentiu o ministro Antônio Palocci. Na verdade, o chefe da Casa Civil, ao contrário do que afirmara, não mencionou a compra do apartamento de R$ 6,6 milhões e do escritório de quase R$ 900 mil, quando assumiu o cargo. Aliás, ter mencionado, ou não, não faz a menor diferença. Os imóveis existem e são dele. Ele tem que explicar como conseguiu comprá-los, com o salário de deputado federal. E que consultorias ele prestou, enquanto 'trabalhava' no Congresso.
     Logo abaixo da manchete, compondo o espaço, como se único fosse, a foto do diretor-geral do FMI, Dominique Strauss-Kahn, em um tribunal de Nova Iorque, aguardando o pronunciamento e a decisão do juiz, que o manteve preso em virtude das denúncias de assédio sexual feitas por uma camareira do hotel onde se hospedava.
     Dois momentos significativos e que mereceram tratamento oficial tão distintos. Nos Estados Unidos, um simples juiz criminal decidiu manter no xadrez o poderoso chefão do FMI, ex-virtual candidato à presidência da França. Não aceitou sequer a fiança de US$ 1 milhão proposta pela defesa. A essa altura, Strauss-Kahn deve estar rezando para não ser condenado a uma pena que pode chegar a 25 anos de cadeia.
     Aqui no Brasil, o poderoso chefe do poderosa Casa Civil, também ele um virtual candidato à presidência da República, decide não explicar o fabuloso crescimento de seu patrimônio pessoal (20 vezes em apenas quatro anos). Através de sua assessoria, limitou-se a expedir uma nota oficial diversionista, contando com a falta de apuro dos que fazem as notícias e decidido a ganhar tempo.
     Nesse meio tempo, a bancada governamental saiu em defesa do ministro que já atropelara a lei (há cinco anos), ao ser beneficiado pela quebra do sigilo bancário de um simplório caseiro que ousara falar de sua presença constante em uma casa de Brasília, notável por atividades não muito republicanas.
     E a chefe do chefe da Casa Civil? Bem, essa está providencialmente recolhida no Palácio.

Uma aventura caribenha - Capítulo 21

Ruy Nogueira, embaixador brasileiro na Venezuela em 1999


Quarta-feira, 4/08/1999 - A espinha dorsal da América do Sul

     Caracas - O embaixador do Brasil na Venezuela, Ruy Nogueira, tem uma certeza inabalável: as relações entre os dois países vão se estreitar naturalmente. "Acabou o tempo em que Brasil e Venezuela ficavam de costas um para o outro, separados pela floresta amazônica. A integração entre os dois países é uma realidade", disse Ruy. No cargo há três meses, depois de um longo tempo  à frente do consulado brasileiro em Londres, ele acredita que vai ajudar o Brasil a trazer para o âmbito do Mercosul um vizinho que estava historicamente (*) na esfera de influência dos Estados Unidos.
     "O presidente Fernando Henrique tem uma definição perfeita para a importância do papel da Venezuela na América do sul. Segundo ele, a espinha dorsal do nosso continente passa inexoravelmente por Caracas, Brasília e Buenos Aires (**). E eu acredito nisso", disse o embaixador, anfitrião da equipe do Projeto Integração. "A viagem de vocês mostra que os dois países estão, de fato, ligados fisicamente. Afinal, vocês saíram do Rio e chegaram a Caracas, de carro", destaca o embaixador, que tem, entre suas comendas, a Grã-Cruz da Ordem do Rio Branco.
     O embaixador tem ainda no seu programa de trabalho três projetos que espera desenvolver especialmente agora, com a reafirmação da força política do presidente Hugo Chávez, um entusiasta da aproximação com o Brasil e que obteve uma vitória espetacular nas ultimas eleições legislativas (cerca de 95 por cento dos votos).
     "Meu primeiro objetivo é envolver, de fato, as forças políticas brasileiras no relacionamento entre os países. Em seguida, agilizar os investimentos de pequenas e médias empresas. Paralelamente, queremos estreitar definitivamente a parceria estratégica entre os dois países. Afinal, a Venezuela é um dos principais produtores mundiais de petróleo e a Petrobrás tem planos de participar da exploração".

(*) Bastaram poucos anos para mostrar o perfil da política internacional de Hugo Chavez, em especial a 'integração' com o Brasil de Lula. O texto mantém a visão da época.
(**) Recentemente, no programa Painel, da Globo News, o cientista político Marco Antônio Villa destacou o engano de muitos países em relação às propostas do governo Chavez.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Comissão de 'Ética' absolve Palocci

     No início de 2007, um escândalo se abateu sobre o Supremo Tribunal Federal. Gravações oficiais de conversas entre advogados e lobistas - sobre uma decisão que favoreceu o Banco do Estado de Sergipe em uma divergência sobre o recolhimento da Cofins - remetiam para a compra da sentença, por R$ 600 mil. Segundo foi apurado, o dinheiro teria sido pago ao ministro Sepúlveda Pertence, que reagiu, é claro. Por falta de provas, o assunto morreu.
     Hoje, a Comissão de Ética da Administração Pública decidiu que não há motivos para investigar a surpreendente evolução do patrimônio do ministro da Casa Civil, Antônio Palocci, que saiu de simplórios R$ 375 mil para estratosféricos 7,5 milhões em apenas cinco anos. Por coincidência, o presidente da Comissão é o ex-ministro Sepúlveda Pertence.
     Para ele, não há necessidade de investigações, já que o ministro se desligara da  empresa de consultoria, através da qual amealhara uma pequena fortuna, antes de assumir o cargo. Em síntese: o que passou, passou. E vamos em frente.
     Excetuando um detalhe aqui, outro ali, o raciocínio da Comisão de Ética coincide com as - digamos - explicações do ministro, baseadas no cumprimento das exigências legais para alguém assumir um cargo especialmente no primeiro escalão de um governo. Mas isso jamais esteve em discussão. O foco nesse ponto é puro diversionismo, uma tática para desviar a atenção para o fato maior e mais importante: o enriquecimento desproporcional de um ex-ministro (chefiava a Fazenda, no governo Lula) e deputado federal, que tinha obrigações diárias com seu partido, o PT, no Congresso.
     A dinheirama, segundo a assessoria de Palocci, teria origem em consultorias, trabalho que o atual ministro realizava paralelamente ao desempenho da função pública. Sepúlveda Pertence, que avalizou integralmente essas 'explicações, chegou a confessar que orientou pessoalmente o ministro, para trocar o objeto da empresa de consultoria mais bem sucedida do país, a Projeta, que passou a ser uma inofensiva adminstradora de imóveis.
     A 'nova empresa', não por acaso, tem apenas dois imóveis sob sua administração, exatamente os dois comprados pelo ministro: um escritório avaliado em R$ 800 mil e o suntuoso apartamento no Jardins, o bairro mais aristocrata de São Paulo, adquirido por R$ 6,6 milhões.
     E ninguém vai preso, ou é demitido.

Ministro ameaça ser candidato

     O ministro dos 'enems' e defensor perpétuo dos erros de concordância, Fernando Haddad, da 'Educação', modestamente admite a possibilidade de concorrer à prefeitura de São Paulo, embora diga - para efeito público - que ainda é cedo para esse tipo de debate. Anuncia-se, com isso, uma briga de foice nos bastidores petistas.
     A senadora do PT paulista Marta Suplicy  (aquela que segurava os copos de água da então candidata Dilma Roussef, nos comícios) e o trânsfuga Aloísio Mercadante, ministro da Ciência e Tecnologia, também já se apresentaram para o 'sacrifício' de gerir a terceira economia do país (perde apenas para o Brasil e para o Estado de São Paulo).
     Haddad, apesar dos incontáveis vexames protagonizados à frente do Ministério da Educação, chega a essa disputa interna com mais força, já que conta com o decisivo apoio do ex-presidente Lula, o 'ronaldinho das palestras'.

João Paulo ataca de novo

     O ex-presidente da Câmara e atual deputado federal João Paulo Cunha (PT-SP) deu mais uma prova inequívoca do desrespeito que ele e seu partido devotam à sociedade. Em um programa na Rede TV, garantiu ao jornalista Kennedy Alencar que não houve o assalto aos cofres públicos que convencionou-se chamar de mensalão. Não satisfeito, alegou que tudo não passou de um erro político do PT nos acordos com seus aliados. O vídeo dessas sandices - para quem ainda duvida da inesgotável capacidade de essas pessoas manipularem a verdade - está disponível na página da Folha.
     O nobre deputado certamente aposta na falta de memória da população, mais preocupada - é verdade - com os gols de Neymar, e na pusilamidade de alguns setores do jornalismo, incapazes de se insurgir contra essas tentativas de reescrever os fatos.
     De todos os envolvidos no que a Procuradoria Geral da República classificou de quadrilha, João Paulo talvez tenha sido o protagonista do momento mais deprimente. Sua mulher foi flagrada no caixa de uma agência bancária, em Brasília, embolsando R$ 50 mil que haviam sido repassados pelo publicitário Marcos Valério.
     Confrontado, na época, o então presidente da Câmara mergulhou numa série de explicações que foram demolidas uma a uma. A mais prosaica: sua mulher fora ao banco pagar a conta da tevê por assinatura. Desmoralizado, o deputado recolheu-se a um conveniente silêncio, contando com o esquecimento.
     O escândalo do mensalão - o mais sério de toda a história política brasileira -, por arte e graça da proverbial lentidão da Justiça, foi sendo atropelado por outros fatos. Lula, o principal beneficiário do crime, foi reeleito, elegeu Dilma Roussef e João Paulo voltou aos holofotes, renovado, ao que parece. Tanto que foi indicado para presidir a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara. Comissão de ... Justiça.

domingo, 15 de maio de 2011

Ministro petista investe em bairro da burguesia.Ou: O Pelé da consultoria

     O ministro Antônio Palocci, da Casa Civil, uma espécie de 'Pelé das consultorias', um dos nomes mais proeminentes do PT, divulgou nota tentando explicar seu enriquecimento desmesurado, sintetizado na compra de um apartamento, no bairro mais chique de São Paulo (Jardins, região-símbolo do 'capitalismo selvagem' e da 'burguesia mais reacionária do mundo') por inacreditáveis R$ 6,6 milhões.
     Para realizar tal proeza com os rendimentos de deputado federal (segundo O Globo, R$ 974 mil brutos, em cinco anos), o ministro - envolvido há alguns anos na criminosa quebra de sigilo bancário de um modesto operário - acena com os resultados das tais consultorias especiais. Fenômeno semelhante, só mesmo na família Lula da Silva, que teve um dos rebentos aquinhoado com um aporte de R$ 5 milhões em uma empresinha de fundo de quintal.
     Vou repetir a frase com a qual iniciei um dos textos de hoje: num outro cenário - ou época - , o ministro Antônio Palocci, da Casa Civil, seria demitido sumariamente, ou estaria demissionário. Nessas bandas do mundo, certamente está contando com o esquecimento de um povo sem memória.

A morte do Congresso

     A principal reportagem de hoje, de O Globo, retrata com exatidão o sentimento que venho expressando nos textos postados aqui no blog. Nosso Congresso definitivamente abdicou do poder de legislar, de participar efetivamente da vida nacional, de discutir, de repercutir anseios. Cordatamente, praticamente limita-se aprovar as Medidas Provisórias enviadas pelo Governo e que, de fato, entram vigor quando da sua emissão.
     Se nossos representantes decidissem votar todos os projetos pendentes, mostra a reportagem de José Casado, seriam necessários mais de cem anos de trabalho ininterrupto. O novo Código Florestal - que tantas divergências vem criando -  é um exemplo da melancólica atuação de deputados e senadores: está para ser votado há 12 anos.
     Essa acomodação - para usar um termo mais brando - vem se acentuando progressivamente, graças à desclassificação dos componentes das duas casas mais importantes do cenário do debate político. Não há ideologia, compromissos. Há interesses pessoais, luta por cargos em qualquer escalão e muita, mas muita mesmo, mediocridade. Um país não elege tiriricas, joões paulos e romários impunemente.
     Limitados e omissos, nossos congressistas tratam, apenas, de construir seus futuros, a partir do presente. Com essa atitude, contribuem para o descrédito das intituições e aprofundam o desprezo que grande parcela da população sente pela política. Desprezo que, sabiamente, vem sendo usado por mistificadores e pretensos iluminados.

Palocci dá goleada em Cristo

     Num outro cenário - ou época - o ministro Antônio Palocci, da Casa Civil, estaria demitido (ou demissionário) a partir da leitura da manchete da Folha de hoje. Segundo reportagem de Andreza Matais e José Ernesto Credendio, o superministro (novamente cotado para uma futura disputa presidencial), em quatro anos, conseguiu o milagre de multiplicar seu patrimônio por 20. Algo capaz de deixar até Jesus Cristo envergonhado.
     Dono de modestos R$ 375 mil até 2005, Palocci - entre 2006 e 2010 -, conseguiu passar para uma fortuna considerável, que beira os R$ 7,5 milhões. A explicação para tamanho sucesso? Como todas as apresentadas por petistas, quando pegos em situações embaraçosas, foi a mais prosaica possível: ganhou essa grana toda fazendo consultoria.
     Talvez não haja, no mundo, alguém tão bem-sucedido nesse ramo. No Brasil, seu rival mais próximo é o deputado cassado José Dirceu, outro que se especializou em aconselhar empresas com interesses no Brasil. Não por acaso, ambos fizeram e continuam fazendo parte da liderança da imensa máquina que tomou de assalto todos os níveis da administração pública nos últimos oito anos e meio.
     A bem da verdade, num país politicamente menos indigno, Palocci jamais ocuparia algum cargo de destaque em qualquer governo. Não podemos esquecer que ele foi o responsável por um dos muitos atos de vilania praticados pelas administrações petistas, ao coordenar - quando era ministro da Fazenda - a quebra de sigilo bancário de um simples caseiro que, inocentemente, afirmara tê-lo visto em reuniões não-republicanas, em uma casa bem tolerante nas margens do Lago Paranoá, em Brasília.

Uma aventura caribenha - Capítulo 20


Eu, João Marcos, Alexandre Viana, o embaixador Ruy Nogueira (ao centro, sentado) e o diplomata Felipe Fortuna, na entrevista coletiva realizada em Caracas, que repercutiu nos jornais



Terça-feira, 3/08/1999 - Integração repercute em Caracas

     Caracas  -  A repercussão de nossa viagem ao Caribe foi bem grande, aqui na capital venezuelana, graças, especialmente, à participação da Embaixada Brasileira, que formalizou seu apoio ao Projeto Integração Dana. Com a supervisão do secretário de imprensa da embaixada, Felipe Fortuna, a equipe, já sem João Carlos, obrigado a voltar ao Brasil antecipadamente, participou de uma entrevista coletiva sobre o projeto, os veículos, equipamentos. Na coletiva, que contou com a presença de representantes dos patrocinadores da aventura, o embaixador Ruy Nogueira pôde falar da aproximação entre Brasil e Venezuela, do avanço das relações diplomáticas e das perspectivas futuras. Não poderia ter sido melhor.

sábado, 14 de maio de 2011

A parceria de Alckmin e Maluf

     O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), ao que tudo indica, vai seguir o exemplo federal e investir em uma nova espécie de parceria, que poderíamos batizar de PPV (Parceria da Pouca Vergonha). Os jornais informam que falta pouco para ele formalizar um acordão com o PP (Partido Progressita ???) de Paulo Maulf, que ocuparia uma secretaria, para compensar os 'danos' provocados pela criação do PSD do prefeito Gilberto Kassab.
     Esse é o retrato mais acabado da oposição brasileira atual, a cada dia mais parecida com o governo que pretende combater. O debate ideológico e a contestação ética são abandonados, em troca da manutenção de cargos e poder.
     Em São Paulo, o estado mais importante do país, está prevalecendo a visão imediatista dos que buscam garantir seu espaço. Para combater o desfibrado Aloísio Mercadante ou a melancólica senadora Marta Suplicy (copeira da atual presidente, quando das eleições passadas) num eventual confronto pela prefeitura paulistana, o PSDB estaria usando todos os meios, especialmente um conchavo com  Maluf, dono de um inegável cartel de votos.
     Embora admita, em alguns casos, que os fins podem justificar os meios, me reservo o direito de contestar esse tipo de comportamento. Mesmo que seja para derrotar o petismo, no que ele tem de mais nefasto. E vou um pouco além: desçam do pedestal e procurem escutar o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

Histórias de Julia e Pedro (16)

Momentos impublicáveis

     Por ser mais velha (quase oito anos, contra os quase quatro de Pedro), Júlia tem sido um personagem mais presente nas histórias que venho contando, à medida que elas surgem ou são lembradas.
     Vou tentar equilibrar essa partida, hoje, com alguns momentos marcantes de Pedro. Vamos ao primeiro.
     Numa tarde, depois da escola, Pedro estava no clube, brincando e conversando com Henrique, um dos amigos inseparáveis. De repente, depois de enveredarem por fatos ocorridos na sala de aula, Pedro para e, com com toda a solenidade, faz um 'convite' ao amigo:
     - Henrique, imagina a babá ...
     Não. É melhor parar por aqui e lembrar outro momento, esse, passado na Pedra. Para entender melhor, é fundamental saber que o moleque é muito crítico, repara em tudo, faz comentários muito engraçados sobre estilos e aparências. Algo dele.
     - Vovô, eu tenho duas gordas na minha vida, a  ...
     Não. Pensando bem, há uma outra história, recente, ocorrida logo após um banho. Pelado, deitado de costas na cama da irmã, olhou para a mãe e fez uma constatação:
     - Mamãe, o meu pinto ...
     Desisto! Vou deixar para outra ocasião. Esse moleque promete muitas histórias ...

Chanchada publicitária

     A televisão pode, sim, ser uma fonte de inspiração. E não apenas seus programas - filmes, novelas, séries, debates, jornalismo. Os 'reclames' também têm seu lugar nesse universo - digamos - cultural. Os que vêm sendo apresentados pela montadora Toyota, por exemplo, na luta para ampliar as vendas do Corolla, conquistaram um lugar especial na minha lista de mediocridades, apesar de juntar dois dos mais valorizados atores brasileiros - Selton Mello e Wagner Moura.
     O filmete é muito ruim, talvez até por conta do elenco estelar, que protagoniza momentos verdadeiramente idiotas, risíveis, que mais parecem de deboche. É como se os dois astros estivessem festejando o dinheiro mais fácil das suas vidas. E gozando quem pagou.
     Se depender apenas dessa 'chanchada publicitária', o futuro do Corolla não é dos melhores. Como diria um locutor do canal SporTV, no bordão que criou para destacar os piores momentos de um jogo: i-na-cre-di-tá-vel!

Compêndio de sandices

     Eu sei que vivemos as consequências do que a história recente poderia chamar de a 'Era Lula', oito anos de mesmices pronunciadas diariamente por alguém que meu sogro - se vivo estivesse - classificaria como um 'analfabesta', expressão que cunhou para definir uma espécie de sobrinho vigarista, que nada sabia, mas sobre tudo opinava. Mas a mediocridade do Ministério da Educação extrapola os limites da tolerância, até mesmo para os padrões culturais dos atuais dirigentes brasileiros.
     A defesa que esse tal ministério fez das imbecilidades contidas no livro 'Por uma vida melhor', adotado oficialmente nas escolas de primeiro e segundo graus, tangencia a irresponsabilidade. Não há justificativa, por mais modernosa que pretenda ser, que absolva as teses contidas nesse compêndio de sandices, alvo de uma reportagem/denúncia no Jornal Nacional, da TV Globo.
     Usar a língua com "flexibilidade" não significa, em lugar algum, admitir impropriedades, como se fossem corretas. É claro que as pessoas podem dizer ou escrever "os livro", ou "os imbecil". Mas estarão falando e escrevendo de maneira errada. E isso, nas escolas, deve ser apontado, sim, de uma maneira que não iniba a participação, é evidente.
     Outra tese apresentada pelo mais inconsequente ministério da atual gestão, na defesa da sua opção pela nulidade, escande o que classifica de "pluralidade cultural". Erra na essência. Pluralidade cultural não significa multiplicação de erros, e sim, uma saudável diversidades no uso da língua portuguesa, nos costumes, na culinária, na moda, na música. Tudo o que faz o gaúcho ser reconhecido como tal, assim como o nordestino, o carioca, o mineiro, o pantaneiro, o índio. Que, enfim, molda o brasileiro.
     Valorizar a pluralidade cultural, ao contrário do que diz o ministério que deveria lutar pela educação e vem cometendo 'enems', uns atrás dos outros, não é sinônimo de preservar a ignorância.