segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Covardia ideológica

'Só não aplica a Lei juiz comprometido, medroso ou engajado'
Joaquim Barbosa

 
     O misto de constatação e denúncia do presidente do Supremo Tribunal Federal foi registrado com o merecido destaque pelo Estadão. Em poucas palavras, Joaquim Barbosa traçou um perfil bem apurado da Justiça que condena miseráveis (merecidamente, é verdade, na maioria absoluta dos casos), mas libera poderosos quase sempre, como recentemente, no julgamento de recursos no caso do mensalão do Governo Lula, o maior assalto institucional aos cofres e dignidade públicos.
     Mais grave ainda: a Justiça é apenas - se é que podemos usar essa expressão - uma ramo dessa enorme e distorcida realidade brasileira, conspurcada gravemente nos últimos dez anos. Ao fim, fica na população a certeza de que há um enorme e indecente conluio entre os poderosos de todas as instâncias.
     O desregramento comportamental não é exclusividade de juízes envolvidos com malfeitores e/ou partidos políticos ou, simplesmente, covardes. Os três poderes da República vêm dando seguidas demonstrações de desprezo pela opinião pública, facilmente manipulada pelos marqueteiros sempre de plantão.
     Historicamente - e, em especial, nessa última década de desvarios institucionais -, nossos mandatários apostam na ignorância, na falta de acesso às informações e no tempo decorrido, capaz de sepultar revoltas. E na mentira, repetida à exaustão, até que se transforma em verdade absoluta.
     Ao ler o desabafo de Joaquim Barbosa, é impossível, entretanto, deixar de associá-lo ao lastimável episódio do julgamento dos quadrilheiros do Governo Lula. Não apenas ao resultado do julgamento dos tais embargos infringentes (ou algo semelhante, não importa), mas à linha de comportamento de determinados magistrados ao longo do processo. Magistrados claramente comprometidos, engajados e, na essência, capazes de atos covardes contra a nacionalidade.

domingo, 29 de setembro de 2013

Nas alcovas do poder

    Veja nos brinda, hoje, com mais um exemplo explícito e incontestável dos motivos que fazem com que seja a revista mais odiada por dez entre cada dez petistas e assemelhados de todos os escalões dessa lastimável República. A história da vez tem, no 'epicentro', mais uma namorada de um dos próceres do partido, no caso, o inesgotável e - constata-se!- ainda poderosíssimo ex-ministro José Dirceu, condenado à cadeia por, entre outras coisas, ter chefiado a quadrilha que assaltou os cofres e a dignidade públicos durante o Governo Lula.
     A tal namorada, nos conta a revista, acaba de ocupar um invejável cargo em um dos órgãos do Senado Federal, sem concurso, é claro! No fim de trinta dias de pouquíssimo trabalho (ela é especialista em 'marketing de relacionamento', seja lá o que sabemos que isso não é ...), recebe a bagatela de R$ 12.800,00, algo em torno de seis vezes mais do que um professor de ensino médio do Rio.
     Embora deplorável, não é um episódio incomum no poder. Os exemplos de pilantragem corporativa estouram a toda hora, envergonhando a parte decente do país. O caso agora denunciado, na verdade, é 'fichinha', se comparado ao ainda mais escandaloso relacionamento entre o ex-presidente Lula e a ex-chefe do gabinete da Presidência da República em São Paulo, Rosemary Nóvoa, que mandava e desmandava no país, graças ao poder que emanava das alcovas do poder.
     Não por acaso - nada é ocasional nesse nível de devassidão -, Dirceu era o ... mentor de Rosemary, responsável por sua introdução nos círculos petistas de poder. E não podemos esquecer o protagonismo de outro luminar da República Petista, o ex-ministro Antônio Palocci, nos acontecimentos que se passavam no interior de uma mansão muito tolerante às margens do Lago Paranoá, em Brasília.

sábado, 28 de setembro de 2013

'Pensamento' brasileiro

     Parte do Brasil passou a conhecer, hoje, graças à Folha de São Paulo, o presidente do novíssimo PROS, Eurípedes Júnior, um vereador da cidade de Planaltina, nas proximidades de Brasília. O tal partido já nasce coroado, ou quase. É para ele que devem migrar um dos vice-reis do Ceará, o governador Cid Gomes - que largou o PSB para continuar apoiando Dilma Rousseff - e seu irmão, Ciro, talvez o maior boquirroto desse país, Pensando bem, deve ser o segundo maior falastrão: ninguém supera o ex-presidente Lula nesse quesito.
     Coube ao repórter Breno Costa a tarefa de exibir ao mundo o perfil do mais recente donatário brasileiro, um jovem (38 anos) 'idealista' que saiu por esse Brasil em busca das assinaturas que garantiriam a criação do partido. De algum modo, conseguiu - pelo menos as assinaturas foram aprovadas pela Justiça Eleitoral, ao contrário do que aconteceu, até agora, com o Rede, da ex-senadora Marina Silva.
     Ao longo da reportagem, ficamos sabendo que Júnior, "como é conhecido", tem uma van, um campo de grama sintética, "uma casa simples", mulher (dona de restaurante), uma filha e um processo por ter se apropriado indevidamente de algumas dezenas de milhares de reais, quando presidiu a Câmara da sua cidade.
     Ficamos sabendo, ainda, que Júnior foi eleito com pouco mais de 800 votos e que teria gasto tudo o que tinha acumulado na vida: "Vendi para poder fazer o partido. O pouquinho que eu tinha foi embora", afirmou, à Folha.
     Foi, basicamente, o que consegui saber sobre o homem que entra no seletíssimo clube dos que recebem dinheiro público para manter seus 'ideais'. Não há uma linha sobre o que o presidente do PROS pensa do País, da responsabilidade dos políticos, dos movimentos reivindicatórios. Nada. Apenas a sensação de que ele chegou lá, com as bênçãos de quem pode abençoar.
     Podemos discordar de Marina - que não é meu ideal político, admito -, mas sabemos o que ela pensa sobre quase todos os temas que interessam ao País. E o que pensa Júnior?
     Pobre Brasil!

Realidade nauseante

     Somos um país estranho, de futuro lamentavelmente incerto. O noticiário político dos últimos dias nos envolve no surgimento de mais dois partidos políticos e nas tramoias que estão sendo realizadas nos bastidores, nas negociações de apoio, principalmente, a candidatos majoritários no ano que vem. Algo essencialmente nauseante, pelo que revela de conchavos, trocas, promessas e compromissos, todos executados independentemente das pessoas que compõem a nacionalidade.
     É inacreditável que personagens como o ministro Fernando Pimentel, da Integração e muitas coisas mais (para ficar, apenas e por enquanto, na aprovadíssima seara governamental) estejam postulando cargos como o de governador de Minas Gerais. Pimentel, que desapareceu convenientemente da tal 'mídia' que seus companheiros querem regulamentar, esteve envolvido em um escândalo que, em lugares menos festivos, soterraria definitivamente qualquer tentativa eleitoral.
     Ninguém lembra (eu não esqueço) que, pouco antes de assumir a função de coordenador da campanha da presidente Dilma Rousseff, de quem é amigo, recebeu quase R$ 2 milhões de empresários mineiros por palestras que jamais - é isso mesmo, jamais!!! - realizou. Coincidentemente, ele havia acabado de deixar a prefeitura de Belo Horizonte, onde autorizou várias obras dos empresários que financiaram as falas que nunca fez.
     Quando o escândalo foi divulgado, já era ministro. Para espanto da parcela decente do país, continuou ministro e, agora, está se preparando para disputar o Governo do Estado. Outros contemporâneos de Ministério, entretanto, não resistiram à tempestade de denúncias de fatos escabrosos que marcou o primeiro ano do Governo Dilma. Perderam os cargos, mas - como o ex-ministro do Trabalho, o pedetista Carlos Lupi mantiveram o poder, é claro.
     O próprio índice de aprovação do Governo Dilma é sintomático da lacuna de decência que acomete o país. O esquema espúrio inaugurado pelo ex-presidente Lula, com seus acordos com o que há de pior nesse país, continua produzindo notícias teoricamente devastadoras, incapazes, no entanto, de alcançar a população com o alcance que deveriam ter, graças ao processo de financiamento da consciência nacional que vem sendo empreendido com absoluta competência, tenho que reconhecer.

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

A digital petista no PROS

     Veja, para desgosto de muitos, exibe, na sua página de hoje, um pedaço das entranhas do processo de criação desse inacreditável Partido Republicano da Ordem Social (PROS), citado por mim, ontem, ao lamentar a institucionalização da vigarice mais absoluta na política partidária. Está lá, no texto, a indesmentível confirmação de que esse novo balcão de compra e venda de espaços na propaganda oficial tem as digitais do governo, como seria de se supor.
     Por trás do obscuro ex-vereador (???) que presidirá esse amontoado de letras inócuas, surge, impávido colosso, um 'esquema de apoio' (e nós sabemos o que isso pode ser ...) composto por próceres petistas, como os senadores fluminense Lindbergh Farias (acusado formalmente de devastar as contas de Nova Iguaçu, quando prefeito) e mato-grossense-do-sul Delcídio Amaral e o ministro do Desenvolvimento e muitas coisas mais, Fernando Pimentel, aquele mesmo que foi flagrado com a conta bancária recheada de dinheiro pago por empresários mineiros, em troca de 'palestras' que ele jamais proferiu.
     E tem mais. As ministras Gleisi Hoffmann, da Casa Civil ('lugarzinho' complicado esse, que já nos revelou as trapaças de José Dirceu, Erenice Guerra etc), e Ideli Salvatti (aquela que ocupou o ministério da Pesca e fisgou lanchas que jamais saíram do papel ou foram usadas), responsável pelas 'relações institucionais' do Governo Dilma, sejam elas - as 'relações' - o que imaginamos que podem ser.
     Lado a lado com os petistas, nessa empreitada 'democrática', outro luminar da nossa política, o deputado federal Valdemar da Costa Neto, do PR paulista, um dos quadrilheiros do Mensalão do Governo Lula, condenado à cadeia por lavagem de dinheiro e corrupção. E, afinal, mas não finalmente, o maior empresário mundial do setor de carnes, José Batista Júnior, dono do Frigorífico Friboi, filiado ao PMDB.
     Talvez não fosse preciso lembrar, mas TODOS os petistas citados serão candidatos a algum cargo ano que vem. E o PROS - é evidente! - já se declarou governista até a medula.
     Enquanto isso - reforço a essência de um texto que postei ontem -, a ex-senadora Marina Silva corre o risco, sim, de não conseguir registrar seu partido, o Rede.

     PS: Quase tudo o que foi escrito acima, em relação ao PROS, vale, também, para o novo partido Solidariedade, do deputado Paulo Pereira.

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

O valor da politicagem

     A constatação de que partidos políticos lastimáveis, verdadeiros balcões de compra e venda, estão por aí, negociando dignidades, é uma agressão ao País. O Globo de hoje presta um serviço à Nação, expondo a pilantragem por trás dos acertos que envolvem candidaturas e candidatos e o dinheiro público que sustenta esse esquema deletério.
     No Brasil de hoje, há espaço para 32 partidos, todos com direito a participar de um fundo que garante, também, altíssimos salários a um grupo de espertalhões. Não estou me referindo, por óbvio, aos partidos ideológicos, sejam quais forem. Posso discordar fervorosamente - como discordo - de agremiações como PSOL, PSTU, PCO e assemelhados, para ficar apenas nesses grupos de menor expressão. Mas respeito e defendo o direito de eles existirem, por representarem um segmento do pensamento, mesmo obscuro, ultrapassado.
     Não posso, por isso mesmo, aceitar passivamente a injustiça que está sendo feita com o Rede, partido que a ex-senadora Marina Silva vem tentando criar, destinada, claramente, a interferir na sua candidatura à Presidência da República, ano que vem. Um tal de PROS e o Solidariedade, do deputado Paulo Pereira da Silva (ex-PDT), estão aí, livres leves e soltos para negociar, independentemente do 'histórico' de suas lideranças.
     Marina, por sua vez, tem enfrentado o extremo rigor de tribunais regionais, que contestam assinaturas e postergam a efetivação do partido. Eu, pessoalmente, me sinto lesado. Assinei um manifesto pela criação do partido, embora sem qualquer compromisso de voto ou participação. Apenas por acreditar que o Rede e seus componentes têm, sim, direito à expressão, a um lugar no cenário político.
     O prazo está terminando para Marina Silva - dia 4 de outubro. Paulo Pereira e um desconhecido vereador, dono do PROS, no entanto, já estão administrando acordos e, quem sabe?, distribuindo o dinheiro público ao qual terão direito. Como nos lembra O Globo, mesmo que não tenham um deputado sequer, nossos partidos oficiais recebem, em média, R$ 600 mil por ano. Parece muito - e é, na verdade -, mas o montante não se compara ao 'valor de mercado' de um segundo durante as campanhas eleitorais.
     Tão lastimáveis quanto esses partidos, no entanto, são os que correm atrás deles, como fazem, em especial, duas das nossas maiores agremiações, o PT e o PSDB.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

'Nariz de cera'

     Acho que deveria estar escrevendo sobre o mais recente - jamais último! - escândalo envolvendo petistas instalados no poder, ou sobre a inacreditável prepotência do ex-governador José Serra (PSDB), que ainda se acha capaz de disputar algum cargo além de síndico de condomínio. Quem sabe opinando sobre as bravatas brasileiras em relação à tal ridiculamente desastrada espionagem americana.
     Acabei optando por agradecer a oportunidade de estar com tantos amigos ontem, no lançamento do meu livro, 'Nariz de cera', uma coletânea de lembranças dos últimos quarenta anos passados em redações. Confesso que, a caminho do Boteco Salvação, em Botafogo, cheguei a pensar que talvez nem eu mesmo conseguisse chegar, tão forte o temporal que desabou na cidade, num dia atípico para a estação.
     Márcia Naidin, da Editora Verve, responsável pelo lançamento, destacou hoje, ao comentar o que chamou de "sucesso" do encontro, que carioca normalmente não sai de casa com chuva. Pois ontem, o segundo andar do Boteco, em determinado momento, ficou pequeno. O tempo ruim ficou lá fora.
     Obrigado a todos.

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Histórias de redações etc

     Dose dupla de emoções. Depois do reencontro com velhos companheiros do Jornal do Brasil, sábado à tarde, faço, hoje à noite, em Botafogo (Boteco Salvação, na Rua Henrique de Novais, 55), o lançamento de 'Nariz de cera', uma coletânea de lembranças dos meus primeiros 40 anos dedicados ao jornalismo. Histórias vividas nas principais redações do Rio de Janeiro, a partir do fim dos anos 1960 (8 de outubro de 1968, para ser bem preciso).
      Da Agência Meridional e de O Jornal, dos Diários Associados, ao Jornal do Brasil, passando por O Globo e, muito rapidamente, pela TVE. Nessas lembranças cabem, também, algumas recordações da principal revista do já não mais existente grupo Ipiranga, fatiado entre três gigantes do mercado.
     São histórias do dia a dia, mas que têm, sempre, uma referência com o momento. A experiência de trabalhar com um censor na redação, por exemplo, não foi 'privilégio' meu. Relatar esse caso, no entanto, é uma tentativa de mostrar um dos lados obscuros de uma ditadura com a qual, por força da idade, convivi.
     Corrupção e ameaças de morte (reais e assustadoras); alguns momentos trágicos; outros até engraçados. Embora centrado na vida das redações, esse 'Nariz de cera' - acredito! - pode ser usado por um grupo mais amplo, para visitar um pedaço do país nos últimos anos.
     Desde já agradeço a presença dos que se dispuserem a enfrentar uma noite atípica na primavera carioca. E, em especial, aos que dividiram comigo as experiências agora relatadas.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Maduro ataca de novo

     Não há limites para a estupidez desses lastimáveis governantes dessa sofrida América Latina. A mais recente imbecilidade do venezuelano Nicolás Maduro, por exemplo, mostra que é possível, sim, alguém ser ainda mais nefasto do que seu mentor, o coronel ainda insepulto. O sujeito mandou o Exército invadir a principal fábrica de papel higiênico do país, sob o argumento de que não estaria providenciando a produção desse bem de consumo em quantidade suficiente.
     Reportagem da TV Estadão lembra que, quando a crise no abastecimento de papel higiênico começou, há alguns meses, esse energúmeno colocou a culpa nos imperialistas. Mais tarde, com o agravamento do problema, um dos lacaios do governo tentou justificar a escassez com o fato de a população estar comendo mais e melhor, portanto ...
     Qualquer semelhança com a pilantragem retórica brasileira, em relação aos protestos contra os serviços vagabundos que recebemos, não é mera coincidência. É assim que esse turma medíocre age. A fórmula mais usual é apontar o dedo para os ianques (ou 'similares') e acusá-los de tudo. Nada melhor para um governante desqualificado do que um inimigo para chamar de seu.
     Nossa vizinha, Cristina Kirchner, fez isso recentemente, ao tentar renovar as divergências com a Inglaterra, em relação à posse das ilhas Falklands. Seus antecessores no poder, durante a sangrenta ditadura argentina, já haviam usado o mesmo expediente, com os resultados que todos nós sabemos: uma surra histórica em uma guerra que jamais deveria ter existido.
     Essa - a estultícia ideológica - foi a grande marca da 'era Chávez', mantida com vigor pelo atual presidente. E não é diferente da receita usada em nosso país, há muitos anos. Uma denúncia de espionagem, como a que surgiu recentemente, é uma dádiva para os marqueteiros, por exemplo.
     No caso venezuelano, ficamos sabendo, os donos da fábrica de papel higiênico - envolvidos pela crise da economia do País - ainda serão obrigados a alimentar a tropa destacada para garantir a ocupação. Esse problema não existe em Cuba. Na ilha dos irmãos Castro, a população usa, na higiene pessoal, o jornal do Partido Comunista, o Granma. Afinal, é só para isso que ele, o jornal, serve.

domingo, 22 de setembro de 2013

Reverência à história

     Vinha resistindo há alguns anos. Ontem, superei alguns obstáculos pessoais e participei da reunião entre antigos funcionários do velho e ainda decente Jornal do Brasil. Por mais que vários amigos insistissem, havia um travo, uma ponta de mágoa, que misturava, em mim, duas imagens que, na verdade, são distintas: a da empresa e a dos que a faziam, no dia a dia da redação, em especial, mas não somente.
     É uma constatação que parece evidente, mas que não se configurava para mim. Sem sentir, aflorava, sempre, a enorme contradição dos que exploravam não apenas uma marca que que construiu uma história, mas os que ajudaram nessa construção. E não estou falando, apenas, de contradições pontuais, como a opção pela candidatura de Paulo Maluf à Presidência, naqueles idos de 1985, mas - e principalmente - da escolha do caminho deletério da inadimplência com seus colaboradores.
     Ao assistir à alegria dos reencontros, em um restaurante no Leme, tive a certeza de que é possível, sim, reverenciar um momento, independentemente de outras circunstâncias. Foi mais um passo, algo entre negação e aceitação. Não seria justo, até comigo mesmo, sufocar tantas boas lembranças - e há muitas, ao longo dos praticamente 18 anos passados na Avenida Brasil, 500 - com o peso das incoerências de administradores que não souberam honrar o próprio destino.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Mantendo a esperança

     Por mais que minhas emoções estimulem, não consigo olhar a decisão de ontem, do STF, como uma vitória dos quadrilheiros petista e afins que assaltaram os cofres públicos e vilipendiaram a Nação. A admissão dos tais embargos infringentes no processo do Mensalão do Governo Lula não absolve, apenas - se é possível usar essa palavra - dá a um grupo de bandidos o direito de recorrer de parte de uma sentença.
     É evidente que o processo só chegou a esse resultado por envolver poderosos, como o suposto chefe da quadrilha de mensaleiros, o ex-ministro do governo Lula José Dirceu. Assaltantes de botequins vagabundos, menos perigosos do que a turma petista e assemelhados, certamente já estariam na cadeia há muito tempo. Mas isso acontece em todas as partes do mundo. Quanto mais ricos são os bandoleiros, melhores são seus advogados e maiores as chances de escapar da prisão.
     Há uma enorme decepção, inegavelmente desastrosa para o País. Mas, insisto - reforçando argumentos expostos ontem -, não podemos esquecer que esse embate faz parte do processo democrático. Se estivessem na Coreia do Norte, esses assaltantes teriam sido fuzilados. Mas poderiam estar ao lado de simples opositores do regime. Aplaudiríamos a execução de uns, por repudiarmos seus atos; e condenaríamos a de outros, por identificação?
     Quando exijo - dentro das minhas modestíssimas fronteiras - dignidade do Judiciário venezuelano, por exemplo, quero estar em paz comigo mesmo para pedir o mesmo das cortes inglesas. O ministro Celso de Mello poderia, é evidente, ter-se manifestado contra o o recebimentos dos embargos. Estaria em ótima companhia, e não apenas do Tribunal. Optou pelo recebimento, usando argumentos com os quais eu não concordo. Mas agiu de acordo com sua interpretação da Lei, assumindo a responsabilidade pela decisão.
     Seu voto, na minha visão, embora convergente, não tem as implicações escusas das decisões proferidas pelos ministros Ricardo Lewandowski e Dias Toffoli, em especial. Esses dois, ao longo do tempo, deram mostras exaustivas de despudor. Também não teve a nódoa que recaiu sobre a posição dos tais 'novatos', colocados ali pelo atual governo. Da ministra Rosa Weber já se esperava algo parecido. Durante todo o processo não conseguiu esconder que lamentava ser obrigada a condenar amigos e correligionários. Fez o que pôde. Chegou a praticamente chorar.
     O grande problema não está na reavaliação da condenação de alguns quadrilheiros, que deverá ser mantida. Mas na postergação provocada pela inaceitável lentidão dos processos judiciários, em todas as instâncias. Ao invés de apenas lamentar o voto de Celso de Mello, devemos nos mobilizar para que o processo não fique esquecido em alguma prateleira. E não podemos esquecer que a decisão não muda a punição pelos demais crimes.

 

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Em respeito à Justiça

     Resultado de julgamento, em um país democrático, como o Brasil ainda é - mesmo contra a vontade dos que estão no poder há 10 anos e quase nove meses - , deve para ser respeitado e acatado, por mais que haja, como é o caso do Mensalão do Governo Lula, um forte ingrediente emocional. Não se pode imaginar que uma decisão só seja considerada boa caso atenda ao que almejamos. Não é assim que a Justiça deve funcionar.
     É verdade, sim, que nossa mais alta Corte vem sendo conspurcada especialmente pelo comportamento de dois dos ministros. Também podemos admitir que as novas indicações foram contaminadas pelo dedo partidário, pela tentativa de ampliar o aparelhamento partidário que já marca todas as esferas. Mas não podemos, a partir de um voto que desagrada nossos corações, imaginar que a devassidão foi absolvida.
     Não me cabe - e nem tenho veleidades de possuir conhecimentos suficientes para tanto - avaliar as razões jurídicas da decisão do ministro Celso de Mello, ao aceitar os tais recursos infringentes que dão aos bandoleiros petistas e afins o direito de novo julgamento sobre o crime de formação de quadrilha. Em primeiro lugar, porque essa decisão - e isso até eu entendo!!! - não implica em absolvição. Tenho absoluta certeza que Celso de Mello, no próximo julgamento, vai manter sua decisão anterior e condenar os bandidos que assaltaram os cofres e a dignidade públicos.
     É evidente que, assim como a maioria decente desse país, eu também torcia para que o processo terminasse hoje e que os mensaleiros fossem logo para a cadeia, que é onde merecem estar. Mas, felizmente, não é assim - atendendo apenas e tão-somente à vontade popular em um determinado momento - que funciona a Justiça em países democráticos.
     Em ditaduras assassinas (perdoem-me a redundância), como as atuais coreana do norte, chinesa, iraniana e cubana, por exemplo, a Justiça é apenas uns instrumento dos poderosos de plantão. Em países que se propõem livres, ela é um aliado da dignidade. Eventualmente, como no caso atual, atende aos desejos de bandidos condenados. Mas esse é um preço que eu pago tranquilamente.

Pedágio na cidade, uma excrescência!

     Cada vez que leio ou escuto a palavra 'pedágio', em evidência nos últimos dias, mais aumenta meu - digamos! - desconforto em relação à extorsão praticada na Linha Amarela, aqui no Rio, o caminho nem sempre mais rápido entre dois gigantescos engarrafamentos. Há algum tempo, pelo menos, tínhamos o 'consolo' de chegar logo aos congestionamentos que se formam diariamente nos dois extremos. Atualmente, ficamos insuportavelmente engarrafados para, afinal, ficar devastadoramente engarrafados.
     A existência de pedágio, em geral, já é uma excrescência. Afinal, pagamos pelos serviços, através dos impostos absurdos, entre eles o famigerado IPVA. Os governos têm, por definição, a obrigação de proporcionar meios de locomoção aos seus cidadãos. Faz parte do pacote do poder.
     Com muito boa vontade, aceito pagar uma cota extra para trafegar em estradas bem-cuidadas, sinalizadas, com curvas retificadas, pistas duplas e assistência. Isso, em deslocamentos interestaduais, longas distâncias. Mas defendo a tese de que não deveria haver taxa alguma, além da exorbitância que já pagamos.
     Cobrar pedágio para circulação entre bairros, como acontece na Linha Amarela, é pura e simplesmente um assalto, roubo descarado, pilantragem imposta à população que pagou cada grama de areia, cimento e ferragem usado na construção da via.
     As empresas que exploram - literalmente - essa que foi projetada para ser uma via expressa destinada a aliviar o infernal trânsito da cidade, pegaram o pacote pronto e acabado, pago pelo carioca, e vêm enchendo os cofres com o dinheiro mais fácil do mundo. Um dinheiro que - é bom lembrar - não sofre, ao menos, um controle adequado.
     Não resta, sequer, o consolo de estar contribuindo a cidade, pois o acerto entre município e operador da via sempre foi feito por estimativa de frequência, claramente subestimada. Há uma enorme zona cinzenta entre o 'estimado' e o real. É dinheiro que sai diretamente do bolso do contribuinte - absurdos R$ 10, ida e volta - para os cofres da empresa.
     E não há um vereador, sequer, que faça um discursinho vagabundo contra essa exploração. Não há uma voz que aponte o absurdo de exigir que o morador da Freguesia, por exemplo, tenha que pagar para ir a Piedade. Ou que destaque o tratamento diferenciado entre usuários que entram e saem da via antes da praça de pedágio, embora tenham percorrido um trecho muito maior do que outros, obrigados a pagar.
     Talvez - e não posso garantir, mas imaginar - uma das respostas esteja nas tais contribuições para campanhas eleitorais. Nossos candidatos a vereador e prefeito não pode se dar ao 'luxo' de discutir uma fonte segura de recursos. 

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

A paixão 'mais antiga'

     Evito fazer comentários sobre futebol. Não faço brincadeiras com torcedores de outros clubes, não comemoro - pelo menos pública e ostensivamente - derrotas alheias. Festejo as nossas (não tantas quanto gostaria) intensamente, mas de forma discreta. É meu jeito de viver essa paixão pelo Vasco, "a mais antiga", como sabiamente prega uma das músicas entoadas nos estádios. Afinal, sou Vasco desde sempre. Não consigo lembrar de tempos anteriores a essa paixão.
     Costumo dizer - e é a mais absoluta verdade - que minha vida é um reflexo dessa paixão. O jornalismo surgiu naturalmente, a partir do sonho infantil de, em algum momento, escrever sobre nossas conquistas. Um sonho que começou quando aprendi a ler nas páginas esportivas de O Globo, em casa, antes mesmo de entrar na escola, com minha mãe, que soube explorar a avidez daquele moleque. Eu não me contentava, 'apenas', em ver as fotos de meus ídolos de então (Barbosa, Ely, Ademir ...). Queria saber o que se dizia sobre eles.
     Só muito tempo depois de estar trabalhando em jornais, após ter passado pelos Diários Associados (Agência Meridional e O Jornal) e pelo O Globo, tive a chance real de conviver profissionalmente, diariamente, com o esporte em, geral, o futebol em particular, no Jornal do Brasil, na editoria comandada por Oldemário Touguinhó, no início dos anos 1980.
     Em 1982, tive o privilégio de assinar a crônica da conquista do título estadual, perseguido desde 1978, naquele 1 a 0 sobre o Flamengo, gol de Marquinho, de cabeça, desviando cobrança de escanteio de Pedrinho Gaúcho, equivocadamente apontado como o autor. Antes do JB, é, verdade, já havia feito diversos reportagens na área de esportes, incluindo uma especial, inesquecível, quando da vinda do lutador Cassius Clay/Muhammad Aly ao Brasil, para uma apresentação em São Paulo. Mas o dia a dia, mesmo, só na Avenida Brasil, 500.
     Essas lembranças reapareceram hoje, ao ler, ainda em O Globo, um desabafo de Juninho Pernambucano. Ele, o único grande jogador que restou ao Vasco, admite que falta talento à equipe. Foi delicado. O time é muito fraco, incompatível com a dimensão do clube. Não pela derrota, em si, para o São Paulo (mais uma ...), até certo ponto natural, mas pela falta de perspectivas.
     O Vasco, em 2013, é o retrato acabado do desastre administrativo dos últimos dez ou doze anos. Os resultados do campo - pífios - apenas refletem o desmando, a falta de seriedade no trato das finanças. Está mais do que na hora de o clube se reinventar. Infelizmente - e sou obrigado a repetir isso, mais uma vez -, Roberto jogou pela janela a chance de se tornar o maior nome dos nossos 115 anos de história.
     A metade do caminho já estava percorrida, ao longo de vinte anos, mais de mil jogos e 702 gols.

domingo, 15 de setembro de 2013

As 'polícias' do secretário

     Talvez eu esteja precisando reaprender a ler, a interpretar notícias, comentários. Será que ninguém, no mínimo, estranhou o fato de o secretário de Segurança fluminense, José Mariano Beltrame, anunciar, candidamente - em entrevista a O Globo -, que o efetivo das novas delegacias da polícia civil que serão instaladas em comunidades pacificadas será formado apenas por agentes recém-formados? A justificativa não poderia ser mais desastrada: eles não teriam os vícios dos colegas antigos.
     Para mim, isso quer dizer mais ou menos o seguinte: vamos usar uma turma que ainda não recebe propina, que ainda não faz acordo com traficantes, que ainda não comete arbitrariedades, que ainda, em síntese, é razoavelmente decente. O restante da cidade que se dane e fique com os indecentes.
     E não parou por aí. Não satisfeito, Beltrame prometeu mudar, também, os comandos das UPPs, trocando oficiais da Polícia Militar do sexo masculino por mulheres. Também fiz uma leitura particular. Entendi que os policiais homens são incapazes de manter um relacionamento correto com comunidades expostas ao crime, por truculentos ou insensíveis. Como se esses males atingissem apenas o sexo masculino.
     Usando o mesmo raciocínio que empreguei em relação aos policiais civis, entendi que, para ser tratado com urbanidade e respeito, preciso providenciar minha mudança para áreas sob as asas de uma policiais militar. Ou me sujeitar a ser sequestrado ou espancado na saída de casa (ao ser confundido com alguém), ou ao cometer alguma estripulia no trânsito.
     Partindo de alguém com a responsabilidade do secretário, a visão da Polícia (Militar e Civil) que ele me transmitiu na reportagem é a mais sombria possível: corrupta, arbitrária, insensível e violenta. Ou - e isso também me ocorreu - Beltrame estava, apenas e tão-somente, exercitando um dos maiores males do nosso mundo político: a vigarice retórica, destinada a receber aplausos imediatos e - sempre é muito bom! - alguns votos a mais em eleições, mesmo indiretos.
     Nós não precisamos - definitivamente - de duas polícias, uma para áreas 'pacificadas' e outra para o restante do Estado, que continua exposto. Precisamos apenas de uma, que zele por todos com a mesma determinação e honestidade. E de um secretário que não se deixe contaminar pela politicagem barata.

sábado, 14 de setembro de 2013

O juiz mais indicado

     A decisão sobre o futuro dos quadrilheiros que assaltaram os cofres e a dignidade nacionais não poderia estar em melhores mãos. O ministro Celso de Mello, ao longo do julgamento do que o país convencionou chamar de Mensalão do Governo Lula, manteve, sempre, um comportamento acima de suspeitas, pautado pelo saber jurídico. Em determinados momentos, chegou a protagonizar pronunciamentos emocionantes, indignados, em defesa da própria democracia, que ele viu ameaçada.
     Assim, acredito que seu voto terá o peso da independência e será pautado, apenas e tão-somente, por suas mais profundas convicções jurídicas. Se, eventualmente, optar pela aceitação dos tais recursos infringentes, que certamente beneficiarão alguns bandoleiros, devemos entender a decisão como fruto do puro convencimento, e não movida por interesses subalternos, como os que têm caracterizado as intervenções, em especial, de dois dos ministros, a saber: Ricardo Lewandowski e Dias Toffoli.
     Não coloco no mesmo saco os demais ministros que votaram a favor dos criminosos (Rosa Weber, Luís Barroso e Teori), embora enxergue em todos eles as marcas do ranço ideológico, a identificação partidária e até mesmo emocional com alguns dos bandoleiros. Mas é evidente que são movidos por algo além do convencimento proporcionado pelo conhecimento das leis.
     Não esperava algo muito diferente. Estava claro que eles só estavam aguardando uma brecha legal para saírem em defesa, principalmente, dos luminares petistas condenados. A ministra Rosa Weber, por exemplo, mal conteve os soluços quando foi obrigada a condenar o ex-presidente do PT, José Genoíno. Quanto as dois 'novatos', não estão no STF por acaso.
     Celso de Mello se apresenta como diferente. Diferente, inclusive, da eventual intransigência do presidente do STF, Joaquim Barbosa. Em vários momentos do julgamento, ao longo do segundo semestre do ano passado, evidenciou equilíbrio.
     Foi melhor para o país que a decisão ficasse com ele. Imaginemos um cenário no qual coubesse a um lewandowski qualquer a palavra decisiva, mesmo simbólica. Seria bem mais difícil conter a revolta da parte digna da nação. A decisão do decano do Tribunal, e isso não é pouco, certamente será aceita com mais respeito, seja qual for.

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

A sentença de Gilmar

     Ainda bem que o mundo em geral, e o jurídico brasileiro em especial, não é composto apenas de envergonhados barrosos e teoris, rosas lacrimejantes e escancarados toffolis e ricardos, obrigados a ouvir, em silêncio, o ministro Gilmar Mendes dizer, com quase toda as letras, que havia um escândalo em marcha no julgamento da aceitação, ou não dos tais recursos infringentes no caso do Mensalão do Governo Lula.
     Ainda não sei o resultado. Pode ser que dentro de uma ou duas horas a expectativa da parte decente do povo brasileiro tenha sido sepultada sob o peso de artifícios legais, filigranas. A essa altura, o resultado, em si, já não é o mais importante. Ficou claro - e Gilmar Mendes enfatizou esse ponto com absoluta firmeza - que existe o risco, sim, de a mais alta Corte do País se transformar, em pouco tempo, em um instrumento do Poder Executivo. Uma gazua a postos para abrir celas e colocar na rua bandoleiros afinados com a ideologia de plantão.
     Ministros escolhidos a dedo pela Presidência da República, após uma coordenada e consistente manobra de postergação do resultado da ação penal 470, estão julgando o próprio STF. A exceção pode ser o decano Celso de Mello, cujo voto é dado como a favor do recebimento dos recursos, que tem demonstrado sua isenção. Seria compreensível, mesmo que lastimável, que encampasse a tese dos defensores dos quadrilheiros petistas e afins, em nome de uma coerência jurídica.
     Os demais, não. E, desses 'demais', não há como excluir a ministra Rosa Weber, que lamentara profundamente - quase chorou!!! - ter sido obrigada a votar pela condenação, por exemplo, do ex-presidente do PT, José Genoíno.
     Independentemente do resultado, no entanto, deve prevalecer o respeito à decisão do Supremo Tribunal Federal. É assim que funciona uma democracia. Podemos divergir - o que é extremamente saudável -, mas dentro dos limites impostos pelo razoável.
     Espero - e o julgamento dos recursos ainda está sendo realizado - que prevaleça o entendimento anterior. O Brasil não merece mais essa decepção.

terça-feira, 10 de setembro de 2013

O último lamento

     A 'entrevista' do ex-ministro José Dirceu à Fundação Perseu Abramo, do PT - e repercutida nos nossos jornais, entre elas o Estadão -, é um primor de vigarice retórica. É inacreditável que alguém dessa era inaugurada há dez anos e oito meses ainda tenha a coragem de acusar as "elites" de alguma coisa. Essa gente finge que não está de braços dados justamente com o que há de pior nas elites brasileiras, em todos os setores, destaque absoluto para o político.
     Será que eles - Dirceu e companhia - esqueceram das profundas ligações e amizades com José Sarney, Paulo Maluf, Carlos Lupi e Michel Temer, por exemplo? Se essa turma não é da 'elite', acho melhor que todos nós reconsideremos o conceito que temos sobre a palavra. E os banqueiros, que nunca, jamais, em tempo algum, lucraram tanto, em tão pouco tempo, como agora? E a turma das empreiteiras, refastelada no colo do tal PAC?
     Até compreendo o desespero de Dirceu, condenado à cadeia por ter chefiado a quadrilha que assaltou os cofres públicos durante o primeiro mandato do ex-presidente Lula. Ele, certamente, jamais imaginou que a situação chegasse ao ponto em que chegou. Afinal, está a apenas 24 horas de ver soterradas suas tênues esperanças de ficar livre da prisão. Com um pouco de esforço, eu poderia, até, admitir que ele acredita, mesmo, que a roubalheira petista foi realizada em nome de uma causa maior. Não acredito nessa baboseira, mas é possível que haja alguém que creia.
     Dirceu talvez devesse estar direcionando sua mágoa e seu inconformismo para outros alvos, que saíram ilesos da devassa realizada nas investigações e julgamento do Mensalão. Mas a culpa por essa situação é dele mesmo, ao ter apostado na influência do poder não apenas na fase de investigação, mas no julgamento dos crimes.
     O peso das provas, no entanto, inibiu qualquer tentativa de acobertamento ou de leniência, especialmente dos julgadores, com as exceções - Ricardo Lewandowski e Dias Toffoli - já conhecidas de sobra e repudiadas por todos quase toda a população. Inibiu, até mesmo, a imaginada interferência dos novos juízes, apenas alinhavada.
     A entrevista de Dirceu soa, para mim, como o último lamento, algo como as derradeiras palavras ou refeição concedidas a um condenado à morte. Se tudo correr normalmente, como o Brasil decente espera, amanhã, no fim da tarde, o destino da turma que ousou desafiar a democracia estará definido. E ele passa pelas celas de uma prisão.

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Herança maldita

     Nada é por acaso nesse soturno período de desmandos e vigarices iniciado há dez anos e oito meses. O noticiário de hoje, envolvendo o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), é apenas mais uma indicação de que nada mudou após o desastroso primeiro ano do governo Dilma, notabilizado pela profusão de escândalos que provocaram a saída de sete ministros, recorde absoluto em toda a história brasileira.
     O ministério da vez é o mesmo onde reinou o atual presidente pedetista Carlos Lupi, parceiro de primeira hora de qualquer um que esteja no poder. Ninguém menos do que o secretário-geral do MTE foi levado, coercitivamente!!!, para depor sobre acusações de diversos crimes que estão sendo investigados pela Polícia Federal, Receita Federal e Controladoria Geral da União. Crimes que vão da fraude à lavagem de dinheiro (qualquer coincidência com o Mensalão não é ocasional).
     No âmago da questão, vigarices em convênios, exatamente o mesmo crime o que foi denunciado há dois anos. É algo recorrente, não tenham dúvida. O espírito predador dos cofres públicos manteve-se inalterável, assim como os esquemas de subtração de dinheiro (estou me permitindo usar um eufemismo para roubo).
     Grupos políticos, apesar das denúncias, continuam se locupletando de determinados feudos, alguns mais lucrativos do que os outros, é verdade. Mas isso depende do poder 'politico' do aliado. O Ministério do Trabalho, por uma lógica enviesada, continua sendo destinado ao PDT, como se fosse algo hereditário, um direito adquirido graças a uma discutível tradição que remonta à fundação do PTB de Vargas, nos anos 1940 - março de 1945, para ser mais definitivo - e cujo espólio (despojo?) vem sendo arduamente disputado por petebistas e pedetistas.
    
     Há um ano e nove meses, o então ministro Carlos Lupi pediu demissão do cargo, acuado e pressionado, depois de ter feito ameaças e declarações de amor à presidente Dilma. Ao renunciar, ousou, até mesmo, insultar a memória do presidente Vargas, num arremedo de carta-testamento. Na época, afirmava que renunciava "para que o ódio das forças mais reacionárias e conservadoras deste país contra o Trabalhismo não contagie outros setores do Governo".
     Pelo que se vê, deixou seguidores à altura.

sábado, 7 de setembro de 2013

Caetanices e barretadas

     Rio e São Paulo, em especial, 'caetanearam'. Algumas dezenas de vagabundos mascarados invadiram o desfile em homenagem à Independência (não, por favor, que ninguém venha com essa conversa de que nunca fomos independentes e bla-blá-bla, pois estou evitando vomitar) e, não satisfeitos, tentaram "acessar" o Palácio Guanabara, segundo uma das repórteres globais encarregadas de cobrir o novo episódio de vandalismo aqui no Rio.
     Vejam bem até que ponto podem ir as caetanices: o bando de degenerados que saiu às ruas para destruir os patrimônios público e privado, desafiar a Polícia e infernizar a vida das pessoas decentes estaria, apenas, tentando "acessar" o Palácio, no que teria sido impedido pela incompreensão e arbitrariedade de agentes da burguesia. As máscaras, bombas caseiras, pedras, pedaços de pau e barras de ferro seriam instrumentos a serviço da liberdade e, 'por acaso', de alguns partidos.
     É inacreditável que esse tipo de caetanada reúna adeptos e defensores. Sociedade digna alguma pode coexistir com agressões à Lei. Não há justificativa possível. A democracia oferece a todos as oportunidade de exprimir seus pontos de vista com a veemência incontestável do voto. É claro que manifestações - de qualquer matiz, é bom que se frise!!! - não só podem, mas devem ser respeitadas.
     Já na Grécia Arcaica, por exemplo (séculos VIII a VI a.C), era nas praças que os cidadãos decidiam seus destinos, apesar das restrições que marcavam a época (mulheres, escravos e analfabetos não tinham direito a voto). Imaginar que o mundo do século 21 pudesse restringir esses direitos seria inadmissível, é evidente.
     A liberdade - e a de manifestação é uma das mais caras - é um bem inegociável. Mas não pode servir de instrumento (ou argumento) para justificar a banalização da boçalidade, especialmente em uma democracia. E o Brasil, apesar dos esforços contrários, é um país democrata.
     Não é novidade que tenho divergências irreconciliáveis com o grupo de poderosos que assumiu esse país há dez anos e oito meses. Mas jamais me imaginaria aplaudindo agressões ou ameaças físicas à presidente, ou às instituições. O campo das ideias é tão amplo e oferece tantas possibilidades que não pode ser soterrado por atos inaceitáveis.
     Vigarices retóricas como a do excelente cantor e compositor Caetano Veloso em nada contribuem com a democracia. Assim como a insistente defesa dos quadrilheiros do mensalão do Governo Lula, como a recentíssima declaração do produtor cinematográfico Luís Carlos Barreto sobre a 'injustiça' que o STF estaria cometendo contra seu amigo José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil condenado por chefiar um bando que assaltou os cofres públicos.

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Demagogia mascarada

    A 'caetanice' do cantor e compositor ... Caetano Veloso talvez seja a marca dessa onda demagógica que cerca os fascistas e arruaceiros (perdoem-me pela redundância) que vêm infernizando a vida não apenas dos nossos medíocres governantes, mas também do cidadão comum, obrigado a conviver com os inconvenientes causados pela baderna dos sem-causa.
     Está lá, no O Globo, sua exortação para que todos saiam às ruas mascarados, amanhã, nos protestos marcados para todo o Brasil: "Proibir o uso de máscaras numa cidade como o Rio é uma violência simbólica", escreveu, sem ficar envergonhado, certamente.
     A turma que fala e escreve pensando no sucesso que fará com o público deve estar morrendo de inveja da 'caetanice' de Caetano. "Como é que eu não pensei nisso antes?", devem estar se perguntando aqueles que fingem não enxergar ilegalidade na decisão - aí, sim, simbólica - de esconder o rosto para fugir da responsabilidade pelos atos cometidos.
     A máscara - com algumas exceções que justificam a regra (Zorro, Fantasma ...) - é, historicamente, associada a ilicitudes. No caso dos valentões que se escondem nas multidões, posso afirmar que simboliza, também, covardia. É muito cômodo atropelar a lei e a ordem sabendo que não haverá punição.
     Manifestantes com causa e responsabilidade devem assumir seus atos e posturas políticas, como aconteceu no início da onda de protestos. A população que foi para as ruas exigir serviços decentes e respeito sequer cogitou de se ocultar. Ao contrário, fez questão de expor a face da sua indignação.
     Ao ser apropriada por degenerados, a onda de protestos que atingia também e principalmente o Governo Federal não por acaso mudou de cara e de rumo. Os alvos passaram a ser, principalmente e 'coincidentemente', adversários de determinadas facções políticas, de olho nas eleições do ano que vem. Não resta dúvida que essa gente que governa quase todos nossos estados e capitais merece nosso repúdio. Mas a questão não é essa.
     Basta ver os locais onde a onda de violência mascarada é mais forte. Não será difícil constatar que ela é absolutamente seletiva.

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

O STF e a dignidade

     Eu me recuso a acreditar que os ministros Teori Zavascki e Luís Roberto Barroso, recém-chegados ao Supremo Tribunal Federal, estejam decididos a pagar suas indicações dando um jeitinho para os bandoleiros petistas e assemelhados escaparem da cadeia.
     É verdade, e o país inteiro sabe disso, que outros dois ministros (Dias Toffoli e Ricardo Lewandowski) têm se esmerado no uso de todos os artifícios para ajudar seus ex-companheiros e amigos. Mas eles - esperamos! - são a exceção à regra. O STF é uma casa respeitável e com uma tradição de independência que impossibilita sua curvatura aos interesses de grupos que estão eventualmente no poder.
     Qualquer ação que fuja a um parâmetro mínimo de dignidade seria desastrosa não apenas para nossa mais alta Corte, mas para o país como um todo. O Brasil espera assistir à prisão dos quadrilheiros que assaltaram os cofres públicos durante o Governo Lula. A condescendência com o delito poderia causar não apenas reações violentas, mas - o que seria mais grave - o desencanto definitivo com a Justiça.
     Já existe entre nós a sensação de que os poderosos estão imunes aos efeitos da Lei, que só atingiria os mais despossuídos. A eventual anulação do julgamento, com base em artifícios jurídicos (os tais recursos infringentes, que foram jogados na lata do lixo em 1990, e reciclados, agora pela quadrilha de mensaleiros), só aumentaria o descrédito.
     Um descrédito com as instituições que acaba de ser alimentado com a notícia de que o deputado federal José Genoíno, um dos condenados, acaba de pedir aposentaria, alegando problemas médicos. Quer - e vai ... - ficar em casa, pelo menos enquanto não for para a prisão, recebendo quase R$ 30 mil mensais.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Dois deputados e seus roubos

     Duas noticias envolvendo ladrões: um, condenado; o outro, confesso. Vamos ao condenado. O deputado federal João Paulo Cunha, do PT paulista (peculato, corrupção passiva e lavagem de dinheiro), terá, mesmo, que purgar algum tempo na cadeia, ao lado de outros dez quadrilheiros do Mensalão do Governo Lula, destaque para o ex-ministro José Dirceu. De nada adiantaram os recursos, embargos, traquinagens e tudo o mais que foi tentado ao longo desses quatorze ou quinze meses.
     João Paulo perdeu, também e inclusive, a chance de continuar com seu mandatos. mesmo na cadeia. Até mesmo o ministro Ricardo Lewandowski, defensor ferrenho dos petistas condenados, jogou a toalha e admitiu que a decisão pela cassação é do Supremo Tribunal Federal, e que cabe à Câmara, apenas, referendá-la. Não correremos, pelo visto, o risco de assistir a novas cenas explícitas de descaramento. Deputado condenado, pelo menos pelo Mensalão, é deputado cassado, e fim de conversa.
    
     O outro caso de roubo também foi destaque nos jornais, em especial em O Globo. Envolve a deputada Janira Rocha, do PSOL, partido de candidatíssimo  a governador e sempre ativo Marcelo Freixo. Ela, com a desfaçatez que caracteriza grande parte da companheirada (no fundo, jogam todos no mesmo time), reconheceu que roubou, sim, dinheiro do Sindicato dos Trabalhadores em Saúde, Trabalho e Previdência Social (Sindsprevi/Rio) para usar no partido.
     Mas, como se fosse um arauto dos mensaleiros e afins, saiu-se com mais uma pérola da vigarice. Alega, em sua defesa!!!, que pegou dinheiro, mas para ação política, e não para comprar passagens aéreas. Trata-se, como se pode imaginar, de uma ladra seletiva, a que rouba pela 'causa'. Algo como os fins justificam os meios, essa conversa fiada e pilantra que tenta encobrir o desvio de caráter que pontifica não apenas nas argumentações dos que são pegos com as duas mãos nos cofres públicos.
     Esse tipo de desculpa, lastimavelmente, está presente no discurso da turma que ainda defende a camarilha que vem assaltando o país. Uma defesa atravessada, que tenta fazer comparações para justificar sua condescendência com o 'malfeito'.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Segredos e vigarices

     Pode ser - apenas pode!!! - que, a partir de agora, com o fim da lastimável instituição da votação secreta, o Congresso tome um pouco de vergonha e interrompa as vigarices ocultas que vem cometendo. Na verdade, com o voto aberto, talvez nossos representantes em Brasília tenham vergonha de escarnecer do povo ao vivo e a cores, com medo da represália que poderá advir das urnas.
     Não é uma garantia, no entanto. Essa gente sabe que a memória popular é curta e facilmente enublada por uma picaretagem retórica ou outra. É o que faz, por exempo, o Governo, há dez anos e oito meses. Mergulhada em trapaças, essa era que se originou no primeiro mandato do ex-presidente Lula vem jogando para as arquibancadas desde sempre. Primeiro, como se fosse um juiz de futebol fingindo que a 'mãe' citada pelos torcedores não é a sua. Em seguida, fazendo gols com a mão e em impedimento.
     Aos escândalos - e há uma profusão deles -, a companheirada responde inicialmente com o silêncio, como se não fosse com ela, para encetar, em seguida, uma jogada marqueteira qualquer. Um anúncio requentado de projeto, uma verba astronômica para algum trem-bala, uma foto ridícula com jogadores de futebol ou uma indignação teatral contra o império americano, o adversário ideal de todo e qualquer governante bananeiro.
     Infelizmente, coube ao Supremo Tribunal Federal, pelo voto do ministro Roberto Barroso, dar aos congressistas a chance de aliviar a condenação de seus pares, mantendo-os no cargo mesmo quando condenados à cadeia. Com essa espécie de gazua nas mãos, nossos preclaros deputados podem se sentir respaldados para garantir os mandatos dos bandoleiros do Mensalão do Governo Lula, os petistas, em particular. "Afinal" - podem argumentar - "é o STF que está admitindo essa possibilidade".
     A pronta reação do ministro Gilmar Mendes pode - e eu espero que sim - soterrar esse golpe jurídico na vontade popular. Além de expor a desfaçatez de uma interpretação desse teor, o ministro mandou um recado à turma que finge não saber direito o que é a instituição do regime semiaberto e argumenta que os bandidos condenados só precisam dormir na cela. Regime semiaberto, companheirada, pressupõe o direito de trabalhar em colônias agrícolas, por exemplo, e não fora dos presídios.
     Esse trio que se formou no STF - Barroso, Toffoli e Lewandowski - precisa ser acompanhado de perto, muito perto.