quinta-feira, 30 de junho de 2011

Sem noção de lugar no espaço

     Todos nós conhecemos alguém a quem classificamos de 'sem noção'. É aquele sujeito (ou sujeita) que diz as maiores inconveniências nos momentos mais inconvenientes. E não se dá conta do que fez, das bobagens que disse. Alguns agem assim por absoluta ... falta de noção, mesmo. Outros, por ausência de superego.
     O ex-presidente Lula é um desses seres privados de superego. O atual ministro da Ciência e Tecnologia é outro, ao que tudo indica, a começar pelo próprio cargo que ocupa. Economista e 'Doutor' em Governo Lula (é isso mesmo: ele defendeu tese, recentemente, na qual se limitou a exaltar 'conquistas' de seu líder e mentor), Mercadante é um exemplo acabado da pessoa errada no lugar inadequado.
     Mas vamos ao que motiva esse texto: a notícia, divulgada no início da semana, de que ele, o ministro, admitiu a possibilidade de convidar os hackers que invadiram os sites oficiais para trabalharem com ele. Justamente nesse momento, quando se vê às voltas com as denúncias de fabricação de dossiês falsos, desvio de dinheiro para fins não muito republicanos etc.
     Será que nosso ministro, ao pensar em inaugurar o que chamou de 'hacker's day', estava pensando nos 'serviços' que esses jovens criminosos cibernéticos poderiam produzir?

Eu vou invadir seu palácio

     Não vejo a hora de invadir o Palácio Guanabara e exigir mais decência no trato dos assuntos estaduais e, de quebra, um tratamento digno para as ruas aqui de Pedra de Guaratiba, quase todas esburacadas e sem meio-fio adequado. 'Tá', eu sei que essa última parte faz parte do feudo do Eduardo Paes. Mas, como os dois são parceiros ...
     Já estou preparando meu kit invasão: lenço para cobrir parcialmente o rosto; duas armas de caça; meia dúzia de crianças arrebanhadas na vizinhança, a preço de sanduíche com refrigerante; e uns dois ou três deputados ávidos por aparecer na frente das tevês. Já ia esquecendo: acesso irrestrito aos banheiros de mármore do palácio que 'serviu de lar' para o conde D'Eu e a princesa Isabel, "a heroína, que assinou a lei divina", segundo versos de um inesquecível samba-enredo.
     Há alguns anos, poderia contar como certa a presença do atual secretário de Meio Ambiente, Carlos Minc, uma espécie de 'arroz de manifestação'. Ele estava em todas, existentes, ou não. Quando não havia público, nem o que manifestar, confeccionava algumas faixas e convocava mulher, filhas e sobrinhos para posar para as incrivelmente amigas câmaras fotográficas. A foto, fechada, para dar a impressão de 'multidão', estava garantida.
     Como a 'base' do governador Sérgio Cabral cresceu muito, com o adesismo das várias - digamos - 'f'acetas' da política fluminense, não sei se vou conseguir apoio parlamentar para meu movimento pela dignidade pública. Talvez não consiga, sequer, cobertura para o ato.
     Mas já vou avisando: exijo isonomia com os bravos soldados do fogo que invadiram seu quartel de comando, quebraram portas e rasgaram regimentos disciplinares. No mínimo, que a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara aprove, também por unanimidade, anistia para meu futuro desvario.

Pós-venda, ainda um desafio

     Certa vez, um concessionário irritado - muito irritado, diga-se! - reagiu mal a uma reportagem que publicamos no velho caderno Carro e Moto, do ainda digno Jornal do Brasil. Como em quase todas as ocasiões, nossas matérias eram pensadas, executadas e editadas a seis mãos. Nesse caso, as outras quatro mãos pertenciam aos ótimos repórteres João Marcello Erthal e Alexandre Carauta.
     Em síntese: fizemos, com o auxílio de um mecânico, uma relação de peças que seriam necessárias a um reparo no motor de um hipotético Monza (não podemos esquecer que estamos falando da segunda metade da década de 1990). Com a lista em mãos (constata-se a importância do número de participantes), percorremos algumas revendas Chevrolet e lojas do mercado paralelo, solicitando orçamentos.
     A diferença era astronômica. Pelo valor cobrado por um pistão, por exemplo, na tal loja campeã de preços altos, quase compraríamos uma orquestra inteira. Fizemos a devida ressalva de que as peças, embora de marcas confiáveis, não eram as chamadas 'originais' e sapecamos a matéria na primeira página, com a reprodução dos orçamentos. Confesso que o nosso departamento comercial também não ficou muito satisfeito, face às reclamações que por lá chegaram.
     Mas éramos da redação e, embora sintonizados com a necessidade de faturamento da empresa, não censurávamos nossas ideias. Nessa época isso ainda era possível. Alguns anos depois, já fora do jornal, era informado que até as manchetes eram vendidas ao primeiro que passasse.
     Essa história toda tem um motivo. Pouca coisa mudou nesses anos, especialmente em relação ao pós-venda de automóveis. Excetuando marcas que usam prazos de garantia e compromissos com preços fixos de revisão como arma de marketing, as concessionárias das marcas tradicionais continuam cobrando muito caro pelos seus serviços. Recentemente, ao verificar que meu carro, um simplório modelo 1.0, chegava à idade da segunda revisão (20 mil quilômetros), tentei saber quanto pagaria pelo serviço.
     Depois de algumas respostas evasivas e de rever a fatura da primeira revisão, aquela que é 'gratuita' - foram assustadores R$ 630,00, há um ano -, decidi simplificar. Peguei o manual, olhei ponto por ponto o que - em tese - seria feito e entrei em uma oficina tradicional aqui da Pedra. Verificamos (o mecânico verificou, na verdade) o nível de todos os fluídos, pastilhas de freio e trocamos o óleo do motor (três litros e meio de um produto de excelente qualidade, recomendado pela própria montadora) e os filtros de óleo, de ar e de combustível, além de ajustar pressão dos pneus e vistoriar a qualidade do líquido de refrigeração do motor e a existência de eventuais vazamentos.
     Com a mão-de-obra, deixei na oficina justos R$ 140,00. Imagino - é so imaginação, reconheço - que essa revisão não me custaria menos de R$ 1.000,00, se executada na concessionária. Essa presunção de economia serviu, ao menos, para melhorar meu humor, ainda abalado pela atuação pífia do Vasco contra o Cruzeiro, ontem à noite.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Os 10 (ou 20) mais, no Brasil e no mundo

     Ao apontar, em postagem anterior, os três políticos pelos quais tenho mais desprezo, vi que estava cometendo enormes injustiças. Outros merecem ser citados, no Brasil e no exterior. Decidi, então, fazer uma lista dos meus '10 mais'. Uma relação singela de personalidades que assombram meus sonhos. Para facilitar, montei dois rankings principais e acrescentei uma primeira lista de menções honrosas nacionais.
     Quero deixar vocês bem à vontade para acrescentar nomes, discordar das posições nos rankings, criar suas próprias listas. É um bom exercício de cidadania, que certamente vai nos ajudar a não esquecer o que esses personagens fizeram e ainda estão fazendo por aqui e no mundo.

Ranking nacional (*)
Luís Inácio Lula da Silva
Fernando Collor de Melo
José Dirceu
Aloizio Mercadante
Franklin Martins
João Paulo Cunha
Celso Amorim
Antonio Palocci
Ideli Salvatti
Marta Suplicy

Ranking internacional
Hugo Chavez
Mahamud Ahmadinejad
Muamaar Kadafi
Bashar al-Assad
Vladimir Putin
Evo Morales
Fidel Castro
Raul Quadros
Cristina Kirchner
Daniel Ortega

(*) Menções honrosíssimas:
Tarso Genro
Irmãos Viana
Sérgio Cabral Filho
José Sarney
José Roberto Arruda
Eduardo Matarazzo Suplicy
Renan Calheiros
Roberto Requião

Os irrevogáveis aloprados

     Vocês ainda têm alguma dúvida sobre a participação do ínclito ministro Aloizio Mercadante no escândalo da compra do dossiê falso para prejudicar José Serra, então candidato ao governo de São Paulo, em 2006, no episódio que ficou conhecido como o dos 'Aloprados'?
     Vocês ainda acreditam que ele não sabia de nada?
     Vocês acham que tudo não passa de mais uma manobra da 'imprensa marronzista' e vendida ao capital neo-liberal?
     Vocês ainda têm dúvidas quanto ao fato de o vazamento de acusações contra o 'revogador do irrevogável' ter partido - que surpresa! - de dentro do próprio PT?
     E ainda duvidam da participação da atual ministra das Relações Institucionais, a ex-senadora Ideli Salvati, nesse mundo cão, corrupto e canalha, inaugurado no país há oito anos e meio?
     Pois bem. Não acreditem apenas no que estão lendo por aí. Cliquem no site da revista Veja e escutem a gravação feita com o senhor Expedito Veloso, ex-diretor do Banco do Brasil, petista de carteirinha e que estava envolvido na fraude até à medula. A voz é dele, sem montagens ou coisa que o valha.
     Não dá para revogar. O sujeito conta tudo, cita os nomes, explica como seria feita mais essa vigarice.
     Antes que eu esqueça: o senhor Aloizio Mercadante faz parte da relação de políticos aos quais
devoto enorme desprezo, ao lado de Lula, Collor e Dirceu, entre outros menos votados (veja postagem anterior).

O pódio do desprezo

     Tenho amigos muito queridos, aos quais respeito profundamente - profissionalmente e pessoalmente. Dividi com eles alguns dos melhores momentos dos meus anos de redações, em especial a do ainda razoavelmente digno Jornal do Brasil dos anos 1980 e 1990. Com quase todos aprendi alguma coisa. Sei que eles não vão gostar de mais esse texto - se é que vão lê-lo. Mas não consigo me omitir, nem mesmo em nome do enorme carinho que claramente nos une e que certamente extrapola nossos encontros mensais em volta de uma mesa de restaurante.
     Vamos, então, ao texto, lembrando - como já reiterei em outras ocasiões - que procuro não fazer comparações. Ao contrário: busco as constatações, os fatos, aos quais dou minha interpretação.
     Há personagens recentes da história política brasileira aos quais devoto um sentimento que muito se aproxima do desprezo. Desprezo pelo que foram, pelo que são e pelo que deixaram de ser. No topo dessa lista, inalcançável segundo meus parâmetros, está o ex-presidente Lula: uma promessa de liderança séria que se transformou num político de quinta categoria, envolvido em escândalos inimagináveis, mentiroso, melífluo, desrespeitoso não apenas com seus inimigos, mas - e principalmente - com a legião de miseráveis aos quais manipula, como um daqueles coronéis vagabundos que distribuíam dentaduras.
     Num degrau logo abaixo na minha escala de falta de valores, surge outro ex-presidente, o atual senador Fernando Collor de Melo, o homem que desmoralizou a instituição republicana. Justamente ele, o primeiro presidente eleito diretamente, após um longo e doloroso período de transição.
    Aí por perto, em destaque absoluto nesse pódio de decepções, não por acaso, um dos mais emblemáticos representantes do projeto de poder do Partido dos Trabalhadores: o ex-ministro, deputado cassado, 'consultor' de grandes negócios e dirigente partidário José Dirceu. O Dirceu de 68 não mudou apenas de cara. Transformou-se no maior fiador do estelionato ideológico no qual se transformou o PT.
     Pelo partido, chefiou o Mensalão, a mãe de todos os escândalos, segundo o procurador-geral da República. Pelo projeto de poder, continua espalhando mentiras e cooptando penas de aluguel, na sua luta sem fim para exterminar a democracia, o direito à controvérsia. Como fez num tal de
'Segundo Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas', seja lá o que isso for (talvez sejam aqueles sujeitos que recebem altas verbas do governo, para falar bem do governo).
     Nesse encontro, segundo a repórter Andrea Jubé Viana, do Estadão, Dirceu defendeu a "regulamentação dos meios de comunicação", a criação de "novas regras para o mercado de tevê por assinatura" e a "mobilização contra os grandes veículos de comunicação". Sentiram o cheiro de naftalina? O odor dos campos coletivos de cultura de cana? A saudade da 'Cortina de Ferro'? O elogio às ações de Hugo Chavez, o coronel de opereta?
     Na contramão, seu ex-parceiro de discursos e lutas contra a ditadura, Vladimir Palmeira, anunciou formalmente a saída do PT.

Cultura incendiada

     A foto da edição on line da Folha e as imagens mostradas à exaustão, ontem, no Jornal Nacional, sobre as manifestações ocorridas na Grécia, não precisariam de legendas ou textos explicativos. Mostram, ao mundo que quer ver, que não há confrontos com as forças policiais, pelo direito de discordar do governo e das atitudes por ele tomadas.
     Há, sim, arruaceiros, mascarados como bandidos que são, destruindo carros, casas comerciais, monumentos, sob o pretexto de exercer um direito democrático. Esquecem - ou fingem esquecer - que não há democracia alguma no exercício do vandalismo, na violência preparada com a antecedência de atos terrorristas.
     No caso específico da Grécia, argumenta-se que a população estaria reagindo às medidas mais rígidas, necessárias - segundo a visão econômica dominante - à salvação do país, que vive à beira da insolvência. São medidas drásticas, é verdade (cortes no quadro de funcionalismo público, reajuste de impostos, moderação salarial etc), mas as únicas possíveis para exibir um mínimo de vontade para enfrentar a crise que pode levar toda a Europa - e grande parte do mundo - a um buraco sem fim.
     Grécia e gregos - assim como outros países e povos europeus - viveram anos de mentira, gastança desenfreada, demagogia explícita. A conta da irresponsabilidade fiscal em algum momento teria que ser paga. Nada mais justo que seja dividida entre os que compõem a nação.
     Sem medidas concretas que apontem um compromisso com a austeridade, nada restará à Grécia, a não ser o calote, na verdade, o suicídio de uma nação que foi a referência do mundo. Para não afundar de vez, resta ao país adotar as medidas que poderão, a longo prazo, sob um regime de medicação constante e controlada, restituir suas forças.

terça-feira, 28 de junho de 2011

Do lixo ao luxo, sem baldeação

     Não conheci Sérgio Cabral, o filho. Conheci e admirei o pai, embora nunca tenha trocado com ele mais de duas frases, na tribuna de imprensa do Maracanã, todas geradas pela paixão comum pelo Vasco. Sei que o nosso governador também é jornalista (e vascaíno), como eu. A diferença de idade talvez explique o fato de jamais ter esbarrado com ele nos corredores das redações por onde passei.
     Acho que o governador nunca trabalhou no antigo e ainda decente Jornal do Brasil dos anos 1980 e 1990. Muito menos no O Globo do meu tempo (anos 1970). Talvez tenha estagiado em outras páginas, e por lá brilhado. Seu pai, com certeza, brilhou em todos os lugares por onde andou.
     Somos, os dois, suburbanos históricos - menos ele do que eu, é verdade. Meu subúrbio ficava mais distante do Lins da juventude Cabralina. Marechal Hermes, na minha infância, era uma espécie de apêndice de Madureira, que por sua vez venerava o Méier, que sonhava em ser a Tijuca que, mais tarde, delirava com a Barra.
    Conheci Muriqui, onde o governador teria uma mansão, quando ainda era rapazola. Pegava o 'macaquinho' - um trem com vagões de madeira - em Deodoro (estação vizinha a Marechal Hermes) e lá ia em direção às ainda agrestes praias da Costa Verde, levando sanduíches e garrafas de água.
     Mais novo um pouco, mas já com idade para 'peitar' meus pais e ir à praia 'sozinho', mergulhava, mesmo, em Sepetiba, fugindo do lodo que, naquela época, era considerado medicinal. Não esqueço o domingo em que desembarcamos em Sepetiba saídos diretamente da caçamba do caminhão do Cunha, um português recém-chegado ao Brasil e que morava nos fundos de uma carvoaria vizinha à minha casa. É isso mesmo: eu ia à praia, de caminhão ...
     Anos mais tarde, jornalista com razoável histórico, é bem verdade que pude mergulhar no Mediterrâneo, no intervalo entre uma viagem ou outra a trabalho.
     Sérgio, o governador, passou direto por tudo isso. Do subúrbio a Cannes, sem fazer baldeação. Da Tijuca à praia particular na Baía de Angra. De defensor dos jovens e velhos desprezados, a protetor perpétuo dos bem-sucedidos.
     Oldemário Touguinhó, lendário jornalista esportivo que fez toda sua vida no Jornal do Brasil, quando queria 'mexer' com o excelente repórter Antônio Maria Filho, dizia que o pai dele, o jornalista, compositor e boêmio Antônio Maria, gastara toda a malandragem da família.
     Aqui no meu canto da Pedra, sou forçado - pelo recente noticiário - a admitir que Sérgio Cabral pai consumiu toda a aura de dignidade pública reservada à geração que o sucedeu.

Respostas ao Ministro

     "Por que [esse assunto] volta hoje? Por que agora, que o Quércia está morto?"
     As duas questões foram levantadas pelo ínclito ministro da Ciência e Tecnologia, o ex-senador Aloizio Mercadante, hoje, em audiência na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado. O tal 'assunto' é a ligação direta e expressa dele, Mercadante, com a compra e fabricação de um dossiê falso sobre José Serra, então candidato ao governo de São Paulo, em 2005/2006.
     Por esse tal dossiê, seriam pagos R$ 1,75 milhão, em dinheiro vivo, notas estalando de novas. Um dinheiro que ninguém sabe de onde saiu, quem recolheu e arrumou nas malas - as famosas malas petistas surgiram nas prefeituras dominadas pelo partido e atravessaram a década passada, segundo investigações criminais ainda em andamento.
     A dinheirama foi apreendida pela Polícia Federal, num apartamento em São Paulo, usado por um assessor direto do incontestável senador. Atenção: quem fez a apreensão foi a Polícia Federal, subordinada ao Governo Federal, petista, é bom não esquecer.
     Dito isso, vou me permitir responder às duas principais perguntas do ministro que, quando senador, revogou uma decisão que tomara e afirmara ser irrrevogável, em um dos episódios mais ridículos e lamentáveis da história da política brasileira, em todos os tempos.
     Ministro, esse assunto volta à discussão, hoje, porque um dos seus antigos assessores - e atual alto dignatário do PT - confessou à revista Veja, em entrevista gravada, que o senhor era o mentor de tudo, que era o líder dessa pilantragem política. Algo que até as cabras que pastavam em terrenos baldios desconfiavam, mas que foi claramente oculto pelo sistema de manobras criado no intestino dos governos aos quais o senhor serve com tanta flexibilidade ideológica.
     Outra coisa, ministro: se o ex-senador Orestes Quércia estivesse vivo, talvez o caso assumisse contornos ainda mais graves. Quércia certamente gostaria de ver tudo apurado, desde o início, nota de R$ 100 por nota de R$ 100. E, a acreditar no que antecipou o denunciante, o escândalo chegaria à sua colega de ministério, Dona Ideli Salvati.
     Para encerrar, ministro: assim como o Supremo Tribunal Federal (STF) recomendou o arquivamento do caso, na época, por 'falta de provas', pode reabri-lo agora, por abundância. É só chamar o seu ex-amigo para depor e confrontá-lo com a gravação das acusações que fez ao senhor.
     Como estamos vendo, mais uma vez, tudo começa e acaba dentro do PT.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Em cena, os aloprados

     O ex-senador e atual ministro da Ciência e Tecnologia, Aloísio Mercadante, terá muito o que explicar, amanhã, na Comissão de Economia. Há alguns anos ele vem se esquivando de falar sobre sua participação direta na produção - em 2006 - de dossiês falsos sobre o então candidato ao governo de São Paulo, José Serra, que rendeu prisões de seus assessores e a apreensão de R$ 1,5milhão, em notas recém-saídas do forno.
     Na época, os personagens do episódio ficaram conhecidos como os 'aloprados', designação dada a um grupo de petistas liderado por Mercadante, pelo então presidente Lula, que continuava tentando afastar escândalos e escandalosos das cercanias do seu gabinete, no Palácio do Planalto.
     Soube-se agora, através da revista Veja, que Mercadante não estava sozinho na empreitada. Tinha a colaboração direta da então senadora e atual ministra Ideli Salvatti, batizada pelo jornalista Reinaldo Azevedo como "um berro à procura de uma causa".
     Os aloprados chegaram às manchetes logo depois dos mensaleiros e dos quebradores de sigilo de trabalhadores, nas proximidades dos cuequeiros e antes dos vendedores de favores da Casa Civil. Graças à conivência do Governo e às elocubrações que partiam da Secretaria de Comunicações, crime e criminosos foram esquecidos.
     Mercadante continuou no Senado, sendo constantemente humilhado publicamente pelo então presidente Lula. Dona Ideli também por lá estava, encarregada - sabe-se agora - de defender, aos gritos, também a si mesma.
     Por ironia, Mercadante vai depender, muito, da boa vontade do presidente do Senado, José Sarney, a quem atacava e foi obrigado a deixar de atacar. O 'doutor' em projetos do Governo Lula já deve estar - a essa hora - ensaiando as caras e bocas com as quais vai tentar defender o indefensável, de novo.

A falta de 'esses' no discurso dos outros é refresco

     Sempre que leio ou escuto críticas feitas por analistas e quetais ao despreparo de presidentes e políticos americanos, em geral, tenho vontade de dar uma sonora gargalhada. George Bush, por exemplo, foi ridicularizado por jornalistas e analistas brasileiros durante os oito anos de seus dois governos. É bem verdade que o ex-presidente fez por merecer muitas das cacetadas que tomou por sua falta de cultura internacional (não estou entrando, nesse texto, no mérito das desastradas escolhas políticas).
     A cada escorregão e/ou gafe - e foram diversos -, lá vinham nossos bravos nacionalistas com gramáticas, mapas e 'orelhas' de livros. E a tal da ex-governadora Sara Palin? Virou 'moeda de troça' nas nossas mesas de bar e cenários da Globo News.
     Bush, acho que muitos não imaginam, formou-se na Universidade Yale em 1968 e cursou a Harvard Business School, em 1975. Sara é bem mais modesta: é formada em Comunicação Social, com habilitação em jornalismo (é coleguinha!!!), pela Universidade de Idaho. Além disso, venceu o concurso Miss Pageant Wasilla em 1984, ficou em terceiro no Miss Alasca (é coleguinha nesse item, também!!!) e trabalhou como repórter esportiva em Anchorage, no Alasca, estado que governou.
     Por aqui, imune a qualquer crítica, tivemos um analfabeto funcional presidindo o país por oito anos, nos quais dava-se ao direito de bradar as mais desencontradas e estapafúrdias teorias sobre tudo e qualquer coisa. Chegou, no limite, a defender os benefícios da quadratura da Terra e a errar, por alguns milhares de quilômetros, a localização de determinados países, além de reduzir tudo à lógica das arquibancadas de futebol. Sua sucessora não consegue articular uma oração sem colidir o sujeito com o verbo.
     Ministros e senadores da 'base', em especial, exercitam diariamente o bestialógico. Esses (o plural da letra 'esse') foram extirpados da linguagem, como tumores; concordâncias sucumbiram exauridas a mercadantes e idelis. Nesses últimos anos de línguas e ideias presas, o Brasil foi massacrado pelo ridículo dicionário petista.
     E a gente continua dando enormes risadas quando assiste a um republicano qualquer errar a capital da Bolívia.

Histórias de Júlia e Pedro - Capítulo 20

     A vida como ela é
     O amor é absolutamente igual, tenho certeza. Algumas emoções, no entanto, são diferentes. Júlia, pelo que representou de mudanças na vida de todos nós - ela é um divisor, um marco, um símbolo de renascimento -, é capaz de emocionar a cada momento. E ela sabe disso, explora desde pequena essa capacidade de mexer com nossos sentimentos, os meus em especial.
     Como andei muito gripado, evitei apertá-la, dar muitos beijos, logo no início do nosso mais recente encontro aqui na Pedra. Também me esforcei muito para não ficar grudado em Pedro, "o meu melhor amigo", companheiro de todos os momentos. Uma tarefa difícil, tenho que admitir.
     Houve um momento, entretanto, em que não resisti e peguei Júlia no colo. E lamentei:
     - Você está ficando muito grande, meu amor (ela vai fazer oito anos dentro de um mês). Está crescendo muito rapidamente. A qualquer hora não vou conseguir mais colocar você no colo. Tenho que aproveitar muito, agora.
     A resposta, com aquele jeito meio filosófico que só ela sabe dar aos seus pensamentos, despertou mais uma torrente de emoções:
     - Vovô, a vida é assim mesmo ...

domingo, 26 de junho de 2011

Em nome da dignidade

     Entre as anotações em pedaços de jornal que fiz durante meu recesso forçado pela incompetência da OI, em especial nos dias em que estava acamado, vítima de uma gripe há muito não experimentada, encontrei uma que considero especial: a referência à decisão brasileira de dar ao assassino e terrorista italiano Cesare Battisti o direito de trabalhar livremente por aqui, como se um imigrante legal e decente fosse.
     Como se fosse alguém semelhante, por exemplo, ao meu pai, um português de Ponte de Lima que aqui desembarcou ainda muito menino, acompanhando os pais, que vieram 'fazer o Brasil', no início dos anos 1910, e por aqui ficaram, formando gerações de brasileiros.
     Meu pai, que jamais se naturalizou, conquistou os direitos hoje oferecidos a esse criminoso graças a muito trabalho. Aos 16 anos, seguindo os passos do meu avô, começou a trabalhar na antiga Companhia de Navegação Costeira. Aos poucos, foi conquistando espaços, até alcançar o posto mais alto da carreira. Uma carreira que sofreu uma mudança drástica, para melhor, quando o então presidente Getúlio Vargas encampou a empresa e a transformou em uma autarquia, preservando seus funcionários.
     De um momento para outro, aquele jovem português, que continuou português, passava a ser funcionário público, por decreto. Foram trinta e cinco anos de trabalho árduo, das 8 às 17 horas, sem faltas ou atrasos. Quando mudamos para o então ainda mais longínquo subúrbio de Marechal Hermes, no início dos anos 1950, saía de casa às 5h30 da manhã, para garantir seu lugar no primeiro banco do ônibus (linha 378, Castelo-Marechal) que o deixava em frente ao armazém 13, no Cais do Porto,on de funcionara a estação de passageiros, bem antes do horário determinada.
     Preferia chegar muito cedo a perder a hora por causa de um - na época - ainda eventual engarrafamento na Avenida Brasil. Aposentado, pouco pôde aproveitar: morreu pouco mais de um ano após ter deixado a ativa.
     Em respeito à sua memória, formalizo um pedido às atuais autoridades: não queremos - eu e meu irmão - que ele faça parte do mesmo grupo que acaba de receber, como membro, alguém que assassinou cruelmente quatro pessoas, em nome da mais pura intolerância, da estupidez. Que seus arquivos sejam destruídos, sua ficha de funcionário exemplar apagada. Para nós, basta a memória. Não deixem que seu nome fique misturado a esse tipo de gente.

sábado, 25 de junho de 2011

Histórias de Júlia e Pedro - Capítulo 19

Dois times, a mesma paixão

     Pedro normalmente passa o dia ao meu lado, quando está na Pedra. Ao meu lado e ao lado da Cléo, sua companheira de todas as horas. Hoje não foi diferente.No começo da tarde, decidiu me ajudar a catar madeira para montarmos a fogueira que seria acesa à noite, como parte da programação do feriadão das crianças.
     Conseguimos uns pedaços pequenos, separamos o jornal para ajudar a dar partida no fogo e fomos arrastar os tocos mais pesados. De imediato, Pedro se dispôs a dividir comigo a tarefa de carregar um travessão encorpado. Pegou em um lado e eu do outro (mais eu do que ele, é claro).
     Ao terminarmos o trabalho, lembrei a ele que a gente "era um time, mesmo". A resposta veio de imediato, sem pensar duas vezes, denotando a conotação que minha frase tinha passado:
     - Um time, não, vovô. Dois. Eu sou 'Famengo' e você é Vasco.
     Contendo o riso, confesso que, pela primeira vez (primeira vez, MESMO, acreditem) apelei um pouco, mantendo o espírito do 'texto':
     - Mas você podia ser um pouquinho do Vasco, também ...
     - Vovô, só se você for um pouco do 'Famengo' ...
     Estou quase topando ...


PS: Fábio (o pai), o tio e o avô paterno são rubro-negros. Eu, Flávia (a mãe), a tia Fabiana e a vovó Isis somos vascaínos. Mas, em respeito à paixão paterna, jamais explorei as 'possibilidades' da enorme ligação que tenho com Pedro e Júlia. Há amigos vascaínos que me 'condenam' por isso.

Pesadelos de um gripado

     Três dos oito dias sem telefone e internet foram passados, literalmente, na cama, arrasado por uma gripe demolidora, apesar de vacinado contra ela. Foram dias e noites de dores insuportáveis em todo o corpo, garganta inflamada, tosse, coriza e tudo o mais. Na esperança de ao menos desviar minha atenção do pacote de pílulas, drágeas, xaropes e mandingas, zanzava febrilmente pelas dezenas de canais da minha operadora de tevê, a Sky.
     Começava pela Globo - da qual era expulso imediatamente por alguma canastrice, sem, sequer, saber o que estava passando - e esbarrava, magnetizado, nas apresentações de um tal 'misssionário RR Soares', da RIT TV. Normalmente custava a definir se estava delirando ou se 'aquilo' era, mesmo verdade. "Se Deus manda dar mil, tem que dar mil. Não pode pensar assim: que é muito, que vai dar cem. Não. Tem que dar mil", eu ouvia, meio imerso na sonolência dos medicados por atacado, achando que a voz vinha de algum filme barato sobre estelionato.
     Um toque no controle remoto me atirava nos braços do redivivo Datena, abençoado novamente pelos pastores da Universal, na incrível Record. Sem forças para consultar cartões de crédito, conseguia passar incólume por uma dezena de canais de venda. Sabendo, no entanto, que não resistiria a uma boa oferta de trimedais, comprimidos para dor ou livros sobre rezas para curar espinhela caída.
     Enfiado em camadas de edredons, escapei como pude dos impropérios de um inacreditável 'apresentador' da ESPN e dos 'teve', tejas' e 'pra mins' da turma do SporTV. Sucumbi, no entanto, a pouco mais de trinta segundos de um 'programa' esportivo da Bandeirantes, liderado pelo ex-jogador Neto: pedi um chá quente e desmaiei, torcendo para que tudo aquilo fosse um enorme pesadelo.

Torcendo pelo assassino

     Assisti, com uma ponta de decepção, ao último capítulo da temporada de 'Dexter' (Michael C. Hall, FX, quintas, às 22 horas). Foi ruim? Nada disso. Apesar da canastrice explícita de alguns personagens, como a 'irmã' e detetive Debra Morgan (Jennifer Carpenter), os útimos episódios me conquistaram definitivamente. Talvez pela expectativa de que a parceria com a jovem Lumen (a marcante Julia Stiles) fosse além do justiçamento do grupo de estupradores que quase a destruiu física e moralmente.
     Para ser muito sincero, eu já não estava aguentando o sorriso Colgate e a voz de 'drops' Dulcora de Rita Bennet (a linda - reconheçamos todos - Julie Benz), sepultados em uma banheira de sangue há alguns episódios. O encontro de Dexter com Lumen me deu novas esperanças. Mas a série, na verdade, é Dexter, um personagem emoldurado pela compulsão pela morte cirúrgica, limpa, organizada.
     Com a sexta temporada já em preparativos (deve estrear nos Estados Unidos em setembro), Dexter promete muitas emoções na sua inesgotável busca por criminosos que merecem ser executados.
     O final da temporada, quinta passada, remete para uma possível ampliação da parceria de Dexter com a irmã adotiva Debra, (os atores foram casados na chamada vida real). Temos, no entanto, a garantia de muita adrenalina e de uma inesperada cumplicidade do telespectador com um assassino psicopata, um vingador sanguinário.

As armas dos homens do fogo

     Ficamos sabendo - pelo O Globo (*)- que nossos bravos soldados do fogo têm direito a três armas: uma pistola ou revólver e duas espingardas de caça. O tal revólver (ou pistola) já seria uma aberração, pois não me consta que bombeiros tenham, entre suas incumbências profissionais, o combate ao crime. Revólver, então, para quê?
     Não há justificativa possível. Nem mesmo as exigências de bom comportamento, 'tempo de casa' etc. Combater incêndios e fazer resgates, colocando em risco a vida, são funções altamente louváveis e que, ao longo dos anos, construíram a imagem que o Corpo de Bombeiros tem entre a população. Para que sejam realizadas é preciso, sim, treinamento, disciplina, entrega, altruísmo. Não me consta que dar tiros esteja entre suas atribuições diárias.
     A essa distorção da função, especialmente aqui no Rio, soma-se a estapafúrdia permissão para armas de caça. Caçar - repito a forma da questão acima - o quê? Será que ninguém se deu conta que a caça é proibida no Brasil? Proibida, sim, com a absurda exceção aberta no Rio Grande do Sul, onde ainda é permitido trucidar algumas espécies (pombões e lebres, entre outras), em determinada época do ano.
     Que venha o aumento pleitado pela categoria. E que saiam de cena as armas.
(*) Edição da semana passada (sem telefone e velox).

Para não esquecer

     Nunca é demais lembrar as impropriedades proferidas naturalmente pelo inimputável ex-presidente Lula. Suas atitudes vigaristas, o cinismo exteriorizado, a manipulação dos fatos, mentiras. Recentemente, teve a desfaçatez de sair em defesas dos indefensáveis gestores do município de Campinas, dividido entre PDT e PT, com a assessoria de um dos seus maiores amigos.
     Repetindo velhos chavões, para delírio de uma plateia amestrada e espumante de ódio, acusou a 'mídia' e a oposição de estarem inventando fatos, quando todas as acusações foram feitas unica e exclusivamente pela polícia, respaldada pela Justiça.
     Não satisfeito, foi no fundo do baú petista de argumentos pífios e lembrou o caso do sequestro do empresário Abílio Diniz às vésperas de uma eleição, crime que teria sido atribuído a bandidos ligados ao PT. E por aí foi, desrespeitando a história e a gramática, não necessariamente nessa ordem.
     Ao seu lado - como a prova viva de que Lula não se envergonha de do que faz e fala -, o ex-deputado cassado José Dirceu, impávido colosso, outro ex-chefe da casa Civil defenestrado por envolvimento em ações não muito republicanas e acusado pelo procurador-geral da República de chefiar uma aquadrilha que assaltou os cofres públicos no episódio que ficou conhecido como mensalão.

Neymar antes do título

     Neymar talvez esteja pagando pelos erros que cometeu - e ainda comete, eventualmente - ao longo de uma carreira ainda tão pequena - em tempo - e já tão brilhante. Cai demais, muitas vezes sem motivo aparente. Em alguns momentos, reage com ironia, provocação.
     Tudo isso, no entanto, não justifica o comportamento do árbitro paraguaio que apitou Santos e Peñarol, quarta-feira. O sujeito, com a arrogância típica dos que certamente se acham mais importantes do que os astros em campo - repetindo históricas atuações contra equipes brasileiras -, exorbitou de suas funções, perseguiu o atleta e maculou o próprio andamento da partida.
     No lugar de proteger o espetéculo, preservando seu melhor artífice, 'sua senhoria' estimulou a agressividade dos jogadores uruguaios, que se sentiram livres para bater em Neymar. O cartão amarelo por simulação - que não houve - e as constantes ameaças de expulsão mereceriam ser punidas, no mínimo, com a sua (dele, árbitro) suspensão.
      O Santos jogou bem? Não, longe disso. Optou por não perder, quando o lógico, pela diferença de qualidade técnica, seria escolher a vitória. Mas esse fato não pode se sobrepor à constatação de que vencer a Libertadores é um desafio dobrado para clubes brasileiros. É preciso vencer os adversários, em campos sem a segurança proporcionada aqui, e a enorme complacência dos árbitros com seus 'hermanos' de língua.
     O desabafo de Neymar, no intervalo do jogo (*) - denunciando a perseguição do árbitro -, deveria servir de alerta e mobilizar os apaixonados pelo futebol. Não foi, infelizmente, o que vi nas colunas e reportagens das páginas esportivas. Por isso me senti à vontade para, mesmo com atraso, e com risco de levar um cartão vermelho, entrar de sola no assunto.

(*) Primeira partida com o Peñarol, em Montevidéu.

E fez-se a voz

     No oitavo dia fez-se a voz. No dia seguinte, o velox. Ficou, dessa experiência impensável de isolamento, uma certeza: ainda estamos no tempo das diligências, se comparados a países de fato desenvolvidos. Alguém pode imaginar um consumidor ficar privado de ... telefone, por mais de uma semana, em plena capital de um dos estados mais importantes de um país como a França, por exemplo?
     Com o corte da linha telefônica - um corte literal, provocado, pelo que soube, por uma máquina -, foi-se, também, o sinal do Velox. De um momento para outro, alguém, como eu, que depende do mundo virtual para interagir, se informar, pesquisar, fica isolado e exilado, dependente, quase que exclusivamente, das informações entremeadas pelos sorrisos da bela Fátima Bernardes e pelos olhares 'críticos' de Willian Bonner.
     Foi um castigo, talvez, merecido. Aos leitores, um aviso: essa ausência será compensada (?) por uma torrente de textos, alguns tão antigos quanto o início da minha provação.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Quero saber tudo ...

     Na esteira da tentativa de camuflar a história, a Câmara aprovou medida provisória que dá aos governos Federal, Estaduais e Muncipais o direito de manter em segredo os orçamentos para obras da Copa do Mundo de 2014 e da Olimpíada de 2016, no Rio. Segundo os repórteres José Ernesto Credendio e Maria Clara Cabral, ambos da Folha, a decisão foi incluída "de última hora" no novo texto da MP.
     A ideia do Governo é criar um tal de Regime Diferenciado de Contratações para esses eventos. Em bom português, isso quer dizer que nós, que pagamos os impostos que vão gerar o dinheiro para essas obras, não saberíamos como serão manipulados os orçamentos.
     Se hoje, sabendo, fomos atropelados pelos gastos astronômicos com a reforma do Maracanã (o dinheiro gasto daria para construir dois estádios), imaginem o que pode acontecer.
      Por falar em Maracanã: a Prefeitura está tentando nos convencer que economizou nas obras. Economia em relação a quais valores? E a dinheirama que foi gasta há alguns anos em obras que foram soterradas agora?

Quebra de sigilo

     Se os senadores e ex-presidentes Fernando Collor e José Sarney e o atual governo são contra, eu já sei que sou a favor. Seja lá do que for. Não poderia ser diferente com o caso da liberação de documentos classificados de sigilosos. É lógico que há situações que necessariamente devem ser preservadas, mas nada (ou quase nada) merece o sigilo eterno.
     A história não pode ser camuflada, oculta, manipulada. Governos tomam decisões em nome do povo, que pode e deve saber o que em nome dele foi feito. Não são resoluções pessoais, no estilo das que tomamos na nossa vida. São acontecimentos que definiram o perfil do país que temos.
     A alegação de que a divulgação de fatos ocorridos há 30, 60 ou 100 anos pode comprometer o relacionamento entre nações é, no mínimo, pífia. Os fatos devem ser estudados com a ótica do momento em que aconteceram, e não com a visão de gerações posteriores. Com uma enorme vantagem: a crítica isenta ajudaria a evitar a repetição de eventuais erros.
     A coincidência de opinião entre os personagens citados acima é um sintoma de que a transparência ainda é o melhor caminho. O ex-presidente Collor argumenta - segundo O Globo - que a segurança do Estado estaria em risco. Segurança do Estado? O que será que esses caras andaram fazendo?

quarta-feira, 15 de junho de 2011

A patriotada

     Está lá, na Folha. Segundo a repórter Flávia Foreque, o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, negou que a presidente Dilma Rousseff tenha sido pressionada pelo governo iraniano para não se encontrar com Shirin Ebadi, ativista de direitos humanos e Nobel da Paz de 2003. Não contente, ainda fez críticas à iraniana, que - de acordo com ele - teria se recusado a trocar uma conversa com a presidente por um bate-papo com Marco Aurélio Garcia, assessor especial da Presidência para assuntos internacionais.
     O assessor, para quem não lembra (ou finge não lembrar), é aquele senhor que foi flagrado pelas câmeras de tevê comemorando, com um asqueroso 'top top', o fato de o governo Lula não ter culpa direta na morte de quase duas centenas de pessoas no acidente com um avião da TAM, em São Paulo, em julho de 2007. No currículo do desprezado assessor consta ainda a formatação da nossa relação com governos do naipe dos venezuelano, cubano e iraniano - estupradores da liberdade -, aos quais dedica enorme respeito. No caso cubano, adoração.
     Só esse pequeno histórico do seu ex-sugerido-futuro anfitrião mostra o quanto a ativista estava correta na sua decisão. Além disso - muito além -, Shirin Ebadi deixou bem clara sua insatisfação com a opção brasileira de não melindrar um regime violento e criminoso, conhecido como notório financiador do terrorismo. Um regime que mata a pedradas mulheres acusados de infidelidade e elimina homossexuais do convívio social.

Revista iguala desiguais

     Aprendi, desde cedo, que um dos dogmas do jornalismo é ouvir os dois lados, as duas versões. Portanto, sempre fui um defensor do contraditório. Mas, como em toda regra, há exceções. Fernandinho Beira-Mar, por exemplo, para mim, jamais terá direito a replicar conceitos emitidos em sentenças, se contrapor pessoalmente a juízes, bater boca com eles, pela diferença entre históricos.
     Erra, portanto, segundo minha interpretação, o editor da até então (divulgação do artigo de FHC) desconhecida Revista Interesse Nacional, ao abrir espaço - segundo O Globo - para o deputado cassado José Dirceu 'responder' ao artigo assinado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso sobre o papel da oposição. Um texto - é fundamental ressaltar - desvirtudado pela leitura apressada e vigarista.
     O também ex-chefe da Casa Civil e da quadrilha que assaltou os cofres públicos no episódio do Mensalão - de acordo com a Procuradoria Geral da República - não reúne o estofo necessário a um embate desse nível. É igualar pessoas absolutamente desiguais, que frequentam patamares diferentes da dignidade pública.
     Embora sem culpa formada, o réu José Dirceu vem trafegando, desde que foi expurgado do Poder, em áreas nebulosas, que misturam interesses não muito republicanos, 'consultorias' em áreas estratégicas ligadas diretamente ao governo.
     Só mesmo as vantagens decorrentes da repercussão desse - digamos - 'debate' entre personagens tão distintos poderia explicar a decisão do embaixador Rubens Antonio Barbosa, editor responsável pela revista, alçada ao noticiário graças apenas e tão-somente à colaboração do ex-presidente.

A invasão anunciada

     Convenientemente, o Governo do Estado do Rio de Janeiro informou, oficialmente, à bandidagem que assola o Morro da Mangueira - um dos maiores entrepostos de vendas de drogas da cidade - que vai ocupar aquelas paragens no próximo domingo.Com isso, chefões e fichinhas terão tempo de providenciar a mudança para outros lugares, transferir as cargas, organizar os novos pontos de venda.
     É evidente que não advogo o confronto como solução única. Mas fica claro que, nesse caso específico, a turma do Palácio Guanabara quis evitar o risco de acertar um passista mais famoso ou 'descobrir' que o tráfico local usa instalações da Escola de Samba mais famosa do país e de outras instituições que se espalham pela região.

Lula lá? Não!

     O ex-presidente Lula, informam os jornais de hoje, teria desistido da viagem que faria à Itália, no fim do mês, temendo represálias pela libertação do assassino e terrorista Cesare Batistti, patrocinada por ele e referendada absurdamente pelo Supremo Tribunal Federal, em decisão que envergonha a Justiça brasileira. Não ficou claro se dona Marisa, que conquistou cidadania italiana, iria sozinha.
     Pelas atitudes tomadas por seu governo, o ex-presidente, hoje, sem a cobertura do serviço de propaganda oficial, talvez só seja bem recebido, mesmo, na Venezuela, em Cuba e no Irã, não por acaso, países que agridem a liberdade. Na Itália, certamente, não conseguiria dar dois passos sem provocar atos de repúdio.

terça-feira, 14 de junho de 2011

O custo da carga tributária

     O Jornal Nacional de ontem prestou um enorme desserviço ao consumidor brasileiro, embora estivesse no seu papel de denunciar um crime: as manobras usadas por sites de vendas do exterior para conseguir que seus produtos entrem no país sem pagar as taxas alfandegárias integralmente.
     As tais lojas virtuais driblam a fiscalização? Sim, é verdade. A concorrência com as lojas brasileiras, neses casos, é injusta? Digamos que sim. Mas, no fim, resta um fato indiscutível: o brasileiro paga preços exorbitantes por produtos que custam muito, muito mais barato fora de nossas fronteiras.
     Por quê? Porque o país exerce uma das políticas tributárias mais escandalosas do mundo. A carga de impostos que pagamos chega a ultrapassar, em vários casos, absurdos cinquenta por cento do custo do produto.
     Já contei aqui, no Blog, o caso do Palio Weekend que, fabricado em Betim (MG), chegava a Roma - no seu lançamento - mais barato do que nas revendas de Belo Horizonte. Isso, depois de viajar um dia na carrocerria de um caminhão e atravessar oceanos.
     Faltou à edição do JN exibir o - podemos chamar assim - 'outro lado da moeda'. Explicar que essa distorção acontece em virtude do apetite desenfreado do nosso governo, que compensa seus gastos estratosféricos com o aumento da carga tributária, punindo duplamente a população.
     Se a máquina fotográfica vendida pela internet, por uma loja de Nova Iorque, chega às mãos do comprador brasileiro mais em conta do que um similar comprado aqui, a culpa não é de quem vende, mas de quem taxa.

Os 80 anos de FHC

     Votei em Fernando Henrique Cardoso duas vezes, nas eleições presidenciais. Não votei outras vezes (para prefeito e senador) porque vivo no Rio. E porque não houve chances de segundo turno nas duas eleições em que ele derrotou com extrema facilidade o candidato do PT. No entando, confesso - constrangido - que votei em Lula uma vez, no seu enfrentamento com Fernando Collor.
     Na época - creiam os mais jovens - não havia opção. O segundo turno antepunha uma expectativa de seriedade ideológica (Lula ...) e o representante de uma grande farsa, de uma mentira que estava sendo vendida à população, carente do direito de, afinal, eleger o presidente da República por voto direto, sem intermediários. Hoje, tenho dúvidas quanto à propriedade da anulação do voto, algo que jamais fiz, desde minha primeira experiência como cidadão de fato, em outubro de 1966.
     Não chego a dizer que me arrependi totalmente daquele voto. Mas não tenho orgulho dele. Acho - em termos simbólicos, é claro - que ele ajudou a alimentar outra enorme mentira, ainda mais daninha, pelo que prometia, de dignidade, e realizou.
     Com Fernando Henrique, isso não aconteceu, em momento algum. Ao revisitar nossa história política recente, ao cavoucar a memória, mais me convenço da inquestionável importância da presidência de FHC para o futuro que estamos vivendo no presente. Uma importância 'verbalizada' pela atual presidente, Dilma Roussef, na carta que enviou ao ex-presidente, pela passagem dos seus 80 anos.
     Dilma, talvez, esteja alicerçando um convívio republicano com a oposição - fundamental ao seu governo -, ao mesmo tempo em que alfineta seu mentor e antecessor. Não vou entrar nesse mérito. Registro o fato para ter a chance de me associar às homenagens a um dos mais dignos presidentes que esse país já teve.

Uma aventura caribenha - Capítulo 36 (final)

Dividindo o rio com uma gaiola
    
O fim de um desafio

     Rio Pará, nas proximidades de Belém, sábado, 15/08/1999 - O comandante Chicão garante que o movimento nessas águas, atualmente, é muito pequeno. "As estradas esvaziaram os rios", diz, saudoso. Não é o que parece para nós, navegantes recentes. Comparados ao Rio Madeira, o Amazonas e o Pará (na verdade, o Rio Pará pode ser considerado um braço do Amazonas) parecem estradas de cidade grande.
     Durante todo o dia cruzamos com dezenas de pequenos barcos de passageiros, uma boa centena de canoas, alguns navios e lanchas modernas. À noite, as luzes de outras embarcações pontuam o horizonte. Agora mesmo, viajamos ao lado de outra balsa e de um pequeno navio, todos na mesma tocada de segurança (17 km/h).



     Nessa época do ano, segundo a tripulação, não há muitos riscos na navegação, apenas um ventinho mais forte. Os problemas aparecem na época dos temporais, no final do ano.
     Uma tempestade na entrada da Baía de Marajó, por exemplo, pode ser muito perigosa. "Às vezes, é melhor parar e esperar acabar o temporal. As ondas e o vento viram um barco com facilidade", lembra um tripulante.
     Vento, aliás, foi o que não faltou nessa viagem. Suportável, mas suficientemente forte para atrasar nossa chegada em duas horas, de acordo com os cálculos do comandante Chicão.
     Já houve a festa de aniversario de Alexandre, orquestrada por João Marcos. Além de bolo, Meire, a cozinheira, preparou pudim de leite. Tudo regado a refrigerante, pois a tripulação não bebe em serviço.
     O vinho? Bem, bebemos depois, na proa da balsa. Comemorando, também, o sucesso da nossa "aventura caribenha" e o começo da próxima.

Voando com Jorge Amado

     Eu estava no Aeroporto de Congonhas, num sábado á tarde, esperando o voo que me traria de volta ao Rio, depois de mais uns dias de trabalho na capital paulista. Nessa época - segunda metade dos anos 1990 -, as idas e vindas entre as duas cidades faziam parte do meu dia-a-dia de editor do caderno Carro e Moto do velho e ainda razoavelmente digno Jornal do Brasil. Afinal, era em São Paulo (no estado) que se concentravam e ainda se concentram algumas das principais montadoras de veículos do Brasil.
     Distraído com a leitura dos jornais do dia, não me dei conta, a princípio, dos meus novos vizinhos de terminal. Notei a chegada de um casal de cabelos bancos e de sua filha. Mas não cheguei a olhar detidamente. Na verdade, afundei ainda mais os olhos no noticiário.
     O tom de voz da mulher mais velha, no entanto, despertou minha curiosidade. Eu conhecia aquela voz, com certeza. Mas, de onde? Resolvi olhar, discretamente, e - confesso - fiquei emocionado. Ali, a dois metros de mim, estavam Jorge Amado e sua mulher, Zélia, acompanhados da filha Paloma.
     Jorge Amado foi uma das minhas primeiras referências literárias, ao lado de Machado de Assis e de Aluísio de Azevedo. Fui apresentado aos três ainda bem jovem, por artes e graça de minha mãe, certamente a grande responsável pela compulsão pela leitura que comecei a exibir por volta dos 10 anos. Zélia Gatai era outro símbolo, não tanto pela qualidade de sua obra, mas pelo ser humano que era. Trocamos cumprimentos rápidos, sorrisos (os meus, claramente de fã).
     Quando o alto-falante anunciou a chamada para meu voo, notei que dividiria a cabine do 707 com a famíla Amado. Os três embarcaram na frente, em respeito à idade do casal. Passei por eles, ao entrar no corredor do avião. Sorri mais uma vez. Dona Zélia retribuiu. Jorge Amado estava naquele seu jeito, meio encolhido, recolhido nos seus pensamentos.
     Já durante o vo
o, não resisti e chamei uma das aeromoças. Perguntei se a tripulação sabia que estávamos dividindo aqueles momentos com a maior personalidade literária brasileira do nosso século, um símbolo. Não, ela não sabia. Na verdade, nem sabia quem era Jorge Amado. Expliquei rapidamente e fiquei aguardando que o comandante fizesse uma referência - ou uma justa reverência. Nada. Descemos no Rio e a família Amado desapareceu no meio da centena de pessoas que buscavam anonimamente suas malas.
     Essa história me veio à lembrança ao ler - na coluna de Lauro Jardim, na Veja - que há dois projetos para comemorar o centenário de Jorge Amado, ano que vem (algo em torno de R$ 120 mil de investimento). Um valor absolutamente irrisório e desproporcional à importância do autor que redimensionou a literatura brasileira no século 20.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Violência e esporte

     Não sei se vocês viram. Se não viram, dêem uma olhada rápida nas fotos quer ilustram o noticiário sobre a vitória do brasileiro Júnior Cigano no UFC 131, realizado no Canadá. UFC, para os neófitos, é a sigla, em inglês, para a maior demonstração de violência e estupidez indevidamente classificada como esporte.
     As imagens exibem, e os textos exaltam, o rosto desfigurado e massacrado do oponente do brasileiro. Há sangue por toda a parte. Nariz, boca e supercílios transformados em uma massa disforme pelos socos de Cigano, um ex-lutador de boxe. As fotos, felizmente, não revelam os estragos que certamente foram causados no cérebro do americano e que terão - não há como evitar - sérias consequências no futuro.
     Não pretendo - jamais pretendi - lançar uma campanha contra os lutadores. Eles fazem o que sabem, com a dignidade possível. O câncer não está localizado no ringue. Está, sim, espalhado em uma sociedade que estimula esse tipo de atividade. Que paga fortunas pelos esguichos de sangue.
     Não consigo descobrir uma sombra sequer de esportividade em uma atividade que pressupõe - literalmente - a destruição física do adversário.
      Essa aceleração da violência - que cada vez mais ganha espaços nas tevês e jornais - me remete a uma postura da qual me orgulho de ter feito parte, no já longínquo ano de 1983, quando trabalhava na editoria de esportes do velho e ainda digno Jornal do Brasil.
     Nosso editor era o prematuramente falecido João Areosa, uma figura doce e muito querida, ele mesmo um praticante de jiu-jitsu. Depois da segunda morte consecutiva em lutas de boxe, Areosa conseguiu apoio para uma decisão que prevaleceu por algum tempo: não mais publicaríamos notícias sobre lutas. Exceto quando houvesse um fim trágico, para que o fato servisse de alerta.

"Vai vim?" Não, nunca!

     Eu havia desistido de tocar nesse assunto, enfadonho para muitos adeptos das novas concepções gramaticais defendidas no atual governo. Mas não resisti ao pontapés nas chamadas partes baixas , cuspidas na cara e dedo nos olhos linguísticos desferidos ontem à noite em dois dos programas de tevê aos quais dedico um bom par de horas vadias: a mesa de debates do SporTv e o Manhattan Connection.
     Até mesmo o ótimo André Rizek, talvez sucumbindo às provocações do meu ex-companheiro de O Globo, Renato Maurício do Prado, deu sua contribuição à má fama dos comentaristas esportivos, sapecando um 'vai vim' que deve ter estremecido a bancada. No seu (dele) caso, a furada é desculpável: falar, ao vivo e a cores, é um desafio, até mesmo para quem, como ele, vem demonstrando ser uma ótima revelação do setor.
     Já o economista do "maior time de comentaristas" da televisão, Ricardo Amorim, inflacionou a taxa de inconveniências do Manhattan, ao disparar um "haviam" e, não satisfeito, engrenar, mais uma vez, o tal do "vai vim" que, espero, não venha - jamais! - a se tornar aceito como expressão da linguagem popular.

Ideli joga a isca: verba e cargos

     A nova ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, na sua primeira iniciativa formal no cargo, mostrou que conhece bem seus antigos pares do Congresso (ela era senadora do PT-SC) e que tem tudo para se transformar em uma estrela do atual governo. Para contornar divergências e acalmar as bases (aquele saco de gatos que reúne PT, PMDB, PTB, PR, PP e outras siglas irrelevantes, com o os tais de PSTU e PCdoB), promete, simplesmente, abrir os cofres e as portas de gabinetes.
     Segundo os principais jornais e revistas, a ex-especialista em pesca já lançou a isca que certamente vai atrair um enorme cardume, louco para ser fisgado. Como primeira medida, prometeu liberar as emendas parlamentares, aquele artifício legal que os parlamentares usam para cevar os eleitores e, em muitos casos, engordar ONGs amigas.
     Como medida complementar - essa, mais dedicada à companheirada do PT -, anunciou o preenchimento de cargos ainda vagos nos diversos escalões inferiores do Governo, disputados a tapa e que vinham sendo guardados, como se fossem uma espécie de ás de ouros no bolso do colete.
     Estaria, então, configurada a verdadeira parceria invencível, capaz de atropelar - digamos - qualquer 'ideologia' e aplainar montanhas de mágoas: verba e cargos públicos.

domingo, 12 de junho de 2011

Os 'pelés' de Itaguaí

     'O Globo' de hoje traz uma reportagem - do excelente jornalista Chico Otávio - que sintetiza bem os novos tempos, a chamada 'Era Lula', que não tem data para terminar. Não, não vou falar mais uma vez da absurda e inexplicável troca de cadeiras no ministério. Também vou me furtar a abordar, de novo, os escândalos nascidos e alimentados na Casa Civil.
     Dedico essas 'mal traçadas linhas' a outro fantástico enriquecimento, ocorrido em Itaguaí, município do Rio de Janeiro. Lá, dois 'pelés da incorporação imobiliária' ganharam, em cerca de três meses, mais de R$ 10 milhões. É isso mesmo, um sucesso só comparável ao do ex-ministro Antonio Palocci.
     Sucedeu que os dois (o secretário municipal de Indústria, Comércio e Turismo e o procurador-geral do município) olharam para um pedaço de terra safado que havia por lá e decidiram comprá-lo, por módicos R$ 50 mil (pouco mais de R$ 1 - UM REAL - por metro quadrado).
     Como num passe de mágica, o tal pedaço de terra sofreu a maior valorização imobiliária já registrada no mundo, ao ser escolhido como o local destinado à ampliação do pátio de estocagem de minérios do futuro Superporto do Sudeste, da MMX, empresa do empresário Eike Batista, 'nosso' candidato a ser o homem mais rico do mundo.
     Quem é que aprovaria o projeto? Acertou quem disse que seria o tal procurador. E o terreno, se sua destinação oficial já fosse conhecida, valeria quanto? Ganhou um doce quem imaginou que custaria muito mais caro.
     E assim caminha o Brasil, terra fértil para o crescimento de grandes fortunas, berço de vários pelés, onde nunca, jamais, em tempo algum ...

Histórias de Júlia e Pedro - Capítulo 18

     Fantasias e sonhos

     Pedro também já sabe o que vai ser quando "ficá gande". Ao escutar as revelações da irmã sobre o que pensa do 'futuro' (quer ser veterinária), quis mostrar que já está decidido:
     - Vovô, eu 'vô sê' cavaleiro e cowboy!", afirmou, reforçando, como ainda faz, as últimas sílabas das palavras.
     Há uma certa lógica nas suas 'expectativas e projetos'. Pedro está vivendo uma época de encantamento com personagens das histórias que a mãe conta para ele, dos filmes a que assiste em DVD ou "no canal de quiança".
     Dragões e herois em armadura conquistam um espaço nas suas brincadeiras, ao lado dos cowboys, eternos ídolos. Paralelamente, há outro sonho, também revelado, na mesma ocasião:
     - E também 'vô' 'sê' príncipe!
     Mal tive tempo de concordar com essa última fantasia. Júlia, que acompanhava a conversa, interferiu imediatamente, com um jeito que se propunha maduro:
     - Pedro, príncipe, só se você casar com uma princesa de verdade, neném ...

Uma aventura caribenha - Capítulo 35

O encontro, marcado por mensagens e apitaço


Reencontro e festa

     Estreito de Breves, Pará , sexta-feira, 13/08/1999 - Ainda no Estreito de Breves, um feliz reencontro. Nossa balsa cruzou com o NM XXVI, a mesma embarcação que nos levou de Porto Velho a Manaus, pelo Rio Madeira. Foi um momento marcante, pela reação da "nossa" antiga tripulação, que nos saudou efusivamente. Houve até uma troca de mensagens entre os comandantes Moisés e Chicão. Valeu, realmente.
     Devemos chegar em Belém às cinco horas da manhã. Desembarcamos duas horas depois e seguimos no rumo de Brasília, ponto final do Projeto Integração.
     Antes, no entanto, vamos comemorar o aniversário de Alexandre Viana - organizador dessa expedição ao Caribe - cruzando o Rio Pará. Como no aniversário de João Carlos Nogueira (no Rio Madeira), teremos vinho e a participação da tripulação, que, dessa vez, ofereceu o bolo, preparado a bordo.

sábado, 11 de junho de 2011

Histórias de Júlia e Pedro - Capítulo 17

    
A escolha do futuro

     'Do nada', como costuma dizer, Júlia me confidenciou que já sabe o que vai ser quando crescer:
     - Vovô, eu vou ser veterinária.
     Elogiei, é claro, sua opção, embora saiba que ele é fruto da influência de seu grupo de amigas do Colégio Pedro II (Humaitá), todas apaixonadas por animais. Júlia também gosta de bichos, como quase todas as crianças. Quando era mais novinha (ela vai fazer oito anos), era muito ligada em Cléo, que, mais tarde, foi assumida de vez por Pedro:
     - Ela é minha amiga", afirma o moleque, agarrado com sua mascote e cuspindo os pelos que entram na boca a cada beijo ou abraço mais apertado.
     A ligação de Júlia com Cléo ficou abalada por um aviso, um 'sai pra lá', quando ela, há alguns anos, inadvertidamente, mexeu na vasilha de ração. Aos poucos, no entanto, e contando com a participação efetiva de Pedro, Júlia voltou a brincar e cuidar da cadelinha:
     - Vovô, eu já estou me dando bem com ela de novo", contou, orgulhosa, há alguns meses.
     Mas que não haja dúvida quanto às preferências de Júlia. Ela gosta, mesmo, de cães e gatos.
     - Vou ser veterinária, mas não vou cuidar de galinhas", ressalvou, reforçando seu distanciamento de qualquer animal com penas, herdado da tia Fabiana.

Um ídolo além da paixão

     Juninho já posou para fotos com a camisa do Vasco, na primeira das muitas ocasiões que vão marcar sua volta a São Januário e à adoração da torcida. Ganha o clube, ao recuperar um pedaço de seu período mais vencedor dos últimos anos; e ganha o futebol brasileiro como um todo, por contar novamente com um atleta inteligente, educado e de comportamento muito perto do exemplar.
     Em sua entrevista à repórter Flávia Ribeiro (*), publicada na edição de junho da revista Placar, Juninho exibe algumas de suas características mais marcantes: lógica, bom senso, muita sensibilidade e um profundo respeito ao torcedor. Juninho é daqueles ídolos que extrapolam as paixões clubísticas e acabam sendo - no mínimo - respeitados por todos.
     Sua volta ao clube que o projetou, de fato, vem antecedida de inúmeras vitórias e conquistas pessoais. No Lyon, onde se consagrou como o maior destaque estrangeiro do futebol francês, e mais recentemente no mundo árabe. Assim como aconteceu no Vasco, deixou portas abertas e respeito.
     Na vida pessoal, soube aproveitar intensamente o período vivido fora do Brasil, para evoluir culturalmente, ao lado da família (mulher e três filhas), diferentemente de muitos astros - de brilho mais intenso -, que passaram por outras culturas sem extrair algo de positivo (além do dinheiro) para seu futuro.
     Em campo - e ele fez questão de repetir isso -, pode ser que não exiba o futebol dos vinte e cinco anos. Mas garante que está bem fisicamente e em forma, quase pronto para reeditar a velha parceria com Felipe, outro remanescente de uma geração que dominou o futebol brasileiro e conquistou vitórias memoráveis.


(*) Flávia Ribeiro é minha filha e herdou de mim, além da paixão pelo jornalismo, o amor pelo Vasco.

Pesca ou política? Tanto faz ...

     A recente e estapafúrdia troca de ministros promovida pela presidente Dilma Roussef exibe, basicamente, a dolorosa falta de pessoas com um mínimo de qualificação no Governo. O Planalto adota a política do tanto faz, como tanto fez. Pesca ou Relações Institucionais; alhos ou bugalhos.
    A opção pela ex-senadora Ideli Salvatti (PT-SC) para comandar o ministério da Pesca, no início da atual gestão, já fora uma indicação segura da mais absoluta falta de critério, da escolha política no sentido mais rasteiro da expressão. Tratava-se de dar emprego a uma companheira fidelíssima que fora derrotado na eleição para governador. E nada mais.
    Um prêmio ao seu comportamento execrável no Senado, sempre aos berros, olhar de ódio, discurso vazio e raivoso em defesa de tudo o que era feito pelo governo, incluindo nesse 'tudo' enormes falcatruas, como o mensalão, a quebra de sigilo do caseiro que denunciou o então ministro Antonio Palocci, os dólares na cueca, os dossiês falsos.
    O milagre da transformação de uma especialista em pescados em articuladora política - no lugar do desgastado Luís Sérgio, com quem trocou de pasta - é, também, mais um desses casuísmos provocados pela guerra interna entre os diversos grupos, correntes e quetais petistas. A presidente, refém da força e da influência de seu mentor e antecessor, está se cercando de auxiliares que - basicamente - deram sinais da capacidade de gritar mais alto, de atropelar inimigos de qualquer matiz. Ela sabe que precisa se impor, de qualquer maneira, para não submergir, em especial, aos seus próprios pares.
    Poucos ministérios, ao longo da nossa história, foram tão medíocres como os que assolaram Brasília nos últimos oito anos e meio. O atual, da presidente Dilma, concorre ao título de menos expressivo e mais variado. De Moreira Franco (PMDB-RJ - Assuntos Estratégicos) a Edison Lobão (PMDB - Minas e Energia). De Carlos Luppi (PDT-RJ - Trabalho) a Pedro Novais (PMDB-MA - Turismo). De Aloísio Mercadante (PT-SP - Ciência e Tecnologia) a Alfredo Nascimento (PMDM-AM - Transportes). E de Ideli, que abandonou a pesca pelo protagonismo.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Agressão ao direito

     A acolhida oficial que deu a um mero terrorista assassino pode custar bem caro ao Brasil. Toda a imagem que o país vem tentando cristalizar, ao longo de duas décadas, pode ter sido destruída por uma decisão que - além de não se sustentar juridicamente - agride os sentimentos do mundo livre, vítima de atentados e refém do radicalismo irracional.
     O histórico do criminoso italiano Cesare Battisti, por si só, deveria servir de barreira a qualquer decisão que não o levasse para a cadeia. Integrante de um grupelho de bandidos, Battisti foi um dos protagonistas de uma das fases mais dolorosas da história italiana do pós-guerra.
     O país sangrou com a violência de criminosos dos mais variados matizes. Perdeu dezenas de vidas, teve o Judiciário ameaçado e atingido. A vitória sobre o terror foi a mais importante conquista italiana. A decisão brasileira, paralelamente ao fato de rasgar os acordos entre os dois países, feriu profundamente o espírito da população.
     A reação, como se pode ver nas manchetes de todos os jornais, é de indignação. A revolta é tão grande que conseguiu um feito: unir todas as correntes políticas num mesmo sentimento. A Itália, como nação, está abalada e enfurecida com o Brasil.
     Dando voz a essa onda, o governo chamou de volta seu embaixador. Não é um rompimento de relações. É, apenas, um sinal. Vai, também, recorrer ao Tribunal de Haia, no qual o Brasil vai figurar como réu, como se fosse uma Líbia de Kadafi. Cresce, também, o movimento pelo boicote à Copa de 2014.
     Tudo isso por um assassino comum, vagabundo, que matou um casal na presença do filho pequeno. E que foi condenado por um estado democrático e que respeita as leis.
     Lamentável!

A opção pelo crime

     Essa dupla, em especial, não cansa de dar demonstrações de mediocridade. Estou me referindo ao coronel de opereta Hugo Chavez, da Venezuela, e a Evo Morales, da Bolívia. Dessa vez, o absurdo ficou por conta do cocaleiro, que decidiu legalizar a imensa frota de carros roubados que circula no seu país, grande parte oriunda do Brasil.
    É difícil acreditar que um presidente de um país que se diz digno tome uma atitude como essas, institucionalizando o direito à ilegalidade. Talvez não haja precedentes. É bem verdade que no nosso também vizinho Paraguai a realidade é bem semelhante: veículos roubados no Brasil circulam livremente especialmente nas cidades mais próximas à fronteira. Houve, até, o caso de um modelo de luxo roubado no Brasil ser usado pela presidência da República.
     Evo, no entanto, se superou em vigarice. Ao legalizar, por decreto, bens indiscutivelmente roubados, ele se superou, de olho, apenas, na receita adicional que essa tramoia vai proporcionar. Com um agravante: esses veículos serviram, quase todos, de moeda de troca por cocaína, o grande flagelo mundial.
     De forma indireta, mas cristalina, o governo boliviano formaliza sua opção pelo crime.

Uma aventura caribenha - Capítulo 34

Os ribeirinhos enfrentam as águas em canoas frágeis

Os meninos do rio

     Estreito de Breves, Pará , sexta-feira, 13/08/1999 - Deixamos o Rio Amazonas de madrugada e entramos no Estreito de Breves, um canal que contorna a Ilha do Marajó e desemboca no Rio Pará, que, por sua vez, se encontra com o Tocantins para, juntos, desaguarem na Baía de Marajó.
     Chegamos ao Estreito de Breves (cerca de 200 metros de largura) preocupados. Os tripulantes da balsa que nos leva para Belém insistiram muito para que não deixássemos nada fora das picapes. Segundo eles, em virtude da proximidade das margens, havia o risco de roubo.
     A realidade, no entanto, pelo menos hoje, foi diferente. Fomos atacados, sim, mas por grupos de crianças que pediam tudo. Pão, dinheiro, balas, o que vissem. A semelhança com os meninos de rua das grandes cidades é impressionante. O Estreito de Breves, aliás, lembra muito uma grande avenida. É extremamente habitado (para os padrões amazônicos) e repleto de vendedores que oferecem de tudo um pouco. Uma espécie de camelôs fluviais.
     Suas canoas ficam postadas estrategicamente no rio, à espera da passagem das embarcações. Com uma rapidez incrível, se aproximam dos barcos maiores, como nosso comboio (balsa e empurrador), que navegava a quase 20 km/h.
     No meio dos vendedores, muitas crianças. Crianças, mesmo. Meninos e meninas de sete ou oito anos encarapitados em canoas absolutamente frágeis impulsionadas, apenas, pela força dos remos. Como conseguem, não sei. Só pode ser porque nessa região todos nascem praticamente na água.
     As crianças não ganham velocípedes ou bicicletas. Suas casas estão debruçadas sobre o rio, montadas em estacas que nem sempre as protegem das enchentes.
     O quintal de casa é o rio, onde passam a maior parte de suas vidas. Hoje, pela primeira vez, vimos dois meninos jogando bola. Não uma pelada, como a que estamos acostumados a observar nas ruas ou praias. Mas um misto de futebol e water-polo. A cara da Amazônia.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Em nome do partido

     Você ficou comovido com a consternação da presidente Dilma Roussef na solenidade de troca de comando na Casa Civil? Eu, não. Se o ex-ministro Antonio Palocci é tão bom, digno e puro, por que defenestrá-lo em meio a um escândalo que pode marcar definitivamente sua (dele) carreira?
     As homenagens e aplausos me remeteram a episódios semelhantes e não muito antigos, todos envolvendo figuras de destaque do cenário político nacional na 'Era Lula'. Foi assim com o próprio Palocci, quando da vergonhosa quebra de sigilo do caseiro que o viu participar de festas não muito republicanas em uma mansão de Brasília. Algo semelhante aconteceu com José Dirceu. O expurgo da ex-ministra Erenice Guerra também foi oficialmente lamentado.
     Essa coincidência não é gratuita, claro. Faz parte do teatro que garante bocas e consciências fechadas. "É pelo bem do partido, do nosso projeto de poder. Você entende ...", parecia dizer a presidente.
     O 'sacrifício' de companheiros é uma prática comum em partidos e ideologias dos regimes que costumam ser classificados, equivocadamente, de esquerda. Em regimes mais fechados, num passado não muito remoto, as demissões eram substituídas pela chance do suicídio. O cabra morria mas, em tese, preservava a dignidade e, em muitos casos, a pensão dos parentes.
     Os demitidos têm, entre outras 'vantagens' (a mais óbvia é continuarem respirando), a expectativa de um perdão futuro, um reconhecimento à fidelidade. Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT e executor dos pagamentos do mensalão, é uma prova viva de que há sempre uma porta aberta. Esfolado, suportou a sangria, com seu semblante de paisagem, e teve a recompensa.

"Vamos todos cantar de coração ..."

     Foi certamente a mais calorosa e vibrante recepção a um clube no Rio de Janeiro. O saguão do Aeroporto Santos Dumont, no Centro, de um momento para outro, submergiu a uma onda incalculável de torcedores apaixonados e apaixonantes, em sua emoção. O Rio parou para ver um momento que talvez jamais seja esquecido.
     As imagens da multidão desfilando sua alegria pela inédita conquista da Copa do Brasil provocaram arrepios, em especial nos velhos torcedores que, como eu, atravessaram tantos momentos de glória e se angustiavam com a ausência de conquistas dignas de um clube com a tradição e a história inigualáveis do Vasco.
     "O campeão voltou", sim. Mas não apenas o vencedor de uma Copa do Brasil, de quatro Brasileiros, uma Libertadores, um Sul-Americano, uma inesquecível e inigualável Mercosul e mais de duas dezenas de Estaduais, entre uma centena de outros títulos.
     Foi a volta do verdadeiro Vasco, do mais democrático e igualitário de todos os clubes de futebol - e a história está aí para comprovar. Do clube que conquistou para o país o primeiro de seus títulos internacionais. Do clube que construiu seu lugar, literalmente, com o apoio exclusivo de seus torcedores. Do clube que sempre foi de todas as raças, credos e camadas sociais.
     A explosão de alegria da torcida - ordeira e pacífica - marcou mais um desses momentos que reforçam a beleza de uma história que começou no século 19 e não parou de acrescentar motivos de orgulho para o esporte.
     Hoje foi o dia de uma imensa torcida bem feliz, de norte a sul do país, cantar a Cruz de Malta.

Brasil abre as portas para assassinos

     O Supremo Tribunal Federal deu um aviso ao mundo, ontem, ao decidir pela não extradição do assassino e terrorista italiano Cesare Battisti: o Brasil receberá de braços abertos todo e qualquer criminoso, desde que alegue que seus desatinos tenham sido realizados em nome de uma causa supostamente de 'esquerda', seja lá isso o que for.
     O sujeito pode ter assassinado quatro pessoas e ter sido condenado por um tribunal livre, de um país absolutamente democrático, como é o caso da Itália. Não tem importância. E mais. Esse negócio de tratado diplomático não é para ser levado a sério. Sempre será possível encontrar uma justificativa vagabunda para burlar o direito.
     As reações na Itália foram as piores possíveis, como se poderia imaginar. O país sofreu, enfrentou e conseguiu vencer o terrorismo e o crime organizado, que andaram de mãos dadas. Perdeu inúmeras vidas na luta contra o ódio irracional.
     O Brasil, em nome de uma subdesenvolvida ideia de afirmação internacional, mostrou ao mundo que não está capacitado a sentar à mesa com nações que prezam o direito e renegam o terrorismo como forma de expressão. Foi uma decisão lamentável, sob todos os aspectos. Especialmente quando lembramos o caso dos lutadores de boxe cubanos, que tentaram fugir do regime dos irmãos Castro, quando da realização dos Jogos Pan-Amereicanos, no Rio.
     Na ocasião, o governo simplesmente os enfiou à força em um avião e os despejou em Havana. A eles - jovens atletas - não foi concedido o direito à liberdade. Os integrantes dessa medíocre 'era Lula' não admitiam que alguém quisesse escapar do 'paraíso caribenho'. Em contrapartida, acoitamos um matador psicopata.
     Pobre Brasil.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Ministra arranca elogios no Senado

     Às vezes acho que estou lendo de maneira errada. Volto à primeira linha, mudo o 'tom' e tento encontrar entrelinhas. Quase sempre - para meu desencanto - não encontro nada além do que realmente está escrito. Não há mensagens ocultas, subliminares. Não há nada. Foi o que aconteceu hoje, ao mergulhar nas notícias sobre a despedida da nova ministra da Casa Civil, Gleise Hoffman (PT-PR) do Senado.    
     As reportagens nos contam que a ministra fez um discurso rápido, no qual rejeitou o apelido de 'trator', pela sua exaltada e intransigente defesa do governo, e destacou o que ela classificou de "experiência" conquistada nos "seis primeiros meses de mandato".
     Imaginei que alguém estivesse fazendo uma piada - a ministra ou os autores dos textos. Não. É para levar a sério. A nova ministra acredita, mesmo, que seis meses de discursos defendendo a era Lula e, mais recentemente, seu antecessor no cargo, foram suficientes para construir seu currículo.
     A julgar pelo deslumbramento de representantes da base (seja lá isso o que for), a ministra atropelou de fato seus pares, ao provocar, além dos olhares - digamos - enviesados da companheira Marta Suplicy (vejam a foto de ontem, logo após ter sido indicada para a nova função), o deslumbramento do triatleta Lindebergh de Farias (PT-RJ), que - segundo O Globo - a comparou a um fenômeno da natureza: "Passou pelo Senado como furacão, como uma estrela", declamou o contestado ex-prefeito de Nova Iguaçu, de acordo com o relato dos repórteres André de Souza e Adriana Vasconcelos.
     Outro exemplar do saber político, o senador Ivo Cassol (PP-RO) mostrou que é um apóstolo dos novos tempos da língua portuguesa, ao reunir em apenas duas linhas uma enorme coleção de lugares comuns: "Só pode ser dor de cotovelo quando alguém diz que vossa excelência não tem experiência política. Não estamos atrás de macaco velho ou de bananeira que já deu cacho".
     Pobre Brasil.

Uma aventura caribenha - Capítulo 33

No caminho, a indicação: o Basil ficava à esquerda

Quarta-feira, 11/08/1999 - Enganos, omissões e coisas afins
     Rio Amazonas - O tempo livre a caminho de Belém serviu, entre outras coisas, para uma olhada crítica em textos passados. Não me refiro a acentos (crases, em especial) ou letras maiúsculas, que andam faltando ou sobrando nas matérias que retratam nosso dia-a-dia. Já explicamos, logo no inicio desses registros, que nosso teclado não dispõe de certos recursos, justamente por não ter sido projetado para a elaboração de textos (destina-se à comunicação entre veículos de transporte e a sede da empresa). Não poderia, jamais, me queixar. O sistema vem atendendo muito bem aos nossos objetivos, graças à sua velocidade e abrangência.
     Eu estou me referindo, por exemplo, aos "exatos 11.575 quilômetros percorridos até Manaus", citados em um dos textos de ontem. Na verdade, foram exatos 11.757 quilômetros.
     Senti falta, também, de ter feito uma referência mais forte ao passado político do atual presidente venezuelano, Hugo Chavez, notório, nos seus tempos de caserna, por ter tentado, sem sucesso, tomar o poder pela força. Talvez tenha me deixado levar pelo vigor político demonstrado por ele, eleito democraticamente e que vem provando ter uma impressionante capacidade de mobilização popular.
     Também não dimensionei muito bem a área dos estados do Amazonas e Roraima destinada à reserva indígena Waimiri Atroari. São 116 quilômetros de estrada, praticamente em linha reta, a maior parte (72 quilômetros) em Roraima. Já ia esquecendo, outra vez: oficialmente, é proibido atravessar essa região entre seis da tarde e seis da manhã.

Despedida injusta

     Ronaldo, pelo seu passado absolutamente vitorioso, poderia ter se poupado do espetáculo da despedida da Seleção Brasileira. Numa idade em que dezenas de atletas continuam atuando com razoável desenvoltura, o 'Fenômeno' exibiu, em São Paulo, não mais do que as marcas de uma vida repleta de problemas físicos. Foram alguns minutos que não fizeram justiça ao grande jogador.
     Enorme, esmagado por uma possível cinta elástica, com dores e ofegante, Ronaldo ainda teve um ou dois lampejos do craque que foi. Um toque de primeira que deu velocidade a um ataque e uma conclusão para o gol que quase aconteceu. No mais, as imagens impiedosas de um ainda jovem jogador tentando encontrar o ar que teimava em não chegar aos pulmões.
     Pelo seu histórico, não precisava ter entrado em campo como se ainda fosse um jogador profissional de futebol. Afinal, era a Seleção que estava em campo, e não um time de peladas entre solteiros e casados. Uma homenagem da CBF e do mundo do esporte seria mais indicada. Até mesmo o clima jogou contra.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Outra mulher manda na Casa

     A Casa Civil volta a ser entregue a uma mulher. À senadora Gleisi Hoffman (PT-PR) caberá a 'tarefa' (para usar um termo bem ao gosto do seu partido) de contornar a indisfarçável crise que assola a tal base governamental, uma espécie de saco de gatos desprovido de qualquer resquício de ideologia.
     Com a experiência de congressista, é até provável que consiga atender aos inúmeros pleitos por vagas em qualquer dos muitos escalões da República e, assim, garantir a subserviência almejada pelos dirigentes em geral. Além disso, sua assunção, no primeiro momento, desarma, entre outros, o grupo liderado pelo deputado federal Anthony Garotinho, ex-governador do Rio de Janeiro, que pressionava o governo acenando com a aprovação da convocação para depor do ainda ministro Antonio Palocci.
     Além de petista de carteirinha, a nova ministra é mulher do também ministro Paulo Bernardo, das Comunicações, afinadíssimo com o ex-presidente Lula, que é, de fato, quem decide no atual governo.

Já vai tarde

     Não é caso de festejar. A demissão do já não mais ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, deveria envergonhar o país, não por que foi consumada, afinal, e sim por ser o resultado de um episódio lamentável que envolveu o primeiríssimo escalão de um governo que ainda não começou e que já carrega a marca da irresponsabilidade política que vem caracterizando essa era de sucessivos escândalos.
     A decisão pelo segundo afastamento de Antonio Palocci de um ministério já deveria ter sido tomada há muito tempo. Talvez nem fosse necessária, se ele sequer tivesse assumido a função, como assumiu, algo impensável em um país com um minimo de memória e amor próprio.
     Como no episódio da criminosa quebra de sigilo de um prosaico caseiro, no primeiro governo do ex-presidente Lula, Palocci resistiu até onde pôde, com o apoio integral do Palácio do Planalto, que apostou no tempo e na fidelidade da 'base' no Congresso, sempre a postos para defender o indefensável, desde que haja a contrapartida em cargos e vantagens.
     Mas os fatos, como nas ocasiões anteriores, atropelaram os planos do governo. A entrevista concedida pelo ex-ministro à TV Globo, sexta-feira passada, teve um efeito contrário ao esperado. Palocci não se explicou, apenas argumentou, sem conseguir convencer a opinião pública. As reações contaminaram até mesmo a bancada petista, dividida em correntes e facções que lutam entre si. Não houve clima, sequer, para uma tomada de posição conjunta. O 'fogo amigo' ajudou a fuzilar o 'Pelé da consultoria'.
     Restou ao ex-homem forte do projeto de poder da ala lulista, brandir a ridícula absolvição da Procuradoria Geral da República, outra instituição que sangra a cada decisão que vem tomando. Um consolo para quem sonhou duas vezes com a Presidência da República e que, por artes da sua enorme competência em dar conselhos, vai poder voltar ao mundos dos negócios e - quem sabe? - multiplicar seu patrimônio mais vinte vezes.

Indicação sob suspeita

     As recentes reações a decisões da Procuradoria Geral da República são, a meu ver, o indicativo de que o processo de escolha do procurador está fadado ao fracasso. Não tanto por suas decisões - tomadas, quero acreditar, com isenção e responsabilidade -, mas pelas desconfiança e insegurança que geram na sociedade.
     A última, mais recente e polêmica decisão do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, isentando o ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, é um exemplo perfeito. Como atendeu aos anseios do Governo, o procurador está sendo acusado de legislar em causa própria, já que está contando com a decisão da presidente Dilma Roussef para ser mantido no cargo.
     Personagens que detêm o poder de julgar o presente, definir futuros e reescrever passados precisam, necessariamente, de absoluta e irrevogável independência, assim como a mulher de César, a quem não se exigia apenas que fosse fiel, mas que exibisse uma fidelidade inexorável, à prova de qualquer dúvida.
     Decisões de casos como o do ministro Palocci, que provocam a revolta da sociedade, seriam certamente mais bem absorvidas se partissem de entidades imunes a pressões de quaisquer espécies. Roberto Gurgel, qualquer que fosse sua opção, seria alvejado. Ao absolver o chefe da Casa Civil, com base em justificativas que quero crer que sejam de convicção, o procurador não apenas se expôs, mas cobriu de dúvidas a própria instituição, basicamente pela proximidade da nova indicação para o cargo.

Falta de aptidão ao cargo

     A falta de expressividade e a inexistência de carisma da presidente Dilma Roussef, somadas, dão um resultado praticamente inédito na nossa história recente. Até mesmo os ex-presidentes José Sarney - que herdou o cargo com a morte de Tancredo Neves - e Itamar Franco - que assumiu com a cassação de Fernando Collor - conseguiram com razoável rapidez estabelecer suas marcas, suas identidades. A presidente, não, apesar de consagrada pelo voto.
     Em seus cinco meses de mandato, a presidente não conseguiu se definir. O comportamente sóbrio, de poucas aparições, dos primeiros meses, atribuído a uma postura mais pragmática na condução do poder, acabou revelando, na verdade, uma absoluta falta de aptidão ao cargo, às cerimônias, à exposição natural. Em síntese: despreparo para a função.
     A visita do presidente americano, Barack Obama, deu a ela a oportunidade de sair das sombras, de 'aparecer nas fotos', de mostrar - num discurso - certa independência, a disposição de mudar o relacionamento com os Estados Unidos. Mas foram momentos fugazes.
     A presidente logo se viu envolvida na teia armada à sua volta, no Palácio do Planalto. E cedeu claramente o protagonismo ao seu sucessor, o ex-presidente Lula, que apareceu como articulador da defesa do ainda ministro Antonio Palocci e fiador da aliança entre o PT e o PMDB, que esteve seriamente abalada, no caso da aprovação do Código Florestal, represália ao não atendimento de pedidos para maior participação no Governo - leia-se preenchimento de cargos.
     Para agravar esse quadro de recolhimento, a presidente ainda sofreu com sérios problemas de saúde que a obrigaram a reduzir a exposição pública e remeteram - natutralmente - ao seu histórico médico, que apresenta uma vitória na batalha contra um câncer.
     Enquanto ela evita uma exposição para a qual não tem vocação, seu mentor ultrapassa todas as fronteiras, literalmente. Jogando no lixo a promessa de afastar nos palcos, Lula atravessa continentes, manda e desmanda no PT, convoca reuniões públicas de aliados, sob a luz dos refletores, e deixa bem claro que quem manda é ele. A ponto de a presidente - segundo a Folha de São Paulo - pedir para que ele não vá a Brasília nas próximas horas, interferir na crise que vem imobilizando seu governo.
     A liturgia do cargo exige outro comportamento.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Uma aventura caribenha - Capítulo 32

As barracas, montadas nas caçambas, resistiram ao temporal, depois de um dia de céu azul

Quarta-feira, 11/08/1999 - Madrugada de emoções
     Rio Amazonas - Nossa primeira madrugada no Rio Amazonas, na rota de Belém, a bordo de uma das balsas da empresa Equatorial, foi, no mínimo, emocionante. Depois de um início de noite tranquilo, com um céu espetacular, fomos acordados (estamos dormindo nas barracas montadas nas caçambas das picapes) por um temporal para ninguém botar defeito, com ventos fortíssimos, pingos grossos e as águas do Amazonas bem agitadas.
     A balsa, que tinha até então um comportamento suave, começou a bater forte de encontro as ondas que se formaram de repente. Bater, mesmo. A ponto de acionar os amortecedores dos nossos veículos, que pareciam estar trafegando em uma estrada esburacada.
     Essa situação não muito confortável durou mais de uma hora, com um agravante: a nosso pedido, as picapes estão colocadas justamente na proa da balsa, a pouco mais de um metro do rio (é o melhor lugar para receber os sinais dos satélites usados pelo sistema Autotrac). De dentro da barraca, sentíamos a água do Amazonas bater na proa e 'lavar' o convés.
     O mais "interessante" (digamos assim), é que tudo isso pode ter sido apenas um aperitivo. Segundo marinheiros de outras viagens, o trecho mais batido fica nas proximidades da Ilha de Marajó.

Palocci: entre Paulinho e 'Huguinho'

     Não sei o que é pior: se o ultimato dado ao ministro Antonio Palocci, pela Força Sindical; ou o apoio que o chefe da Casa Civil recebeu do misto de ditador e presidente venezuelano, Hugo Chavez, que está em visita oficial ao país.
     Se o deputado federal Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), presidente da central sindical, diz uma coisa, minha tendência é sempre apoiar o oposto. Não consigo somar 'Paulinho' com interesse nacional.
     Com Hugo Chavez acontece o mesmo. Se ele diz sim, eu digo não. Se ele diz preto, eu digo branco; se ele apoia, eu sou contra. Não há hipótese de comunhão de ideias, de convergência, em qualquer campo.
     Ambos - Paulinho e Hugo - representam, para mim, o que há de pior no mundo nosso hemisfério. Demagogia, populismo, despotismo, intolerância com a liberdade. Embora em desacordo quanto ao futuro do ainda ministro, comungam na essência.