sábado, 24 de dezembro de 2011

O espírito natalino

     Júlia ainda acredita. Mandou uma cartinha para Papai-Noel, com seus pedidos e os de Pedro, seu irmão mais novo, como vem fazendo desde que aprendeu a escrever. Pede os presentes, mas deixa sempre uma ressalva: se for possível. Assim é Júlia, minha neta.
     Na escola - ela acabou de passar para a terceira série do ensino fundamental do Colégio Pedro II -, seus amigos ainda acreditam, ou não discutem o tema. Mas todos nós notamos que ela tem suas dúvidas há um bom tempo. Já quis saber como é funciona esse negócio de presente para todas as crianças. Sondou a mãe.
     Mas não se aprofundou. Como a fantasia faz bem, todos concordamos em deixar que o contato com essa realidade venha naturalmente. Afinal, ela só tem oito anos, idade para ser criança em tempo integral.
     Eu, confesso, cheguei a balançar, quando ela saiu da sua escolinha maternal para um colégio maior, com as saudáveis e necessárias diversidades que o Pedro II oferece - além da qualidade do ensino e da dedicação dos funcionários. Temia que novos amigos zombassem da sua inocência. Mas todos são tão inocentes quanto ela.
     Com mihas filhas, Flávia e Fabiana, esse rito de passagem foi absolutamente natural. Não precisamos, sequer, tocar diretamente no assunto. Elas souberam, naturalmente, que Papai-Noel existia, sim, e que tinha sobrenome idêntico ao delas.
     Comigo aconteceu diferente, e talvez a marca da minha transição ainda pese, quando penso nas crianças. Confesso que foi um choque. E aconteceu justamente às vésperas de eu atravessar o portão da Escola Pública, pela primeira vez.
     Temendo que eu fosse alvo de brincadeiras de crianças mais maduras, minha mãe se encheu de coragem, me chamou para conversar e contou tudo. Revelou, até, quem era sua parceira na manutenção da minha ilusão: Dona Luíza, uma vizinha da vila operária onde morávamos. Era no seu quarto que os presentes ficavam depositados, aguardando as crianças de todas as demais sete casas dormirem.
     Olhando para trás, hoje, vejo que Dona Luíza não era apenas aquela vizinha de subúrbio (morávamos em Marechal Hermes) retratada folcloricamente em artigos, contos e novelas. Na verdade, era a auxiliar direta do Papai-Noel que insistia em aparecer naquelas casas simples. Aquela que nos acordava cantando parabéns nos nossos aniversários, pela janela ainda fechada. E que continuou sendo a depositária dos nossos presentes, mesmo quando já estávamos crescidos.
     Como a bicicleta - minha primeira e tão sonhada bicicleta, uma Monark aro 28, preta - que ganhei aos 11 anos e que transformou aquele Natal (1959) no melhor e mais emocionante da minha infância.
     Por tudo que representa, o Natal, para mim, mesmo afastado da religião, continua sendo um dia especial, com filhas, netos e - vá lá! - genros reunidos, além de uma sobrinha/filha e de uma cunhada quase irmã. Talvez por isso, pelo espírito que provoca, seja um dos momentos mais bonitos do ano.
     Bom Natal para todos.

2 comentários:

  1. Linda história e espero que você e todos os seus familiares tenham tudo um Natal iluminado pelo nascimento do menino Jesus e que os pedidos dos anjinhos Júlia e Pedro tenham tornado realidade. Mas o maior presente dos pimpolhos são os pais,avós e todos os parentes que são responsáveis por eles serem os que são e pelo que vão se tornar adiante.
    Quando descobri a verdade, foi tranquilo,natural..e sabe que lembro de uma foto em que um papai Noel visitou o colégio do meu irmão do meio e posou pra fotos..quem era? minha mãe..outro dia me veio essa lembrança..minha mãe sempre soube brincar e não deixou de ser criança..eu já tinha medo de chegar perto do papai Noel..rsrs..acho q nem sentei no colo de um,que dirá foto..
    Em vez de beijos pra terminar o comentário,colocarei Ho Ho Ho. Feliz Natal!!!

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  2. Obrigado, mais uma vez, pela gentileza, Patrícia. Como digo sempre, o personagens são fundamentais na 'inspiração'.

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