terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Democracia bananeira

     A Argentina está provando que até mesmo a democracia, a melhor das opções entre os regimes, pode ser usada contra a ... democracia. Aproveitando um momento político favorável, a presidente Cristina Kirchner (reeleita por mais de 50% dos eleitores, mas não pela unanimidade, como parece julgar) está apontando todas as baterias contra os que considera inimigos, para governar como um caudilho dos velhos tempos, uma lamentável tradição do país, frise-se.
     Esse tipo de exercício do poder exerce uma atração irresistível para personagens que se propõem arautos de todas as boas notícias, que se julgam não apenas eleitos para governar para todos, mas para exercer o controle absoluto sobre a totalidade dos segmentos da sociedade, assumindo o papel de únicos provedores do estômago e da mente dos cidadãos.
     Embora entronizados pelo voto democrático, dirigentes como Cristina Kirchner, Hugo Chavez, da Venezuela, e o equatoriano Rafael Correa atropelam o saudável exercício do contraditório, subjugam os opositores, calam as vozes que ousam denunciar o regime. Nessa relação superficial só não estão incluídos o cubano Raul Castro, por ser um mero ditador, e o cocaleiro boliviano Evo Morales, uma piada de péssimo gosto.
     No Brasil, a tentativa de 'golpe democrático' não prosperou graças à descoberta do Mensalão, o maior esquema de assalto aos bens públicos destinado a financiar o apoio do Congresso às medidas imaginadas pelo PT do ex-presidente Lula, na sua incansável busca pelo domínio do país, a qualquer preço ou custo. O Brasil, graças à relativa independência dos meios de comunicação, abortou o projeto de submissão nacional ao ideário de um partido.
     Na Argentina, a presidente, ao iniciar seu segundo mandato, vem tratando de eliminar os possíveis entraves ao seu projeto 'peronista de ser'. O controle da produção de papel-jornal e o emprego de violência contra opositores exibem os sinais claros de um descaminho. Nesse esquema, o Congresso - dominado pela situação - entra com a fachada de legalidade, aprovando pacotes de leis de interesse do governo.
     Tudo de forma 'democrática', obedecendo a um escript que ignora as diferenças e realça a mediocridade de um governo simplório e claramente avesso a críticas. Uma democracia bananeira.

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