sábado, 10 de dezembro de 2011

Ameaças à governabilidade

     Tudo começou como um registro policial. Cinco homens foram presos, durante a noite de 17 de junho de 1972, por invadirem em Washington, a sede do Comitê Nacional do Partido Democrata, fotografar documentos e instalar escutas telefônicas. O que parecia um ato estúpido e talvez isolado de algum burocrata republicano foi ganhando forma e dimensão até se transformar no Caso Watergate (nome do prédio onde funcionava o comitê democrata), o maior escândalo da história política recente dos Estados Unidos. Dois anos depois (9 de agosto de 1974), encurralado por evidências de que sabia de tudo, Richard Nixon foi obrigado a renunciar à presidência da República da maior potência do mundo.
     Watergate vem sempre à minha memória sempre que leio notícias que envolvem, de maneira direta, ou indireta, o ex-presidente Lula e a atual presidente, Dilma Rousseff. Já na época do Mensalão - a maior vigarice já produzida nesse país -, quando se tornou pública a - no mínimo! - sua omissão, o ex-presidente esteve bem perto de sofrer o impeachment, que só não ocorreu - por consenso político - para que o Brasil não mergulhasse no caos.
     Esse momento deplorável da nossa história deveria ter servido de alerta ao esquema de poder que se instalara no país. Um freio na irresponsabilidade. Infelizmente, ocorreu o contrário. Ao saírem praticamente incólumes da 'mãe dos escândalos', Lula e todos os que gravitam ao ser redor se sentiram livres para ousar cada vez mais. A cassação de José Dirceu, o inquérito do Mensalão, ainda em aberto no STF, e a concessão de privilégios impensáveis a um grupo de políticos desqualificados foram considerados um preço razoável a pagar. Anéis de metal barato, em mãos que se tornariam cada vez mais audaciosas e ricas.
     Na reeleição de Lula, consolidou-se, no país, a maior 'concertação' política da República, pela qual pagamos - todos nós, brasileiros - o custo de conviver com o maior nível de corrupção já registrado em todos os tempos, com o maior loteamento de cargos, com a ocupação partidária de toda a máquina administrativa, com a criação de novos e sofisticados modos de burlar a lei na sanha de expropriação dos bens públicos, em nome de um projeto de poder que ignora limites, divisas, fronteiras.
     O ongueiro e policial militar de Brasília, João Dias, autor das denúncias que derrubaram o ex-ministro do esporte, Orlando Silva (PCdoB), e estão balançando o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), ameaça detonar novas bombas. Entre elas, sua participação direta em um esquema de desvio de dinheiro quando da reeleição de Lula, em 2006 (algo em torno de R$ 1 milhão, de acordo com reportagem de Veja), já registrada no depoimento que prestou, há alguns dias, após ter sido preso ao tentar - segundo afirma - devolver o dinheiro com o qual o governador do DF pretendia suborná-lo.
     Mais uma vez o histórico presidencial de Lula - já arranhado por constatações anteriores, convenientemente esquecidas - volta à discussão, com inevitáveis consequências para o atual governo, imerso em uma enorme crise de credibilidade.

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