sexta-feira, 30 de setembro de 2011

A oposição preferida

     O PSDB, a cada dia e a cada bobagem realizada, mostra que é o partido de oposição que todo governo gostaria de ter. Se fosse unido, ainda sim seria ineficiente. Retalhado, como é, não inspira o menor temor nos adversários.
     A última - a mais recente - estripulia dos emplumados políticos colocou em confronto nada menos do que o senador mais votado do país - Aloysio Nunes Ferreira, de São Paulo - e a direção do partido, segundo informa o Estadão.
     O senador reclamou, publicamente, da decisão partidária de retirá-lo e ao ex-governador José Serra da publicidade que está sendo veiculada nos princiais canais da mídia.
     O partido, cuja liderança (?) está reunida hoje em Goiânia, não acusou formalmente a cacetada que se tornou pública através do Twitter. Talvez esteja sem forças, em virtude do processo de exaustão do partido, alvejado pelo 'centrista' PSD do ex-aliado prefeito paulistano Gilberto Kassab.

Uma aprovação surpreendente

    Já confessei algumas vezes que só o fato de não ser mais obrigado a ver e ouvir diariamente as canastrices do ex-presidente Lula ampliou minha tolerância - eu não chegaria a classificar de simpatia - com a presidente Dilma Roussef. Qualquer coisa - até mesmo o nada - é preferível às cenas explícitas de destempero verbal, erros de concordância e manipulação de fatos do seu antecessor, repetidos à exaustão em aparições capazes de rivalizar com os mais vigaristas 'pastores eletrônicos'.
     Mesmo assim, no entanto, não deixo de me surpreender a cada rodada do Ibope sobre a percepção popular do atual governo. A última, que já está nos jornais, como O Globo, mostra que mais da metade (51%) dos entrevistados considera o Governo Dilma ótimo ou bom. Outros 34% dizem que ele é regular e apenas 11% cravaram no ruim ou péssimo. Isso quer dizer que a popularidade da presidente aumentou, em relação a agosto (os dados referem-se a setembro).
     É um fenômeno. Em nove meses, o atual governo limitou-se a apagar incêndios no primeiríssimo escalão, ateados pelas denúncias sobre corrupção desenfreada, tráfico de influência, enriquecimento inexplicado e outros delitos menos importantes.
     Não houve uma iniciativa digna de registro, excetuando-se o fato de Dilma ter sido a primeira-mulher-a-falar-na-abertura-da-Assembleia-Geral-da-ONU, algo que aconteceu por tradição, e não por méritos ou deferência. Se encerrasse hoje seu mandato, a presidente poderia repetir o presidente-tampão Pedro Aleixo e admitir que nada fez e nada deixa.
     A presidente chegou, mesmo, a ser derrotada nos 'embates' com o Congresso, apesar da desmoralização que atinge nossos políticos em geral. Talvez ainda seja o efeito do crédito farto e perigoso, do endividamente progressivo, da irresponsabilidade fiscal, da fantasia da faxina, que nunca existiu.
     Esse conjunto de não-feitos e defeitos - e a história está aí para mostrar-, no entanto, vai cobrar seu preço, mais cedo ou mais tarde. A inflação está em alta e o crescimento em baixa. Dois sintomas de uma doença difícil de ser controlada.

Apreço à Constituição

      "Reitera-se que a Associação não defende a extinção do poder disciplinar do CNJ, e sim requer a preservação do respeito aos preceitos constitucionais, que outorgam aos Tribunais de Justiça autonomia para julgar os Magistrados."

      Esse trecho da nota oficial divulgada hoje pela Associação de Magistrados Brasileiros (AMB) é um exemplo claro e objetivo da necessidade de um mediador na questão com o Conselho Nacional de Justiça. Os dois lados da questão têm seus argumentos, todos centrados na defesa e valorização do judiciário, embora dissonantes.
     Nessas situações, não há meios caminhos: deve prevalecer a decisão da corte mais alta, no caso o Supremo Tribunal Federal, que foi provocado a falar pela AMB, na Ação Direta de Inconstitucionalidade ajuizada dia 16 de agosto, contra a Resolução 135, do Conselho Nacional de Justiça.
     Presumir-se que o STJ não vai tomar uma decisão que atende à Constituição é um grave erro estimulado pelo açodamento na tomada de posição, normalmente provocado pela paixão política. O Supremo, como qualquer órgão formado por pessoas, pode, eventualmente, tropeçar em alguma decisão. Mas sua diversidade, sua face ecumênica e preparo jurídico são garantias de que vai prevalecer o princípio básico da democracia: a vontade da maioria.
     Se há necesidade de atualização da Constituição, a Nação dispõe dos mecanismos legais para isso. Não se pode imaginar, no entanto, que o documento maior de um país seja remendado a todo momento, ao sabor das marés políticas. Ou ecoando gritos muitas vezes destemperados. A Justiça precisa, sim, de uma mexida, de oxigênio.
     Talvez seja essa a hora de se pensar essa mudança. De acordo com a Constituição.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

O sumiço do Governador

     Alguém já ouviu a opinião do governador Sérgio Cabral sobre a crise na Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro? Creio que não. Seria uma surpresa. Nosso governador, seguindo a estratégia do ex e da atual presidentes, desaparece quando as notícias não são favoráveis. Deixa a incumbência - e inevitável desgaste - de explicar o inexplicável para seus subalternos no Governo.
     Nas enchentes do início do ano, mal foi visto nos primeiros dias. No recorrentes descasos da área de saúde (o jovem que perambulou por seis hospitais antes de ser atendido morreu hoje), silêncio e umas duas demissões.
     Na atual e gravíssima crise na Polícia Militar, deixou a bomba estourar nas mãos do secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, e do comando da PM. Passa ao largo das perguntas indiscretas, dos apertões contra o muro, da obrigação de dar satisfações à população que o reelegeu.
     É como se ele não tivesse a menor responsabilidade pelo que está acontecendo. Só aparece nas ocasiões propícias, inaugurações de UPPs, ocupação de áreas dominadas pela bandidagem.
     Recentemente, quando já não podia mais escapar de enfrentar o desleixo com os bondes de Santa Teresa, saiu-se com uma pérola: destacou que, como os governos anteriores, não deu solução ao problema da manutenção. Como se ele estivesse no poder há dois meses, e não no segundo mandato.

O papel da Justiça

     O tema é difícil, não ficou totalmente claro para o grande público e está provocando reações apaixonadas. A princípio, a causa da ministra Eliana Calmon, corregedora do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), é ... justa, pois prega maior controle sobre os atos e comportamento dos juízes em geral, classe normalmente privilegiada e coberta pela toga protetora do julgamento entre os pares mais próximos.
     Segundo a corregedora, a tentativa de restringir os poderes do CNJ, patrocinada pela Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), tem apenas um objetivo: facilitar o acobertamento de malfeitos de juízes de desembargadores, ao pleitear que o a investigação de atos desabonadores seja feita - em primeiro lugar - pelas corregedorias dos tribunais aos quais os investigados são ligados diretamente.
     Para a ministra, essa investigação é comprometida pelo espírito de corpo, pelas amizades e, eventualmente, pelo constrangimento que alguns júizes teriam ao examinar os atos de companheiros de Tribunal. É o mesmo pensamento do senador Demóstenes Torres, do Democratas de Goiás, promotor de carreira, defensor da ampliação dos poderes do CNJ e autor de uma proposta de emenda constitucional nesse sentido.
     Já a Associação dos Magistrados Brasileiros, agindo no interesse da classe que representa, argumenta que o poder do CNJ, na investigação de juízes, esbarra em dispositivos da Constituição. Por isso, propôs uma Ação Direta de Inconstitucionalidade, a tal Adin. Querem os magistrados que as investigações sejam realizadas no âmbitos dos tribunais, como - alegam - prevê a Constituição.
     Criado o impasse, e instada a decidir, não resta outra alternativa à Justiça, a não ser responder, através do Supremo Tribunal Federal. Não há outro caminho possível. É para isso - justamente para dirimir dúvidas, analisar os dispositivos constitucionais - que existe o STF. Cabe ao Supremo, à luz da Constituição, decidir pela exigência de mais transparência, ou ignorar o que se convencionou chamar de 'clamor das ruas', que reflete momentos e não, necessariamente, o que é legal.
     Em uma democracia consolidade, como a que estamos construindo no Brasil, é fundamental que a Constituição e, por óbvio, os poderes republicanos sejas respeitados. Como constituições são organismos pulsantes, em saudável aprimoramento, é possível atualizá-las, sim, mas seguindo os preceitos republicanos. Como está tentando fazer o senador goiano, por exemplo.
     A lamentar, nesse episódio muito ruim para as nossas instituições, a explosão da ministra do CNJ. Se conhece juízes corruptos, deve denunciá-los à Nação. Acusações genéricas e emocionais não combinam com a função de magistrados e servem apenas aos interesses dos que torcem pelo caos, pelo atropelo dos poderes. Sem contar que um juiz jamais poderia se opor a julgamentos, sob pena de estar desmerecendo sua própria finalidade.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Aos parceiros, tudo!

     Aí vai um péssimo exemplo - podemos assim dizer - de 'isonomia'. O Conselho de Ética (???) da Câmara decidiu, por 16 votos contra 2, arquivar o processo contra o deputado paulista Valdemar da Costa Neto, do indefectível PR, por quebra de decoro parlamentar. Nada mais 'justo'. Como é que alguém poderia processar Valdemar, depois de o plenário, por maioria absolutíssima, ter absolvido a deputada Jaqueline Roriz (PMN-DF)?    
     O deputado que acaba de ser inocentado por seus pares, acumula, em sua ficha, acusações no processo do Mensalão, no qual é réu. Na época, para escapar à cassação, renunciou ao mandato.
     Comprova-se, com mais esse caso, a preocupação do maior partido da Câmara, o PT (nada acontece por lá sem a sua aprovação), em inocentar acusados de quebra de decoro e/ou corrupção. Alguns de seus destaques nacionais estão no mesmo saco onde se aninham os integrantes do maior escândalo da história desse país. Trata-se, apenas, de 'negociar' o apoio para os dias difíceis que virão, com certeza.
   

Isonomia, já!

     Não estou, certamente, entre os fãs do casal Garotinho. Jamais votei no marido ou na mulher - ex-governadores do Rio de Janeiro. Acredito que ambos tenham cometido diversos deslizes políticos, mas não posso levar a sério a decisão judicial que cassa tanto Rosinha (prefeita de Campos), quanto Anthony (deputado federal), ambos do tal PR, por "abuso do poder econômico", pelo uso indevido de um veículo de comunicação para promover a candidatura à prefeitura.
     O ex-presidente Lula fez muito mais do que isso durante toda a campanha que redundou na eleição da presidente Dilma Roussef. Usou e abusou, sem limites nem vergonha, do posto que ocupava para fazer a mais abusiva divulgação da sua candidata. Desafiou a Justiça, debochou de promotores e inundou a televisão, rádios e jornais com publicidade que tinha apenas um objetivo: eleger sua sucessora.
     É difícil imaginar maior abuso do poder do que o presenciado na eleição passada, independentemente do inegável prestígio do ex-presidente especialmente entre as camadas mais baixas da população. Talvez apenas o apoio formal - um direito de qualquer pessoa - fosse suficiente para garantir a eleição. Mas Lula e seus companheiros não quiseram arriscar. E desafiaram escandalosamente o país, sem que fossem punidos seriamente.
     Em uma democracia, o mínimo que se pode exigir é - digamos - isonomia, o preceito constitucional que significa que todos são iguais perante a ordem jurídica e, por conseguinte, perante o Estado.
     Não defendo Rosinha nem Garotinho, que fique bem claro. Deixo a defesa deles para o pessoal dos partidos que, na época, fizeram acordos para ocupação de cargos. Quero, apenas, que os dois tenham o mesmo tratamento dispensado ao ex e à atual presidente. Ou, para ser mais exato: que Dilma e Lula tenham tratamento idêntico ao dispensado ao casal de Campos.

O 'amado rei'

     Uma boa notícia para todos os que ficaram revoltados com a condenação de uma mulher a dez chibatas, na Arábia Saudita, pelo crime de dirigir um automóvel: o magnânimo rei Addullah anulou a sentença.
     A boa notícia, em sua essência, no entanto, não é exatamente o perdão, mas o fato de que prevalecem todos os motivos para condenarmos esses regimes obscurantistas. Não houve, como se poderia supor, a erradicação da pena dos códigos criminais do país.
     Houve, sim, uma decisão pessoal do monarca absoluto, saudado com inacreditável pusilamidade pela pela princesa Amira Tawil, mulher de Walid ben Talal, empresário e sobrinho do rei, segundo a Folha. A princesa no twitter, lacou a seguinte pérola: "Graças a Deus a flagelação de Sheima foi anulada. Graças a nosso amado rei".
     Esse conjunto de atos deploráveis apenas exibe, com mais força, o enorme caminho que ainda terá que ser percorrido por todos os países islâmicos que adotam uma leitura medieval do Corão.

Água no chope

     O Jornal Nacional, da Rede Globo, comemorou muito mal, ontem, a conquista do Emmy, o 'Oscar do jornalismo'. Talvez tenha sido uma das piores edições dos últimos meses. Notícias pela metade, com informações incompletas e claramente incorretas; omissões indesculpáveis; e uma evidente manipulação de determinados fatos.
     Sem fazer muito esforço, lembro, de imediato, da matéria sobre as consequências da revolta de indígenas da Bolívia contra a construção de "uma estrada". Não é 'uma estrada' - e a TV Globo sabe disso. É 'A' estrada que está sendo financiada quase integralmente pelo governo brasileiro, através do BNDES; construída pela brasileira OAS; alvo de um descarado lobby do ex-presidente Lula; e um trunfo do presidente Evo Morales, para alimentar a produção de coca no país, pois abriria novas fronteiras para plantadores.
     Outra matéria apresentada de maneira pífia: a aprovação do PSD pelo TSE. Segundo a reportagem, "algumas" assinaturas do pedido de registro do novo partido teriam problemas. Não são algumas, e todos os que acompanham o noticiário sabem disso: são milhares. E mais: durante as investigações, promotores denunciaram uma indústria de captação de assinaturas, que cobra R$ 5,00 por exemplar. No meio do pacote verdadeiro, um enorme bolo de nomes que não correspondem aos documentos citados. O TSE entendeu que esses fatos não invalidariam o registro. Eu concordo, mas devem ser divulgados.
     Jornalismo, premiado ou não, tem um compromisso com o público: apresentar as informações sem a maquiagem exigida aos brilhantes repórteres e apresentadores.

Bizarrices do terceiro mundo

     Na primeira página de O Globo de hoje, lado a lado, muito bem-editados, dois momentos marcantes da história recente de um misto de demagogia escancarada e soberba disfarçada: a entrega do título de doutor honoris causa do Instituto de Ciências Políticas de Paris ao cacique caiapó Raoni; e o diploma de cidadão honorário de Paris ao ex-presidente Lula.
     Na verdade, é exatamente o contrário: Lula é o doutor e Raoni o cidadão. Mas bem que um deles poderia ser um cidadão doutor e o outro um doutor cidadão. Ou qualquer outra combinação que alguém imagine. A destacar, de fato, as expressões de condescendente superioridade dos outorgantes. Os sorrisos de 'canto de boca' e o ar 'blasè' dos doutores de verdade parisienses. Reações divertidas às bizarrices do terceiro mundo.
     Reações ao adorno labial de Raoni e ao 'conjunto da obra' do mal-ajambrado ex-presidente, ambos com enorme potencial para estudos antropológicos. Ambos caciques, um deles - Lula - mais do que o outro. Cacique pós-moderno, patrocinado por grande empresas e instituições bancárias ("as elites", como ele costuma se referir demagogicamente aos parceiros de toda hora), contratado a peso de ouro para dar palestras pelo mundo, como a que vai fazer em Londres, patrocinado pelo Santander.

Mauro Costa

A afinidade com Mauro Costa foi quase imediata. Além do seu jeito brincalhão e carinhoso, era vascaíno, como eu. Chegou ao O Jornal com a equipe de Pinheiro Júnior, vindo da antiga Ultima Hora, naqueles idos de 1970. Dividimos emoções nas arquibancadas do Maracanã, em alguns jogos do Vasco, e muitas conversa fiada. Mauro foi nosso secretário de redação por algum tempo, até se transferir para a TV Manchete e, depois, para a TV Globo. Soube hoje, pelo O Globo, que ele já não está entre nós. Embora afastados pela distância entre redações, mantivemos alguns contatos, sempre amigos. Perdemos todos, em especial o jornalismo, que teve nele uma referência.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

As marcas do obscurantismo

     A entidade Anistia Internacional revelou hoje que um tribunal da Arábia Saudita - uma das regiões mais ricas do mundo - condenou uma mulher a dez chibatadas, por ter sido flagrada comentendo um crime intolerável para os padrões muçulmanos locais: estava dirigindo um automóvel.
     Não duvido que seja uma questão de interpretação equivocada do Corão, um livro que, em tese, prega o entendimento e a paz entre os homens, como a Bíblia. Mas o que seria exceção, na verdade, é a regra nesse mundo islâmico tão diversificado.
     A intolerância e o obscurantismo, além de determinarem a vida de milhões de pessoas em países tão distintos quanto a Arábia Saudita, o Irã e o Afeganistão, por exemplo, podem decidir, também a morte de outros milhões em outras partes do mundo.
     Embora por trás de todas as disputas que marcam o nosso planeta esteja - de fato - o fator econômico, a necessidade de ampliar domínios e poder, prevalecem, no dia a dia, as radicalizações nascidas do fanatismo religioso, da ignorância, da estupidez que pune inocentes apenas por não praticarem a mesma cartilha ideológica.
     De outra forma, como explicar não só as chibatadas ou o apedrejamento de adúlteras, mas os ataques a ônibus escolares, como os praticados recentemente pelo talibã, no Afeganistão; as bombas em redutos turísticos, as decapitações públicas de 'infiéis'.

Passado comanda a PM

     A notícia da prisão, hoje, do tenente-coronel Cláudio Luiz de Oliveira, que comandava o Batalhão da Favela da Maré, sob a suspeita de ter participado ativamente da morte da juíza Patrícia Acioli, remete ao que há de pior nesse submundo que mistura policiais e crime e resiste às iniciativas de depuração vindas da sociedade.
     Normalmente, a prisão de um criminoso provoca alívio, renova a expectiva de maior segurança, alivia a carga dos honestos. Nesse caso, em especial, no entanto, a notícia provocou, em mim, uma sensação de derrota, de enorme desconforto, embora carregada de bons indícios, entre os quais o de que patentes não representam garantia de impunidade.
     É muito ruim ter a confirmação de que não podemos confiar sequer naqueles que ocupam posições de destaque justamente em uma instituição que deveria zelar pela dignidade humana, pelo respeito absoluto às leis.
     Segundo O Globo, o tenente-coronel foi acusado diretamente por um dos cabos que mataram a juíza e que denunciou seu comandante, em troca de um acordo para redução da pena e de proteção para ele e para a família, ameaçados de morte pelo grupo do qual fez parte. Na época do crime, o oficial servia em São Gonçalo e já fora indiciado pela juíza.
     A depuração na PM do Rio de Janeiro vem sendo intensa, dura e dolorosa. Infelizmente, embora atenda à premissa de não dar trégua aos bandidos travestidos de policiais, essa batalha foi incapaz de eliminar as causas, de mudar a alma de toda a corporação, de cortar de vez os vínculos com um passado de arbitrariedades consentidas e corrupção tolerada.
     A solução, talvez, só venha, mesmo, paralelamente ao aprimoramento da própria sociedade, de onde as instituições públicas selecionam seus membros. E esse processo passa por um inadiável e obrigatório comprometimento com os investimentos em educação, com a formação de cidadãos.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Ministro 'defende' seus interesses

     A Folha de hoje destaca uma entrevista com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardoso, na qual ele defende a atuação da Polícia Federal, garante que a instituição atua "independemente de quem é o réu" e critica o que chama de "pressão política".     Fica clara, na fala do ministro, a alusão às recentes decisões do Superior Tribunal de Justiça, que anulou provas de uma investigação (Operação Boi Barrica) que envolve parentes do presidente do Senado, José Sarney, por terem sido obtidas através de escutas ilegais ('Uma condenação moral', 'O Marco no Blog" de 17 setembro).
     O destemido ministro afirmou ainda que a PF chegou a tal ponto de "enraizamento institucional que ninguém a intimidará". Belas palavras, certamente. Pena que não foram ditas em defesa da atuação dos policiais na recente repressão aos escândalos no Ministério do Turismo. Ou nas investigações que redundaram em provas contra os integrantes do Mensalão e da fabricação de dossiês falsos contra políticos do PSDB.
     Ao contrário. O atual ministro, militante destacado do PT, no mínimo, se omitou quando o Governo lançou uma campanha diversionista, acusando a Polícia de ter exagerado ao algemar os acusados de corrupção no Turismo, numa tentativa clara de desviar o foco da questão.
     Nos episódios anteriores - gravíssimos -, esteve sempre, como deputado federal, ao lado dos que acusaram a PF - subordinada ao Ministério das Justiça - de ser usada para fins políticos. Na entrevista à Folha, José Eduardo Cardoso segue o figurino do 'petista gente boa', mas só quando interessa ao seu partido, ou a alguma manobra, como parece ser o caso atual.
     Ao 'defender' a Polícia Federal, o ministro está, apenas, cumprindo um papel: dar um recado à Justiça como um todo, às vésperas do julgamento do Mensalão.

Sem contraindicações

     Há uma receita infalível contra os aborrecimentos do dia a dia, a fadiga do trânsito, o descontentamento com nossos governantes e políticos em geral: um pacote completo de, no mínimo, dois dias com filhos e netos à sua volta, pedindo coisas, contando as novidades, exigindo atenção, lembrando velhas histórias. Funciona como algo semelhante a um soro de renovação aplicado diretamente no seu organismo.

Pedro e Júlia: colheita de amoras


     É bem verdade que essa maratona familiar exige um bom preparo físico para realizar, com alguma dignidade, algumas provas de resistência, tais como 'corrida com o cachorro'; 'levantamento de crianças'; 'escalada de pequenas árvores ou arbustos'; 'flexões na cadeira', a cada grito/chamada de "vovô!"; e 'agachamento para brincar de carrinho ou pegar brinquedos espalhados pelo chão'. No verão, às atividades de 'campo', somam-se os 'saltos na piscina'.
     Com o passar do tempo - é bom levar em conta -, as provas físicas ganham um novo componente: os testes de conhecimento, incluindo acesso a páginas de joguinhos da internet.
     O combustível para todas essas atividades - no entanto - surge naturalmente, a cada demonstração de carinho, a cada risada e cada abraço, a cada pedido de colo, a cada frase engraçada e normalmente inteligente.
     E o que melhor: não há contraindicações. Na pior das hipóteses, antes de deitar para dormir, depois da partida da turma, basta um Dorflex.

domingo, 25 de setembro de 2011

Mais um atentado à dignidade

     Está no Globo de hoje, domingo: um idoso morreu dentro do carro, depois que a família esperou, em vão, que ele fosse transportado para ser atendido no Hospital Estadual Adão Pereira Nunes, em Saracuruna, município de Duque de Caxias, aqui no Rio. Não havia maca disponível.   
     Talvez o fim fosse inevitável - ele tinha 87 anos. Mas a questão não é exatamente essa. Estava em jogo a dignidade humana, o direito à luta pela sobrevivência. Revoltada, a família do morto não permitiu a retirada do corpo até que perícia chegasse.
     Como mais essa situação intolerável aconteceu hoje, domingo, ainda não houve maior repercussão. Talvez um ou dois médicos sejam demitidos e o governo (seja ele qual for) divulgue uma nota lamentando o ocorrido, como aconteceu há alguns dias, no caso do jovem que foi empurrado para seis hospitais até ser atendido.
     É isso que tem acontecido com uma regularidade assustadora em todo o país. A área de saúde pública - apontada pelo governo anterior como uma referência para o mundo - dá demonstrações diárias de descaso com a população.
     Hospitais mal-equipados, funcionários mal-pagos e material sucateado exibem a face danosa da manipulação da verdade, praticada com esmero em todos os segmentos do poder. Não há dinheiro, alegam criminosamente os nossos dirigentes, ávidos por mais um imposto, outro assalto ao bolso do contribuinte que paga muito e recebe quase nada em troca.
     Na verdade, falta dignidade no trato da 'coisa pública'. Quando algum político defender o aumento da tributação, pergunte se ele aceita reduzir a verba publicitária do governo. Essa gente explora a falta de informação e vive do marketing da fantasia.

sábado, 24 de setembro de 2011

Copa da dignidade

     O eventual cancelamento da Copa de 2014 no Brasil, temor de muita gente, especialmente nas áreas esportiva e política, por razões óbvias, pode se transformar num enorme benefício para o país. Bastaria, apenas, que os bilhões de reais destinados à construção e reformas de estádios de futebol fossem revertidos para os setores de serviços públicos, sem prejuízo - é claro - dos investimentos que já estão sendo feitos principalmente nos aeroportos.
     Só a reforma do Maracanã sairá por quase R$ 1 bilhão, sem contar a fábula de dinheiro gasta há alguns anos, numa obra jogada no lixo agora. E isso ocorre num estado - o Rio de Janeiro - que não consegue atender decentemente a um jovem acidentado, como noticiado no início da semana. Não há dinheiro para a aquisição de máquinas de tomografia, mas há para remendar arquibancadas.
     Em São Paulo, numa evidente e injustificável manobra politiqueira, o Corínthians vai ganhar um estádio moderníssimo, gastando quase nada, ou muito pouco. Os cofres públicos vão bancar grande parte, tapando os olhos para os gravíssimos problemas de moradia (favelas abjetas), de trânsito, de enchentes, de segurança.
     São coisas distintas? É claro que sim. Mas todas dependem de recursos da mesma origem - em síntese, nossos impostos - e, por lógica, deveria haver uma escala de prioridades num país que ainda precisa de tudo.
     A desculpa de que essas competições deixam um legado fundamental chega ser risível. Construir estradas, túneis, melhorar o sistema de transporte e investir no saneamento são obrigações que não poderiam depender da realização de qualquer competição, por mais emocionante que seja.

Impasse palestino

     Explorando a evidente boa vontade de grande parte do mundo com o drama dos palestinos - o povo, não seus líderes e manipuladores -, o ministro das Relações Exteriores, Riyad al-Malki, já anunciou que não aceita os termos da proposta feita pelas grandes potências (representadas por Estados Unidos, Rússia, União Européia e ONU), para a retomada da negociações de paz dirertamente com Israel.
     Dessa vez, a desculpa foi a não inclusão do pedido de congelamento da expansão dos assentamentos judeus no território palestino e o retorno israelense às fronteiras de 1967, anteriores à Guerra dos Seis Dias. Certamente, se essas reivindicações estivessem em pauta haveria outra.
      A questão dos assentamentos é complicada, mas teria - em tese - alguma chance de ser levada em consideração por Israel, embora a presença física de colonos judeus em terras da Cisjordânia e em Golã seja considerada estratégica para a segurança;
     A volta às fronteiras pré-Guerra dos Seis Dias me parece fora de questão. Israel já tem reiterado que essa expansão é fundamental e consolida o programa de segurança do país, que vive o drama de constantes ataques por foguetes disparados de áreas fora do controle mais direto, como a Faixa de Gaza.
     Sem que haja negociações de paz, não há futuro para as pretensões palestinas. Israel, através de seus aliados, terá sempre a chance de impor vetos à configuração do estado palestino. A não ser que seja definido claramente o respeito à sua - de Israel - existência. O que em nenhum momento foi assegurado.

Minha frase da semana

"O destaque dado ao fato de a presidente Dilma Roussef ter sido a primeira mulher a falar na abertura da assembléia das Nações Unidas é uma grande bobagem. Tradicionalmente, cabe ao Brasil abrir o encontro. Se Lula tivesse convencido o povo a eleger uma anta, ouviríamos grunhidos. Se fosse uma girafa, não haveria discurso, pois 'girafas não falam'".

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Dirceu defende CPMF. Cuidado!

     Quem já era contra a volta da CPMF - a maioria absoluta do país - tem um motivo a mais para repudiar o imposto: segundo o Estadão, o ex-ministro da Casa Civil, o cassado José Dirceu, é a favor, e enfatizou sua posição durante uma palestra na Força Sindical.
     Se Dirceu é favor da arrecadação de mais dinheiro do distinto público, todos devem ficar atentos. A última participação direta e oficial do atual 'consultor de negócios' nos negócios da República não acabou bem, segundo a Procuradoria-Geral. Deu no que deu, o tal do Mensalão, o maior escândalo da nossa história recente.

Um ato vergonhoso

     A pantomima protagonizada ontem por dois deputados federais - um do PSDB e outro do PT - da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara é um retrato pronto e acabado do respeito que nossos congressistas têm pela função e pela Nação.
     Em apenas três minutos, segundo O Globo, os dois representantes do povo aprovaram 118 projetos, desde concessões e renovações de concessões de radiodifusão, a acordos bilaterais entre o Brasil e vários países, passando pela regulamentação da profissão de "profissionais da beleza em geral" (manicures, pedicures, cabeleireiro etc).
     Enquanto um - o do PSDB - 'presidia' (*) a sessão, o outro limitava-se a 'permanecer como estava', aprovando tudo. Pode parecer piada, mas foi issso mesmo o que aconteceu. Na ata de presença - ou seja lá o que for -, entretanto, vão surgir 36 assinaturas, deixadas lá às pressas, antes de suas excelências pegarem o primeiro avião para suas cidades, para mais um longo (quase quatro dias) e muito bem-pago fim de semana.
     É assim que banda toca nas bandas do Congresso, em Brasília. Essa gente que pede nossos votos de quatro em quatro anos mal 'trabalha' três dias por semana (de terça a quinta), ganha salários altíssimos, tem ajuda para tudo e contrata um bando de amigos às custas do nosso dinheiro. E ainda se dá o direito de fazer gracinha, como os dois citados parlamentares, um deles padre (o do PT).
     Omissa e essencialmente medíocre, a maioria dos congressistas contribui para o rebaixamento das instituições, dando - através de palavras e atos - ao poder Executivo a desculpa ideal para legislar através de medidas provisórias, ignorando o Legislativo.
     As grandes mobilizações só aparecem quando há alguma ameaça às vantagens e cota de cargos em ministérios e estatais. A letargia desaparece como por encanto, dando lugar a discursos inflamados, reuniões que avançam pela noite, ameaças, rebeliões.


(*) O presidente, de fato, dessa Comissão é o ínclito deputado federal João Paulo Cunha, do PT de São Paulo, um dos réus no processo do Mensalão. Não pode ser uma comissão séria.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Um discurso alucinado

     O plenário da Organização das Nações Unidas foi usado, mais uma vez, por Mahmoud Ahmadinejad, o misto de terrorista e presidente do Irã (mais terrorista do que presidente), para expor as teses alucinadas de um governo retrógrado, fanático e assassino.     
     Explorando a liberdade que não existe em seu país, Ahmadinejad negou o Holocausto e acusou os Estados Unidos de terem, em síntese, forjado o atentado de 11 de setembro de 2001, para usá-lo como desculpa para as guerras do Iraque e do Afeganistão, tese - aliás - também defendida por alguns idiotas brasileiros.
     E não ficou apenas nos ataques aos americanos. Segundo ele (como O Globo destaca), as "arrogantes potências ocidentais" ameaçam todos os que duvidem do Holocausto - o extermínio em massa dos judeus durante a Segunda Guerra -, um dos episódios mais repugnantes da história da humanidade.
     Em certo momento das imbecilidades proferidas livremente, no entanto, o presidente do Irã - país que executa homossexuais e adúlteros - lembrou determinados setores da - digamos - 'esquerda' brasileira, ao usar expressões como "mídia imperialista", "influência do colonialismo" e "histórico de escravidão", referindo-se aos Estados Unidos e aliados como Inglaterra.
     Como se pode depreender, a ignorância, o sectarismo e o fundamentalismo (político ou religioso) andam de braços dados em regimes e ideologias totalitários e criminosos, independentemente do matiz, ou do verniz.

Sem histrionices

     Reconheço que me surpreendo, eventualmente, entre os que aprovam determinados comportamentos da presidente Dilma Roussef. Depois de oito anos convivendo com as histrionices do ex-presidente Lula, qualquer sinal de razoabilidade, de discrição, surge como uma bênção, como um resgate da dignidade exigida pelo mais alto cargo do país.
     Essa boa vontade com nossa presidente, no entanto, não chega ao ponto de engolir de forma primária as fantasias criadas pela equipe de marketing do Palácio do Planalto. O destaque dado ao fato de Dilma Roussef ter sido a primeira mulher a falar na abertura da assembléia das Nações Unidas é uma grande bobagem.
     Tradicionalmente, cabe ao Brasil abrir o encontro. Se Lula tivesse convencido o povo a eleger uma anta, ouviríamos grunhidos. Se fosse uma girafa, não haveria discurso, pois 'girafas não falam'. A importância está (ou não) no conteúdo de seu discurso, que teve - é inegável - bons momentos e no qual procurou marcar uma posição de protagonismo, mas resvalou - em determinados instantes - na megalomania que marcou o governo anterior.
     A presunção de que o mundo deveria ter vindo ao Brasil para tomar aulas de administração de crises e de gerência deu sinais de que nossas Relações Exteriores continuam entregues a representantes do mais puro 'celsoamorinismo', uma das piores fases da história do Itamaraty.
     A referência à sua luta pelos direitos humanos no mundo foi, no mínimo, maquiada. Dilma foi presa e torturada absurdamente, sim, mas lutava não pela democracia, em si (e ela sabe disso), mas pela adoção de um regime que se mostrou , justamente, um algoz da liberdade individual, em nome de uma equivocada - e os fatos comprovam essa afirmação - prevalência do coletivo.
     A imagem que transmitiu, entretanto, ficou acima das expectativas. A presidente mostrou, com uma postura digna e controlada, que pode ser ouvida e respeitada, sem conspurcar sua função.

Caos anunciado

     Esperei até o último segundo da prorrogação ... e nada. Não há uma ponderação, sequer, quanto aos transtornos à vida da cidade que serão provocados pelo Rock in Rio. Eu não discuto a importância do evento, capacidade de mobilização etc etc etc. A questão não é essa. Para mim, o problema está no absoluto despreparo do Rio de Janeiro para receber eventos dessa magnitude.
     Despreparo, sim. Ou alguém acha normal que que avenidas fundamentais à movimentação de algumas centenas de milhares de pessoas sejam pura e simplesmente fechadas ao trânsito? Se, com elas abertas, aquela região da Zona Oeste (um misto de Barra e Recreio) já vive dias de total e incontrolável caos, imaginem o que pode acontecer durante as interdições.
     É evidente que em qualquer parte do mundo são necessárias algumas medidas para contornar inevitáveis problemas durante a realização de grandes eventos. Mas nunca a ponto de transtornar a esse ponto a vida da população. Com o agravante de tudo estar sendo realizado justamente num momento em que a região passa por obras (necessárias e muito bem-vindas, que fique claro) que testam diariamente a paciência de todos os que trafegam pelas Avenidas das Américas e Bandeirantes.
     E não para por aí a falta de estrutura da cidade. Para receber o show de um jovem cantor americano, o Engenhão ficará interditado, deixando sem casa Flamengo e Fluminense, justamente quando os dois vão se enfrentar pelo Campeonato Brasileiro. Parece até que ninguém sabia que o Maracanã só deve reabrir em 2013 e que a tabela da competição está definida há muito tempo.
     São exemplos de amadorismo e primarismo inconcebíveis.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Parâmetros para a roubalheira

    Começa mal a nova ministra do Tribunal de Contas da União, a pernambucana Ana Arraes - filha do ex-governador de Pernambuco, Miguel Arraes e mãe do atual, Eduardo Campos -, líder do PSB na Câmara. Logo na primeira entrevista após sua eleição para o TCU, se mostrou contrária à interrupção das obras consideradas irregulares ou sob suspeição. Segundo ela, "a paralisação às vezes sai mais cara".
     Pelo visto, a nova ministra não entendeu bem o objetivo do tribunal para onde está sendo conduzida. Não se trata de causar mais ou menos prejuízos, a questão é se há, ou não, 'malfeitos'. Se há roubalheira, ministra, não interessa se a paralisação vai custar mais alguns reais à Nação. Tem que parar tudo, apontar os bandidos, exigir a restituição do roubo e - de preferência - colocar a cambada na cadeia.
     Se o país seguisse o raciocínio torto da nova ministra, deixaria na rua mais da metade dos assaltantes que lotam os presídios. Afinal, sustentar a maior parte da população carcerária custa mais do que os caraminguás roubados por ela.
     Pelo que indicam as fotos e personagens da comemoração pela eleição da ministra, essa visão diferente do que vem a ser o papel do TCU atende aos interesses de uma turma bem grande. Aliás, essa posição 'liberal' era defendida pela atual presidente, Dilma Roussef, quando ainda ocupava a Casa Civil, e se via açoitada pelos óbices às obras do tal PAC.
     Se prevalecer, basta aos envolvidos nos projetos governamentais calcularem bem a bandalheira. E roubarem dentro dos novos parâmetros.

Estado palestino? Qual?

    Há uma pergunta que se pode fazer hoje, quando o Brasil, através da presidente Dilma Roussef, pediu o reconhecimento do estado palestino, na abertura da Assembléia-Geral da ONU: qual estado? O liderado por Mahmoud Abbas, na Cisjordânia, do razoavelmente moderado partido Fatah, ou o da Faixa de Gaza, dominada pelo terrorista Hamas, após violento e sangrento conflito?
     Talvez resida na própria indefinição palestina o maior entrave ao avanço das negociações que irrremediavelmente devem desaguar na institucionalização de um estado independente, algum dia. Hoje, Israel não admite imposições, decisões unilaterais. Especialmente agora, quando o frágil equilíbrio político na região parece estar sendo soterrado com as mudanças nos governos com os quais o país mantinha relativa paz, como o do Egito.
     Cada vez mais cercado por indefinições quanto ao futuro imediato e por movimentos que propõem simplesmente sua aniquilação, Israel assume posições duras, negando-se antecipamente a negociar qualquer acordo que inclua o regresso das fronteiras pré-Guerra dos seis Dias, em 1967, quando incorpou as Colinas de Golã e a parte Oriental de Jerusalém.
     A estratégia palestina, de jogar a questão da criação de um estado independente nas mãos da ONU, obedece também a um projeto de marketing político. Mesmo sabendo que a proposta será vetada pelos Estados Unidos, no Conselho de Segurança da ONU, Abbas tenta criar um clima mundial ainda mais favorável às reivindicações de seu povo, ao mesmo tempo em que busca consolidar-se como líder maior dos palestinos.
     É evidente que os palestinos, assim como todos os demais povos, têm direito a pleitear o reconhecimento de um estado independente. Nunca, entretanto, baseado na premissa da destruição de Israel, presente no ideário do fanatismo. Só existe um caminho: a negociação, abandonada justamente pelos palestinos.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Lula, o incorrigível, defende ministros demitidos

     Os conselhos não poderiam ter jorrado de uma fonte melhor. O ex-presidente Lula sabe bem do que está falando, mestre que é em negar o que todos sabem, desmentir o indesmentível, escamotear a verdade, explorar a ignorância da população em geral e, afinal, mas não finalmente, apelar para os dons histriônicos usados historicamente por parlapatões de todas as idades e credos.     
     Para Lula, não havia motivos para a saída dos responsáveis pelas pastas dos Transportes, da Agricultura e do Turismo, que "teve um problema quando era deputado". E foi além. Segundo O Globo, o ex-presidente exortou os ministros do Governo Dilma a resistirem às denúncias e disse que não se assusta, pois "a direita no Brasil, quando não tem o que fazer, a corrupção é o único tema dela".
    O mais espantoso de tudo, é que o ex-presidente cometeu essas agressões à inteligência num local que deveria ser preservado de atentados semelhantes: a Universidade Federal da Bahia, onde foi receber mais um título de Doutor Honoris Causa. Deve ser o quinto ou sexto (*) doutorado do homem - e o que é pior, ele acredita nesses títulos.
     É verdade que a Bahia é governada por um tiete, Jaques Wagner, do PT. E que o Ministério da Educação é dirigido pelo futuro candidato petista à Prefeitura de São Paulo. Também é verdade que há um bando de - digamos - 'intelectuais' que têm tremeliques, verdadeiros esgares, quando na presença do 'cara'. Mas, mesmo assim, é difícil imaginar que alguém com um mínimo de senso crítico escute essa bobajada toda sem dar gargalhadas.

(*) Quinto ou sexto? O 'cara' já tem 67 títulos de doutor, fiquei sabendo agora, ao ler matéria do Estadão. E vai receber outros, para - segundo ele - deixar a elite retrógrada doente. Vai ser interessante saber que José Sarney, Fernando Collor e semelhantes - todos parceiros, amigos e lídimos representantes das elites - ficaram doentes com os doutorados de Lula.

Descaso e omissão

     Não há desculpas, justificativas ou qualquer coisa semelhante. Um país que se propõe a gastar alguns bilhões de reais apenas na construção de estádios de futebol não tem o direito de protagonizar histórias como a vivida pelo jovem Gabriel Paulino, de apenas 21 anos, no Rio de Janeiro.
     O drama do rapaz, que foi exposto nos programas de tevê matinais de hoje, chegou às páginas dos jornais na internet. Vítima de uma queda, quando tentava fazer um trabalho na laje de sua casa, no município de Xerém (Baixada Fluminense), passou sete horas sendo jogado de um hospital para outro, até conseguir uma vaga.
     Politraumatizado, em estado muito grave, finalmente conseguiu ser incluído em uma lista de espera para ser operado. E só conseguiu - vou me dar o direito de especular - porque seu caso foi tema do programa da apresentadora Ana Maria Braga, da Tevê Globo.
     Se a família não conseguisse repercutir o drama, talvez ainda estivesse em busca de um leito hospitalar, ou - como acontece diariamente - em uma maca no corredor de uma enfermaria qualquer.
     Eu não discuto a importância de eventos com a Copa do Mundo e as Olímpiadas. Apenas não consigo aceitar passivamente os critérios de investimentos. Isso, sem falar na corrupção endêmica, que suga pelo menos 15% - a 'comissão' normal - dos recursos públicos.

A 'nova' cara do PT

     A senadora Marta Suplicy (PT-SP), que passou a última campanha segurando os copos de água da então candidata Dilma Roussef, durante os comícios, corre o risco de se ver obrigada novamente ao papel de coadjuvante na próxima eleição para a prefeitura paulistana.
     Apesar de todas as pesquisas de opinião apontarem para sua liderança, o Partido dos Trabalhadores, seguindo determinação do ex-presidente Lula, deve indicar o atual ministro da Educação, Fernando Haddad, que tem no currículo o extermínio das concordâncias e os escândalos no Enem.
     O deputado federal João Paulo Cunha, outro nome de peso no universo petista, também está em campanha, mas pela prefeitura de Osasco. Réu no processo do Mensalão, conta com o tempo e a falta de informação da população em geral. No meio do caminho, no entanto, uma enorme pedreira: o julgamento da sua participação no escândalo (sua mulher foi flagrada, na boca do cofre, retirando R$ 50 mil).
     São dois personagens distintos, com históricos bem diferentes. Haddad aposta no fato de ser um político novo, uma espécie de Dilma Roussef de terceiro time, e na força política do ex-presidente, capaz de eleger - é inegável, infelizmente - um poste 'batizado' por cachorros.
     João Paulo, ao contrário, representa o PT tradicional, fechado com Lula e de portas escancaradas para o ex-ministro José Dirceu e outros do mesmo time.
     As diferenças, no entanto, são apenas de fachada. O espírito é o mesmo. Acima de qualquer divergência, há um bem-estruturado projeto de poder, capaz de aliviar distensões e reduzir defecções.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Mais uma 'petice'

     Seria apenas mais uma 'petice' (bobagem proferida com rosto carrancudo, olhar injetado e voz esganiçada; o mesmo que 'lulice'), se não fosse trágico, uma quase confissão de incapacidade gerencial. Com o agravante que partiu, justamente, de quem, em tese, se espera algum projeto, visão de futuro.    
    Para espanto de todos que a ouviram, a ministra Miriam Belchior, do Planejamento, não teve o menor constragimento em dizer que as obras destinadas a melhorar o sistema de transporte das cidades onde serão realizados os jogos da Copa do Mundo não são essenciais.
     Com aquele jeito petista de ser, a ministra que deveria planejar destacou - e a Veja registrou -  que basta decretar feriado nas cidades, nos dias de jogos, para eliminar os problemas do trãnsito. Simples assim.
     Os milhões de brasileiros que sofrem de segunda a segunda com engarrafamentos quilométricos agradeceriam se a preclara ministra decretasse feriados diários. Assim, não haveria problemas em parte alguma. Pensando bem, se ninguém mais trabalhasse, fosse à escola, fizesse compras ou saísse de casa para lazer, não haveria necessidade sequer de cidades e de países.
     No caso brasileiro, ao menos restaria o consolo de saber que não teríamos uma Miriam Belchior planejando nosso futuro.

Profissionais da paixão

     Ontem, foram os 'torcedores' do Palmeiras, do Santos e do Coríntians que, mais uma vez, protagonizaram cenas de vandalismo explícito. Há alguns dias, tricolores perseguiram o atacante Fred, em alta velocidade, pelas ruas do Rio. Vascaínos, na arquibancada do Engenhão, na última partida com o Flamengo, brigaram entre si, cena comum entre as facções rubro-negras.
     Hoje, na sede do Flamengo, durante a apresentação do novo uniforme, um desqualificado, 'conselheiro' do clube, atacou a socos e pontapés um jornalista, irritado com eventuais críticas. Em quase todos os clubes, são comuns as demonstrações de violência de integrantes de torcidas organizadas, esse tumor que se alastra, irrigado pelas benesses das diretorias, que as usam nos seus projetos eleitorais.
     Já é tempo de alguém dar um basta nesse comportamento. A paixão não pode servir de desculpa para a violência. Não pode mascarar interesses políticos e financeiros. Financeiros, sim. 'Torcedores organizados' há muito exploram e vivem da paixão desinteressada do torcedor comum.

O impasse palestino

     Existe um ponto absolutamente pragmático que torna impraticável qualquer iniciativa palestina de criar um estado independente: a exigência à volta das fronteiras que antecederam a Guerra dos Seis Dias, de 1967, quando Israel conquistou territórios sob o domínio da Jordânia (a Cisjordânia), Egito (parte de Jerusalém e a Faixa de Gaza) e Síria (as colinas de Golâ).
     Os israelenses sequer admitem colocar essas questões em discussão. As áreas ocupadas constituem um verdadeiro cinturão de segurança para o país, que vive sob constante ameaça. Na Cisjordânia, qualquer retrocesso representaria, no mínimo, a obrigação de retirar algo em torno de 300 mil colonos judeus espalhados por mais de 100 assentamentos (considerados ilegais pela ONU). Algo fisicamente dificílimo e politicamente impossível.
     Por seu lado, os palestinos não abrem mão da retomada integral de Jerusalém e da retirada total dos colonos. A Autoridade Nacional Palestina, chefiada por Mahmoud Abbas, que vai apresentar o pedido de reconhecimento do Estado Palestino na ONU, ainda pode ser considerada um pouco menos radical nas suas pretensões, se comparada ao Hamas, que domina a Faixa de Gaza e que prega, simplesmente, a destruição de Israel.
     A iniciativa palestina - que será abortada pelos Estados Unidos, no Conselho de Segurança da ONU, mesmo se aprovada na Assembléia Geral que começa depois de amanhã - acrescenta mais tensão a uma região conflagrada e deixa Israel ainda mais isolado. O país e a relativa calma do pós-guerra de 67 foram atingidos diretamente pelas mudanças políticas que romperam o equilíbrio dos acordos com ditadores expelidos do poder.

domingo, 18 de setembro de 2011

Não dá pedal

     Ao contrário do que pregam a campanha de O Globo e alguns desavisados oficiais, o Rio não dá pedal. Andar de bicicleta nos corredores de trânsito - não podemos sequer dizer que temos uma estrutura mínima de ciclovias - é mais do que um desafio, é um risco à integridade física, tal o descompromisso dos motoristas em geral com as normas de segurança e civilidade.
     Além do mais, falar em uso de bicicletas como alternativa válida ao sistema de transporte tradicional, em uma cidade como o Rio, beira o deboche. Andar de bicicleta, por aqui, só é possível em lugares determinados, como o entorno da Lagoa e a orla. Assim mesmo, enfrentando a ameaça dos assaltos.
     Alguém razoavelmente equilibrado pode se imaginar pedalando pela Avenida Brasil, por exemplo, ou pela antiga Avenida Suburbana? Em primeiro lugar, seria necessário um enorme investimento na definição das pistas exclusivas, que atenderiam, na verdade, a deslocamentos curtos. Do Leblon para Ipanema é fácil e extremamente agradável. Eu quero ver pedalar de Osvaldo Cruz para São Cristóvão.
     A bicicleta, no Rio, ao contrário do que acontece em cidades europeias, é apenas uma ótima opção de lazer e um excelente auxiliar na manutenção do preparo físico, não uma alternativa ao carro, ônibus e trens, como seria o ideal. Em alguns bairros afastados (Santa Cruz é um exemplo), funciona, sim, como um elo entre a casa e o transporte, especialmente os trens suburbanos.
     Por ser um obra barata e funcional, a construção de bicicletários em rodoviárias e estações de trem - especialmente nos subúrbios mais distantes - deveria merecer mais atenção. Nessas áreas, o trânsito é menos pesado e os atropelamentos menos assustadores. O resto é jogar para as arquibancadas.

sábado, 17 de setembro de 2011

Uma condenação moral

     Há uma frase usada frequentemente pelos nossos políticos e com a qual eu até concordo: decisão judicial é para ser cumprida. Afinal, os tribunais existem justamente para decidir, encerrar uma questão. E nós precisamos acreditar que a Justiça é ... justa, caso contrário as próprias instituições estariam em risco.
     Por esse prisma, não discuto a decisão do Superior Tribunal de Justiça, que anulou todas as provas obtidas pela Polícia Federal na investigação das atividades do empresário Fernando Sarney, filho do senador José Sarney, ex-presidente da República, atual presidente do Senado e - sem a menor dúvida - um dos três homens mais poderosos do país, atrás, apenas, do também ex-presidente Lula e da atual mandatária, Dilma Roussef.
     Segundo o Tribunal, todas as evidências de ilícitos surgiram de escutas telefônicas ilegais, o que as invalidaria. A decisão não poderia ser outra. A Constituição Federal de 1988, ao tratar das provas ilícitas ou ilegítimas, estabelece em seu artigo 5°, inciso LVI, que elas são inadmissíveis no processo (é a tese advinda do direito norte-americano, que, por sua vez, deriva do preceito bíblico de que uma 'árvore envenenada não pode dar bons frutos').
     Não podemos esquecer, no entanto - e esse é o meu foco -, que há dois julgamentos em questão. O formal, decidido pelo STJ, e o público, que começa a ser manifestado pela população, que dá sinais de que não aceita mais conviver com corrupção, roubos, assaltos à dignidade, desvios de conduta dos detentores do poder e/ou de seus apaniguados.
     Nesse segundo tribunal, a família Sarney certamente será condenada ao fogo eterno (ao lado de mensaleiros e outros vigaristas), tantos e tão constantes são seus malfeitos. Isso, apesar da omissão criminosa de algumas de suas importantes 'entidades representativas', como as cooptadas centrais sindicais e a moralmente falida UNE.

Um retrocesso no mercado

 
     Durante os anos em que tive o prazer de editar o caderno de automóveis do velho e ainda decente Jornal do Brasil, na década de 1990, mergulhei o mais fundo que pude no mercado, além de aprimorar técnicas de condução, em cursos e observando colegas mais antigos e bem preparados, como o excelente Bob Sharp (engenheiro, jornalista e piloto), que me ajudou a entender um pouco mais desse mundo.
     Acompanhei de perto a mudança de conceitos de produção e as exigências do novo consumidor brasileiro, provocada pela abertura do mercado. Nossos carros ficaram mais modernos e seguros, sim, para enfrentar a concorrência que, naquela época, tinha um toque de aventureira. Os importados eram despejados nos portos e chegavam às ruas, sem um compromisso mais eficiente. Mas essa presença foi suficiente para mexer com as marcas 'nacionais'.
     Pouco tempo depois do 'boom', os importados passaram a ser um transtorno para seus compradores (o pós-venda era catastrófico e, quando existia, absurdamente caro) e o mercado se encarregou de praticamente eliminar esse segmento.
     A história, no entanto, começou - há alguns anos - a ser reescrita pelas marcas além-mares. Japones e coreanos, em especial, redescobriram o Brasil, adotando novas táticas e aproveitando o momento da economia mundial, favorável aos emergentes. Algumas fábricas de fato, muitas expectativas e modelos competitivos deram nova feição a esse disputadíssimo segmento da economia e expuseram, mais uma vez, um dos males nacionais: nossos produtos são caros, muito mais caros do que em quase todo o mundo.
      E são caros, entre outros motivos, pela absurda carga tributária. Já contei aqui o caso do Palio Weekend, criado e fabricado em Betim, que chegava ao comprador italiano mais em conta do que para o brasileiro, depois de cruzar estradas e atravessar um oceano.
     A decisão governamental, de sobretaxar os modelos importados que tenham abaixo de 65% de nacionalização, sob o argumento de proteger a indústria brasileira e preservar o emprego, é mais uma demonstração da luta politicamente correta, mas com as armas erradas. Ao impor um aumento compulsório nos importados, a decisão, além de penalizar o bolso do consumidor, pode gerar uma nova acomodação da indústria nacional, que se veria livre da pressão da concorrência por preços e qualidade.
     Sou obrigado a concordar com parte do desabafo do presidente da Associação Brasileira de Empresas Importadoras de Veículos Automotores (Abeiva), José Luiz Gandini, ao jornal O Estado de São Paulo: "O carro brasileiro é um dos mais caros do mundo e nós estávamos incomodando, fazendo com que eles (as mondadoras nacionais) trouxessem o preço do carro para a realidade. A medida acaba com o balizamento de preço de carros no Brasil."

Minha frase da semana

"Já é tempo de a presidente Dilma Roussef começar a governar. Ou, então, deve admitir sua incompetência e confessar que está apenas esquentando a cadeira que a companheirada espera que seja ocupada novamente por Lula."

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

A opção simplista

     Estamos combinados: para proteger a indústria nacional do que classifica de concorrência desleal dos importados, o Governo decidiu aumentar o IPI dos veículos que não tenham, pelo menos, 65% de peças nacionais. Com isso, as quatro grandes montadoras 'nacionais' vão poder continuar vendendo, sem muitas ameaças e a preços irreais, carros menos equipados e com projetos mais antigos dos que são oferecidos no resto do mundo.
     Não quero dizer, com isso, que determinados carros chineses são opções mais indicados aos fabricados por aqui. Entre veículos semelhantes, eu sempre ficaria com o nacional, especialmente pelo pós-venda. A questão não é apenas essa. Eu apenas defendo o direito à opção. Se o consumidor pode comprar um veículo completo mais em conta do que o similar nacional, melhor para ele.
     Impor essa barreira financeira - essa decisão nada mais é do que um aumento compulsório no preço do produto - é uma saída cômoda. Em nenhum momento houve a discussão, essa sim fundamental, sobre os motivos que levam os carros nacionais a serem tão caros. E não me venham com a resposta simplista que pode ser aplicada às sombrinhas fabricadas na China. Nossos veículos são caros porque a carga tributária é absurda e porque nossa indústria ainda não investiu o necessário na tecnologia que poderia reduzir o custo de produção. Não apenas porque nossa operários são mais bem pagos do que os quase escravos chineses.
     Até por que nem só de chineses vive o mercado de carros importandos.

Brado de independência

     A presidente Dilma Roussef - por improvável empolgação de momento, ou por um insuspeito, mas provável maquiavelismo - pode ter dado, ontem, o seu brado de independência em relação ao antecessor, sombra constante e ameaça real ao seu segundo mandato. O seu "Viva o PMDB", algo jamais imaginado na voz de um líder do PT, levou às nuvens os caciques de sempre, liderados pelo onipresente José Sarney.
     E o PMDB respondeu à altura, soterrando as amarguras provocadas pela demissão em série de ministros da sigla (substituídos imediatamente por correligionários, é claro) e pelas sequelas da associação do partido a 'malfeitos'.
     O "partido mais brasileiro", segundo os discursos ufanistas que envolveram a presença da presidente no Fórum realizado em Brasília, mostrou que está com Dilma e não abre. Para o que der e vier. Talvez, até, para um eventual enfrentamento com o os setores do PT que trabalham para a candidatura de Lula em 2014.
     A presidente, ao prestigiar o encontro do PMDB e, em especial, o grupo de José Sarney, consolida a base necessária à sua governança - que já deveria ter começado. Paralelamente, ao afagar o PSDB do governador Geraldo Alckmin, a quem chamou de "parceiro excepcional", no início da semana, Dilma Roussef mostra que está decidida a ampliar o leque de conversas, mesmo desagradando - como desagradou - o seu partido de adoção (não podemos esquecer que ela se formou politicamente no antigo PDT, de Leonal Brizola).
    E nunca é tarde para lembrar as renovadas demonstrações de apreço ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, tratado com deferência pela atual presidente, para desespero dos que demonizaram o antecessor de Lula.
   

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

A reafirmação do PMDB

     O PMDB tem dado demonstrações diárias de sua inquebrantável capacidade de se manter no poder, a qualquer custo, a qualquer preço. Mudam os presidentes, o partido permanece. É bem verdade que abriu mão da veleidade de disputar o cargo mais importante da República. Deixou essa tarefa para os outros. O importante é estar presente na hora da divisão do bolo, ecoando, em escala nacional, a frase do ex-presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, que pleiteava, para seus parceiros, "aquela diretoria que fura poço". Diretoria da Petrobras e poço de petróleo, é claro, que ele de simplório só tem o jeito.      Atropelado por mais uma demissão de ministro do seu latifúndio 'político', o partido não se abala. Sai um, entra outro, com os mesmos compromissos, certamente. Reunidos em Brasília, num encontro nacional, seus - dele, PMDB - líderes dão o tom da repercussão da nova cacetada moral que se abateu sobre o Governo Dilma.
     Na Folha, o presidente nacional do partido, senador Valdir Raupp, de Rondônia, garante que o processo de substituição de ministros é natural e que não há sequelas, esquecendo, convenientemente, que não houve simples substituições, mas mudanças decorrentes de denúncias de corrupção.
     O líder do partido no Senado, Renan Calheiros, de Alagoas, reforça a mensagem. Segundo ele, o PMDB vive um "excepcional momento". Deve ser verdade. Apesar de todos os escândalos, o domínio sobre as 'diretorias que furam poços' continuou o mesmo. Assim como se aprofundou a convergência de ideais e objetivos entre os dois maiores partidos brasileiros, o velho PMDB e o velhíssimo PT.
     E o senador José Sarney, não fala? Não precisa. Ele manda.

O governo que não começou

     Ficamos sabendo, pelas manchetes de hoje, que o novo ministro do Turismo, o deputado federal Gastão Vieira, do PMDB do Maranhão, é ligado ao ex-presidente da República e presidente do Senado, José Sarney, eleito pelo Amapá. Assim como ele, os demais ocupantes de ministérios estão nos cargos porque são ligados a alguém e/ou a algum grupo, não necessariamente um partido político.
     Ou estão nas funções apenas porque perderam as últimas eleições das quais participaram, como é o caso dos petistas Ideli Salvatti (Relações Institucionais, seja lá isso o que for) e Aloísio Mercadante (Ciência e Tecnologia). Os ministérios, no caso, são uma espécie de prêmio de consolação, um meio de manter a fidelidade e, ao mesmo tempo, pagar por ela. Ou alguém acredita que Mercadante seja um cientista enrustido?
    Nessa República do 'toma lá dá cá' - negado pela presidente Dilma Roussef na já famosa entrevista do Fantástico, da Rede Globo, mas que todos sabem que prevalece -, não é de estranhar tantos desatinos ao longo dos últimos anos. A meritocracia é atropelada diariamente pela subserviência, pela política do conchavo. O absurdo chega a tal ponto que a presidente da República - a se acreditar nas notícias que saem do próprio Palácio - desaprovava (e ainda desaprova) diversos componentes do seu primeiro escalão.
     É verdade que ela chegou à função sem poderes reais, atrelada unicamente ao prestígio do seu antecessor. Por isso, teria sido obrigada - em tese - a engolir o que lhe Lula e seus 'aliados' enfiaram por sua goela, numa atitude que apequena o cargo que ocupa. Não interessa se ela, a presidente, está no Palácio graças ao ex-presidente. O fato é que é a presidente de fato e de direito. Portanto, já é tempo de começar a governar. Ou, então, deve admitir sua incompetência e confessar que está apenas esquentando a cadeira que a companheirada espera que seja ocupada novamente por Lula.
     O país já não suporta mais tantos escândalos.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

O modelo da corrupção

     Sai (já está saindo há algum tempo) Pedro Novais (PMDB-PE) e entra outro do mesmo partido - seja lá quem for, o nome não importa. Assim como saíram os ex-mandatários dos Transportes e da Agricultura, deixando seus lugares para companheiros de agremiação e da tal base de sustentação do governo.
     O perfil - digamos - 'administrativo' não muda. A questão primordial é garantir as vagas da turma nos cargos comissionados e outros. Cada partido da base tem direito a uma cota de empregos, e ela precisa ser garantida, independentemente da qualificação dos ocupantes das funções.
     É assim que o país é governado, historicamente. Um modelo medíocre e suscetível à corrupção, mas que foi aprimorado pelo partido majoritário ano após ano, até se transformar nesse imenso cartório que envergonha e espolia a nação.
     Esse quadro explica a incrível sucessão de escândalos dos últimos anos. Ministros são obrigados a pedir demissão regularmente, envolvidos em 'malfeitos', para usar uma palavra ao gosto da presidente. E não apenas a turma do segundo escalão palaciano. De Antonio Palocci a Pedro Novais, foram defenestrados alguns pardais - é verdade -, mas muitos cardeais vistosos. Além de alguns pavões, ainda poderosos, que insistem em abrir seus leques.

Um país sem gestão

     Depois da badalada entrevista ao Fantástico, da Rede Globo, domingo (confesso que só vi algumas chamadas, por acaso, no intervalo do jogo do Vasco), na qual descartou a volta da CPMF, a presidente Dilma Roussef acentuou, hoje, em entrevista - desta vez - coletiva, a necessidade de mais recursos para a área de Saúde e minimizou a importância da gestão dos recursos públicos. Acho que a presidente não leu a manchete do jornal O Globo, ou a síntese do noticiário preparada pelos seus assessores.      Não chego a dizer que apenas a gestão séria e responsável do caixa do Governo resolveria os problemas da saúde brasileira. Mas evitaria, certamente, o roubo de R$ 2,3 bilhões registrado nos últimos oito anos da administração petista. Um dinheiro que poderia ter sido utilizado para reduzir o vergonhoso quadro de atendimento da população. Isso, sem falar nos demais escândalos registrados nos ministérios dos Transportes, Agricultura e Turismo, para ficarmos apenas nos mais recentes.
     Temos, então, que gestão é importante, sim, presidente. Até para dar uma finalidade justa ao estratosférico montante de impostos arrecadado pelo Governo, que quebrou, recentemente, recordes históricos. Faltando, ainda, quatro meses para o fim do ano, a população - de formas direta e indireta - já pagou mais de R$ 1 trilhão. E recebeu muito pouco por isso.
     Nossos hospitais e estradas - os verdadeiros, não aqueles dos filmetes de propaganda quer ajudaram a aleger o atual governo - estão sucateados. Os programas habitacionais jamais estiverem sequer próximos dos números fantasiosos apresentados como verdade. A situação do saneamento é lastimável. Cidades como o Rio sofrem com a falta de rede de esgotos e com o despejo in natura nos rios, lagoas, baías e oceano.
     A educação pública exibe seu fracasso a cada Enem. A segurança tromba com a audácia cada vez maior dos criminosos. E, para 'coroar' esse quadro, repetem-se, nos três poderes, demonstrações explícitas de descaso com a opinião pública.
     Falta gestão, sim, presidente. Em todos os níveis.

domingo, 11 de setembro de 2011

Esse alemão ...

     O Grande Prêmio de Monza, pelas características da pista, veloz e com bons pontos de ultrapassagem, foi um dos melhores do ano. Teve de tudo um pouco, incluindo uma batida espetacular logo no início e alguns pegas memoraveis.
     Mais uma vez prevaleceu não apenas o melhor carro (RBR), mas, sem dúvida, um grande piloto, o atual campeão (quase bicampeão) Sebastian Vettel. Foi sua oitava vitória em 13 corridas, este ano, com direito a uma sensacional retomada da primeira posição, ultrapassando o espanhol Fernando Alonso, da Ferrari, que acabou em terceiro lugar (Jason Buttton, da McLarem foi o segundo colocado).
     Vettel, a cada prova, mostra que chegou à Fórmula 1 decidido a marcar uma época, seguindo os passos do seu compatriota Michael Schumacher (Mercedes), que conquistou sua melhor colocação - um quinto lugar - depois da volta às pistas.
     Felipe Massa (Ferrari) ficou com um modesto sexto lugar e Bruno Sena em nono. Foram os primeiros pontos de Sena na F-1.

O rival do PMDB

     A partir de terça-feira, quando do seu lançamento oficial, o PSD do prefeito paulistano Gilberto Kassab entra de sola na disputa com o velho PMDB pelo título de partido mais adesista e a favor de tudo do país, como mostra - com outras palavras - o Estadão  de hoje.
     Embora tenha se anunciado como 'independente' em relação ao governo federal, ninguém leva essa afirmação a sério. Basta analisar a capacidade que o novo partido tem de se ajeitar e aderir aos poderosos de plantão, sejam eles do PT, do PSDB, do DEM ou do PR.
     Oposição, oficial, apenas em três estados. Mesmo assim, sujeita aos - digamos - interesses da nação (nação com letra minúscula, sinômino de grupo com 'objetivos' comuns).
     Na prática, pela 'diversidade ideológica' demonstrada nas suas alianças e acertos, o PSD tem tudo para ser um dos pontos de apoio de qualquer governo, desde, é claro, que sua importância seja reconhecida através de postos em todas as esferas de poder.
     Seus trunfos já foram apresentados amplamente: dois governadores (Omar Aziz, do Amazonas, e Raimundo Colombo, de Santa Catarina), dois senadores, 49 deputados federais e cinco vice-governadores. É uma tropa respeitável, pelo menos em termos numéricos.
     "O PSD nasce eclético e novo na forma de fazer política", definiu ao Estadão um dos cinco vice-governadores da legenda, Robinson Faria, do Rio Grande do Norte, ex-PMN.
     Eclético e novo. Só pode ser deboche.

sábado, 10 de setembro de 2011

A farra da Câmara

     Na trilha da irresponsabilidade e do deboche com a população, a Câmara dos Deputados - essa casa de pessoas tolerantes a ponto de absolver companheiros flagrados recebendo propina - anuncia reajustes para seu pessoal.
     Isso quer dizer o seguinte: todos vão se locupletar com o acréscimo de R$ 207 milhões nos gastos anuais. Dos servidores concursados à turma contratada apenas por indicação política, para ocupar os tais Cargos de Natureza Especial nos gabinetes de suas excelências.
     Com a desfaçatez que lhe é peculiar, a direção da Câmara, segundo o Estadão, justificou o aumento da turma 'Especial' (de R$ 12 mil para ... R$ 15 mil) argumentando que, assim, os parlamentares poderão contratar pessoas mais qualificadas para sua assessoria.
     De acordo com a notícia, a turma que manda na Câmara, presidida pelo deputado Marco Maia, do PT, alegou ainda que muitos aprovados em concursos desistem em virtude dos baixos salários. E que nem mesmo esse aumento vai equiparar os salários dos servidores da Câmara com os do Senado.
     É muito cinismo.

Minha frase da semana

"Esse tal de Mensalão ainda vai assombrar muita gente, durante muito tempo."

Exército não é polícia

     O Estadão de hoje dá espaço a um tema que fica mais atual a cada tiro disparado no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro: o risco à sua imagem que o Exército vem correndo desde a ocupação desse conjunto de favelas na Zona Norte da cidade.     
     O alerta, na reportagem, é dado por um especialista no assunto, o cientista político Jorge da Silva, que acumula, no currículo, o fato de ser coronel da reserva, ter comandado o Estado-Maior da Polícia Militar e ter ocupado a Secretaria de Direitos Humanos do Rio.
     Segundo ele, o Exército "não foi feito para mediação". Tem toda a razão. As Forças Armadas, em geral, são preparadas para o embate definitivo e não podem sofrer a ameaça de perder o respeito da população, pois são símbolos da Nação.
     Em uma situação extrema, de confronto, um policial pode, até, abrir mão de alguns conceitos e atitudes. É preparado para isso. Um militar, não, pela sua própria formação. Seria impensável, por exemplo, que se repetisse uma cena que ficou gravada na memória de quantos acompanham os enfrentamentos nas favelas cariocas: há alguns anos, uma moradora de comunidade carente, reagindo à presença da polícia, foi fotografada acertando um vigoroso tapa no rosto de um acuado major da PM.
     A foto - perdoe-me o autor, por não lembrar seu nome - ganhou merecidamente o Prêmio Esso e, mais do que isso, inaugurou, para mim, um período de absoluto desrespeito à ação policial, agravado - é claro - pela recorrência de atos indignos dos agentes da Lei.
     Voltando ao cenário atual, fico imaginando uma situação semelhante, envolvendo, por exemplo, um oficial do Exército, da mesma patente. Seria a desmoralização total da instituição.
     As Forças Armadas não podem se dar ao luxo de correr esse risco.

Os 300 de Tarso

     Vamos a um exemplo, esse, sim, clássico, claro e direto, de aparelhamento ilegal do Estado com apaniguados. O governador gaúcho, Tarso Genro, do PT, é claro, está fazendo o que pode para reverter decisão do Tribunal de Justiça e manter nos cargos até 300 - é isso mesmo, TREZENTOS - companheiros aos quais nomeu para funções comissionadas.
     Os desembargadores do Rio Grande do Sul haviam decidido que as nomeações são irregulares e que os cargos devem ser preenchidos através de concurso público. Simples assim. Mas o ex-ministro da Justiça do governo Lula, o poeta do onanismo, na sua (da palavra) interpretação mais comum, insiste e vai atrás dos votos da Assembléia Estadual.
     É mais uma demonstração do respeito que o PT oferece às normas de decência no trato da coisa pública. Apenas como exercício de raciocínio, imaginem o aparelhamento nos ministérios, estatais e quetais.

O 'calvário' do PT

     Dependendo da interpretação que se dê a alguns dos argumentos do ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares, na defesa que apresentou ao Supremo Tribunal Federal, no caso do Mensalão, podemos 'admitir' que ele até que tem alguma razão.     
     Em determinado trecho de suas explicações, Delúbio - está lá, no O Globo - compara seu sofrimento à condenação de Jesus Cristo. É verdade. Cristo, como sabemos, foi morto entre dois ladrões. Delúbio, de acordo com a denúncia da Procuradoria-Geral da República, está sendo julgado ao lado não de apenas dois, mas de algumas dezenas de assaltantes dos cofres públicos. E há quem garanta que ainda falta alguém na lista.
     Seguindo nesse raciocínio, a defesa do reabilitado prócer petista investe na surrada tese do prosaico Caixa 2, os tais recursos não-contabilizados, crime que - adivinhem!!! - já prescreveu. Como o papel aceita qualquer coisa, Delúbio argumenta que usou os préstimos do publicitário marcos Valério para pegar empréstimos nos bancos Rural e BMG e, com esse dinheiro, quitar débitos da campanha de 2002.
     Mais adiante, alega que só fez os pagamentos em dinheiro vivo, notas novinhas, porque não havia registro na contabilidade do partido. Acho que ele esqueceu de combinar essa versão com o deputado João Paulo Cunha (PT-SP), cuja mulher foi flagrada e devidamente filmada na boca de um cofre bancário, recebendo R$ 50 mil.
     Pressionado, o ex-presidente da Câmara - é isso mesmo, ele presidia a Câmara -, saiu-se com algumas versões para o fragrante. Uma delas: a mulher estava pagando a mensalidade da tevê a cabo.
     Seguindo na mesma linha, o ex-ministro José Dirceu, apontado no processo como o chefe da quadrilha, afirma que as investigações provaram que o Mensalão não existiu. Para dar mais - digamos - 'suporte' às alegações, a defesa de José Dirceu acena com depoimentos do ex-presidente Lula e da atual presidente Dilma Roussef.
     Esse tal de Mensalão ainda vai dar causar muita dor de cabeça.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

O Rio sem Cristo

     Há alguns dias, a excelente Cora Ronai nos brindou, na ótima coluna semanal que escreve em O Globo, com uma frase talvez mal-colocada, ou mal-elaborada. Ao se referir a uma foto do Cristo Redentor que pensou em fazer, mas não fez, destacou que ela - a tal fotografia - seria redundante, pois não conhece quem não tenha uma 'vista' do monumento. Hoje, quem sabe inspirado na coluna, o jornal, a propósito da festa de 80 anos do Cristo, convida os leitores a enviarem fotos tiradas da janela de casa.
     Eu não diria que conheço, literalmente, mas sei que pelo menos 90% das pessoas que moram nessa cidade, abençoada por Deus e bonita por natureza, não conseguem ver o Cristo, exceto por fotos ou nas imagens da tevê. E mais, muitos mais, não conseguiriam fotografá-lo de suas janelas, mesmo habitando no que eu, um dia, chamei de Rio do A, aquele Rio que acompanha a orla marítima e segue - com boa vontade - até o limite entre Barra e Recreio.
     O outro Rio, o Rio do B, a cidade que não aparece nos cartões postais, por feia e abandonada, fica para 'lá do túnel', como se dizia, por lá, há alguns anos, e normalmente se debruça sobre monumentos ao desleixo, a bordo de ônibus sucateados, trens calorentos, vans alucinadas e kombis criminosas.
     Há algum tempo, por obra e graça das reformas para a Copa do Mundo, os moradores desse Rio estão privados até mesmo da visão do 'monumento' mais próximo de sua realidade: a 'estátua do Bellini', na entrada principal do Maracanã.
     É claro que Cora Ronai não teve qualquer intenção menos nobre. Especialmente ela, que sempre encampa boas lutas. Apenas refletiu a ideia glamurizada de um Rio que, na verdade, tem várias faces. 

Corrupção comprovada

     Se algum motivo houvesse para o governo brasileiro reagir à acusação da diplomacia americana de que a corrupção nos governos Lula era constante e atingia os Três Poderes (divulgada pelo site Wikileaks), ele foi soterrado pelo mais recente relatório da Controladoria-Geral da União (CGU) sobre desvio de verbas no Ministério dos Transportes.
     A Controladoria identificou claramente dezenas de irregularidades no Ministério, responsáveis por um prejuízo de cerca de R$ 680 milhões em R$ 5 bilhões avaliados. Um valor bem dentro da média das 'comissões' pagas indevidamente: algo em torno de 13,5%. Com esse dinheiro, muito se poderia fazer pela Saúde, por exemplo.
     Não são especulações nem denúncias vazias de jornais, revistas e/ou emissoras de televisão. São conclusões de um estudo técnico, apartidário. Não há como fugir, ou tentar escamotear a verdade. Havia roubo, sim, na pasta que era dirigida pelo senador e ex-ministro Alfredo Nascimento, presidente do Partido da República, parceiro do Governo.
     A reação de Nascimento beira o surrealismo. Em nota, segundo O Globo, o senador afirma que "mantém sua determinação de ver as suspeitas veiculadas pela imprensa, sem a apresentação de provas, esclarecidas de modo cabal pelos órgãos de investigação". Provas? Mais? Basta ver o relatório da CGU, que se limitou aos Transportes, mas que pode estender sua varredura aos ministérios da Agricultura e Turismo, alvos de ataques de todos os lados.
     A conclusão da Comissão apenas reforça a avaliação enviada pelo ex-embaixador americano, Thomas Shannon, ao procurador-geral de seu país. Corrupção, aqui nessas bandas, é um dado 'cultural' e normalmente impune.

Funcionários e 'nomeados'

     Acredito que a interpretação dada aos números do IPEA sobre o aumento de funcionários públicos registrado nos governos Lula está equivocada. É verdade, sim, que houve um inchaço no funcionalismo (mais 155, contra 50 mil do período de Fernando Henrique), mas que pode ser atribuído - sem qualquer problema - às novas necessidades do país, que passou por uma fase de crescimento, e isso é indiscutível.
     Mais: esse aumento foi registrado em funcionários concursados, gente que passou pelas barreiras das provas e que atende à legislação. Não se trata de empreguismo. O grande problema das últimas gestões petistas não reside exatamente nesse ponto. A questão maior está na legião de nomeados para funções de assessoramento, cargos de confiança e coisas semelhantes.
      São 'funcionários' temporários, que só estão nos cargos porque pertencem ao partido dominante (PT) e a seus satélites. Estão no governo para fazer política partidária e/ou por exercerem essa atividade. Não há meritocracia, qualificação. A única exigência é ter militado, com algum destaque. E todos são pagos com o dinheiro que vem dos nossos impostos. Impostos que ajudam, de forma indireta, a abarrotar os cofres do partido, através do recolhimento do 'dízimo' que incide nos proventos.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

O fantasma do Mensalão

     As fontes são as piores possíveis, eu sei, mas - como dizia minha mãe - "quem anda com porcos come farelos". O fato é que estão começando a 'jorrar' acusações sobre o ex-presidente Lula, partindo de réus do Mensalão. O primeiro a - digamos - estranhar formalmente (junto ao STF) a ausência, no processo, do maior beneficiado pelas falcatruas foi o ex-deputado e presidente do PTB, o cassado Roberto Jefferson, parceiro, aliado e íntimo do Palácio na época do escândalo.    
    Agora chegou a vez do chamado 'operador' da safadeza, o publicitário Marcos Valério, o cabra encarregado - segundo o procurador-geral da República - de pegar o dinheiro público e facilitar sua distribuição entre a companheirada e afins.
     Na defesa apresentada através do advogado Marcelo Leonardo - e divulgada na Folha -, Marcos Valério afirma que sua participação no esquema foi exagerada, para tirar o foco dos que ele classifica como "protagonistas políticos": o ex-presidente Lula, seus ministros, dirigentes do PT e outros.
     Valério também nega que tenha havido um esquema - como o sugerido nas investigações - e garante que fazia todos os pagamentos a pedido do então tesoureiro do PT, o redivivo Delúbio Soares, para pagar dívidas da campanha eleitoral de 2002, que ungiu o candidato Lula.
     Vamos ver o que nos reservam as próximas manifestações dos demais acusados, lembrando que são 38. Esse tal de Mensalão ainda vai assombrar muita gente, durante muito tempo.

Crimes no Irã

     Vocês conhecem bem o Irã e sabem das ótimas relações entre os governos dos aiatolás e o nosso. Devem ter lido e ouvido, também, diversas manifestações de apoio ao país que mata adúlteras a pedradas. Tudo em nome da política rançosa de enfrentamento disfarçado com os Estados Unidos, essa nação diabólica.
     Pois bem, os dirigentes iranianos - gente boa! - acabam de executar três homossexuais, pelo fato de eles serem ... homossexuais. É isso mesmo. Não foram ações isoladas de imbecis intolerantes, como as que ocorrem aqui no Brasil e em grande parte do mundo. Foi um ação de Governo.
     Segundo declaração do porta-voz da ONG Direitos Humanos do Irã, publicada em O Globo,
as execuções por sodomia estão entre os casos raros em que autoridades iranianas admitem a execução de homem por atos homossexuais.
     - Mas elas costumam mascarar tais penas atribuindo outros crimes à sentença, como o estupro. Mas neste caso, não há nenhuma menção à agressão sexual - disse Mahmood Amiry-Moghaddam.
     Isso quer dizer que os iranianos não tiverem, sequer, a preocupação de disfarçar seus atos. Mataram mesmo, sem ligar para repercussões externas - já que as internas simplesmente não existem.
     Vamos ver como reagem nosso governo e as entidades brasileiras que apontam diariamente os males do imperialismo - eles existem, é claro. Ou será que corremos o risco de cair naquela simplicação muito comum: aos assassinos de direta, os rigores da lei; aos de esquerda (ou inimigos dos nossos inimigos), os benefícios.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Os desaparecidos

     Eu gostaria de saber por onde anda o governador Sérgio Cabral. Assim como em todos os momentos polêmicos da vida do Estado, ele se omite, transfere a responsabilidade das entrevistas. Massacrado hoje na página de cartas de leitores de O Globo, Cabral repete a rotina de apostar na rotina do oportuno desaparecimento.
     Isso, justamente quando a violência volta a merecer destaque nas primeiras páginas e horários nobres da televisão. O ônus ficou com o Exército, obrigado a explicar os embates com traficantes e moradores do Complexo do Alemão, cuja ocupação foi estendida - é bom não esquecer - a pedido do governo estadual.
     Outro desaparecimento muito sentido hoje, 7 de setembro, nas ruas das principais cidades do país, foi o das centrais sindicais e entidades estudantis, entre outros. A mobilização contra a corrupção não mereceu, sequer, uma faixa, daquelas bem vagabundas, um megafone de porta de brechó que fosse. CUT, Força Sindical, MST, UNE e quetais optaram pelo silêncio comprometido.
     Afinal, há alguns anos essas entidades 'representativas' da sociedade especializaram-se no protesto a favor, num comportamento vergonhoso, fruto da dependência financeira, da cegueira ideológica e, em especial, da barganha por cargos e poder.

Futebol festeja um exemplo

     Mais ouvi (vivia nos tempos das ondas do rádio) do que vi Barbosa, um dos meus ídolos de infância - pensei, até, em ser goleiro, por causa dele, antes de descobrir minha 'vocação' para artilheiro de peladas. Vi Gilmar ser bicampeão mundial. Vi Castilho. Também vi - por óbvio - Manga, Raul, Leão, Taffarel, Zétti, Félix, Marcos e uma dezena de outros bons goleiros. De lendário Jaguaré sei o que me contam as crônicas.
     Não posso afirmar, com convicção, quem foi o melhor de todos os tempos, naquela posição em que uma falha quase sempre é definitiva. Mas sou obrigado a reconhecer, com prazer, que a vida desse digníssimo Rogério Ceni merece entrar na história do futebol brasileiro, pela porta da frente, com direito a toque de clarins.
     Ao longo de 999 jogos pelo São Paulo, Rogério conquistou tudo o que um jogador pode sonhar. Vários títulos estaduais, brasileiros, da Libertadores e do Mundial Interclubes, além do imenso respeito (quase devoção) do torcedor. Na Seleção, diferentemente de toda a sua carreira, teve participação discreta: apenas 17 jogos, parte de um deles na Copa de 2006. Mas integrava o elenco que foi pentacampeão, em 2002.
     Sóbrio, sempre elegante, educado e ponderado, Rogério Ceni chega hoje à marca de 1 mil jogos pelo clube que o recebeu há exatos 20 anos e ao qual está integrado, ao que tudo indica, definitivamente. Não é exagero afirmar que ele é o personagem mais importante da história são-paulina e o mais influente no clube, hoje.
     Mil jogos por um clube - e incríveis 103 gols -, numa época em que a alta rotatividade é a grande marca do esporte, é um fato merecedor de toda a comemoração, independentemente de cores e paixões. Rogério entra num seletíssimo clube, logo atrás de Roberto Dinamite, o maior ídolo da história do Vasco (1.065 jogos) e de Pelé, o maior do mundo em todos os tempo, com seus 1.114 jogos pelo Santos.
     Que seja bem-vindo.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

O 'compañero'

     Imaginem a cena: um expoente político europeu, ex-presidente de um país com o qual o Brasil mantém relações, anuncia a participação na nossa campanha eleitoral, apoiando - por exemplo - José Serra contra Marta Suplicy, em São Paulo. Seria uma loucura, certamente. Embaixada sitiada, consulados apedrejados, manifestações da CUT e do MST, discursos iracundos da ministra Ideli Salvatti.
     Pois é. No entanto, a correspondente de O Globo em Buenos Aires, Janaína Figueiredo, confirmou a presença do ex-presidente Lula na parte final da corrida pelo governo argentino, apoiando, ao vivo e a cores, em comícios, a reeleição de Cristina Kirchner.
     É uma atitude, no mínimo, deselegante, desrespeitosa com a oposição, que deve ser considerada, democraticamente. E configura-se uma clara e indevida interferência na vida de um país - vá lá - amigo.
     Atitudes assim, desprovidas de lógica e bom-senso, foram a marca da política externa brasileira nos anos Lula. Situação que, parece está dando sinais de mudança. O Governo brasileiro acaba de anunciar o congelamento das contas do ditador líbio. É um tremendo avanço, especialmente para quem manteve-se intransigentemente ao lado de Muamar Kadafi, apoiou (ainda apoia?) o governo assassino do Irã e abraçou as piores ditaduras africanas.

Um basta na estupidez

     O Globo nos conta que o presidente da Young Flu, torcida organizada, foi proibido de entrar no clube e de comparecer a jogos do Fluminense, por três anos, além de outras penalidades menores.     
     É pouco. A violência das ditas torcidas organizadas é um dos maiores problemas do nosso futebol, embora não seja uma exclusividade brasileira, é bom destacar. No caso específico do torcedor tricolor, a Justiça levou em conta atitudes como a perseguição ao atacante Fred, recentemente, além de invasões de campo e discussões com outros atletas.
     Se alguém invade a minha casa e tenta me agredir, certamente irá parar na cadeia, simplesmente. São crimes, assim como é crime agredir atletas, e dirigentes, mesmo sob a 'desculpa' da motivação emocional, da paixão. Já nem falo nas agressões e mortes causadas por embates entre torcedores, atitudes animalescas que resvalam na mais pura estupidez.
     Infelizmente, alguns dos grandes responsáveis por essa distorção - a valorização exagerada dessas agremiações de torcedores - são os dirigentes, ávidos por apoio nas suas investidas eleitorais.
     Paralelamente, a exarcebação da paixão, nas últimas duas ou três décadas, deve ser debitada, também, na conta dos meios de comunicação, que estimularam ódios, ao investirem na rivalidade entre os clubes. Foi assim no Rio, especialmente entre os torcedores de Vasco e Flamengo. Foi assim em São Paulo, em relação às torcidas do Coríntians e do Palmeiras.
     Num dado momento, uma até certo ponto saudável rivalidade se transformou em embate entre inimigos mortais. Já havia mais uma brincadeira amigável, mas um agressivo e desrespeitoso deboche, provocações, convocações para lutas. Um processo que chegou a contaminar até mesmo uma geração de atletas, levados a esquecer de que eram companheiros de profissão.
     O resultado desse conjunto de fatores pode ser visto hoje. Torcedores quebram ônibus, agidem atletas, matam-se uns aos outros. O Estatuto do Torcedor, se aplicado com rigor, pode, ao menos, enquadrar os líderes dessas atitudes criminosas.

Um exemplo de não-jornalismo

     Vamos a mais uma ... aula de não-jornalismo (perdoem-me a presunção). E ela vem de O Estado de São Paulo, um jornal sério, com história. Mas esse tipo de 'notícia', como veremos adiante, não provoca qualquer reação dos defensores do controle social da mídia. Ao contrário. Embora contenha trechos inimagináveis em uma reportagem, passaria com louvor em qualquer avaliação petista, por exemplo, por obviamente manipulada.
     O tema da matéria é a revolta de uma tribo guarani, de Mato Grosso do Sul, contra a exploração, pela inglesa Shell, de parte de um território que seria indígena. A área é usada para plantio de cana-de-açúcar, em parceria com uma empresa local, para produção de etanol.
     O protesto partiu de uma tal Survival International, uma dessas ongs que defendem os direitos de povos indígenas pelo mundo. Tudo razoavelmente bem, até que o autor do texto se deixa levar pelo seu (dele) - digamos - componente ideológico. E sapeca as linhas que vocês vão ler a seguir: "Aparentemente, os produtos químicos utilizados nas plantações de cana-de-açúcar parecem causar diarreia nas crianças guaranis."
   
     Prestaram atenção? "Aparentemente" e "parecem", duas expressões que - aprendemos nos primeiros minutos de estágio - devem ser banidas de qualquer texto noticioso.
     Isso quer dizer que devemos controlar socialmente os textos do Estadão? É claro que não. Devemos, sim, ter a capacidade de criticá-los - inclusive através de cartas e/ou e-mails à redação - e extrair o melhor do conjunto. Sendo impossível, outra opção é trocar de jornal. Assim como trocamos de canal.

Crise de humanidade

     Normalmente eu me abstenho de comentar esse tipo de notícia, temendo cair no mais vulgar lugar comum, no texto politicamente correto, naquilo que tudo mundo quer ler. Mas esse caso está me fazendo mal há alguns dias, especialmente porque não consegui vislumbrar a comoção que seria de se esperar, a revolta natural.
     Estou falando (escrevendo) da absurda constatação de que quase dois milhões de pessas estão ameaçadas, de fato, de morrer de fome na Somália, mais um desses países africanos que parecem condenados à infelicidade coletiva, à miséria total, ao desencanto.
     A página de Veja de hoje destaca, sem ser manchete, que o risco real de morte atinge 1,5 milhão de crianças. Só nos últimos três meses, morreram de fome 29 mil crianças menores de cinco anos. As doações não conseguem chegar aos famintos, desviadas por gangues que agem livremente no país. Mogadíscio, a capital, nada mais é do que uma grande favela. Os campos de refugiados transformaram-se em infernos, onde falta tudo e sobram mulheres grávidas, vítimas de estupros.
     Não há compaixão. Relatos de enviados especiais exibem a face mais obscura do ser humano. A Somália é o resultado de séculos de exploração colonial, guerras tribais, disputas políticas e estupidez religiosa.

Literatura e independência

     Nesses tempos de Bienal do Livro, tomo a liberdade de reforçar a recomendação para algumas obras que nos ajudam a entender especialmente o Brasil, embora avancem, também, pelo mundo. 1808 e 1822, de Laurentino Gomes, conseguem nos dar uma visão sem retoques da constituição desse país que comemora amanhã 189 anos de independência.
     Além de historicamente irrepreensíveis, os dois livros conseguem cativar, também, pela qualidade do texto, leve, inteligível para qualquer um e, ao mesmo tempo, elaborado. Como complemento a esse mergulho num passado nem tão distante, outra ótima opção é O Príncipe maldito, da historiadora Mary del Priore, que nos remete aos dramas da família imperial, ao acompanhar a vida de um dos netos de D. Pedro II, aquele que quase foi nosso terceiro imperador e que morreu no exílio, jovem e louco.
     As intrigas palacianas, a disputa entre os genros de Pedro II, as maquinações dos políticos de então, tudo se encaixa e ajuda a dar vida a personagens que, para a maioria dos mortais, são apenas nomes de ruas, bustos ou estátuas perdidas em praças públicas.
     E se você não tem preconceitos e está disposto a conhecer o 'outro lado' de algumas histórias que são vendidas como fatos e alimentam fantasias -digamos - libertárias, não deixe de ler Guia politicamente incorreto da América Latina, dos jornalistas Leandro Narloch e Duda Teixeira, uma obra apontada, como dizem os autores, para o falso herói latino-americano.