quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Pede para sair, Lupi ....

     A Comissão de Ética Pública da Presidência da República concluiu o que o Brasil inteiro já sabia: o ainda ministro do Trabalho, Carlos Lupi (PDT), não conseguiu dar explicações satisfatórias para a torrente de acusações que se abateu sobre ele e seus auxiliares diretos. Como consequência, a Comissão recomendou a exoneração de Lupi, deixando o caminho livre para a presidente Dilma Rousseff.
     Com esse trunfo na mão, a presidente pode imprensar seu ainda ministro, obrigando-o a pedir demissão 'para-se defender-melhor-fora-do-governo-e-provar-sua-inocência'. Aquela conversa fiada que todos nós ouvimos dos cinco demitidos anteriormente e que faz parte desse script deletério.
     A recomendação, unânime, desarma as eventuais e prováveis 'bombas' armadas pelo ministro e com as quais ameaça (ameaçava?) o Governo, refém de suas próprias contradições e inconsistências.
     Não se trataria, mais, de uma decisão isolada do 'parceiro' de tantos anos. A governabilidade - seja lá o que isso for - justificaria o afastamento e daria aos dois lados a chance de encenar uma despedida sentida e lamentada.

Crescimento e preservação

     Um dos maiores desafios da humanidade - talvez o maior - será conciliar crescimento com preservação. Esses dois elementos formam a equação da vida. Sem crescimento, sem surtos desenvolvimentistas, estaríamos condenando milhões de pessoas à mediocridade, à fome, à miséria. A busca por melhores condições é inata no homem. Ela nos tirou das cavernas.
     Ao mesmo tempo, não se pode ignorar que o crescimento tem um preço, normalmente pago pela natureza. Foi assim desde sempre. A consciência das ameças à sua própria sobrevivência, no entanto, é relativamente recente no homem e proporcional à sua conscientização, à sua evolução.
     Há pouco mais de um século - um período insignificante em termos históricos -, ninguém olharia de lado para alguém que despejasse o esgoto de sua casa no córrego mais próximo. Não havia outra opção na maior parte do mundo. O grande avanço foi registrado quando o homem retirou esse mesmo esgoo de dentro de casa.
      O impasse envolvendo a usina de Belo Monte me traz essas imagens. O país precisa, muito, de gerar a energia que vai ajudar a garantir seu desenvolvimento. Não há saída. Não se pode imaginar um retrocesso, a condenação a um estágio inferior. O que deve estar em discussão é a maneira de reduzir a agressão que uma obra desse porte provoca na natureza. E não a obra em si.
     Desenvolvimento, infelizmente, vai sempre rimar com agressão. O asfalto que facilita nossa movimentação é o mesmo que impermeabiliza o solo. O segredo é saber como compensar. Parte dos recursos gerados por Belo Monte e outras futuras usinas hidrelétricas (um excelente custo-benefício na geração de energia) deveria, sim, ser atrelada a projetos conservacionistas, de recuperação de áreas devastadas.
     Dessa maneira, o progresso estaria alavancando a preservação do meio ambiente. Fugir da dependência e interação entre desenvolvimento e natureza é um mero exercício de estelionato intelectual.

Tudo mundo rouba ...

     Mais uma daquelas declarações estúpidas para a coleção de impropriedades dos nossos políticos em geral, e do PT em particular. A propósito da denúncia publicada pela Folha, de que o atual ministro do Trabalho, Carlos Lupi, recebeu salários da Câmara, como assessor, durante seis anos, sem trabalhar um dia sequer, o líder do Governo, Cândido Vaccarezza (PT-SP), voltou a tripudiar sobre as pessoas de bem desse país.
     Com a certeza da impunidade, desdenhou da ausência remunerada do atual ministro e saiu-se com uma frase lapidar. Segundo ele, a maioria dos funcionários dos deputados "jamais pisou na Casa" (as aspas são da Folha), o que, na sua interpretação tortuosa, absolveria Lupi. É uma reedição do "todo mundo roubou", despejado na população quando as bandalheiras da Era Lula começaram a ser denunciadas.
     Para essas pessoas - Vaccarezza foi flagrado aos beijos e abraços com a deputada federal Jaqueline Roriz, logo após ela ter sido absolvida da acusação de corrupção -, não há limites na defesa dos interesses dessa máquina que tomou de assalto o país. Todas as ações são desculpaveis, até o momento em que prejudicam seu projeto de Poder.
     Foi assim no Mensalão, o maior escândalo da história política do Brasil; no caso da falsificão de dossiês contra adversários do Governo; no vergonhoso flagrante de transporte de dólares para financiar eleições; nos desvios de verba. E continua assim nesse incrível Governo Dilma, marcado por uma sequência impressionante de delitos gerados no coração do Governo.
     O 'caso Lupi' é apenas o mais recente. A conta, ao que tudo indica, ainda não fechou. E ele continua imune à torrente de acusações que jorra dos nossos jornais e revistas, quase diariamente. Sou obrigado a reconhecer que ele sabia o que dizia, naquela primeira entrevista logo após ter sido acusado de conivente com a corrupção. Na ocasião, garantiu que não seria demitido, que não sairia do Ministério, nem a tiro. Parece que tinha razão.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

A violência estimulada

     O Irã está apostando no confronto. Além de manter as pesquisas para produção de uma bomba atômica, condenadas e proibidas pelas Nações Unidas, claramente estimulou a invasão da embaixada do Reino Unido em Teerã, uma atitude injustificável sob qualquer aspecto.
     A cumplicidade do governo com os invasores fica clara quando se analisa a reação policial ao ato de violência. Todos sabiam que os manifestantes iriam agir, tanto que havia uma legião de fotógrafos e cinegrafistas a postos para gravar as inevitáveis cenas de queima das bandeiras.
     Caberia ao governo, se sério fosse, e não é -, zelar pela integridade do patrimônio e dos funcionários. Afinal, embaixadas são áreas sob responsabilidade oficial. A manifestação seguiu um roteiro pré-determinado, que começou no fim de semana, quando as relações com o Reino Unido foram reduzidas à menor escala, em retaliação às medidas tomadas contra o país. Medidas mais do que justificadas, tendo em vista a insistência iraniana em ameaçar o mundo com sua sonhada bomba.
     As cenas da invasão, espalhadas pelo mundo - em especial pelo mundo árabe (os iranianos são persas, num universo árabe) - tendem a estimular comportamentos idênticos em outros países, justamente num momento tão tenso das relações internacionais.
     É a aposta no quanto pior, melhor. Com esse tipo de manifestação, o Irã - uma nação claramente fundamentalista e terrorista - tenta mudar o foco do real problema e apresentar o Ocidente como o pai de todos os pecados.

Quebra de todos os sigilos

     Os - digamos assim - 'incidentes paralelos' à ocupação da favela da Rocinha e à prisão dos chefões do tráfico local começam a ser investigados, segundo nos conta O Globo. Os sigilos bancário, fiscal e telefônico dos três policiais presos fazendo escolta de um grupo de bandidos e de seus parentes próximos deverão ser quebrados ainda essa semana.
     Com isso - e com a investigação sobre a presença de um grupo de PMs na favela, um dia antes da prisão do traficante Nem -, talvez seja possível chegar mais fundo na rede de corrupção que se espalhou em todos os níveis das polícias Civil e Militar. Mas ainda é pouco.
     Falta dar o destaque merecido à injustificável e suspeitíssima intervenção dos tais três policiais de Maricá quando da prisão do chefe do tráfico. O assunto, ao que parece, foi colocado de lado, quando tem uma gravidade enorme, principalmente porque o grupo estava cumprindo ordens do subchefe da Polícia Civil.
     Não há justificativa plausível para a presença desses policiais aqui no Rio. Menos ainda, para a tentativa de interceptar o comboio policial que levava o traficante Nem para a sede da Polícia Federal. Polícia não intercepta polícia. A única explicação que me ocorre é a de que estava em curso uma ação destinada a evitar que o prisioneiro contasse tudo o que sabe do esquema de corrupção policial.
     O constrangimento do secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, ao tratar do assunto foi nítido (destaquei esse fato, num texto anterior). Com o prosseguimento da ocupação e a transferência do preso, o incidente caiu no esquecimento, na vala comum, de onde precisa ser resgatado, em nome da decência. Precisamos quebrar todos os sigilos que envolvem a corrupção.

Genocídio na Síria

     A mudança da política externa brasileira em relação à Síria tem nome e sobrenome: Paulo Sérgio Pinheiro, presidente da comissão independente de investigação criada pela ONU e responsável pelo relatório que apontou algo muito semelhante a um genocídio, provocado pelo Governo do ditador Bashar al-Assad.
     Os números são capazes de impressionar a qualquer pessoa com um mínimo de bom senso e humanidade. Os asseclas do dirigente sírio mataram mais de 3, 5 mil pessoas, entre elas 250 crianças, além de torturarem cerca de 20 mil cidadãos por uma razão, apenas: contestam o regime. O Globo chega a falar em mais de quatro milhões de vítimas, emglobando todos os efeitos colaterais da repressão.
     Sabendo desses dados, confirmados por um representante brasileiro, seria injustificável se o Brasil mantivesse a postura de quase absolvição dos regimes totalitários do Oriente Médio, em oposição aos Estados Unidos e à Europa (Inglaterra, França e Alemanha, em especial). O voto condenando o regime sírio se explica naturalmente e pode levar a uma saudável mudança em relação a determinadas ditaduras que flertam com o terrorismo, como a iraniana.
     A situação de Al-Assad parece se complicar a cada dia, à medida que seus crimes se tornam públicos e aumenta a pressão internacional contra seu governo, inclusive da Liga Árabe.
     O ditador, no entanto, se apega ao poder como pode, contando com a ajuda da cúpula militar, que lhe dá sustentação. Ele sabe - ou, pelo menos, teme - que corre o risco de acabar como Muamar Kadafi, executado sem piedade por um miliciano mal-saído da puberdade.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Decisão no Engenhão

     Há uma relativa distância entre o direito e o recomendável. O Botafogo, ninguém tem a menor dúvida, deveria ter, sim, prioridade para fazer seus jogos no Engenhão, que - afinal - é a sua 'casa'. Mas seria (será?) uma estupidez determinar que a partida entre Vasco e Flamengo, que pode decidir o título brasileiro e uma vaga na Libertadores, seja jogada em um estádio de menor porte.
     Além do aspecto puramente esportivo, há um fator que não pode ser desconsiderado: a segurança dos torcedores, especialmente quando estamos lidando com uma rivalidade acentuada - em muitos casos, estúpida.
     O Engenhão, pela possibilidade real de separação das torcidas e pelo conforto que oferece, é a única opção. Qualquer outra decisão poderia provocar sérios incidentes. Botafogo e Fluminense, o clássico mais antigo do futebol carioca, mereceria, sempre, acomodações que fizessem justiça à história dos dois clubes. Mas estamos lidando com uma realidade.
     Embora ainda tenha algum atrativo (uma combinação incrível de resultados poderá levar o Botafogo à Libertadores), o jogo não reúne os ingredientes que justificariam o sacrifício de Vasco e Flamengo.
     A direção botafoguense, coma decisão de recorrer ao STJD, trata, apenas, de tentar dar uma satisfação à torcida, revoltada - justamente - com esse fim de campeonato melancólico. Que prevaleça a lógica.

A turma do 'apito'

     Assistindo - como eu faço - a tantos jogos de futebol pela televisão, fico me perguntando, a cada rodada, para que servem os tais 'comentaristas de arbitragem'. Na quase totalidade dos casos, partem de uma defesa prévia - um espírito de corpo medíocre -, passam por erros absurdos e acabam repetindo o que as imagens mostram, principalmente em casos de impedimento, graças aos recursos técnicos que congelam imagens.
     A interpretação das jogadas quase sempre é medíocre. Faltas absolutamente claras e indiscutíveis são 'analisadas' como jogadas comuns. Outras, que não passam de meras encenações, ou contatos normais, são apontadas como desleais. E, sempre, com um olhar tendencioso.
     As participações do ex-árbitro José Roberto Wright, em especial, são lamentáveis. Erra 90% dos casos e consegue se sair mal em situações simples, mesmo com toda a parafernália que tem à disposição. Repete, no vídeo, as enormes trapalhadas que cometeu quando atuava, algumas históricas, como o pênalti não marcado contra o Fluminense, na final do estadual de 1985, com o Bangu; e a gravação (para a TV Globo) de ofensas e perseguições contra o então jovem armador Geovane, do Vasco, em uma partida contra o Flamengo
     Quando em dupla com o ex-jogador Júnior, então, o abismo aumenta exponencialmente. Júnior é, sem favor, o melhor comentarista da televisão e raramente se deixa enganar. Tem visão crítica, é independente (apesar de suas reconhecidas raízes rubronegras) e enxerga as jogadas.
     Salva-se, razoavelmente, nessa selva de arbitragens, o novato Leonardo Gaciba, que analisa os erros nos programas após as rodadas. Os demais são absolutamente dispensáveis. Se não existissem, poupariam os apresentadores de inúmeros constrangimentos e os espectadores da vontade de atirar pares de sapatos na tevê.

Ataque à democracia

     O presidente nacional do PT, deputado estadual Rui Falcão, de São Paulo, alinhava, na página de hoje de O Globo, os pensamentos distorcidos e a visão autoritária que dominam seu partido e o Governo, em especial quanto à liberdade de expressão, inimiga feroz dos políticos totalitários e aprendizes de ditadores, de todos os matizes ideológicos (essa vigarice não é exclusividade das viúvas do Muro de Berlim).
     Ao fim de umas tantas linhas em que destaca o papel do atual governo em todos os setores da vida pública (não há uma sílaba sobre os seis ministros demitidos por corrupção e afins, nem sobre Carlos Lupi, do Trabalho, que está na beirada do abismo), esse esgrimista de estultícias aponta contra o país a arma preferida dos arbitrários: a tal regulação "democrática" da mídia, como sendo - acreditem! - "mais um passo para o futuro".
     Não satisfeito, encerra esse manifesto pela intolerância afirmando que o PT, "democraticamente, continuará lutando por transformações no Brasil".
     Basta ter um mínimo de visão crítica para ver que as 'transformações' pregadas por Rui Falcão passam pela censura, objetivo jamais abandonado pelo PT. Os donos do poder não se conformam com as cobranças e denúncias que expõem o lado sujo do esquema que tomou de assalto o país. Para eles, imprensa boa é a cubana, representada pelo Granma, órgão oficial do Comitê Central do Partido Comunista.
     Nas páginas desse 'jornal', só há espaço para as louvações aos governantes e para os ataques aos demônios capitalistas. O mundo jornalístico (ou 'midiático') cubano - idealizado pelos petistas em geral - é o da manipulação de fatos, distorção de notícias, controle absoluto sobre a informação, sobre as mentes do povo.
     Em Cuba, esse processo de estupidificação foi resultado de uma revolução. Aqui no Brasil, mais estilizados, os inimigos da democracia valem-se dos seus princípios para tentar destrui-la. Valem-se da liberdadade para tentar acabar com ela.

domingo, 27 de novembro de 2011

O Mensalão não acabou

     O Globo de hoje lembra, a todo o país, em manchete, que um dos maiores responsáveis pela administração do Mensalão, o publicitário mineiro Marcos Valério, continua em absoluta atividade, prestando - por tabela - serviços ao Governo. Sua importância 'estratégica' é imensa, como atestam os fatos levantados pelo jornal. As empresas às quais ele presta assessoria saltaram, milagrosamente, da total mediocridade para o fausto, graças a contratos estratosféricos bancados pela República que ele ajudou a macular.
     Seria - como é, na verdade - mais uma prova da impunidade dos malfeitores e da conivência dessa eticamente lamentável 'Era Lula' com a corrupção. Mas é, apenas, a constatação de que praticamente nada mudou, com relação aos acusados de pertencer a uma "quadrilha que assaltou os cofres públicos", segundo acusação da Procuradoria-Geral.
     Se nos dermos ao cuidado de olhar para a lista de quadrilheiros, vamos ver que Valério não é a exceção que justica a regra. Todos estão reabilitados e envolvidos, de alguma maneira, com o Governo e o Partido dos Trabalhadores, responsável pela instituição do maior esquema de expropriação já registrado na história recente do país.
     José Dirceu, embora cassado, continuou com os poderes de quando era o ministro da Casa Civil de Lula. Manda e desmanda. Enquadra políticos, investe contra a liberdade de expressão, 'assessora' multinacionais, locupleta-se. O deputado federal João Paulo Cunha (PT-SP) preside a Comissão de Justiça (???) da Câmara. José Genoíno, que presidia o PT na época, é fundamental no Ministério da Defesa. Isso, para citar apenas três nomes das dezenas de envolvidos. O próprio ex-presidente sobreviveu ao escândalo, foi reeleito e elegeu sua sucessora.
     O sucesso do publicitário, então, não chega a surpreender. Pouco mudou no país, vítima de um grande estelionato ideológico. O Mensalão, assim como 1968, não acabou.

Histórias de Júlia e Pedro (27)

Júlia e a princesa

     Passando em frente ao Palácio Guanabara, a caminho da escola de Pedro, eu e Júlia nos vimos conversando sobre uma antiga moradora, a princesa Isabel. O conversa começou quando ela me lembrou que 'nosso' colégio, o Pedro II, vai fazer aniversário dia 2 de dezembro, um dia antes de ela entrar em férias.
     Expliquei esse era o dia do aniversário do imperador Pedro II , que teve duas filhas, e que uma delas - Isabel - tinha morado exatamente ali.
     - Ela foi minha foi minha vizinha, então", brincou.
     Confirmei e perguntei, apenas para ter certeza, se ela sabia alguma coisa sobre a princesa.
     - Ela libertou os escravos, vovô!.
     Festejei o fato de ela, ainda no início do ensino fundamental, já ter essa noção histórica e perguntei se ela sabia o nome da outra filha do imperador. Ela disse que não e eu contei que ela se chamava Leopoldina. O comentário foi bem no estilo de Júlia:
     - Mas ela não é tão conhecida, vovô.
     Tive que concordar. Para muita gente adulta, Leopoldina é apenas uma 'estação também'.

sábado, 26 de novembro de 2011

Crise moral acentuada

     A cada dia - e, em especial, a cada capa semanal da revista Veja - mais se aprofunda a crise moral que soterra o país, que, paralelamente, vive um momento de extremo equilíbrio, se comparado a maior parte do mundo. São os extremos de uma equação infeliz. O bom desempenho econômico encobre os escândalos, roubalheiras.
     Dessa vez, a lama respinga na presidência da República, a ser verdadeira - como se presume - a denúncia que chegou de um militante do Partido dos Trabalhadores. Extorquido no Ministério do Trabalho, quando tentava fundar um sindicato - o que é outra mamata, nessa república sindical que vivemos -, garante que denunciou o esquema à presidente Dilma Rousseff e ao ex-carregador de malas do antecessor, o ministro Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência.
     A denúncia tem nome, sobrenome e endereços certos e sabidos. Nada de alguém disse ou escutou. O sindicalista Irmar Silva Batista contou à Veja que recebeu um pedido de R$ 1 milhão para registrar o novo Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Reparação de Veículos e Acessórios do Estado de São Paulo. Um pedido direto de um tal Eudes Caneiro, que assessorava o atual deputado federal Luiz Antônio Medeiros, durante sua passagem pela secretaria de Relações do Trabalho do Ministério comandado por Carlos Lupi (ambos são do PDT).
     Indignado, segundo ele, mandou e-mails para para a presidente e para Gilberto, contanto todo o esquema. E nada foi feito. Lupi continua no cargo, desafiando a Nação e própria dignidade da Presidência da República.

Histórias de Júlia e Pedro (26)

     Estoque de beijos

     Pela primeira vez Júlia e Pedro ficaram longe da mãe. Flávia, relutou, mas acabou aceitando o convite para trabalhar na cobertura do Para-Pan, em Guadalajara, México. Foram quinze dias separados. Júlia, com a 'maturidade dos seus oito anos, reagiu bem. Só chorou uma vez: quando soube que a mãe não estaria na apresentação de flauta que ela e a turma do Colégio Pedro II Humaitá iriam fazer. Mas se consolou ao saber que "toda a família", como ela diz (avós paternos e maternos, tios, tias, madrinha e a babá), iria vê-la.
     Pedro sentiu mais, claramente. Afinal, além de só ter quatro anos, é um exemplo clásssico de 'edipianismo'. As compensações - brincadeiras diárias no clube, depois da escola, a natação pela manhã e a presença do pai e dos avós - ajudaram nesse processo, mas houve mais choros.
     A chegada da mãe foi festejada intensamente. Ele, que já é naturalmente carinhoso, passou o dia beijando Flávia. Beijos constantes, a todo momento. Um dia inteiro.
     À noite, foi claro e objetivo: "Não tem mais beijo para ninguém. Gastei tudo com a minha mãe".

     Distâncias e presentes
    Mais uma de Pedro, ainda relativa à viagem da mãe. Ele estava no clube (no caso, o Fluminense, que eles frequentam), quando a mãe de um coleguinha perguntou pela mãe dele.
     - Ela está viajando, no México", respondeu, mostrando que estava triste.
     Notando isso, a mãe do amigo disfarçou, dizendo que o pai de outro amigo estava mais distante, ainda, no Japão. O raciocínio foi imediato:
     - Então ele vai trazer mais presentes do que a minha mãe. Ele está mais longe ....

Cadeias, já!

     A decisão do Ministério da Justiça, destacada pelo O Globo, de cancelar a construção de três dezenas de presídios, por uso indevido de dinheiro, falta de interesse dos estados beneficiados e obras condenadas remete a uma questão: onde colocar as quadrilhas que assaltam os cofres públicos. Há casos exemplares, que mereciam cadeia já, como o da construção de uma prisão no município gaúcho de Passo Fundo. Lá, as obras mal começaram e já houve um 'sobrepreço' (eufemismo para roubo) de R$1,4 milhão.
     Há, evidentemente, um erro de gestão. As obras que estão sendo suspensas foram aprovados em convênios assinados, segundo O Globo, entre 2005 e 2010. Quase nada foi feito nesse período, mas grande parte da verba liberada foi apropriada pelos estados. Dinheiro em caixa e tudo parado. Alguém precisa dar conta dessas verbas, E alguém precisa explicar como é que se demora tanto para descobrir essas falhas.
     Essa inconsistência e esse descaso com o dinheiro público são recorrentes. Gasta-se mal - muito mal - e as fiscalizações são omissas. Ou, quando atuam, como no caso das obras para a Copa, em Mato Grosso, surge alguém para alterar pareceres e favorecer pilantragens.
     O Brasil precisa de mais cadeias, urgentemente.

Minha frase da semana

 "O deputado federal Jair Bolsonaro, mais uma vez, presta um enorme desserviço à Nação".

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

De olho nas sinecuras

     O Globo nos conta, formalmente, o que sabemos desde sempre. O PT está preocupado em não perder espaços na futura reforma ministerial que será produzida pela presidente Dilma Rouseff. Para ser mais exato, as 'tendências' - há um punhado - que se abrigam no partido estão mirando no futuro.
     Eu vou mais longe nessa observação. O PT não está, apenas, pensando em não perder, mas, sim, em ganhar. E isso ficou muito claro durante todas as crises ocorridas no atual governo, e que não envolveram - é claro - personagens do partido, como os atuais ministros Alosísio Mercadante (Ciências ????), Ideli Salvati (Relações Institucionais ???) e o finado (politicamente) Antonio Palocci, para ficar apenas nas mais destacadas.
     Nas demais crises, envolvendo 'aliados', a postura do PT foi sempre clara, pelo menos para mim: quanto pior, melhor. A satisfação em ver as derrapagens de repressentantes de partidos da 'base aliada', o tal saco de gatos ideológico, chegou, em alguns momentos, a ser constrangedora.
     Mas prevalece o temor, sim, de que alguns ajustes reduzam a presença física de petistas no governo, o que iria interferir no projeto de ocupação de todos os espaços. Segundo ainda O Globo, o líder petista do Senado, o pernambucano Humberto Costa, espera que as 'tendências' mantenham suas sinecuras, "para preservar o equilíbrio partidário".

Fábrica de escândalos

     A capacidade de esse governo - um legítimo representante da Era Lula - de produzir escândalos parece infindável. Aos já absurdos acontecimentos nos ministérios da Agricultura, Transportes, Turismo, Esportes e Trabalho e às 'trapalhadas' na Educação, soma-se mais esse, na pasta das Cidades, com direito a gravação de reunião na qual uma manobra daquelas bem não-republicanas era - digamos assim - 'costurada'. Note-se: não incluí nessa longa lista a saída de Antonio Palocci nem as estripulias de Aloísio Mercadante e Ideli Salvati, em especial. Estou tratando, apenas de roubalheira direta.
     A história - já abordada qui, no Blog, ontem - remete aos esquemas de aumentar os gastos, para ampliar as vantagens. No caso específico dessa pilantragem, a falta de um mínimo de dignidade chegou ao ponto de alterar um parecer sobre determinada obra para a Copa de 2014, em Mato Grosso, para justificar o desembolso de mais R$ 700 milhões do que o previsto.
     Não se pode esquecer o esquema de obras para a Copa favorece essas malandragens, pela falta de uma auditoria decente. Esse caso só foi escancarado graças ao jornal O Estado de São Paulo. que teve acesso às gravações da tal reunião. Mais uma vez, as denúncias partiram de dentro do governo, sem dar chances às negativas habituais. Mas elas virão, com certeza.
     O Ministério das Cidades já se assanhou e começou a defender a mudança do projeto de transporte para Cuiabá, visando à Copa. Esquecem que, contra pareceres técnicos, não há argumentos, a não ser os que já estamos acostumados: as vigarices retóricas que antecederam as demissões anteriores e permanecem vivas, ainda, no caso do ainda ministro do Trabalho, Carlos Lupi (PDT).
     O Brasil parece mesmo estar entregue a delinquentes.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Um tiro no decoro parlamentar

     As bobagens que o deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) tem dito, ao longo dos anos, certamente renderam um punhado de votos. Não tenho dúvidas, tanto que ele vem sendo eleito e reeleito e conseguiu eleger seu filho, Carlos, do mesmo partido (?), para a Assembléia do Rio.
     Mas há limites para a estupidez, ou, pelo menos, deveria haver. As declarações que ele fez hoje, com insinuações sobre a sexualidade da presidente Dilma Rousseff, ultrapassam qualquer barreira. Que ele combata o tal kit anti-homofóbico que o Ministério da Educação quer distribuir entre os jovens. Faz parte dos seus direitos básicos, desde que não estimule o preconceito. É a tal liberdade de opinião, que deve ser garantida.
     Mas, daí a fazer jogos de palavras com a presidente, há uma distância enorme, que não deveria ser encoberta pela inviolabilidade de um mandato. Se Bolsonaro quer discutir comportamentos da presidente, que invista na tolerância - sim, tolerância - com o esquema de corrupção legado pelo seu antecessor, na inconsistência da política exterior.
     Trazer a público um tema que jamais foi colocado, com evidente intenção de provocar repercussão, é uma demonstração de desprezo pelo decoro. Não 'apenas' por se tratar da presidente da República, eleita democraticamente, mas por ser uma demonstração de intolerância e desrespeito inadmissível em uma democracia.
     Bolsonaro, mais uma vez, presta um enorme desserviço à Nação.

A copa da corrupção

     O que se previa e anunciava - afinal, estamos no Brasil -, começa a tomar realidade, forma. Foi descoberta, oficialmente (não é mera especulação) a primeira fraude envolvendo a Copa de 2014. Não são, apenas, um aditivo aqui e uma engordada de preços ali. Estadão e Veja tiram qualquer dúvida que porventura ainda restasse. É roubo, mesmo, de R$ 700 milhões, de uma tacada (um chute?) só, em Mato Grosso.
     Segundo revista e jornal, o ministro das Cidades, Mário Negromontes, aprovou uma fraude vagabunda - adulteração de parecer técnico - para dar ares técnicos a uma modificação de um projeto em Cuiabá. O 'parecer' foi forjado por uma diretoria do Ministério, com ampla autorização. Assim, uma linha de ônibus rápido se transformou, à base de arrumações, em um transporte de veículo leve sobre trilhos.
     Uma obra que custaria R$ 500 milhões (já superfaturados, podemos imaginar) passou para CR1,2 bilhão, dinheiro de todos nós, que sustentamos esse estado de bandoleiros. O conchavo para mudança, segundo Veja e Estadão, teve o dedo dos governos de Mato Grosso e Federal, que acertaram a mudança, ignorando o parecer técnico inicial, que condenava a iniciativa.
     Para agravar ainda mais a situação, a reunião que decidiu pela alteração do parecer foi gravada, e exibe as pressões exercidas sobre o pessoal técnico. Não há como negar, tergiversar. Ou é melhor, de uma vez por todas, acabar esses pareceres técnicos que, quando não são deturpados, são usados para justificar bandalheiras.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Roubem, mas divulguem

     Esses nossos políticos se superam a todo momento. Conseguem, até, transformar algo que seria digno, louvável, em alguma coisa safada. O exemplo de hoje (mais um) está no Globo: o Conselho de Ética da Câmara decidiu que um deputado que tenha cometido um crime ou 'ato indecoroso', antes de assumir o mandato, poderá ser julgado pela Casa.
     Até aí, tudo bem. A turma do Mensalão não iria se salvar, assim como outros 'malfeitores'. Mas foi então que surgiu a solução mágica, o tal jeitinho malandro, brasileiríssimo. Só valem os crimes etc que não sejam do conhecimento dos prezados deputados (todo mundo sabe dos dólares na cueca, por exemplo). E que tenham sido cometidos mais de cinco anos antes de o cabra ter assumido o mandato.
     Isso quer dizer o seguinte: se o sujeito é um safado antigo e público, tudo bem. Ninguém pode mexer com ele. Os mensaleiros são o exemplo mais clássico. Indecorosos e e malandros em geral que foram desmascarados até de 2006 estão a salvo. Fica o aviso aos senhores pretendentes a uma vaguinha na Câmara: façam suas pilantragens no escurinho dos cantos de sala.
     Ou se programem: façam agora, deixem o noticiário se espalhar e tentem um lugar em Brasília alguns anos depois, a partir de 2016. Não haverá problema. A memória do povo dura o tempo de um Jornal Nacional. Cinco anos depois? Ninguém vai lembrar de nada. E todos estarão perdoados.
     A justificativa, sé é que ela existe: para que o julgamento venha a acontecer, será necessário que os crimes ofendam a honra e a imagem e não sejam de conhecimento da Câmara. Segundo o relator da questão de ordem que definiu a questão, o nobre deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), em síntese: só haverá julgamento quando os malfeitos forem denunciados quando o deputado estiver na função, "desde que praticados há cinco anos do início do mandato".

Em nome da verdade

     A presidente Dilma Roussef não pode (ou não deve) se permitir resvalar por um caminho teoricamente fácil, mas que pode comprometer toda a proposta e, ao menos, o ideário formal da Comissão da Verdade, criada recentemente. As pressões por indicação de nomes, que já era previsível, tomou a forma de manchete, na edição digital de O Globo, que estampa a intensa movimentação de grupos de ex-presos políticos para indicar nomes.
     Prevalecendo as pressões, essa iniciativa - que poderia servir, de fato, para fechar esse ciclo de desconfianças, de insatisfação, de mágoas e ressentimentos - corre o risco de se transformar num simples instrumento de uma vingança fora de hora, superada pela maioria da população e pelo amadurecimento político do país.
     Uma comissão com tamanha importância histórica deve estar acima de sentimentos pessoais, embora compreensíveis. Um filho que perdeu o pai; o irmão que ficou sem a irmã; e o amigo que sofreu com a solidão, dificilmente teriam capacidade de simplesmente perdoar, encerrar, esquecer. Por isso, não podem julgar, investigar.
     Em situações como a brasileira - absolutamente distinta dos casos chileno e argentino -, em que a transição entre o regime autoritário e o democrático foi feita dentro de um processo de negociação, a prudência e o bom-senso recomendam a maior isenção possível.
     O País conta com nomes acima de qualquer dúvida, de qualquer restrição, em todos os campos da atividade. Pessoas envolvidas, sim, com o futuro, com as instituições, com o respeito ao processo desenvolvido ao longo de anos muito duros, mas que transformaram nossa sociedade em um corpo aberto, tolerante.
     Houve crimes, e ninguém tem a menor dúvida de que eles existiram. Vítimas e testemunhas estão entre nós, respirando a liberdade que foi conquistada, mas também negociada - e a presidente Dilma Rousseff - ex-presa política - é o exemplo mais vivo dessa realidade.
     Transformar um projeto, que é da sociedade em geral, em instrumento de alguns, desmerece o próprio sacrifício de uma geração. Além de abrir espaço, também, para a exposição do outro lado desse moeda que não tem apenas uma face: os crimes - sim, crimes, e foram muitos - cometidos em nome de uma luta que nem sempre objetivava a liberdade.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Vida inteligente no Itamaraty, afinal

     O Brasil, afinal, dá sinais de que há vida inteligente nos corredores da nossa diplomacia, depois de todos esses anos de trevas. Confrontado com a violência do regime sírio, que tenta debelar uma rebelião que parece irreversível, como foi o levante líbia, votou - na Assembléia-Geral da ONU - pela condenação da Síria, por violação dos direitos humanos.
     E esses sinais de lucidez ficam ainda mais visíveis quando sabemos que a Síria foi defendida por Cuba, Venezuela, Nicarágua e Irã, por exemplo. Estar do lado contrário dessas nulidades faz bem a qualquer nação que se pretenda protagonista. China e Rússia, mantendo a tradição, também apoiaram a ditadura. É difícil para para países onde a democracia passa distante recriminarem a violência do Estado.
     Só o fato de serem ditaduras - difarçadas, como a russa e a iraniana - ou escancaradas, como a chinesa e a cubana - impede qualquer arroubo moral.

O pesadelo dos ditadores

     A nova mobilização egípcia - espera-se um milhão de pessoas, hoje, na Praça Tahrir, no Cairo, para protestar contra a presença da Junta Militar no comando do país - exibe toda a força da descoberta tardia das redes sociais como instrumentos de mobilização social. O acesso à internet, às suas possibilidades quase infinitas, é o maior tormento para ditadores e usurpadores do poder em geral. A 'Primavera Árabe' é filha desse mundo, que já não pode ser oculto.
     Não é outro o motivo de ditaduras como as chinesa, coreana e cubana investirem tanto no bloqueio da informação, nas restrições às comunicações, na manutenção da população alheia ao que ocorre em volta dela. Difícil é tentar explicar a um jovem, por exemplo, que tudo aquilo que lhe é permitido escutar e ver não passa de uma proposta de dominação; que existe, sim, o contraditório, que os direitos humanos vão além de nascer, viver e morrer na ignorância, sob a tutela de um estado que se autonomeia pai e mãe.
     O acesso às redes e ao mundo geram debates, questionamentos, dúvidas. E isso jamais interessou aos tiranos e aprendizes de plantão. O questionamento da liberdade de informação é uma característica dos inimigos da liberdade. O acesso à internet, embora limitado e controlado, quebrou, em determinadas partes do mundo, o domínio sobre a comunicação. Se é relativamente cômodo controlar jornais, revistas e tevês, é impossível enquadrar pensamentos, quando eles têm acesso a opções.
     Para além do obscurantismo que constatamos no Oriente Médio e em grande parte da Ásia e da Áfica, despontam algumas ilhas de estupidez, como a dos irmãos Castro e a Venezuela, não por acaso, duas das mais ferrenhas adversárias da liberdade de pensamento, de comunicação.
     Aqui entre nós, as tentativas de controle do pensamento têm esbarrado na repulsa da sociedade, mesmo quando embaladas em papel e fitas coloridos.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Não há paz na praça

     Os egípcios, ao que parece, descobriram, a uma semana das eleições para o Parlamento, que pouco havia mudado ou iria mudar no país, tutelado pelas Forças Armadas, pelo menos até a eleição do novo presidente, prevista para 2013, apenas. Os que apearam Hosni Mubarak do poder exigem mais rapidez na definição do futuro político da Nação, além de punições mais rigorosas para os antigos dirigentes e o afastamento da Junta Militar do centro das decisões.
     São exigências naturais e consequentes. Afinal, o motim iniciado há dez meses pretendia mais do que a simples deposição de um ditador. Ele se anunciava como o caminho natural do país no rumo de uma democracia, mesmo que ao estilo árabe, com ampla influência religiosa. O que aconteceu, de fato, foi o afastamento do chefão. Permaneceram aqueles que davam sustentação ao regime e que, de fato, governam o país.
     Essa nova onda de protestos provocou a reação violenta do Governo, que já resultou na morte de mais de duas dezenas de pessoas e incontáveis prisões. A transição, que parecia tranquila, promete ser dura. A Praça Tahrir, um dos símbolos da 'Primavera Árabe, voltou a ser ocupada e palco de enfrentamentos dolorosos.
     Na Síria, o conflito já alcançou números dramáticos. O presidente Bashar Assad recusa-se a aceitar, até mesmo, a intermediação da Liga Árabe. A mais nova advertência partiu da vizinha Turquia, inimiga histórica. O destino de Assad parece já estar traçado, mas nada indica que será a curto prazo. Ele e seu círculo dirigente não admitem ceder o poder e usam todos os meios disponíveis para isso, numa reedição do que aconteceu na Líbia.
     A tranquilidade e a paz ainda estão bem longe da região.

A banalização do mal

     A entrevista que o deputado federal sergipano Almeida Lima deu ao site de Veja merece ser lida. Não só por apontar os riscos à democracia que estão embutidos no projeto de poder do PT, mas para exibir, também, o lado inconsistente da ideologia política que marca nossos políticos. Almeida Lima, que foi senador até o ano passado, acaba de sair da base governamental (era do adesista PMDB) e filiou-se ao PPS, oposicionista.
     No seu roteiro político, incursões partidárias que começaram no PMDB e passaram por PSB, PDT, PSDB e novamente PMDB, de onde acaba de sair. A registrar, o fato de ele estar fazendo o caminho contrário dos políticos: sair da situação, cômoda, para virar oposição. Os motivos - e eles ficam bem claros na entrevista - são mais pessoais do que ideológicos: espaço.
     Nem por isso, suas declarações perdem a força, principalmente porque partem de alguém que conviveu com o esquema, viveu bem de perto as manobras, os conluios, os acertos. Em alguns trechos reconheci pedaços de pensamentos que andei distribuindo por aqui, no Blog, durante esses dez meses. Assim como eu, Almeida Lima acredita que o PT "tem um projeto de dominação de todo o establishment (eu não usaria essa palavra), de todo o espaço de poder para levar o Brasil a um governo autoritário, antidemocrático".
     Ele alerta, ainda, sobre a ameaça embutida nesse gigantesco processo de corrupção que envolve todos os escalões do governo. "Vez por outra eles botam as asas de fora e a imprensa poda aqui ou acolá. Mas não se esqueça: aos poucos eles vão avançando mediante o financiamento corrupto que eles têm. Eu nunca vi a UNE com tanto dinheiro em caixa quanto hoje. Nunca vi entidades sindicais e do movimento social com tantos recursos e tão bem aparelhadas quanto hoje", deixa bem claro.
     O deputado bate ainda mais forte no que ele chama de banda podre do PT: "Agora, como está roubando, corrompendo, a ética não pode ser vista mais como um valor. José Dirceu foi recebido essa semana em Aracaju, no palácio, pelo governador, como um verdadeiro chefe de estado. Um chefe de quadrilha!", disse Lima, com todas letras.
     É um depoimento duro, corajoso, até. Poucos oposicionistas mais 'tradicionais' chegaram perto. Mesmo abstraindo ressentimentos por ter sido preterido quando pretendia alçar novos voos, Almeida Lima é incisivo o bastante para dar ressonância ao que poderia, apenas, ser lido como um desabafo.
     Com a sensibilidade de quem esteve lá, no centro de tudo, o deputado acerta o alvo quando, a certa altura a entervista, adverte para um grande risco: a banalização do mal.

domingo, 20 de novembro de 2011

A volta de Ophra

     A volta de Ophra Winfrey à televisão (no seu próprio canal), anunciada para janeiro do ano que vem, merece o destaque que teve na página de O Globo. Quem nunca viu um de seus programas - por preconceito intelectual -, deve abrir um espaço no seu dia a dia para conhecer essa incrível mulher americana, a de maior prestígio no país.
     Ophra é sensacional, podem crer. Ela consegue tratar dos temas mais banais e, por vezes, apelativos, com uma naturalidade única. Inteligente, bonita, agradável, ferina, crítica, irônica. Eu poderia desfilar um bom par de outros adjetivos para descrever essa mulher que literalmente molda o comportamento de dezenas de milhões de americanos, de todos os sexos, religiões e gostos.
     Ela é uma referência cultural - para o bem e eventualmente para o mal, concordo - nos Estados Unidos. Ajudou a eleger Obama, que foi ao seu programa, com a mulher, Michele, para dar a primeira entrevista exclusiva depois de eleito. Faz assistencialismo, sim. Mas com uma presença e uma classe incomparáveis. Ela, Condoleezza Rice, ex-secretária de Estado no Governo Bush, e Hillary Clinton, atual secretária, formam um trio imbatível, em carisma e personalidade.

Visões simplistas

     Nosso noticiário em geral, mesmo o de jornais conservadores, como O Globo, é - de quando em quando - atingido pela inconsistência ideológica, se é que podemos chamar assim as - digamos - interpretações políticas. O caso da manchete de hoje é exemplar: "Espanha vai às urnas à espera de vitória esmagadora do PP". No subtítulo, o escorregão: 'Com desemprego recorde de 21,5% no país e insatisfação ampla com governo socialista, resignação e melancolia deminam eleitores".
     A leitura desse conjunto induz, claramente a pensar que que uma vitória de forças de 'centro-direita', seja lá o que isso for, é sempre produto da melancolia, da resignação ante o futuro, jamais de uma posição pensada, adotada com consciência, especialmente num momento de crise absoluta, como vive a Europa. Imaginemos o contrário, apenas para efeito de raciocínio. Certamente leríamos algo como "Espanha soterra conservadores e sonha com novos dias".
     Essa leitura dicotômica e simplória da política parte de um princípio que a história recente acaba de enterrar: que a chamada 'esquerda' é, por definição, melhor do que a 'direita', considerando-se de 'esquerda' os regimes da antiga União Soviética, Cuba e afins. A China é um caso à parte, pois determina e vive um mundo particular, com normas únicas. É óbvio que esse raciocínio é capenga. Como é simplista essa tendência a rotular comportamentos face à sociedade.
     Vivemos, no Brasil, um caso exemplar. Três governos de esquerda marcados pelos maiores escândalos da história do país. Nada, em tempo algum, chegou perto do que estamos vivenciando há nove anos. Paralelamente, é verdade, o país conseguiu vencer as crises econômicas que atolaram grande parte do mundo, mas seguindo um modelo macroeconômico claramente capitalista, de 'direita'.
     Nem mesmo a tão propalada distribuição de renda, através de programas sociais, pode ser caracterizada como de 'esquerda'. Instituído no governo de Fernando Henrique Cardoso, é um instrumento que foi imaginado para minorar a situação de miséria do povo e ampliado, naturalmente, graças ao sucesso de um plano econômico (de 'direita'?) que o governo do ex-presidente Lula herdou de seu antecessor. Ou alguém imagina que algum estadista assume o poder pensando em massacrar miseráveis? As únicas exceções, claras e indiscutíveis, vieram justamente da ex-União Soviética e da China, onde houve os maiores genocídios da história do homem.
     Para o bem de todos e felicidade geral da inteligência, seria bom que começássemos a repensar essa teoria tola e medíocre de que somente alguns 'eleitos' detêm a chama da visão social. Ou a que só esses seres especiais conhecem os caminhos para reduzir diferenças. Democracia, caros, ainda é a melhor receita.

sábado, 19 de novembro de 2011

O grande 'cabide' federal

     Os dados são de um levantamento do Ministério da Fazenda e foram publicados por Veja: o Brasil tem 23.579 cargos de confiança, apenas na esfera federal, o triplo dos EUA e seis vezes mais do que a França. Se comparado aos exibidos pela Alemanha (500) e Inglaterra (300), esse número ficaria ainda mais vergonhoso. Mesmo aplicando-se qualquer regra de proporcionalidade (população, em especial), que deve valer, também, para o retorno que os governos dão a seus cidadãos.
     Basta olhar para esse absurdo para entender alguns dos motivos que levam o país a ser tão vulnerável a conchavos, troca de 'favores' entre partidos, leilão de ministérios e diretorias. Esses quase 24 mil assessores são o que podemos classificar de 'amigos do rei', ou dos condes e barões que infestam nossa vida política.
     Cada novo 'dignatário' da República carrega com ele uma enorme trupe, que passa a viver dos recursos públicos, um enorme cofre sem fundo. Ter direito a esse círculo de ajudantes e assessores é um dos atrativos do poder. Especialmente quando não se precisa pagar por eles, como qualquer empresário tem que fazer.
     Para agravar esse quadro, não raramente os eventuais se transformam em definitivos, graças a manobras, acertos, acomodações. A lamentar, ainda: a qualificação pessoal não tem a menor importância nessa equação.

Júlia e o Pedro II

     A turma da minha neta Júlia, no Colégio Pedro II do Humaitá - ela está terminando o segundo ano do ensino fundamental -, vai se apresentar hoje pela manhã, para parentes e amigos. As crianças vão executar números musicais, com flauta doce. O entusiasmo de todos deve ser o mesmo que ela vem exibindo, ao descobrir que consegue tocar lendo a pauta, as notas, interpretando as variações.
     Para quem não consegue distinguir entre um dó e um sol, como eu, é um momento diferenciado. Ver que essas crianças estão sendo movidas e envolvidas pelas artes é algo especial. Isso, em um colégio público. Um colégio que reconhecidamente sofreu, ao longo dos anos, com o processo de perda de conteúdo que marcou nosso sistema educacional, mas que mantém o espírito e a vocação de 'padrão' do antigo educandário.
     Pois o Pedro II foi o 'colégio padrão' brasileiro por mais de um século. Fundado em 2 de dezembro de 1837 (aniversário do imperador Pedro II), era o caminho natural e único para o acesso direto aos cursos superiores nos anos 1800. Fez e continua fazendo história. Como nos sete anos em que eu lá estudei. Anos efervescentes, de mudança no país, como as provocadas pelo Movimento Militar de 1964. Anos que forjaram uma geração que amadureceu mais rapidamente, que assumiu um papel protagonista.
     Olho para Júlia, com o mesmo uniforme que minhas colegas usavam há 50 anos e me emociono (já prometi a ela o emblema do último ano, com as três estrelas, que guardo até hoje). Eu ainda usei a calça azul marinho, a camisa de mangas compridas cáqui e a gravata azul marinho obrigatória que substituíram a antiga 'farda imperial'. Mas logo houve a troca de uniforme, que mudou as cores da camisa (para branco) e da gravata - que não mais existe -, para azul claro. Quase exatamente como hoje, honrando seus 174 anos de tradição.
     Brinco com Júlia, dizendo que somos 'colegas'. E não deixamos de ser - quem passou pelo Pedro II sabe disso. Afinal, cantamos a mesma 'Tabuada' (espécie de 'grito de guerra' dos alunos) e entoamos o mesmo hino, criado em 1937, e que continua absolutamente atual:

     "Nós levamos nas mãos
     O futuro de uma grande e brilhante nação
     Nosso passo constante e seguro
     Rasga estradas de luz na amplidão".

Minha frase da semana

"A presidente Dilma Roussef não tem muitas escolhas. Ou consegue romper com essa teia de corrupção, assumindo um papel mais protagonista, ou jamais deixará de ser 'a mulher do Lula'".

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Crise de princípios

     O Brasil vai muito mal. Além de todos esses escândalos na esfera federal, surgiram, hoje, notícias devastadoras. Em Rondônia, por exemplo, a Polícia Federal prendeu o secretário estadual de Saúde e oito deputados - um terço da Assembleia! -por envolvimento em fraudes em licitações e contratos. O chefe da quadrilha, segundo a Polícia, é o presidente da Casa, um tal de Valter Araújo, não por acaso, do PTB, partido envolvido até a medula em quase todas as tramoias dos últimos anos.
     Em São Paulo, o presidente do Metrô, ligado ao PSDB, acaba de ser afastado, por determinação da Justiça, acusado de falcatruas. Em Brasília, o Superior Tribunal de Justiça ordenou a quebra dos sigilos bancário e fiscal do governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), e do ex-ministro do Esporte, Orlando Silva (PDT), atendendo a pedido da Procuradoria-Geral da República, que investiga fraudes nos contratos com ONGs.
     Mais uma vez o noticiário político se confunde com o policial, de maneira deplorável. Fica difícil acreditar que o país, em algum momento, vai dar o passo em direção a uma vida pública com mais dignidade. O acúmulo de decepções chegou a níveis inimagináveis. O Brasil precisa ser passado a limpo.

'Primavera' sem fim

     A 'Primavera árabe', assim como o inverno carioca, parece não ter fim, e invade outros tempos. O noticiário de hoje nos remete à radicalização da crise na Síria e ao Cairo, que teve praça e ruas tomadas pela população, que pede, agora, o fim do poder da junta militar que assumiu o país quando da queda o ditador Hosni Mubarak.
     Tudo leva a crer que foi uma manifestação pacífica, como começaram todas as que aconteceram na Tunísia, Sudão, Líbia, Argélia, Jordânia e, também agora, na Síria. A história recente, no entanto, mostra que a tendência de esses movimentos (que não se limitaram ao mundo árabe, como sabemos) é crescer e se transformar numa onda de revolta, com as mortes e dramas inevitáveis.
     A paciência do povo egípcio tende a se esgotar, a partir do momento que há a consciência de que pouco mudou no país, excetuando a queda do mandatário. O poder continua nas mãos dos militares, que davam sustentação ao regime anterior.
    No mundo ocidental e Israel, no entanto, essa simples troca de guarda foi bem recebida. Havia o temor da assunção de um governo fundamentalista. Afinal, Egito e Jordânia são referências na manutenção da paz no Oriente Médio, graças aos acordos com Israel.
     Uma mudança drástica poderia provocar a desestabilização, justamente num momento em que o Irã radicaliza, insistindo no direito a continuar com as pesquisas na área nuclear, vetadas pelos organismos internacionais. E que a Síria ignora recomendação da própria Liga Árabe e continua no processo de destruição dos adversários do governo.

O poder da corrupção

     A página de cartas de leitores é, sem a menor dúvida, um bom termômetro para avaliar a repercussão de determinados fatos na população, pelo menos na população que procura informação. É leitura obrigatória para quem trabalha com comunicação. Eventualmente, em situações extremas, como em eleições presidenciais muito polarizadas, existe a possibilidade, sim, de uma mobilização de grupos, para dar mais volume a um dos lados. Nesses casos, prevalece, quase sempre, a experiência dos editores, que conseguem filtrar o que é reação natural, do que produzido.
     Se o Governo se desse ao trabalho de ler a opinião dos leitores de O Globo, hoje, veria o quanto está sendo desgastado nesse espísódio do ainda ministro do Trabalho, Carlos Lupi. Ficou claro, na leitura das cartas, que há, sim, uma sensação de que a presidente Dilma Rousseff está, de certa maneira, pressionada a manter o 'auxiliar', apesar das constatações de corrupção na pasta e das mentiras proferidas em rede nacional de televisão.
     A sensação quase geral é de que Lupi tem um poder que deriva do conhecimento dos intestinos governamentais, acumulado ao longo dos anos de colaboração e parceria. Em síntese: não caiu, ainda, porque sabe muito, e poderia contar o que sabe. Tendo a concordar com essa visão. Aliás, venho escrevendo mais ou menos isso desde o início de mais esse escândalo.
     A promiscuidade na montagem da tal base de apoio ao governo, desde os anos Lula, gerou um monstro, que chafurda prazerosamente na lama. O esquema montado pelo PT, quando do Mensalão, foi sendo aprimorado. O dinheiro público que regava os planos de Poder continuou sendo despejado, agora, de maneira que julgavam ser menos ostensiva, através de ONGs amigas, pilantras, criadas de comum acordo com vigaristas de plantão em Brasília, em especial.
     Isso, sem eliminar as tais comissões e aditivos nos orçamentos milionários de obras espalhadas pelo país, outra fonte indecente de corrupção.
     Para honrar os milhões de votos recebidos , mesmo que apenas transferidos, exige-se que a presidente Dilma Rousseff, afinal, comece a governar, divorciada, de uma vez por todas, de um passado recente de escândalos que envergonha a nação.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Um ministro 'altruísta'

     O ainda ministro do Trabalho, Carlos Lupi (PDT), mostrou que é um homem que 'respeita a lei'. Ao ser questinado, hoje, durante depoimento no Senado, afirmou que estaria disposto a devolver as diárias que ganhou ilegalmente durante uma viagem pelo seu partido, ao Maranhão, em dezembro de de 2009. É de um desprendimento que chega a emocionar. Só para amarrar os fatos: essa é a tal viagem em que ele usou o avião particular de um 'presidente' de várias ONGs que receberam dinheiro público, através do ministério.
     No depoimento, além de se comprometer com a devolução das diárias, num gesto absolutamente altruísta, Lupi acabou reconhecendo que viajara no tal avião, sim, mas que havia esquecido. Não disse que só lembrou da viagem, e do conforto do avião (o que ele estava usando provocada 'zumbidos' no ouvido), depois que Veja divulgou suas fotos descendo a escada.
     Também não se explicou muito sobre as denúncias anteriores a essa, que provocaram a demissão de alguns altos funcionários do Ministério. Apostou, dessa vez, na expressão compungida, séria, sem arroubos. Nem de longe lembrou o ministro que desafiou a presidente Dilma a demiti-lo e bravateou que só sairia do ministério "à bala". Também não repetiu as patéticas juras de amor.
     Foi o bastante para alguns companheiros concluírem que ele foi bem nas respostas, tentando remendar os enormes rombos deixados pelo comportamento anterior e dar ao ainda ministro uma sobrevida.
     E assim caminha nossa República.

Dinheiro no colchão

     O governador do Distrito Federal, o petista Agnelo Queiroz, ex-ministro do Esporte e também acusado de ter feito parte do esquema de corrupção que acabou derrubando seu sucessor no cargo, Orlando Silva, reeditou hoje, em entrevista à Folha de São Paulo, uma das desculpas mais esfarrapadas da história dos 'malfeitos' republicanos.
     Ao sustentar que o tal dinheiro que recebeu de um lobista (R$ 5 mil) destinava-se ao pagamento de um empréstimo que ele teria feito ao seu acusador, disse, com todas as letras, sem o menor pudor, que guardava quantias altas, em espécie (notas, meus amigos, muitas notas) em casa, por "questões de segurança". Imaginem a situação: um ministro (ele fazia parte do Governo Lula) mantendo dinheiro em casa, por ter medo do sistema bancário.
     Esse tipo de comportamento é até comum, sabemos, em determinadas 'camadas' da sociedade. Gente que guarda dinheiro sob o colchão, por não ter como explicar a origem. Agnelo Queiroz, ao produzir essa versão ridícula, imagina que somos todos idiotas, ou está confessando que tem receitas 'extraordinárias'. Não encontro outra explicação.
     Fico imaginando como é que alguém, na posição dele, consegue proferir tamanha insensatez e ir para casa, sem ter ânsias de enfiar a cabeça num buraco, como um avestruz. Não é o primeiro a justificar, assim, a posse de valores não explicáveis. Apanhado no furacão que arrastou Orlando Silva, fingiu que a história não era com ele, até quando não foi mais possível.
     Imprensado por novas denúncias, vem criando factoides. Lembra, com essas atitudes, seu colega de partido, o atual presidente da Comissão de Justiça (???) da Câmara, João Paulo Cunha, acusado no processo do Mensalão. Quando confrontado, na época, com o vídeo de sua mulher retirando dinheiro em uma agência do banco usado no esquema de 'partilha de recursos não contabilizados' (roubo, mesmo), Cunha garantiu, entre outras versões desmoralizadas, que ela estava lá para pagar a conta da tevê por assinatura.
     Como diria Leonel Brizola, o ex-mentor de Agnelo (ele era do PDT, antes de 'costear o alambrado' e pular a cerca para o PT), eles são todos 'farinha do mesmo saco'.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Opinião pública?

     Esses nossos representantes não têm jeito, mesmo. Não se envergonham de propor absurdos, de aumentar gastos, de zombar da opinião pública. O mais recente caso está no O Globo. O tal PSD, o novo partido criado pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, quer se instalar na Câmara com uma estrutura proporcional ao seu número de deputados.
     Até aí, tudo bem, embora esse desejo derrape na frivolidade. Mas não se trata, apenas, de uma saleta aqui, um conjunto melhor ali. Não. É muito mais sério. Como os partidos que mais perderam nomes - especialmente DEM e PSDB - não abrem mão de privilégios anteriores, a solução pode ser aumentar as vantagens, quando a decência indica que esses dois partidos teriam que se adaptar à nova realidade, que eles mesmos provocaram, por inconsistência ideológica de seus quadros. Se é que há algum partido realmente com estofo ideológico.
     Uma das medidas aventadas é o aumento de contratados, é claro. Ficariam os que já estavam e que pertenciam às cotas dos que mudaram de sigla, e entrariam novos. Mais um escândalo, pela iniquidade da proposta.

O dilema de Dilma

     "Planalto cobra de PDT substituição de Lupi"

           O Globo 16/11/2011
     Se não for desmentida, como não não será, a manchete de hoje de O Globo é mais uma evidência da submissão do Governo Dilma à rede de acordos e conchavos tecida pelo ex-presidente Lula para dar sustentação ao projeto de poder do Partido dos Trabalhadores, elaborado e desenvolvido ao longo dos últimos anos.
     Nenhum governo que se proponha a liderar pode abrir mão da montagem do ministério, da escolha pessoal dos administradores diretos do país. É claro que todos nós sabemos que a elaboração das equipes passa pela discussão com aliados, apoiadores. Mas não a ponto de ceder o poder, de transferir para um partido, seja ele qual for - a substituição de alguém do primeiro escalão.
     É uma maneira simplória e cômoda de repassar responsabilidades, de fazer acreditar que não tem vínculos com os escândalos: "É problema do PDT, que tem a obrigação de resolver", parece estar querendo dizer a presidente. Não é, presidente, tomo a liberdade de afirmar. Como também não é, como já chegou a ser comentado, uma 'herança maldita' do governo passado. Não podemos esquecer que Dilma Rousseff fez parte da estrutura anterior, ela, sim, no primeiríssimo escalão.
     A maior responsável pela recorrência de escândalos é a presidente Dilma, que nada fez para desmontar o esquema que ela ajudou a estabelecer, submetendo-se às diretrizes impostas pelo seu mentor e inventor.
     A presidente não tem muitas escolhas. Ou consegue romper com essa teia de corrupção, assumindo um papel mais protagonista, ou jamais deixará de ser 'a mulher do Lula'.

Uma partida mágica

     Li, no Estadão de hoje, um depoimento emocionante de Juninho Paulista, na série 'O Jogo da minha vida'. E o jogo de Juninho foi aquele em que o Vasco conquistou a Copa Mercosul de 2000, na incrível final com o Palmeiras, no Parque Antártica, em São Paulo, naquele 20 de dezembro.
     O Vasco foi para o intervalo perdendo por 3 a 0 e com um homem a menos (Júnior Baiano fora expulso). Ninguém poderia imaginar o que aconteceria no segundo tempo. A torcida palmeirense já estava comemorando o título, assim como os jogadores (Juninho destaca esse detalhe no seu depoimento).
     De repente, os gols foram surgindo. Romário, Romário, Juninho e o iluminado Romário outra vez. Quatro a três e Vasco campeão, o mais improvável - pelas circunstâncias - de toda a história do futebol. Nada superou esse momento, essa magia. Nunca antes, nem depois.
     Não falo, apenas de uma reação, de uma virada de jogo. Elas acontecem, para o bem do futebol. Eu me detenho no conjunto, em todos os componentes dessa partida que entrou para a história, não só de Juninho e dos demais campeões, mas do esporte como um todo.
     O Vasco era, há algum tempo, o melhor time do Brasil, na época, e isso ficou comprovado alguns dias depois, com a conquista do Brasileiro, contra o São Caetano. Foram alguns anos de vitórias memoráveis de uma geração que revelou Juninho Pernambucano e Felipe, entre outros. E que contava com Romário, Jorginho, Mauro Galvão e Euller, em plena forma.
     Mas o Palmeiras ignorou tudo isso e dominou os primeiros minutos. Fez 3 a 0 e a expectativa de todos remetia para uma goleada ainda maior, já que o Vasco, com menos um, precisaria se expor ainda mais. Só que os tais deuses do futebol entraram em campo e propiciaram a vitória mais épica da história do Vasco, já repleta de momentos marcantes, e do próprio futebol.
     Concordo inteiramente com a escolha de Juninho. Eu, que acompanhei todas as grande conquistas vascaínas das últimas cinco décadas, quase todas nos estádios. Nessa, eu estava em casa, olhos na tevê. Mas foi - como dizia Waldir Amaral, um velho locutor - 'como se estivesse à beira do gramado'. Não tenho a menor dúvida em afirmar que foi a minha maior emoção como torcedor.
     Hoje teremos outro Vasco e Palmeiras. As circunstâncias são diferentes. O Palmeiras está em crise e o Vasco sonha com mais um título brasileiro. Não há como comparar momentos tão distintos. Prevalece, no entanto, a mágica que cerca cada partida desse que é o maior esporte do mundo.

A febre onguista

     Cada vez que eu leio uma denúncia envolvendo gente desse governo (na verdade dessa Era Lula) e ONGs amigas eu fico me perguntando até quando o país vai suportar essa malandragem institucionalizada. Sempre ficou muito claro, para mim, que havia algo de muito podre nessa relação, nessa febre onguista que tomou de assalto - literalmente - a nação.
     Os números falam por eles mesmos: há cerca de 340 mil ONGs espalhadas de norte a sul, de leste a oeste, das quais mais de 100 mil (é issso mesmo!) recebem verbas oficiais. Nesse caso vagabundo do ministério do Trabalho, um dos denunciantes do envolvimento do ainda ministro Carlos Lupi (PDT) com essa turma é 'presidente' de algumas, como se ele dirigisse uma franquia de frango assado.
     As ONGs, no Brasil principalmente, mas não só aqui, se transformaram em meios de enriquecimento de muita gente, quando deveriam ser operadoras de oportunidades para a sociedade. E quando elas, essas ONGs vigaristas, se unem a projetos 'políticos', o resultado não pode ser diferente: corrupção, desvio de dinheiro público, promiscuidade.
     Essa é mais uma conquista da Era Lula: a transformação de uma movimento idealista em um esquema criminoso, destinado a construir o projeto de Poder que vem sendo instituído por aqui. Para tanto, além de aparelhar o Estado e comprar e fabricar sindicatos e entidades semelhantes, era necessário reunir uma grande 'base de apoio', essa que eu costumo chamar de saco de gatos ideológico.
     Mas, para isso, era preciso dinheiro. As ONGs, com suas dotações orçamentárias, se encaixaram perfeitamente no esquema, graças às facilitações, à falta de fiscalização, às manobras.
     Carlos Lupi? Já está cumprindo o aviso prévio há algum tempo, à espera, apenas, do circo da passagem de bastão, com direito a aplausos e elogios da presidente. Seis ministros derrubados por corrupção em onze meses. É algo digno de livro de recordes.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

O direito aos direitos

     Dois, cinco, duzentos fuzis. O número de armas apreendidas pela Polícia na Favela da Rocinha não tem a menor importância, se comparado à responsabilidade que, finalmente, o Estado parece ter assumido com aquela parcela da população.
     Os investimentos anunciados, sim, podem trazer um enorme retorno. A presença 'ostensiva' dos serviços públicos é uma obrigação, e certamente vai acarretar a dissolução do poder paralelo que o tráfico vinha exercendo, no vácuo deixado por seguidas administrações.
     O crime só se instala, forte e vigoroso, na ausência dos poderes públicos. É nesse momento, no abandono, que as populações mais carentes se voltam para quem oferece o mínimo, mesmo que esse mínimo tenha um preço exorbitante, como o da submissão às drogas e aos chefões do submundo.
     A cidade precisa ser resgatada, de traficantes e milicianos. De bandos civis e uniformizados. Talvez não haja algo que envergonhe tanto um cidadão quanto a subserviência aos representantes do que há de pior na sociedade. Saneamento, escola digna e segurança não são dádivas que podem ser negociadas a cada eleição. São direitos.
     Mas não somente dos moradores de comunidades carentes. O Rio de Janeiro, como um todo, precisa, urgentemente, voltar a garantir, a todos nós, o que é nosso por direito.

Aviso prévio

     Se alguém tinha dúvidas sobre a capacidade de o ainda ministro Trabalho, Carlos Lupi (PDT), resistir à avalanche de denúncias sobre corrupção e malfeitos em geral (como o uso de aviões de ONGs amigas em desloamentos políticos e criação de sindicatos fantasmas, como a Folha denunciou), acredito que elas estão diminuindo progressivamente.
     Nem mesmo o superpoderoso ex-ministro Antonio Palocci conseguiu sobreviver à constatação de enriquecimento além das expectativas normais. Sangrou mais do que imaginavam ele e o Governo, mas, ao fim, 'pediu demissão para se defender melhor das acusações e provar sua inocência'.
     Não será um Carlos Lupi, que não conta, sequer, com a confiança dos nomes mais tradicionais do PDT, que conseguirá evitar a queda livre. É apenas uma questão de tempo, ou de uma ou duas capas de revista.
     Se fosse um político americano, sairia hoje, ao ver, nos jornais, a foto em que aparece descendo do tal avião da ONG parceira que ele afirma nunca ter usado. A sociedade americana, com todos os seus enormes defeitos, tem uma qualidade indiscutível: não tolera a mentira. O ex-presidente Nixon foi apeado do Poder muito mais por ter mentido, do que pelo crime inicial (escuta ilegal em uma sede do Partido Democrata).
     Bill Clinton esteve muito perto de sofrer impedimento pelo mesmo motivo: mentir sobre o relacionamento com uma ex-estagiária Monica Levinski. Os americanos talvez não tivessem levado o caso tão a sério, se ele reconhecesse o - digamos - namoro com a jovem.
     Aqui no Brasil, infelizmente, a mentira tem pernas longas, ao contrário do adágio popular. Tem sido assim nessa Era Lula. Mesmo flagrados com a mão no cofre, os ocupantes do governo e dos partidos companheiros negam até o fim, na expectativa do esquecimento. Mas, embora lenta e usada como arma de diversionismo, a mentira, ao fim, vem punindo seus autores. Só mesmo o ex-presidente tem tido fôlego de sobra para ser a exceção, confirmando a regra.
     Lupi já está de aviso prévio.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Polícia e bandido

      Veja faz uma pergunta, na sua página on line: onde estão os traficantes da Rocinha, já que apenas cinco foram presos? Tomo a liberdade de dizer que muitos estão por lá mesmo, infiltrados entre as dezenas de milhares de pessoas de bem que compõem a maior favela urbana do país. Os demais, estão abrigados em outras comunidades ainda não 'pacificadas' ou que já entraram na rotina da 'pacificação'.
     Esse mesmo fenômeno ocorreu nas ocupações anteriores, quando apenas grupos pequenos de criminosos foram presos. O fato não surpreende. Ninguém poderia imaginar que houvesse, de fato, a proposta de prender centenas (milhares?) de traficantes e assemelhados. O objetivo principal, a princípio, é eliminar a cadeia de comando e estabilizar as comunidades, livrando-as do domínio direto e formal dos bandidos.
     De alguma maneira, isso vem sendo conseguido, mas em troca de uma clara conivência com o 'pequeno delito', como destaquei no texto anterior. Essa acomodação - digamos - social tem um lado muito bom, é inegável: um reduzido número de vítimas, principalmente inocentes. Mas não elimina a doença, que tende a se alastrar. O Brasil, que não produz cocaína, por exemplo, já convive com o inferno do crack, com a decadência moral que ele provoca.
     A adaptação a uma realidade é até aceitável. Só não podemos cair na armadilha do crime consentido - a venda 'permitida' de drogas, desde que não ostensiva e armada -, que é um caminho sem volta. O convívio com criminosos é um convite à promiscuidade. Como dizia Lúcio Flávio, um antigo e famoso 'fora-da-lei' carioca: "Bandido é bandido; polícia é polícia".

Não existe tráfico tolerável

     Trocando de canal, ontem à noite, à espera do início do Manhattan Connection, um programa que fecha bem as noites de domingo - apesar das batatadas sintáticas do analista de economia -, passei por uma entrevista com um desses sociólogos (ou coisa que o valha) 'modernos'. O assunto em debate era a ocupação da Favela da Rocinha, a oferta de serviços e o estilo de ocupação ideal para esas áreas conflagradas da cidade.
     Discurso politicamente correto, destacando a importância da chegada do Estado a locais dominados pelo crime, levando com ele, Estado, os serviços básicos, liberdade, segurança, saneamento etc. E foi, então, que, ao meu ver, tudo desandou. Ao ressaltar a importância da retomada sem confrontos, que poderiam atingir inocentes, a conversa tropeçou na tolerância com o tráfico, o que - revelou o tal especialista - ocorre naturalmente nas demais regiões 'pacificadas'.
     Nelas, segundo ele, a venda de drogas continua sendo feita, mas sem a ostentação de armas, sem risco de confrontamentos, sem violência. Uma convivência pacífica, já, que de acordo com o raciocínio atravessado do entrevistado, não será possível acabar com o tráfico, que existe em todas as partes do mundo. Em síntese: se o crime for executado de maneira discreta, tudo bem.
     Essa imbecilidade me dá o direito de imaginar que a sociedade deve tolerar um assassino que usa faca ou cordas como 'instrumentos de trabalho'. Afinal, não fazem barulho, como pistolas e fuzis, e a morte tende a ser resultado de um ato discreto.
     Seguindo esse raciocínio estúpido, drogas vendidas sem alarde não representam, sequer, ameaça à vida, à dignidade, de seus consumidores. Como também não contribuem com a geração de novos criminosos, nem com a promiscuidade que envolve policiais e bandidos.
     Promiscuidade, aliás, que ainda precisa ser bem apurada, no caso específico das denúncias do ex-chefe do tráfico na Rocinha, o Nem. Eu faço questão de saber quem é que ficava com a metade da receita da venda de drogas. Assim como espero pela apuração detalhada da tentativa de policiais de Maricá de interceptar o comboio que levava o traficante para a Polícia Federal.

domingo, 13 de novembro de 2011

Sangue para a turba

     Pode ser que eu venha a me render, algum dia, ao fascínio que - sou obrigado a reconhecer - que esse tipo de 'esporte' vem exercendo. Mas ainda não foi dessa vez. Não parei para ver o lutador Júnior Cigano dar um soco (ou vários, não sei bem) e derrotar o americano Cain Velasques, no tal UFC.
     Como a TV Globo investiu na luta, foi impossível não saber dela e, eventualmente, ver e ouvir algumas entrevistas sobre essa modalidade de luta. Fiquei sabendo, por exemplo, que não 'vale tudo', como eu imaginava. É proibido enfiar o dedo nos olhos do adversário e atingir as - digamos - partes pudentas.
     Bater até sair sangue, pode. Aliás, é o que todos esperam nesse tipo de combate. Muito sangue, violência extrema e inevitáveis problemas futuros. Há violência, também, em diversos esportes. No futebol americano, os atletas são obrigados a usar capacete e armaduras, para minimizar o risco de fraturas e contusões em geral. No boxe, os amadores usam protetores na cabeça. No nosso futebol, há fraturas, cotoveladas. Mas são eventuais.
     No UFC, a aniquilação do adversário é o fim, o objetivo. Não consigo gostar, nem achar esportividade. Vou sempre lembrar dos gladiadores sendo atravessados por espadas ou comidos por leões, para satisfação da turba.

O culto à mentira

     A chance de desmascarar personagens como o deputado Rui Falcão, presidente nacional do PT, é irresistível, pelo menos para mim. Confrontado com as evidências de corrupção no ministério do Esporte, quando era dirigido pelo atual governador do Distrito Federal, o recém-convertido Agnelo Queiroz (ele era do ...PDT), o destacado prócer petista preferiu chamar os opositores do governo de "canalhas" e "caluniadores". Isso, para uma plateia perfeita, no 2º Congresso Nacional da Juventude do PT.
     Não apresentou - pelo menos a Folha não registrou - qualquer evidência de que as denúncias - semelhantes em tudo às que derrubaram Orlando Silva, recentemente - não são verdadeiras. Limitou-se a um discurso raivoso - "quero cumprimentar aqueles que votaram para acabar com aquela corja" -, bem ao estilo do seu partido, marcado pelo ódio, pela intolerância, pelo desrespeito ao contraditório. Basta ver os discursos que pontilham sua existência. Os olhares rútilos, os dedos em riste, as caras fechadas, o tom sempre agressivo.
     Não interessa a esse luminar petista que haja apuração alguma no Distrito Federal. Assim como jamais interessou ao Governo Federal investigar a fundo as denúncias que derrubaram seis ministros em apenas dez meses. Fica claro, para quem observa com visão crítica e livre, que o antigo 'partido da dignidade' teme mexer na corrupção que está encravada em todos os níveis do espectro petista, incluindo, nesse mundo, as legendas que gravitam em torno dos cargos oferecidos em Brasília. Sejam elas tanto as de aluguel, quanto as alugáveis.
     Os casos de corrupção e uso de recursos públicos para beneficiar e enriquecer políticos, partidos e amigos do Poder são a grande marca dessa 'Era Lula', a que inaugurou no País o culto à mentira e à dissimulação.

sábado, 12 de novembro de 2011

Governabilidade e corrupção

     Vivaldo Barbosa, ex-deputado federal e um dos pedetistas históricos, ocupou a página de Opinião de hoje, no O Globo, para expor seu desencantamento com os rumos assumidos pelo PDT ao longo dos últimos anos. Lembrou a idoneidade dos ex-presidentes Getúlio Vargas e João Goulart e do ex-governador Leonel Brizola, cujas vidas foram devassadas, sem que que fossem descobertas manchas.
     São três exemplos de políticos ao estilo antigo, dos quais se pode discordar, sim. Eu mesmo, apesar de ter militado, na juventude, nas bandas trabalhistas, enxergo, hoje, as enormes contradições e erros da prática populista que marcaram a história desse segmento ideológico. Mas jamais duvidei da ingridade pessoal desses três símbolos de uma corrente política. Não passa pela minha cabeça a mais leve suspeita sobre o comportamento individual de João Goulart, que - bem destaca Vivaldo Barbosa - morreu mais pobre (menos rico, seria mais indicado) do que ficara, ao casar com Maria Teresa, uma herdeira de fazendeiros gaúchos.
     Vivaldo Barbosa talvez tenha esquecido, no entanto, a enorme responsabilidade da parcela histórica do Trabalhismo na podução de gerações deletérias de políticos, em especial no Rio de Janeiro. Todos, ou quase, 'costearam o alambrado', como dizia Brizola, ao se referir aos que tentavam voos próprios, saindo de sob as asas partidárias e mergulhando onde eram oferecidas mais vantagens.
     Com o tempo, surgiram excrecências, políticos sem matiz, dispostos a negociar tudo e qualquer coisa por vantagens pessoais. E toda uma geração desfibrada, de várias siglas (esse é um pecado generalizado, e não apenas do PDT) descobriu que poderia transformar apoio em vantagens, garantir uma tal de 'governabilidade' em troca de ministérios, secretarias e todos os cargos possíveis e imaginários.
     E toda essa gente, sob o comando e liderança do Partido dos Trabalhadores, nessa malfadada 'Era Lula', gerou a maior série de escândalos da história desse país. Do Mensalão - o maior deles, sim - à manipulação das tais ONGs, fachadas para a expropriação do dinheiro público, passando por vendedores de informações privilegiadas, produtores de dossiês falsos e batedores de carteira comuns, pegos com dólares na cueca.
     O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, é apenas mais um exemplar dessa quadra vergonhosa para o país. Há três dúzias de criminosos - a quadrilha do Mensalão - à espera de julgamento no STF. Há uma penca de ex-ministros que se fingem de mortos, contando com o esquecimento dos seus malfeitos recentes. E a cada fim de semana, novos personagens são adicionados a esse relação deplorável. Basta ver as capas das nossas revistas.

A ameaça documentada

     Sempre vão surgir aqueles que acreditam, sinceramente, em teorias da conspiração. E eles vão jurar que a Agência Internacional de Energia Atômica - ao denunciar com mais detalhes a corrida iraniana em busca do desenvolvimento de armar nucleares - está agindo em nome das forças do 'império americano', preparando o terreno para a futura invasão. E há os não são nem inocentes, nem úteis à sociedade. Aqueles que defendem tudo e qualquer um que se alinhe contra o Ocidente e, por lógico, contra a democracia.
     São os defensores dos aiatolás que apedrejam adúlteros e financiam atos terroristas pelo mundo; que negam o Holocausto e pregam a destruição, primeiro, de Israel, depois, dos resto do mundo infiel. Contra esses, não há argumentos. De nada vai adiantar a Agência, um órgão absolutamente respeitável das Nações Unidas, documentar suas denúncias, apresentar cartas e imagens conseguidas por satélites.
     Os jornais de hoje, entre eles O Estado de São Paulo, noticiam que o diretor mundial de Inspeções da Agência, Herman Nackaerts, apresentou um texto contundente, relatando o trabalho iraniano para desenvolver uma bomba atômica e enfatizando que as pesquisas secretas continuam, apesar dos desmentidos do governo.
     Em algum momento o mundo que pensa vai ser obrigado a assumir uma posição mais enfática em relação a essa ameaça à paz. Não há como conviver com esse risco.

Minha frase da semana

    "A divisão em unidades federativas - herdada das Capitanias Hereditárias - não pode, sob argumento algum, servir de justificativa para a discriminação, para a condenação eterna de outros brasileiros à pobreza, aos limites impostos pela mesma roleta que premiou fluminenses e capixabas."

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Uma história mal contada

     Essa história de policiais de Maricá aparecerem no Rio para intervir na prisão do traficante 'Nem' está muito mal contada. O desconforto do secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, ao falar sobre o tema, no Jornal Nacional, foi flagrante. Normalmente incisivo e sem subterfúgios, o secretário ficou claramente em cima do muro.
     Não disse, nem deixou de dizer. Evitou claramente se aprofundar, admitindo, no entanto, que não sabia os motivos da interferência de policiais de outro município em uma prisão de um chefe de quadrilha no Rio de Janeiro, efetuada pela Polícia Militar. Sua pior frase, sem dúvida, foi a seguinte: "
Se alguém os chamou tem que perguntar para quem os chamou". Esse 'alguém', secretário, foi seu subchefe de Polícia, que, em tese, deve responder ao senhor, e não a algum repórter.
     As explicações - ou a falta delas, para ser mais exato - do subchefe da Polícia Civil, delegado Fernando Velloso, só serviram para nublar ainda mais a questão. Ele admitiu que deu a ordem para bloquear o comboio que levava o traficante, em nome de um suposto acordo para que os nomes de policiais envolvidos com o tráfico fossem revelados, em troca de determinadas regalias. Não me convenceu, em absoluto. Ao contrário.
     Nem já estava preso e ainda não havia falado, oficialmente, sobre a distribuição de dinheiro entre policiais. Só tocou no assunto durante depoimento na Polícia Federal, para onde foi levado. E que história é essa de bloquear um comboio policial para resgatar um preso? Há algo de podre nesse reino do submundo, não tenho a menor dúvida. Parece - tomara que eu esteja errado - que há uma enorme tentativa de abafar as denúncias de corrupção.
     E por que essa pressa, do governador Sérgio Cabral, em transferir o preso para fora do Estado? Ele está em Bangu 1, custodiado. Não oferece perigo imediato. É hora de aproveitar e explorar bem as denúncias, tentar arrancar do preso tudo o que ele sabe. Mandá-lo para longe só vai facilitar a vida da quadrilha policial que se beneficiava do comércio de drogas.

O petróleo é nosso, sim. De todos os brasileiros

     Normalmente, sem medo de errar, eu vou sempre me colocar no lado oposto das ideias e atos defendidos por algum integrante do Partido dos Trabalhadores. Já confessei que votei em Lula uma vez, no segundo turno contra Fernando Collor. Naquela época (fim dos anos 1980), além da absoluta falta de opção, ainda havia algo de ideal na pregação do PT. O tempo mostrou, ao menos para mim, que somos vítimas do maior estelionato ideológico já perpetrado no país.
     Sendo assim, a minha lógica apontaria para a posição contrária à defendida pelo senador Wellington Dias (PT-PI) no caso da distribuição dos royalties do petróleo, por exemplo. Não é o que acontece. Ao ler uma de suas afirmações, hoje, em O Globo, tive que concordar integralmente com ele. Assino embaixo, literalmente. Diz o senador: "A população do Rio precisa compreender que não há explicação para convencer (os demais brasileiros) que um estado possa ficar com 80% de uma riqueza que é de todo o Brasil".
     É exatamente o que eu penso e já escrevi aqui, no Blog, algumas vezes. As riquezas brasileiras pertencem a todos nós, ou não seríamos uma nação. Não há justificativa plausível para excluir piauienses e paraibanos dos benefícios que serão gerados pela exploração de um bem do brasileiro, por acaso (a tal 'roleta geológica' à qual já me referi) espalhado ao longo do que se convenciona chamar de Estados do Rio de Janeiro e do Espírito Santo.
     A divisão em unidades federativas - herdada das Capitanias Hereditárias - não pode, sob argumento algum, servir de justificativa para a discriminação, para a condenação eterna de outros brasileiros à pobreza, aos limites impostos pela mesma roleta que premiou fluminenses e capixabas.
     Entendo que haja uma compensação especial, para recompor e evitar danos ambientais. Todos concordam com isso. Mas o resultado da exploração deve ser absolutamente democratizado, sob pena de aprofundarmos ainda mais as diferenças sociais que envergonham o país e ampliarmos ressentimentos.
     Quanto à passeata de ontem: há os bem-intencionados, sim. Pessoas que acreditam lutar pelo Rio etc. Mas, por trás dessa fantasia toda, prevalecem os interesses políticos. Puro marketing.

Duas faces da barbárie

     Vou me permitir uma leitura diferente do mesmo texto, publicado hoje pelo O Globo. A princípio, a notícia é mais uma evidência dos males gerados pela intervenção americana no Afeganistão. Um sargento do Exército foi condenado à prisão perpétua pela morte e mutilação (cortou os dedos, guardados como troféus) de civis afegãos.
     O crime, ninguém tem dúvida, é abjeto. Nada, nem mesmo a extrema pressão provocada pelos campos de batalha, justificaria um semelhante absurdo, resultado - certamente - de uma mente doentia. Segundo a matéria, o próprio Pentágono admitiu que esse tipo de conduta "prejudica a imagem dos Estados Unidos ao redor do mundo".
     O episódio, no entanto, embora não absolva o 'império', exibe uma das faces pródigas da democracia. Assassinos, quando descobertos, são julgados e condenados. No mundo do fanatismo religioso, do terrorismo de estado, criminosos se transformam em mártires, em herois. Um desequilibrado que atira bombas em comboios escolares ou explode turistas em restaurantes tem a promessa de recompensas espirituais e terrenas (as famílias recebem apoio financeiro).
     Essa é uma das grandes diferenças entre a civilização - mesmo imperfeita e sujeita a derrapagens históricas - e a barbárie. O soldado, bárbaro também, que atira em civis é condenado. O fanático que degola prisioneiros, em frente a câmeras, é idolatrado.

A hora da afirmação

     A justa comemoração pelo desmantelamento da quadrilha de traficantes que dominava a favela da Rocinha não pode se sobrepor a uma obrigação da cúpula policial: investigar profundamente o envolvimento de agentes civis e militares nesse mundo das drogas e corrupção. O caminho foi apontado justamente pelo chefe do tráfico na maior favela urbana do Brasil. 'Nem' disse, em depoimento à Polícia Federal, que pelo menos metade do seu faturamento era distribído entre policiais.
     Segundo as informações que começam a despontar nos nossos jornais, o criminoso chegou a dar detalhes dos dias de pagamento de propina. Havia muito dinheiro envolvido e, por consequência, um número bem grande de corrompidos. É o momento de verificar as denúncias e agir exemplarmente contra esses elementos da face abjeta das forças policiais.
     Não há meio termo, nem tempo a perder. O Estado do Rio de Janeiro e a cidade do Rio, em especial, precisam mostrar que não compactuam com bandidos travestidos de autoridade. É preciso cortar profundamente, sem olhar para divisas ou patentes ou cargos. Uma atuação segura, firme e rápida serviria para capitalizar ainda melhor esse clima de afirmação da dignidade das forças de segurança que estamos vivendo.
     É a hora de começar a reverter anos de afastamento, de desconfiança. A população precisa se reencontrar com a sua polícia, olhar para ela como um agente da cidadania, e não como um inimigo, alguém que se deve temer, por violento e arbitrário; ou desprezar, por corrupto.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Foice e martelo

     Nada como uma quinta-feira depois da outra, para rever conceitos e certezas. Semana passada, comentei, aqui no Blog, que não lembrava de ter ouvido tantas bobagens em tão pouco tempo, como no programa eleitoral gratuito de um tal de Partido da Causa Operária. Achava, naquele momento, que tão cedo não escutaria sandices semelhantes. Pois escutei, hoje, no mesmo horário, pouco antes do início do Jornal Nacional.
     Durante cinco minutos, fiquei embasbacado escutando o que o Partido Comunista Brasileiro pensa do mundo. Caros, é inimaginável. O PCB, com sua bandeira ornada pela foice e martelo, condenou a intervenção da OTAN e dos 'imperialistas americanos' nos massacres realizados por ditaduras do Oriente Médio. E seguiu por aí, investindo contra tudo e contra todos e exaltando ... Stalin. Foi quando faltou energia. Não pude ouvir o resto.
     Acreditem.

Uma ode a Dedé

     Há alguns dias, refletindo a satisfação com o desempenho espetacular do jovem zagueiro Dedé, do Vasco, afirmei que ele teria que fazer uns três gols contra para que eu começasse a reclamar. Acho que vou dobrar ou triplicar esse número. Dedé, a cada jogo, mostra uma evidente e animadora evolução técnica.
     Ontem, por exemplo, quando completou sua centésima partida pelo Vasco, teve uma atuação digna de placa em São Januário. Não 'apenas' pelos dois gols e pelo passe para mais um, na incrível vitória por 5 a 2 sobre o Universitário do Peru, pela Copa Sul-Americana. Mas também pela garra que contagiou seus companheiros e os torcedores.
     Sua colocação em campo é quase perfeita, o que garante o sucesso nas antecipações. O vigor físico é invejável. Mesmo sendo um atleta grande (mede 1,92 metro), tem muita velocidade. Tanto que quase sempre consegue superar, na corrida, atacantes muito mais leves. Alem dessas qualidades, sabe driblar, chuta razoavelmente bem, sabe passar e cabeceia como poucos. E não bate. Faz faltas, sim. Poucas. E nunca é desleal.
     É, sem dúvida, o melhor zagueiro em atividade no Brasil. E tem apenas 23 anos, idade em que os jogadores da sua posição ainda estão aprendendo os atalhos do campo.
     Dedé talvez seja a síntese dos grandes atletas que passaram pela zaga do Vasco nas últimas décadas. Tem o porte de Belini, a virilidade controlada de Orlando, o vigor físico de Brito (o melhor desempenho do Mundial de 1970, no México) e a técnica aprimorada de Mauro Galvão. Precisa, ainda, apreender a controlar os nervos. Mas talvez seja pedir muito de um quase menino.

"Perdeu, jogador"

     A prisão do traficante Nem (Antônio Bonfim Lopes), 'dono' da Rocinha, representa um alento para a população do Rio de Janeiro, pelo que ela representa de emblemático. Um grupo de policiais militares mostrou que existem, sim, profissionais dignos, que respeitam o compromisso que assumiram com a comunidade em que vivem, com o estado, com o país.
     Poucas horas antes, outro grupo, também de agentes da lei, fora preso ao dar segurança a um comboio de traficantes que fugiam da maior favela urbana brasileira, prestes a ser ocupada e a ganhar uma Unidade de Polícia Pacificadora.
     Os dois exemplos, tão distantes e opostos, exibem a diversidade que existe na sociedade e comprovam que a generalização é injusta. Nossa polícia, civil e militar, vem perdendo o respeito da sociedade, é verdade. A repetição de casos de corrupção, de envolvimento com bandidagem e de violência abriu um fosso entre as pessoas de bem e aqueles que deveriam zelar por elas. Mas não seria justo colocar todos num mesmo pacote do mal.
     Há maus policiais, sim. E esse fato se torna ainda mais inadmissível quando lembramos que o Estado conferiu fé pública a esses agentes, entregou armas para que defendessem a lei, o primado da justiça. Mas não podemos, jamais, esquecer que há abnegados, servidores mal-pagos que são confrontados com situações de conflito, de risco, e que nem por isso sucumbem à tentação.
     Os policiais que trancafiaram o maior traficante de drogas do Estado chegaram a ser postos à prova, com uma oferta milionária de suborno. Venceu a dignidade. Ou, como disse um dos policiais, ao se dirigir ao prisioneiro, algemado e enfiado na caçamba, e a Globo registrou:
     - Perdeu, jogador".

Vasco, uma paixão

     Sou Vasco desde sempre. Aprendi a ler nas páginas esportivas de O Globo, em casa, com minha mãe, antes mesmo de ir para a escola. Queria saber tudo o que acontecia com aquele time que me conquistou naturalmente, sem que eu me desse conta. Ficava encantado com as fotos, queria entender o que diziam aqueles conjuntos de letras que acompanhavam as imagens de Barbosa, Belini, Sabará, Ademir e outros que mexiam com meu imaginário de criança de subúrbio, da rua de terra onde dei meus primeiros chutes em peladas que quase sempre acabavam em dedões arrebentados.
     Meu primeiro ídolo esportivo foi um goleiro especial, a quem, nós garotos, tentávamos imitar, saltando na terra e gritando, como os locutores da época: "Agarra, Barbosa!!!", remanescente de um mito, o Expresso da Vitória. A ele se seguiram tantos outros que vi jogar, como Belini, Orlando, Coronel (o grande marcador de Garrincha), Écio Capovila, Vavá, Valter, Pinga, Sabará, Almir, Andrada, Alcir, Romário, Edmundo, Mauro Galvão e, o maior deles, Roberto, o ainda imbatível artilheiro do Campeonato Brasileiro e um dos maiores da nossa história, atrás apenas, oficialmente, de Pelé e Romário (não estou levando em conta os números de Túlio e não disponho de dados oficiais confiáveis sobre Dario, mas admito que tenham marcado mais do que Roberto).
     Em quase 60 anos de paixão, vivi momentos inesquecíveis, como a conquista do supercampeonato de 1958, e a dor dos 12 anos seguintes sem títulos significativos, justamente em uma fase da vida entre a infância e a idade adulta. Estava no Maracanã, no título de 1970, conquistado naquele jogo com o Botafogo (2 a 1, gols de Walfrido e Gílson Nunes). Eu e um amigo, Renato Kloss, também jornalista, varamos a madrugada comemorando.
     E vieram o primeiro título brasileiro, em 1974 (eu estive no empate - 1 a 1 - em Belo Horizonte e na vitória - 2 a 1 - no Rio, na decisão com o Cruzeiro), 1977 e os íncríveis anos 1980 e 1990, repletos de conquistas, algumas absolutamente emocionantes, como a Libertadores ("Juninho, monumental") e a Mercosul, na maior virada da história de uma decisão de título: 4 a 3 no Palmeiras, com um a menos e depois de estar perdendo por 3 a 0.
     Nessa caminhada, algumas - talvez muitas - dores, como a perda do Mundial de Clubes, nos pênaltis, para o Corínthians, quando merecíamos vencer (no Japão, a derrota foi normal, para uma equipe melhor), e alguns sentidíssimos títulos estaduais, em disputas com nosso eterno rival. Paralelamente, sofri o enorme desconforto de ver a imagem de um clube pioneiro na luta por igualdade ser arranhada por administrações desvinculadas da nossa história.
     Mas, fazendo um balanço dessas quase seis décadas de paixão, ainda envolvido pelo clima da sensacional vitória de ontem à noite (5 a 2), também de virada, quando tudo parecia estar perdido - afinal, "o Vasco é o time da virada, é o time do amor" -, concluo que todos os minutos desse sentimento valeram a pena, sim. É muito bom sentir orgulho de uma história, a mais bela de todas entre os clubes brasileiros. É muito bom sentir São Januário tremer de emoção.
     Casaca!