sábado, 31 de março de 2012

Coincidências petistas


     Esse tal de Jilmar Tatto, do PT paulista, líder do governo da Câmara, a cada dia contraria decididamente a essência do sobrenome. No caso da aprovação da Lei Geral da Copa, deu declarações estapafúrdias, bem ao estilo do seu partido e assemelhados. Agora, quando mais um ministro da presidente Dilma Rousseff vê-se envolvido em um escândalo, a prudência pediria algum comedimento nas palavras.
     Não foi o caso. Ao saber que seu colega de bancada e ex-ministro da Pesca, Luiz Sérgio (PT-RJ) admitiu um “malfeito” quando o PT pediu dinheiro a uma empresa catarinense que havia sido contratada pelo Planalto, para a campanha da então senadora e atual ministra das Relações Institucionais (???) Ideli Salvatti ao governo de Santa Catarina, apressou-se em repetir a vigarice retórica expelida ontem pelo diretório partidário.
    Segundo o Estadão, sem o menor tato, Jilmar disse que não houve o tal ‘malfeito’, já que o autor do pedido de um reforço de caixa foi o PT, e não Ministério da Pesca, que viria a ser ocupado, logo em seguida, por Ideli Salvatti, derrotada na sua pretensão eleitoral. Não satisfeito, disse que não havia problemas, pois a doação fora “voluntária.”
     Tem toda a razão. A empresa que ganhou de presente um megacontrato (para fabricar lanchas que jamais seriam usadas) deu R$ 150 mil porque quis. O PT - não foi a candidata e atual ministra - apenas passou a sacolinha, ‘coincidentemente’ em seguida à liberação de um pacotaço de dinheiro público. Também foi por ‘coincidência’ que o restante do pagamento do contrato tenha sido liberado assim que a ex-candidata assumiu a pasta da Pesca.
     Ninguém disse, também, que o dinheiro doado ao PT já estava embutido no preço das lanchas-patrulha. Uma espécie de comissão ‘por dentro’, paga pelo dinheiro dos nossos impostos. São apenas coincidências.

Razão e emoção



     Tenho grandes e queridos amigos que serviram ao Exército durante praticamente toda a vida. Era o caminho natural de jovens muitos suburbanos no começo dos anos 1960. Embora divergíssemos ideologicamente ao longo do tempo, soubemos cultivar o respeito e o carinho que nos uniam. Sabia o que eles pensavam sobre a condução do país e eles sabiam como eu reagia ao período de arbítrio que se instalou no Brasil especialmente após a edição do AI 5, no fim de 1968.
     Convergimos no alívio com a promulgação da Lei da Anistia. Não, não tínhamos qualquer receio pessoal. Embora ativo intelectualmente, não participei de movimentos mais radicais. Assim como eles jamais serviram nos porões. Defendiam – e ainda defendem – os princípios do movimento militar que destituiu o presidente João Goulart, em 31 de março de 1964, há exatos 48 anos. Mas jamais sujaram as mãos.
     Embora ainda cultivemos muitas divergências, temos – eu e um desses amigos diletos, em especial – uma certeza comum: essa onda de revanchismo e ‘caça às bruxas’ não serve ao país. Ao contrário, expõe feridas, radicaliza, remete a um passado que já deveria estar sepultado.
     Não me refiro, especificamente, à necessidade de o Brasil conhecer seu passado, até mesmo para entender o presente e projetar o futuro. A verdade, seja ela qual for, é sempre bem-vinda, desde que desprovida de preconceitos, de pré-julgamentos, da visão momentânea.
     Não é, infelizmente, o que se propõe no momento. Com o argumento de fazer justiça à história, estamos prestes a condenar a Lei, ignorando-a. Os primeiros resultados puderam ser vistos durante a semana, quando um bando de manifestantes atropelou a democracia que diz defender. Foram cenas lamentáveis, de puro ódio, inconcebíveis.
     O Brasil não merece reviver essas cenas.

Até tu, Stepan ...


     Já sabíamos da parceria, bem privada, entre o contraventor Carlinhos Cachoeira e dois deputados federais, um do PSDB e outro do PP, ambos de Goiás, além – é claro – da sociedade em falcatruas com o ainda senador Demóstenes Torres, do DEM. A Folha nos revela, hoje, mais um escândalo: o também deputado federal Stepan Nercessian, do teoricamente insuspeito PPS carioca, também andou mergulhando na mais recente poça de lama que invadiu a política brasileira.
     Segundo ele mesmo confessa, recebeu uma ‘ajuda’ (R$ 160 mil) do amigo Cachoeira para comprar um apartamento (orçado em R$ 500 mil) e outra graninha por fora (uma bagatela de R$ 15 mil) para a aquisição de uma frisa no Sambódromo e festejar o carnaval à vontade. É claro que ele tem explicação para tudo: devolveu o dinheirão e usou o dinheirinho para comprar a tal frisa não para ele, mas para o amigo contraventor.
     Ao contrário de Demóstenes, o deputado tratou de pedir licença do partido assim que a notícia se espalhou pelo país. Insistiu, entretanto, na encenação - é um ator,não podemos esquecer - de uma justa revolta, pois garante que não se acha “um criminoso”.  Ele sabe que seu comportamento é, sim, criminoso. E talvez explique a demora dos congressistas em geral em agir contra o senador Demóstenes Torres.
     Há, nos céus de Brasília, uma nuvem de boatos que envolvem outros nomes nessa onda de vigarices proporcionada pelo conluio de muitas ’excelências’ com um dos muitos representantes do crime no Brasil.

sexta-feira, 30 de março de 2012

Fifa continua distribuindo pontapés

     A Fifa, dessa vez através do próprio presidente, Joseph Blatter, deu novo pontapé no traseiro do Governo. Na Suíça, onde fica a sede da entidade, Blatter afirmou que o Brasil precisa "falar menos e fazer mais", referindo-se à evidente morosidade de todas as obras destinadas à Copa de 2014. A escalada da vez para responder ao pontape foi a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, que praticamente repetiu as palavras do cartolaço, endereçando-as à Fifa.
     Talvez Blatter precise conversar um pouco com o tetracampeão e atual deputado federal Romário (PSB-RJ), para entender como é que os projetos 'rolam' aqui no país do futebol. Segundo o antigo craque, os atrasos são providenciais, pois justificam aditivos e correções no custo das obras, já supervalorizadas, como de hábito, quando o 'cliente' e o governo.
     Portanto, se o temor da Fifa for somente esse - obras não ficarem prontas a tempo -, não há motivos para preocupação. Como disse o ministro do esporte, Aldo Rebelo, em uma das suas muitas declarações deletérias, o Brasil tem um "jeito especial" de fazer seus projetos.
     Já ia esquecendo de comentar: não satisfeito com a crítica, o dono da bola reafirmou que o responsável pelo Mundial continua sendo o secretário-geral da entidade, Jèrome Volcke, aquele mesmo que desferiu a primeira patada nos nossos fundilhos e provocou reações coléricas de um dos 'senhores de recado' do Planalto.
     Só faltou fazer um brinde, com cerveja, à nossa subserviência.

Em defesa do rito sumário

     A Justiça, aprendemos desde cedo, tem seus ritos, seu andamento, sua liturgia. Para que seja 'justa', não pode ser aplicada com açodamento, sem amplo direito de defesa, sem que sejam esgotadas as investigações e a produção de provas. Mas, ainda assim, consciente de tudo isso, acredito que atos como o do ainda senador Demóstenes Torres (DEM-GO) deveriam ser punidos imediatamente. Em primeiro lugar, com a cassação de seu mandato, ou a suspensão pelo tempo que fosse necessário à apuração completa dos fatos.
     O que está em jogo, em casos como o dele, é a própria essência da democracia, que precisa de um Legislativo íntegro, decente, que divirja ideologicamente, mas que não transija com atos deploráveis, com comportamentos que agridem o decoro e ofendem a Nação.
     Não há argumentos contra o que foi apresentado até agora. E muito mais ainda será descoberto, adiante. Não há dúvidas quanto ao mergulho na lama que foi dado pelo ainda senador, justamente um daqueles que se apresentavam como zeladores da decência. As imagens de sua saída do Senado, às pressas, acuado, sem esboçar uma reação sequer, são definitivas. Ele já não é mais senador. É apenas o parceiro de um criminoso.
     Ao se aliar a um notório contraventor, Demóstenes Torres revelou a face mais sórdida que um representante do povo pode ter. Não merece, ao menos na esfera política, direito a protelações e artifícios legais. Sua execução deveria obedecer a um rito sumário, para preservar o pouco de dignidade e respeito que a população ainda devota ao Congresso em geral.

A pescaria da ministra

     Vejam bem a que ponto chega a vigarice dos nossos políticos. Não, o tal senador do DEM de Goiás, Demóstenes Torres - figura constante das minhas últimas intervenções -, não será o tema desse texto. O personagem central será a ex-senadora Ideli Salvatti, ex-ministra da Pesca e atual ministra das Relações Institucionais. Até hoje, eu não sabia bem o que poderia ser isso. Acho que fiquei sabendo, graças ao jornal O Estado de São Paulo.
     Tudo leva a crer que ela - a ínclita ministra, senadora do PT, na época - já vinha tendo determinadas relações - digmos - 'institucionais' com uma empresa de seu estado natal, Santa Catarina. Eram relações tão fortes que a empresa, a Intech Boating, conseguiu um daqueles contratos mirabolantes com o Ministério da Pesca e Aquicultura, esse mesmo que foi dado de presente ao 'pescador de almas' Marcelo Crivela, 'bispo' licenciado da Igreja Universal e senador da base governista.
     A Intech foi contratada, em 2009, quando Ideli 'representava' o povo catarinense, para fabricar um punhado de lanchas-patrulha que jamais entrarariam na água. No ano seguinte, 'a pedidos', doou R$ 150 mil à campanha da nobre senadora ao governo do estado. Coincidência, garante o PT. Em nota oficial, a ministra (ou alguém que fala por ela, isso não importa muito) garante que não há ligação entre Ideli e a Intech.
     Diz, literalmente, com aquele linguagem arrevesada que caracteriza essa turma do Governo: "A doação no valor de R$ 150 mil registrada pelo TSE feita pela empresa Intech Boating foi destinada ao Comitê Financeiro do Partido dos Trabalhadores em Santa Catarina e não à candidata Ideli Salvatti". Traduzindo: ela, a empresa, deu a grana, mas não entregou diretamente na mão da candidata. Era para a campanha dela, mas ...
     Essa gente diz essas coisas sem corar. Depois, vai para casa e consegue dormir o sono dos inocentes. Foi assim no Mensalão e nos episódios dos aloprados e do dinheiro na cueca, entre dezenas de outros. Afinal, é tudo pela causa.

quinta-feira, 29 de março de 2012

Um retrocesso lamentável

     "Ontem, foram calçadas e muros pichados. Amanhã - quem sabe? - apedrejamento em praça pública. A ministra de Direitos Humanos, Maria do Rosário, deve estar comemorando o resultado de sua irresponsabilidade, ao pregar, publicamente, punições para os agentes do governo envolvidos na repressão durante os 21 anos da ditadura militar (1964 a 1985)".
     Extraído do texto 'Parabéns, Maria do Rosário', de anteontem, dia 27.
     Não é preciso ser vidente para antecipar fatos como o ocorridos hoje, no Rio, onde um encontro de oficiais da reserva - na sede do Clube Militar, no Centro - pretendia comemorar a passagem do 48º aniversário do movimento militar que destituiu o então presidente João Goulart e terminou em um dos períodos mais tristes da nossa história recente.
     Um grupo de jovens extremistas - como nos contam os principais veículos de comunicação - se reuniu em frente ao Clube e tentou impedir a entrada dos militares. A Polícia Militar foi convocada e precisou agir com dureza para impedir agressões e o direito de ir e vir dos participantes do encontro, do qual pode-se discordar, mas que seria fechado e realizado em um prédio particular.
     Não houve morte, felizmente. Um manifestante foi preso e outro precisou ser contido com um disparo de taser, a tal arma não-letal que, dessa vez, atendeu aos seus propósitos (e se o jovem morressse, como morreu o estudante Edson Luís, há 44 anos, quem seria o verdadeiro culpado?). Os partidos mais representados no ato, por bandeiras e cartazes - PT e PSOL - imediatamente garantiram que não coordenaram a manifestação. Nem seria preciso.
     O clima já fora preparado, pela - repito - irresponsabilidade criminosa da ministra de Direitos Humanos, Maria do Rosário - responsável direta pelo acirramento de ódios e ressentimentos -, e pela omissão do Governo, que não a desautorizou formalmente, quando afrontou a Lei ao pedir punição para anistiados.
     A ministra não pensou, um minuto sequer, que seu posto exige um comportamento sóbrio, funcional. Ao contrário. Ao assumir posições radicais e inconsequentes, vem se comportando com a maturidade de um dirigente de diretório de estudantes secundários.
     De um ministro da República exige-se respeito às leis que asseguraram e asseguram o primado da democracia. De um presidente, que obrigue seus auxiliares a agirem com a sobriedade que os cargos requerem.

STJ condena crianças

     Como são raríssimas as vezes em que eu elogio alguma coisa dita ou feita por alguém do governo, estaria sendo injusto comigo mesmo se deixasse de registrar minha concordância com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, na sua mais recente crítica à decisão do Superior Tribunal de Justiça, que encontrou atenuantes para quem pratica sexo com menores de 14 anos. Para mim, não há atenuantes, ao contrário.
     Na decisão contestado pelo ministro, o STJ, por maioria de votos de seus integrantes, concluiu que o fato de três meninas de 12 anos já se prostituírem há algum tempo absolvia o acusado do crime de estupro. Tomo a liberdade de afirmar que não absolve, excelências. Crianças dessa idade não estão capacitadas a discernir entre o certo e o errado, o justo e o injusto. Foram e serão vítimas, sempre. Diferentemente do acusado, que tinha consciência do ato praticado.
     Há, nessa decisão, um evidente contrassenso. Um assassino de 17 anos e 11 meses de vida não pode ser julgado como adulto, mas uma criança de 12 pode ser considerada prostituta. Vou além: a decisão me parece absolutamente preconceituosa.
     O argumento usado pelo Tribunal, destacado pela Folha de São Paulo, também me soa como totalmente incoerente. Para os magistrados, a liberdade sexual - das crianças, no caso - não poderia ser tutelada. Em que país ou mundo vivem esses ministros?
     Ao absolver o réu, o STJ condenou as três meninas a uma vida que, certamente, ministro algum gostaria de desejar a uma irmã, filha ou neta.

Atoleiro cultural

     Houve - ao menos para mim - um injustificável espanto com a conclusão da pesquisa sobre o hábito na leitura no Brasil, publicada em todos os meios de comunicação, entre eles Veja. O estudo realizado pelo Instituto Pró-Livro, com a participação do Ibope, concluiu que, nos último quatro anos (entre 2007 e 2011), o número de brasileiros considerados leitores (os que haviam lido qualquer obra nos últimos três meses) caiu 5%, algo em torno de 7,5 milhões de pessoas, retrocedendo a 50 por cento.
     O que se poderia esperar de um país governado por um presidente popularíssimo que exaltava, diariamente, o fato de ser, praticamente, apenas alfabetizado? Demagogicamente, num procedimento vulgar, o ex-presidente e seus seguidores menosprezavam os 'doutores', como se as mazelas do país fossem resultado, apenas, do domínio político dos que dispunham de um título universitário.
     O ex-presidente Lula gabava-se - demagogicamente, repito - de não ter lido um livro sequer (pessoalmente, não acredito nisso), de mal ter terminado o ensino fundamental e ter chegado ao posto mais alto da República. Se ele conseguiu, qualquer um poderia conseguir. Portanto, não haveria motivo para o aprimoramento cultural. A meritocracia, nos últimos anos desse projeto petista de poder, perdeu espaço, atropelada pela vigarice ideológica.
     Não podemos esquecer a malfadada tentativa do atual candidato petista à prefeitura de São Paulo, o ex-ministro da Educação, Fernando Haddad, de institucionalizar a ignorância, ao defender uma cartilha que primava pelo absurdo, ao consagrar uma nova língua, paralela ao português culto.
     Hoje, chegar aos mais altos cargos depende apenas de compadrios, militância sindical ou negociatas por apoio no Congresso. Um exemplo claro é o ministério da presidente Dilma Rousseff, um dos mais medíocres - se não o mais - da história republicana. Medíocre funcionalmente e atolado em escândalos de todos os calibres.
     Esse é o retrato do Brasil da Era Lula, que já dura 9 anos e três meses. Um país que retrocede culturalmente dia a dia, tornando-se cada vez mais fácil de ser manipulado por discursos vazios de conteúdo, mas recheados de lugares comuns, frases feitas e estímulos ao obscurantismo.

quarta-feira, 28 de março de 2012

A lei é para todos

     O Supremo Tribunal Federal terá a oportunidade, em breve, de mostrar que o país não é conivente com o ilícito, com atos que agridem e corrompem, que ofendem o decoro. Na mais importante, vai, enfim, iniciar o julgamento dos integrantes da quadrilha que assaltou os cofres públicos, sob a chefia do ex-ministro José Dirceu, apontado pela Procuradoria Geral da República como o mentor do Mensalão do Governo Lula, o maior escândalo da nossa história recente.
      Veja nos conta que o ministro Carlos Ayres Brito, que tomará posse na presidência do STF no dia 19 de abril, está empenhado na aceleração dos procedimentos necessários ao início do julgamento, fundamental para encerrar o ciclo de crimes perpetrados a partir da cooptação de parlamentares 'aliados' e da distribuição de dinheiro entre correligionários do PT. O Brasil digno vem esperando por esse julgamento.
     Antes de julgar o Mensalão, no entanto, o STF deverá decidir se as provas contra o ainda senador Demóstenes Torres, do DEM de Goiás, são válidas. Elas foram obtidas em gravações de conversas telefônicas entre o parlamentar e o contraventor Carlinhos Cachoeira, decidamente autorizadas pela Justiça.
     Alega a defesa do ainda senador que esses gravações não podem ser usadas, pois a quebra de sigilo de quem tem foro privilegiado não pode ser autorizada por um juiz de primeira instância. Puro diversionismo. A Polícia Federal estava gravando um contraventor e, por acaso, se deparou com outro. Azar o do 'outro'. Sorte do país, que poderá se livrar de um parlamentar que desonrou o mandato e que já deveria ter sido excluído do Congresso.
     A tese da defesa, segundo Veja, já esbarrou na interpretação de um dos mais respeitados ministros da Corte, Marco Aurélio Mello. Para ele, não há irregularidades nas provas. Que assim seja.

Um entrave à Lei Seca

     Perdemos todos. Ao decidir que somente o bafômetro e o exame de sangue podem comprovar se um motorista estava dirigindo embriagado, segundo destaca a Folha, o Superior Tribunal Federal dá, aos irresponsáveis, a chance que pediam para escapar do rigor da Lei Seca, pois todos têm o direito de se negar a produzir provas contra si mesmos. Sinais visíveis de uso excessivo de bebidas alcoólicas não podem ser aceitos, como vinha acontecendo, pela eventual subjetividade.
     Assim, contrariando o adágio, o que é bom para os Estados Unidos não presta para o Brasil. Lá, motoristas flagrados em operações policiais são submetidos a vários testes, para determinar se estão sob o efeito de drogas. Devem andar em linha reta; abrir os braços e tocar nariz, com a ponta dos dedos, alternando as mãos, entre outros testes. Não conseguindo, são providencialmente detidos, para que não coloquem a vida de outros em risco.
     Embora insatisfeito com o resultado, tenho que admitir, entretanto, que ele atende ao texto da lei, como destacou um dos ministros e a Folha reproduziu: "Não é crime dirigir sob efeito de álcool. É crime dirigir sob efeito de mais de um mínimo de seis decigramas de álcool por litro de sangue. É extremamente tormentoso deparar-se com essa falha legislativa, mas o juiz está sujeito à lei", lamentou-se Og Fernandes.
     Esse percentual, determinado por lei, só pode ser aferido pelo exame de sangue ou pelo bafômetro. Caberá aos nossos legisladores, a partir dessa realidade, encontrar uma saída legal, através de outra lei, menos restritiva ou mais abrangente. Não podemos - e isso é o mais importante - assistir, sem reagir, ao esvaziamento de uma iniciativa que vem reduzindo o índice de acidentes, de mortes estúpidas causadas por degenerados.

terça-feira, 27 de março de 2012

Seja bem-vindo, Carlos Alberto!

     Fiquei feliz ao ver as imagens de Carlos Alberto participando do treinamento do Vasco ao lado dos demais jogadores. À vontade com os demais, foi cercado pelos torcedores, após o treino, para autógrafos e fotografias. Assim deve ser o futebol. Agora, só depende dele, da sua vontade, do seu caráter. Se não retribuir a expectativa do torcedor - maciçamente a seu lado -, que se vá, então.
     Carlos Alberto, o maior responsável pela volta à série A do futebol brasileiro, não foi afastado da equipe pelas atuações em campo ou problemas com o grupo. Houve uma discussão áspera com o presidente do clube, Roberto, o maior ídolo da história de São Januário, que estava no hora errada, no lugar errado - o vestiário, após mais uma derrota, ano passado (para o Boavista).
     O Vasco pagava - e pagava bem - a um profissional para intermediar os problemas entre atletas e direção. Roberto, ao insistir na punição, por tanto tempo, parecia esquecido das muitas adversidades pelas quais passou ao longo da sua carreira brilhante no Vasco. Ele, mais do qualquer um, sabe o quanto as derrotas mexem com o emocional de ídolos, de dirigentes e torcedores.
     Fico feliz por Carlos Alberto - que se declarou torcedor do clube -, pelo Vasco, por Roberto e por mim, que vou, afinal, poder apagar essa restrição que vinha nublando minha admiração de muitas décadas por um dos maiores artilheiros do futebol mundial.

Investigar? Está tudo gravado!

     A Procuradoria-Geral da República anunciou hoje que vai 'investigar' as relações nebulosas entre o ainda senador Demóstenes Torres, do Democratas goiano, e o contraventor Carlinhos Cachoeira, flagrados, pela Polícia Federal, em conversas escandalosas. Está atrasada quase três anos. E não tem muito a investigar. Basta colocar o gravador para executar a trilha sonora de mais uma agressão à decência perpetrada por alguém eleito para zelar pela dignidade da nação.
     Está tudo gravado, a partir de 2009. São conversas claras, irrefutáveis - a julgar pelos trechos já divulgados em todos os jornais, revistas e tevês brasileiros. Um senador da República pedindo para um contraventor pagar suas viagens de táxi aéreo e - certamente em troca do 'favor' - contando segredos ouvidos em reuniões no Congresso. É algo asqueroso.
     Pressionado pela repercussão do caso, o presidente do DEM, senador José Agripino (RN) já admitiu a adoção de medidas contra o parlamentar, a quem substituiu na liderança do partido no Senado. Vejam bem: o parceiro do contraventor era o líder de um partido que prega o rigor contra as recorrentes pilantragens que vêm sendo registradas no Governo ao longo dos últimos nove anos.
     Os demais partidos, à exceção do PSOL, têm mantido um confortável distanciamento do caso. O PT, sempre às voltas com denúncias de assalto aos bens públicos, está relativamente assanhado. Mas não lhe convém ficar pedindo punições para comportamentos inadequados. Há uma lista de estrelas do partido oficial na porta do xadrez (uma cadeia retórica, apenas, infelizmente), esperando apenas os juízes baterem o martelo. E outros virão, não demora muito.
     O ainda senador goiano, num ato que pretende se de 'desprendimento', pedou o afastamento da liderança, para ter tempo de se defender das acusações. Repararam que a cantiga é a mesma: todos - ministros, secretários, políticos em geral - renunciam ou pedem para sair de algum cargo para se defender de algo indefensável.
     Demóstenes deveria, sim, ter seu mandato cassado imediatamente, a bem do pouco que ainda resta de decoro em Brasília.

O papa e a ilha

     No primeiro momento, cheguei a admitir que o papa tinha 'pipocado', ao desembarcar em Cuba e não se referir diretamente ao arbítrio e à perseguição política que marcam o governo da ilha. Analisando com mais ponderação, tenho que reconhecer que não caberia a um chefe de estado - Bento XVI é o representate do Vaticano - se envolver de modo mais incisivo na política interna do país que está visitando, enquanto lá está.
     Ainda no ar, a bordo do avião que o transportou do México, o papa deu declarações mais duras em relação ao sistema político de Cuba. Lembrou que o comunismo não tem mais lugar no mundo, soterrado que foi pela história. Já na terra dos irmãos Castro, não poderia, de fato, insistir nas críticas. Seria, no mínimo, uma descortesia com os anfitriões.
     Preferiu, acho que acertadamente, limitar-se às alusões indiretas às prisões e falta de liberdade, em geral. Mostrou que não estava se omitindo, que reconhecia os males crônicos do regime cubano, mas refreou o tom das críticas. Está no seu papel. Apontou as feridas, quando diplomaticamente convinha, e afagou o rebanho, enorme, se levarmos em conta que o comunismo, por definição, é ateu.
     Fez muito mais em poucos dias do que os últimos governantes brasileiros em nove anos de conivência e subserviência ideológica. E nós sabemos que Bento XVI não é um exemplo de determinação ou de coragem, além de não ter sido ungido com o carisma de seu antecessor.

O sumiço do senador

     Gostaria de saber por onde anda o senador Demóstenes Torres (DEM-GO). Antes tão presente e disposto a acusar malfeitos, desapareceu e transferiu para seu advogado a tarefa de defender o indefensável. É a mesma tática usada pelos políticos em geral: escondem-se dos microfones e câmeras e ficam torcendo para alguma catástrofe - ou um novo escândalo - tirar o foco de cima deles.
     Eduardo Azeredo (PSDB-MG) usou essa tática à exaustaão, quando denunciado por praticar, em Minas, quando era governador, um esquema parecido com o Mensalão criado no primeiro mandato do ex-presidente Lula. Já era senador e contou com a conivência de seua pares, que não o fustigaram como merecia. Caso abafado, canditatou-se a deputado federal, conseguiu se eleger e mantém um claro distanciamento dos holofotes.
     Talvez não seja tão fácil ao ainda senador Demóstenes Torres livrar-se da vergonhosa relação com o contraventor Carlinhos Cachieira, que está preso. O Senado, em especial, está sob a mira da Nação, revoltada com as mais recentes notícias cobre os gastos com a saúde dos nossos representantes e ex-representantes, cobertos integralmente pelos cofres públicos, numa afronta à população que pena em filas e corredores dos hospitais públicos.
     Ninguém chegou a falar nesse tema, mas o conjunto da obra me autoriza a lembrar que o mesmo Demóstenes Torres passou, recentemente, por um tratamento cirúrgico para emagrecer, provavelmente pago pela Casa.

'Parabéns', Maria do Rosário

     Ontem, foram calçadas e muros pichados. Amanhã - quem sabe? - apedrejamento em praça pública. A ministra de Direitos Humanos, Maria do Rosário, deve estar comemorando o resultado de sua irresponsabilidade, ao pregar, publicamente, punições para os agentes do governo envolvidos na repressão durante os 21 anos da ditadura militar (1964 a 1985).
     Esqueceu que, como representante do Estado, não poderia, jamais, ter se pronunciado contra a essência de uma lei - a Lei da Anistia - em vigor, votada e aprovada democraticamente. Ao estimular o revanchismo - e foi exatamente isso o que essa senhora fez -, abriu caminhos inimagináveis e deu o aval oficial a atitudes inconsequentes. Imaginemos que um dos acusados de crimes durante o período militar estivesse chegando em casa na hora em que os manifestantes decidiram pichar sua calçada. Ou que estivesse levando seus netos para a escola. O confrontamento seria inevitável.
     Não se trata de defender torturadores e afins - absolutamente indefensáveis, por definição. Já escrevi algumas vezes que a tortura, para mim, se inscreve entre os atos mais indignos praticados pelo ser humano. E quando ela, a tortura, é praticada por agentes do Estado, assume um inequívoco caráter de vilania. Eu jamais apertaria a mão de alguém que torturou. Como também não abraçaria alguém que foi capaz de executar um pai na frente dos filhos e da mulher, em nome de uma vingança.
     O acirramente de ressentimentos, provocado pela - insisto - irresponsabilidade de um representante do Governo, no entanto, não ajuda o país. A contrário, reabre feridas. Conhecer a verdade sobre seu passado é um direito de todos, mas de maneira independente, limpa, sem subterfúgios. E que seja uma verdade completa, que avance na nossa história recente com o distanciamento ideológico necessário.
     Ao referendar propostas claramente punitivas, o Governo, através de alguns de seus representantes, comete um atentado contra a lei, justifica uma 'caça às bruxas' irresponsável. Gostem alguns, ou não, o Brasil livre e democrático de hoje é o resultado de uma concertação que atendeu aos anseios da nação em um momento decisivo de sua vida.
     Para reflexão, transcrevo, abaixo, um trecho da obra do mais respeitado jurista brasileiro, enviada por um amigo. Nesse trecho, a visão clara e objetiva do conceito de anistia.

     "A anistia, que é o olvido, a extinção, o cancelamento do passado criminal, não se retrata. Concedida, é irretirável, como é irrenunciável. Quem a recebeu, não a pode enjeitar, como quem a liberalizou, não a pode subtrair. É definitiva, perpétua, irreformável. Passou da esfera dos fatos alteráveis pelo arbítrio humano para a dos resultados soberanos e imutáveis, que ultimam uma série de relações liquidadas, e abrem uma cadeia de relações novas. De todos os direitos adquiridos este seria, por assim dizer, o tipo supremo, a expressão perfeita, a fórmula ideal: seria, por excelência, o direito adquirido. Ninguém concebe que se desanistie amanhã o indivíduo anistiado ontem. Não há poder que possa reconsiderar a anistia, desde que o poder competente uma vez a fez lei."

     O autor? Rui Barbosa (*).

(*) Obras Completas de Rui Barbosa, V. 24, t. 3, 1897. p. 38.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Chega de selvageria!

     Acabei de ler que as torcidas organizadas do Corínthians e do Palmeiras, protagonistas de mais um ato de selvageria, domingo, que resultou na morte de um jovem, ficarão proibidas de entrar nos estádios. É o mínimo que as autoridades públicas - no caso, paulistas - devem fazer. Não podemos admitir a repetição de casos assim, quase comuns em dias de clássicos regionais, especialmente no Rio e em São Paulo.
     Algo até certo ponto saudável, como a rivalidade entre torcidas, transformou-se, já há algum tempo, em um comportamento deplorável de grupos que alimentam sua degenerescência em bandos que se dizem organizados. Organizados, sim, mas para o crime. Ou como classificar essas legiões que vão para os estádios de futebol armadas, determinadas à baderna, à violência irracional?
     O simples fato de a polícia ser obrigada a organizar enormes e custosos esquemas de segurança em alguns jogos já é, por si mesmo, um indicativo de que há algo muito errado, que precisa ser combatido e alijado do esporte. Essa gente, no entanto, continua ostentando um poder inexplicável nos próprios clubes, onde promove badernas e persegue jogadores, com a complacência de dirigentes.
     Foi essa estupidez que me afastou das arquibancadas. Tenho, sim, receio de ir a um jogo de maior rivalidade. Talvez tenha sido mal-acostumado. Sou do tempo em que a torcida do Vasco vibrava com a chegada de Ramalho, torcedor-símbolo, que enchia o Maracanã com os sons que tirava de um talo de mamoeiro. Do tempo em que ainda podia, como fazia regularmente, levar minha filha mais velha para a arquibancada, onde ela aprendeu, ainda pequena, a gostar de futebol e a ser vascaína.
     Hoje, não teria coragem de levar meu neto (e nem conseguiria, pelo menos para torcer pelo Vasco, pois o moleque diz que é Flamengo). Não me imagino expondo uma criança à violência de arruaceiros. Essa impunidade precisa acabar, mesmo. Mas não será como atos demagógicos, como me parece ser o da direção do Palmeiras, ao anunciar uma homenagem ao jovem assassinado.
     Devemos lamentar, sim, a morte de um quase-menino. Entender e tentar suavizar a dor da família. Mas não podemos esquecer que ele, ao que indicam todas as evidências, estava participando ativamente do confronto, como seu irmão já fazia (foi baleado há alguns anos).

Dissidente cubano não pode ver o papa

     Para os adversários internos do governo cubano, a visita do papa Bento XVI ao país, a partir de hoje, seria uma chance de ampliarem o alcance de seus protestos contra a falta de liberdade e o arbítrio em geral que prevalece na ilha desde que os irmãos Castro assumiram o poderm em janeiro de 1959. Especialmente depois que o chefe da Igreja Católica criticou o sitema comunista, incompatível com os direitos humanos.     Segundo a organização Damas de Branco, formada por mulheres e mães de vítimas da repressão oficial, não haveria manifestações ostensivas contra o regime, durante as aparições do papa, mas uma presença capaz de chamar a atenção do mundo.
     Não será possível, segundo O Globo, que repercute informações da blogueira Yoani Sánchez. A polícia estaria realizando prisões e impedindo o deslocamento dos dissidentes, que estão tentando um encontro com Bento XVI.
     Os cubanos, que não podem ir a Roma (nem a lugar algum), também estão impedidos de ver o papa, mesmo no seu país.

Os males da educação

     Aprendi, naturalmente, a valorizar o trabalho dos professores em geral, das escolas públicas em especial. Acompanhei, bem de perto, o trabalho de um deles, minha mulher, ao longo de 25 anos em escolas municipais do Rio de Janeiro, quase todas em bairros carentes. Em uma delas, um menino de 13 anos a ameaçou com um canivete. Em outra, grupos de jovens da vizinhança invadiam o pátio e desafiavam professores e funcionários. São apenas dois casos em uma dezena.
     Material escolar? Perdi a conta de quantas resmas de papel conseguimos para distribuir entre as crianças. Brindes, lembranças no Dia das Crianças, passeios educacionais conseguidos graças à boa vontade de alguma empresa de ônibus (e a algum prestígio pessoal, é verdade).
     Onde estavam, nesses momentos, os responsáveis não pelas crianças, mas pelo Estado, entendendo-se Estado como o conjunto das instâncias administrativas? Acomodados, como continuam até hoje, fingindo que investem em educação.
     Entendo, claramente, o resultado da pesquisa realizada pelo Movimento Todos pela Educação, publicada com o destaque merecido por O Globo. Os 88% que indicaram a falta de apoio dos pais como a principal causa do baixo rendimento dos alunos não estavam - como pode parecer a princípio, e assim foi interpretado por algumas pessoas - apontando um dedo acusatório.

     Houve, apenas e tão-somente, uma constatação. Nossa educação fundamental é oferecida em escolas mal-equipadas a alunos cuja família tem baixos escolaridade e nível cultural. E isso é uma realidade indesmentível.
     Os pais, não por incúria, mas por indigência cultural, falta de formação, de tempo e de recursos, não dão o necessário suporte às atividades escolares. O trabalho desenvolvido nas salas de aula, sob as mais perversas condições, se dilui. As crianças, mal orientadas e sem paradigmas, ficam pelo caminho, candidatas certas a criarem novas gerações à sua semelhança.
     Esse é, para mim, o grande alerta que surgiu na pesquisa. Os professores não estão se omitindo ou desculpando pelos resultados. Estão, sim, apontando o dedo para a maior ferida da nossa sociedade: a falta de investimentos na base social.
     Comentários como o de um 'especialista em educação', também publicado em O Globo - argumentando que um médico não pode por a culpa no paciente, por não curá-lo - são demagógicos e tendem a mascarar o grande vilão: o poder público.

domingo, 25 de março de 2012

O 'preço' do DEM

     Como já era absolutamente esperado, o ex-governador, prefeito e senador José Serra será o candidato do PSDB à prefeitura de São Paulo. Venceu as prévias com 52,2% dos votos, nos contam, em manchetes, os principais jornais do país, entre eles O Estado de São Paulo e O Globo. Um resultado previsível. Serra jamais entraria na disputa de houvesse o mínimo risco de não conquistar a indicação do partido.
     Foi, no entanto, uma decisão até certo ponto apertada e constrangedora, que exibe, em especial, a força do secretário José Aníbal, que obteve 32% dos votos, e a falta de unidade em torno de seu nome. O grande trabalho de Serra e do seu partido, a partir de agora, será afinar o discurso e definir o 'preço' das alianças, principalmente com o PSD, que pensa em indicar o concorrente a vice-prefeito.
     Para obter o apoio do DEM, o PSDB já sabe que será obrigado a referendar a candidatura do deputado federal Antonio Carlos Magalhães Neto à prefeitura de Salvador. Se a discussão também envolvesse a prefeitura goiana, pretendida pelo senador Demóstenes Torres, o problema estaria resolvido em parte. Demóstenes, pelo andar das gravações realizadas pela Policia Federal - entre ele e o contraventor Carlinhos Cachoeira -, não teria como se candidatar a síndico do prédio onde mora.

Rio com menos trabalho

     O jovem e intrépido prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (atualmente no PMDB, depois de ter passado pelo antigo PFL e pelo PSDB), vai atender a um pedido da presidente Dilma Rousseff e tirar o sofá da sala. Durante a realização da Rio+20, conferência mundial sobre meio ambiente, que será realizada no dia de 4 a 6 de junho, a cidade vai virar um ilha da fantasia, com a decretação de feriados.
     Com essa decisão, o prefeito vai conseguir, graças a uma 'penada', acabar com os engarrafamentos monstruosos que infelicitam o carioca diariamente. Talvez não haja praia durante todos os dias - afinal, estaremos quase no inverno. Mas os 50 mil visitantes esperados (entre chefes de estado, ambientalistas e o pessoal que adora uma badalação) poderão trafegar descansados por nossas ruas e avenidas, compulsoriamente esvaziadas.
     É o método mais simples de resolver problemas insolúveis: decretar que eles não existem. Criar uma espécie de 'Rio-Trabalho', por exemplo. Talvez seja interessante, também - quem sabe? -, convocar os dotes do tal cacique Cobra Coral, referência em chuvas e trovoadas. Mesmo sem trânsito, nossas mal-cuidadas ruas têm o péssimo hábito de encher, transformando-se em rios. Como não é possível determinar aos céus que evitem chuvaradas, será bom contar com um intermediário que interpreta as nuvens.

Silêncio indecoroso

     Quantas linhas você leu, hoje, sobre a escandolosa relação entre o senador Demóstenes Torres, do DEM de Goiás, e o banqueiro do bicho Carlinhos Cachoeira? Talvez não tenha lido uma sequer. Os fatos novos atropelam as notícias. E é exatamenete com isso, com o desaparecimento do noticiário, que contam todos os envolvidos em tramoias e afins.
     O senador em questão, arauto do combate à corrupção, simplesmente se recolheu, desapareceu no plenário, não dá entrevistas, repassadas ao seu advogado que, como qualquer advogado, procura brechas para defender o cliente, mesmo quando ele é indefensável. Ontem, em um dos noticiários da televisão, tive o desprazer de ver o ouvir o citado rábula.
      Escondido atrás de vastos bigode e barba, afirmava que as gravações que comprometem definitivamente Demóstenes Torres não tinham valor legal. E daí? No caso de políticos, em especial, o que está em jogo é seu padrão de comportamento, sua ética, seu respeito ao decoro inerente ao cargo. Se vai ser eventualmente condenado à prisão, ou não, é outra questão. Ele deveria ser cassado imediatamente. Ou renunciar, a bem do mínimo de dignidade que ainda resta em Brasília.
     Imprensado pelos fatos, o presidente do DEM, senador José Agripino, saiu-se pela tangente, acenando com uma necessária investigação etc etc. Os demais senadores - em sua grande maioria - calaram-se, ou deram depoimentos contidos. Do PSDB, que tem um deputado federal também de Goiás envolvido na mesma poça, não ouvi sequer uma ressalva. Há um silêncio indecoroso.
     Mais um escândalo na conta do nosso Congresso, que se deixou aviltar e vive, hoje, a exemplo dos demais poderes da República, tempos de chantagem e corrupção.

A exploração da igorância

     Veja e Folha de São Paulo abriram, nos últimos dias, espaço para a batalha que vem sendo travada entre dois dos portentos da religião no Brasil: o 'bispo' Edir Macedo, da Igreja Universal do Reino de Deus, e o 'missionário' Valdemiro Santiago, da Igreja Mundial do Poder de Deus. Ambos, como se vê, usam e abusam do Santo Nome e trafegam no mesmo rumo: o da exploração da ignorância, comum, também, em outras religiões e seitas.
     A luta - com direito a golpes nas partes baixas e dedo no olho retóricos - vem se ampliando na proporção (interpreta Veja) em que as mensagens do missionário roubam clientes não tão fiéis da Universal. E, nós sabemos, cada fiel perdido ou conquistado representa um dízimo a menos ou a mais na contabilidade.
     As acusações de parte a parte incluem citações ao diabo, figurinha fácil nas sessões de exorcismo, e a pecados mais terrenos, como o enriquecimento galopante. Acusado de ter comprado duas fazendas em Mato Grosso, por algo em torno de R$ 50 milhões, o 'missionário' Valdemiro defendeu-se garantindo que as propriedades são da igreja, e não dele. E partiu para o contra-ataque, arguindo sobre a origem do dinheiro usado por Edir Macedo para comprar a Rede Record.
     Segundo Veja, a igreja de Valdomiro, ele mesmo oriundo da Universal, conquistou nada menos do que 20% dos seguidores de Edir Macedo e está querendo muito mais. Para alcançar seus objetivos, estaria oferecendo o céu na terra para executivos da seita adversária. E ampliando cada vez mais a série de curas milagrosas.