sábado, 30 de junho de 2012

Desencontros religiosos

     Naqueles idos dos anos 1950, naquele pedaço de Marechal Hermes, o primeiro subúrbio realmente planejado do Rio, a Igreja Católica não tinha rivais. Nos meus caminhos para os campos de pelada e a Escola Municipal Evangelina Duarte Batista - os únicos que eu percorria - não havia templos nem registros de outras doutrinas, seitas e afins. Eu, embora criado sem muito rigor religioso, sequer sabia que existia algo além da fé que a Igreja de Nossa Senhora das Graças anunciava três vezes por dia, soando os sinos.
     Na rua, que era o grande quintal da garotada da Capitão Rubens ainda sem asfalto, eu ouvia algum comentário sobre uns 'macumbeiros' que moravam e batiam tambores a algumas quadras. Para meus ouvidos, aquilo soava como os filmes de terror que eu ainda não podia assistir, mas sabia os enredos, contados pelos mais velhos. É verdade - e começo a lembrar - que na vila operária onde me criei morava um 'espírita', algo que minha imaginação de criança colocava entre o céu e o inferno.
     Mas todos, de alguma maneira e em algum momento, se encontravam em uma das muitas missas rezadas aos domingos, ainda em latim, pois padre Gegório era e continuou sendo conservador e tradicionalista por muito tempo. Anos depois de afastado fisicamente de Marechal Hermes e filosoficamente de qualquer igreja, soube que Gregório havia surtado e fora internado em um manicômio.
     Ia à missa das nove, sim, empurrado por minha mãe. Fazia parte de um ritual, era um fato social que nos aproximava dos demais. Lembro, ainda, o drama de consciência que vivi por algum tempo a partir daquela Sexta-Feira Santa em decidi não ir ao cinema do bairro - o Cine Lux, apelidado por nós de 'Bolinha' - assistir à obrigatória 'Paixão de Cristo'. No ano seguinte, decidi que não faria a Primeira Comunhão.
     Tenho, pela obra social da Igreja Católica em especial, um respeito profundo. Dom Helder Câmara foi uma das minhas referências. Aprendi, com o tempo que alargou meus horizontes e conhecimentos, a importância da fé na sociedade, para o bem e para o mal. Entendo perfeitamente o impacto que vem atingindo o catolicismo aqui no Brasil, nos últimos anos , e que é o tema principal de O Globo, hoje.
     A desesperança impulsionou as novas seitas. Multidões trocam diariamente o relativo conformismo da Igreja Católica pelas promessas de ter o céu na terra, já a partir do pagamento da primeira prestação. Ao contrário dos planos de saúde, as novas igrejas alardeiam que não há prazo de carência. O fenômeno dos pastores eletrônicos, comuns nas tevês americanas, só há pouco tempo assumiu proporções tão agigantadas por aqui.
     É óbvio que essa mudança do perfil religioso não é simplesmente boa ou ruim. Havia um espaço livre no mercado, e ele foi sendo ocupado com maestria, suprindo as necessidades que já não vinham sendo atendidas. Paralelamente à exploração das limitações culturais de uma população que olha com bons olhos a aquisição de bens materiais, há um componente comportamental que a reportagem de O Globo capta bem: a interpretação mais radical da Bíblia é uma arma contra a atração exercida pelo mundo do crime e das drogas.
     Para reagir e tentar reconquistar seis fiéis, só restaria a Roma render-se à mágica do marketing, essa máquina de fabricar realidades. No Brasil, bastaria olhar para os índices de aprovação da presidente Dilma Rousseff e do encantamento ainda produzido por Lula. Não há milagres mais notáveis.

sexta-feira, 29 de junho de 2012

A vitória da estupidez

     Consumou-se a pantomima, a vigarice política calcada na mais vagabunda ideologia. A 'democrática, liberal e moderna' Venezuela do coronel de opereta Hugo Chávez - um dos personagens mais ridículos já produzidos nessa pobre América Latina (chega a superar - por bem pouco, é verdade - seu companheiro Lula em mediocridade e ignorância) - foi elevada a membro definitivo do Mercosul, embora fique ao norte e não faça fronteira com três dos quatro membros efetivos do grupo (Argentina, Uruguai e Paraguai).
     Os responsáveis pela nova edição da Tríplice Aliança (Argentina, Brasil e Uruguai) mais uma vez atropelaram a vontade do povo paraguaio, que vetava - através do seu Congresso eleito legitimamente - o ingresso do país desse bufão. Sem voz - o país foi suspenso por ter exercido seu legítimo direito de cassar o mandato de um presidente que afundava o país -, o Paraguai não pode manter o veto que mantinha a Venezuela à distância.
     O anúncio da aprovação do ingresso venezuelano foi feito pela caricata presidente Cristina Kirchner, cujo governo subrevive das esmolas atiradas por Chávez - um dos financiadores de sua recente e vitoriosa campanha à reeleição, segundo denúncias da época-, na Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul, realizada na Argentina. O ato foi aprovado, é claro, pela brasileira Dilma Rousseff e pelo uruguaio Jose Mujica.
     Na mesma cerimônia, a presidente argentina desmentiu, segundo a Folha, o que vinha dizendo desde a deposição do ex-bispo Fernando Lugo. Já não prega sanções econômicas, como queria, sim, mas apenas políticas. Alias, ela e seu colega Hugo Chávez - aquele que exumou o cadáver de Simon Bolivar, morto desde 1830, para provar que ele havia sido envenenado, quando qualquer estudante de segundo grau sabe que ele morreu de tuberculose - eram os mais assanhados na condenação ao impeachment.
     Não à toa. Medíocres ao extremo, fanfarrões, mentirosos, manipuladores de fatos e inimigos das liberdades, os dois temem ter o mesmo destino do ex-bispo, aquele que seguiu biblicamente a tal recomendação de "crescei e multiplicai-vos", à frente de seu rebanho.
     A cada ato semelhante, a cada movimento de aproximação, o Brasil dessa infindável e lamentável Era Lula mais se parece com seus fronteiriços, absolutamente coesos na corrida para o atraso.

'Tá' tudo liberado

     A decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) é para ser cumprida, não há dúvida. Mas me reservo o direito de expor minha contrariedade. Custo a entender que o Tribunal tenha liberado a participação de canditados que tiveram suas contas de campanhas anteriores reprovadas pela Justiça Eleitoral. Nossa Corte claramente trafegou na contramão do que o país espera em termos de dignidade, especialmente em um momento tão difícil, quando as denúncias de corrupção e assalto aos cofres públicos tomaram dimensões inusitadas, institucionais.
     O voto que desempatou o placar (estava 3 a 3) em favor dos políticos de conta suja foi do ministro Dias Tofoli e é um primor do absurdo. Para ele, o candidato precisa apenas apresentar suas contas, que não necessitam estar aprovadas. Eu diria que é uma excrescência jurídica, um voto para cair no colo da legião de políticos com comportamento condenável.
     Qual seria, então, a função da tal prestação de contas? O papel, já se diz há muito tempo, aceita qualquer coisa. Um ladravaz contumaz pode mentir à vontade na declaração que presta à Justiça. Ocultar financiamentos salafrários, desvio de verbas públicas, compra de consciência e de votos. Ele sabe que, mesmo reprovado, vai ter o direito de continuar se apresentando ao eleitor. E, se eleito, ficará praticamente impune.
     A decisão do TSE, na prática, é uma gazua, uma autorização expressa para uma legião de vendilhões continuar pleiteando um lugar à sombra de Câmaras e Palácios. Essa gente, liberada pelo Tribunal, é a mesma que normalmente vai compor as bases de qualquer governo. É a grande bancada da indignidade, sempre disposta a alugar seus votos e espaços na propaganda política.
     O ministro Dias Tofoli apenas corroborou o pensamento de três de seus pares (Gilson Dipp, Arnaldo Versiani e Henrique Neves), que já haviam votado pelo restabelecimento da regra aplicada até 2010. Os quatro derrotaram a interpretação da relatora, Nancy Andrighi, que defendeu o banimento dos contas-sujas das eleições deste ano e foi acompanhada, no voto, pelos ministros Marco Aurelio Mello e Cármem Lúcia.

     Se eu fosse o presidente paraguaio, Federico Franco, entraria, na ONU, com um pedido de afastamento do Brasil das decisões que exigissem comportamento ilibado. Um país que aceita políticos de ficha suja não pode conviver em igualdade com as demais nações.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

A tríplice aliança contra o Paraguai e a favor da Venezuela

     Os chanceleres do Brasil, Argentina e Uruguai confirmaram que o Paraguai - o quarto membro efetivo do grupo - será suspenso do Mercosul até à realização das eleições presidenciais previstas para abril do ano que vem. É uma punição pela cassação do ex-presidente Fernando Lugo, semana passada. Efetivou-se - como se temia - uma cafajestagem ideológica, um absurdo jurídico, uma indevida e inaceitável interferência no direito ao livre arbítrio de um país soberano.
     De uma forma covarde - à semelhança dos seus lamentáveis e estúpidos governantes -, reativou-se a lamentável Tríplice Aliança que, nos anos de 1864 a 1870, devastou o país, sob argumentos que, hoje, são demolidos por historiadores menos engajados. Em contrapartida, esses mesmos chanceleres devem aprovar a entrada da Venezuela no grupo. É isso mesmo: pune-se um país que segue claramente a Constituição (talvez imperfeita, mas dele, Paraguai), e beneficia-se um governo vagabundo, arbitrário, que atropela e modifica as leis, persegue juízes que ousam reagir, combate a liberdade de imprensa, prende adversários.
     Esse é o lamentável perfil dominante nessa infeliz América Latina, em geral, mergulhada num processo de retrocesso político e cultural que parece irreversível. Será muito difícil que países governados por políticos do limitadíssimo calibre de Hugo Cháves, Evo Morales, Cristina Kirchner, Rafael Correa, Dilma Rousseff e Lula (ele continua mandando aqui, sim, para nossa infelicidade como nação) passem impunemente por esse tipo de provação.
     A escalada da mediocridade é proporcional à desinformação, à infantilização que sucessivos governos demagógicos e populistas vêm submetendo esses países. Prevalecem, entre nós, o discurso barato, a compra de consciências e a distribuição de dentaduras metafóricas e reais. Paralelamente, de maneira sistemática, aprofunda-se a crise no ensino. No Brasil, em especial, jamais tivemos um momento como esse, com o ensino mergulhado em uma irreversível queda livre, sob a coordenação oficial.
     Estamos formando - nós e nossos vizinhos - gerações idiotizadas, simplórias, suscetíveis a mensagens velhas, ultrapassadas, incapazes de pensar, avaliar, criticar. Uma massa descerebrada, sem forças para se contrapor a manobras, lideranças primárias.
     Um exemplo dessa pilantragem está estampado no Estadão. Uma foto do ministro Gilberto Carvalho, discursando na reunião que está sendo realizada em Mondoza, na Argentina, onde foi antecipada a punição ao Paraguai. Logo ele, acusado de, entre outras coisas, ter sido o transportador de propinas para o PT, a 'mula' que carregava, no seu Fusca particular, o dinheiro que as prefeituras petistas extorquiam de empresas de ônibus. O ex-seminarista que trocou Deus por Lula, por quem daria a própria vida (segurem o vômito). O companheiro de fé do ex-bispo Fernando Lugo, o garanhão que pastoreava o rebanho de fieis e seguia à risca a recomendação bíblica de procriar.
     Não foi à toa que o Vaticano foi a primeira nação a reconhecer o novo presidente paraguaio.

As sombras que cobrem o PT

     Sei não. Acho que o mais destacado intelectual lulista do mercado, o ex-combativo Luís Fernando Veríssimo, cometeu, no artigo de hoje em O Globo, um enorme e inevitável ato falho. Ao lamentar - de maneira leve, gentil, camarada, risonha, condescendente - a asquerosa promiscuidade entre o ex-presidente Lula e o deputado federal Paulo Mafuf, usa uma imagem que me remete a uma das histórias mais vergonhosas do PT e do petismo em geral: o assassinato do prefeito de Santo André, Celso Daniel,ocorrido há 10 anos e seis meses.
     O principal acusado do crime, Sérgio Gomes da Silva, assim como o camarada de Lula, na crônica, também é conhecido como 'Sombra'. Duas sombras na e enorme 'folha pregressa' do PT e do ex-presidente. O da fantasia 'verissimiana', é acusado de diversos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro pela Interpol, que acompanha seus passos. O outro, o de uma realidade que Lula e seus asseclas escondem, é apontado como o mandante do assassinato.
     Segundo a promotoria paulista, o Sombra de Santo André foi o mentor do crime, na tentativa de evitar que o prefeito, a quem assessorava na prefeitura, denunciasse o esquema de extorsão das empresas de ônibus que beneficiava o PT, diretamente, e a alguns companheiros, em particular. Celso Daniel, de acordo com seus irmãos e a Promotoria, participava do esquema, administrado - só poderia ser por ele - por José Dirceu. Com o tempo, e já com o domínio de Brasília, a o esquema de mensalidade dos empresários de transportes se transformou no Mensalão e avançou por todos os escalões do Governo.
     As prefeituras petistas do interior de São Paulo roubavam as empresas, em troca de liberação de linhas e ajudas administrativas, e enviavam o dinheiro para o partido financiar campanhas e candidatos, inclusive a de Lula. A 'mula' - aquele que carregava as malas de dinheiro sujo -, ainda segundo os depoimentos dos irmãos do prefeito, era o atual ministro Gilberto Carvalho, o ex-seminarista que daria a vida por Lula, que percorria as cidades com seu Fusca.
     Quando Celso comprovou que o roubo não atendia apenas à causa e enchia, também bolsos particulares - como se isso justificasse a extorsão -, resolveu abrir o jogo. Foi sequestrado, torturado e morto. No Poder, o PT jamais fez algo para investigar o crime. Ao contrário. Agiu fortemente para encobrir e reduzir tudo a um simples assalto.
     Como podemos ver, as sombras 'perseguem' o PT, mas são perseguidas por ele, também.

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Paraguai resiste e vai vencendo

     Um dos quatro senadores que votaram contra o impeachment do ex-presidente paraguaio Fernando Lugo, Carlos Filizzola, acha que a balança ainda pode pender para seu líder (era o ministro do Interior). Anunciou que o ex-bispo vai recorrer do afastamento compulsório à Corte Interamerica de Direitos Humanos (um desses organismos que não têm a menor importância), segundo nos informa Veja.
     Filizzola quer "restaurar a ordem democrática", algo que só ele e os três patetas bolivarianos mais radicais (o venezuelano Hugo Chavez, a argentina Cristina Kirchner e boliviano Evo Morales) acreditam, mesmo, que foi rompida. Nossa presidente, Dilma Rousseff, não pensa nada, como sempre. Ainda está esperando para ver o que o ex-presidente Lula imagina sobre o tema. Por enquanto - felizmente -, limitou-se a condenações vagas, a reboque dos demais.
     Para começar, o leal parceiro do garanhão paraguaio deveria respeitar a decisão de seus 39 companheiros de Senado, que não tiveram dúvida em escantear o presidente, em uma votação histórica - aberta e livre - que deveria servir de exemplo para vários países, entre eles o Brasil, cujos políticos ainda se escondem no anominato.
     O respeito à democracia paraguaia, ao que tudo indica, já está assegurado. Excetuando os já citados líderes bananeiros, os demais começaram a reduzir o jogo de cena. Chile e Peru já estão falando em preservar a população, uma desculpa para tocar o barco para a frente. Os Estados Unidos, passado o momento de estupor e medo de serem acusados por algo que sequer cogitavam (resquício de um sentimento de culpa atávico), já estão mudando o tom.
     O Brasil sabe que deve tratar seu vizinho com o respeito que merece um enorme e insubstituível fornecedor de energia (vende 90% dos excedentes da produção de Itaipu, algo perto de 20% das nossas necessidades). Afinal, já vai longe - ainda bem!!! - a época em que podíamos arrasar um país fronteiriço sem maiores consequências.
     Lugo, que passou de pinto a galo de um dia para outro (apostando nos parceiros de fé, irmãos camaradas), e Filizzola deveriam pesar bem o que pretendem fazer. E, aproveitando a oportunidade que a democracia paraguaia lhes oferece, participarem do processo eleitoral marcado para ano que vem.
     O resto é chavismo.
     PS: A 'barra' está tão pesada para o priápico ex-bispo que até Élio Gaspari desancou com a tentativa de contragolpe, hoje, em O Globo.

Dignidade não tem matiz

     A exploração vagabunda dessa dicotomia já vem me fazendo mal há muito tempo, especialmente porque é usada como arma para dilacerar reputações e desculpar canalhices. Aos 'esquerdistas' - segundo perfil adotado genericamente - tudo é perdoado. Podem roubar, esconder dólares na cueca, falsificar dossiês, corromper e serem corrompidos, chantagear juízes, assaltar os cofres públicos. Exatamente como se vê há alguns anos aqui no Brasil. Já esses direitistas ...
     Quem ousa confrontar a demagogia dominante, o vale-tudo-para-se-manter-no-poder, os discursos cheios de exclamações e vazios de conteúdo e a contradição de quem defende o 'controle social da mídia', que é como essa gente apelida a censura pura e simples, entre outras coisas, corre o risco de ser apedrejado até à morte em praça pública, como se fosse uma adúltera iraniana. Ou ser atirado ao mar, como os homossexuais cubanos o foram pelo regime castrista, há alguns anos.
     A única divisão que aceito, na política e na vida, é entre o canalha e o homem digno. Não há bons canalhas, assim como não há canalhice entre os dignos. Há, sim - e eu as respeito -, divergências no modo de ver e analisar a vida, o que ela pode e deve oferecer de melhor para a humanidade. Assassinos de 'direita', como Pinochet, são tão deploráveis quanto os de 'esquerda', como Guevara. O petista José Dirceu e o democrata Demóstenes Torres são igualmente detestáveis.
     O 'revolucionário' capitão Carlos Lamarca, que assassinou um refém a coronhadas, merece a mesma condenação moral imposta ao coronel Curió, que ajudou a exterminar prisioneiros na região do Rio Araguaia, durante o governo militar. Não há dignidade nem brilho em qualquer dessas ações.
     Jamais consegui aceitar essa - digamos - escala de valores que sobreviveu à Revolução Francesa e deveria ter sido derrubada juntamente com o Muro de Berlim. Os homens devem ser avaliados de acordo com a essência de seus valores e atos. Até hoje, quando me deparo com essa vigarice ideológica, lembro de um diálogo com um antigo chefe, na velha redação de O Globo.
     Inconformado com minha posição independente em relação ao arbítrio cubano (não engulo a ditadura desde então), meu superior não teve constrangimento em perguntar e, ao mesmo tempo, responder ao que ele considerava uma questão absoluta e eterna:
     - Você sabe quando uma execução sumária, sem julgamento algum, é justa? Quando é realizada em nome do povo.
     Dito isso, trocou meu horário de trabalho e durante infindáveis dois meses fui uma espécie de 'setorista' de atropelamentos no final do dia, apesar de ser o mais bem pago repórter de Geral.
    

terça-feira, 26 de junho de 2012

Haddad ameaça São Paulo

     É verdade que, aqui no Rio, também estamos imprensados entre o ruim e o ainda pior, dependendo do ângulo pelo qual a questão é analisada. Mas nada pode ser mais sinistro, a princípio, do que uma eventual eleição do ex-ministro Fernando Haddad (o exterminador do Enem e da língua portuguesa) para a prefeitura de São Paulo, a cidade mais importante da América Latina.
     Havia o risco quase desprezível (mas assustador, também) de os paulistanos serem governados pelo cantor Netinho, aquele de voz macia e mãos pesadas, mas o PCdoB fechou com o PT, após interferência direta - mais uma! - do ex-presidente Lula. O 'comunista' Netinho (podem dar gargalhadas ...), pelo que nos revelam jornais paulistas, desistiu do combate após o parceiro de Maluf ter prometido que lutaria para que ele - o 'artista' - tivesse um programa na tevê. Talvez um quadro, no Programa do Ratinho - quem sabe?
     Mas voltemos a Haddad. Ontem, ao saber que seu aliado e companheiro de lutas, o emblemático deputado federal Paulo Salim Maluf (PP-SP) disse que, se comparado a Lula, seria um comunista, o defensor das concordâncias absurdas se disse feliz, pois pretende fazer "um governo de esquerda". Temo pelo futuro de São Paulo, caso essa ameaça se torne realidade.
     Olhando para os últimos nove anos e meio em que o PT está no poder, podemos concluir que, com um governo de 'esquerda', os cofres municipais seriam saqueados ao limite; os secretários negociariam emendas e aditivos; as obras na cidade sofreriam com superfaturamentos; a corrupção e o suborno se transformariam em práticas comuns; haveria um PAC amigo em cada bairro. Enfim: a cidade de São Paulo viveria à semelhança do país, imersa em roubalheiras.

Embrulha e manda

     Vem aí mais um pacote de medidas destinadas a exorcizar o fantasma de uma crise mais profunda na nossa economia. Deve ser anunciado amanhã, pela presidente Dilma Rousseff, com a pompa que costuma cercar essas solenidades basicamente midiáticas. Mais um. Pois é assim que nosso país vem sendo governado: à base de solavancos, tomadas de decisão a cada esquina, mudanças de rumo repentinas e os consequentes atropelamentos, como o buraco em que está sendo metida a Petrobras.
     Não há - e a profusão de pacotes (embrulhos, na verdade) comprova - um projeto real de governo. O Brasil, graças à pujança da China nos últimos anos, optou pela mediocridade, apostando tudo nas exportações de commodities, minério de ferro em especial. Enquanto o crescimento chinês de dois dígitos deu conta da oferta, pudemos posar de novos ricos e dar conselhos aos europeus.
     Com a retração das atividadees em todo o mundo, a crise desembarcou por aqui e nos pegou - como já antecipava - absolutamente desprotegidos. Nos útlimos dez anos, nada foi feito em termos de reformas. Como aquele personagem de anedota, nos lambuzamos no melado, sem pensar no futuro. Não fosse a lei de responsabilidade fiscal, estaríamos em situação ainda mais grave.
     Sem projetos, resta ao governo embrulhar soluções emergenciais a cada prenúncio de redução no PIB (já se fala em um ridículo crescimento de 1,8%, contra inflação de 4,5%, no mínimo) e atirar no mercado, torcendo para que Deus continue a ser brasileiro. E toca de reduzir o IPI aqui, estimular o endividamente ali e vamos em frente, que esse ano tem eleição.
     A bolha do financiamento já é mais do que uma simples hipótese. A taxa de endividamento e inadimplência da população bate recordes. Alguém vai ser obrigado a pagar essa conta, que não tem a menor chance de fechar.

A verdade abre caminho

     Eu poderia relacionar e transcrever, aqui, um bom par de artigos, crônicas e editoriais sobre a mudança política ocorrida no vizinho Paraguai, publicados hoje nos mais diversos jornais e revistas nacionais. Certamente com mais brilho, repetem e ampliam os conceitos que venho ousando expor aqui no Blog, desde o início da crise que não houve, para desespero da companheirada bolivariana, na qual se inclui nossa medíocre diplomacia.
     Nunca tive dúvidas quando à constitucionalidade da deposição de Fernando Lugo e posterior confirmação do então vice Federico Franco na presidência. O rito seguiu estritamente a legislação vigente no país, a mesma - repito - que jamais fora contestada pelo deposto, pela Unasul, Mercosul ou outra sopa de letras insossa.
     Enquanto a Constituição garantia a nebulosa presença de Lugo na presidência, era justa e inatacável. No momento em que foi usada para destituir um dirigente errático, incoerente e movido a demagogia populista, passou a ser apedrejada pelos 'democratas' que infelicitam essa pobre e cada vez mais medíocre América Latina, infestada pela mais lamentável geração de dirigentes de todos os tempos democráticos.
     Não vou dizer - por incompatibilidade ideológica - que sou favorável a ritos sumários de julgamento. Seria hipocrisia. É claro que prefiro, sempre, o mais amplo direito à defesa, mesmo de indefensáveis. Mas não posso ignorar que o processo paraguaio é absolutamente constitucional, até o dia em que não for, é claro.
     Mas mudanças constitucionais, todos nós devemos saber, só podem ser feitas mediante instrumentos formais, e não à base de canetadas, como acontece nesse deplorável governo venezuelano, por exemplo, queridinho dos nossos 'intelectuais de esquerda', seja isso o que for (e eu acho que 'sei' o que é).
     São conclusões e análises que, repito, tive o prazer de ver expostas hoje. Tomo a liberdade de transcrever, abaixo, parte de uma dessas manifestações, extraída do editorial do jornal Folha de São Paulo. O resto, como digo sempre, é um misto de proselitismo com verborragia mental. Vamos ao texto:
     "Por afinidade ideológica - maior no caso da Argentina, menor no de Brasil e Uruguai -, os demais governos do Mercosul decidiram suspender a presença do vizinho na reunião do organismo, que deve culminar na sexta-feira próxima, quando examinarão possíveis sanções contra o novo governo em Assunção.
     Esse comportamento é injustificável. As cláusulas democráticas previstas pelo Mercosul e pela Organização dos Estados Americanos (OEA) aplicam-se a flagrantes violações da ordem constitucional. Ainda que o impedimento de Lugo seja criticável, as instituições paraguaias têm funcionado de acordo com as leis daquele país.
     Com um triste histórico de ingerência na política interna do Paraguai, país que mantém laços de dependência econômica em relação ao Brasil, o melhor que o Itamaraty tem a fazer é calar-se e respeitar a soberania do vizinho".

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Mais uma do 'analfabesta'

     Acreditem. Não estou tripudiando. É apenas mais uma constatação. Reclamem com ele. O ex-presidente Lula reafirmou, formalmente, hoje, segundo a Folha de São Paulo, que "não se arrepende nem um pouco" da renovada parceria pública com cheiro de privada que firmou com o deputado federal Paulo Salin Maluf, um dos criminosos da lista da Interpol. Simples assim.
     Arrogância? Acho que não. Não se poderia exigir algo diferente do mais medíocre, ignorante e limitado presidente brasileiro de todos os tempos. Lula sempre foi isso. E em nada difere ou diferiu de Maluf. São irmãos siameses na política e na dignidade. O discurso muda um pouco, mas a essência é a mesma. O ex-prefeito e ex-governador tem uma ligeira vantagem sobre seu mais novo velho amigo: é menos limitado culturalmente. Mas perde, no entanto, quando entra em cena a ausência de caráter.
     Desprovido das inibições ou limites impostos pelo superego - Lula é, para mim, um caso patológico -, o ex-presidente não tem parâmetros. Acredita que tudo pode e tudo faz, acobertado pela claque que aplaude todas as suas intervenções estúpidas, desprovidas de lógica e de pudor.
     Hoje, além de reafirmar o orgulho de ter Maluf como companheiro, ameaçou "morder a canela" de adversários para eleger Fernando Haddad. Diz uma imbecidade como essa e a turma cai de quatro. "É um animal político", reverenciam. "Trata-se de um analfabesta", diria meu sogro, já falecido, que criou essa imagem para classificar um parente vigarista que ele detestava e que me vem sempre à memória quando vejo o ex-presidente.

Uma nova guerra ao Paraguai

     Depois da Suprema Corte do Paraguai, chegou a vez de o Tribunal Superior de Justiça Eleitoral dar sustentação legal à posse de Federico Franco, o vice que substituiu o cassado Fernando Lugo. Os juízes eleitorais afirmaram que não há a menor chance de antecipação das eleições previstas para acontecerem em abril do ano que vem. Até lá, segundo decisão do Congresso e das mais altas cortes de justiça, o presidente será Franco, e ponto final.     Exceto - e essa ressalva é minha - se o país for novamente invadido e arrasado, como na Guerra do Paraguai, que durou de 1864 a 1870 e terminou com a vitória dos países que compunham a Tríplice Aliança (Brasil, Argentina e Uruguai). O massacre, na época, reduziu drasticamente a população masculina do país. Hoje, com o distanciamento histórico proporcionado pelo tempo, muitos autores avaliam criticamente o conflito.
     Um novo ataque físico, hoje, seria impensável, é claro. Mas há opções que podem se mostrar tão danosas, como as pressões econômicas que podem sufocar o país e produzir o caos que possibilitaria nova mudança de governo. Aí, sim, seria um golpe, de fora para dentro, desrespeitando o direito à autodeterminação das nações. Já imaginaram se a França, por exemplo, resolvesse tomas as dores do ex-presidente Ferando Collor de Melo, quando da sua cassação? Seria inadmissível, por óbvio.
     O ex-bispo chutado do altar governamental, pelo que se deprende das suas últimas iniciativas, aposta nisso, no confronto, no caos. Por trás de sua tardia reação ao impeachment - ele mostrou-se resignado, no dia -, surge claramente a sombra de uma nova aliança, mais ampla e certamente mais deletéria. Além dos vizinhos diretos, o Paraguai enfrenta a ira desse deplorável aprendiz de ditador venezuelano, um estuprador não de devotas moçoilas, mas de leis e da liberdade.
     Não há um setor sequer da vida paraguaia que tenha restrições à forma como se deu a mudança do comando político. Excetuando os 'carpeiros', força quase paramilitar que se espelha nas Farcs e no MST, a população apoiou a mudança. Lugo, usando a democracia que ele afirma ter sido atingida e o apoio de dirigentes demagógicos, vem tentando subverter a decisão. Torce para ser preso ou - quem sabe? - crucificado. Talvez fosse a desculpa para uma intervenção mais direta no país.

Malditos ianques!!!

     No Congresso, foi um verdadeiro massacre. A quase unanimidade de deputados e senadores votou, abertamente, olhando nos olhos das pessoas - ao contrário do que acontece por aqui - pela cassação do ex-bispo Fernando Lugo. No total - somando-se os representantes das duas Casas -, foram 129 votos pelo impeachment e apenas 5 contra. É isso mesmo: 129 a 5. É resultado que só perde para votações em congressos chinês, corerano do norte e cubano, jamais contestados pela vigarice ideológica da companheirada.
     Hoje, foi a vez de a Suprema Corte do Paraguai sacramentar o pontapé no traseiro do garanhão guarani. Os juízes rejeitaram, por unanimidade, a ação de inconstitucionalidade do processo de impeachment apresentada pelo ex-presidente. Segundo o Poder Judicário, o Poder Legislativo agiu plenamente dentro da lei. Nas ruas - para desgosto da turma que sonhava com hordas populares tomando o palácio presidencial em Assunção -, tudo normal. Há uma clara sensação de alívio e de esperanças de dias melhores.
     Mas isso ainda é pouco para essa cambada de saudosistas do Muro de Berlim. Para essa gente, só vale defenestrar presidentes do que ela considera de 'direita'. Vigaristas ideológicos de 'esquerda' (esses sujeitos que querem exercer o controle do que chamam de mídia, odeiam o contraditório, chafurdam na roubalheira mais deslavada de todos os tempos, falsificam dossiês e escondem milhões nas cuecas) continuam reagindo à decisão paraguaia.
     É fácil jogar pedras em um país pobre, arrasado e que tinha um governo demagógico, que explorava a luta de classes para se manter no poder. Fico imaginando se o conflito que resultou na morte de 17 pessoas e que deu origem ao processo de cassação tivesse acontecido na Colômbia, por exemplo. Ou em um estado brasileiro comandado pela Oposição. Seria o caos. Presidente e governadores, em um e outro caso, estariam sendo alvos de manifestações, discursos inflamados. Exagerando um pouco, haveria pedidos de castração.
     Como o confronto no campo aconteceu, na época, em um país 'governado' por um companheiro - no caso, o priápico ex-bispo -, passou de passagem pelo noticiário. Afinal, os 'carpeiros' paraguaios que emboscaram e assassinaram policiais desarmados, antes de serem repelidos, são parceiros do 'nosso' MST, braço campesino do esquema de poder exercido pelo PT. Não ficaria bem pedir punição para eles.
     Mas a 'alucinação ideológica' não se limita a fatores da política interna paraguaia. Li - estupefato - versões absurdas para a deposição de Lugo. Algumas simplesmente dignas de tratamento psiquiátrico, como a que denuncia interesses americanos (sempre eles, esses malditos ianques) em controlar o aquífero guarani. Nessas horas, a turma esquece que teve orgasmos metafóricos (alguns, pelo visto, foram reais) com a eleição de Barack Obama. Haja contorcionismo.

Sugestões ao Paraguai

     Vou me permitir sugerir ao novo governo paraguaio que aproveite o momento e consulte o Mercosul para saber se pode fazer denúncias retroativas de quebra da estabilidade democrática nos seus vizinhos e tão furiosos algozes. Poderia começar apontando o dedo para o governo brasileiro, que institucionalizou o assalto aos cofres públicos durante a primeira fase dessa infindável e deplorável Era Lula.
     É, estou me referindo ao Mensalão. Ou alguém duvida que comprar votos e consciências de políticos e partidos, subornar, mentir e roubar também sejam formas de desestabilizar a democracia. Sabemos que a pilantragem formal do governo Lula ainda não caducou, tanto que deve começar a ser julgada em brave. Portanto, ainda vale. Os paraguaios poderiam, ainda, para evitar chicanas protelatórias, pedir o banimento do Brasil do círculo de países decentes baseados no fato de o líder máximo do partido que domina o poder ter tentado chantagear ministros da mais alta corte da República.
     Outro crime semelhante, capaz de arrebentar com qualquer democracia: os abraços e beijos trocados por esse mesmo guru das nossas esquerdas (essa turma que vive de verbas e empreguinhos públicos, corrompe e é corrompida com uma enorme facilidade) com um deputado da 'direita' procurado pela Interpol. É associação para o crime. Dá cadeia.
     Os advogados brasileiros poderiam argumentar que não houve destituição de presidente eleito. Sou obrigado a concordar. Mas houve a eleição de mandatários que se beneficiaram de assaltos ao erário e que foram e são coniventes com o banditismo, com aditivos e desvios de verbas, com ministros que enriqueceram não dando palestras, uns; e fazendo 'consultorias', outros. Ninguém pode discutir que esses fatos são verdadeiros atentados à democracia e que poderiam ser punidos, sim, com o banimento do grupo e nações dignas do mundo.
     E o que dizer da Venezuela, esse portento de liberdade? É verdade que ela não faz parte do Mercosul, graças ao Paraguai (temos essa dívida eterna com nossos vizinhos mais pobres), mas poderia ser citada na ONU ou em qualquer outro foro internacional. O bufão que a preside muda a Constituição semanalmente, para perseguir magistrados, jornalistas e quem quer que se manifeste contra suas renovadas imbecilidades.
     A lista de mediocridades é enorme. Argentina, Equador e Bolívia também estão embolados, nessa lamentável zona de classificação da indignidade, do desafio aos princípios democráticos. E se acham com direito de acusar o Paraguai.
     Vão se catar, vigaristas!

domingo, 24 de junho de 2012

Transando na Zona Oeste

     É preciso reconhecer - e eu ainda não o havia feito - que a recém-inaugurada TransOeste é um bálsamo para quem vive do 'lado de cá' da Serra Grota Funda, como eu, que escolhi Pedra de Guaratiba como porto, há quase doze anos, fugindo do caos urbano de Jacarepaguá, onde morava. A duplicação da Avenida das Américas (a partir do Recreio Shopping) e o túnel transformaram o deslocamento em algo plenamentre suportável, agradável, até. O restabelecimento dos retornos, na altura da Estrada da Matriz, resolveu o problema do acesso principal à Pedra, motivo de protestos encampados aqui, no Blog.
     Não posso avaliar o serviço de ônibus expressos, ainda em aperfeiçoamento, mas acredito que venha a atender plenamente aos interesses da população, do terminal Alvorada até à estação Pingo D´Água, pelo menos. Já não posso dizer o mesmo do trecho que vai daí até Santa Cruz.
     Por falta - imagino - de espaço físico, verbas para desapropriações e respeito àquela região da cidade, houve, apenas, uma adaptação do corredor já existente, onde foram construídas estações para os ônibus do novo sistema. Os ônibus articulados, nos seus deslocamentos, usam a mesma faixa de rolamento dos demais veículos, pela esquerda (as estações ficam entre as pistas) - o que é ainda mais grave.
     Assim, nas proximidades das paradas, é preciso desviar de obstáculos, sair da frente e torcer para não ser abalroado por outro veículo que venha rodando pela faixa da direita. Uma espécie de jabuticaba da engenharia de tráfego que o projeto - essencial e parcialmente muito bem executado - não merecia.
     Outra falha impedoável, ao menos para a turma da Pedra: a Estrada da Matriz - que 'cruza' a Avenida das Américas - foi simplesmente esquecida. Há buracos e falta de calçadas por todos os lados. Estreita e escura até à altura da nova sede da Região Administrativa (daí em diante segue em duas pistas até a Praça do 'Rodo'), a Matriz surge como um desafio à segurança de motoristas e pedestres.
   

Resistir é preciso

     Se a mim fosse propiciada a oportunidade de enviar uma mensagem direta aos nossos vizinhos paraguaios, não teria dúvida. Gritaria, ou escreveria em letras maiúsculas e em negrito uma única palavra: RESISTAM. Não se deixem levar pela vigarice ideológica e covardia dessa turma acostumada a assaltar cofres públicos, empastelar jornais, prender juízes que julgam com liberdade, liberar 'aditivos', falsificar dossiês e carregar fortunas na cueca. Sugiram ao Brasil, por exemplo, que se manifeste sobre os crimes da ditadura cubana.
     E se ainda tiverem - eles, os paraguaios - alguma dúvida sobre se estão no caminho certo, basta analisar com calma quais são seus principais adversários. Um bom exemplo ocorreu em Brasília, segundo nos conta O Globo. Um grupelho de desocupados formado por 'militantes' do PT e do MST, seu braço 'campesino', fez um protesto na frente da embaixada, a favor do tal ex-bispo que pastoreava bem de perto suas ovelhas.
     Pela matéria, ficamos sabendo que um encarquihado integrante da 'juventude do PT' - deve pertencer àquela turma que recebe dinheiro do governo através da UNE e luta pela liberalização da maconha nas universidades - bradava em defesa do Paraguai e da América Latina, como se representasse algo ou alguma coisa que mereça atenção. Ao lado desse jovem, um deputado do PT (é claro!!!) de Brasília.
     É isso mesmo, PT, aquele partido envolvido em roubalheiras desde muito antes do Mensalão (não podemos esquecer as denúncias de extorsão de empresas de ônibus de diversas cidades paulistas, desvio de verbas de bancos - como se repetiu recentemente no Nordeste).
     E se ainda me permitem mais uma sugestão, aí vai: quando um desses 'democratas' brasileiros contestar a lisura do impeachment de Fernando Lugo, perguntem sobre o impedimento do ex-presidente e atual senador Fernando Collor de Melo. Ou será - já fiz essa pergunta antes - que cassações só são democráticas quando atingem adversários políticos?
     Caso seja necessário, podem tripudiar. Falem das tentativas criminosas de esvaziar o trabalho da CPI do Cachoeira, a partir do momento em que a lama começou a escorrer dos gabinetes petistas e da 'base aliada'. Mencionem a tentativa de chantagear ministro do STF, perpetrada pelo ex-presidente Lula. Ou exibam, como estandarte, a foto dos abraços e beijos trocados por Lula e Paulo Maluf.
     Não importa que seja, até, covardia. Na pior das hipóteses, cortem o envio da energia elétrica excedente gerada por Itaipu. Não tenham medo. O mundo não aceitaria uma nova e atroz Guerra do Paraguai. Mirem-se no exemplo das Falklands.
    

Passa fora, Chávez!

     Eu já tinha optado pelo respeito ao direito à autodeterminação do povo paraguaio, que decidiu - através da avassaladora maioria de seus legímos representantes, em um processo absolutamente constitucional - pela destituição do ex-presidente Fernando Lugo, o priápico ex-bispo que arrebanhou uma legião de ovelhas desgarradas para seu rebanho. Ao contrário do que supõe o Brasil, o Paraguai tem todo o direito, sim, desde que respeitando as leis vigentes, de defenestrar um presidente que vinha se mostrando incompetente e extremamente danoso ao país.
     Se o processo foi mais rápido do que em outras partes do mundo, não é problema nosso. Está previsto na Constituição que o cassado Lugo jurou defender. Parodiando os patriotas nacionais - quando instados a falar sobre os crimes cometidos pela ditadura cubana; governos pilantras como o boliviano e o venezuelano; e terroristas, como o iraniano -, eu poderia lembrar que não nos cabe dar palpite em problemas internos de nações soberanas.
     Tão determinado - um verdadeiro leão - quando o caso é defender um amigo de fé, camarada, nosso governo mostrou recentemente sua face de vira-latas, ao colocar o rabo entre as pernas quando bens da Petrobras foram assaltados por governantes 'amigos'. Assim como não abre a boca quando os bufões venezuelano e equatoriano prendem juízes e perseguem jornalistas.
     Retomando o pensamento inicial. Se já vinha demonstrando entender os motivos que levaram o Paraguai a trocar o tal bispo pelo então vice, Federico Franco, o novo presidente, essa sensação só fez aumentar, principalmente depois de ler a entrevista que o senador Alfredo Luis Jaegli, um dos líderes do processo de impeachment, deu ao Estadão.
     Ele antecipa ótimas relações com o Brasil e afirma, com todas as letras, que o novo governo paraguaio vai ficar "bem distante" da Venezuela e mais próximo dos Estados Unidos. Enfim, alguém com coragem para colocar o o coronel de opereta venezuelano no lugar que merece: longe. A única ameaça à paz paraguaia, de fato, vem de fora.

Prêmio à indignidade

     Mais um - entre tantos - sinal dos tempos indignos que estamos vivendo. O deputado federal João Paulo Cunha, do PT paulista, um dos 38 réus do processo do Mensalão do Governo Lula, o maior assalto institucionalizado aos cofres públicos, foi aclamado como candidato petista à Prefeitura de Osasco. Com a desfaçatez que caracteriza os integrantes da quadrilha da qual fez parte, de acordo com denúncia da Procuradoria Geral da República, chorou copiosamente e pediu aos militantes que o ajudem a recompor a verdade.
     Segundo O Globo, não teve a compostura, sequer, de omitir - até mesmo por ser inegável - sua criminosa participação no esquema vagabundo criado nos principais gabinetes do Palácio do Planalto. Disse que pegou dinheiro, sim, mas para pagar dívidas de campanha, coitadinho. E que mora até hoje na mesma casa, admitindo, por vias transversas, que o fato de ser deputado é uma gazua para abrir outras e mais caras portas.
     Comodamente, o atual presidente da Comissão de Constituição de Justiça da Câmara - é isso mesmo, um dos réus do Mensalão ocupa esse posto - atribui a um simples acerto de contas a vergonhosa participação no assalto que vai começar a ser julgado em agosto. Esqueceu, também, que distribui aos ventos pelo menos três versões para o fato de sua mulher ter sido flagrada, na boca do caixa do Banco Rural, retirando, de uma vez, R$ 50 mil, em dinheiro vivo, notas novas, estalando. Há denúncias de que essa foi apenas uma das parcelas do seu latifúndio.
     Quando obrigado a dizer alguma coisa - a cena da mulher na fila do caixa fora gravada!!! -, começou argumentando que ela fora ao banco pagar uma prosaica conta de tevê a cabo. Em seguida, criou mais duas mentiras. O próximo passo foi renunciar ao mandato, para não ser cassado, como merecia, e perder os direitos políticos (como se merecesse ter algum). Ficou calado algum tempo e conseguiu ser eleito novamente, graças à morosidade do processo, à absoluta falta de memória da população e à conivência do PT, o maior e mais bem-sucedido administrador de pilantragens da história recente do país.
     Como prêmio por sua dedicação à causa (foi líder do partido),recebeu o comando de uma comissão, a de Justiça, e indicado para participar de outra, a da Cidadania. Se não for preso antes, como espero - pode ser condenado a uma dezena de anos na cadeia, por diversos crimes -, tem chances, sim, de envergonhar a Nação, elegendo-se prefeito de uma cidade de relativa importância no país.
    João Paulo Cunha é uma síntese, um emblema, dessa infindável era de dissolução que afoga o país há nove anos e meio.

sábado, 23 de junho de 2012

Se eles dizem sim, eu digo não

     Se não houvesse, sequer, um motivo a mais para eu respeitar o direito de o povo paraguaio ter despejado o priápico ex-bispo Fernando Lugo do poder - através da quase unanimidade de seus representantes -, bastaria ver quem está radicalmente contra a cassação. Não há a menor hipótese, em circunstância alguma, de me surpreender ao lado - mesmo metafórico - de nulidades como o bufão venezuelano Hugo Chávez, o risível boliviano Evo Morales e a canastríssima argentina Cristina Kirchner.
     Não é preciso analisar o assunto, o tema. Se esses personagens dessa lamentável América do Sul estão de um lado - seja ele qual for -, eu certamente estarei do outro. São os exemplos mais acabados de uma fase deplorável da política latino-americana. Demagogos, arbitrários, ignorantes, totalitários, inimigos da liberdade, visceralmente ditadores, representam bem a nossa atual vocação para a mediocridade.
     Não incluí nossa simplória presidente (é 'comovedoramente' limitada ...) nessa lista porque, eventualmente (muito eventualmente, é verdade!!!) consigo vislumbrar algo razoável na sua administração, especialmente quando comparada à de seu antecessor, o chefe intocável da quadrilha que assaltou os cofres públicos no episódio do Mensalão, entre outros. Pelo menos ela é mais - digamos - discreta nas suas aparições, mais comedida nos encontros com criminosos internacionais, como o presidente iraniano, a quem não recebeu durante a inócua e simplesmente perdulária Rio+20.
     Os três lamentáveis presidentes citados são os mais excitados com o bota-fora ocorrido em terras guaranis. Imagino que temam tratamento idêntico. O arremedo de mãe dos pobres portenhos, então, não se conteve e retirou o embaixador argentino que estava lotado no país vizinho. Mais um pouco e poderá - quem sabe? - tentar reviver o massacre histórico ocorrido na Guerra do Paraguai, quando esteve aliada ao Brasil e ao Uruguai (a Tríplice Aliança).
     Talvez seja a oportunidade que ela está buscando, para disfarçar a mediocridade de seu governo, a roubalheira que se adivinha entre seus correligionários (uma espécie de companheirada alimentada a 'parrillada'), os artifícios que usa para maquiar o fracasso de suas medidas econômicas. A ridícula ameaça de invadir as ilhas Falklands não passou de mais uma bobagem irresponsável, mas claramente destinada a mascarar seu fracasso. O pequeno e pobre Paraguai seria um inimigo perfeito, sob medida para sua insignificância em relação ao mundo.

     PS: Só para não deixar passar sem o devido resgistro. Vocês notaram, como eu, a decepção dos nossos enviados especiais a Assunção com a calma e a paz reinantes no país? Ruas tranquilas, população envolvida no seu dia a dia e um avassalador apoio dos meios de comunicação locais. Para quem estava torcendo por embates, tanques nas praças, foi um enorme anticlímax.

Fala, Pagot!

     Por que o nosso impoluto governo tem tanto medo de Luiz Antonio Pagot, do que ele pode e quer contar? Eu, certamente, não tenho. A Veja, O Globo e os demais representantes das 'mídia' também não têm motivos para temer as inconfidências do ex-diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura Terrestre, o malfadado Dnit, um dos principais tentáculos do tal do PAC, afogado em sobrepreços, aditivos, obras sem licitação, corrupção, suborno, desvio de verbas para financiar campanhas eleitorais.
     O homem - que é um poço de mágoas - está querendo contar tudo o que sabe sobre pilantragens e roubalheiras à CPI mista que investiga (investigava, talvez seja o tempo verbal mais apropriado) o envolvimento do contraventor Carlinhos Cachoeira com parlamentares e governantes dos mais diversos escalões dessa nossa infelicitada República.
     Mas o PT e seus asseclas não permitem. Barraram a convocação, sob as mais vagabundas alegações. Hoje, em O Globo, Pagot garante que está sendo perseguido pelas tropas de choque e do cheque do Governo. "Em todo lugar que eu desembarco, tem gente me esperando para constranger. Até na empresa onde eu trabalho", denunciou.
     Em qualquer país decente do mundo Pagot estaria sendo protegido, garantindo-se sua integridade e liberdade para denunciar as roubalheiras que envolvem diretamente o esquema de poder que se instalou no Brasil há nove anos e meio. Nos Estados Unidos - tão odiado pela companheirada -, seu depoimento seria transmitido em cadeia nacional e, certamente, já teria colocado muita gente atrás das grades. Ou provocada cassações.
     Por aqui, no entato, há sempre um Cândido Vaccarezza a postos para trocar mensagens indecentes com governadores inescrupulosos e a sair em defesa do indefensável. "Ao que me constra, o senhor Pagot não teve relação direta ou indireta com Cachoeira. Se tem denúncias de outrea natureza, não é a CPI que irá investigar", disse ao Globo, com a certeza da impunidade e a postura deplorável de sempre.
     Já escrevi recentemente. Repito: é um caso raro de testemunha de crime hediondo - e a roubalheira institucionalizada aos cofres públicos é um crime que deveria ser inafiançável - sendo escorraçada da delegacia, atirado na calçada a pontapés nos fundilhos. Tudo em nome da causa, do projeto de poder. É a exaltação da canalhice político-ideológica.
     É por isso, também, que essa gente tem tanto pavor de ouvir falar em impeachment.

Minha frase da semana

     "O palavrório do ex-ministro de Lula e advogado de Cachoeira, Márcio Thomaz Bastos, é a essência dessa fase de dissolução institucionalizada que afoga o país há nove anos e meio".
     Extraída do texto 'A chantagem do ex-ministro', do dia 13.

A reação em cadeia

     Já era esperado. As maiores reações à deposição, democrática, do ex-presidente paraguaio Fernando Lugo partem justamente de três dos mais representativos exemplares do que há de pior na América do Sul: Venezuela, Bolívia e Argentina. Entende-se. São três potenciais candidatos e um pontapé no traseiro, responsáveis, que são, por governos no mínimo desastrados.
     O bufão venezuelano e o índio de chanchada da Vera Cruz são os mais incomodados com o expurgo do parceiro em demagogia e vigarice política. O tom das críticas é um pouco mais alto do que o da candidata a caricatura de Eva Perón. Arbitrários, totalitários, inimigos declarados da liberdade de expressão e do contraditório, temem que tenham o mesmo destino do priápico ex-bispo.
     Falam em golpe, em atendado às liberdades, como se fossem símbolos de liberalismo, de compreensão, e não os manipuladores do poder que são. Rasgaram a Constituição de seus países e redigiram outras, à sua semelhança, ampliando poderes e investindo contra os príncipios basilares de uma democracia verdadeira. Prendem juízes, nomeam magistrados, editam leis à revelia dos seus Congressos e bombardeiam jornais e emissoras de rádio e tevê que ousam criticá-los.
     Liberdade de imprensa, para essa gente - a exemplo do que se vê por aqui, entre as lideranças mais expressivas do PT e satélites -, é sinônimo de apoio incondicional. E a companheirada ainda se acha no direito de contestar uma decisão tomada pela maioria absolutíssima do Congresso paraguaio, dentro da lei vigente (a mesma que garantiu a posse do presidente defenestrado), em ordem, com voto aberto.
     No Paraguai, marcado pela falsificação de produtos e condescendência com ladrões de carro, os congressistas enfrentam o julgamento popular de suas ações às claras, expondo nome, sobrenome e voto. Nada poderia ser mais transparente.
     Se eu defendo deposições, processos sumários? Não. Repito o que venho dizendo há muito anos: a melhor punição para políticos inescrupulosos deve partir das urnas. Mas não posso deixar de respeitar algo que foi feito com total transparência, dentro das regras vigentes, de acordo com a Constituição. Como aconteceu aqui conosco, no processo de impeachment do então presidente Fernando Collor de Melo.
     O resto é pura baboseira. Um deplorável e nefasto 'espírito de corpo' que congrega a turma que adora a democracia cubana e sente saudades do regime stalinista.
     Já vai tarde, Lugo.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

O cafuné presidencial

     A 'faxineira' mais bem paga do país agiu, mais uma vez, como aqueles empregados de chanchadas que empurram grotescamente a sujeira para baixo do tapete, mas deixam um rastro indelével pelo caminho. Um rastro enorme, marcante, pegajoso, malcheiroso e indesculpável. Aproveitando a inexplicável e injustificável presença do ex-presidente Lula (ele parece são saber o sentido do prefixo) em um jantar, pago pelos contribuintes, para chefes de Estado e de Governo africanos, Dilma Rousseff acenou para seus convivas com a oferta de "inclusão social" que teria sido criada pelo seu antecessor, a quem ela chamou de "meu querido presidente e líder".´
     Não precisou dizer que estava afagando o responsável por mais uma das incontáveis jogadas inescrupulosas - os abraços e beijos com o deputado Paulo Maluf, para pagar a cessão de 1,45 minuto para a campanha política do ex-ministro da Educação, Fernando Haddad, candidato Prefeutura de São Paulo. Ficou claro. Lula não merecia ser crucificado sozinho. Ele, por ser inimputável e desprovido de superego, apenas externou a alma petista. Nada mais.
     O PT e seus asseclas jamais tiveram qualquer pudor em se associar ao que há de pior não só no Brasil, mas no mundo. Não seria justo jogar toda a culpa desse novo malfeito apenas e tão-somente no 'cara'. Afinal, ele agiu pensando (?) no bem maior, na causa. Abraçou, em público- com a desfaçatez dos desprovidos de senso ético -, o que seus partidários beijam nos corredores e quartos escuros. Por isso, o cafuné presidencial.
     Eles se merecem.

Prerrogativa constitucional

     Particularmente, repito o que disse ontem, sou contra o afastamento de presidentes eleitos. Para mim, o melhor processo de banimento da vida pública é o que resulta de eleições livres. É bem verdade que nem sempre a 'voz do povo' reflete a realidade dos fatos. Corruptos, corruptores, mentirosos, chefes de quadrilhas, chantagistas e afins muitas vezes escapam da merecida punição e - o que é pior - são reeleitos e elegem seus sucessores. Mas esse é um preço que pago com prazer por viver em um país democrático.
     A defesa de um governo legitimamente constituído, o de João Goulart - embora desastroso, sou forçado a reconher, hoje, com o distanciamento histórico que existe -, me despertou para a vida política. Isso, ainda em 1961, aos 12 anos, quando me descobri, na praça principal do subúrbio de Marechal Hermes, acompanhando, em transe, a transmissão da Cadeia da Legalidade (liderada pelo então governador gaúcho, Leonel Brizola), destinada a garantir a posse do vice-presidente, na vaga deixada pelo conturbado e insano Jânio da Silva Quadros, que acabara de renunciar. Pouco tempo depois (março de 1964), sofri com a deposição de Jango, pelas armas.
     Nem por isso, deixei de aplaudir e festejar a cassação de Fernando Collor de Melo. Não por ser seu declarado e atuante adversário, mas por por enxergar nele o homem que desonrou a missão confiada ao primeiro presidente eleito diretamente pelo povo, após o período militar. Ao contrário. Afinal, foram cumpridas todas as exigências legais. Collor foi expurgado constitucionalmente, sem golpe, sem uso da força. Prevaleceu a democracia.
     Por isso, não teria impedimento moral em reconhecer o direito de o povo paraguaio se livrar do ainda presidente Fernando Lugo. A Constituição paraguaia talvez não seja um exemplo para o mundo, mas é a que governa a nação, a mesma que garantiu a posse do ex-bispo. E ela prevê, com absuta clareza, o ritual para cassação de um presidente que não tenha cumprido suas funções com dignidade.
     O Congresso, legitimamente eleito, tem esse poder. E que não venham com essa vigarice de falar em golpe da oposição. O processo de cassação foi votado por 76 de 77 deputados. Não há oposição, no mundo, que reúna 99,99 dos congressistas. A reação contra o 'golpe' nada mais é do que uma demonstração de manipulação de fatos, de números.
     A deposição - que está sendo debatida no Senado paraguaio, nesse momento - reflete, sim, sem qualquer sombra de dúvida, a vontade da maioria absolutíssima dos representantes do povo, os únicos que podem, constitucionalmente, escorraçar um presidente eleito. É uma saudável prerrogativa do Congresso, para evitar que eventuais desajustados levem um país ao caos.
     A histeria dos 'democratas brasileiros' é claramente tingida por uma esquerdofilia primária, simplória. Lugo, Hugo Chávez e Evo Morales, em especial, povoam a mente desses 'liberais'. Menos pelo que são, de fato (medíocres, totalitários, arbitrários); mais pela identidade que têm com a companheirada.

Banquete indigno

     O terrorista, assassino e presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad (não necessariamente nessa ordem), fez sucesso, hoje, na Rio+20, segundo nos conta Veja. Reuniu, para um café da manhã, um seletíssimo grupo do que há de mais pilantra ideologicamente no Brasil. E saiu coma barriga cheia de elogios à sua postura independente face ao 'imperialismo americano'.
     É a cara desse misto de lixo 'acadêmico' e dejeto político formado por um 'eminente' sociólogo (ele, pelo histórico intelectual, talvez escrevesse iminente), um saudoso ex-embaixador em ... Cuba, celebridades petistas e a nata dos pelegos estudantis que dominam a UNE, essa entidade comprada e mantida por verbas oficiais quase sempre usadas sem a decência que se poderia exigir.
     Um dia antes, o apedrejador de mulheres, algoz de homossexuais e inimigo declarado do povo judeu tinha recebido um caloroso abraço do seu amigo de fé, o ex-presidente Lula, notório pela associação que fez com o que há de pior no mundo, durante seus oito anos à frente da enorme quadrilha que vem assaltando os cofres públicos.
     Os comensais desse banquete da estupidez ficaram muito satisfeitos com o encontro e atribuíram ao criminoso iraniano diversas qualidades que, certamente, não encontram nessas lideranças neoliberais que andam por aí. Para esse tipo de gente, quanto pior, melhor. Não à toa, essa turma exibe a enorme saudade dos camaradas Stalin e Mao; venera criminosos como Fidel Castro e Guevara; está sempre alinhada com Hugos Chávez e Evos Morales da vida.
     O abraço afetuoso de Lula em Ahmadinejad não chegou a espantar. Ele acabara de chafurdar com Paulo Maluf. Assim como o deslumbramento disso que se diz esquerda brasileira com terroristas é mais do que natural. Não se pode esperar algo menos infame.
     Bem fez alemã Angela Merckel, que optou por acompanhar os jogos da sua seleção de futebol a dividir mesas e fotos com representantes da escória mundial.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Apenas desprezo

     Alguns articulistas - afogados em desespero após a mais recente demonstração de vigarice política do ex-presidente Lula, o mais medíocre e limitado de toda a nossa história republicana - começam a argumentar que guru das esquerdas provoca reações extremas: amor ou ódio. Só posso responder por mim, é claro. E não concordo. É claro que não amo Lula, jamais amei, embora tenha votado nele uma vez, no segundo turno das eleições vencidas por Fernando Collor.
     Na época, ainda relativamente iludido, confesso, embarquei na campanha. Cheguei - ninguém é perfeito - a estampar um plástico no vidro traseiro de meu Chevette verde musgo. Mas a 'causa' era boa. Parecia óbvio que nada poderia ser pior do Collor. Mas, rapidamente, meu sentimento em relação ao ex-presidente ficou absolutamente claro: desprezo. Nem amor nem ódio. Apenas e simplesmente desprezo.
     Lula, para mim, e há muito tempo, é um personagem nefasto, a cara desse estelionato ideológico promovido sob a liderança do Partido dos Trabalhadores, capaz de todos os atos infames para perpetuar um projeto de poder. Mentiroso, rancoroso, simplório, soube usar uma história de vida que poderia ser digna como uma gazua para assaltar consciências.
     Poucos ousavam e ainda ousam criticar um nordestino, operário, pobre e semianalfabeto que conseguiu driblar todas as barreiras até chegar ao mais alto posto do país. Suas ações deletérias foram sempre perdoadas. Sua extrema falta de conhecimentos provocava 'frouxos de riso' coniventes. "Esse Lula...", ouvia-se por toda a parte. Mais do que todos os seus antecessores, o ex-presidente soube criar uma imagem à semelhança da imensa maioria da população, desinformada e ignorante como ele.
     Lula, e não apenas porque foi lamber as botas do deputado Paulo Maluf, jamais foi íntegro politicamente. Mentiu e mente. Nunca teve uma postura digna, responsável. Agiu e continua agindo como o eterno pelego que jamais deixou de ser. Aquele dirigente sindical que se encharcava de uísque nas reuniões com representantes da indústria automobilística e fazia todos os conchavos possíveis entre quatro paredes, mas que aparecia como um messias para um bando de seguidores desinformados.
     Quase cedi à tentação de lembrar passagens ainda menos nobres de sua - digamos - história política. Muito menos nobres do que o Mensalão, os aloprados, cuequeiros, as relações deletérias com representantes do que há de pior na vida nacional e a recente chantagem sobre ministros do STF. Não é necessário. O conjunto de sua obra é suficiente para explicar meu desprezo por ele e pelo que ele representa. Talvez, como já disse algumas vezes e repito, a explicação para seu comportamento errático esteja na medicina. O ex-presidente evidencia - por palavras e atos - não ter superego.

Goleada paraguaia

     O placar é acachapante: 76 a 1. É isso mesmo: 76 deputados, de 77, querem cassar o presidente, o ex-bispo Fernando Lugo. Confesso que jamais soube de uma 'oposição' tão forte como essa do Paraguai. Fica evidente, portanto, que não se trata, apenas, de uma luta entre partidos ou grupos. Não é decisivo, ainda. Mas é uma boa indicação para o que pode vir pela frente, no Senado paraguaio, já na sexta-feira. Para agravar a situação, uma penca de ministrou renunciou e outro grupo, indicado pelo partido da base, já anunciou que vai abrir mão de lugares no altar paraguaio.
     O mandato do ainda presidente Lugo está, de fato, ameaçado, Ele, que já vinha perdendo apoio, em virtude de uma administração muito criticada, é acusado formalmente de ser o responsável pela tragédia que terminou com a morte de seis policiais e onze sem-terra, sexta-feira, durante uma reintegração de posse determinada pela Justiça, no fim da semana passada. O conflito agrário, desde a posse do atual presidente, assumiu proporções quase incontroláveis. E pode crescer ainda mais, caso se concretize o temor de que grupos de sem-terra (os 'carperos', como são chamados, numa alusão à palavra 'carpa', barraca em espanhol) marchem para Assunção e o conflito se transforme em guerra civil.
     O processo de cassação está sendo desenvolvido de acordo com a Constituição paraguaia. Nada de golpe ou quartelada, práticas que já foram muito comuns por essas bandas. Guardando as devidas proporções, os paraguaios estão agindo como os brasileiros, quando da cassação de Fernando Collor.
     Particularmente, defendo sempre a 'cassação' que se origina nos eleitores. Eleição livre ainda é o melhor antídoto contra dirigentes vigaristas, incompetentes, mentirosos, demagogos e coniventes com assaltos aos cofres públicos. Eventualmente eles escapam e ainda conseguem continuar dando palpites e infelicitando seus países, mesmo fora do poder. Mas esse procedimento ainda me agrada muito mais do que a destituição, mesmo quando baseada em fatos graves.
     Açodado, como sempre que se propõe a defender 'amigos', e para não deixar passar a chance de se mostrar protagonista, especialmente na América do Sul, o governo brasileiro já se mobiliza para participar do processo. O ministro das relações Exteriores, Antônio Patriota anunciou que parte ainda hoje para o nosso vizinho, com um grupo de chanceleres dos países da Unasul. O governo brasileiro teria considerado a aprovação do processo de impeachment "muito rápida", como se tivesse esse direito.
     Espero que respeite a decisão soberana, seja ela qual for, do Congresso paraguaio.

"Não deixa, Dilma!"

     Pois é. A presidente Dilma Rousseff é uma vítima das circunstâncias. Os assaltantes que fizeram parte do seu primeiro ministério estavam lá contra a sua vontade. Por ela, seriam todos idealistas, honrados e incapazes de cometer as indignidades que foram, são e serão cometidas. "Isso é política, idiota", poderia ponderar a companheirada. Eu talvez respondesse de maneira didática, lembrando que a turma que ocupa o poder há nove anos e meio garantia que haveria um novo mundo a partir de Lula, que todos os que o antecederam eram parceiros de satanás, omissos quanto às reais necessidade da população (não apenas dentaduras formais e retóricas).
     A presidente, que parece viver em um país situado em um planeta de uma galáxia distante, faz o que pode para varrer a sujeirada para fora do Governo - na verdade, mal empurra para baixo do tapete do seu gabinete - e não tem nada a ver com a parceria com cheiro de privada entre Lula, seu mentor e guru, e Paulo Maluf, seu ardente defensor e ativo participante da base governista. Oprimida, foi 'obrigada' a engolir um código florestal e meia boca. Sufocada, transferiu para governos estaduais a tarefa de desrespeitar a lei brasileira e vender bebida alcoólica nos estádios de futebol, durante a Copa de 2014.
     Hoje, ficamos sabendo que - coitada! - foi "convencida pela Petrobras" - segundo versão fantasiosa de alguns dos nossos jornais, que o preço da gasolina deve ser aumentado. Isso é coisa da Graça Foster, indicada pessoalmente por ela, é verdade. E que só faz o que a chefe manda. Ela não queria aumentar, mas ...
     E o relatório da Rio+20? Essa gente que protestou e retirou as assinaturas é injusta. Depois de tanto esforço diplomático, patriótico. Será que ninguém percebeu que os culpados de tudo - incluindo o efeito estufa, o derretimento das calotas polares e os três gols do Messi no jogo com nossa Seleção - são os neoliberais?
     Como diretamente interessado no preço do combustível, vou tomar a liberdade de tentar liderar um movimento popular - mais um 'protesto a favor' - contrário à ameaça da Dona Graça contra nossos já combalidos bolsos: "Não deixa, Dilma!"

quarta-feira, 20 de junho de 2012

A dor da desilusão

     A mulher de Nicola Polpetone, Dona Lúcia, já não sabia o que fazer para ajudar o marido. Tentou consolá-lo, no primeiro momento. Falou do Palmeiras, contou uma história engraçada do neto, preparou o melhor macarrão da sua vida, caprichado, com um molho de tomates que ela fez questão de escolher, um a um, na quitanda da esquina. Nada.
     Nicola sequer teve coragem de abrir o caderno esportivo da Folha. Para não magoar a mulher, fingiu prazer no almoço antecipado que marca todos os seus dias, antes de sair de casa para enfrentar o trânsito de São Paulo, no comando do táxi que sustenta sua família há tanto tempo.
     Há um bom par de anos ele decidiu que já não valia a pena - e nem carecia - despencar-se lá do Braz ainda de madrugada, à cata de passageiros. Ao longo do tempo, formou uma clientela cativa, que garantia seu sustento. A casa estava paga, assim como o carro, o último modelo do Volkswagem Santana que ele não trocava por nenhum desses que estão por aí. Os meninos estavam criados e quase independentes. Quem diria que ele, primeira geração de filhos de imigrantes, resolveria a vida tão bem.
     Hoje, Nicola pode se dar ao luxo de, ao menos, tantar fugir dos alucinantes engarrafamentos, do tempo perdido parado sem ter para onde ir. Trabalha entre os dois grandes momentos da cidade. Mas está desolado. Chegou a errar o melhor caminho para os Jardins. Perdido em seus pensamentos, seguiu em frente, depois do farol, quando deveria dobrar à esquerda.
     O cliente, antigo, daqueles conquistados durante os 30 anos de idas e vindas por São Paulo, não reclamou e aceitou as desculpas envergonhadas de seu Nicola. Mais do que sabia, adivinhava o sofrimento do motorista que virou um bom amigo.
     Dona Lúcia também sabia a causa de tudo, da desilusão de Nicola, do seu desencanto. Aquela fotografia do Dr. Paulo ao lado daquele sujeito atingiu em cheio o marido. Ele não podia entender como é que alguém que fez tanto por São Paulo e pelos motoristas podia apertar a mão daquele que era o chefe dos chefes do maior assalto aos cofres públicos já registrado no país; daquele homem que mentiu tanto, que vem enganando o povo mais ignorante há tempo tempo.
     - Um sujeito que é capaz de pisar no pescoço da mãe para conseguir o que quer", resmungava, enquanto preparava o lanche da noite para o marido. Ela também não conseguia admitir que Dr. Paulo aceitasse apoiar alguém "useiro e vezeiro" de tantas traições, de "vender a alma ao diabo", que - na verdade, ponderou para si mesma - "era o próprio diabo", mas não deixou que isso a abalasse muito. Tinha coisas mais sérias para pensar.
     Caprichou no presunto, dessa vez.

terça-feira, 19 de junho de 2012

A chantagem do ex-ministro

     O advogado de porta de xadrez mais bem pago do Brasil, o ex-ministro de Lula Márcio Thomaz Bastos, petista de carteirinha, abandonou por alguns minutos sua mais atual e destacada fonte de renda - a defesa do contraventor Carlinhos Cachoeira - e voltou seus baterias retóricas para o julgamento das quadrilha do Mensalão, que se aproxima inexoravelmente, para desespero dessa gente que assaltou os cofres públicos, segundo denúncia da Procuradoria Geral da República.
     Sem demonstrar rubor - imagino, pelo que venho acompanhando nos últimos anos - ou qualquer vestígio de constrangimento, o grande responsável pelas manobras que impediram a cassação de Lula sacou da carteira, sempre recheada, uma teoria que merece ser inscrita entre as candidatas ao ranking das maiores vigarices retóricas do ano. Segundo ele - não é para rir -, o Supremo Tribunal Federal não pode se deixar influenciar pelas chantagens em relação ao julgamento dos 38 assaltantes do dinheiro de todos nós.
     É isso mesmo, está lá, em O Globo, com todas as letras, em um texto que - sou obrigado a apontar, por imposição de consciência - parece ter saído da máquina de fantasias e diversionismos da assessoria de imprensa do PT. É preciso ter muita coragem - ou total ausência de superego - para usar esse argumento, não muito tempo depois de o Brasil inteiro ter sido agredido pelo comportamento indigno (mais um, apenas) do ex-presidente Lula, que - ele sim - tentou chantagear integrantes da nossa mais alta Corte.
     Advogados, nós sabemos, cumprem esse papel a todo o momento. Em tese, a defesa de seus clientes justifica qualquer atitude, mesmo que ela atropele consciências, agrida a verdade. O espírito, de fato, não deveria ser esse. Não se discute que todos têm direito à melhor defesa possível, mas não à custa da dignidade. A inversão de valores, entretanto, valoriza justamente os mais capazes de provar o improvável; desmentir os fatos; reduzir a verdade a um mero penduricalho.
     O palavrório do ex-ministro de Lula e advogado de Cachoeira é a essência dessa fase de dissolução institucionalizada que afoga o país há nove anos e meio.

Pragmatismo e estelionato ideológico

     Não sei se esse sentimento é comum, generalizado: uma sensação vergonha por atos e palavras de outros, por comportamentos inadequados. Pois foi assim que eu me senti ontem à noite, ao dar uma passada pelo noticiário da GloboNews. Os sorrisos amarelos, pregados em caras de paisagem, eram constrangedores. Afinal, o tema do dia era o estreitamento das relações íntimas - um amor profundo, afinidade inabalável - entre o líder maior do PT, o ex-presidente Lula, e o representante máximo do que a companheirada sempre disse combater, o deputado federal Paulo Maluf, do sugestivo 'PP' paulista.
     O que fazer nessas horas? A notícia precisa ser 'analisada'. Mas como? A saída foi explorar uma expressão que, pela profundidade e origem, não merecia ser usada de maneira tão vagabunda: pragmatismo. Eu, modestamente, previ essa reação, ontem, aqui mesmo no Blog, quando discuti a parceria com cheiro de privada entre Lula e Maluf, em benefício do candidato petista, Fernando Haddad, à prefeitura de São Paulo. A companheirada formal e informal se esmeraria na busca de saídas retóricas.
     Para essa gente, Lula e seus asseclas são ´pragmáticos', e não estelionatários ideológicos, vigaristas semânticos, reacionários, fascistas, direitistas, parceiros da ditadura, viúvos das torturas. É, apenas, uma questão de momento, de necessidade de unir todas as forças para combater o neoliberalismo, os representantes da reação. Afinal, os progressistas, democráticos e inatacáveis Maluf e seu PP estavam garantindo os 90 segundos fundamentais no horário gratuito de propaganda eleitoral na tevê que podem ser decisivos na corrida pela prefeitura.
     A 'causa' estaria em primeiro lugar, assim como vem estando há nove anos e meio de assaltos aos cofres públicos - e o Mensalão é apenas o exemplo mais conhecido da roubalheira companheira -, escândalos nos gabinetes e corredores do primeiríssimo escalão, corrupção, aditivos, contratos superfaturados, falsificação de dossiês, dólares na cueca e outros exemplos da indignidade institucionalizada por Brasília.
     Até mesmo a horrorizada deputada federal luíza Erundina (PSB-SP), virtual parceira de chapa do ex-ministro que quase destruiu o Enem e a língua portuguesa, deu uma guinada. Já não fala em abandonar esse barco de desatinados. Vai ficar, deve ficar, mas não aceita participar de comícios ao lado de Maluf. Mas não tem nada a opor à maior exposição conseguida com os segundos negociados pelo deputado. Pragmatismo é isso, minha gente.

     PS: Confesso que não assisti ao Jornal Nacional até o fim, Às 9 horas, mudei para a série NCIS, onde os bandidos e os mocinhos são mais bem definidos. Nos primeiros trinta minutos de noticiário vazio, não vi referência ao encontro entre amigos na casa de Maluf. O tema passou batido das chamadas, incompreensivelmente.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Ideologia e preconceito

     O comprometimento ideológico - se é que podemos considerá-lo assim - é responsável por textos como o que me aventuro de analisar, em seguida. Não me refiro a um artigo assinado, a uma página de opinião, mas, sim, a uma notícia comum, que deveria - por essência - ser informativa, sem 'costear alambrados'.
     A imagem dos 'alambrados' surgiu naturalmente, atrelada à lembrança de outra frase do ex-governador Leonel Brizolla, usada para ilustrar, num texto anterior, aqui no Blog, o que eu entendi como a parceria política digna da privada entre Lula e Maluf, em torno da luta pela prefeitura de São Paulo.
     Mas vamos voltar ao tema inicial. O Estadão de hoje publica uma matéria curta, calcada em telegrama internacional, sobre um novo momento de tensão no Oriente Médio, provocado pelo deslocamento de tanques israelenses para a fronteira com o Egito.
     Fica óbvio - e o texto não deixa qualquer dúvida - que o vilão, mais uma vez, é Israel, que teria descumprido o acordo de paz de Camp David, ao levar "seus tanques" - foram apenas dois! - para a fronteira. A condenação é evidente: "Segundo o documento (o acordo de paz), os dois lados são obrigados a manter a região desmilitarizada, portanto (o destaque é meu), Israel não deve implantar (sic) tanques ou mísseis", reza o texto.
     É verdade. Deveria ignorar o atentado que matou um operário, provocado por um grupo de terroristas que atravessou comodamente a fronteira e colocou explosivos em uma estrada, a 30 quilômetros da Faixa de Gaza. Os assassinos podem 'implantar' bombas e atirar em civis que se dirigiam ao trabalho, mas Israel não pode tomar providências para garantir a segurança de seus cidadãos.
     É uma lógica perversa que revela o quanto é forte o preconceito contra os judeus. A reação a um ataque é tratada como agressão. A vítima é apedrejada. Os assassinos são tratados como 'milicianos'. O acordo de paz - que deveria garantir a segurança, só vale para um dos lados.

Lula e Maluf, a cara da indignidade política

     Imagino o enorme esforço semântico, as contorções ideológicas, as teses político-sociológicas que devem estar sendo desenvolvidas pela 'esquerda' brasileira para justificar, para ela mesma, a cena que marcou o dia de hoje: o inimputável ex-presidente Lula, o candidato à prefeitura de São Paulo pelo PT, Fernando Haddad, e Paulo Salin Maluf aos beijos e abraços metafóricos, na residência de um dos maiores símbolos da 'direita', um sobrevivente da Ditadura, presença marcante na lista de procurados da Interpol, inimigo visceral de tempos passados, símbolo de todos os males.
     Olho para a foto, estampada, entre outros, por Veja, e - confesso - não resisto a algumas gargalhadas contidas. Essa é a cara do PT, de seu guru, do que se convenciona chamar de 'esquerda', uma turma que assalta cofres públicos e sobrevive de financiamentos ilícitos de campanha e mordomias. Leonel Brizolla - vou me permitir citar o falecido ex-governador do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul -, há muito tempo, diagnosticara: Lula é capaz de pisar no pescoço da mãe para conseguir o poder.
     No pescoço materno e no que ainda poderia restar de dignidade na companheirada. Para alcançar seus objetivos - sejam eles 'politicos' ou criminais, como no caso da chantagem para postergar o julgamento do Mensalão -, o ex-presidente e seus parceiros sempre ignoraram fronteiras do comportamento decente, atropelaram dignidades, mentiram, adulteraram, forjaram.
     Fizeram isso a vida toda, confiando e apostando na ignorância da população e na conivência de um grupelho de 'intelectuais' - eles se acham, pelo menos -, saudosos da Guerra Fria; do Muro de Berlim; viúvos de Stalin e Mao; idólatras de regimes e personagens criminosos, como Fidel Castro; reverentes a simplórios aprendizes de ditador, como Hugo Chávez; solícitos com meros assassinos, como os presidentes do Irã e da Síria.
     O discurso vagabundo e demagógico contra o 'imperialismo' e a favor dos pobres e oprimidos (como se alguém decente fosse contra os menos favorecidos) - eles sabem disso - funciona em um país sem memória e escolaridade. Foi assim que a Era Lula se estabeleceu nessa pobre República. Comprando consciências, massacrando a história, negociando pequenos subornos, como o faziam e ainda fazem os 'coroneis' do sertão, distribuindo dentaduras retóricas.
     A deputada Luíza Erundina (PSB-SP), virtual parceira de Fernando Haddad na disputa pela prefeitura paulistana, saltou desse trem estabanado. À Veja, disse que vai rever a decisão de compor a chapa com o eleito de Lula. Embora equivocada - na minha interpretação -, pelo menos exibiu o mínimo de decência que falta ao conjunto liderado pelo PT. Para ela, o ingresso de Paulo Maluf na campanha, ao som de trombetas, é demais.
     E deixou isso bem claro: "É constrangedor ver Lula e Haddad na casa de Maluf celebrando essa aliança. No momento que instalamos a Comissão da Verdade para desvendar crimes das ditadura, o PT se alia a um dos tentáculos da ditadura militar", disse.
     Ela, pelo que se vê, não levou em consideração os alertas de Brizolla e todos os demais e recorrentes indícios da desqualificada atuação do partido do governo.

domingo, 17 de junho de 2012

Histórias de Júlia e Pedro (47)

     Vida sem mistérios

     Ontem foi dia de Pedro e sua bota destinada a aventuras. Hoje, vou contar uma história bem recente, fruto de um diálogo entre Júlia e a mãe, Flávia. Confesso que, para meu alívio, não precisei passar por um momento semelhante, naturalmente incluído no 'contracheque' das mães, para o bem de todos nós, pais, especialmente de meninas, como é o meu caso.
     Júlia sempre soube de onde vinham os bebês. E acompanhou dia a dia o crescimento da barriga da mãe, grávida de Pedro. Aos quatro anos, para ela era absolutamente natural que bebês crescessem na barriga das mães. Nunca houve dúvidas. Tudo sempre foi muito simples.
     Mas - e esse 'detalhe' é fundamental - ela só tinha quatro anos quando o irmão nasceu. Uma idade em que ainda não há questionamentos mais profundos. Mas aos oito, quase nove, como agora ...
     - Mamãe, eu sei que os bebês vêm da barriga das mães. Que nascem de uma sementinha. Mas como é que a sementinha chega na barriga?
     Pânico? Não chegaria a tanto. Mas Flávia admite que ficou sem ação, no primeiro momento dessa conversa que ela sabia inevitável, mas que não tinha ideia de quando surgiria. Mas só havia uma resposta possível, a mesma que ela teve quando se questionou. A mesma que deu a Fabiana, mais nova quatro anos, quando a irmã fez pergunta semelhante: a verdade.
     - Júlia, é o papai quem coloca a sementinha na mamãe, você já sabe. E por onde é que você acha que ela pode entrar?
     - Pela 'perereca'?
     - É. E de onde ela pode vir? Então ...
     Não teve tempo, nem precisou continuar. Júlia, com o jeito que eu insisto que é só dela, resolveu a situação:
     - Então, tem que 'transar' para ter filho?
     - Tem, Júlia. Como é você sabe disso?
     - Eu conversei com uma amiga na escola.
     E a conversa seguiu em frente, naturalmente, sem traumas, sadia, com direito à leitura, em conjunto (mãe e filha) de um livro, ilustrado, sobre o 'mistério' da vida.
     Júlia é assim.

Nada de novo no 'front' paulistano

     Não pode haver algo mais antigo (talvez só a candidatura de José Serra, pelo PSDB) do que a presença da deputada federal Luíza Erundina (PSB-SP) na chapa do petista Fernando Haddad - que se apresenta como um fato 'novo' - à prefeitura de São Paulo. Expurgada do PT há alguns anos, a ex-prefeita paulistana desembarca na campanha com a missão de dar uma cara ideológica - por mais ultrapassada que seja - a um candidato que continua mergulhado em pífios 3% e que tem, a seu - digamos - 'favor' apenas o fato de ser o eleito do ex-presidente Lula.
     Pois resume-se a isso - ser o 'escolhido' - o potencial político do ex-ministro das Educação que desmoralizou o Enem e tentou criar uma nova língua portuguesa, repleta de "nós vai" , "a gente vamos" e "a maioria foram", à semelhança do idioma falado pelos principais líderes de seu partido.
     A deputada - inegavelmente séria e decente - chega à corrida eleitoral, entretanto, carregando um pacote de inconsistências e expressões que recendem a naftalina. À Folha, além de criticar o slogan petista, que tenta jogar o 'novo' contra o 'velho' (ela, assim como a pretertida senadora Marta Suplicy, na qualidade de uma senhora de razoável idade e anos de labuta política, acha que é preconceituoso), sacou do manual de frases feitas há quase um século uma definição que, em mim, provoca irresistíveis sorrisos: "É um coletivo que vai definir a agenda", disse, referindo-se à sua participação na campanha, que - prometeu - vai fugir à "caretice".
     E, aqui, vale abrir parênteses retóricos: a indicação de Fernando Haddad para disputar a prefeitura é o exemplo mais acabado da negação do tal 'coletivo'. Foi uma decisão pessoal e intransferível do guru de Garanhuns, enfiada goela abaixo do partido e, em especial, da senadora Marta Suplicy.
     Mas vamos a outra decisão 'coletiva': a participação do deputado federal Paulo Salin Maluf, do PP, nesse moderno projeto. A questão não foi colocada assim, com uma - reconheço - dose alta de ironia. A Folha foi mais gentil, mas lembra a divergência histórica entre ela e seu novo parceiro de campanha. A deputada saiu pela tangente - no estilo nem sim, nem não; muito pelo contrário. Foi um exercício de diversionismo que merece ser transcrito:
     - Esse é um problema de governos de coalizão. Eu tenho outra concepção de governo. Por mais que tenhamos dificuldades, se isso significar alguma restrição ao seus compromissos, eu acho que tem um preço que não vale a pena pagar por ele. 
     Sensacional. A arte de não dizer e desdizer, ao mesmo tempo. A mesma que vem sendo usada à exaustão pela companheirada para justificar a enorme promiscuidade com personagens como os ex-presidentes Fernando Collor e José Sarney; senadores como Renan Calheiros; e o próprio Paulo Maluf, todos comensais do Palácio do Alvorada, nessa inefável Era Lula.

sábado, 16 de junho de 2012

Minha frase da semana

     "Estou torcendo, a cada dia, para que o esquadrão da morte da dignidade pública, chefiado pelo ex-presidente Lula, mantenha-se firme no desacato da Justiça, no cerco a ministros do Supremo e, em especial, ao procurador-geral da República, Roberto Gurgel. Os últimos fatos mostram que a companheirada está dando caneladas e chutes no vento".
     Extraída do texto 'Reação em cadeia', de quarta-feira, dia 13 de junho.

O mundo sem Collor

     O ex-presidente Fernando Collor de Melo, atual senador por Alagoas, viveu momentos de estrela, ontem, durante solenidade que marcou a passagem dos 20 anos da Rio 92. Fez discursos, foi aplaudido, deu autógrafos, em uma prova indesmentível da mais deplorável falta de memória que aflige a sociedade brasileira. É verdade que sua parceria com o PT e os governos da Era Lula vem 'ajudando'.
     O antes apedrejado 'caçador de marajás' (o único presidente da nossa história cassado por atos indignos), agora é paparicado pela turma do Poder, à qual se aliou e com a qual se identifica perfeitamente. Através dos anos, vem sendo um fiel camarada. Tanto que mereceu várias citações pessoais e oficiais de Lula, que o chamou de "companheiro Collor" em inúmeras situações.
     Pois Collor, o amigo do peito de Lula, aquele que presidia o País na época do encontro (foi despejado do Planalto alguns meses depois), segundo nos contam os jornais, entre eles a Folha, se permitiu fazer uma avaliação do mundo: "O mundo mudou", disse, "e não para melhor".
     Tenho minhas dúvidas. Piorou, sim, nas questões ambientais, por culpa exclusiva dos governantes, que continuam omissos pricipalmente em relação à educação das novas gerações. Mas melhorou muito (o Brasil, em especial) com sua saída - dele, Collor - do governo.

Histórias de Júlia e Pedro (46)

     Pronto para aventuras

     Pedro, que completou cinco anos ontem, acostumou-se a ouvir histórias e ver fotos das minhas viagens ao Pantanal, Jalapão, Chapadas, Grande Savana venezuelana, Patagônia (muitas com direito a acampamento na beira de rios etc) e outras menos - digamos - radicais. E, como todo moleque, já sonha com cachoeiras, mergulhos em rios, jacarés.
     Há alguns dias, ganhou um par de botas semelhante a um que eu tenho e uso nas minhas viagens. E não tirou mais as tais botas dos pés. Semana passada, quando esteve por aqui, na Pedra, para passar o fim de semana, pediu para ver meus calçados, as botas em especial.
     Olhou bem e foi tachativo: "São iguais, vovô". Concordei, lógico. Assim como fechei, com ele, um acordo que já temos há algum tempo e que ele relembrou:
     - Vovô, eu já tenho a bota e vou fazer cinco anos. Depois do meu aniversário eu já posso fazer aventuras com você.
     É claro que sim. O Jalapão nos espera, moleque.

Cavendish tem que falar

      Veja referenda, na edição que chega hoje às casas dos assinantes, um fato que vem sendo tratado há alguns dias, particularmente aqui, no O Marco no Blog, desde que a maioria dos integrantes da CPI (basicamente do PT e asseclas) que investiga as relações escusas do contraventor Carlinhos Cachoeira com políticos e governantes decidiu proteger o empresário Fernando Cavendish, ex-presidente da Delta Construtora, a maior beneficária das obras desse tal de PAC, um grande engodo criado por marqueteiros.
     Basta ter um mínimo de discernimento para ver a enorme dessintonia entre a decisão da base aliada, que postergou a convocação de Cavendish, e a condenação da Delta, declarada inidônea pela Corregedoria Geral da União. É claro, óbvio, cristalino, que o dono de uma empresa envolvida em serriíssimas acusações de corrupção precisa ser investigado, ouvido, interrogado, sim.
     Sua exclusão da relação de convocados, seguida logo depois pela constatação de que ele - Cavendish - esteve reunido com parlamentares em Paris, é um exemplo claro de podridão. Ficou claro, na época, que há muita gente com pavor do que o empresário pode dizer. Veja afirma, hoje, que ele, na verdade, ameaçou contar tudo o que sabe sobre as relações ignominiosas entre empreiteiras, parlamentares e governantes.
     Foi o sinal para a base governista - um amontoado 'ideológico' desclassificado - se mobilizar para calar o antigo parceiro de pilantragens, de aditivos, sobrepreços, financiamento de campanhas e partidos.
     Ao contrário do ex-diretor do Dnit, Luiz Antonio Pagot, que quer falar tudo o que sabe e não consegue (é um poço de mágoas por ter sido apontado como o grande vilão da roubalheira institucionalizada no setor de obras federais), Cavendish, na verdade, quer ficar calado. A ameaça de expor o esquema de corrupção que envolve - é claro - outras empreiteiras soa, apenas, como chantagem, um aviso. Algo como "não vou morrer sozinho, vou levar muita gente comigo". Muita gente, nesse caso, é um eufemismo para a turma ligada ao Planalto.
     O recado foi claramente entendido. A tropa (do 'cheque', como sugeriu o deputado Miro Teixeira do PDT fluminense?) foi à luta da maneira mais desavergonhada, liderada por esses luminares petistas, os deputados federais Cândido Vaccarezza (SP) e Odair Cunha (MG), relator da CPI. Fico imaginando o potencial deletério de personagens assim, capazes de soterrar a decência em nome de um projeto de poder que vem se mostrando indigno e corrupto, sob a liderança do inimputável ex-presidente Lula, o símbolo da devassidão que atinge o país há nove anos e meio.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

O estranho mundo de Dilma

     Definitivamente, nossa presidente vive num mundo estranho, imaginário, criado pela equipe de marketing do Palácio. E o que é mais grave: parece acreditar nele. Ontem, como destaquei aqui mesmo, no Blog, exaltou o projeto brasileiro de uso intensivo do etanol, absolutamente alheia à realidade exposta nos preços praticados nos postos de combustível, que inviabilizam a opção por esse combustível.
     Hoje, em reunião com atletas que irão aos Jogos Olímpicos - que foram convocados para o ato -, a presidente Dilma garantiu que o Produto Interno Bruto, este ano, vai merecer uma medalha, quando até mesmo aqueles que pouco entendem de economia - entre os qua is eu me incluo - sabem que o desempenho brasileiro ficará muito próximo do pífio, algo entre prováveis 2,5% e 'estratosféricos' 3%.
     Para espanto de todos - imagino -, ainda teria simulado um movimento de levantamento de halteres - como nos conta a Veja -, para passar a ideia de que o país está na fase de aquecimento, ao estilo de seu antecessor, o histriônico ex-presidente Lula.
     O universo político desaba ao seu lado, com acusações cada vez mais graves envolvendo corruptos e corruptores, e a presidente vai levando, como se navegasse em outros mares, e não na torrente que pode surgir da CPI do Cachoeira e afogar seu Governo. Ignora a greve que paralisa as universidades federais, a revolta dos médicos contra redução de salários (na prática, houve uma redução, sim) e o aumento absurdo da inadimplência - fruto do estímulo à gastança desenfreada, entre outros males que nos afligem.

Maluf e PT, uma parceria 'ideológica'

     O ex-prefeito e ex-governador de São Paulo, Paulo Maluf, atual deputado federal pelo PP (a sigla é absolutamente sugestiva), aparece com destaque em duas notícias hoje. Em O Globo, seu nome surge, ao lado de outros quatro brasileiros, em uma lista dos maiores corruptos do planeta, divulgada pelo Banco Mundial, em parceria com a ONU, através de seu órgão de combate ao crime organizado e às drogas.
     O homem está lá, citado duas vezes. Não é para qualquer um. Os outros destacados são o ex-subsecretário de Administração Tributária do Rio de Janeiro, Rodrigo Silveirinha, aquele do 'Propinoduto de 2002' (cobrava propina em troca de benefícios fiscais); os banqueiros Cid Ferreira e Daniel Dantas; e a irma de Daniel, Verônica Dantas. É roubo para mais de R$ 1 bilhão. Eu diria que o mundo, mais uma vez, se rendeu ao nosso Brasil varonil.
     Pois bem. O mesmo líder das estatísticas da corrupção acaba de fechar negócio com a candidatura do petista Fernando Haddad, concorrente à prefeitura de São Paulo, como destaca o Estadão. Em troca da nomeação do secretário Nacional de Saneamento Ambiental do Ministério das Cidades, 'Dr. Paulo' cedeu ao PT mais 1m35 no horário político obrigatório. Será um programa imperdível: Lula, a presidente Dilma Rousseff, Maluf e José Dirceu, unidos e coesos em torno de um objetivo comum, afinados 'ideologicamente', irmãos de fé, camaradas, como vem ocorrendo há nove anos e meio.
     Se não tivesse domicílio eleitoral em Alagoas, o ex-presidentre e atual senador Fernando Collor de Melo - um aliado de todos os momentos - poderia se juntar ao grupo. Identidade não falta.
     Essa lista do Banco Mundial está incompleta.

Sob as luzes de Paris

     Se já não fossem suficientes todos os indícios da estreita relação entre a Delta Construtora, parlamentares e governantes, as mais recentes (jamais podemos falar em 'últimas', nessa inefável 'Era Lula') notícias de encontros do empresário Fernando Cavendish com políticos da chamada 'base' deveriam provocar a imediata convocação do ex-presidente da 'filha pródiga do PAC' para depor na CPMI que deveria estar apurando a tenebrosa promiscuidade entre o contraventor Carlinhos Cachoeira e o poder, em suas mais diversas manifestações.
     O palco desse novo encontro foi, como em ocasiões anteriores, Paris, a cidade que parece atrair, com sua luz, todos os bandos que gravitam em torno das manobras de bastidores, acertos de contas superfaturadas, financiamento de campanhas e partidos políticos, compra e venda de mansões a preço de apartamentos populares. Não por acaso - e nossos jornais destacam o fato hoje -, os digníssimos participantes de uma 'boquinha' com Cavendish retribuíram o convescote, ajudando a postegar a convocação do empresário.
     As reações a mais essa exibição de vigarice explícita foram bem variadas. Os senadores Pedro Taques (PDT-MT) e Raldolfe Rodrigues (PSOL-AP) e o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ) foram incisivos na denúncia dessa nova derrapada na indignidade, lembrando que o ex-presidente da Delta escapou por muito pouco da convocação. Miro chegou a acenar com a existência de uma "tropa do cheque", a serviço do acobertamento das falcatruas protagonizadas pela construtora.
     Foi o bastante para o eminente deputado federal Candido Vacarezza (do PT, é óbvio) sentir-se atingido, embora não tenha sido citado. Compreende-se. A carapuça deve ter servido perfeitamente. Ele - obreiro do PT, em especial do ex-presidente Lula -, é um dos mais eloquentes defensores da não apuração total do escândalo, seguido de perto pelo - digamos - tergiversante relator da CPI, o petista Odair Cunha, que vem se revelando um mestre na manipulação, nos encaminhamentos parciais.
     O PT não quer saber de ouvir nem Cavendish (que prefere calar, para salvar o que for possível do império que está ruindo), nem o ex-diretor do Dnit, Luiz Antonio Pagot, que está pedindo para contar tudo o que sabe sobre as bandalheiras executadas sob as asas do seu departamento. É um caso típico de investigadores que não querem investigar, que afastam testemunhas de crimes a pontapés. Essa é a verdadeira face da turma que tomou de assalto o país há nove anos e meio.