O entulho da 'Era Lula'

     O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em entrevista à Rádio Estadão/ESPN, usou, talvez, a palavra mais certa para classificar o peso que a presidente Dilma Rousseff foi obrigada (é possível, sim, que seja a contragosto, pelo menos em parte) a carregar nesse primeiro ano de governo: entulho.
     A imagem é muito boa. É só pensar nos destroços de uma obra mal-executada atirados num canto de calçada, atrapalhando a passagem de quem pretende seguir em frente e servindo de esconderijo e abrigo para ratazanas de todos os matizes. Esse é, em síntese, o ministério Dilma, loteado entre seguidores e apoiadores sem a menor qualificação para os cargos.
     O resultado não poderia ser diferente. O País perdeu um ano de vida. Nada foi feito, literalmente nada. Foram doze meses - os últimos seis ou sete, em especial - gastos em tentativas vãs de explicar o inexplicável, mergulhados em uma enorme crise moral que atingiu o primeiríssimo escalão e que ameaça não ter fim.
     Seis ministro demitidos por corrupção e dois na lista de espera; um ministro que declara estar convivendo com idiotas; trocas aqui e ali, para acomodar forças; e uma estrondosa derrota no embate com uma organização particular, a tal de Fifa. De bom, para recordar, a ligeira mudança na política internacional, motivo de chacota no mundo, e a imagem que ficou quando das visita do presidente americano, Barack Obama.
     É bem verdade que Obama veio aqui num momento em que seu país está em crise, à procura de manter mercado. Mas foi um momento maduro nas relações entre as duas nações. Pouca coisa a comemorar.
     A presidente Dilma, que tem fama de atropelar quem estiver pela frente, terá a oportunidade de remover o tal entulho citado por Fernando Henrique e começar, de fato, a executar um governo com suas características. Está na hora de - afinal - começar a limpar o caminho. Não pode continuar colocando a sujeira sob o tapete, como ameaça, agora, no caso do ainda ministro Fernando Pimentel.