quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Mais um 'esquecido'

     A capacidade de desdizer o que havia dito pouco antes, negar até o fim, mesmo quando confrontado com provas irrefutáveis - uma das 'qualidades' do ex-presidente Lula -, a cada dia mais se mostra enraizada na turma companheira. Na pior das hipóteses, há sempre a possibilidade de recorrer a eventuais falhas de memória: "Eu não lembro", dizem os gajos apanhados com a mão na - digamos - massa.
     Um número cada vez maior de pessoas ligadas ao Palácio do Planalto vem usando esse recurso há alguns anos, especialmente após o advento do Mensalão, o maior escândalo da história razoavelmente recente do país.
     O esquecido da vez é o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, marido da ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann. Acusado de ter usado o avião da empreiteira Sanches Tripolini, que presta serviços ao Governo Federal e foi usado na vitoriosa campanha de sua mulher ao Senado (PT-PR), Bernardo garantiu - a senadores da Comissão de Ciência e Tecnologia - que não lembra do fato. Saída perfeita. Ele não nega, apenas diz que não se recorda.
     As acusações contra o ministro foram publicadas na revista Época - e não na Veja - do fim de semana passado. A revista da Abril, acusada de ser 'inimiga' do Governo, reservou sua capa para o ex-ministro José Dirceu, destaque petista (o maior, depois de Lula), apontado como o 'poderoso chefão' do PT.
     Duas revistas, de empresas concorrentes, com jornalistas diferentes. Em comum, no entanto, denúncias contra o maior esquema político/empresarial/cartorial já registrado nessa Nação. Sem falar nas recorrentes manchetes dos principais jornais brasileiros, responsáveis - também - pelas demissões de algumas dezenas de integrantes dos mais diversos escalões do Governo.
     Não há terceira via: ou a imprensa, como um todo (incluindo centenas de jornalistas), é formada por desatinados; ou a 'Era Lula', que inclui o atual governo, é a mais indecorosa de todos os tempos.

Governo avalizou a absolvição

     Vamos falar, seriamente, da absolvição da deputada federal Jaqueline Roriz (PMN-DF), filha do ex-governador Joaquim Roriz. A culpa de mais esse desastre político não deve ser atribuída, apenas, à Câmara dos Deputados, essa figura vaga e anônima. Os 265 votos a favor de Jaqueline foram dados, em síntese, pela 'base governamental', que detém a maioria absoluta na casa.
     A vergonhosa foto do deputado Cândido Vacareza (PT-SP), todo sorrisos, aos beijos e abraços e carinhos sem ter fim com a deputada brasiliense, é uma demonstração inquestionável do grau de envolvimento do governo na questão. Afinal, ele é o líder.
     Vou repetir algo que venho afirmando há algum tempo: nada - mas nada mesmo - é aprovado no Congresso sem as bênçãos do Governo. O resto é pura tergiversação. O PT votou contra a cassação, sim, porque sabe que há um cutelo afiado sobre a cabeça de alguns de seus mais destacados representantes, envolvidos até à medula no escândalo do verdadeiro Mensalão, o do Governo Lula (esse, de Brasília, foi um assalto quase comum, feito por trombadinhas).
     Dos 451 deputados presentes à sessão, apenas 166 votaram pela cassação e 20 abstiveram-se, o que dá quase no mesmo. Sessenta e dois preferiram fugir à responsabilidade, e não apareceram no plenário. Se fizermos as contas sem fantasias, veremos que 346 deputados ajudaram a absolver a deputada filmada com a mão na grana da corrupção (347, se admitirmos que ela votou contra).
     É só fazer as contas e conferir o número de integrantes de cada bancada.

O 'segredo de Fátima'

     Não sei se meu antigo companheiro do Jornal do Brasil, José Nêumanne Pinto, esperava a repercussão provocada pela sua constatação de que o ex-presidente Lula nunca foi de esquerda. Foi como se Nêumanne - que está lançando seu livro 'O que sei de Lula' - tivesse revelado um dos 'segredos de Fátima'.
     Lula, pela extrema limitação, nunca foi nada, a não ser uma espécie de malandro de filme mexicano. Neumanne teve a coragem dizer mais ou menos isso, destacando, no entanto, a enorme capacidade política do seu retratado. Capacidade que, no caso brasileiro e sob a minha ótica, não quer dizer muita coisa. Ou quer, dependendo da avaliação que se faça.
     Diversionista, capaz de dizer e se desdizer a qualquer momento, dependendo do interesse imediato, o ex-presidente, sem dúvida, é um ótimo comunicador. Se optasse pela pregação religiosa ou por vender produtos paraguaios falsificados, também seria imbatível. Na verdade, sua performance nos palanques - inflamado, vermelho, andando de um lado para o outro, atacando os demônios que ele mesmo inventa - remete claramente à imagem de um desses vigaristas que montam palcos nas praças públicas. Ou a um daqueles comerciantes do 'velho Oeste', que iam de cidade em cidade oferecendo tônicos que curavam todas as doenças.
     Não foi por acaso que Lula escapou da cassação de seu mandato, quando do escândalo do Mensalão, e das recorrentes safadezas de marcaram seus dois governos. O Brasil, nessa fase de obscuridade política, foi manipulado conscientemente pelos donos do poder, que alimentaram a separação e jogaram as diversas classes sociais numa espécie de vale-tudo, repleto de golpes abaixo da linha da cintura.
     Lula mediocrizou o povo, usando as técnicas mais repulsivas dos discursos vazios de conteúdo, mas cheio de exortações.
     Neumanne, graças a seu vasto convívio político, exibiu a face real do político que manteve o país atrelado ao que há de pior no mundo. Uma de suas frases, na entrevista que concedeu ao jornal Globo, é quase definitiva: "O Lula administrou uma quadrilha chamada mensalão e a oposição não tem um cara para enfrentá-lo na eleição. Nunca houve um conciliador como ele".
     Se a frase fosse minha, trocaria apenas a palavra conciliador por algo como 'estelionatário ideológico'.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Compromisso com o atraso


     O que será que o Brasil pensa sobre a deposição do ditador líbio Muammar Kadafi? E sobre os assassinatos cometidos pelo ditador sírio Bashar Al-Assad? E sobre as denúncias de que o governo cubano aumentou a repressão aos opositores?
     Enquanto o mundo discute seu próprio futuro, ligado ao presente, especialmente no Oriente Médio, o Brasil - que se quer líder e representante de uma fração de peso - se cala, se omite, sai pela tangente, atado, ainda, a conceitos políticos que cheiram a naftalina.
     Nem mesmo as notícias de verdadeiros genocídios praticados por ditadores de vários matizes abalam nossa cegueira internacional. Nossos descaminhos em busca de um protagonismo que, antes de qualquer coisa, se mostre crítico à liderança americana.
     Nélson Rodrigues, há muitos anos, classificou essa postura - vá lá - 'esquerdista' de complexo de vira-lata. Durante décadas, grande parte dos nossos expoentes políticos bradou contra o império. Na segunda década do século 21, continuamos os mesmos ressentidos, tão medíocres quanto qualquer coronel de opereta, como Hugo Chavez, o aprendiz de ditador venezuelano.
     A omissão brasileira face ao clamor por liberdade em velhas ditaduras é um sintoma de fragilidade intelectual, de limitação, de compromisso com o atraso.

Nas águas do Jalapão (13)



Nas estradas, há cores, além do vermelho do barro


Um roteiro simplificado para a aventura

      Se mais nada houvesse, bastariam as montanhas e serras avistadas no horizonte para justificar um mergulho no Jalapão, esse paraíso ecológico encravado no estrado de Tocantins. Mas há muito mais:
     Artesanato com capim dourado - As peças (brincos, colares, pulseiras, bolsas, chapéus etc etc etc) estão por toda a parte. Os preços são sugeridos pela associação de artesãos.

Cachoeira da Fumaça

     Cachoeira da Fumaça - Formada pelo Rio Balsas, a 90 quilômetros de Ponte Alta, na estradaRio da Conceição. É sensacional.

Rio Soninho

     Passagem do Soninho - Um trecho do Rio Soninho perfeito para o banho. A 65 quilômetros de Ponte Alta, na estrada para Rio da Conceição.

Lajeado


     Cachoeira do Lajeado - Um trecho de 50 metros composto por degraus formando várias quedas. O acesso fica a 32 quilômetros de Ponte Alta, a caminho de Mateiros.
     Cachoeira do Rio Formiga - Águas esverdeadas e transparentes, perfeitas para um banho. O acesso é pela estrada para São Félix do Jalapão, a partir de Mateiros..
     Cachoeira da Velha - Tem cerca de 25 metros de altura, e quedas em forma de ferradura. Fica a 90 quilômetros de Ponte Alta, a caminho de Mateiros.
     Dunas - Incríveis formações de areia alaranjada, no km 136 da estrada para Mateiros.
     Gruta de Suçuapara - Localizada na altura do km 13 da estrada para Mateiros.
     Fervedouro - Um olho d'água azul que borbulha da areia do fundo, formando uma piscina natural. Tem-se a sensação de flutuar em suas águas. Estrada para São Félix do Jalapão, pouco depois de Mateiros.  Há outro fervedouro, em São Félix.
     Mirante - Uma escalada de 50 minutos leva ao topo da onipresente Serra do Espírito Santo, de onde se tem uma vista incrível de toda a área.

Praia do Araçá

     Praia do Araçá - Formada pelo Rio Balsas, a 50 quilômetros de Ponte Alta, na estrada para Natividade.
     Rafting no Rio Novo - Para conhecer bem o Rio Novo o ideal é fazer o rafting de quatro dias. O passeio começa na altura da Ponte do Rio Novo, onde as águas são bem calmas.
     (*) Muitras atrações ficam em áreas particulares, embora no Parque Nacional do Jalapão. Seus proprietários cobram uma taxa dos visitantes. 
  
Como chegar 


     Quem sai de São Paulo pode seguir pela SP-310 até São José do Rio Preto. Depois, pela BR-153 até Goiânia. De lá, pela BR-060 até Anápolis e de novo a BR-153, no sentido de Palmas. Não é preciso chegar a Palmas (mas nada impede que se conheça a capital do Tocantins). Antes, na altura de Fátima, seguir em direção a Porto Nacional e, de lá, até Ponte Alta do Tocantins. A partir de Ponte Alta, as estradas são de terra e precárias.
     Para quem sai do Rio de Janeiro ou de Belo Horizonte, o caminho mais rápido passa pela BR-040 até Brasília,  GO 118 (sentido de Alto Paraíso de Goiás) e TP 050 (Rodovia Coluna Prestes), na direção de Palmas. Caminho que pode ser feito também pelos paulistas que optarem por passar pelo Rio. Pode-se, entretanto, seguir pela Belém-Brasília: logo após Valparaíso de Goiás, antes da capital federal, seguir no sentido de Gama, até encontrar com a BR-153, nas proximidades de Anápolis.


Onde ficar

Pousada Vereda das Águas

     Durante a viagem, procure programar suas paradas - como fizemos - em uma cidade às margens da estrada. Quase sempre há razoáveis opções de hospedagem. Além disso, é uma chance de conhecer, mesmo que superficialmente, mais um lugar. Na ida, por exemplo, paramos em Três Marias (MG) e Uruaçu (GO). Na volta, uma parada em Alto Paraíso de Goiás e outra em Paraopeba (MG0.
     No Jalapão, as cidades de Ponte Alta do Tocantins, Mateiros e São Félix dispõem de pousadas simples. Em Ponte Alta, o destaque fica com a Pousada Veredas das Águas, ao lado do Rio Ponte Alta. Também é possível acampar, por exemplo, na área da Cachoeira do Formiga, em Mateiros.


Onde comer

     Durante a viagem, as opções quase sempre fazem parte do complexo de um posto de abastecimento. Procure parar em restaurantes que atendem a empresas de ônibus, pois há mais exigência de qualidade. Não deixe passar muito do meio-dia, para não ser obrigado a consumir alimentos 'manuseados' em excesso.
     Para quem sai do Rio, duas indicações gastronômicas: o restaurante Fartura no Fogão,  na altura de Juiz de Fora, logo depois da fábrica da Mercedes-Benz, e o Fogão Goiano, pouco antes de Brasília.
     No Jalapão, pratos simples (mas nem por isso baratos) em restaurantes ou bares também muito simples.


O que levar

     Máquinas fotográfica e filmadora, assim como repelentes (há muitos mosquitos e mutucas, uma espécie de mosca que ataca os banhistas), roupas leves e de banho, calçados confortáveis, protetor solar e cantis. Há agências do Bradesco, do Banco do Brasil e do Itaú em Ponte Alta. Os postos de combustível de Ponte Alta aceitam cartões de crédito. Um lembrete importante:  telefonia celular só para clientes da Oi. Os telefones públicos funcionam bem.

Nas águas do Jalapão (12)


Estradas de terra e vegetação de cerrado: destaques do Jalapão



Décimo dia - Um resumo da aventura

     Nos dois últimos dias da viagem de volta ao Rio, contamos com a conforto das estradas asfaltadas. Mesmo assim, um trecho em especial testou o conforto do modelo EcoSport SW4: a travessia da cidade de Campos Belos, em Goiás. A multiplicidade de buracos - absurda e indesculpável - exigiu quase tanto quando as costelas dos caminhos de terra.
     No Jalapão, mesmo, nos caminhos levam às suas atrações; o veículo pôde mostrar sua versatilidade, mas sofreu. Depois de quase mil quilômetros de terra e cascalho, onde a traseira insistia em ir em direção oposta à da frente,  algumas consequências: a direção, castigada pelo embate com lombadas, desalinhou.
     A vedação também sofreu com as nuvens de poeira vermelha. Em determinados trechos, o pó invadiu a cabine, deixando uma leva camada. Nos atalhos de acesso a determinados pontos, como a Praia do Araçá e a Cachoeira do lajeado, o predomínio era da areia. Afinal, a ciência conta que a região teria sido, há alguns milhões de anos, um vasto oceano.

Estradas desertas: a região tem uma das menores densidades demográficas do país: 0,61 habitante por quilômetro quadrado


     Nesses trechos, o acionamento da tração foi suficiente para superar os desafios. Mesmo nas partes em que os bancos de areia chegavam a cerca de vinte centímetros de altura, a utilitário da Ford passou com facilidade, embora raspando o fundo nas 'navalhas' formadas no meio do caminho.
     Além do conforto - necessidade, na região - da tração 4x4, o EcoSport pôde desfilar outros destaques. O motor foi um deles, tanto nas cidades quanto nas estradas. Nas cidades, ao sair de sinais, a deixava para trás, com muita facilidade, veículos de passeio, alguns com características esportivas. Nas estradas, o conjunto motor transmitiu a segurança necessária às incontáveis ultrapassagens, ambora um tanto beberrão: nossa melhor passagem, no último trecho chegou a 9,5 quilômetros por litro de gasolina.
     E o álcool? Assim como no Rio, em Minas, Brasília, Goiás e Tocantins não vale a pena usar o combustível alternativo. O preço não compensa. Pior para o meio-ambiente, punido pela falta de visão oficial.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Nas águas do Jalapão (11)

Vegetação queimada: uma constante nas estradas


Nono dia – A desolação das queimadas

     Paraopeba, MG – O trajeto entre Alto Paraíso de Goiás, portal da Chapada dos Veadeiros, e Paraopeba, cidade escalada para o último pernoite dessa incursão absolutamente parcial ao Jalapão, mostrou que, pelo menos, o DNIT cumpriu parte de suas obrigações com o usuário de nossas estradas.  O asfalto está bom e transmite confiança ao motorista, apesar da indesculpável mão dupla em 90 por cento do percurso (os 95 quilômetros entre Felixlândia e Belo Horizonte estão duplicados, ainda bem).
     Já a vegetação que margeia as rodovias mostra o descaso com o ambiente. As marcas das queimadas antigas e recentes estão bem vivas. O Jalapão – um paraíso ecológico  - também não escapou da irresponsabilidade de parte da população, que usa o fogo para `limpar` suas áreas e deixá-las prontas para o plantio.
     O fogo que consome o mato é o mesmo que mata árvores e animais, indiscriminadamente, à vista de todos, sem que haja consequências mais sérias na vida de esses criminosos. Alguns proprietários de terra provocam o fogo para atingir, de fato, os animais que entram em suas plantações, em busca de alimentos, especialmente nessa época seca.
     Em alguns trechos da BR 040, a fumaça provocada pelos incêndios criminosos invadiu a pista, colocando em risco a segurança de todos os que passavam pelo local.
   

domingo, 28 de agosto de 2011

Nas águas do Jalapão (10)


A vegetação de cerrado, característica da Chapada


Oitavo dia – As águas da Chapada

     Alto Paraíso de Goiás – A mudança compulsória de projeto (antecipamos o fim da incursão ao Jalapão) nos atirou, hoje, na Chapada dos Veadeiros, uma enorme área repleta de cachoeiras e paisagens únicas, a apenas pouco mais de 200 quilômetros de Brasília.
O Salto 120, um dos mais belos do Parque

     Como só teríamos um dia de liberdade, minha opção foi pelo Parque Estadual, pela simbologia. No Parque, a escolha recaiu na trilha número um, que leva ao Salto 120 (120 metros de queda), e a outras menores, formadas pelo Rio Preto. À nossa equipe, uniram-se dois casais, todos sob o `comando` do guia Carlos.
     Caros. A beleza dos locais é contagiante. Mas a trilha tem nove quilômetros (isso mesmo, nove quilômetros) pedregosos, em aclive e – por óbvio – declive. Foram cerca de quatro horas de caminhada, a maior parte sob o sol.
Um dos melhores locais para banho, no Salto 80

     Ao final, todos – excetuando o guia, acostumado ao local e claramente em forma – estavam extenuados. Uns mais do que os outros (eu era um deles). Mas valeu a pena. Os doze quilômetros de terra e areia que separam o fim do asfalto do povoado de São Jorge não inibiram nosso EcoSport. A preocupação ficou restrita ao risco de uma pedra ser lançada por outro veículo e atingir alguns dos vidros.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Nas águas do Jalapão (9)

Sétimo dia – Mudanças e expectativas

     Ponte Alta do Tocantins e Alto Paraíso de Goiás – Uma mudança compulsória de planos reduziu nossa incursão ao Jalapão – e consequentemente,  meus reencontros com as Dunas e o Fervedouro - a três dias. A segunda parte do projeto inicial ficou para outra oportunidade. A descoberta da Praia do Araçá e os `mergulhos` na Cachoeira da Fumaça e Rio Soninho, no entanto, compensaram a frustração da mudança de planos.

A praia do Rio Ponte Alta e a antiga ponte de madeira, símbolo da cidade


     Frustração que só não foi maior graças às lembranças das viagens anteriores, ainda muito fortes: a imponência da Cachoeira da Velha, no Rio Novo, com sua sequencia de quedas que remetem às Cataratas do Iguaçu; a beleza das Dunas, formadas pela decomposição da onipresente Serra do Espírito Santo; e a emocionante aventura proporcionada pelo Fervedouro, onde é impossível afundar.
     Outra boa surpresa foi encontrar a cidade de Ponte Alta com uma aparência renovada.  Logo na entrada,  para quem chega de Porto Nacional, um estádio de futebol e uma praça novos mostram que alguma coisa mudou,para melhor. As ruas de terra ganharam asfalto e meio-fios pintados. O ‘lado de lá’ (*) do rio que divide a cidade também ganhou uma praça. Há, até, sinalização de trânsito, indicando os caminhos corretos.
      A praia da cidade, entre as duas pontes (uma das quais de madeira, antiga e simbólica) está urbanizada e iluminada. A cidade continua se ressentindo, entretanto, de opções para refeições. Mas não há risco de o turista 'passar fome'. O bar do Beleco funciona todos os dias, assim como a lanchonete Pit Stop, do 'seu' Salomão, um dos oito irmãos de José Arilon, dono da Pousada Vereda das Águas, ambos em frente ao Rio.
     Melhorou, também, e muito, a – digamos – ‘ordem’ na cidade, graças, em especial, à atuação do novo representante da Justiça, um jovem promotor comprometido com o que ele mesmo classificou de “ideais”.
     Rumo à Chapada – Com a mudança de planos, saímos cedo de Ponte Alta, a caminho de Alto Paraíso de Goiás e uma parada estratégica na Chapada dos Veadeiros, outro paraíso ecológico. Optramos pela estrada que passa por Pindorama e termina nas proximidades de Natividade, já na Rodovia Coluna Prestes.

O EcoSport foi obrigado a enfrentar barro e buracos, mas também  atravessou  belas paisagens

     Não foi uma boa escolha. Os quase 40 quilômetros de asfalto e a economia de 150 quilômetros no percurso não compensaram o desgaste da buraqueira e dos desvios provocados pelas obras que estão sendo realizadas na região. Mas serviram para comprovar a eficiência do EcoSport em terrenos realmente off road.
     Na rodovia, longas retas com asfalto perfeito e enormes armadilhas (buracos em profusão) dividiram-se ao longo de oito horas de condução. Outro teste para a resistência do veículo e a paciência dos motoristas.
     Que o sábado reserve bons momentos na Chapada.

(*) O asterisco remete a uma lembrança de 2008, pouco antes das eleições, vencidas justamente pelo atual prefeito, Cleiton Maia. Na campanha, Maia critica o prefeito da época, com versos bem claros e objetivos: "No lado de lá, a coisa tá feia; no lado de cá,o povo leva peia". Mais claro, impossível.





quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Nas águas do Jalapão (8)

A Praia do Araçá, formada pelo Rio Balsas

Sexto dia – Uma descoberta e um encontro



     Ponte Alta do Tocantins – Eu já sabia que havia algumas atrações ainda desconhecidas para mim, apesar das cinco incursões anteriores ao Jalapão, essa região especial do Brasil. Mas não imaginava que uma delas – a Praia do Araçá, no Rio Balsas - poderia ser tão encantadora.

A vegetação dá vida ao rio

     Distante cerca de 50 quilômetros (estrada de terra em razoáveis condições), a Praia do Araçá reúne todos os atrativos imagináveis num recanto de rio: águas límpidas, areia branca fina, muita vegetação, algumas corredeiras, para quebrar a monotonia, e um enorme e envolvente bom astral.



Breno e a mulher, Rosana,lavando a louça do almoço


     Um clima que favoreceu outro encontro, com um jovem casal de Porto Nacional que chegara um pouco antes, decidido a acampar. Rosana e Júnior Breno dividiram a praia e o almoço que fizeram conosco.
Breno é um vitorioso. Aos 13 anos, fraturou três vértebras ao mergulhar no Rio Tocantins. Tetraplégico, chegou a ser desenganado.


     Hoje, aos 27 anos, leva a vida normal para uma pessoa que passou dois anos na cama, imóvel. Anda, dirige, nada e se orgulha do filho, Breno, de oito anos. “Os médicos chegaram a dizer que eu não poderia ter filhos”, contou, emocionado.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Não à divisão


     Vou me permitir um intervalo nos textos sobre minha sexta incursão ao Jalapão. A causa, acredito, é ‘justa’. Pelo que tudo indica, a absurda iniciativa de criação de mais dois estados na área do Pará vai parar na lata do lixo onde deveriam estar todos os projetos eleitoreiros, politiqueiros e outros eiros.
     O ministro José Antonio Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal, votou pela realização do plebiscito em todo o território, e não apenas nas áreas que, em tese, gostariam de se separar.
     Com isso, paraenses de todas as plagas vão decidir o futuro do estado, com grandes chances de a população da capital sepultar a idéia. Uma noticia – acho que vocês concordam – que vai beneficiar o país como um todo. Ficaríamos livres de mais dois governadores, duas assembléias e dois séquitos de funcionários e amigos que ampliariam o empreguismo e todas as deformações que vêm marcando os últimos anos da nossa república.

Nas águas do Jalapão (7)

A Gruta da Suçuapara, uma joia do Jalapão

Quinto dia: a Gruta e o Lajeado



     Beira da estrada que liga Ponte Alta a Mateiros, Tocantins - Logo ali, a cerca de 50 metros da poeirenta, esburacada e instigante estrada que leva ao município de Mateiros, esconde-se uma das jóias do Jalapão: a Gruta de Suçuapara, uma fenda de cerca de 15 metros escavada na rocha pelo Córrego Mata Nova, distante apenas 13 quilômetros de Ponte Alta.
     Córrego que vira uma pequena cachoeira, forma um pequeno lago e segue, límpido, pelo cerrado. Em volta, paredões gotejantes, verdes de musgo e samambaias. Quando o sol está bem alto, o interior da gruta ganha ainda mais cores. Coisa de cinema americano.


O Lajeado,com seus degraus

     Um pouco à frente (no KM 32), uma entrada sem sinalização leva a uma das áreas mais reservadas do percurso: a Cachoeira do Lajeado, formada por dois riachos. A água, límpida como é comum na região, corre sobre uma grande laje vermelha, formando degraus e algumas dezenas de pequenas quedas de água, antes de mergulhar num poço e seguir pelo cerrado.
     Pois o Jalapão é assim. Tem água até mesmo nas Dunas, talvez o seu mais emblemático cartão postal. As dunas - montanhas de areia formadas pela decomposição dos chapadões de arenito de uma parte da também onipresente Serra do Espírito Santo - são circundadas por um pequeno córrego de água doce capaz de fazer inveja ao líquido que chega às nossas torneiras. Um riacho que se transforma em bênção para os que se aventuram - sob o sol - a caminhar pelo areal, depois de escalar paredões.


As estradas de saibro exigiram o uso da tração 



     Para chegar a esse pequeno paraíso, foi necessário acionar a tração 4x4 que providencialmente equipa nosso modelo EcoSport. São dois quilômetros de trilha, repleta de bancos de areia, fatais para um veículo 'normal'.
     E há ainda o Rio Vermelho, de águas ferruginosas, o Rio do Sono e dezenas de riachos e córregos que cruzam as estradas e oferecem banhos inesquecíveis ao lado das pequenas pontes. É só parar o carro e mergulhar.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Nas águas do Jalapão (6)

A torrente de água do Rio Balsas forma a Cachoeira da Fumaça
 Quarto dia: Um mergulho na 'Fumaça' e no Soninho

     Ponte Alta do Tocantins - As atrações do Jalapão não ficam, apenas, no caminho para Mateiros. Há o que eu chamo de 'Baixo Jalapão', que surge no entorno da estrada que leva a Rio da Conceição e Dianópolis. A primeira parada é no Morro da Pedra Furada, de arenito, esculpido pelos ventos. Alem da beleza dos desenhos criados pela natureza, o lugar abriga uma espécie de santuário de periquitos, que fazem um enorme alarido na chegada de visitantes. Daí, é seguir em frente, na direção das cachoeiras.


Uma ponte rústica sobre o Rio Balsas


     A 'fumaça', acreditem, começa a ser sentida ainda na estrada, junto à ponte de madeira sobre o Rio Balsas. Poucos metros separam o visitante de mais esse monumento natural. Aos mais bem-dispostos e preparados, a Cachoeira da Fumaça reserva uma experiência ímpar: observar a massa de água caindo à sua frente, num platô escavado na pedra.
     Uma trilha no paredão (no lado esquerdo) leva à base da cachoeira, onde é possível chegar tendo cuidados mínimos para não escorregar nas pedras molhadas e com limo. A sensação de ficar atrás da torrente de água é inesquecível.
     Antes, ou depois da experiência na cachoeira, a opção é desfrutar do banho no rio, que forma pequenas quedas ali mesmo, perto da ponte.


Na Passagem do Rio Soninho, um 'caminho` nas águas 


     Poucos quilômetros antes - em termos de Jalapão, que fique claro (20 quilômetros) -, uma experiência das mais agradáveis: um banho na Passagem do Rio Soninho, também à beira da estrada. Nesse trecho, o rio corre sobre uma laje de pedra avermelhada, com uma lâmina de água de uns vinte centímetros, em média, Mais à frente, estreita e encorpa até mergulhar em uma cachoeira que impressiona pela força das águas. É coisa para passar uma tarde inteira, em total desfrute.
     De Ponte Alta à Cachoeira da Fumaça são 90 quilômetros de estradas de terra (a Passagem do Soninho fica 25 quilômetros mais perto, ou menos longe). No caminho outra passagem: pelas cachoeiras do Lajeado e Pau D'Arco, pequenas, cujos rios formadores cruzam a pista e despencam logo em seguida.


Com o EcoSport no `meio` do Rio Soninho


     Em todo esse trajeto (180 quilômetros, ida e volta), é bom lembrar, não há qualquer ponto de apoio. O aventureiro deve levar água, lanche e ter cuidado com as abelhas que guardam a Pedra Furada e com as mutucas que atacam os aventureiros com enorme disposição e voracidade.
     Nesse percurso, com algumas armadilhas, como buracos, costelas e muita areia, o EcoSport parecia estar em casa, integrado à paisagem. Para ampliar a segurança, acionamos a tração 4x4, obrigatória na estrada para acessar as atrações no caminho para Mateiros. 
     Em Ponte Alta, uma boa opção de hospedagem e serviços (serviço de guia e traslado) é na Pousada Veredas das Águas (63 - 3378.1581) - , ao lado da ponte de concreto, em frente ao Rio Ponte Alta, que divide a cidade. 

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Nas águas do Jalapão (5)

O Tocantins, visto da ponte de acesso a Porto Nacional


Terceiro dia: O encontro com  o Tocantins


     Ponte Alta do Tocantins - Cruzar os 800 metros de ponte sobre o Rio Tocantins foi, sem dúvida, o momento mais emocionante dessa terceira etapa (desde Uruaçu) da viagem, pelo simbolismo. Ali, na cidade de Porto Nacional, o rio é largo e bonito, especialmente nessa época do ano, quando suas águas estão mais claras. 
Uma imagem da Belém-Brasília: a estrada se funde com o horizonte
     Da Belém-Brasília ( pouco depois da cidade de Fátima) até Porto Nacional, rodamos 60 quilômetros por duas estrada pouco movimentada. 
     De Porto Nacional - ocupada pela Coluna Prestes nos anos 1920 do século passado - a Ponte Alta do Tocantins, foram mais 132 quilômetros, parte deles gasta em um trecho de serra sinuoso, logo depois do vilarejo de Monte do Carmo.
     Ponte Alta é - como exibe em pedra - um dos portais de entrada do Jalapão. Cortada pelo Rio Ponte Alta, é uma cidade sem prédios, normalmente calma, mas que se transforma nos fins de semana, nas férias de junho/julho e nos feriadões. A beira do rio - nesses momentos - vira uma grande e barulhenta área de lazer.
     Em dois anos, desde minha última passagem pelo local, muita coisa mudou. A cidade recebeu um bom investimento em infraestrutura e está remoçada.


  Uma parada obrigatória na Belém-Brasília: a ponte sobre o Rio São Francisco
  
   Passados três dias de estradas, é hora de preparar o espírito para as emoções dos encontros com as ainda incríveis atrações da região, como a Cachoeira da Fumaça e a Passagem do Soninho, metas de amanhã, localizadas ao longo de 90 quilômetros de estradas de terra e muita areia, os primeiros grandes desafios fora de estrada do EcoSport. SW4.

Nas águas do Jalapão (4)


O EcoSport mostrou confortoe bom desempenho nas estradas asfaltadas



Segundo dia: Cruzando o cerrado

Uruaçu - A opção pelo caminho mais longo - Belém-Brasília - mostrou-se bem agradável. A rodovia, embora estreita, recebeu um 'banho de asfalto' e está em boas condições. Para cortar caminho, evitando a desnecessária passagem por Brasília (ficou para a volta), decidimos sair da BR 040, entrar no sentido de Gama e seguir em direção a Anápolis, uma 'economia' de cerca de 52 quilômetros.
Antes, ainda em Minas, uma pausa para fotos do Rio São Francisco, no trecho em que ele passa por Três Marias, onde pernoitamos. Da estrada é possível avistar parte do grande lago formado para abastecer a hidrelétrica.

O São Francisco é denso e muito bonito nesse trecho, em Três Marias    


Já na BR 153 - depois de passar almoçar em Cristalina -, o movimento de caminhões exigiu cuidado redobrado. A perda de tempo em relação à rota pela Rodovia Coluna Prestes foi compensada, especialmente para os estreantes nas estradas, pela emoção de desfrutar de enormes retas, nas quais o asfalto se confunde com o horizonte.
De Três Marias até Uruaçu foram quase 800 quilômetros, percorridos em dez horas, incluindo o tempo gasto com o almoço e paradas ocasionais. A média - 90 km/h - foi bem razoável, para quem tem o compromisso apenas de aproveitar a possibilidade de conhecer um perfil diferente do Brasil.
Nosso EcoSport vem atendendo perfeitamente às exigências de desempenho e conforto. Em ritmo constante, na Belém-Brasília, mal sentimos o ambiente externo. Um razoável tratamento acústico e boa vedação criam um ambiente agradável. Já o consumo assustou um pouco: na melhor passada, foram compreensíveis 9,2 quilömetros por litro. 



domingo, 21 de agosto de 2011

Nas águas do Jalapão (3)


Primeiro dia: Ambientação com o carro e com as estradas

Três Marias - Nas renovadas rodovias do Rio, de Minas, poucas dificuldades. No primeiro dia de viagem, o asfalto novo de longos trechos da BR 040 possibilitou momentos de aceleração máxima. Momentos para ‘ouvir’ o silêncio do motor, um dos mais potentes da categoria., capaz de garantir ultrapassagens seguras, com sobras.
No caminho, pelo menos uma parada obrigatória: para almoçar, na altura de Juiz de Fora, no restaurante Fartura no Fogão, de comida típica mineira, logo depois da fábrica da Mercedes Benz.
Para evitar desgastes desnecessários, decidimos - sempre - parar ao anoitecer, evitando, assim, eventuais 'armadilhas' da estrada. Dirigir à noite, só por muita necessidade. Parando cedo - desde que atingida a meta pré-estabelecida - é possível encontrar vagas nos pequenos hoteis das pequenas cidades que surgem pelo caminho, fazer um lanche com calma e, ainda, dar um rapído passeio para 'conhecer', ao menos, a praça principal do lugar.
Nesse primeiro dia, deve-se ter cuidado e atenção no acesso e no contorno de Belo Horizonte. Caminhões, ônibus e carros de passeio disputam cada espaço da estrada, num ritmo um tanto frenético, especialmente no fim do dia.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Nas águas do Jalapão (2)

A área do Jalapão, com suas estradas de terra, rios e cachoeiras de águas límpidas


Um paraíso em poucas linhas

          O Jalapão – a Sudeste do estado do Tocantins e a 2.380 quilômetros do Rio de Janeiro – ainda é uma fronteira pouco explorada do ecoturismo, esse tipo de turismo que flerta com a aventura. Um deserto repleto de cachoeiras, rios de água potável (algo absolutamente impensável nas nossas cidades), montanhas e uma razoável vida selvagem, que começa a ser ameaçada. Um deserto onde brota o capim dourado, transformado em peças de decoração e bijuterias por artesãs locais.
     Há 350 milhões de anos, essa área do Brasil foi o fundo de um oceano. Formado por chapadas e cânions de origem sedimentar, o Jalapão é uma das mais exóticas paisagens brasileiras, com seus riachos e ribeirões, cachoeiras, lagoas, dunas de areia vermelha, serras e chapadões.
     Existem dois períodos bem definidos no Jalapão: o chuvoso – que vai de outubro a abril – e o e seco (de maio a setembro). Na seca, as estradas – todas de terra - apresentam melhores condições e as águas do Rio Novo – o grande destaque da região - ficam mais baixas, facilitando o uso esportivo. A temperatura média é de 30ºC.
     Com um solo relativamente pobre, o Jalapão ainda se mantém razoavelmente preservado da exploração agrícola. Grande parte da região é marcada por campinas e pelo cerrado ralo. Mas ainda é possível encontrar alguns trechos de mata junto aos rios.
     Isolado do progresso, é uma das áreas de menor densidade do Brasil - média de 0,61 habitante por quilometro quadrado. A região começou a ser ocupada nos anos 1860, por nordestinos que tentavam fugir da seca. Em Mateiros existe uma comunidade negra (os mumbucas), descendente de ex-escravos fugidos do norte da Bahia. Foi ali que nasceu o artesanato com capim dourado, hoje difundido por toda a região.

Nas águas do Jalapão (1)

     A partir de amanhã, se os ventos da modernidade permitirem, vou postar diariamente textos e fotos de uma incursão ao Jalapão - a minha sexta, em oito anos -, um dos ainda mais bem preservados paraísos ecológicos brasileiros, no estado do Tocantins, bem próximo do que poderíamos chamar de a ‘tríplice divisa’, com a Bahia, o Piauí e o Maranhão.   
     A previsão é rodar cerca de cinco mil quilômetros a bordo do modelo 2011 do Ecosport SW4, da Ford, num misto de teste, aventura e turismo que vai começar no Rio de Janeiro; atravessar três estados (Minas, Goiás e parte doTocantins) e o Distrito Federal; e que pretende cruzar o Jalapão.
     Ao longo dessa prova, o modelo topo EcoSport (2.0, a gasolina) será submetido a diversas exigências, especialmente nos infindáveis quilômetros que ligam as três referências urbanas da região do Jalapão: Ponte Alta do Tocantins, Mateiros e São Félix do Tocantins.
     Boa viagem!

Política do 'encimadomurismo'

     O 'encimadomurismo' brasileiro na questão do genocídio que vem sendo praticado pelo presidente sírio Bashar al-Assad só não é mais deletéria do que o apoio ostensivo que ainda oferece às ditaduras do Irã e da Líbia. Não é admissível que nossa diplomacia encontre desculpas para ignorar a violenta e absolutamente desproporcional reação governamental aos anseios de liberdade da população.      Não basta o país estar alinhado a republiquetas como a Venezuela ou 'pragmaticamente' ao lado de criminosos africanos. É preciso exibir, a cada momento, sua independência em relação ao bloco liderado pelos Estados Unidos, numa postura de subdesenvolvido que remete aos anos 1960/1970.
     O Brasil parece que não acredita que virou personagem, naturalmente. Sua atuação nos foros internacionais tem sido lamentável. Já era tempo de o país se sentir grande o suficiente para não copiar os jogos de cena e a irresponsabilidade de bufões como Hugo Chavez ou simples assassinos como Mahmoud Ahmadinejad.

Botando o bloco na rua

     O ex-presidente Lula formalizou em Belo Horizonte, num discurso para a companheirada, a decisão de participar ativamente das próximas eleições, ano que vem. Vai viajar pelo país, para dar apoio aos candidatos do seu partido às prefeituras e câmaras municipais.      "Se preparem porque vai ter eleição no ano que vem, e eu vou começar a viajar o Brasil para fazer campanha. Eu apenas deixei a Presidência, mas não deixei a política", disse, e a Folha registrou.
     Tem todo o direito. Até mesmo de usar o pronome oblíquo átono 'se' antes do verbo, no início da oração. Afinal, isso é um 'brasileirismo' e ele estava usando linguagem coloquial.
     Afinal, ele é o principal nome do mundo político brasileiro, queiramos, ou não. Teoricamente longe do Poder, Lula pode exercer livremente sua liderança, pedir votos, participar de comícios, desfilar em trio elétrico, beijar criancinhas, afagar idosos.
     Só não poderia ter feito tudo isso - e mais alguma coisa - durante seus dois mandatos. E ele fez, conspurcando o cargo, reduzindo a Presidência da República, abrindo mão da liturgia exigida no exercício da função mais importante do país.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

PSD declara "independência"

     Quem ainda não viu a foto do encontro da presidente Dilma Roussef com os representantes do 'novo' PSD, não deve perder a oportunidade. O flagrante exposto pela Veja é emblemático. Prestem atenção nas expressões servis do grupo liderado pelo prefeito paulistano Gilberto Kassab. As cabeças meio inclinadas, os sorrisos melífluos, o corpo como um todo demonstrando uma submissão que flerta com genuflexão.
     Depois do café da manhã e das fotos com a presidente, o prefeito Gilberto Kassab - segundo Veja - reiterou a posição de independência dos integrantes do novo partido; afirmou que "não fará oposição sistemática"; e garantiu que não haverá "alinhamento automático". "Podemos ter convergências em questões que envolvam o futuro do Brasil", disse, patrioticamente.
     Vejam a foto e decidam se acreditam.

Sujeira vai parar sob o tapete

     A saída de Wagner Rossi do Ministério da Agricultura - após a divulgação de suas jornadas aéreas a bordo de um avião do Grupo Ourofino, empresa da área de saúde animal que ampliou consideravelmente suas 'relações' com o Governo - é um ótimo exemplo da tal faxina que, insisto, é uma arma de marketing, um - digamos - factoide, palavra que andou na moda qui no Rio há alguns anos.
     Rossi não saiu por que um irmão do senador Romero Jucá (Oscar Jucá) denunciou falcatruas na pasta - mais especificamente na Conab. Ou em represália às suas relações não muito republicanas com empresas particulares. Tampouco pelas acusações quanto à presença, no prédio do Ministério, de um lobista, que, além de distribuir propina, teria , inclusive , direito a sala e outras mordomias absolutamente irregulares.
     Ao contrário. O agora ex-ministro 'aceitou' a demissão, proposta, ao que se sabe, pelo vice-presidente Michel Temer (PMDB-SP), seu 'padrinho' no Governo, para evitar que as mais recentes notícias de corrupção evoluíssem a ponto de atingir "escalões superiores", de acordo com interpretação do Estadão, com base em "fontes do Planalto".
     Para não fugir da imagem de limpeza (?), não tenho dúvidas que o Governo - com essa decisão - está, na verdade, empurrando a sujeira para baixo do tapete, mais uma vez. Afasta um aqui, aceita a demissão de outro ali. E vai levando, aproveitando a falta de sentido crítico da maior parte dos veículos de comunicação.
     No único momento sério do combate à corrupção que infesta o país - a prisão de algumas dezenas de pessoas ligadas ao Ministério do Turismo -, o Governo mostrou o que pensa, de fato, sobre o tema: em peso, passou a condenar a Polícia Federal, pelo uso de algemas, e a Polícia Civil do Amapá, pela divulgação dos 'bonecos' dos acusados. A roubalheira ficou em segundo plano.
     Em tempo: sai Rossi e entra o deputado gaúcho Mendes Ribeiro Filho, líder do Governo no Congresso. Do PMDB, é claro. O país espera que o novo ministro aprofunde as investigações sobre corrupção na pasta que vai assumir. Ou será que já está tudo resolvido?

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Chantagem ou acomodação?

     Como eu previ na segunda-feira, a 'comissão suprapartidária' do Senado, que anunciou apoio à tal faxina (?) que a presidente Dilma Roussef estaria fazendo no Governo, teve repercussão nos meios de comunicação e o apoio de agentes 'insuspeitos' do jornalismo.     
     A farsa tomou ares de verdade. Senadores dos partidos da base - PMDB em especial - se alinharam contra a corrupção, fazendo de conta que os corruptos fazem parte de uma entidade de outro planeta, e não do próprio Governo.
     Um exemplo claro de diversionista: o monocórdio senador Cristovam Buarque (PDT-DF). Se ele estivesse, mesmo, querendo ir a fundo na luta contra a corrupção, teria assinado o requerimento para a CPI, que acabou naufragando. Já o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), normalmente uma voz oposicionista isolada dentro do seu sempre governista partido, acredita que "a presidente Dilma está tentando se desvencilhar da herança maldita que herdou do ex-presidente Lula."
   Embora respeite o histórico do senador pernambucano, acho que ele se deixou levar pela fantasia criada em torno do episódio das demissões da turma do Ministério dos Transportes. E entrou na onda dos que denunciam chantagens da base governista, talvez por conhecer mais profundamente seus pares.
     As demissões - no entanto - eram inevitáveis, pois a roubalheira no DNIT chegou a níveis inimagináveis. Os demais escândalos também são graves, mas não se comparam, em valores absolutos, principalmente. Além disso, atingem diretamente os partidos do vice-presidente, em especial, e da própria presidente, o que gerou uma manobra de acomodação, que não pode ser chamada de chantagem.
     Só haveria essa tal chantagem, nos termos sugerido pelo noticiário, se o chantegeado tivesse algo a esconder, a temer, a negociar. Se não fosse assim, bastaria denunciar formalmente os chantagistas e conquistar o apoio da sociedade.

O consumidor paga a conta

     O tema 'combustíveis' exerce uma grande atração em mim, especialmente desde o fracasso do Pró-Álcool (fui um dos muitos que acreditaram e acabaram com um 'mico' na garagem). Assim, mergulho em cada notícia sobre o assunto, como fiz hoje, em O Globo.
     Em uma delas, o presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli, confirma a necessidade de aumentar a importação de gasolina e diesel para suprir as necessidades do país. Segundo ele, esse aumento deve passar, a curto prazo de 5% para até 40%, pois a capacidade de refino nacional está no limite. Trocando em miúdos: o Brasil tem petróleo, mas não tem capacidade para transformá-lo. Assim como não tem estradas, portos, aeroportos e ferrovias decentes para manter o ritmo de crescimento.
     Evasivo, o presidente da Petrobras admitiu, também, que o preço do litro da gasolina entregue às distribuidoras pode subir - custa, hoje, acreditem, R$ 1,05. É isso mesmo. Sem a menor cerimônia Gabielli (aquele que chora quando leva broncas da presidente) reconhece, implicitamente, que o consumidor, na ponta, paga quase o triplo, por conta - em especial - do custo do álcool misturado obrigatoriamente à gasolina e dos impostos avassaladores.
     Há, claramente, alguns vilões nessa novela de preços. Não se pode aceitar passivamente que um produto sofra esse tipo de pressão que onera, em linhas gerais, o já assoberbado contribuinte. A solução simplista é a já conhecida: jogar os aumentos no colo do consumidor. Como vem acontecendo. Apesar de 'barata' em uma ponta, a gasolina chega aos tanques dos veículos absolutamente inflacionada.
     E o álcool hidratado? Ninguém mais usa, a não ser em casos excepcionais. Não vale a pena. É só fazer as contas na hora de abastecer. Nossos usineiros optaram pelo lucro maior gerado pelo açúcar. Ainda bem que a indústria automobilística evoluiu para os veículos flex. A gente vai mesmo de gasolina, poluindo o ambiente e jogando no esgoto uma tecnologia que deveria nos orgulhar.
     E ainda há quem, inocentemente, acredite que vive em outro mundo, como o
diretor científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, Carlos Henrique de Brito Cruzo. Segundo ele, também no O Globo, "o álcool de cana-de-açúcar brasileiro continuará sendo a mais promissora tecnologia de bioenergia disponível no planeta, não devendo ser superada tão cedo". A não ser pela incompetência dos nossos dirigentes e ganância dos produtores, eu completaria.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Base volta a trabalhar

     Uma notícia preocupante, especialmente para os nossos bolsos: segundo O Globo, os líderes da 'base aliada' (um amontoado de pessoas que fazem qualquer negócio por cargos no Governo para amigos, parentes etc) vão dar um "crédito de confiança" à presidente Dilma Roussef e reiniciar as votações na Câmara.     
     Essa decisão 'patriótica' foi tomada depois que a ministra Ideli Salvatti, das Relações Institucionais (seja lá o que isso for) anunciou que o Governo estaria disposto a liberar os 'restos a pagar' de emendas de 2008 a 2010, destinadas a obras em municípios. Algo que pode chegar a R$ 1 bilhão.
     Fico imaginando o desespero de Suas Excelências, que ainda não puderam cumprir as promessas e compromissos eleitorais (sejam 'eles' quais forem). De acordo com os deputados, esse dinheiro será usado para pagar obras já concluídas. Pode ser. Eu não consigo imaginar empreiteiras trabalhando de graça, até o fim, mas - enfim - tudo é possível.

Jobim não deixou saudades

     O pontapé recebido pelo ex-ministro da Defesa, Nelson Jobim, ainda repercute. A Folha de hoje destaca trechos de um artigo (uma carta aberta, na verdade) do general reformado Luiz Gonzaga Schroeder Lessa, ex-presidente do Clube Militar, publicado no site da Academia Brasileira de Defesa (www.defesa.org.br), repleto de críticas ao desempenho e ao comportamento de Jobim à frente das Forças Armadas.
     É uma carta dura, que não poupa o ex-ministro: "Você foi um embuste, Jobim", destaca o general, que também não perdoa o que classifica de "psicótica necessidade de se fantasiar de militar" e, em outro trecho, comemora: "Vamos ficar livres das suas baboseiras, das suas palavras ao vento, das suas falácias, das suas pretensões de efetivamente comandar as Forças Armadas, mesmo que para isso tivesse que usurpar os limites constitucionais."
     De uma maneira geral, a carta revela um inesperado sentimento de apreço pela presidente da República, que parece ir além do respeito ao ocupante do principal cargo da República: "O verdadeiro comandante das Forças Armadas é a presidente Dilma que, sem cerimônia, não tem delegado essa honrosa missão exercendo-a, por direito e de fato, na plenitude da sua competência", ressalta o general.
     O ex-presidente do Clube Militar, no entanto, expõe o sentimento dos quarteis, ao repudiar o substituto de Jobim na Defesa: "Como no Brasil tudo o que está ruim pode ficar ainda pior, vamos ter que aturar o embaixador Amorim", reforça.
     Não posso garantir que o embaixador Celso Amorim será 'aturado'. Mas apostaria que ele - pelo imenso currículo de desserviço ao país - tem tudo para ser pior do que o antecessor.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

A farsa dos senadores

     Vamos ver se eu entendi direito: alguns senadores que fazem parte da base do 'atual governo' estão apoiando uma faxina no ... 'atual governo'. Quer dizer que o 'atual governo', quase cópia do anterior, está precisando ser desinfetado, expurgado das ratazanas que construíram seus ninhos na Esplanada dos Ministérios, cujos integrantes fazem parte do 'atual governo'.
     Seria até engraçado, se não fosse mais uma demonstração lamentável de servilismo, de diversionismo, além de uma chance de conquistar alguns minutos sob os holofotes das tevês e espaço nos jornais, que se limitam a noticiar, sem discutir, avaliar.
     Em primeiro lugar, não há qualquer evidência de um projeto de moralização. Houve, sim, no caso do Ministério dos Transportes, uma reação às denúncias de verdadeiros escândalos na administração de verbas públicas - roubalheira, em síntese. E, mesmo assim, por força de uma disputa intestina de posições no Governo, uma grande queda-de-braço pela administração do cofre das estradas e ferrovias.
     Nas demais crises - Agricultura e Turismo, por exemplo -, nada foi feito para conter os malandros. A turma do Turismo foi pega pela Polícia Federal, alvo de um enorme tiroteio do próprio governo, preocupado em não melindrar o PMDB, seu companheiro de primeira hora. Na Agricultura, nem isso. Sem falar nas denúncias que envolvem o comando do Exército, sequer abordadas oficialmente.
    Acenar com apoio a faxinas que não existiram e com uma fantasiosa determinação para conter os abusos é uma enorme e redundante falácia. Uma grande farsa encenada por autoproclamados arautos da dignidade, que se recusaram a assinar o pedido de abertura de uma CPI da corrupção.

Lula e intelectuais ameaçam São Paulo

     Um dos piores - se não for o pior - ministros da Educação dos últimos tempos, Fernando Haddad, reúne 'todas as qualidades' para disputar a prefeitura de São Paulo, pelo PT, é claro, em 2012: é o eleito do ex-presidente Lula, certamente o mais bem preparado para endossar o 'desempenho' da pasta (leiam como se fosse uma ironia, pois pretende ser).
     Haddad já recebeu, também, o apoio de '30 intelecutais' paulistas, todos petistas de carteirinha. Prevalecendo a capacidade do ex-presidente de eleger qualquer um - a presidente Dilma Roussef é a maior evidência desse fenômeno -, São Paulo está prestes a trocar Gilberto Kassab, um ex-Democratas de ocasião e criador de um ameaçador PSD, pelo autor, entre outras obras, do fuzilamento do ENEM e da língua portuguesa.
     A grande qualidade - digamos - do aspirante a alcaide é o fato de não ser um político tradicional, assim como a atual presidente. Estaria, então, livre das críticas que jorram sobre nossa classe política. Enquanto Dilma Roussef podia ser apresentada como a tal 'mãe do PAC', Haddad corre o risco de ser apelidado de o exterminador de plurais e concordâncias, entre outras coisas.
     No caminho da Educação para a Prefeitura, no entanto, há um enorme caminho a percorrer, repleto de atalhos que passam pelas dezenas de tendências e afins que marcam o PT. Sorte de São Paulo.

O 'Dia das filhas'

     O Dia dos Pais, para mim, é mais uma oportunidade de festejar minhas filhas, a alegria de ter acompanhado o nascimento, crescimento e a entrada na fase adulta dessas duas pessoas - Flávia e Fabiana - que marcaram meu passado e definem meu presente.
     Ser pai de meninas - aprendi isso na prática -, além de ser extremamente prazeroso (posso chamá-las de 'princesas', como faço até hoje, sem o menor constrangimento), é uma quase garantia de ter sempre a presença delas em casa, mesmo quando elas já têm suas casas, maridos, filhos, trabalho.
     Talvez nem tanto pelo pai, mas por essa misteriosa e bem-vinda ligação que elas continuam mantendo com a mãe, a quem recorrem a cada momento, como se o cordão umbilical ainda estivesse garantindo seus suprimentos de vida. O segredo é aproveitar. E eu aproveito cada momento que posso.
     Há, é verdade, os 'contrapesos'. Quando novas, eram aqueles caras que apareceram na minha casa e que eu fuzilava com os olhos, em ameaças explícitas. Casadas, são os cabras que se aboletam no meu sofá, torcem para times diferentes do meu e me 'obrigam' a ficar calado quando o adversário sapeca um surra neles (louco para gritar "goooool").
     Mas são esses mesmos cabras que fazem suas vontades, tratam com carinho e são o pai atencioso dos meus netos, um, e - por enquanto - apenas o meu companheiro de aventuras rodoviárias pelas chapadas e pantanais do país, o outro.
     Ter filhas - perdoem-me os que não as têm - é diferente. Eu sei que já não sou o 'heroi' que elas cultivavam na infância. Meus muitos defeitos e limitações ficaram mais visíveis, com o tempo. Mas ainda noto que olham para mim com um jeito diferente. Um jeito 'filha', que continua vivo, apesar de tantos anos.

Minha frase da semana

"Praças públicas, para mim, são limpas e agradáveis, locais onde não há infelizes fazendo sexo ao ar livre, brigando, defecando."

domingo, 14 de agosto de 2011

Projeto de poder passa pela corrupção

     A recorrência de casos envolvendo petistas e aliados em casos escabrosos de corrupção e avanço nos cofres públicos esconde, por trás da simples roubalheira, a concepção de conquista do poder que define as ações do Partido dos Trabalhadores há duas décadas, pelo menos.
     Na busca desesperada por recursos que dessem consistência à sua alavancada política, o PT desenvolveu uma enorme teia de agentes capazes de, em nome da causa, atropelar as leis e jogar no lixo qualquer resquício de dignidade que porventura existisse.
     Às primeiras conquistas, ainda tímidas, de prefeituras paulistas, seguiu-se a montagem de esquemas de captação de rercursos 'não muito republicanos', através da extorsão. O caso de Santo André, nesse quadro, foi emblemático. Enquanto o dinheiro extorquido de empresas de ônibus era direcionado às campanhas do partido - segundo denúncias de ex-militantes e de um inquérito policial ainda em aberto -, havia a participação direta do prefeito Celso Daniel.
     Quando o dinheiro começou a ser desviado para bolsos particulares, o ex-prefeito rompeu com o esquema e, por isso, acabou assassinado. Não são teorias: essa a síntese da denúncia apresentada à Justiça. Os operadores desse esquema, de acordo com a família do ex-prefeito e com os promotores - eram o ex-ministro José Dirceu e o atual ministro Gilberto Carvalho, entre outros.
     De Santo André, o esquema evoluiu para o Mensalão - ainda com os mesmos personagens - e criou as condições para a ocupação de todos os setores da vida pública, gerando essa imensa e aparentemente infindável sequência de escândalos que marcaram as administrações Lula e a vêm alvejando a atual era Dilma.
     Em nome do que alguns chamam de 'causa ideológica', tudo passou a ser permitido, aceitável. A corrupção deixou de ser algo vagamente 'cultural', para se transformar em uma arma fundamental do projeto de poder.

sábado, 13 de agosto de 2011

Mais uma 'lulice'

     "Não é aceitável que uma pessoa que tem endereço fixo, RG e CPF seja presa como se fosse um bandido qualquer e algemada como se estivesse participando de uma exposição pública."

     Eu já tinha decidido não apontar o dedo para mais uma 'lulice'. Mas desisti. É impossível, pelo menos para mim, ler a frase acima, publicada pela Folha, e simplesmente deixar passar, sem um comentário, uma referência. Se o autor dessa estultice fosse um vendedor de picolé - sem desmerecer a classe -, eu até poderia entender.
     Mas ela foi 'proferida' por ele, ele mesmo, o ex-presidente Lula, com sua visão primária do mundo, a respeito da prisão da quadrilha que, segundo a Polícia Federal e o Ministério Público - vinha assaltando os cofres públicos no Estado do Amapá.
     O jornalista Pimenta Neves, por exemplo, que assassinou a namorada a tiros, friamente, tem endereço fixo, RG e CPF. Portanto, de acordo com a visão simplória do mais limitado presidente da nossa história, em todos os tempos, o criminoso não poderia ser preso como se fosse um bandido qualquer (na verdade, acabou tendo todas as regalias de quem pode pagar por um grande advogado).
     Pobre Brasil.

'Bonecos' e algemas

     Estamos assistindo a mais um capítulo da novela diversionista sobre o mais recente escândalo no Governo Dilma, registrado no Ministério do Turismo. Até ontem pela manhã, a companheirada dos acusados apontava a metralhadora verbal na direção da Polícia Federal, pelo uso de algemas para imobilizar a turma da farra no Amapá. Hoje, a munição está sendo toda dirigida à Polícia Civil do Estado, por ter - aparentemente - facilitado a divulgação das fotos dos presos, quando da identificação criminal.
     Os 'bonecos' foram publicados por um jornal local e espalhados pelo país. Exatamente como acontece em dezenas de casos, diariamente. Até ontem, não lembro de a presidente da República e o ministro da Justiça terem criticado a aparição, em rede nacional, de algum prisioneiro - digamos - 'comum'.
     Ao contrário. Nossas autoridades, quando interessa, estimulam a Polícia (seja ela de que nível for) a expor suas vitórias contra criminosos, para mostrar ao respeitável público que a Lei está em curso etc etc.
     Em tese - já que normalmente os 'bonecos' são divulgados, como agora, antes dos julgamentos -, todos, companheiros, ou não, são inocentes. Se é para reclamar do 3x4 da turma amiga, é preciso condenar todos os demais casos, democraticamente.
     Ou será que bandido oficial - aquele que assalta os cofres públicos - é menos bandido do que o que rouba carteiras nos vagões de trens suburbanos?
     Na verdade, é sempre bom destacar, essa celeuma toda faz parte da tentativa de desviar a atenção do crime em si. O foco sai dos escândalos em série no atual governo para a algema ou o retrato, contornando a roubalheira recorrente.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Emendas, a solução para tudo

     Todos os problemas do Governo - a julgar pelo objetivo atual da ministra das Relações Intitucionais, ideli Salvatti - resumem-se numa questão: liberar as emendas dos parlamentares, para acalmar a 'base', essa entidade nebulosa que reúne o que há de mais nefasto na política brasileira.
     Não há preocupação - pelo menos formal - com os seguidos escândalos envolvendo praticamente todo o arcabouço do que se convenciona chamar Governo Dilma. Se o dinheiro for liberado, volta tudo ao que era antes, garantindo-se a blindagem do sistema contra as tímidas investidas da Oposição em busca de uma iluminada CPI da Corrupção.
     Até mesmo os desabafos contra o arremedo de faxina e a atuação da Polícia Federal ficariam esquecidos. Para acabar de vez com a insatisfação, bastaria o preenchimento dos cargos ainda em aberto nos terceiro e quarto escalões. Cargos que exercem uma atração enorme no PT, ávido por controlar toda a máquina, e não 'apenas' 80 por cento dela.
     Os escândalos? Basta insistir na tática diversionista de desviar o foco da questão, como o Governo vem tentando, com relativo sucesso. Em vez de discutir a roubalheira, leva-se o debate para o uso de algemas. Simples assim. Isso aconteceu em todos os casos registrados nos últimos oito anos e meio. Quando a Polícia divulgou a foto da montanha de dinheiro que os 'aloprados' usariam para comprar dossiês falsos, a questão passou a ser a fotografia, e não o delito.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

As praças públicas

     Eu não tenho a menor dúvida: praça pública é aquela em que eu posso ir sem ser assaltado; posso sentar nos bancos; andar pelos jardins; ver crianças correndo à vontade; mães e babás sem medo. Praças públicas, para mim, são limpas e agradáveis, locais onde não há infelizes fazendo sexo ao ar livre, brigando, defecando.
     Sabem quem faz discursos demagógicos contra a proteção oferecida pelas grades? Quem não precisa passar pela 'nova' Praça Tiradentes. Quem passeia pelos Jardins das Tulherias, em Paris (não confundir com a Praça Paris). Quem 'bate perna' pela 5ª Avenida ou pelas 'ramblas' de Barcelona.
     A liberdade da ausência das grades exige a contrapartida do Estado, que não pode se omitir no apoio social às populações de rua, aos menores infratores. Estado que deve combater a criminalidade, a apropriação das áreas públicas pelos mafuás que se espalham impunemente pela cidade.
     É muito cômodo - é um discursozinho fácil e vagabundo - discutir a democratização dos espaços públicos dentro de salas com ar-condicionado e apartamentos de luxo em condomínios com segurança total. Comportamento muito comum no que já se chamou um dia de "esquerda festiva", mas que não passa do mais vulgar estelionato ideológico.

Sigilo é fundamental

     Uma notícia publicada, entre outros, pelo Estadão, é, de fato, preocupante. Segundo o jornal, a presidente Dilma Roussef quer que o ministro da Justiça, José Eduardo Cardoso, informe sempre que a Polícia Federal for realizar uma operação como a que redundou na prisão de algumas dezenas de funcionários do Ministério do Turismo. A presidente quer ser avisada com antecedência, como acontecia com o ex-presidente Lula.    
     Para que isso aconteça - por óbvio - será necessário que a PF quebre o sigilo das investigações e espalhe as informações pelo Governo, perdendo o decisivo efeito surpresa, fundamental para pegar os bandidos em flagrante, ainda com as mãos no cofre. A alegação presidencial é a mais simplória: não quer ser surpreendida, ao acordar, com notícias ruins sobre seu governo.
     Já pensaram? A PF descobre um bando de assaltantes em atividade e avisa que vai prendê-los. Isso não daria certo. Informações podem vazar, independentemente da vontade e seriedade dos chefes. Aliás, essa prática não deu certo durante os dois períodos anteriores. A submissão da Polícia Federal à ideologia dominante gerou a impunidade, por exemplo, da quadrilha do Mensalão, dos aloprados, dos viajantes presos com dólares na cueca.
     Se eu fosse presidente, ficaria feliz ao saber - mesmo com atraso - que o crime estava sendo punido, especialmente nas salas ao lado do meu gabinete. Lugar de corruptos é na cadeia, e não em salas acarpetadas de ministérios ou palácios. Sejam eles do PMDB, do PR, do PT ou do PSDB.