quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Pescador de almas

     A resposta talvez esteja embutida nas escrituras e explique a nomeação do 'bispo' licenciado e senador Marcelo Crivella para o cargo de ministro da Pesca (???), no lugar do marionete Luiz Sérgio, que volta à Câmara dos Deputados, depois de ter passado, também, pela secretaria de Relações Institucionais, seja lá o que isso for, ocupada hoje pela ex-senadora Ideli Salvatt, também do PT
     Talvez Crivella use no cargo a experiência acumulada na Igreja Universal, ao lado do seu tio e líder Edir Macedo, como um 'pescador de almas' e de dízimos, inflando o prestígio e os cofres (com novos adeptos ...) do seu PRB, ainda não aquinhoado com um cargo à altura da vassalagem que presta ao Governo.
     A outra hipótese, aventada pelos jornais que anunciaram esse fenômeno da política brasileira, é mais 'temporal' e próxima do que se vê há alguns anos no Planalto: aliciar adeptos de outras crenças para o objetivo comum, que é a entronização do projeto petista de poder, ameaçado por supostas blasfêmias ministeriais relacionadas ao aborto e à união entre pessoas do mesmo sexo, por exemplo.

A reação dos militares

     O texto do 'Alerta à Nação', divulgado hoje por uma comissão de líderes das Forças Armadas, embora na reserva, não deixa dúvidas: há, sim, uma enorme e quase intransponível barreira à frente da Comissão da Verdade, instituída para apurar, especificamente - o prazo mais longo (de 1946 a 1988) é apenas um jogo de cena -, os crimes que teriam sido cometidos por agentes do Governo durante o Regime Militar inaugurado em 1964.
     A suspensão do manifesto dos Clubes Militares, que denunciava um clima de revanchismo florescente no Governo - vem provocando reações ainda mais fortes não apenas entre os oficiais da reserva, mas na tropa, impedida, no entanto, de se manifestar, por questões legais.
      O título - 'Eles que venham. Por aqui não passarão' -, por si só um misto de afirmação e contestação, é uma referência explícita à frase da espanhola Dolores Ibarruri, que ficou conhecida como La Pasionaria, em discurso quando do início da Guerra Espanhola (É melhor morrer em pé, que viver de joelhos. Eles (os franquistas) não passarão"). Os nossos 'eles' são, não há dúvida, os que, dentro e fora do governo, têm demonstrado determinação em reabrir os casos soterrados pela lei de Anistia.
    
     Logo nos seus dois primeiros parágrafos, o 'Alerta' deixa bem claro que há unidade em defesa do conteúdo do Manifesto dos Clubes Militares censurado e no repúdio à interferência do ministro da Defesa, "a quem não reconhecemos qualquer tipo de autoridade ou legitimidade para fazêlo". Simples e direto.
     O 'Alerta', que defende integralmente os pontos expostos no manifesto dos Clubes Militares, destaca, ainda no início, que é assinado "por homens cuja existência foi marcada por servir à Pátria, tendo como guia o seu juramento de por ela, se preciso for, dar a própria vida."
     Abaixo, a íntegra do documento, que está colhendo assinaturas, rapidamente:

     28/02 - ALERTA À NACÃO

     "ELES QUE VENHAM. POR AQUI NÃO PASSARÃO!

      Este é um alerta à Nação brasileira, assinado por homens cuja existência foi marcada por servir à Pátria, tendo como guia o seu juramento de por ela, se preciso for, dar a própria vida. São homens que representam o Exército das gerações passadas e são os responsáveis pelos fundamentos em que se alicerça o Exército do presente.
     Em uníssono, reafirmamos a validade do conteúdo do Manifesto publicado no site do Clube Militar, a partir do dia 16 de fevereiro próximo passado, e dele retirado, segundo o publicado em jornais de circulação nacional, por ordem do Ministro da Defesa, a quem não reconhecemos qualquer tipo de autoridade ou legitimidade para fazê-lo.
     O Clube Militar é uma associação civil, não subordinada a quem quer que seja, a não ser a sua Diretoria, eleita por seu quadro social, tendo mais de cento e vinte anos de gloriosa existência. Anos de luta, determinação, conquistas, vitórias e de participação efetiva em casos relevantes da História Pátria.
     A fundação do Clube, em si, constituiu-se em importante fato histórico, produzindo marcas sensíveis no contexto nacional, ação empreendida por homens determinados, gerada entre os episódios sócio-políticos e militares que marcaram o final do século XIX. Ao longo do tempo, foi partícipe de ocorrências importantes como a Abolição da Escravatura, a Proclamação da República, a questão do petróleo e a Contra-revolução de 1964, apenas para citar alguns.
     O Clube Militar não se intimida e continuará atento e vigilante, propugnando comportamento ético para nossos homens públicos, envolvidos em chocantes escândalos em série, defendendo a dignidade dos militares, hoje ferida e constrangida com salários aviltados e cortes orçamentários, estes últimos impedindo que tenhamos Forças Armadas (FFAA) a altura da necessária Segurança Externa e do perfil político-estratégico que o País já ostenta. FFAA que se mostram, em recente pesquisa, como Instituição da mais alta confiabilidade do Povo brasileiro (pesquisa da Escola de Direito da FGV-SP).
     O Clube Militar, sem sombra de dúvida, incorpora nossos valores, nossos ideais, e tem como um de seus objetivos defender, sempre, os interesses maiores da Pátria.
     Assim, esta foi a finalidade precípua do manifesto supracitado que reconhece na aprovação da Comissão da Verdade ato inconseqüente de revanchismo explícito e de afronta à lei da Anistia com o beneplácito, inaceitável, do atual governo.
     Assinam, abaixo, os Oficiais Generais por ordem de antiguidade e os Oficiais superiores por ordem de adesão."

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Cambalhotas e gols

     O cenário das próximas eleições municipais - já ruim - ameaça ficar ainda mais mediocrizado, especialmente em São Paulo, maior cidade do país. Espremido compulsoriamente entre a mesmice de José Serra (PSDB) e a piada de mau gosto petista (o ex-ministro da Educação Fernando Haddad), o paulistano pode ser levado a votar em uma espécie de 'cacareco moderno', no caso, o deputado federal Tiririca (o mais votado do país), que esse incrível PR anuncia com o seu provável candidato, segundo nos informa a Folha.
     Ainda são especulações, é verdade, mas o próprio Tiririca admite que a indicação seria um "reconhecimento ao trabalho" que vem desenvolvendo na Câmara. Trocando em miúdos, sua grande credencial seria jamais ter faltado a uma sessão legislativa, algo raro em Brasília e em todas as demais cidades brasileiras.
     É verdade que tudo pode não passar de uma aposta - digamos - 'política' do PR, inconformado com a perda, de fato, do Ministério dos Transportes, com a saída de Alfredo Nascimento, arrastado pela sequência de denúncias de irregularidades principalmente no Denit.
     Como o atual ministro, Paulo Sérgio Passos, não é considerado cota do partido, o PR poderia sepultar de vez o sonho petista de reconquistar a prefeitura, ao conquistar votos que seriam normalmente dirigidos ao candidado do ex-presidente Lula.
     O eleitor carioca também pode ser surpreendido com uma candidatura que poderia fugir às variações sobre o mesmo personagem. Com um discurso mais crítico do que seu colega paulista, o ex-jogador Romário é um nome que ainda vem sendo considerado. No currículo, mil gols e a assiduidade também cantada pelo ex-palhaço.

Encruzilhada carioca

     Os 'Rios de Janeiros' (estado e cidade) agraciados pela natureza, sofrem, há muitos anos, com a mediocridade de seus políticos, um processo que parece não ter fim e que a cada eleição tome novas formas, deforma-se. Reféns de dois movimentos que se enfrentam historicamente - o 'Chaguismo', representado pelo PMDB atual; e o Brizolismo, dividido picarescamente entre o PFL, o PDT e o PR -, cariocas e fluminenses parecem ter sublimado décadas de promessas falsas, populismo barato e irresponsabilidade admistrativa.
     Os representantes desses dois grupos da não-ideologia, frutos do período de exceção que vivemos durante o Regime Militar, vêm se revezando no comando da cidade e do estado, que tiveram a qualidade de vida sucateada, a cidade do Rio, em especial, que assistiu à violência da favelização; ao desmatamento; à transformação de suas praias em depósitos de esgoto; ao crescimento da violência; e à transformação de suas ruas e avenidas em imensos engarrafamentos.
     As eleições municipais deste ano expõem, claramente, o vazio em que nos encontramos. Para enfrentar o poderio do governador Sérgio Cabral em todo o estado e do prefeito Eduardo Paes na capital (ambos do PMDB), anuncia-se uma nova parceria, entre as famílias Garotinho e Maia, inimigas há algum tempo.
     É o que deve restar a nós, cariocas, em outubro. A continuidade dessa era Paes, que será marcada pela derrubada da Avenida Perimetral, ou a volta dos Maias à direção da cidade. Uma 'escolha de sofia'.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

O Brasil, para o mundo

     Há algum tempo, o site WikeLeaks era o queridinho dos nossos formadores de opinião, por revelar detalhes não muito dignos da política americana, baseados em vazamento de informações por um militar subalterno que tinha acesso a relatórios secretos. Espero que continue no topo dos preferidos, depois de hoje, pela dureza e crueldade dos comentários divulgados sobre nosso país.
     Segundo o site, um funcionário da empresa de análise estratégica e inteligência americana, a Stratfor, discute, sem subterfúgios, em conversa com um funcionário americano, a compulsão do governo Lula em comprar equipamentos militares. O e-mail, publicado por Veja, não deixa dúvidas. Vamos a ele:
     "A compra de submarinos é tão sem sentido que só pode ter a ver com propina. Lula provavelmente está cuidando do seu plano de aposentadoria. E veja só: a compra acontece 'curiosamente' no fim de seu mandato. O mesmo vale para os jatos. Nosso Departamento do Tesouro é vingativo quando se depara com subornos. Não podemos fazer nenhum negócio real num lugar corrupto como o Brasil. Os franceses não têm esses problemas".
     Na mesma conversa, o funcionário da consultoria vai além: "Não é que eu discorde, mas acredito que a França também tornou a propina ilegal".
     Pois é. Isso é o que pensam, lá fora, dos dirigentes desse nosso país. Certamente haverá um protesto, seguido por um pedido de desculpas formal etc etc. Tudo, no momento em que o atual governo resgata o tal projeto, 'curiosamente' num ano eleitoral, talvez dissesse o tal analista.

Domingo de fortes emoções

     Finalmente o canal FX diz ao que veio. A nova série de episódios de Dexter (Michael Hall) e a inédita Homeland devem mexer com os índices de audiências da tevê paga. Eu sou suspeito para falar de Dexter, pois fã assumido do psicopata mais querido do mundo do entretrenimento.
     E ele voltou (domingos, 22 horas) ainda mais alucinado do que antes, se é que isso é possível. No segundo episódio, vingou-se com todos os requintes de esperada crueldade do ex-colega de ensino médio que matou a esposa, também ex-aluna do mesmo colégio onde Dexter estudou e a quem o nosso perito forense dedicava gratidão por tratá-lo como um jovem comum, ao contrário de todos os demais.
     Paralelamente, desenhou-se seu futuro grande desafio: uma dupla de assassinos que mistura fé e rituais sanguinários. Aliás, o embate com a fé será outro problema na vida do assassino mais amado da tevê. Ele, por óbvio, não crê. É esperar para ver os novos episódios, dando o desconto possível para a canastrice dos demais personagens coadjuvantes.
     Homeland (domingo, 23 horas, no mesmo FX), pela expectativa que vem causando, deve unir os órfãos de 24 horas, abordando os desafios impostos pelo terrorismo. Para quem gosta de emoção, o fim de noite dominical está garantido.

Histórias de Júlia e Pedro (39)

Uma 'injustiça'

     Júlia está entrando naquela fase que poderíamos chamar de 'pré-aborrecente', com seus oito anos e meio. Como é muito independente e determinada, de quando em vez consegue quebrar a paciência da mãe, mesmo por breves minutos. Um dos últimos momentos de 'insurgência' aconteceu bem recentemente.
     Embora goste muito da escola e dos amigos do Pedro II, eventualmente deixa de fazer seus trabalhos - especialmente as tarefas que leva para casa - com o capricho natural. Findo o período de folgas do carnaval, tinha uma obrigação, apenas: fazer uma redação sobre esses dias, sobre o que fez, o que viu.
     Não gastou mais do que quatro linhas, algo bem telegráfico, simples e objetivo. É claro que a mãe vetou a tal 'redação' e exigiu que ela fizesse algo mais completo, mais recheado, como ela sabe fazer. Fez, mas registrou o protesto, iniciado com a frase que virou bordão nos últimos meses:
     - Isso não é justo! As férias são minhas e eu conto como quiser.
     Contou como a mãe queria, é claro.

Divagações escolares
     A história da redação me remeteu a outra, bem recente, com as mesmas protagonistas, mãe e filha. O tema 'faculdade' surgiu de repente na conversa entre elas, e Júlia quis saber com que idade iria iria para essa nova fase da vida.
     - Com 18, Júlia", disse Flávia.
     - Isso, se eu não repetir, mamãe", retrucou, com a maior naturalidade.
     - Júlia, isso está fora de cogitação", rebateu a mãe.
     - Mas eu sei que há crianças que repetem ..."
     Procurando manter a calma e ser bem didática, Flávia fez algumas ponderações;
     - Há crianças que os pais não podem ajudar, por falta de tempo; não têm quem acompanhe as tarefas, têm dificuldades. O que não é o seu caso ..
     - Mas mamãe, eu posso repetir ...
     - Não, não pode Júlia. Se isso acontecesse, você teria um ano muito complicado.
     - Por quê?
     - Eu complicaria sua vida, entendeu?
     - Tudo bem, mamãe, eu não vou repetir", concordou Júlia, e continuou a conversa, como se nada houvesse acontecido.
     Júlia é assim.

Um ministro indefensável

     Cada vez que leio ou vejo algo dito por esse indefectível ministro da Defesa, Celso Amorim, lembro de amigos diletos, da minha infância em Marechal Hermes, que optaram por seguir a carreira militar. Penso neles e imagino o quanto devem se sentir aliviados por estarem na reserva e, portanto, não sujeitos diretamente ao comando desse personagem, responsável, nos governos anteriores, pelos mais vergonhosos espetáculos já produzidos pelo Ministério das Relações Exteriores, sucateado ideologicamente.
     Ele até que andava quieto. Não teve, sequer, coragem de se insurgir diretamente contra a nota oficial dos Clubes Militares criticando a omissão da atual presidente e as declarações de colegas seus de ministério sobre a Lei de Anistia. Preferiu delegar a reação aos comandantes das três forças, seus subordinados.
     Não resistiu, entretanto, à oportunidade de transformar uma tragédia - a morte de dois militares no incêndio que destruiu a base brasileira de pesquisas na Antártida - em uma peça de exploração política. Como se fosse por acaso, com aquela expressão de soberba que o caracteriza, Celso Amorim culpou - é claro! - os governos anteriores. De uma forma indireta, - digamos - não muito corajosa.
     Disse - e O Globo apenas registrou - que o acidente foi provocado pelo fato de a estação ter sido construída há 30 anos e estar desatualizada. E, para completar a vigarice retórica, destacou que não estava culpando os governos anteriores. Mas quem, em algum momento, aventou essa possibilidade? Não passou pela cabeça de qualquer pessoa digna transferir culpas ou responsabilidades pelo acidente.
     Com outra conotação, esse episódio me remete à comemoração do ministro Marco Aurélio Garcia ao saber que não havia culpa direta do governo na morte de 200 pessoas no acidente com um avião da TAM, em 2007. E os mortos? Ora, os mortos ...

Criminosos sem perdão

     Há algo muito errado com nosso sistema judiciário, com as penas impostas a criminosos contumazes. Ao ler, hoje, a folha corrida do homem que estuprou uma menina de 12 anos, recentemente, aqui no Rio, dentro de um ônibus, me deparei com um assassinato, diversos assaltos, atentados ao pudor e outros crimes menores. Pois esse sujeito estava em liberdade, oficialmente, à vontade para cometer novos crimes.
     Antes que alguém me questione: eu não sou contra a ideia de ressocialização. Acredito que a prisão também deve ter o papel de reeducar, de transformar, não apenas o de punir. Mas há casos, e casos. Esperar que um criminoso com 14 delitos (era o total atribuído ao estuprador, preso ontem) possa voltar ao convívio da sociedade é, no mínimo, uma postura demagógica.
     Mesmo que ele estivesse 'recuperado', a soma das condenações por todos os crimes impediria sua libertação. É assim que a coisa funciona, por exemplo, nos Estados Unidos. Não há nova chance após a segunda transgressão, seja ela qual for. O terceiro delito é sinônimo de prisão perpétua. Mas os crimes não diminuíram, poderiam alegar os inocentes de plantão e os pilantras ideológicos. Certamente seria ainda pior, se esses condenados a morrer na prisão estivessem soltos.
     Se há superpopulação carcerária, condições indignas, é outro problema. Que sejam construídos novos presídios e criados campos de trabalho, por exemplo. Um bom caminho para a recuperação seria exigir que todos fizessem por merecer a comida diária. Há muitas pedras para quebrar, estradas para reformar, campos para arar e plantar. Depois de dez horas sob o sol, operando pás e picaretas, não haveria disposição para planejar novos crimes e manipular quadrilhas, de dentro dos presídios.
     Se o estuprador do ônibus estivesse ajudando a construir estradas vicinais, haveria uma criança aterrorizada a menos no país.

O silêncio dos 'nossos' intelectuais

     Uma boa centena de intelectuais assinou um manifesto de repúdio à condenação (prisão e multa de US$ 40 milhões!!!) de três jornalistas equatorianos, pelo crime de expressarem e publicarem uma opinião contrária ao atual presidente, Rafael Correa, uma mistura de Hugo Chávez e Cantinflas, com um leve toque do histrionismo do ex-presidente Lula, para ficarmos apenas no cenário latino-americano. O resultado desse caldo - e os fatos estão aí para demonstrar - não poderia ser pior.
     O manifesto reúne escritores, artistas e representantes de entidades que lutem pela liberdade, em especial a da informação. A prevalecer o conteúdo da matéria de O Globo, não há um brasileiro sequer na relação. Nem mesmo um desses profissionais de abaixo-assinados, uma marilena ou um emir desses que andam por aí. Silêncio absoluto e vergonhoso.
     A perseguição movida por Rafael Correa a quem ousa denunciar suas fancarias constrange entidades sérias do mundo inteiro, excetuando o Brasil e republiquetas vizinhas. As manobras que transformaram o Judicário em uma simples banca de advogados indicados pelo governo remetem às manobras mais vagabundas de ditaduras travestidas de democracia.
     Assim como nos casos dos atentados à liberdade de expressão na Argentina, Venezuela e Peru, nossas entidades de classe - tão lépidas quando se trata de condenar desvios de governos 'reacionários' - refugiam-se num silêncio, no mínimo, embaraçoso.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Mais, do mesmo ...

     Toda essa celeuma em torno da candidatura de José Serra à prefeitura de São Paulo - que parece sacramentada - exibe a extrema pobreza dos principais partidos de oposição ao Governo Federal. Sem discurso, mensagem ou algo parecido com proposta política, a única saída encontrada foi recorrer a um nome que fosse , ao menos, identificado pelo eleitor. Alguém de quem já se tenha ouvido falar, alguém que pode contar alguma história.
     E isso, em uma eleição que terá, como principal candidato do Planalto, o ex-ministro Fernando Haddad, da Educação (?), aquele mesmo que desmoralizou seguidamente o Enem e tentou adaptar a língua portuguesa falada e escrita no Brasil às limitações intelectuais da maioria absoluta (ou da parte 'relevante') de seu partido, o PT.
     Para tentar escapar ao fracasso que se adivinhava, o PSDB e os partidos que compõem a base da Oposição ao governo do PT precisaram usar todos os argumentos possíveis para convencer José Serra a desistir de nova campanha presidencial, sua verdadeira obsessão, abrindo um caminho sem lutas para a consolidação da candidatura de Aécio Neves em 2014. Uma candidatura que, hoje, apesar de mais consistente do que uma eventual postulação de José Serra, estaria fadada a mais um insucesso, não tenho a menor dúvida.
     Por paradoxal que pareça, uma eventual vitória de Serra, que contará com o apoio (???) do atual prefeito Gilberto Kassab, poderá disfarçar o enorme vazio que se observa na Oposição, refém da mistura de populismo e assistencialismo instalada no país há nove anos. As ideias tendem a ser sufocadas, basicamente por falta de protagonistas que se identifiquem com a população.

Subserviência ideológica

     Na falta de opções, o programa Painel, da GloboNews, comandado pelo jornalista Willian Waack, ajuda a passar a última hora dos sábados. Os temas são sempre atuais e, em tese, tratados por pessoas qualificadas, não-alinhadas ideologicamente, divergentes, mas normalmente bem informadas e com facilidade de expressão.
     Não foi, infelizmente, o que aconteceu ontem à noite, talvez por reflexo do carnaval. Imagino que tenha sido difícil para a produção encontrar pessoas mais bem qualificadas e disponíveis. O resultado foi o que se viu. Nem mesmo o ex-ministro das Relações Exteriores Celso Lafer conseguiu dar um tom seguro ao debate sobre o Irã e à ameaça de um conflito armado provocado pela insistência do país dos aiatolás em produzir uma arma atômica.
     O ex-ministro, embora afastado do cargo há muitos anos (era do Governo Fernando Henrique Cardoso), manteve aquele ar 'emcimadomurístico' que normalmente marca os diplomatas. Os dois outros convidados, dos quais não recordo o nome, pelo menos foram mais 'objetivos': desfilaram uma série de conceitos inimagináveis para apresentar o Irã como um pobre país cercado de inimigos por todos os lados.
     Um deles, uma pesquisadora, chegou a dizer que não acreditava que o governo iraniano tivesse algum propósito bélico, tendo em vista seu histórico. Esqueceu, confortavelmente, que o Irã atual, dirigido por radicais religiosos, não tem nada a ver com o de vinte anos atrás. O Irã do aiatolá Khameney e do alucinado presidente Mahmoud Ahmadinejad é, sim, um país terrorista, que prega a destruição pura e simples de Israel e patrocina atentados em todo o mundo. É, portanto, uma ameaça a todos nós.
     Internamente, o Irã é uma vergonha para o mundo civilizado. Além da leitura literal do Corão, que justifica, entre outras coisas, o apedrejamento de mulheres que tenham cometido adultério, exerce um controle inaceitável e arbitrário sobre a expressão política. Na prática, trata-se de uma ditadura religiosa pré-histórica, montada sobre enormes reservas de petróleo.
     Só mesmo uma enorme subserviência ideológica, um antiamericanismo de botequim, poderia justificar tamanha condescendência com um governo tão medíocre e atrasado como o iraniano.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Longa vida a Madiba!

     Nelson Mandela é um daqueles personagens que já têm lugar cativo na história da humanidade. Um homem muito acima do bem e do mal, capaz de mudar a história de um país marcado pelo que talvez seja a maior ignomia, o racismo. Pois 'Madiba' está doente, nos contam jornais e revistas de todo o mundo. Aos 93 anos, foi internado para 'exames' em um hospital de Johanesburgo, uma das principais cidades da África do Sul.
     Há muito segredo em torno da saúde de Mandela, talvez pelo temor do que pode advir com sua morte. Um temor justificado, até certo ponto. Ele, mesmo fora do poder formal, é o símbolo da África do Sul pós-apartheid, um país que ainda sofre com as feridas deixadas pela segregação.
     Sua vida é uma referência para as velhas e novas gerações. Ele é o fiel de um país potencialmente rico naturalmente bonito, mas ainda sujeito aos efeitos da mediocridade e da ignorância geradas por anos de separação interna, de violência e ódio.
     Mandela é a alma do país, uma das mais destacadas personalidades do século passado, uma referência na busca pela igualdade, pela paz, só comparável - na minha concepção de mundo - a Mahatma Gandhi.
     Longa vida a Madiba!

Histórias de Júlia e Pedro (38)

Pedro e Cléo: sempre dispostos a dividir brincadeiras e carinho

Entre abraços e beijos

     O carinho de Pedro por Cléo, uma labradora preta de seis anos, teve momentos de muita beleza, nos dias em que ele e Júlia estiveram aqui na Pedra, durante o carnaval. Cléo é sua amiga desde muito tempo. Ainda de colo, a primeira coisa que ele pedia, ao sair do carro, era para ir ao canil.
     Quando começou a andar, corria sempre para encontrar com ela e dividir conversas e brincadeiras. E Cléo, que entrou na família como um presente para Júlia, foi definitivamente adotada por ele, que se diz seu dono e amigo. Pedro não aceitava, sequer, que ela fosse mais velha: para ele, os dois tinham a mesma idade. Atualmente, mais 'maduro', aos quatro anos e meio, já entendeu que é mais novo um pouco, mas não leva isso muito a sério. Tempo, para ele, ainda é algo muito relativo.
     Nos quatro dias passados aqui, Pedro não economizou nos abraços e beijos em Cléo, talvez motivados pela saudade: eles não se viam há um mês. Um detalhe, nessa distribuição de carinho, chamava sempre a minha atenção: sempre que ia fazer alguma coisa especial, sozinho, como entrar na piscina ou brincar no parquinho, reservava um abraço bem apertado para a amiga.
     Em uma dessas ocasiões, já estava entrando no deque, para uma chuveirada antes do 'mergulho', quando voltou, desceu os três degraus de acesso e deu um abraço em Cléo. Vendo que eu observava a cena, fez questão de me explicar:
     - Vovô, eu estou 'dando carinho' (é assim que ele fala ...) para ela não ficar triste de ficar sozinha. E para ela não esquecer que é muito minha amiga.
     Cléo, certamente, jamais vai esquecer esse moleque.

MInha frase da semana

"O Brasil de hoje tem um compromisso irreversível com o país de ontem. E não pode abrir mão do dever de honrá-lo."

Extraída do texto 'É hora de honrar o passado', do dia 23.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

A 'ideologia' venezuelana

     Li hoje, apenas no Estadão, uma notícia que quase me fez descer - em pensamentos - ao comportamento asqueroso que emana do governo venezuelano, como um todo. O diretor de Assuntos Estatais de um tal Serviço Administrativo de Identificação e Imigração (não vou reproduzir o nome desse indivíduo) postou o seguinte comentário no Twitter, sem que fosse contestado ou, ao menos, obrigado a se retratar: "Os malditos judeus deveriam agradecer a Hitler que, graças a ele, hoje em dia, têm essa matriz de opinião, onde são considerados vítimas".
     Foi exatamente isso (o jornal reproduz o trecho). Esse é o perfil do funcionário do primeiro escalão do governo de Hugo Chávez, o queridinho da 'esquerda' e dos nossos representantes em Brasília, que ainda não se manifestaram, como sempre fazem quando o assunto é criticar Israel.
      Essa declaração estúpida - segundo nos informa o Estadão - será o tema de um encontro entre o presidente do Conselho Judaico Latino-americano, o brasileiro Jack Terpins, com o embaixador venezuelano em Brasília, segunda-feira. Imagino um encontro tenso. Como explicar a manutenção de um imbecil como esse à frente de um órgão oficial? Em qualquer país governado por pessoas dignas - o que não é, definitivamente, o caso da Venezuela -, a reação seria imediata e o funcionário, além de demitido, sofreria um processo criminal.
     Como lembra o jornal, no entanto, o antissemitismo parece fazer parte da 'ideologia' dos dirigentes desse pobre país latino-americano. Recentemente, a página oficial da Rádio Nacional da Venezuela publicou um artigo ofensivo aos judeus e que só foi retirado após uma grande mobilização.

Um ano de Blog

     Sem que eu percebesse - só hoje me dei conta do fato -, 'O Marco no Blog' completou seu primeiro ano (a primeira postagem aconteceu no dia 3 de fevereiro de 2011). Confesso que exercer essa atividade tem me proporcionado muito prazer. Escrever, diariamente - e não houve um dia, sequer, sem um texto, por menor que fosse -, para mim, é um misto de desafio e prazer.
     Ao longo desse período, acredito que tenha cumprido o propósito expresso no texto de apresentação do Blog e que tomo a liberdade de reproduzir abaixo.
     Obrigado pela paciência e participação de todos.

Do OJ ao JB  (3 de fevereiro de 2011)

     Meu desafio é ser absolutamente fiel aos conceitos que venho carregando comigo há seis décadas, quatro delas dedicadas a transformar em textos o momento que estava vivendo em três grandes redações cariocas: na do extinto e praticamente esquecido O Jornal, à época (final dos anos 1960 e começo dos anos 70), ainda o "órgão líder dos Diários Associados"; na brilhante redação do O Globo dos anos 1970; e no sexto andar do prédio da Avenida Brasil, onde vibrava e fazia história o recém-sepultado Jornal do Brasil.
     Vem do período romântico de jovem repórter do O Jornal a primeira sensação real de estar construindo alguma coisa até certo ponto transcendental, ao penetrar – mesmo que por breves minutos – na vida de uma pessoa absolutamente estranha. Foi num trem da Central do Brasil, a caminho de casa, no distante subúrbio de Marechal Hermes.
     Ao meu lado, em um dos bancos de madeira do penúltimo dos nove vagões da composição destinada a Deodoro (não lembro se era o 13, parador, ou o 23, direto), alguém mergulhava num texto produzido por mim. Um texto simples, banal, mas que, naquele momento, ajudava alguém a discutir consigo mesmo um fato do seu dia a dia, da sua cidade.
     O espaço que estou inaugurando, estimulado por parentes, amigos e – não seria justo omitir – pela pretensão de ter idéias que mereçam ser debatidas, se dispõe a oferecer não apenas a oportunidade de apresentar textos para um consumo à distância, unilateral, de via única, mas um lugar ao meu lado. Desta vez, com direito ao mais saudável dos exercícios democráticos: o debate.

A oposição dos sonhos

     A Oposição, seja lá o que isso tem sido, aqui no Brasil, não cansa de mergulhar no poço sem fundo e luz no qual se enfiou há nove anos, desde que a 'Era Lula' foi inaugurada no país. Perdida no tempo e no espaço (principalmente no espaço da chamada mídia), não consegue, sequer, definir quem vai concorrer às principais prefeituras, nas próximas eleições. O exemplo da indefinição em São Paulo é, apenas, o mais gritante e vergonhoso.
     Enquanto o PT se mobiliza para dar sustentação a Fernando Haddad, um candidato teoricamente inviável e facilmente atropelável, pelas inúmeras trapalhadas protagonizadas no Ministério da Educação, o PSDB sangra por todos os poros, à espera da definição de José Serra, ainda em dúvida sobre o encerramento de seu sonho (um pesadelo, pelo histórico) com a presidência da República.
     Na Bahia, nem mesmo a catastrófica atuação do governador Jaques Wagner (PT) em todos os assuntos relevantes vem servindo de estímulo aos oposicionistas, especialmente em Salvador. As lideranças do DEM e do PSDB não conseguem acertar uma composição para enfrentar, possivelmente, o ex-presidente da Petrobras, Sérgio Gabrieli, outro que seria imprensado na parede sem muito esforço. Bastaria apresentar o último balanço da estatal e a vergonhosa crise de preços dos combustíveis.
     A prefeitura do Rio - teoricamente a segunda em importância nacional - jamais esteve na mira oposicionista, fadada a mais um estrondoso fracasso em outubro. Por aqui, o trêfego prefeito Eduardo Paes (PMDB), apesar do caos no trânsito e nos serviços em geral, não tem adversários à altura. Mesmo insitindo em derrubar a Avenida Perimetral, para dar passagem ao seu ego, inflado a cada a cada notinha favorável nas colunas 'sociais'. Recentemente, nosso alcaide deve ter alcançado o êxtase mais profundo, ao ver estampada a foto colorida dos 13 pares de sapatos e 13 chapéus que usou no desfile das escolas de samba.
     Pois além de tudo isso, o PSDB, cuja única arma tem sido apontar levemente o dedo mínimo para os escândalos do Governo Dilma, municia seus adversários com a constatação de que um de seus mais destacados senadores, Cícero Lucena, da Paraíba, mantinha o advogado particular no seu escritório em João Pessoa, pago com o dinheiro público.
     Nem mesmo os mais otimistas petistas e adesistas sonhavam em ter uma oposição tão medíocre, desfibrada. Tão limitada que não consegue, sequer, demolir o senador Eduardo Suplicy (PT) em um debate. Logo Suplicy, aquele senhor paulista, ex-marido da senadora Marta Suplicy, que canta, propõe lutas de boxe e distribui uma cartilha sobre uma tal de renda mínimo no Congresso, esquecido - ele sempre parece estar meio perdido - que faz parte do Governo.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Do Dedé ao Deivid

     Por estranho que possa parecer - em função do destaque recebido -, o gol que o atacante Deivid deixou de fazer, ontem, não foi o único 'fato' relevante da partida entre o Vasco e o Flamengo, pela semifinal da Taça Guanabara.
     É verdade que o lance, em si, não foi dos mais brilhantes. Mas não a derrota não pode ser atribuída exclusivamente a ele, como sugerem as manchetes. A vitória do Vasco (2 a 1, de virada), a oitava em oito jogos, foi inteiramente merecida. Poucos lembraram, por exemplo, que a falha do zagueiro vascaíno, possibilitando a jogada que deu origem ao tal gol perdido, foi, também, medíocre.
     A rigor, o 'gol perdido' foi a única chance efetiva de o Flamengo marcar pela segunda vez. Já o Vasco teve, pelo menos, quatro oportunidades claras, com Juninho e Diego Souza. Uma delas, a cabeçada de Diego Souza, livre, de frente para o gol, após cobrança de escanteio, sequer mereceu comentário.
     Sem falar - e esse foi um dos maiores destaques da partida - na exibição (mais uma) do zagueiro Dedé. Ele ganhou todas - rigorosamente todas - as disputas, por baixo, pelo alto, fora e dentro da área. E sem cometer uma falta sequer no jogo. E isso, marcando jogadores do nível de Vágner Love (que esteve bem), Ronaldinho (omisso) e Deivid (azarado).
     E ainda tivemos Juninho, aos 37 anos, correndo, driblando, defendendo chutando e - quando foi preciso, na hora certa - dando um chapéu no meio do campo, um drible que contagiou a torcida e que se seguiu a uma boa jogada do adversário. Para não ser acusado de injusto, entre outras coisas: enquanto teve condições físicas, Leonardo Moura foi o grande jogador do Flamengo.
     Futebol, embora simples, não precisa ser necessariamente simplista.

Eles se merecem ...

     A notícia do Estadão de hoje, que une - sob o mesmo título - Irã e Síria não poderia ser mais apropriada e pertinente. São dois dignos representantes do que há de pior no mundo (não necessariamente os piores). Não estou falando das nações, em si, mas de seus representantes, assassinos vulgares e terroristas.
     Com o ar de bazófia que vem caracterizando esse regime do atraso e da estupidez, os dirigentes iranianos oficializaram seu apoio aos criminosos sírios, chefiados pelo genocida Bassar Al-Assad. Eles se mecerem, totalmente. Enquanto um apedreja mulheres até que morram, o outro despeja a fúria de seus tanques de guerra contra a população que pede liberdade.
     Esse é o retrato dessa parceria do mal, que sobrevive e ameaça o mundo graças à conivência bandida de dois répteis políticos pré-históricos, a Rússia e a China, detentores do poder de vetar intervenções internacionais, como membros cativos do Conselho de Segurança das Nações Unidas.
     Os dois - Irã e Síria - há muito deveriam estar sob intervenção de órgãos internacionais, até mesmo como medida preventiva, em função do risco que representam para o restante do planeta. Livres de interferência mais eficazes, iranianos e sírios continuam testanto, à exaustão, a paciência dos demais povos. Em algum momento - que parece não estar muito distante -, não restará outra alternativa, exceto a invasão, pura e simples.

É hora de honrar o passado

     O Globo destaca, hoje, um assunto que, aqui no Blog, abordei há cinco dias, no último sábado: a crítica dos presidentes dos clubes militares às recentes declarações revanchistas de ministros do Governo Dilma. Foram críticas duras, mas circunscritas em uma zona que podemos chamar de respeitosa.     
     Há, não resta dúvida, uma insatisfação com a, no mínimo, omissão da presidente da República em relação a discursos e propostas que contrariam até mesmo sua pregação quando candidata. Queixam-se os militares - todos da reserva, mas ecoando, claramente, um sentimento que é da maioria da tropa - da recorrente discussão de punição para os envolvidos na repressão, quando a Lei da Anistia teria colocado uma pedra sobre o assunto, circunscrevendo-o à história.
     Têm razão. E todos os que viveram aquele momento do país são testemunhas que foi forjado um grande acordo envolvendo a nação, fundamental para que as instituições saíssem vencedoras e houvesse a reconciliação do país. A eleição de Dilma Rousseff talvez seja o fato mais emblemático dessa grande concertação.
     Foi a solução mais justa? Talvez não tenha sido (eu, pessoalmente, creio que sim). Mas foi a melhor possível para aquele momento. Tanto que o Brasil, um caso raro entre as nações, conseguiu realizar uma transição ordeira e pacífica para o regime democrático. Crimes e criminosos foram anistiados, sim, mas de ambos os lados.
     É bem verdade que pode-se cobrar, com mais indignação - e eu mesmo faço isso - as vilanias produzidas por governos, justamente os defensores da lei e da ordem. Não há argumentos moral e institucional que justifiquem a tortura de prisioneiros, por exemplo. Eventualmente, podem explicar, pela necessidade de resultados imediatos. Mas nem por isso o uso de esse tipo de arma é defensável.
     Mas - e isso deve ficar bem claro em qualquer debate sério sobre a história recente do Brasil - não podem ser incensados atos de verdadeiro terrorismo produzidos pelos que combatiam o governo militar e que produziram mais de uma centena de mortos inocentes, atingidos por atentados a bomba e assaltos a bancos, entre outros. Como também houve assassinatos de prisioneiros, executados pela guerrilha, alguns com requintes de crueldade.
     Foi, em essência, uma guerra suja, que não envolveu apenas idealistas - de ambos os lados. Havia, sim, criminosos que defendiam, a seu jeito, uma visão de ordem, que passava longe - frise-se - da busca pela democracia. De um lado, havia os governos militares tentando impor um padrão de governabilidade acima da lei, que usava o nacionalismo como referência na luta. Do outro, grupos claramente motivados por uma doutrina que se mostrou falaciosa e que em momento algum privilegiava a liberdade. A grande vítima de todos foi a democracia, atingida em seus princípios.
     A Lei de Anistia, acordada pelo que havia de mais representativo da sociedade, veio, também, para sepultar rancores, desejos de vingança. A dor do pai de um jovem morto e enterrado no Araguaia não é menor do que a do que perdeu o filho, dilacerado quando tirava serviço como sentinela em um quartel em São Paulo.
     O Brasil de hoje tem um compromisso irreversível com o país de ontem. E não pode abrir mão do dever de honrá-lo.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

O roubo no país do ziriguidum

     Esse carnaval, quando menos, se nada mais pudesse oferecer ao Brasil e ao mundo, já teria cumprido uma missão inestimável às atual e futuras gerações: o roubo às claras, na frente de testemunhas, ao vivo e a cores, com a Globo por testemunha. Nada daquela malandragem safada, de contratar ONGs amigas para repassar dinheiro público, financiar campanhas da turma do poder e apadrinhados por 'trás das mesas de escritório'. Sem essa de extorquir empresas de ônibus ou maquiar despesas em obras.
     Nada disso. Se é para roubar, que seja assim, na mão grande mesmo, sem disfarces, sem desculpas que só ampliam a vagabundagem dos atos. Já imaginaram se o sujeito que driblou seguranças do sambódromo paulista e arrancou as cédulas das mãos dos donos da festa começasse a arranjar desculpas: "Eu estava conferindo a exatidão dos votos e a papelada escorreu entre meus dedos, rasgando"; "Eu estava tentando livrar a eleição da influência da direita e da mídia, mas ..."; "Eu não corri, apenas escapei da cena do crime, por vontade própria, para me defender melhor em liberdade e provar que nada foi provado contra mim"; ou, a frase mais usada pelos donos do poder: "Eu não sabia que estava roubando".
     Ladrão bom tem que ser assim, igual ao ilustre paulistano. Eu já não aguento mais conviver com ladrões de casaca, paletó e terninhos executivos. Gente que desvia dinheiro público a bem de causas - normalmente a delas e a de parentes e amigos. Eu quero viver num país de ladrões puros, que roubam sem ter lido Gramsci ou/e Marx.
     A bem da dignidade e da justiça, estou lançando, agora, o ladrão de votos do Sambódromo de São Paulo para tema de todos os enredos das escolas de samba brasileiras no ano da graça de 2013. O enredo? Quem sabe? Uma ideia: No país do ziriguidum, tudo acaba em roubo, oba!

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Histórias de Júlia e Pedro (Capítulo 37)

 Os foliões da pedra



Pedro, sentado ao lado do tio 'Gui', já no alto da pedreira, fotografado pela mãe, com teleobjetiva

     Os quatro dias de carnaval, aqui na Pedra, têm sido de muita folia, de Júlia e Pedro, cada um com seu estilo. Júlia, todas as manhãs, cumpre o ritual de percorrer as árvores frutíferas, especialmente a jabuticabeira, sua preferida, que está carregando novamente, estimulada pelas chuvas e sol. Vem aproveitando, também, o início da 'safra' de carambolas e o restinho das amoras deixadas pela passarinhada.
     Pedro, com seu jeito de moleque 'marteiro' (um neologismo que criei para exemplificar o misto de arteiro com mateiro), faz questão de participar de tudo o que eu faço. Ajuda a recolher as folhas que caem às centenas do jameloeiro, dá comida para a Cléo, fica ao meu lado o tempo todo na arrumação da mesa para as refeições na churrasqueira. Como ele mesmo repetiu: "Vovô, eu sou seu parceiro".
     Pois o meu parceiro teve uma manhã cheia, hoje, terça-feira de carnaval. Assim que acordou, veio cobrar a promessa de escalarmos a Pedra do Sol, que fica na parte alta do nosso condomínio. Para ele, é uma aventura. A tal pedra, que domina nossa área, fica no meio de um terreno com muito mato. Chega-se até ela seguindo por uma rua bem íngreme e entrando por uma pequena trilha, usada pela molecada para soltar pipa.
     Fez questão de se preparar: tênis, meia, camisa de meia manga, bermudão, um dos meus bonés, que ele mesmo escolheu, e um par de luvas de goleiro (ele diz que vai ser goleiro, entre outras coisas). E decidiu carregar a mochila ("eu aviso quando cansar"), guarnecida com água e biscoitos. Tudo isso, com ar sério, de quem estava, mesmo fazendo uma aventura.
     No caminho, já quase no fim da subida, depois de olhar a paisagem, saiu-se com uma frase que compunha bem sua fantasia: "Dá para ver o mundo todo aqui de cima".
     Na volta, suado, pediu para dar uma nova parada para beber água. Deu um suspiro fundo e arrematou, com a maturidade dos seus quatro anos e meio:
     - Quando eu chegar em casa vou direto para a piscina ...

É carnaval ...

     - Vai trabalhar a que horas, amanhã, cara?
     - O que é isso, brô? Trabalhar amanhã? Quarta-feira de Cinzas, rapá?
     - Você é funcionário público, tem meio expediente?
     - Quarta-feira de Cinzas é dia de praia, mermão. Pra dar uma relaxada ...
     - Mas você está sem trabalhar desde sexta-feira ....
     - Claro! Ninguém trabalha de sexta de carnaval em diante.
     - Tudo bem, muita gente folga na quarta. Mas e na quinta?
     -Tá brincando? Tem jogo quarta à noite. Só acaba no começo da quinta. E ainda tem o julgamento. Tenho que acompanhar todas as notas. Disseram que tem uns caras aê que vão sacanear nosso desfile. Quero ver, ao vivo, esses ...
     - Quer dizer que tu só vai trabalhar um dia, na sexta?
     - Que sexta, maluco? Tu acha que que alguém vai sair de casa um dia só. Pra quem ficou uma semana, um dia a mais não faz diferença. E tem o sábado e o domingo, emendados.
     - Tem que estar preparado para a segunda-feira, então?
     - Tô pensando. Acho que vô aproveitar o começo da semana, que não tem nada para fazer, mermo, pra cortar cabelo e atualizar meu Orkut. Num sei ainda ...

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Lupi perdeu os adereços

     Eduardo Paes, o jovem e trêfego alcaide carioca, em ritmo de carnaval, atravessou de vez a fronteira para a irreverência administrativa: um dia depois de nomear o ex-ministro do Trabalho, Carlos Lupi, para seu gabinte, com um salário nada desprezível de R$ 8,5 mil, ou quase seis bombeiros, recuou a apagou a canetada claramente destinada a afagar a harmonia com o PDT.
     Lupi, segundo nos conta O Globo, fica onde estava - é funcionário concursado -, sem direito, no entanto aos adereços financeiros que o novo posto ofereceria. Paes é assim: absolutamente sensível ao noticiário, ao qual reage quase imediatamente. Basta uma notinha em alguma coluna para o prefeito alterar enredos consagrados pro ele mesmo.
     Foi com esse espírito - digamos - maleável que conseguiu transitar sem traumas do antigo PFL ao PMDB, passando pelo PSDB, quando destacou-se como um crítico feroz do Governo Lula, à época do Mensalão. Alçado à prefeitura, em estreita parceria com o governador Sérgio Cabral, conseguiu reescrever as linhas do seu passado e aproximou-se do ex-presidente, depois de romper a resistência do cordão de isolamento imposto pela ex-primeira-dama, D. Marisa, que não o perdoava por críticas ao desempenho dos filhos, entre outras coisas.

Exemplos carnavalescos

     A ministra do Tribunal de Contas da União, Ana Arraes, filha do ex-governador Miguel Arraes e mãe do atual governador pernambucano, Eduardo Campos (PSB), descoberta com o corpo todo em uma botija retórica - ocupa um apartamento funcional privativo de deputados federais, mesmo tendo renunciado ao cargo em outubro passado, para assumir a vaga no TCU - saiu-se com uma desculpa bem no entilo da turma que anda no Poder há nove anos, segundo nos informa a Folha: não sabia que cometia um ilícito e está disposta a ressarcir a Câmara por esses período de ocupação ilegal.
     Seu filho pródigo também não se mostrou constrangido com o exemplo nada edificante da mãe. Alegou que ela tem direito a uma residência funcional e que o Tribunal ainda não havia providenciado uma. Portanto ...
     Vejam bem: uma ministra encarregada de fiscalizar as contas do governo e um governador de estado exibindo ao distinto público essa desfaçatez em relação ao que se exige de funcionários públicos. Não tenho a menor dúvida em afirmar que o tal ressarcimento só será feito porque o fato foi denunciado - o desenrolar dos acontecimentos me autorizam a isso. E não ficou bem explicado, até agora, se 'mamãe 'recebia algum auxílio moradia, como é comum nos casos em que a residência oficial não é oferecida, por qualquer motivo.
     Essa turma recebe salários exorbitantes, para um país como o nosso; tem o dobro ou triplo de férias do que os trabalhadores normais; salas espaçosas; direito a contratar uma entourage; carro oficial e ainda pode se dar ao luxo de morar e comer de graça. E ainda debocha da nossa inteligência, do nossos discernimento, com atitudes como essa.
     Mas é carnaval. Ninguém vai ficar indignado com mais essa afronta. E logo em seguida teremos Semana Santa, festas juninas, Natal e por aí vai o Brasil.

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Em nome do poder

     Muitos de nós, de alguma maneira, repudiamos a promiscuidade que envolveu a política brasileira, a falta de ideário, os acertos, conluios, conchavos. Especialmente nos últimos nove anos, período em que tudo foi permitido e estimulado, em nome de uma etéria governabilidade, base para o projeto de poder dos atuais ocupantes do Governo.
     Os seguidos escândalos envolvendo o primeiríssimo escalão dos governos Lula e Dilma, as demissões que foram esquecidas convenientemente, as denúncias abafadas pelo rolo compressor do Congresso, a impunidade efetiva.
     Um dos casos mais recentes, rumorosos e vergonhosos teve como personagem principal o atual presidente do PDT e ex-ministro do Trabalho, Carlos Lupi. Envolvido em denúincias de desvio de verbas, manteve-se no cargo muito além do que se poderia supor, tal a gravidade dos crimes. E ainda envergonhou o país, com um desafio público à presidente, que não teria força para demiti-lo.
     Saiu, sim, mas com todas as honrarias e elogios que só deveriam ser prestados a funcionários que estivessem acima do bem e do mal. Após um período longe dos holofotes, reassumiu a presidência do PDT, constrangendo antigos membros, a pose arrogante de sempre e o direito de participar dos destinos do país, em reuniões no Palácio do Planalto.
     Para culminar esse quadro, O Globo nos conta, hoje, que Carlos Lupi acaba de ser designado para o gabinete do prefeito Eduardo Paes, com um daqueles supersalários pagos, normalmente, para quem nada faz. A desculpa oficial: ele é funcionário concursado do município do Rio de Janeiro, como se issso justificasse a deferência,.
     Mas é assim que funciona essa engrenagem vagabunda da política. De olho nas próximas eleições, nosso prefeito - que surgiu no antigo PFL, passou pelo PSDB e agora está no PMDB - acerta os ponteiros com o PDT, que certamente irá apoiá-lo na campanha pela reeleição.
     E assim caminha nosso país.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

O retrato de uma chantagem

     A história que vocês vão ler, logo abaixo, é absolutamente verdadeira e aconteceu esta semana, aqui, no Rio de Janeiro. Para preservar seus personagens, estou omitindo seus nomes e o de empresas envolvidas. É um exemplo do grau de dissolução dos nossos órgãos de segurança em especial. Um exemplo do quanto a vida nessa cidade pode ser perversa e canalha, quando confronta pessoas de bem com bandidos disfarçados de agentes da lei. Ela poderia ter acontecido com qualquer um de nós, com um dos nossos filhos, amigos. Vamos a ela:
     Um jovem engenheiro veio viver no Rio há pouco tempo, com a família. Convidado por uma empresa de médio porte, aceitou o desafio de mudar de cidade e administrar a construção de um empreendimento imobiliário em um subúrbio carioca. Para alguém tão jovem e que acabara de casar e ter um filho, era a perspectiva de deslanchar na carreira, exibir o conhecimento adquirido ao longo dos últimos anos, em cansativos estágios e funções menos relevantes.
     Veio com tudo: família e uma enorme esperança. O trabalho ainda estava na fase bem inicial e exigia, entre outras tarefas, a constituição de uma equipe de profissionais. Feita a seleção, e por escolha dos operários, optou por instalá-los em uma casa vizinha ao canteiro de obras, alugada para uso do grupo. Não sabia, sequer podia imaginar, o quanto essa atitude teoricamente simples sairia cara. Mas vamos voltar um pouco no tempo.
     Logo depois da instalação do canteiro de obras, o jovem engenheiro começou a se deparar com algo a que não estava acostumado: a visita constante de um grupo de policiais da Delegacia de Policia Especial de Meio Ambiente, sob a alegação de estarem vistoriando a obra. Na primeira vez, argumentaram que o solo onde a obra seria executada estaria contaminado. Nenhum órgão ou pessoa pode afirmar algo assim sem que, antes, seja elaborado um laudo, laudo esse que demora em média 60 dias para ficar pronto.
     Sem motivos ou razões para 'enquadrar' o engenheiro, os policiais enviaram, formalmente, um convite para que a empresa apresentasse uma lista de documentos, no que foram atendidos. Não demorou muito, no entanto, para que o verdadeiro motivo das 'inspeções' aparecesse: eles queriam receber uma taxa semanal para deixar o trabalho prosseguir 'sem problemas'. Extorsão, pura, simples e vagabunda.
     A reação, comum aos jovens e idealistas, foi a que se pode imaginar: ignorou a chantagem e disse que não tinha o que esconder, pois tudo estava rigorosamente em dia na 'sua' obra. E foi levando o trabalho. Já havia quase esquecido do último incidente quando foi surpreendido, no dia seguinte, por uma 'batida' policial na tal casa que estava alugada para os operários.
     Uma equipe de agentes da lei invadiu o local e um perito 'descobriu' que havia uma ligação clandestina na rede de esgotos e desvio de energia elétrica, exatamente o que acontece em 100% das residências de todas as favelas cariocas e em pelo menos 50% das casas suburbanas em geral.
     Para evitar que o mestre de obras fosse preso, o jovem engenheiro assumiu a reponsabilidade, não pelos delitos, que sequer sabia que existiam, mas pela casa alugada. Enquadrado em dois crimes (furto e energia e dano ao meio ambiente), foi preso, enfiado em um camburão e levado para o xadrez da Polinter, onde foi jogado em uma cela repleta de criminosos, sem direito algum.
     Foram as 30 horas mais dramáticas da vida desse jovem, um quase menino, até que um advogado contratado pela empresa conseguisse o habeas-corpus que o tirou da prisão poucos minutos antes de ser transferido - sim, é isso mesmo, transferido - para Bangu I. Na cela, acuado, pagou para usar o celular de um prisioneiro e conversar rapidamente com a mulher. Pela grade, ouvia as conversas que chegavam do pátio, entre bandidos travestidos de policiais. Não dormiu um minuto sequer, apavorado.
     No lado de fora - sem poder, ao menos, falar com o companheiro de trabalho - outros dois jovens acompanhavam, solidários, seu drama, temendo o pior: a transferência para Bangu, cabeça raspada, uniforme de prisioneiro e todas as consequências imagináveis em uma situação como essa. E mais: ouvindo, a todo instante, gracejos de 'policiais' sobre o risco de a transferência sair a qualquer momento, já que o advogado estaria demorando muito. 'É bom acelerar, ele pode seguir a qualquer momento', debochavam.
     Nem mesmo a documentação da Justiça, ordenando a soltura, acabou com o sofrimento. Para driblar burocracias, foi preciso que amigos e parentes fizessem uma 'vaquinha' e arrecadassem R$ 1 mil para garantir o andamento rápido da libertação. Dinheiro vivo, entregue na mão dos policiais e que, segundo eles, iria para o delegado. Até o advogado colaborou. 'É melhor pagar", admitiu.
     A obra citada faz parte do programa Minha casa minha vida, da Caixa Econômica Federal. E os 'policiais' sabem que nesse tipo de empreendimento a Caixa paga de acordo com o andamento físico da obra. E sabem que uma semana de obra parada geraria um prejuízo irrecuperável. E se aproveitam da situação.
     Esse é um retrato do Brasil, sem fantasias, sem máscaras.

O papel da presidente

     As recentes manifestações de representantes destacados do Governo, defendendo a reavaliação dos conceitos expressos na Lei da Anistia, já referendada pelo Supremo Tribunal Federal, aumentaram o desconforto entre os integrantes das Forças Armadas. Impedidos, constitucionalmente, de se manifestar, os oficiais da ativa claramente transferiram para seus colegas da reserva - em especial na direção dos clubes militares - a tarefa de demonstrar sua insatisfação.
     E essa insatisfação tomou a forma de um manifesto assinado pelos presidentes das três agremiações, o vice-almirante Ricardo Antonio da Veiga Cabral, do Clube Naval; o general-de-exército Renato Cesar Tibau da Costa, do Clube Militar; e o tenente-brigadeiro Carlos de Almeida Baptista, do Clube de Aeronáutica.
     Segundo a nota, ao completar o primeiro ano do mandato, "paulatinamente vê-se a presidente afastando-se das premissas por ela mesma estipuladas. Parece que a preocupação em governar para uma parcela da população sobrepuja-se ao desejo de atender aos interesses de todos os brasileiros", ressaltam os três oficiais da reserva.
     E passam a citar três momentos específicos dessa que eles consideram 'mudança de rumo'. Vamos a eles, literalmente:

     "Na quarta-feira, 8 de fevereiro, a ministra da Secretaria de Direitos Humanos concedeu uma entrevista à repórter Júnia Gama, publicada no dia imediato no jornal Correio Braziliense, na qual mais uma vez asseverava a possibilidade de as partes que se considerassem ofendidas por fatos ocorridos nos governos militares pudessem ingressar com ações na justiça, buscando a responsabilização criminal de agentes repressores, à semelhança ao que ocorre em países vizinhos. Mais uma vez esta autoridade da República sobrepunha sua opinião à recente decisão do STF, instado a opinar sobre a validade da Lei da Anistia. E a presidente não veio a público para contradizer a subordinada.
     Dois dias depois tomou posse como ministra da Secretaria de Política para as Mulheres, a Sra. Eleonora Menicucci. Em seu discurso, a ministra, em presença da presidente, teceu críticas exarcebadas aos governos militares e, se auto-elogiando, ressaltou o fato de ter lutado pela democracia (sic), ao mesmo tempo em que homenageava os companheiros que tombaram na refrega. A plateia aplaudiu a fala, incluindo a Sra. Presidente. Ora, todos sabemos que o grupo ao qual pertenceu a Sra. Eleonora conduziu suas ações no sentido de implantar, pela força, uma ditadura, nunca tendo pretendido a democracia.
     Para finalizar a semana, o Partido dos Trabalhadores, ao qual a presidente pertence, celebrou os seus 32 anos de criação. Na ocasião foram divulgadas as Resoluções Políticas tomadas pelo Partido. Foi dado realce ao item que diz que o PT estará empenhado junto com a sociedade no resgate de nossa memória da luta pela democracia (sic) durante o período da ditadura militar. Pode-se afirmar que a assertiva é uma falácia, posto que quando de sua criação o governo já promovera a abertura política, incluindo a possibilidade de fundação de outros partidos políticos, encerrando o bipartidarismo."

      Como podemos ver, há, ainda, muitas feridas abertas, dos dois lados. Talvez caiba à presidente Dilma Rousseff, ela mesma uma vítima de violências, colaborar para encerrar de vez esse ciclo de desconfiança, de desejo de vingança. Por sua história passada e pelo papel que desenvolve no presente, ninguém melhor do que ela para definir as bases de um futuro menos amargurado.

Minha frase da semana

"O espaço para manobras e vigarices jurídicas está acabando: o Mensalão vai cobrar seu preço".
Extraída do texto 'O preço do Mensalão', de quinta-feira, 15 de fevereiro

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Justiça, ainda que tardia

     Espero que todos os que se dizem e julgam defensores da democracia e da Justiça façam uma corrente no próximo dia 10 de maio. Vou torcer para ver todas as entidades de defesa dos direitos humanos (ONGs incluídas), OAB, ABI, sindicatos e federações de braços dados, envolvendo a 1ª Vara da Comarca de Itapecerica da Serra, em São Paulo, onde - segundo nos informa O Globo - irão a julgamento cinco acusados de envolvimento no assassinato do ex-prefeito de Santo André, o petista Celso Daniel.
     Caberá a um júri popular decidir pela aceitação da tese do Ministério Público Estadual sobre a morte do prefeito, que teria sido provocada por sua decisão de dar um basta no esquema de extorsão de empresas de ônibus para financiar campanhas eleitorais do PT, como também afirma o irmão de Celso, Bruno José Daniel.
     A história, é sempre bom lembrar, foi tratada com absoluto desdém pelo Partido dos Trabalhadores, que conquistou o Governo logo em seguida (o prefeito foi sequestrado no dia 18 de janeiro de 2002 e encontrado dois dias depois, em uma estrada de terra com marcas de tiros e sinais de tortura). O caso só foi levado a sério, mesmo, a partir das denúncias feitas à CPI dos Bingos, em 2005, pelo irmão do morto.
     Bruno contou - e o Ministério Público encontrou indícios que corroboraram a acusação - que havia um esquema de recebimento de propina nas prefeituras paulistas comandadas pelo PT e que o dinheiro era, a princípio, dirigido às campanhas partidárias. Com o tempo, no entanto, segundo ele, o dinheiro passou a encher, também bolsos e bolsas particulares. Celso Daniel teria se insurgido contra essa 'mudança de rumo' e acabou morto.
     Embora não esteja entre os acusados pela morte, o atual ministro Gilberto Carvalho foi apontado por Bruno Daniel como o encarregado de transportar as malas de dinheiro, o que fazia no seu Fusca particular, e entregá-las ao ex-ministro José Dirceu. Isso explicaria, por óbvio, o pouco interesse do PT no caso.
     O principal acusado pelo crime, Sérgio Gomes da Silva, conhecido como Sombra, será julgado separadamente.
     E ainda teremos o julgamento do Mensalão, no STF. O ano de 2012 promete ser inesquecível.

Falta dignidade em Brasília

     Quando eu, em tom desafiador, exijo isonomia no tratamento dado a todos os fatos, por parte do Governo Federal, não estou, apenas, sendo irônico. Eu gostaria, mesmo, de viver num país onde não vigorassem determinadas pilantragens, muito comuns - diga-se - nos últimos anos dessa nossa pobre república.
     Veja aborda um desses casos, na sua última edição: o impressionante depoimento de uma advogada, Christiane Araújo de Oliveira, sobre sua participação num bilionário esquema de fraudes perpetrado contra os cofres públicos, graças a seus estreitos e, ao que tudo indica, tórridos relacionamentos com o secretário-geral da Presidência, o ex-seminarista e ministro Gilberto Carvalho, e com o atual ministro do STF, Dias Toffoli, quando sua excelência ocupava o cargo de advogado-geral da União.
     A tal advogada, em depoimento formal à Polícia Federal, contou que conseguiu se infiltrar no Governo para favorecer uma espécie de máfia especializada em assaltar o dinheiro público. Chegou - nos conta a revista - a sacramentar a indicação de um dos quadrilheiros para cargos importantes no Planalto, graças, principalmente, à influência do - ficamos sabendo - íntegro ministro Carvalho.
     Está tudo lá, na investigação oficial da PF, inclusive suas transações com o ministro Dias Toffoli, envolvendo gravações feitas pela máfia para comprometer personagens da oposição. E há mais. Christiane contou, também, com detalhes, o que teria visto, ouvido e ... feito, nos cômodos mais íntimos do governo que vem se perpetuando há nove anos. De acordo com Veja, os detalhes chegam bem perto da sordidez.
     Apesar de tudo isso, de todas as safadezas explícitas, o depoimento da advogada foi suprimido, misteriosamente, das investigações oficiais sobre o desvio de dinheiro público. Nosso distinto público, com isso, ficou privado de conhecer determinadas intimidades do poder, constantes de gravações oficiais.
     Alguém poderia perguntar que critérios são esses, que possibilitam - com justiça - a divulgação das gravações das conversas telefônicas entre policiais baianos em greve e alguns políticos, e impedem que o mesmo aconteça com fitas formalmente gravadas pela Polícia Federal e que apontam para novos escândalos no primeiríssimo escalão do Governo? Confesso que não sei. A única resposta que me vem é simples e objetiva: essa gente que ocupou Brasília há nove anos não tem o menor compromisso com a dignidade.

Reféns das ideias sujas

     É claro que eu comungo com o alívio causado pelo reconhecimento da validade imediata da legislação que restringe o acesso a cargos eletivos a pessoas teoricamente idôneas - a chamada Lei da Ficha Limpa. Condenados por tribunais e punidos por entidades como a OAB e o CRM não mais poderão pleitear os votos de uma parcela enorme da população que exerce seus direitos sem o cuidado que seria exigível.
     Embora pessoalmente satisfeito com a depuração que a lei vai propiciar, não posso deixar de exibir meu inconformismo com um fato que parece passar ao largo das discussões: não há punição para porcalhões ideológicos, mentirosos contumazes e demagogos sempre de plantão.
      Sonho com uma legislação que puna não apenas os criminosos - digamos - comuns, aqueles punidos por atos, mas também os que assaltam a dignidade, estupram a verdade, tentam assassinar liberdades.
     Na minha utopia, o político que dissesse hoje algo divergente do que falou e defendeu no passado, quando era da situação ou da oposição, seria sumariamente afastado, por falsidade ideológica, um crime tão grave quanto um assalto direto aos cofres públicos.
     Bastaria apresentar a gravação de um discurso vagabundo na porta de alguma fábrica, estimulando vandalismos, e compará-lo com outro, no qual condena atos semelhantes aos que exortava. Ou uma diatribe contra privatizações, por exemplo, ao lado da defesa da venda de algum serviço público, anos depois.
     Enquanto os crimes ideológicos contra uma população desinformada, limitada culturalmente e dependente de benesses continuarem a ser executados, com a frieza exibida pelos grandes mafiosos, vamos continuar reféns de fichas e ideias sujas.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Combustível da empulhação

     Sempre que me atrevo a comentar algo que esbarre, mesmo levemente, na área econômica, procuro fazer a ressalva: é um terreno selvagem para mim. Nunca andei por suas trilhas, apesar das quase quatro décadas passadas em redações. De longe, admirava os conhecimentos de Ismar Cardona, Luizinho, Johnson, Angela Santângelo, Míriam Leitão, Tininha (*) e tantos outros jornalistas com os quais dividi os corredores do O Jornal, O Globo e Jornal do Brasil.
     Admirava - e continuo admirando - a capacidade que gente parecida comigo tinha e tem de desvendar equações e gráficos, antecipar crises, explicar subidas e descidas do dólar, avanços e recuos das bolsas. Eu, no máximo, consigo executar duas simples operações: somar os gastos e diminuir do salário. O resultado - para meu desconforto - é sempre negativo, ou tendendo a ser.
     Mesmo assim, assumindo minhas limitações, arrisco, eventualmente alguns comentários, especialmente quando o assunto fala diretamente ao meu bolso, semelhante em 'profundidade' ao da maioria absoluta da população. Mais recentemente, tenho mergulhado no absurdo preço dos combustíveis.
     O Globo de hoje mostra que eu estava andando no rumo certo, embora - em alguns momentos - por caminhos diferentes. Nossa gasolina está entre as mais caras do mundo, apesar da tal autossuficiência em petróleo, anunciada com fanfarras no último governo. O brasileiro paga o dobro, por exemplo, do que é cobrado nos Estados Unidos e na Rússia e mais do que italianos, franceses e japoneses. Só há doze países onde o combustível é mais caro, a maioria do absolutíssimo primeiro mundo.
     Se esses dados, por si só, não fossem suficientes para nos encher de vergonha, paira no ar da nova Petrobras a ameaça de reajuste no diesel e na gasolina, para acalmar acionistas. Importamos muito, alegam, com a candura de quem jamais anunciara a tal autossuficiência. Eu sei que ter petróleo não é sinônimo de gasolina nas bombas. Não temos capacidade instalada para o refino que nosso desenvolvimento exige. Mas foi essa ideia que me enfiaram goela abaixo.
     E não estou, sequer, falando do acintoso custo do álcool, resultado de investimentos em uma tecnologia mais limpa e com a cara do país, que não depende de perfurações, pré-sais e quetais. Quando lembro que o uso do álcool - por falta de estímulos, previsão e ganância  - é inviável há algum tempo, aumenta ainda mais a sensação de desconforto por ser obrigado a conviver com tanta incompetência e demagogia.

(*) Todos os citados são, ou eram, jornalistas da área econômica. E são citados como eram conhecidos por todos nós, muitas vezes por apelidos ou diminutivos carinhosos.

O Judas do Planalto

     Como se estivesse exercendo um ato de contrição, o ministro Gilberto Carvalho, olhos, ouvidos e tudo o mais de Lula no ministério da presidente Dilma Rousseff, cumpriu ontem mais uma das tarefas (é uma espécie de obreiro) a que se submete regularmente como um cordeiro não de Deus (foi seminarista), mas do PT: reuniu a liderança da bancada evangélica no Congresso e pediu perdão por palavras e atos despejados em recente reunião pública.
     Responsável direto por mais um desgaste com a tal bancada, que tem entre seus destaques o ex-governador e atual deputado federal Antony Garotinho, Gilberto Carvalho desmentiu o que tinha dito de mais relevante: a necessidade de enfrentar o avanço das seitas evangélicas sobre a tais novas classes B e C que estariam surguindo no país, sob as bênçãos da 'Era Lula'.
     Como católico teoricamente fervoroso - embora tenha afirmado sua adoração pelo ex-presidente, por quem disse que daria a vida -, o ministro teria quebrado o protocolo de não agressão com a legião de religiosos que mais cresce no país.
     Apertado, repetindo Judas, negou três vezes suas crenças, face à legião de juízes políticos e aos riscos justamente num ano eleitoral: a frase alertando para o risco do avanço evangélico; a defesa do direito ao aborto, sempre acenada pelo seu partido; e o apoio ao casamento de homossexuais, outra das 'bandeiras' progressistas do PT que foram esquecidas no fundo do baú onde foram sepultadas as convicções 'ideológicas' históricas.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

O preço do Mensalão

     A condenação do publicitário mineiro Marcos Valério a pouco mais de nove anos de cadeia, por crimes financeiros, não me sensibilizou. Até agora, e até que me provem o contrário, ele foi o único relativamente punido pelo maior escândalo da história brasileira, o Mensalão do governo Lula, que expropriou os cofres públicos para beneficiar companheiros e aderentes numa escala jamais vista no país.
     Todos os demais - e o ex-presidente Lula é o exemplo mais gritante de impunidade - estão livres, leves e soltos, embora 38 deles estejam sujeitos ao julgamento que deve ocorrer ainda este ano no Supremo Tribunal Federal.
     Marcos Valério, e disso não resta dúvida, foi apenas o manipulador, o instrumento para os saques, para o uso bandido do dinheiro público, o operador do crime. Os articuladores - na visão da Procuradoria geral da República - foram os líderes do PT, destaque absoluto para o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, apontado, no processo, como o chefe da quadrilha.
     A Folha e praticamente todos os jornais divulgaram hoje a sentença condenatória de Marcos Valério, proferida pela 11ª Vara Federal. Por ela, fica evidenciado que houve o desvio de algo em torno de R$ 90 milhões, supostamente usados em repasses ao PT e apaniguados.
     A cada dia, apesar das tentativas e manobras efetuadas ao longo dos últimos seis anos, fica mais difícil esconder a verdade. O espaço para manobras e vigarices jurídicas está acabando. O Mensalão vai cobrar seu preço.

Um espaço para lembranças

     Tenho tido muito prazer em participar de um grupo que se formou para relembrar um pouco da história de um grande jornal, o O Jornal, o 'órgão líder dos Diários Associados', cadeia fundada por Assis Chateaubriand e que teve papel preponderante no Brasil ao longo de algumas décadas.
     Fui convidado por um antigo companheiro de redação e excelente jornalista, Eduardo Mamcasz, que por lá chegou algum tempo depois de mim, mas lá ficou depois que parti para O Globo, onde novamente nos encontramos.
     O Jornal, para os que não lembram, foi um marco na história do jornalismo, ao reunir colaboradores de enorme qualidade, responsáveis por inovações que vingaram e marcam os jornais até hoje.
     Tive o prazer de trabalhar com alguns, aos quais admirava, como Dona Elza Marzulo (era assim que a chamávamos), aquela que inventou o segundo caderno, na época, o espaço para a mulher; Quirino Campofiorito, crítico de arte e um artista, ele mesmo; Álvaro Vieira, o jornalista que virou médico e inaugurou o noticiário sobre saúde; Angelo Regato, um símbolo do jornalismo fotográfico; Terezinha Monte, a cronista do carnaval, por excelência. Convivi com João Calmon, Gomes Maranhão, Austregésilo de Athayde, Paulo Cabral e com a presença ainda muito viva de Assis Chateaubriand, que morrera apenas seis meses antes de eu entrar pela primeira vez em uma redação.
     Estive ao lado de Ari de Carvalho, na sua estreia no Rio de Janeiro, e lamentei o fracasso da primeira edição a cores de um jornal carioca (chegamos às bancas no início da tarde, algo terrível para um matutino). Vivi com a equipe contratada à velha Última Hora, chefiada por Pinheiro Júnior, alguns momentos de renovação e vigor. Tive a sorte de já não estar presente quando saiu a última edição.
     A ideia do grupo, ao qual me integrei inteiramente, é reviver momentos desse antigo símbolo, uma escola que ajudou a formar excelentes profissionais. O endereço: "O JORNAL" DIÁRIOS ASSOCIADOS/ RIO DE JANEIRO".
     O Jornal, aliás, tem um enorme e merecido espaço no meu ensaio 'Nariz de Cera', no qual conta algumas histórias passadas ao longo de 40 anos em redações.

Combustíveis e eleições

     Das muitas perguntas e respostas que fazem parte da entrevista da nova presidente da Petrobras, Graça Foster, a O Globo, três me chamaram a atenção, em especial, não pelo que informaram, explicaram, elucidaram, mas pelo que deixaram de dizer.
     A mais diversionista, para mim, é a que fala da enorme queda no lucro da empresa e a relaciona, entre outros fatores, ao aumento da importação combustível. É isso mesmo: em tese, a empresa compra por um preço, no exterior, e vende mais barato, aqui, para suprir à demanda.
     E a tal autossuficiência, tão decantada em discursos ufanistas e explorada sem qualquer decoro na campanha eleitoral? São coisas distintas - me sopra um resquício de conhecimento dessa área. Uma coisa é ter o petróleo suficiente para abastecer as necessidades do o país. Outra, muito distinta, é transformá-lo no que realmente importa: combustível.
     Que havia reservas de petróleo, todos sabiam há muito tempo. Faltava apenas a tecnologia necessária à sua exploração em escala. E foi isso que aconteceu: nós, é verdade, já podemos explorar em águas produndissimas, por exemplo. E até exploramos. Mas jamais tivemos capacidade para atender à demanda por diesel e gasolina, que é crescente.
     Por isso, importamos os produtos já refinados e continuamos ao sabor das variações desse mercado instável e sujeito a 'ahamadinejadices e 'aiatolices'. Aquela fantasia toda, exposta aos simplório povo brasileiro, nada mais era do que propaganda eleitoral, a mais vagabunda, por mentirosa.
     Como consequência dessa conta que não fecha - compra por 2 e vende por 1 -, já se prenuncia um novo reajuste nos preços, que já alcançaram um patamar intolerável. Talvez não agora, ou nos primeiros meses do ano. Afinal, 2012 é um ano eleitoral e o PT está jogando tudo na eleição do prefeito de São Paulo. Aumento de preço nos combustíveis seria uma péssima propaganda, e a companheirada sabe disso. Mas os acionistas não estão gostando de ver seu lucro desabar. O governo, o maior deles, banca, no entanto, essa decisão, que é política.
     A outra questão levantada pelas excelentes repórteres que cobrem a área refere-se ao comportamento pessoal de nova presidente da Petrobras. Ao falar sobre o que não telera, foi objetiva: "Eu não tolero sentar com uma pessoa despreparada e que quer impor um tom de autoridade". Seria impossível trabalhar com o ex-presidente.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

O conselheiro da presidente

     A notícia está lá, no Estadão, como se fosse o fato mais comum do mundo, algo meio genérico, por assim dizer. O presidente (é isso mesmo, presidente!!!) do PDT, o ex-ministro Carlos Lupi, anunciou hoje, depois de encontro no Palácio do Planalto com a presidente Dilma Rousseff, que será chamado para discutir o nome do sujeito que vai ocupar, de fato e de direito, a pasta do Trabalho, de onde ele, Lupi, foi expurgado e que faz parte do feudo de sua agremiação.
     Como podemos comprovar, a gerente da limpeza aposentou a vassoura, ou - quem sabe? - a passou para a nova presidente da Petrobras. Aliás, para ser justo, esse história de limpeza no governo não passou de um anorme embuste, uma fantasia estimulada pelo palácio do Planalto, mas jamais assumida formalmente. Afinal, não ficaria 'bem' se a presidente anunciasse que estava demitindo ministros por vigarice, já que todos foram indicados por seu antecessor, com sua total e entusiástica aprovação.
     Com Carlos Lupi - aquele que jurou amor eterno à presidente, depois de desafiá-la publicamente - aconteceu a mesma coisa que ocorrera com os defenestrados anteriormente e que vai acontecer com os futuros 'demissionários' (há uns dois ou três prontos para levar um chute no traseiro). Saiu "a pedido", para se defender melhor fora do cargo.
     Mas a punição ficou nisso. Não há processo algum. Saiu do ministério mas continua indo ao palácio, como parceiro do governo e integrante do Conselho Político, que congrega presidentes de partidos da 'base' (PP, PMBD, PTB e por aí vai ...), ministros e líderes.
     É a cara do atual Governo, sem máscaras.

A volta de Pimentel

     Não adiantou muito o ministro do Desenvolvimento Fernando Pimentel ficar quietinho no seu canto, longe dos holofotes, torcendo para uma desgraça qualquer substituir o interesse dos jornais e revistas pelo seu nome e ações. Eis que ele volta às manchetes - como a de O Globo de hoje -, ainda por conta da sua estupenda performance como consultor de empresas justamente entre a saída da prefeitura de Belo Horizonte e o engajamento formal na candidatura da atual preseidente Dilma Rousseff.
     Provocada, a Comissão de Ética Pública da Presidência da República viu-se obrigada a investigar a dinheirama - R$ 2 milhões - que o preclaro ministro recebeu por trabalhos que - comprovou-se em seguida - jamais foram realizados. Toda esse dinheiro - uma pequena Mega-Sena - foi recebido em pouco mais de um ano de - digamos - 'atividades'. A maior parte do bolo foi distribuída, não por acaso, pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais, interessadíssima - por óbvio - em cair nas boas graças da prefeitura, onde Pimentel mantém o 'prestígio' inabalado, e do, então, futuro governo federal.
     Como seus outros companheiros de ministério demitidos - perdão, que se 'demitiram para mais bem se defender das acusações de corrupção' -, o atual ministro da Fazenda negou tudo e chegou a argumentar, na época em que O Globo revelou ao mundo seus dotes extraordinários como 'consultor', que os ganhos eram compatíveis com sua formação. Fez um exercício de diversionismo, subtraiu daqui, dividiu dali e concluiu que ganhara pouco mais de R$ 50 mil por mês.
     Na verdade, dividindo os R$ 2 milhões por doze meses de 'trabalho' , ele recebeu três vezes mais do que argumentou. Como ficou evidenciado que ele não trabalhou um dia sequer, podemos concluir que a dinheirama teve outros propósitos, que não o de pagar por serviços prestados.
     "Mas ele ainda não era ministro", pode argumentar a companheirada. É verdade. Ele teria prevaricado antes de assumir o cargo para o qual já estava previamente acordado. O que seria, para mim, um agravante, e não um atenuante. Sabendo que participaria do Governo, não teve o menor constrangimento em adotar um comportamento indigno.
     Seguindo nesse raciocínio, Escadinha, FB, Elias Maluco e assemelhados poderiam fazer parte do primeiríssimo escalão do Governo Dilma. Afinal, teriam cometido crimes antes da eleição. Não fizeram parte, é verdade, mas parece que inspiraram boa parte da turma.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

No PT, manda quem pode

     Mais uma queda de braço no PT, com resultado garantido: contra a vontade do que parece ser a maioria, o partido vai, sim, fechar um acordo com o prefeito de São Paulo e presidente do PDS, Gilberto Kassab, nas próximas eleições municipais. A certeza vem de um aviso soprado por um porta-voz do ex-presidente Lula, anunciando a antecipação da parceria para o mês que vem, segundo nos informa a Folha.
    A senadora Marta Suplicy, que vem agindo como se fosse uma vestal, mais uma vez, será obrigada a suportar calada a presença de um desafeto nos palanques eleitorais, assim como se viu obrigada a engolir a candidatura do ex-ministro Fernando Haddad e, antes, compelida a servir os copos de água que a então candidata Dilma Rousseff sorvia nos palanques.
     No PT, fica mais evidente a cada dia, manda quem pode - e Lula pode tudo e mais alguma coisa - e todos obedecem, não apenas os que têm juízo. Não há lugar para dissidentes ou descontentes.
     E não poderia ser diferente. Quem essa turma do PT pensa que é, para vetar alianças com um Kassab desses da vida? Mais pura? Só dando gargalhadas. Os últimos nove anos serviram para demonstrar, à exaustão, a vigarice dos discursos, da ideologia de botequim. Nunca, na história brasileira, um governo cometeu tantas agressões à ética, à dignidade, à probidade.
     Do Mensalão - o maior assalto aos cofres públicos já registrado - às propinas recebidas pelo ex-presidente da Casa da Moeda. Da parceria absoluta com o ex-presidente José Sarney aos salamaleques ao também ex-presidente Fernando Collor. Da parceria pública e digna da privada com partidecos de aluguel, à distribuição de cargos entre partidões sempre à venda.
     Essa tem sido a história da Era Lula, que já dura infindáveis nove anos e - pelo que se prevê - deve durar outros tantos, pelo menos.
     E eles ainda se acham no direito de vaiar o Kassab.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Histórias de Júlia e Pedro (Capítulo 36)

     Uma deferência

     Bebês de jovens amigos - nascidos e por nascer - fazem constantemente com que eu me lembre de momentos passados de Júlia, em especial. Afinal, ela já está uma mocinha, com seus oito anos e meio. Pedro, aos quatro anos, ainda está mais para bebê do que para um menininho.
     Um desses momentos tem tudo a ver com o carinho que ela tem por mim - e que me encanta, constantemente. Não sei bem a razão - essas coisas não têm explicação lógica -, desde cedo a chamo de 'Juquinha', um apelido que só é usado por mim. Sai naturalmente, sem que eu sinta.
     Há algum tempo, quando o Colégio Pedro II (onde ela vai começar a cursar, este ano, a terceira série do ensino fundamental) introduziu seus novos amigos no nosso dia a dia, um deles estranhou quando me ouvir chamar a amiga pelo apelido:
     - O nome dela é Júlia, não é Juquinha", me corrigiu.
     Não precisei explicar ou me defender. Júlia se antecipou com uma resposta imediata e direta:
     - Ele pode.
     Júlia é assim.

     A amiga de Júlia

     Esse mesmo amigo - na verdade, uma menina muito espirituosa e engraçada -, ao passar um fim de semana aqui na Pedra, olhou para mim, em um momento em que estávamos - eu, ela e Júlia - consultando alguma coisa no computador, e ponderou;
     - Você não parece avô. E não é meu avô. Como é que eu vou chamar você?
     Respondi que ela podia decidir, ficar à vontade. Júlia, por sua vez, lembrou:
     - O nome dele é Marco Antonio.
     Daquele momento em diante eu passei a ser apenas o "Marco", a quem ela chamava a todo momento.
     Essa é Isadora, amiga de Júlia, uma figura.

Globo e PT, tudo a ver

     Pode ser uma das teorias da conspiração que têm campo fértil na Internet. Uma daquelas verdades que se tornam absolutas e aceitas sem discussão. Eu, normalmente reajo a essas derrapadas da inteligência, frutos da desinformação e/ou da manipulação. Vou abrir uma exceção, no entanto, à última das versões, obrigado pelo atropelo dos fatos: a Rede Globo fez, sim, de tudo um pouco e um pouco de tudo para esvaziar a greve de policiais.
     Via-se, claramente, o temor do prejuízo financeiro que seria provocado caso o carnaval fosse atingido pelo movimento grevista. Uma programação inteira, com patrocínios milionários, estava arriscada a escorrer pelas grades de bueiros das ruas de Salvador e do Rio de Janeiro.
     Para desarticular o movimento grevista (equivocado na sua execução), foram usadas todas as armas à disposição da rede, incluindo as gravações de conversas entre líderes e políticos. O constrangimento dos apresentadores do Jornal Nacional, ao usarem artifícios normalmente combatidos por eles mesmos, ficou óbvio. Especialmente quando o uso de parafernálias eletrônicas contra 'companheiros trabalhadores da polícia' não foi denunciado pelo demagogos de plantão no PT.
     Foi a mais estrondosa e vitoriosa parceria entre os príncipes do poder no Brasil. Não li, em momento algum, um artiguete sequer denunciando a invasão dos direitos, como na época em que Veja gravou, recentemente, o encontro de próceres governistas com José Dirceu, o chefe da quadrilha do Mensalão (segudo denúncia da Procuradoria-Geral), em um hotel em Brasil.
     Sindicatos e jornalistas avulsos, porém bem pagos, não se manifestaram contra as artimanhas globais. Houve um silêncio cúmplice e que expõe, mais uma vez, a vigarice política que domina essa quadra da nossa existência.

Janelas abertas

     "A paisagem da janela que se vê da oposição é diferente da que se vê no governo".
     A frase acima, publicada em O Globo, foi dita pelo ex-quase tudo do PT, José Jenoíno, um dos réus no caso do Mensalão e atual assessor do Ministério da Defesa, onde convive em paz e harmonia com oficiais-generais de todas as origens. É a confissão mais - vá lá - 'singela' do estelionato ideológico praticado pelo Partido dos Trabalhadores desde praticamente sua criação.
     Com essa frase simples, o ex-guerrilheiro tenta explicar, também, o comportamento do seu partido desde que assumiu o poder, há onze anos. O comportamento - digamos - republicano, administrativo. Não os recorrentes escândalos em todos os escalões, inexplicáveis e inaceitáveis sob qualquer ângulo.
     Genoíno, confrontado com o maior pacote de privatizações já registrado na nossa história (além dos aeroportos e estradas, o país cedeu parte da exploração do petróleo), tenta justificar as atitudes vagabundas de seus companheiros ao longo dos anos, quando mentiam e transmitiam para a massa desinformada e ignorante informações desencontradas, fruto de um pacote de iniquidades.
     O PT que privatiza, sob as bênçãos dos movimentos sindicais e estudantis, totalmente cooptados e dependentes financeiramente do Governo, é o mesmo que mobilizava hordas de vândalos para quebrar e incendiar ônibus, atacar executivos que participavam de pregões durante o processo de privatização realizado nos governos de Fernando Henrique Cardoso. É o mesmo PT que inventou um projeto de venda da Petrobras, atribuindo-o ao PSDB e aliados.
     É também, o mesmo partido que promovia greves periódicas em todos os setores da atividade e exibia as marcas da violência policial que era provocada deliberadamente para esse fim. Como diria o maior ilusionista da nossa história, o ex-presidente Lula, nunca em todos os tempos um governo democrático prendeu tantos 'companheiros grevistas' quanto agora. Mas 'esses' grevistas certamente são classificados como de direita. Os bons grevistas são os que fazem baderna em áreas comandadas pela Oposição, como São Paulo, o estado mais visado.
     E eu sequer abordei a corrupção que vem marcando essa 'Era Lula', a maior e mais escandalosa jamais registrada no país.
     A paisagem é outra, de fato, Genoíno. É uma paisagem de terra arrasada pela vigarice política.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Onde está a propina?

     A Folha exibe hoje a confirmação do suborno praticado na Casa da Moeda, quando presidida pelo petebista Luiz Denucci. Segundo denúncia de uma operadora financeira inglesa, o pagamento de propina no valor de US$ 6,15 milhões foi feito em dinheiro vivo. O acusado, é claro, desmente. Mas acredito que não seria muito difícil rastrear contas do ex-nomeado pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, e descobrir onde está essa dinheirama. Ou para quem foi repassada, total ou parcialmente.
     Quando quis, o governo petista de Lula - que continua no poder - vasculhou as contas de um simples caseiro de Brasília, na ânsia de encontrar uma desculpa para as estripulias do ex-ministro Antonio Palocci em uma mansão bem tolerante do Lago Sul da capital. Aliás, sendo verdadeiras as notícias que nos chegam, o ex-ministro, que conseguiu a proeza de ser demitido duas vezes, continua muito ativo na Capital Federal.
     Voltando ao tema principal: um dinheiro desse tamanho não desaparece por obra e graça do espírito santo. Tem que estar em algum lugar, nem que seja no exterior. Ou, talvez - e isso é uma especulação à qual eu me permito, em função dos antecedentes da Era Lula - explique, por exemplo, a cobertura de buracos em determinadas campanhas eleitorais, especialmente em São Paulo.
     O PTB - dono do feudo - insiste em afirmar que o ex-presidente da fábrica de dinheiro foi uma indicação pessoal do ministro Mantega, que deveria - se vivêssemos em um país mais sério - estar prestando contas à Justiça.
     Esperemos o prosseguimento das investigações, se é que vai haver algum. Os últimos exemplos de demissão por comportamento indigno mostram que não há interesse em aprofundar questões semelhantes. Todos os acusados - literalmente todos - estão livres, leves e soltos.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

O rato que ruge

    Leio no Estadão que a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, está inconformada com o fato de a Inglaterra enviar um de seus navios mais modernos para operações nas Ilhas Falklands, que os argentinos chamam de Malvinas.  Seu governo até registrou um protesto formal nas Nações Unidas e instruiu o embaixador na ONU a se reunir com o atual presidente do Conselho de Segurança (que é do Togo) e com o chefe de um tal Comitê de Descolonização, um cubano.
     Um apoio, pelo menos, vai conquistar, o da democrática ilha caribenha, sempre a postos para lutar contra os opressores. Talvez nosso hermanos estejam frustrados com o comportamento britânico, que ignora solenemente os miados portenhos. Ou estivessem esperando o envio de algo semelhante a  duas barcas da antiga Cantareira.
     A rainha, no entanto, às vésperas de comemorar 60 anos de reinado, mandou, antes do navio, seu neto Willians, para exercer missões de treinamento. Ao mesmo tempo, avisou aos eventuais navegantes que porventura imaginam aparecer à sua frente: as Falklands são inglesas, pelo menos até que seus habitantes decidam o contrário.
     Isso quer dizer o seguinte, em síntese: fiquem quietos no seu continente, para não levar outra surra.