sexta-feira, 31 de maio de 2013

Cala a boca, Maduro!!!

     Cheguei a ter dúvidas se seria possível algum governante venezuelano ser ainda mais lastimável do que o insepulto Hugo Chávez. As primeiras aparições de Nicolás Maduro, o atual presidente dessa pobre republiqueta vizinha, acionaram o meu alerta que detecta elementos estúpidos. Talvez fosse possível, sim. Hoje, ao ler as mais recentes boçalidades emanadas daquele descerebrado, fiquei quase convencido. Se ele ainda não é pior do que seu antecessor, a quem chama demagogicamente de 'pai', já está caminhando para igualá-lo em sandices.
     Assim como Chávez fez recorrentemente, Nicolás Maduro acaba de anunciar que o governo colombiano estaria se preparando para assassiná-lo. E desce a detalhes: seria envenenado com uma substância que iria provocar sua morte lenta. O Globo, ao publicar essa pequena antologia de idiotices, lembra que ele acusou 'inimigos' - querendo referir-se, é evidente, a americanos e colombianos - de terem provocado o câncer que consumiu seu mentor.
     O novo surto de Maduro foi detonado pelo simples fato de o presidente colombiano, Juan Manuel Santos, ter recebido o candidato oposicionista, Henrique Capriles, que visitava o país. Não passa pela cabeça desse representante do atraso que haja cordialidade entre políticos, respeito. Se alguém conversa com seu principal opositor, passa a ser seu inimigo. É cúmulo da pequenez.
     E o que mais grave. Esse comportamento absurdo foi compartilhado por outros representantes dessa era nebulosa que se instalou na Venezuela. Um dos bestalhões de plantão chegou a afirmar que o presidente do país vizinho era o "diabo", e que nada tinha de "santo", como sugere o nome. Sequer foi original. Hugo Chávez, em uma de suas mais memoráveis representações histriônicas, na ONU, referiu-se ao cheiro de enxofre que havia no palco, ocupado pouco antes pelo então presidente americano George Bush.
     Por bobagens semelhantes, Chávez ouviu, sem reação, o rei Juan Carlos, da Espanha, mandar que ficasse calado. Está na hora de o mundo civilizado politicamente dar um cala-boca nesse sujeito homofóbico e ignorante que preside a Venezuela. Infelizmente, não é o caso do Brasil.

 

 

 

quinta-feira, 30 de maio de 2013

O símbolo do chavismo

     A notícia não poderia ser mais representativa do milagre venezuelano operado nessa lastimável Era Chávez, que transcende à morte do seu inspirador. Segundo nos conta O Globo, "a polícia da Venezuela diz que apreendeu 2.500 rolos de papel higiênico em uma invasão, durante a noite de quarta-feira , a um armazém clandestino que guardava bens escassos".
     O simbolismo é de uma enorme força. Em um país com a economia destroçada, inteiramente dependente da produção de petróleo, não é de se estranhar que o papel higiênico tenha se tornado um objeto de desejo da população, capaz de estrelar o mercado negro .
     Em Cuba, essa medíocre ditadura que ainda inspira grande parte das lideranças da América do Sul, os infelizes (muitos não sabem, mas são infelizes, sim) súdidos dos irmãos Castro há muito tempo usam o 'jornal' oficial do Partido Comunista, o Granma, como substituto do acessório dos banheiros. Pelo menos para esse fim ele, o jornal, serve.
     Na Venezuela de Nicolás Maduro a sociedade convivia com confortos desconhecidos em Cuba. A crise, que qualquer pessoa razoavelmente informada sabia que era questão de tempo, está expondo com mais nitidez a fragilidade de um projeto de poder assentado na riqueza mineral.
     Abundante, o petróleo alimentou o populismo chavista, embalado pela alta de preços no mercado internacional. É inegável que houve, paralelamente, um processo de redução da miséria, oriundo da distribuição de benesses conquistadas com a exportação do produto, transformado em moeda de troca.
     Com dinheiro sobrando, Hugo Chávez não teve o cuidado de ampliar a capacidade industrial do país. A agricultura regrediu. A Venezuela passou a comprar quase tudo o que precisava. A conta da irresponsabilidade está começando a ser paga.

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Violência e trauma

     Se eu pensar na estupidez do assassinato de mais um dentista em São Paulo, devo agradecer pela sorte de a perda do quarto carro que atingiu minha mulher ter terminado, apenas, com prejuízos materiais e emocionais, ontem à noite, aqui na ainda calma e pacifica Pedra de Guaratiba, que se prepara para receber o Papa Francisco.
     Poderia ter sido muito pior, não há dúvida. Os dois jovens (quase adolescentes) que saltaram de outro carro, dirigido por um terceiro comparsa, e a renderam poderiam ter atirado nela e na amiga, que acabara de deixar na porta de casa, por puro prazer. Eles sabem que não ficariam 'apreendidos' por muito tempo.
     Poderiam, e não posso dimensionar o que seria pior, tê-las levado como reféns, no nosso simplório Celta. Poderiam tê-las agredido, ou queimado, ao descobrirem que não levavam dinheiro em espécie, apenas celulares baratos, suas bolsas repletas de tintas e pincéis e o esboço de um quadro que retrata a bela estação ferroviária de Marechal Hermes, onde nos criamos e nos conhecemos.
     Eu sei de tudo isso, mas não consegui, ainda, racionalizar. Além do enorme sentimento de frustração, de impotência, há uma enorme revolta provocada pelo trauma pessoal gerado por esses desajustados e, sim!, pelo impacto no orçamento. De um momento para outro perdemos a tranquilidade e o carro que atendia perfeitamente às nossas necessidades e que planejávamos manter por um bom tempo.
     Das quatro vezes, duas foram furtos. As outras, assaltos, mesmo, com bandidos armados. Já fui assaltado, também. Dois criminosos me renderam em um sinal no centro da cidade, na altura do Campo de Santana, ao meio-dia, e levaram a aliança que brilhara quando levantei a mão. Impotente, além da perda, levei uma série de tapas, sob a mira de um revóver que um dos assaltantes afirmava que iria usar para estourar minha cabeça.
     Minha filha mais velha também foi assaltada, quando esperava um ônibus naquele ponto da PUC. Um pivete queria sua bolsa e reforçou o pedido com um soco que quebrou seus óculos e machucou seriamente o nariz. A mais nova também foi vítima dessa cidade, em um engarrafamento na Avenida Presidente Vargas. O vagabundo levou sua carteira.
     Normalmente, não seria capaz de fazer justiça pessoalmente. Se tivesse chances, talvez perdesse o controle caso testemunhasse as violência cometidas contra minhas filhas. Olhando para dentro, entretanto, confesso que não tenho pena de bandidos. Não me abalo quando leio ou escuto que a polícia deu fim a alguns deles. Penso, antes, nos milhões de jovens que não tiveram oportunidades e mantiveram a dignidade.
     Os nossos direitos estão em primeiro lugar.

terça-feira, 28 de maio de 2013

Sabatina no Senado

     O título da matéria de Veja - comum a todos, com pequenas variáveis -, por si só, é sintomático: "Futuro ministro do STF será sabatinado pelo Senado dia 5". Em tese, o advogado carioca Luís Roberto Barroso deveria depender da aprovação dos senadores para ser ministro. Na verdade, prevalecendo os termos da Constituição, a indicação sequer caberia ao presidente da Repúbica, a quem compete, formalmente e apenas, a nomeação, após a indicação (que pode ser feita pelo próprio STF) e a aprovação pelo Senado.     É o que explica o professor e promotor mineiro André Luís Alves de Melo, em artigo para o site Jusnavigandi. Segundo ele, o ato do presidente, ao contrário do que vem sendo seguido no Brasil, que acompanha a tradição americana, "é o último, e não o primeiro, como ainda cremos". Para o jurista, estaria havendo uma confusão entre nomeação e indicação: "Não se nomeia para escolher, mas sim o contrário, escolhe-se pelo Senado para ser nomeado pelo Presidente da República", explica.
     Isso, sem falar nos antecedentes. Como destacou o historiador Marco Antonio Villa, em artigo publicado ano passado, quando a indicação do hoje ministro Teori Zavascki, apenas cinco nomes foram vetados pelo Senado Brasileiro em todos os tempos. O último, o médico baiano e, depois, prefeito do Rio, Cândido Barata Ribeiro, vetado em sessão secreta, ainda no século 19. Com um agravante: ele já estava no cargo e foi obrigado a sair, por não ter o tal 'saber jurídico' necessário ao cargo.
     Na verdade, e o historiador destaca isso, foi uma derrota imposta, pela oposição, ao presidente da época (1894), Floriano Peixoto.
     Sem correr esse risco, o futuro ministro já pode encomendar a toga. Se me fosse conferido esse direito, no entanto, gostaria que ele respondesse a duas perguntas simples e objetivas, baseadas em destaques levantados por nossos jornais e revistas. Vamos a elas:
     1 - Apesar de todas as evidências e do clamor italiano o senhor ainda acha que o terrorista e assassino Cesare Battisti, seu antigo constituído, é inocente e merece viver livre, leve e solto aqui no Brasil?
     2 - Depois de tantas provas de malfeitos e dos debates produzidos no julgamento do Mensalão do Governo Lula o senhor continua "admirado" com a obstinação do ex-ministro Jose Dirceu na luta, em vão, para evitar a cassação de seu mandato?

E daí?

     Uma notícia publicada hoje pela Veja, entre outros, me levou a pensar em criar um espaço próprio para fatos absolutamente irrelevantes que são divulgados com destaque, a maioria apenas porque provém da área de pesquisas científicas. Uma seção nova nesse Blog, que certamente será alimentada com assiduidade: 'E daí?'.
     Abaixo, o primeiro exemplo das bizarrices que pretendo colher ao longo dos dias.
"Cientistas do Instituto Max Planck de Cibernética Biológica, na Alemanha, descobriram que os ratos são capazes de mover seus olhos em direções opostas, tanto no plano horizontal quanto no vertical. Usando câmeras em miniatura e sensores de movimento, os pesquisadores descobriram que cada olho do animal se move em uma direção diferente, a depender do posicionamento de sua cabeça".


Boatos e verdades

     Estou ficando preocupado. Concordei recentemente com a presidente Dilma Rousseff, quando ela afirmou, por caminhos tortuosos e sem se dar conta, que a ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, fora leviana ao acusar a oposição pelo caos no Bolsa-Família. Hoje, sou compelido a fazer coro ao ex-presidente Lula, quando diz que os boatos sobre o fim do programa ofendem a população. Ofendem, mesmo. E ele sabe bem disso, mestre que é em facotoides, em tergiversações.
     Explorar politicamente as enormes carências da população é algo deplorável, digno do repúdio de todos. Foi o que fez o Governo, ao se apressar a apontar culpados, ao mentir, insistir nas mentiras, deturpar os fatos e ao tentar, como evidencia, fugir à sua responsabilidade. Lula, apenas e mais uma vez, usa seu inegável prestígio com a parcela mais simplória do povo para transformar realidades.
     Fez isso ao longo da vida pública, especialmente no Mensalão, quando seu governo foi flagrado com as duas mãos nos cofres públicos. Depois de duas ou três versões, o ex-presidente não teve qualquer deconforto em deblaterar contra os malfeitores, apontados genericamente. Mais tarde passou a negar tudo, mas essa é outra forma de se esquivar, virar o jogo.
     Acuada pelas evidências da culpa, e sem ter como responder efetivamente, a turma do poder parte para a manipulação. Se houve algum boato sobre o fim do pagamento do Bolsa-Família - e ainda não há provas concretas -, ele teria surgido, não tenho dúvidas, da disputa entre forças do mesmo lado, que disputam o poder. Não por acaso, a tal central de telemarketing que teria disparado mensagens falsas (ainda não foi provado, também) ficaria no Rio de Janeiro.
     Não podemos esquecer que a companheirada é especializada em boatarias. A mentira sobre um projeto oposicionista que previa a venda da Petrobras é um dos exemplos mais marcantes. Espalhada, rendeu excepcionais dividendos eleitorais. 

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Mentiras oficiais

     O presidente da Caixa Econômica Federal mentiu e continuou mentindo por dias seguidos. O vice mentiu também e manteve-se mentindo. E a lastimável ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, brindou o país com mais uma de suas boçalidades ideológicas, ao culpar a oposição pelo caos registrado no sistema do Bolsa-Família, no fim da semana passada.
     Os três continuam nos seus muitíssimo bem-remunerados cargos. Talvez - e isso é uma hipótese plausível - a turma da Caixa seja atirada pela janela, para dar uma satisfação ao público e manter a fantasia de gerentona inflexível que acompanha nossa presidente. Dona Maria, no entanto, deve continuar por lá, como ficou, mesmo depois de ter causado um enorme mal-estar entre com as Forças Armadas, há alguns meses.
     Afinal, ela é da turma 'ideológica', digna representante do time que dá pontapés em empresários, quebra janelas, invade fazendas produtivas, devasta pesquisas e não admite o contraditório. É tão lamentável quando outros dignos próceres do Governo, como os ministros Marco Aurélio Garcia (aquele que ignorou o desespero das famílias de duas centenas de mortos no acidente com um avião da TAM, em Congonhas, e comemorou uma 'boa' notícia com um gesto pornográfico), Gilberto Carvalho (acusado formalmente de ser o transportador da propina arrecadada pelo PT em empresas de ônibus do interior paulista) e Fernando Pimentel (o que recebeu R$ 2 milhões por palestras jamais proferidas), para ficarmos apenas em alguns nomes que sintetizam o pensamento oficial.
     Poucos dão importância a esses 'detalhes' da nossa - digamos - política. Em um ou dois meses esses fatos lamentáveis terão desaparecido da memória coletiva, assim como sumiram as marcas deixadas pelos incontáveis escândalos dos últimos dez anos.
     Será que a Caixa se orgulha disso tudo?

A publicidade companheira

     Sou totalmente a favor do controle sobre o uso indevido, por políticos de todos os matizes, do horário eleitoral e dos meios de comunicação em geral. Portanto, nada a opor à decisão do Tribunal Superior Eleitroral de supender inserções do PSDB que exaltavam não o programa partidário, mas o virtual candidato à presidência da República, o insosso senador Aécio Neves.
     Mas não posso deixar de reconhecer que representantes do partido têm razão quando argumentam que o rigor não é aplicado em relação aos detentores do poder. No caso, a presidente Dilma Rousseff, em campanha pela releição há exatos dois anos e cinco meses, desde o primeiro momento em que tomou posse.
     Os primeiros meses de 2013, em especial, estão sendo usados agressivamente pelo Governo, através da massificação de peças publicitárias meramente eleitoreiras e - como destacou um senador qualquer da oposição - com o abusivo recurso às cadeias de rádio e televisão, convocadas para anunciar 'inauguração' de pedras fundamentais.
     Os gastos claramente desnecessáros da Petrobras e da Caixa Econômica Federal com publicidade chegam a ser agressivos, além de tendenciosos. É evidente que a preocupação mais forte é com a sedimentação da imagem do governo, visando à sua consolidação, à sua perpetuação no poder.
     "Todos fazem ....", alguém poderia argumentar. E daí? As fabulosas quantias destinadas à exaltação dos poderosos de plantão poderiam ser destinadas a projetos eficientes, que atendessem às necessidades da população. O que se vê, no entanto, é o dinheiro escorrendo pelo ralo, enchendo os cofres de agências e bolsos de companheiros e companheiras apadrinhados.

Empulhações oficiais

     A notícia está em jornais e revistas. O Ministério da Saúde terá que corrigir a campanha sobre a fiscalização de planos de saúde que está em todas as partes, desde o início do mês. A explicação remete à atribuição, que já existia há muito tempo (é da Agência Nacional de Saúde), e aos caminhos exatos (também já existia um 0800 para isso). Ficamos sabendo, então, que o ministro Alxandre Padilha, no afã de se capitalizar politicamente para concorrer ao governo de São Paulo, ano que vem, gastou R$ 10 milhões do nosso dinheiro.
     É exatamente isso: para fazer propaganda política pessoal, o ministro da Saúde - um dos setores mais carentes do país - meteu a mão em uma pequena fortuna que poderia estar sendo muito mais bem utilizada. E vai ficar por isso mesmo, não tenho dúvida. É assim, desse jeito, que funciona o esquema de empulhações que vem sendo enfiado goela abaixo da população e do qual o PAC é o maior exemplo.
     O tal Programa de Aceleração do Crescimento nada mais é - e jamais foi - do que a reunião de obras obrigatórias do governo. Tudo o mais é puro marketing. Com um agravante: os escândalos assumiram proporções 'paquidérmicas', sem que houvesse punição.
     Os programas da Caixa Econômica são muito semelhantes. Os números anunciados pelo Governo crescem, multiplicam-se, a cada ano. A realidade, entretanto, é muito mais prosaica: não foram construídos, sequer, 30% das unidades anunciadas. Mas ninguém se dá ao trabalho de ficar contando. Valem a fantasia e o sorriso da Camila Pitanga.

Parabéns, prefeito!!!

     Já deixei claro, em várias ocasiões, que tenho enormes restrições ao comportamento midiático e à inconsistência político-ideológica do prefeito Eduardo Paes. Reconheci, no entanto, também em mais de um momento, que ele vem sendo um bom gestor da cidade, embora não esteja fazendo nada além da obrigação que assumiu quanto postulou e conquistou o cargo.     
     Por isso, embora com relativo atraso, não posso deixar de registrar minha mais absoluta solidariedade a ele e à sua família, no episódio em que desferiu um par de socos em um personagem nefasto que decidiu agredi-lo. E não me importo se as agressões foram 'apenas' verbais. O tal músico extrapolou todos os limites aceitáveis do convívio civilizado. Eduardo Paes estava exercendo seu direito inalienável de jantar com a mulher, em paz.
     Em situações como essa, marcada pela boçalidade protagonizada pelo sujeito que decidiu desrespeitar não apenas o prefeito, mas o homem, é difícil exigir que o agredido tenha o comportamento de um lorde inglês, superior. Socos normalmente não são a resposta indicada, mas eu entendo a reação.
     Foram sopapos bem merecidos. Esse tipo de gente estúpida, que costuma 'argumentar' com agressões, pedradas e xingamentos, estava precisando de uma resposta à altura, há muito tempo. Com pessoas assim, não adianta tentar discutir, debater, argumentar. Ou são ignoradas, como fez a cubana Yoani Sanchez em relação aos vagabundos que a agrediram durante sua passagem pelo Brasil, ou adota-se o método Eduardo Paes.
    

sábado, 25 de maio de 2013

A América do Sul sem rumo

 
     Minhas expectativas em relação ao futuro imediato da América do Sul despencam a cada momento, a cada investida no noticiário internacional. Confesso que não espero muita coisa do nosso continente há alguns anos. Com as exceções que confirmam a regra - Chile e Colômbia, em especial -, temos governantes medíocres, demagógicos, populistas e, alguns casos, corruptos.
     Às milícias operárias armadas anunciadas pelo lastimável presidente venezuelano, Nicolás Maduro, já criticadas vigorosamente aqui no Blog (O desatino venezuelano, dia 23 passado) , somam-se - também é inacreditável!!! - as legiões de fiscais da argentina Cristina Kirchner. Incapaz de gerenciar o país, perdida em indicadores econômicos assustadores, essa pobre caricatura de Evita Perón tenta sobreviver estimulando contendas.
     Há algum tempo, ressuscitou as mágoas decorrentes da surra britânica no episódio da Guerra das Ilhas Falklands (argentinos, entende-se, e nosso governo, por proselitismo, insistem em chamar de Malvinas). Mais recentemente, elegeu os produtores rurais como inimigos do povo. Agora, aponta o dedo para o comércio. As duas milícias (operária e de donas de casa) são os dois mais recentes exemplos da capacidade de produzir estupidez desses dois governantes, Maduro e Cristina.
     É verdade que nada se compara, ainda, ao exército operário imaginado pelo filhote de Hugo Chávez, esse cadáver insepulto que tanto mal ainda está causando ao seu país. E não se ouve um murmúrio que seja vindo de Brasília. Uma leve contestação, uma condenação mesmo disfarçada. Nada. Essa gente, que se apressou a guilhotinar o Paraguai quando destituiu, legalmente, o lastimável e priápico ex-bispo Fernando Lugo, mantém um 'eloquente silêncio'.
     Quem cala, especialmente em casos evidentes de desatino político-ideológico, não apenas consente, mas coonesta, referenda, reforça. É o que faz o Brasil, um dos sustentáculos desses governos arbitrários, inimigos da liberdade de expressão, que negam o direito ao contraditório e se valem dos direitos que emanam da democracia para torpedeá-la.
     Quase deixei de citar, nesse quadro extremamente preocupante, a aprovação do terceiro mandato do presidente cocaleiro da Bolívia, Evo Morales, e a posse de Rafael Correa - um dos maiores inimigos mundiais da liberdade de imprensa - no Equador.

Leviandade oficial

     Sempre achei o comportamento da ministra Maria do Rosário, dos Direitos Humanos, absolutamente leviano. Aquele seu jeito superado de combatente dos anos 1960; aquelas opiniões radicais; aquele jeito de naftalínico de ver o mundo. Jamais esteve à altura do posto que ocupa e que não é dela, mas do país. Afinal, ela não é ministra de grupos guerrilheiros cubanos ou 'bolivarianos'.
     Tive, hoje, a confirmação de que meus sentimentos em relação a ela estavam corretos, ao ler uma declaração inquestionável da presidente Dilma Rousseff no O Globo, sobre os incidentes envolvendo o Bolsa Família, alvo de boatos sobre seu fim. Para nossa principal mandatária, é "leviandade" especular sobre eventuais responsáveis pela disseminação da boataria.
     Concordo plenamente. Ao sair atirando contra a oposição, no primeiro momento que se seguiu à corrida às agências da Caixa Econômica Federal, provocada pelos boatos, a 'ministra' agiu com a leviandade agora apontada por sua (dela, Maria do Rosário) chefe. Não foi seu primeiro surto de estupidez. Há algum tempo, quase provocou uma crise com as Forças Armadas, ao disparar idiotices verbais, esquecida da função que exerce.
     O episódio - a boataria - começa a tomar forma e as primeiras investigações da Polícia Federal apontam o dedo para o Rio de Janeiro, estado majoritariamente governista. Afinal, temos um governador e a maioria dos prefeitos do PMDB. Teriam saído daqui, terras cabralinas, repletas de teóricos petistas, as mensagens de telemarketing que provocaram o caos entre beneficiários da Bolsa.
     É cedo, ainda, para definir quem pagou pelo pacote de maldades. Talvez jamais saibamos. Toma corpo, no entanto, a versão sobre uma guerra provocada por partidários do governo, destinada a atingir a oposição. Pode ter sido um enorme tiro no pé, coonestado pela 'leviandade' de alguém que deveria zelar pela dignidade do cargo que ocupa.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

O STF e o novo ministro

     Precisamos acreditar que o virtual novo ministro do Supremo tribunal Federal, Luís Fernando Barroso, se manterá fiel às interpretações que manifestou quando da condenação dos quadrilheiros que participaram do Mensalão do Governo Lula. Mas confesso que tenho um certo receio. Qualquer indicação feita pela presidente Dilma Rousseff e/ou por alguém do seu grupo me remete a conchavos, negociatas.
     Infelizmente, é o que temos visto, nos últimos dois anos e alguns meses. O inchaço nos ministérios é uma evidência irrefutável. O retorno triunfal dos despejados do Poder, no auge dos escândalos envolvendo ministros, secretários-gerais e outro menos votados, é outra indicação de que há sempre motivos para desconfiar dos atos sacramentados em Brasília.
     É verdade que alguns ministros do STF indicados nessa Era Lula deram exemplos inesquecíveis de isenção e independênia. É o que espera de personagens que alcançam o maior patamar da Justiça. Mas não podemos esquecer, jamais, da atuação melancólica dos ministros Ricardo Lewandowski e Dias Toffoli. Os dois, em especial, protagonizaram momentos que envergonharam a Nação.
     O novo ministro, pelo que pôde saber dele, através da reedição de entrevistas e comentários, tem um perfil liberal, marcado pela busca da dignidade nas relações sociais e institucionais. Não é um juiz - e isso me parece um ponto questionável -, mas é muito respeitado como professor e intelectual. Suas posições favoráveis em temas extremamente relevantes, como o aborto de anencéfalos, união entre pessoas do mesmo sexo e pesquisas com células-tronco, coincidem com as minhas.
     Torço muito que ele, se instado a participar dessa fase final do julgamento da quadrilha que assaltou os cofres públicos, preserve a dignidade do País.

O desatino venezuelano

     Mais uma evidência da marcha acelerada da Venezuela na direção do atraso, da estupidez, da violência, da intimidação: Veja nos conta que esse inacreditável presidente Nicolás Maduro, que consegue ser ainda pior - é inacreditável!!! - do que seu inspirador, o insepulto Hugo Chávez, está estimulando a expansão do que essa gente chama de 'milícias nacionais', através de grupos armados - é isso mesmo, armados!!! - de operários 'bolivarianos'.      Já imaginaram? Bandos de boçais organizados e estimulados a combater o que eles chamam de inimigos do governo - no mínimo, metade da população. É o apelo mais descarado à luta fratricida, ao desrespeito do direito ao contraditório; às liberdades individuais. Transpondo essa ignomínia para o Rio de Janeiro, por exemplo, seria o mesmo que o governador Sérgio Cabral, formalmente, reconhecesse o poder e os direitos das milícias que dominam favelas e bairros mais desprotegidos.
     No caso venezuelano, essa hipótese - impensável em países com um mínimo de dignidade - é uma das heranças da demagogia e do populismo desenfreados do chavismo, que começam a cobrar o preço pelos últimos anos de engodo.
     Com a economia destroçada e sem o 'carisma' de seu antecessor e mentor, Maduro começa reincidir em palavras e atos inconsequentes, estimulado pela inércia (cooptação?) das Forças Armadas e pelo apoio irresponsável de seus parceiros sul-americanos, o Brasil em especial.
     É evidente que não estou lamentando o fato de as Forças Armadas não se disporem a atropelar a democracia, como era comum dos anos 1960 a 1990, principalmente, por essas nossas bandas. Registro, apenas, uma evidência: encastelada no poder, a liderança militar venezuelana defende seus privilégios, assim como faz a turma fardada da Coreia do Norte e de diversas republiquetas africanas, para ficarmos apenas em exemplos mais retumbantes.
     Já a desfaçatez brasileira fica mais evidente a cada dia. Incoerente e engajada, nossa política externa mostra garras leoninas contra paraguaios e israelenses, por exemplo. Mas não se envergonha de beijar a mão de ditaduras assassinas, como a iraniana, e de passar a mão sobre desatinados cubanos e venezuelanos.
      O Brasil - não tenhamos dúvidas - também será responsável pelo aprofundamento dos ataques à liberdade que se anunciam na Venezuela.

terça-feira, 21 de maio de 2013

Nocaute técnico


     A ‘reação’ ao ‘boato’ sobre o possível fim da distribuição do Bolsa Família já fez o estrago que pretendia. Acuada, como no episódio em que foi acusada de programar a privatização da Petrobras, a oposição (esse lastimável amontoado de personagens sem estofo) vem tentando reverter as consequências do caos gerado especialmente em Pernambuco.
     É tudo o que o Governo e seus ideólogos poderiam querer num momento em que a vitória em primeiro turno, ano que vem, começa a ser posta em dúvida. Especialmente graças ao potencial das candidaturas de Eduardo Campos e Marina Silva.
     É evidente que nem mesmo o opositor mais idiota do governo cometeria a imbecilidade de propor o fim de qualquer das bolsas existentes hoje em dia, mesmo que a decisão fosse justificável. Seria um suicídio. Isso é tão evidente que impediria qualquer interpretação diferente. Exceto no Brasil dessa Era Lula, onde a manipulação das notícias e dos fatos é uma das características marcantes.
     Dessa vez, o papel diversionista coube a essa inimaginável ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, reincidente específica em vigarices ideológicas. Sem qualquer comprovação ou indicativo real, tomou irresponsavelmente a iniciativa de culpar a oposição pelos boatos, no que foi logo seguida por uma malta de correligionários.
     Mais uma vez encurralada, restou à nossa simplória oposição defender-se, como faz um lutador medíocre encurralado num canto de ringue, sabendo que está prestes a ser nocauteado. Nada mais do que alguns ‘jabs’ sem força na cabeça adversária. O estrago já estava feito.
     O governo já pode se dar ao luxo de abrir mão das disfarçadas joelhadas no baixo ventre. O juiz já abriu contagem. A luta está ganha. A não ser – e essa é a única esperança que resta – que o virtual vencedor escorregue em alguma casca de banana atirada no ringue por seus próprios parceiros.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Sobre reencontros


     Não. Dessa vez a culpa não foi da OI, contumaz na prestação de serviços deficientes. Nem da falta de temas a criticar. Há sempre um malfeito ou um malfeitor à disposição, ao alcance de um clique nas páginas noticiosas de qualquer jornal e/ou revista. Houve, sim, uma grande falta de tempo livre para transpirar a indignação que transborda a cada mentira, a cada vigarice emanada do poder. Há quatro dias minhas horam têm sido consumidas no prazer de reencontrar antigos e especialmente queridos amigos. Amigos saíram do Rio para formatar suas vidas em Curitiba e Jaraguá do Sul,em Santa Catarina.
     É inacreditável como a conversa pode fluir tão tranquilamente, prazerosamente. Como as lembranças de épocas tão agradáveis, como a infância e a juventude, surgem naturalmente, paralelamente às confidências sobre filhos e netos. Se me fosse dado o direito de prescrever um remédio contra a falta de humor, certamente recomendaria o uso sem restrições da amizade.

Mentiras e verdades


     É verdade que concordo quase sempre com o presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, especialmente com sua indignação com a impunidade que cerca, em especial, nossa classe política. Barbosa, desde o julgamento do Mensalão do Governo Lula, é um paradigma não apenas de críticos desse nefasto esquema de poder instalado no Brasil nessa lastimável Era Lula. Seus pronunciamentos extrapolam os limites da camada mais informada da população e se espalham em toda a sociedade.
     Assim, quando ele diz, como nos informa O Globo, que nossos partidos políticos são “de mentirinha”, está, de fato, apontando um dedo inquestionável sobre essa fase da vida nacional, condescendente com as negociatas, com a compra de consciências (o pouco que ainda existe), com o atropelo da dignidade.
     Não há dúvida quanto à relativa representatividade dos nossos políticos, do Congresso, das Assembleias, das Câmaras. São raros os casos em que alguém é eleito em função da identificação ideológica, das propostas eficazes. Prevalece, naturalmente, o apelo barato ao populismo mais rasteiro, à demagogia.
     Nossos partidos, em sua esmagadora maioria, são meros balcões de negócios, mercadores em busca do melhor preço. Esse ‘fenômeno’, é importante destacar, não é uma exclusividade desse regime estabelecido a partir da primeira eleição do ex-presidente Lula. Vem desde sempre.
     Mas também não podemos negar que ele – o mergulho político nas trevas – conquistou sua expressão mais forte nos últimos dez anos. Não por acaso o Governo Dilma instituiu o 39º ministério e o entregou a um antigo ‘inimigo’. Há muitas correntes a atender, muito espaço nos programas e palanques eleitorais a conquistar e preservar.
     Refletindo, agora, diria que nossos partidos vão além de uma simples ‘mentira’. Seriam, de fato, de uma verdade assustadora. Refletem toda a iniquidade dos tempos atuais, fiadores de um projeto de poder que se projeta para o futuro, capazes de qualquer coisa para se eternizar.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Desafinou, pagou!

     Fez muito bem a Fundação Teatro Municipal do Rio de Janeiro - segundo O Globo -, ao entrar com uma ação na Justiça pedindo ressarcimento pelas despesas com o show que o cantor João Gilberto faria no dia 21 de dezembro de 2011, para comemorar seus 80 anos. João, alegando problemas de saúde, cancelou a apresentação uma semana antes, mas não lembrou, até hoje, de devolver a grama que recebeu de adiantamento. O prejuízo passa de R$ 500 mil.
     Se todos agissem com essa determinação, talvez - só talvez! - alguns astros e estrelas ficassem menos insuportáveis e passassem a respeitar mais o público, que, afinal, é o responsável pelo seu sucesso. Particularmente - e já sei que serei chamado de herege por muita gente! -, acho o 'pai da Bossa Nova' um chato absoluto, com um abissal complexo de superioridade.
     Não foi a primeira vez que o 'desafinado' armou uma desculpa qualquer para escapar de obrigações contraídas. A turnê de 2011compreendia apresentações em cinco capitais, a um custo de R$ 8 milhões. João teria, ainda, direito a um jatinho para se locomover. Ficou 'internado' no hotel, pegou o dinheiro e se foi para os Estados Unidos, onde mora.
     O produtor dos shows - também citado na ação - afirma que todo o dinheiro recebido foi repassado ao cantor e compositor e que não vai arcar com prejuízos. Faz muito bem, também.

terça-feira, 14 de maio de 2013

O Acre pede passagem

    Governos companheiros facilitam a roubalheira de empresas e empresários, através de fraudes, licitações arranjadas, aditivos e outros artifícios. O dinheiro sai dos cofres públicos para os bolsos dos pilantras e volta, em parte, para a turma do poder (redundância?), através de financiamentos de campanhas políticas e, em muitos casos, uma ajudazinha para pagar as contas, adquirir palacetes e coisas semelhantes. Foi assim no Mensalão do Governo Lula, que não se limitou a comprar adesões. É o que estava acontecendo no Acre
     A mais recente operação da Polícia Federal no estado, feudo dos irmãos Viana, ambos distintos representantes do mundo petista - segundo nos conta Veja -, é o mais recente exemplo do assalto oficial aos bens nacionais que vem sendo executado nos últimos dez anos. As empreiteiras que repartiam as obras de pavimentação surgem, exatamente, como os mais destacados financiadores das campanhas da companheirada.
     Não por acaso, o atual governador e ex-senador Tião Viana aparece nas investigações como o maior aquinhoado pela grana distribuída pelos beneficiados diretos pelas fraudes. Seu irmão, atual senador e ex-governador Jorge Viana, surge logo em seguida. Tentacular, o esquema de pilantragens se espraiou também pelas candidaturas estaduais e municipais petistas, além de afagar o diretório estadual com mais de R$ 1 milhão, só no ano passado.
     É a verdadeira institucionalização do assalto aos bolsos da população para perpetuar um esquema de poder. Não custa lembrar que entre os quinze presos estão o secretário de Obras do Estado e um sobrinho dos modernos imperadores acreanos. Mas certamente os irmãos Viana e o PT, como um todo, não sabiam de nada.

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Barbosa descarta manobras

     Três jornais (O Globo, Estadão e Folha), uma revista (Veja) e a mesma manchete: o presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, disse não à tentativa dos quadrilheiros e corruptos do Mensalão do Governo Lula de escapar da cadeia. Pegou os recursos (quaisquer nomes que tenham) e jogou na lata do lixo. Não se poderia esperar algo diferente. Só mesmo personagens alucinados imaginam que o país assistiria passivo a esse pontapé na nossa dignidade.
     Joaquim Barbosa apenas e tão-somente está traduzindo a expectativa da maioria decente da população. Lugar de bandoleiro é na prisão. Por aqui, ainda e felizmente, a Justiça não se curva ante à turma do Poder, como vem acontecendo - lamentavelmente - na Venezuela, Bolívia e Argentina, para ficarmos apenas nas redondezas.
     Os parceiros e amigos dos meliantes condenados podem começar a programar visitas regulares aos presídios. Não há Lewandowskis e Tofollis que consigam reverter a punição aos responsáveis pelo maior assalto formal às instituições brasileiras em todos os tempos. Que essa determinação seja mantida e alcance todos os desajustados recentes, independentemente de partidos ou quadrilhas políticos.
     Há muita gente na fila, especialmente - e isso é uma constatação incontestável - nas bandas governistas dessa lastimável Era Lula, incluindo o grande líder desse momento de degradação que já dura 10 anos. É bom essa turma ir separando escova de dentes e pasta.

Cem anos de Marechal

     Vou pegar uma prazerosa carona - embora atrasada - na Revista do Globo de ontem, que só fui ler hoje (o domingo foi dedicada às muitas mães e a Júlia e Pedro, que passarem o dia aqui na Pedra). O tema? O homenageado subúrbio de Marechal Hermes, que está completando 100 anos e onde passei alguns dos melhores anos da minha vida, em uma cidade - o Rio - ainda risonha e ingênua.
     Embora tenha nascido e vivido meus quatro primeiros anos na Saúde, onde três dos meus avós ancoraram suas famílias, ao aqui desembarcarem de Portugal, no começo do século 20, passei minha infância, adolescência e juventude em Marechal. Não naquelas primeiras e ainda preservadas ruas assobradadas (Engenheiro Assis Ribeiro, a antiga Rua 7; e Regente Lima e Silva, a Rua 13).
     Morei no 'limite' do bairro traçado pelo Marechal Hermes da Fonseca, na Rua Capitão Rubens, ao lado do Hospital Carlos Chagas, a 200 metros da Igreja de Nossa Senhora deas Graças e do teatro Armando Gonzaga. Lá depois das belas escolas Evangelina Duarte Batista (onde fiz o 'primário') e Santos Dumont e do coreto que o Rio-Cidade de César Maia destruiu inexplicavelmente, na Praça XV de Novembro; da delegacia, vizinha das cocheiras do DLU (Departamento de Limpeza Urbana), avô da atual Comlurb.
     Dessas cocheiras saíam as carroças puxadas por parelhas de burros, para fazer a coleta do lixo domiciliar. Já contei em algum momento, aqui mesmo, no Blog, que eu e meu irmão torcíamos para que houvesse pão endurecido, que oferecíamos aos animais, quando parados na entrada da 'nossa' vila. Era um dos momentos esperados da semana.
     Naquele tempo - e estou falando do início dos anos 1950 - minha rua era de terra batida, com calçadas largas e sombreadas por enormes fícus. Era a extensão da vila de oito casas onde me criei. Campo de peladas que arrancavam pedaços dos dedos; arena de disputa de bolas de gude e pião; nossa 'ciclovia'. E pipas 'cruzando' por toda a parte nas férias de julho e no verão. Nessa época, o Carlos Chagas limitava-se ao prédio principal. A expansão ampliou o atendimento, mas levou com ela as árvores que ficavam junto ao velho muro que limitava nosso espaço.
     Tempo em que telefone residencial era algo inacessível para quase todos nós. Na nossa rua, existiam dois aparelhos, um na carvoaria dos irmãos Zulmiro e Zeca e outro na padaria do seu Aníbal, pai de meu amigo Ayres. Ambos movidos a manivela. Quando meus avós paternos precisavam falar conosco, ligavam para a carvoaria. Zeca, português como meu pai, ia nos chamar. Ainda lembro do número: 176. É isso mesmo: três algarismos apenas.
     Bem no fim da minha rua, à direita, ficava o campo do União, time da segunda ou terceira divisão, não lembro bem, mais tarde comprado pelo Botafogo. Em frente, uma 'vacaria', como chamávamos a chácara onde uma família criava bois e vacas e vendia leite. À esquerda, área reocupada pelo Exército, havia o campo do Navarro, onde, certa vez, enfrentei o futuro campeão do mundo Dario, que morava no nosso subúrbio e já dava seus primeiros chutes pelo Campo Grande. A Rua Xavier Curado, também de terra, parava ali, na esquina da Capitão Rubens.
     Não, eu não frequentava o Marã Tênis Club (com 'a' e 'til', permito-me corrigir O Globo), que brindou o Brasil com a Miss de 1966, Ana Cristina Ridzi. Estava acima das posses da nossa família. Mas fui amigo dos filhos de um eterno presidente, dono da segunda maior farmácia do bairro. Naquele tempo, quase todos se conheciam, mesmo. O futebol, o encontro nas missas, nas ótimas escolas públicas e, mais tarde, o 'trottoir' (no boníssimo sentido da expressão) pelos canteiros da Avenida Oswaldo Cordeiro de Farias aproximavam os jovens. No 'calçadão' central, pés de tamarindos que catávamos do chão.
     Eram tempos em que só os casais mais 'avançados' se aventuravam pela 'Mauá' - como chamávamos o pedaço sem iluminação da Rua Xavier Curado que fazia limite com a área da velha Escola Técnica Visconde de Mauá. Tempos do 'Bolinha', o velho Cine Lux, na Praça Montese, quase em frente à estação de trens, que foi arrendado há décadas por uma igreja. Das paqueras na 'escadinha' (escadas de acesso a lojas que ficavam acima do nível da rua, para escapar das enchentes constantes provocadas pelas águas do Rio do Afonsos, um valão que nasce nas bandas do Campo dos Afonsos, corta o bairro e passa sob os trilhos da Rede Ferroviária, que eu ainda chamo de 'Central'.
     Ainda hoje mantenho laços afetivos com Marechal Hermes, onde ainda moram cunhados, uma sobrinha e a madrinha da minha filha mais velha. E moram na mesma casa onde minha mulher e sua mãe nasceram e que pertenceu desde sempre à sua família. A casa onde me criei também continua conosco. Ficou com meu irmão e está alugada há muitos anos. Ainda é minha referência eleitoral. Também já contei que mantive meu título por lá, para ser obrigado a visitar o bairro a cada desafio das urnas. Só lamento que minha Seção tenha mudado de lugar há alguns anos: saiu da 'minha' escola para a Santos Dumont.
    

sábado, 11 de maio de 2013

Parcerias brasileiras

     O noticiário internacional de hoje da Folha destaca dois países com os quais temos relações estreitíssimas. Dois entre os muitos daquele grupo deletério que os governos dessa lastimável Era Lula prestigiam, defendem, dão as mãos. Um deles é a nossa vizinha Venezuela, atropelada pela escassez de tudo, em especial da farinha de milho, fundamental no cotidiano do povo. Para conseguir o produto, os compradores fazem enormes filas e se submetem a uma numeração no braço.
     Essa situação talvez fosse aceitável em um país desprovido de recursos, como muitas repúblicas africanas. Não na Venezuela, que nada em petróleo. A explicação, no entanto, é simples: a estupidez governamental dos últimos anos destroçou a economia. O país nada produz, exceto o petróleo, que é trocado por 'miçangas' com chineses e americanos, em especial. Não houve um planejamento minimamente organizado. Não há agricultura, indústria e serviços. Há, simplesmente, a distribuição de 'bolsas petróleo'.
     Na eleição do ano passado, a que consagrou Hugo Chávez, que não chegou a iniciar o novo mandato, houve uma farta distribuição de produtos eletrônicos produzidos na China, trocados por petróleo. Nesse socialismo bananeiro, todos os barracos da imensa favela em que se transformou o país têm seu aparelho de tevê de tela gigante, LCD etc, para assistir aos lastimáveis discursos de Nicolás Maduro. Mas não há farinha, leite e açúcar na mesa, nem papel higiênico nos banheiros. Se o preço internacional do petróleo sofresse uma queda acentuada - como já aconteceu em outros momentos -, a Venezuela simplesmente quebraria irreversivelmente.
     Os sintomas do colapso estão aí. A inflação oficial de abril chegou a 4,3%. Em um ano, beira os 30%. Não por acaso, o filhote de Chávez fez um périplo pelos vizinhos da América do Sul, atrás de apoio. Com o país dividido politicamente e arrasado, cresce bastante a possibilidade de embates. Essa é a herança bendita do chavismo.
     O outro país citado lá no início desse texto é a Guiné Equatorial, governado com "mão de ferro e movido a petróleo e propina" - destaca a Folha - pelo ditador Teodoro Obiang, no poder desde 1979. Coincidentemente, também é um dos nossos grandes parceiros. Empresas brasileiras abrem estradas e tudo o mais. Foram levadas pelo ex-presidente Lula. Não há acasos. 

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Escândalos sem fim

     É impressionante. Sabemos que a corrupção é uma das nossas marcas há muito tempo. Lastimavelmente, o Brasil é visto, internacionalmente, como um país corrupto, aberto ás facilitações, aos jeitinhos, aos acordos indignos. Nada disso é novidade, portanto. Mas os últimos tempos - essa Era Lula que já invadiu o 11º ano - têm sido calamitosos. É difícil a semana em que não haja notícia de um escândalo envolvendo a turma bem próxima do poder, do PT, em especial. São fatos, e contra eles não há argumentos, exceto aqueles bem vigaristas, que já conhecemos: "Eu não sabia"; "Vamos punir, desde que as acusações sejam comprovadas"; etc etc etc.
     A mais recente - sempre destaco que nos tempos atuais é temerário falar em 'ultima' - nos remete ao Acre, feudo histórico dos petistas, comandado pelos irmãos Viana, Tião, o governador e ex-senador; e Jorge, atual senador e ex-governador. Lá, a Polícia Federal prendeu petistas de vários calibres. Do secretário de Obras a empresários amigos do peito, fiéis camaradas dos mandachuvas locais, passando por dirigentes de empresas, funcionários públicos e empreiteiros. Uma quadrilha que, por alto, roubou, pelo menos R$ 4 milhões, segundo nos reportam nossos principais jornais e revistas, entre eles a Veja.
     São tantos casos escabrosos que é difícil identificar cada um. Pensando bem, não são 'tantos'. Estamos lidando, na verdade, com apenas um caso, enorme, voluptuoso. Um tentacular assalto aos cofres públicos. Rouba-se despudoramente no Brasil. A voracidade da turma que empolgou o poder é assustadora. Da simples extorsão de empresários de ônibus no interior paulista, que culminou com o assassinato do prefeito Celso Daniel, de Santo André, ao Mensalão do Governo Lula, o mais elaborado e profissional.
     A profusão de delitos é tão grande que temo pelo futuro da Nação. Corremos o risco de ver a vulgarização absoluta do malfeito e dos malfeitores. E - o que seria extremamente grave - perdermos nossa capacidade de indignação.

Mais uma omissão indigna

     Todos nós acompanhamos as reiteradas manifestações de apoio do Brasil aos governos venezuelanos dessa lastimável Era Hugo Chávez, representada, agora, por Nicolás Maduro, talvez o mais medíocre entre todos os presidentes da América do Sul (a disputa pelo posto de pior é acirrada, admito). Não estranho, portanto, a omissão brasileira no debate que acaba de ser aberto no Parlamento do Mercosul, provocado pela posição de representantes da Argentina, Uruguai e Paraguai, decididos a discutir a presença da Venezuela nesse bloco.
     Segundo Veja nos conta, os deputados do Mercosul não aceitaram a as seguidas manifestações da violência oficial contra opositores, desde as eleições do mês passado. Na petição enviada ao presidente do parlamento, destacam que "vários fatos motivam a análise", destacando o "espancamento de deputados" contrários ao governo, "´perseguição a veículos de Comunicação" e "severas violações de direitos humanos".
     Esse conjunto inviabilizaria a permanência da Venezuela ao lado dos demais países do bloco, pois descumpre amplamente as cláusulas do Tratado de Ushuaia, que criou o Mercosul. E os representantes do Brasil? Bem, nossos bravos - quando o adversário é o Paraguai pós Lugo!!! - estão mudos. A julgar pela recepção calorosa conferida ao filhote de Chávez (ele mesmo se apresenta assim), ontem, continuamos unidos e coesos. É a nossa cara: estar sempre ao lado do que há de pior, mais detestável, no mundo.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

PT insiste em desafiar o STF

    Eu não acredito que o Supremo Tribunal Federal recue e reveja as condenações impostas aos quadrilheiros e corruptos que participaram, sob várias formas, do Mensalão do Governo Lula. A distância entre o direito aos recursos e a aceitação dos argumentos dos condenados é abissal. A parcela decente da sociedade brasileira não aceitaria ver o ex-ministro petista José Dirceu e seus comparsas livres e soltos, tripudiando sobre a dignidade da Nação. Seria inconcebível, uma agressão desmesurada.
     É evidente que todos eles têm direito à defesa mais extremada e competente possível. E vêm tendo. Aliás, tiveram durante todo o julgamento, um dos mais transparentes da história da nossa Justiça. Uma defesa competente e caríssima!!!. Os questionamentos legais fazem parte do ritual. A lamentar, entretanto, que a defesa dos criminosos extrapole para outras esferas e seja assumida por representantes do Governo.
     Ou alguém tem dúvidas que o presidente do PT, esse tal de Rui Falcão, fala por ele e pelos seus chefões? É claro que ele exterioriza o pensamento majoritário do esquema que nos governa há dez anos. Por trás dele surgem claramente as digitais do ex-presidente Lula e de sua sucessora. O PT faz o que Lula manda.
     A última declaração do dirigente petista, reproduzida em O Globo, não deixa dúvidas quanto à determinação dessa gente em livrar seus companheiros da cadeia. Sem qualquer constrangimento, Rui Falcão afirma que o PT não está "trabalhando com a hipótese de prisão". E vai além, na sua ignominiosa ousadia: "Não podemos condenar sem provas", reforçou, num evidente e óbvio desrespeito à nossa mais alta Corte de Justiça.
     Afinal, se não havia provas, o plenário do STF teria condenado a cúpula petista do Mensalão indevidamente. É muito petulância. E um exemplo do que essas pessoas seriam capazes de fazer caso conquistasse o poder absoluto com o qual sonham.

terça-feira, 7 de maio de 2013

Collor e Lula

     O julgamento dos acusados pela morte de Paulo César Farias, coordenador da campanha vitoriosa de Fernando Collor de Melo, inevitavelmente remete aos acontecimentos que marcaram e provocaram o impedimento do primeiro presidente eleito diretamente desde Jânio Quadros (venceu o pleito realizado no dia 3 de outubro de 1960).
     Com o distanciamento que só o tempo proporciona, não tenho dúvidas em afirmar que o execrável Governo Collor não passa de 'fichinha' perto dessa escandalosa Era Lula. Se somadas, todas as indignidades protagonizadas pelo ex-presidente e seu fiel escudeiro PC ficariam a léguas de distância do Mensalão, dos aloprados, dos carregadores de dólares na cueca e dos traficantes de influência dos últimos dez anos.
     Qualquer outro presidente - qualquer um, friso! - não teria resistido a tantos desencontros e desatinos. Seria escorraçado pela porta dos fundos do Palácio, como aconteceu com Collor, merecidamente. Os dois, Lula e Collor - o tempo e os fatos comprovaram -, foram responsáveis pelas maiores desilusões da nossa história recente.
     O Brasil não merecia a devastação causada pelo - repito - primeiro presidente eleito pelo povo depois de quase trinta anos. Assim como não merecia esse espetáculo de crimes vagabundos cometidos após a consagradora vitória de Lula. Pessoalmente, não fui atingido em nenhuma das ocasiões, pois 'perdi' as duas eleições. Lamento, entretanto, o retrocesso institucional provocado por ambos, não por acaso, fraternos amigos nos dias de hoje.

Menores criminosos

     Algo precisa ser feito, de fato, em relação à legislação que estabelece o tratamento a menores criminosos. E a redução da maioridade penal pode ser uma delas, sim, desde que criteriosa. Há crimes ... e crimes. Um jovem de 16 ou 17 anos que rouba frutas de um quintal certamente merece um tratamento brando, educativo. Outro que invade um ônibus, armado, aterroriza passageiros e estupra uma mulher, deve ser punido de acordo com a gravidade de seu ato, que rigorosamente não tem nada a ver com rebeldia ou sentimento assemelhado.
     Um jovem assaltante e estuprador e o que incendeia outro ser humano abriram mão, conscientemente - e disso não tenho a menor dúvida -, dos beneplácitos de uma legislação bem-intencionada e liberal. Ao cometerem esses atos, evidenciaram o amadurecimento que justificaria um tratamento mais rigoroso.
     Argumentar que a cadeia não cumpre a função de ressocializar prevista na legislação é uma falácia e ignora os exemplos bem-sucedidos, que são poucos, é verdade, mas existem. E se não atende aos preceitos, que passe a atender. É muito cômodo o ministro da Justiça, esse inacreditável José Eduardo Cardozo, sair por aí dando declarações 'politicamente corretas' contra a redução da maioridade penal e criticando o papel dos presídios. Esquece que está no poder há dez longos anos e que seu Governo também nada fez para mudar essa realidade. 
     Ninguém razoavelmente informado e consciente ignora o fato de que o incremento da violência entre jovens é uma das consequências dos enormes problemas que ainda corroem nossa sociedade, que é desigual, sim. Mas essa constatação não pode nem deve enublar a realidade. O tema está posto, não se pode ignorar. Uma simples consulta às reações da população, especialmente nos espaços destinados aos leitores, deixa isso bem evidente.
     Não ignoro que crimes bárbaros, como os mais recentes, provocam essa revolta coletiva. E que legisladores não devem ser movidos apenas pela emoção que vem das ruas. Mas já não possível ficar surdo às exigências da sociedade. Ou, ao menos, que a escalada da violência mereça uma reavaliação nos conceitos punitivos. De jovens e de adultos.

     PS: Apenas para não deixar passar sem um comentário: analiso a 'negociação' entre policiais e o padrasto do menor estuprador como um atestado incompetência do Estado. O argumento vencedor usado pelos agentes da lei - segundo nossos jornais - foi deplorável: entregar o criminoso seria menos perigoso do que deixá-lo nas mãos dos traficantes que dominam a comunidade onde ele vivia, cuja punição, por atrair a polícia para seus domínios, seria bem mais séria.

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Secretária argentina explica 'fator Rosemary'

     O Globo de hoje reproduz denúncias feitas por uma ex-secretária do ex-presidente argentino Néstor Kirchner. As histórias são escabrosas. Sacolas de dinheiro e barras de ouro que eram entregues na Casa Rosada, pesadas e enviadas posteriormente para a residência do casal presidencial, na cidade de El Calafate, onde haveria um cofre secreto. A secretária, Elizabeth Miriam Quiroga, chega a detalhes, lembrando os nomes dos funcionários encarregados de receber e encaminhar os pacotes.
     Vocês talvez não estejam ligando o nome da denunciante às revelações que ela fez, há algum tempo, em entrevista à revista Noticias, logo após a morte do ex-presidente, ocorrida em outubro de 2010 (a matéria também ignorou o fato). A ex-secretária decidiu falar sobre sua relação - era amante de Néstor desde os anos 1990 - após perder o cargo de diretora do Centro de Documentação Presidencial, por determinação de Cristina Kirchner, já presidente e viúva.
     O estrago político que essas novas revelações podem provocar não foram mensurados. Mas certamente devem abalar o já fragilizado governo argentino, que vive às voltas com uma inflação fora de controle, desemprego e queda bruta na popularidade. Relações extraconjugais, quando não envolvem corrupção ou tráfico de influência, tendem a ser relevadas, corretamente. Sacolas de dinheiro e barras de ouro, entretanto, não rimam com a higidez que vem sendo exigida dos argentinos.
     O cenário argentino - guardadas as proporções - remete diretamente a um momento brasileiro: a participação deletéria do ministro Gilberto Carvalho no acobertamento e manipulação das investigações sobre as atividades ilícitas da ex-chefe de gabinete da Presidência da República em São Paulo, Rosemary Noronha, apontada - também! - como amiga íntima do ex-presidente Lula.
     Acusada de vários crimes e com enormes chances de ir para a cadeia, além de perder emprego e vantagens, Rosemary é uma bomba que pode explodir a qualquer momento. Rejeitada pelo ex-chefe, que a vem ignorando formalmente, e atropelada por investigações independentes, Rose, como era chamada, carrega com ela um enorme potencial destrutivo. Muito maior - repito o que escrevi ontem - do que o do publicitário mineiro Marcos Valério, operador do Mensalão do Governo Lula.

domingo, 5 de maio de 2013

Mais rigor com o tráfico

     "Traficante é homicida que mata várias pessoas ao mesmo tempo". A frase, estampada na Veja, é do deputado Osmar Terra, do PMDB gaúcho, mas eu assinaria também. Endossaria, ainda, sua proposta de aumentar as penas mínima e máxima, respectivamente, de cinco para oito anos e até vinte anos.
     O sujeito que enriquece vendendo a lenta e terrível destruição de seus semelhantes merece todo o rigor que a Justiça pode prescrever. Defendo, além disso, um tratamento rigoroso para quem faz a apologia do uso de drogas. O uso até pode ser entendido como opção, escolha pessoal, livre arbítrio. Mas a venda e a indução ao consumo são crimes que devem ser tratados com determinação.
     Não tenho a menor condescendência com essa turma que faz brincadeirinhas com o uso de drogas, para parecerem moderninhos, antenados ou algo semelhante. Quando leio ou escuto idiotices desse tipo, fico tentado a perguntar o que essas pessoas achariam se seus filhos fossem levados ao vício. Ou se ofereceriam um 'bagulho' para a garotada de casa.
     É evidente, no entanto, que não me incluo entre os que pregam punições contra usuários, desde que não estejam atentando contra as leis vigentes. Quanto aos infelizes que estão se matando nas ruas, devastados pelo crack, acredito que devem ser assistidos pelo Estado, queiram, ou não.
     Drogas devem ser tratadas como tão nefastas quanto as piores epidemias. O que você faria com alguém que espalhasse vírus letais? A resposta é simples.

Minha frase da semana

"Criminosos comuns, no eventual exercício de mandatos eletivos, conseguem postergar seus julgamentos indefinidamente, ou simplesmente escapar da Justiça através de artifícios jurídicos". Extraída do texto 'Privilégios inadmissíveis', do dia 3 de maio.

Nos subterrâneos do Poder

     Um dos destaques de hoje de O Globo é o fato de o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci - aquele mesmo que destruiu a vida do caseiro Francenildo dos Santos Costa, que ousou revelar os escândalos que ocorriam em uma mansão às margens do Lago, em Brasília, e ficou milionário de um dia para outro, prestando 'consultorias' - continuar muito perto do poder e influindo diretamente no Governo Dilma.
     Tomo a liberdade de lembrar que a presença de elementos envolvidos em crimes ou comportamentos indignos em geral é uma das características mais marcantes do atual governo, repetindo o que acontecia no anterior. Palocci é apenas mais um que, oficialmente, foi afastado, para evitar a contaminação e a consequente reação na sociedade. Sua ex-colega Erenice Guerra, que ocupou a Casa Civil e foi acusada de vários delitos, continua prestigiadíssima pela presidente Dilma e - segundo notícias jamais desmentidas - usando seu 'poder' para assessorar empresas no contato com o Governo.
     Isso, sem falar no onipresente ex-ministro José Dirceu, condenado por ser o chefe da quadrilha que assaltou os cofres públicos no episódio do Mensalão do Governo Lula. Ele está em todas, mesmo que em um conveniente segundo plano nas fotografias de solenidades que envolvem o Governo e o PT. Apoiadíssimo pelo partido (leia-se Governo, pois são sinônimos), é outro que deslanchou como 'consultor de empresas'.
     Os três, ao menos, estão oficialmente fora do primeiríssimo escalão dessa lamentável República, embora - insisto - continuem ativos. Muito mais grave é a presença formal de elementos como o ministro do Desenvolvimento e outras coisas, Fernando Pimentel, outro que ficou milionário com palestras que jamais proferiu quando estava nas vésperas de assumir a coordenação formal - apenas formal, pois já era, de fato - da candidatura de Dilma Rousseff.
     E Gilberto Carvalho, o ex-seminarista que daria a vida por Lula? Sempre que leio seu nome lembro das acusações feitas pelos irmãos do prefeito assassinado de Santo André, Celso Daniel. Segundo eles - em depoimentos oficiais!!! -, o atual ministro da Secretaria Geral da Presidência era o encarregado de coletar a propina cobrada das empresas de ônibus de prefeituras dominadas pelo PT, em São Paulo.
     Assim como fazia nos oito anos em que serviu ao ex-presidente Lula, o ministro continua dando a vida pelo chefe e prestando-se a papéis nebulosos, como porta-voz dos pensamentos que seus superiores não têm a coragem de expressar. Nos últimos dias, através de Veja, ficamos sabendo que ele está agindo violentamente para abafar as investigações sobre a ex-companheira de viagens do ex-presidente, Rosemary Noronha.
     É um meio de ajudá-la a escapar dos inúmeros processos e provável cadeia que vai enfrentar. Ele sabe que Dona Rose é um poço de mágoas. E que nada pior para um político do que uma ex-qualquer coisa magoada e decidida a contar o que sabe, para evitar a catástrofe maior.
     Essa gente toda continua mandando no país.

     PS: Vocês sabem que Bruno Daniel, irmão do prefeito assassinado, foi acolhido na França, na condição de asilado? Temia que, aqui, ele e sua família fossem vítimas de atentados, em virtuda da sua insistência em desvendar a morte do irmão.

sábado, 4 de maio de 2013

Sugestões para Lula

    Estou imaginando, há alguns dias, qual será o primeiro tema da coluna que o ex-presidente Lula vai 'escrever' para o New York Times, esse jornalão a serviço do imperialismo (será que já deixou de ser?). O sucesso está garantido, não tenho dúvidas, independentemente do assunto tratado. Mesmo que ele reviva a tese das vantagens ambientais de um mundo quadrado, defendida há algum tempo: " A poluição seguiria em frente e desapareceria", elocubrou o mais simplório presidente que esse país já teve em toda a sua história.
     Mas há um tema que, com certeza absoluta, transformaria sua estreia mundial em uma atração irresistível: suas relações com a ex-chefe do gabinete da Presidência da República em São Paulo, Rosemary Noronha. Não haveria risco de a 'receita' de sucesso desandar. Os ingredientes estão todos aí, postos: luxúria, corrupção, intriga, política, venda de favores, fraudes e traição. 
    Pelo volume e conteúdo, talvez fossem necessárias várias colunas para abordar tudo o que aconteceu - por exemplo - nas 28 viagens internacionais que o ex-presidente fez ao lado da ex-chefe de gabinete, todas elas pagas com dinheiro público. As revelações caberiam com mais folga em um livro. Talvez até mesmo no livro que Lula está prestes a lançar, sobre ele e a presidente Dilma, organizado pelo 'cientista político' Emir Sader, no qual - candidamente - admite que "às vezes" tem a impressão que partido político é um "negócio". Faltou o adjetivo. Um 'grande' negócio, seria a expressão mais justa. O Mensalão e o sucesso 'empresarial' da companheirada estão aí para provar.
     Sabemos, entretanto, que nosso ex-presidente não fala nesses assunto, especialmente no seu 'affair'. É como se ele - o 'affair' - não existisse. Por trás das cortinas, no entanto, a prevalecerem as informações que vazam da Polícia Federal, faz tudo o que pode para acobertar o caso. Dona Rosemary, se condenada por todos os crimes pelos quais é acusada, pode ser mais explosiva e arrasadora do que uma dúzia de Marcos Valérios. O Mensalão seria fichinha.

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Histórias de Júlia e Pedro (58)



Pedro, na barra: não aceita ajuda para escalar, flexionar e atravessar de lado


Moleque olímpico

     Pedro vem nos surpreendendo com uma determinação invejável na escolinha de ginástica olímpica (acho que o nome é esse ...) do Fluminense. Acorda disposto e não reclama da dureza dos exercícios comandados pelo professor Ceará. Ao contrário: procura seguir rigorosamente as determinações.
     Recentemente, na sua última vez que esteve aqui na Pedra, fomos dar um passeio na Praia da Brisa, onde existem alguns aparelhos de ginástica que ele já conhecia. Muito sério, fez alguns alongamentos e lá se foi paera as barras paralelas, barra e prancha de abdominais.
     E continuo se exercitando, mesmo depois da chegada de alguns jovens atletas, que começaram a fazer seus exercícios. Quando via que um dos aparelhos estava ocupado, pedia para eu abrir o 'caminho', falando com alguns dos rapazes. E não admitia que eu o ajudasse a escalar as laterais do aparelho mais alto:
     - O Ceará disse que é para fazer o exercício sozinho!
     Na volta para casa, já no carro, depois de eu ter elogiado sua performance, olhou para mim e disse, com ar bem grave:
     - Vovô, eu quero ir numa Olimpíada.

Privilégios inadmissíveis

     Concordo prazerosamente com o ministro Joaquim Barbosa, presidente do Supremo Tribunal Federal, quando ele aponta - como fez agora, em um congresso sobre liberdade de imprensa, na Unesco - o absurdo legal do foro privilegiado para políticos. Entendo o espírito que norteou essa regalia, que evita constrangimentos que certamente seriam provocados por divergências político-partidárias e ideológicas. Sem esse foro diferenciado, estariam abertas as portas para que o ódio, por exemplo, inviabilizasse o exercício de mandatos e a própria democracia.
     Os limites racionais que inspiraram os legisladores, no entanto, foram atropelados pela busca da impunidade. Governantes e políticos em geral raramente são castigados devidamente por atos claramente indignos. Criminosos comuns, no eventual exercício de mandatos eletivos, conseguem postergar seus julgamentos indefinidamente, ou simplesmente escapar da Justiça através de artifícios jurídicos. A história está aí, com seus muitos e lamentáveis exemplos.
     No caso específico dos quadrilheiros do Mensalão do Governo Lula, a impunidade andou rondando de perto o Tribunal. Ouso afirmar que só não se instalou, de fato, graças à determinação de Joaquim Barbosa e à independência ideológica de quase todos os seus pares - com as deploráveis exceções que confirmam todas as regras.
     Além de privilegiados - foram julgados pela mais alta Corte brasileira -, os bandoleiros usaram à exaustão os benefícios de defesas multimilionárias, pagas com os recursos oriundos dos seus crimes. Tiveram à disposição, até o último instante, o que há de mais caro e influente no meio jurídico. Condenados, quase todos continuam exercendo livremente seu poder, quando deveriam estar na cadeia, como acontece com criminosos comuns.
     Não comungo com Joaquim Barbosa quando ele critica o uso, pelos defensores, de todos os recursos legais disponíveis. Esse é um dos pilares da democracia: facultar apelações a condenados, até que se esgotem, de fato e de direito, todas as possibilidades de reversão de uma sentença. O problema - tomo a liberdade de insistir, concordando com o ministro -, não está na amplitude dos recursos, e sim no fato de eles não estarem democraticamente à disposição de todos.

Repressão e morte

     A notícia sobre os dois adolescentes chineses que cometeram suicídio por não terem conseguido cumprir a contento com suas obrigações escolares reacendeu antigas memórias. No início dos anos 1970 - e essa história faz parte do meu livro que está em fase de edição -, vivenciei, como repórter, um drama semelhante, aqui mesmo, no Rio.
     Os fatos de agora - frutos da enorme competição que marca, em especial, os jovens chineses e japoneses - têm o mesmo componente que levou um jovem morador de um subúrbio do Rio ao suicídio: a expectativa exacerbada dos pais e da sociedade, influenciando diretamente o comportamento de crianças ainda em formação.
     Na China, segundo nos conta Veja, um dos meninos simplesmente pulou do quinto andar do prédio onde morava. O outro, enforcou-se. No subúrbio carioca das minhas lembranças o rapazola pegou a arma do pai - um policial militar - e atirou contra o próprio coração. Não conseguiu enfrentar o insucesso escolar e preferiu morrer a contar ao pai que não passara de ano.
     Ainda hoje, passados tantos anos, a morte desse jovem mexe com meus sentimentos. Não foi fácil entrar naquela casa devastada, conversar com os pais, com o irmão mais novo, com parentes que não paravam de chegar, vizinhos. Num só episódio, duas lições: o risco embutido na posse de armas e a ameaça decorrente de uma educação repressora.