segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Ser pai também é viver no paraíso

     Vivi, ontem, domingo, um momento de exibição de amor incondicional, que me emocionou e tomo a liberdade de dividir com vocês.
     Era um dia normal, tanto quando pode ser um domingo sem futebol. Prevendo o tempo ocioso dos moradores, especialmente à tarde, os administradores do nosso condomínio, aqui na Pedra, marcaram uma assembléia para traçar alguns rumos para o ano que está quase começando.
     Confesso que eu estava até relutante, em função da baixa frequência das reuniões anteriores - um problema comum, eu sei, a esse tipo de encontro. Quase sempre a maioria transfere a uma minoria a responsabilidade de tomar as decisões que, no entanto, atingem o todo. Mas o interfone tocou e uma vizinha mais amiga me convenceu a participar.
     Desliguei o aparelho e saí (é um condomínio horizontal) em direção à casa dos nossos síndicos, com direito a uma parada pelo caminho, onde encontrei pessoas que eu praticamente não vejo no dia a dia. Lembro que encostei a porta de casa e o portão, para evitar que Cléo, nossa labradora (de Pedro e Júlia, meus netos, na verdade) tentasse me seguir.
     Para minha surpresa, havia mais moradores do que eu previa, a conversa transcorreu num ótimo clima e foi se alongando além das decisões que necessariamente teriam que ser tomadas.
     Quase duas horas depois do início, fui alertado que "um rapaz" estava me chamando no portão. Levantei preocupado e encontrei o tal jovem: era Rodrigo, nosso amigo e vizinho, pai da Carolina, recém-nascida a quem homenageei há alguns dias. Ele estava visivelmente preocupado e me contou o motivo:
     - Marco, Fabiana está muito nervosa. Já ligou para você uma dezena de vezes. Aí ligou para mim e pediu para eu procurar você. Já entrei na sua casa, rodei o quintal, fui a todos os lugares possíveis. A porta estava aberta e a televisão ligada. Eu já estava saindo por aí. E Guilherme está pronto para vir para cá. Liga para ela, agora.
     Fabiana é minha filha mais nova, e Guilherme meu genro, amigo e companheiro de inúmeras aventuras no Jalapão e Pantanal, entre outras. Como sabia que eu estava sozinho, aqui na Pedra (a mãe estava com a irmã, Flávia, que a convocara para dar uma 'ajuda' por alguns dias), Fabiana ligou para saber se estava tudo bem e falar sobre um DVD que estava vendo e que levaria para o Natal: um show de Cartola, meu ídolo na música popular brasileira.
     Ligou para o fixo e ... nada. Insistiu. Mudou para o celular e também não conseguiu resposta. Ligou algumas vezes e, aí, começou a se preocupar. Imaginou - coisa de filha - que eu pudesse ter caído de uma das árvores, retirando frutos (a mangueira esteve carregada) ou até do telhado, que eu costumo reparar eventualmente. E foi, então, que convocou Rodrigo, amigo comum (eles fizeram o segundo grau e mantiveram a amizade, através dos anos) para procurar o pai desaparecido.
     Só se acalmou quando falou comigo. E não resistiu. Chorou muito, repetindo: "Pai, não faz isso. Você é o meu pai". Foi irresistível: lembrei, de imediato, que, além de pai, fui (acho que ainda sou, um pouco menos, é claro), por muitos anos, o seu 'heroi', uma referência. E chorei, também, com ela, a filha "caçula preferida", prestes a completar 34 anos, mas ainda a minha malcriada e amorosa 'pirralha' que se atirava no chão do Barrashopping.

     A mais velha, Flávia, jornalista como eu (ótima, por sinal), completa 38 anos hoje, dia 19. Fabiana é professora, como a mãe, e autora de alguns livros didáticos do curso de espanhol da rede Yes, onde trabalha como coordenadora pedagógica há alguns anos.
     O tal 'isso' a que ela se referia - além de sair sem avisar, deixar a porta aberta e a televisão ligada - foi ter esquecido o celular em cima da mesa. Nem me dei conta. Não uso, praticamente. Pedi desculpas a todos, reconhecendo meu 'desligamento', já notório, mas não escapei do 'castigo' sugerido por Júlia, minha neta, do alto de seus oito anos de sabedoria e repetindo exemplo da mãe, quando quer que ela faça algo e encontra resistência:
     - Vamos proibir o vovô de usar a internet um dia inteiro!

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