domingo, 31 de julho de 2011

Investigações no Exército

     Ao que sugere o noticiário diário, parece não haver limites para a corrupção no Governo. Além do recente escândalo no Ministério dos Transportes e das denúncias de delitos nas pastas da Agricultura e da Cidade, surgiu hoje, na Folha, mais uma versão assustadora do que parece ser uma sucessão infinita de malfeitos.
     Dessa vez, o noticiário envolve nada menos do que o ministro do Exército, Enzo Peri, e outros sete generais, alvos de investigação da Procuradoria-Geral da República em virtude de ilícitos cometidos em obras realizadas pela Força, entre 2004 e 2009, através de convênios com o DNIT.
     O desvio de recursos, descoberto por uma comissão de engenheiros e contadores, chefiados por uma promotora militar, segundo a reportagem da Folha, chegaria a R$ 11 milhões. Os alvos das investigações, incluindo o general Enzo, chefiaram o Departamento de Engenharia e Construção do Exército. O objetivo é determinar até que ponto eles sabiam das práticas ilegais - se é que sabiam.


PS: Não estaria sendo justo comigo mesmo se não fizesse a ressalva: não acredito no envolvimento direto dos oficiais-generais, pelo conhecimento indireto que tenho deles. Talvez sejam culpados, sim, mas por omissão.

Família talentosa

     A empresa de telefonia Oi parece ter um faro apurado para descobrir talentos. Em 2005, quando ainda era conhecida como Telemar e mantinha relações formais com o Governo, vislumbrou o potencial empresarial do jovem Fabio Luís Lula da Silva e investiu a considerável soma de R$ 5 milhões na desconhecida Gamecorps. Segundo a Folha, essa iniciativa ainda está sendo investigada pela Polícia Federal.
     Agora - contam as repórteres Nádia Guerlenda Cabral, Andreza Matais e Fernanda Odilla -, mudando de ramo, mas apontando para o mesmo tronco familiar, decidiu investir R$ 300 mil na produção da peça A Megera Domada, de Shakespeare, que marcará a estreia na ribalta da jovem Bia Lula, filha de Luriam Lula da Silva, neta do ex-presidente.
     Segundo a reportagem, os produtores da peça admitem que convidaram a promessa de atriz porquer anteviam a repercussão, mas que isso não interferiu na liberação de recursos, através da Lei Rouanet.

sábado, 30 de julho de 2011

Minha frase da semana

Deu no O Globo: "Dilma se reúne com ministros para discutir nova política industrial". Pensei que fosse para debater a política penitenciária.

Corrupção ilimitada: mais um caso em Brasília

     Eu já deveria ter aprendido que não devo comentar uma notícia sobre corrupção no Governo, sem checar todos os meios de informação antes. E estou 'pagando' por isso. Como as denúncias feitas pelo irmão do senador Romero Jucá sobre roubos no Ministério da Agricultura, divulgadas pela Veja, me 'sensibilizaram' muito (postagem anterior), não lembrei, na hora, de dar uma olhada na IstoÉ. Fui olhar agora, e não deu outra: a revista denuncia assaltos em outro ministério, o da Cidades, comandado pelo PP, de Mário Negromonte.
     Segundo a revista, os dirigentes favoreciam determinadas empreiteiras, justamente as que mais contribuíram com o partido nas eleições anteriores. Era como se o dinheiro saísse dos cofres do Governo por um lado e entrasse nas contas do PP e parceiros imediatamente. Esquema semelhante ao do Mensalão, que financiou campanhas da base aliada e distribuiu prebendas entre a companheirada.
     Duas revistas nacionais, duas denúncias graves de assalto ao dinheiro público, que se somam ao escândalo do Ministério dos Transportes. Em comum, inclusive com o Mensalão, o fato de que os envolvidos e denunciados e/ou o esquema são antigos. Armados, estruturados e desenvolvidos no governo Lula. O que não representa absolvição, pois a presidente Dilma Roussef participou ativamente da gestão, como chefe da Casa Civil. Ou ela não sabia, e era incompetente. Ou sabia e era conivente.
    Essa avalanche de denúncias exibe um dos lados obscuros dos governos contaminados pela corrupção: as informações chegam aos veículos de comunicação através de integrantes do esquema, afastados compulsoriamente ou desatendidos em suas reivindicações.

Nova 'faxina' à vista

     Pelo que se pode deduzir dos últimos acontecimentos envolvendo o Ministério dos Transportes - duas dezenas de afastamentos de diretores e semelhantes -, vem aí nova 'faxina' no Governo, dessa vez na pasta da Agricultura. Segundo reportagem da revista Veja, há um enorme esquema de corrupção envolvendo, na ponta, a Companhia Nacional de Abastecimento, Conab.
     As denúncias foram feitas por Oscar Jucá Neto, irmão do senador Romero Jucá (PMDB), líder do governo no Senado. A história, em síntese, não difere muito das que vêm marcando os últimos oito anos e meio de governo petista: desvio de dinheiro, cobrança de comissões e favorecimento a companheiros, tudo em nome da governança.
     A Agricultura, segundo o denunciante - que acaba de ser demitido na Conab, envolvido em denúncia de pagamentos ilícitos -, foi loteada entre o PMDB e o PTB, assim como o Ministério dos Transportes foi cedido ao Partido da República.
     Ao contrário do que se presume ter acontecido com o ex-diretor do DNIT, Luiz Antonio Pagot, que ameaçou mas saiu calado, Oscar Jucá não poupou o ministro Wagner Rossi e ainda deu uma estocada no vice-presidente Michel Temer. Segundo a Veja, Jucá disse que seu ex-chefe ofereceu dinheiro para que ele saísse calado. E concluiu com um afirmação definitiva: "Ali só tem bandido".
     Somando esses escândalos à provável demissão do ministro da Defesa, Nelson Jobim (por incontinência verbal), corremos o saudável 'risco' de assistir ao governo federal fechar as portas em breve, por falta de pessoal. O problema é ter que fazer 'concorrência' para comprar detergente e desinfetante.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Falácias na ESG

     Eu até entendo que empresários com 'interesses' no país contratem o ex-presidente Lula para fazer ... palestras. E que paguem cerca de duzentos mil dólares para ouvir algumas piadas e duas ou três frases escritas pelo ex-jornalista Franklin Martins e assitir a uma performance inspirada nos mais caricatos pastores eletrônicos. O dinheiro é deles e eles sabem o quanto faz bem ser amigo do cara. No balancete, esse tipo de despesa certamente poderia ser lançada na coluna 'investimento'.
    Mas entre palestrar para executivos amigos e contar histórias na Escola Superior de Guerra há um abismo. Ou deveria haver. Lula na ESG ... Não consigo imaginar o que levaria essa instituição a convidar alguém tão simplório para proferir, entre outras coisas, essa pérola do pensamento político, publicada no Estadão: "Qaundo você ouvir o cara da oposição falar 'estou torcendo para dar certo', não acredita, não. É o inverso. Eles estão torcendo para a infalção voltar, para o desemprego aumentar."
     É de uma profundidade abissal. Dizer essas mesmices num comício de inauguração de pedra fundamental seria até aceitável, embora continuasse sendo uma grande bobagem. Mas para uma plateia que, em tese, tem um mínimo de capacidade para filtrar informações - e exerce essa prerrogativa -, chega ser risível.
     Talvez tenha sido essa a motivação do convite. Mostrar às novas gerações de 'companheiros militares' o quanto o ex-presidente é limitado. Deixar bem claro para todos que o Brasil sofreu um retrocesso ideológico imenso nos últimos anos. Exibir a fragilidade dos argumentos, as falácias.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Cadê o dinheiro, senador?

     O monocórdio senador Cristovam Buarque (PDT-DF) deu nova demonstração de diversionismo ideológico, marca sempre presente em sua carreira. Ao ser questionado sobre a assinatura do pedido para abertura de uma CPI sobre os escândalos no Ministério dos Transportes, tentou sair pela tangente: não vai assinar porque está satisfeito com a faxina realizada pela presidente da República.
     Sabe o senador - que ninguém tenha dúvida - que as demissões, todas forçadas por denúncias avassaladoras, não respondem a pelo menos uma questão crucial, que seria levantada pela CPI: quem levou todo o dinheiro? Foi usado, ou não, para pagar contas da última campanha eleitoral, como foi aventado?
     E bom não esquecer que não estamos tratando de 'apenas' um mensalão, orçado em algo em torno de R$ 50 milhões. O roubo atual, pelos cálculos iniciais, bateu a casa dos R$ 70 milhões. E ninguém foi preso, ou o dinheiro foi devolvido.
     Mas jamais interessou ao ex-senador do PT mexer muito profundamente nos descaminhos do projeto petista de poder, do qual ele foi afastado compulsoriamente. Mudou de partido, mas a cumplicidade com os antigos companheiros permaneceu. Com a decisão de não assinar o requerimento, sua excelência dá uma efetiva contribuição ao processo de ocultação de fatos que vem marcando os últimos oito anos e meio de governo.

O Lula peruano

     O novo presidente do Peru, Hollanta Humala, assumiu o cargo, hoje, prometendo - ameaçando? - ser uma versão andina do ex-presidente Lula. Ficam, no ar, diversas interrogações. Populista todos nós já sabíamos que ele é, historicamente. E vai contar com um campo fértil para semear seus projetos, que - embora ele negue - também têm uma forte inspiração do 'chavismo, esse mal que se alastrou na América de língua espanhola, no rastro dos petrodólares amigos.
     A prevalecer uma avaliação do passado e do presente do novo presidente, podemos concluir que os peruanos - que amargaram governantes deletérios - serão atingidos pelas consequências das ideias de um misto de Lula e Hugo Chavez, o que deve aprofundar ainda mais os conflitos de classes no seu país. Eleito após uma disputa acirrada com o espólio de Alberto Fujimori (disputou a presidência com Keiko Fujimori, filha do ex-presidente), esse ex-oficial do Exército - mais uma afinidade com Chavez - vai depender muito da capacidade da economia em atender às expectativas de uma população marcada pela pobreza.

Apologia do obscurantismo

     Se houvesse uma punição para a apologia ao obscurantismo, certamente atingiria em cheio o 'bispo' Edir Macedo, da Igreja Universal, dono, entre outros bens terrenos, da TV Record. Ao lançar uma versão da sua igreja na internet, Macedo conclamou os fieis a um jejum de notícias por 21 dias, para que se livrassem do que ele - segundo a Folha - classifica de lixo divulgado por jornais e emissoras de rádio e tevê.
     Depreende-se, da iniciativa, que quanto mais desinformados, alienados e ignorantes forem seus seguidores, melhor para ele. Em nenhum momento há a sugestão de uma discussão das informações que chegam às casas e mentes, um processo qualquer - mesmo que fosse induzido - de depuração de fatos. Nada. A proposta é eliminar qualquer resquício de pensamento que porventura sobreviva entre seus milhões de dizimistas/financiadores.
     O contraditório - fruto do exercício da autodeterminação, dos questionamentos ideológicos - é um dos grandes inimigos dos manipuladores de consciências, que crescem e enriquecem regando a mediocridade de populações socialmente discriminadas, até torná-la irreversível.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

A trupe bananeira

     É verdade que os países da América do Sul não têm muitos motivos para se orgulhar de seus dirigentes. Ditadores, demagogos e populistas - e populistas demagogos e ditadores - vêm marcando a nossa história de pobreza, corrupção e ignorância. Mas - sou forçado a reconhecer - há muito tempo não há um time tão medíocre e coeso como agora.
     O destempero e atrocidasdes realizadas e ditas por essa trupe - Hugo Chavez (Venezuela), Evo Morales (Bolívia), Fernando Lugo (Paraguai), Rafael Correa (Equador), Cristina Kirchner (Argentina), o novato Hollanta Humala (Peru) e o sem-mandato, mas mandante Lula - extrapolam todos os limites do bom-senso, agredindo qualquer inteligência mediana.
     A mais recente obscenidade intelectual partiu do presidente boliviano. Em Nova Iorque, durante uma entrevista, Evo Morales disse que tem medo do que os Estados Unidos podem fazer e aventou a hipótese de que haveria uma conspiração para 'plantar' cocaína no seu avião e, assim, ter motivos para prendê-lo, como traficante.
     Com essas declarações, Evo comprovou que a criatura sempre pode superar o criador em estultícias. Assim como o equatoriano Rafael Correa superou o venezuelano Hugo Chavez, o capo dos capos, no fuzilamento da liberdade de expressão.

Juízes sem defesa

     Fiquei comovido ao saber que a Associação dos Juízes Federais do Brasil está em plena campanha para a aprovação de férias de 60 dias para suas excelências. Os argumentos são inatacáveis: eles trabalham, por vezes, mais de 40 horas por semana e não recebem pelas horas extras dedicadas ao atendimento de suas obrigações.
     Segundo O Globo, a Associação, em nota oficial, afirma, entre outras coisas, que "os juízes brasileiros são responsáveis pelo estudo e julgamento dos processos que lhes são distribuídos e são cobrados pelo cumprimento de metas arrojadas".
    
     Impressionante. Ficamos sabendo, então, que juízes têm a incumbência de julgar e que precisam cumprir metas. Será que alguém precisa dizer a suas excelências que trabalho e cobrança fazem parte do dia a dia de toda a população brasileira, excetuando políticos, outra categoria também muito 'sacrificada'?
      Não ficou claro se essas férias esticadas - só comparadas a de deputados e senadores - incluíriam, também, os recessos. Certamente não. Afinal, recesso é recesso.
     Recentemente, nossos juízes andaram reclamando da obrigação de cumprir jornada de oito horas diárias e, paralelamente, de trabalhar à tarde, no verão, em especial no Nordeste. É isso mesmo: a Justiça descobriu que faz calor no Brasil. Na época, presumi que o pessoal do Judiciário estava querendo ir à praia depois do almoço.
     O que mais me causa repulsa é ver que esse tipo de reivindicação parte de uma categoria especial, a elite da elite, homens e mulheres que - por seus méritos, é claro - recebem salários inimagináveis para a imensa maioria da população e ainda contam com gentilezas como carro oficial e uma boa cota de secretários para 'mastigar' os processos que chegam às suas mesas.
     São indefensáveis.

Também não vi e sou contra!

    Eu também não vi 'A Serbian film - Terror sem limites', não pretendo ver e aconselharia - se me fosse dada essa prerrogativa - que ninguém visse. Para mim, basta saber a - digamos - 'temática' do que O Globo chama de "a primeira e polêmica obra do diretor sérvio Srdjan Spasojevic". Prestem atenção nessa espécie de sinopse, encontrada no próprio texto do jornal: "O filme, que mistura doses cavalares de violência com necrofilia, estupro de um recém-nascido e incesto envolvendo uma criança de cinco anos, conta a história de um ator pornô que, em seu último trabalho, é drogado e levado a realizar diversas atrocidades".     
     Pois bem, essa obra-prima do lixo - não preciso ver para ter certeza de que é puro lixo -, por enquanto, não corre o risco de ser exibida nos cinemas do Rio de Janeiro. Um grupo de políticos do DEM, liderado por Cesar Maia e seu filho, Rodrigo Maia, entrou na Justiça para impedir que o filme fosse exibido. O pedido foi aceito pela juíza de primeira instância e mantido pelo desembargador que analisou o recurso do distribuidor. O processo continua correndo.
     A decisão judicial foi apresentada como um ato de censura e, segundo a reportagem, repudiada por cerca de 150 pessoas que se reuniram na porta do cinema Odeon, na Cinelândia, para protestar. Os argumentos são aqueles de sempre: só vai ver quem quer e o 'filme' é proibido a menores de 18 anos.
     Na minha concepção - vivi a fase da censura de fato, quando todas as matérias produzidas pelo jornal onde eu trabalhava, no fim dos anos 1960 e começo dos anos 1970 passavam por um censor que dava plantão na redação -, a decisão judicial passa longe de ser um atentado à criação. Ao contrário. Apenas segue o preceito legal de impedir, no mínimo, a apologia de crimes.
     Ou não seria crime apresentar, como arte, estupro de bebês? Ou incesto envolvento criança de cinco anos? Já nem falo em necrofilia, uma simples e tolerável aberração - perto das anteriores.
     Essa 'obra de arte' - ainda de acordo com o Globo - foi proibida na Noruega e submetida a dezenas de cortes, para ser exibida no Reino Unido. Coisa de ditaduras, certamente.
     Essa gente não sabe o que viver sob censura.

terça-feira, 26 de julho de 2011

O pensamento de Pagot

     Estamos combinados: de agora em diante, para trabalhar no Ministério dos Transportes, só com atestado de idoneidade. Segundo contam nossos jornais, a presidente da República não vai abrir mão dessa exigência. Não ficou esclarecido, pelo menos para mim, se a decisão vai atingir todos os demais ministérios. Nem - e isso seria importante - se será retroativa. Se não for, alguém poderá imaginar que os demais corruptos porventura nomeados no Governo Lula vão continuar livres para agir.
     Se não fosse trágica, essa notícia teria tudo para se transformar em mais uma piada sem a menor graça. Mais uma isca prontamente abocanhada pela imensa legião de críticos a favor. Ou será que alguém imagina ser normal nomear um funcionário que não tenha um histórico sem manchas? A função pública, por si mesma, exige do funcionário uma conduta exemplar, até por que ele é um representante do Estado. E um estado, por definição, não pode ter 'ficha suja'.
     Toda essa fantasia criada em torno das demissões no Ministério dos Transportes reflete, apenas, a estratégia de tentar transformar um fato absolutamente desabonador em algo favorável. Como se o atual governo - mera continuação do anterior - não tivesse responsabilidades. Como se a atual presidente não houvesse ocupado a pasta principal na administração anterior.
     E a tal carta entregue à presidente pelo ex-diretor-geral do DNIT, Luiz Antonio Pagot? É secreta? Vai entrar no rol dos documentos que não poderão jamais ser divulgados? Particularmente, eu estou muito interessado em conhecer o pensamento de Pagot.

A crise dos combustíveis

     A tão decantada autossuficiência na produção de petróleo - garantia de abastecimento a preços decentes e estáveis - está se provando, a cada dia, mais um factoide. Importamos óleo diesel e estamos sempre sob o cutelo da importação de gasolina, justificativa para os constantes e irreversíveis aumentos registrados especialmente no último ano.
     A nova ameaça - como se a gasolina não sofresse reajustes seguidos - joga toda a culpa na incompetência governamental na crise do álcool, que estaria empurrando os consumidores de carros flex para o uso do derivado do petróleo, o que reduziria um pouco o enorme peso do combustível nas contas mensais. Hoje, no Brasil, não há vantagem no uso do álcool, uma das bandeiras ecológicas do governo.
     O álcool mais caro - outra demonstração de falta de planejamento - vem fazendo com que o uso da gasolina seja mais atraente - segundo a Petrobras -, aumentando muito o consumo, o que coloca em risco o abastecimento, já que as refinarias estariam trabalhando em plena capacidade. A solução para a temível falta de produto nas bombas: aumentar o preço, para refrear a procura.
     A prevalecer esse desencontro, estamos perto de jogar na latrina, mais uma vez, uma tecnologia que se mostrou menos agressiva ao meio ambiente. A ganância dos produtores, mais interessados no lucro do açúcar, e a falta de um projeto decente por parte do Governo estão se somando para reeditar o estrondoso fracasso do finado Pró-Álcool.
     Dessa vez, pelo menos, os carros também se movem com gasolina. O grande problema é que os motoristas correm o risco de ficar com os carros parados na garagem, sem álcool e sem dinheiro para colocar gasolina. 

Horror e barbaridade

     Não há limites para o horror e para a indignidade no mundo do fanatismo. Enquanto a Noruega ainda sangra em virtude dos atentados inéditos na sua história, e que resultaram na morte de dezenas de pessoas, uma notícia não menos chocante - pela barbárie nela embutida - despenca nos nossos jornais, entre eles O Globo: um menino de 8 anos (é isso mesmo, oito anos ...) foi enforcado pelo grupo islâmico Talibã, em represália ao fato de seu pai ter se recusado a colaborar com a guerrilha.
     O menino fora sequestrado alguns dias antes da execução, ocorrida sexta-feira. Os extremistas queriam que seu pai, um oficial da polícia, ajudasse na luta contra as tropas do governo e estrangeiras, dirigindo um caminhão. Como não obtiveram sucesso, enforcaram a criança.
     Não há ideologia que nos faça sequer tentar racionacionalizar atos dessa natureza. O recurso à luta religiosa apenas aumenta a constatação de que, acima de tudo, prevalece a mais profunda ignorância, o mais absurdo obscurantismo, a mais deplorável arrogância dos que se julgam eleitos para salvar o mundo. Independentemente de cor e credos político e religioso.

Demagogia e drogas

     A única medida efetiva tomada no Rio de Janeiro para enfrentar a tragédia provocada pela disseminação do uso de crack entre crianças e adolescentes - o recolhimento compulsório das ruas e a internação para tratamento - começa a ser bombardeada pelos estelionatários ideológicos de plantão.
     No O Globo de hoje, um grupo de 'especialistas' tem a coragem de evocar os Direitos Humanos e o Estatudo da Criança e do Adolescentes para contestar a iniciativa municipal. Na prática, essas pessoas defendem o direito que esse grupo de deserdados teria a uma morte indigna e devastadora.
     Faria a elas a pergunta que fiz ontem, num texto sobre o inferno das drogas: vocês gostariam de ver seus filhos e/ou irmãos na situação em que se encontram esses jovens, abandonados nas ruas, sujeitos às mais diversas formas de violência física e moral?
     Devemos, sim, exigir mais determinação dos governos, mais recursos para equipar os centros de recolhimento, mais centros de recolhimento, não só para jovens, mas também para adultos relegados a um estado de degradação deveria envergonhar a sociedade, transformados em lixo humano espalhado pelas ruas.
     Não há 'direito de escolha' que se sobreponha à obrigação que o Estado tem de zelar pelos seus cidadãos. Não há dignidade na opção pela autodestruição, até por que ela não é fruto de escolhas conscientes, e sim uma consequência de processos destrutivos de dependência química.
     Não é possível que pessoas que se julguem responsáveis fiquem à vontade ao assistir às cenas de mais total abandono que são registradas não apenas em redutos específicos, mas por toda a cidade. Apesar das minhas reservas, sou obrigado, nesse caso específico, a concordar com o secretário municipal de Assistência Social, Rodrigo Bethem, quando contesta as críticas ao recolhimento: é pura demagogia.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Não há glamour nas drogas

     A matéria de O Globo, sobre a iniciativa de policiais do Rio de Janeiro de exibir, em fotos, a degradação provocada pelo uso de drogas, o crack em especial, talvez seja a mais emblemática de hoje, pela oportunidade de revelar o inferno de pessoas simples, que destruíram a próprias vida e, certamente, a dos que as cercam.
     São fotos sem o glamour emprestado aos astros, como a cantora inglesa Amy Winehouse. Sem fantasias, sem o falso e criminoso romantismo que cerca o mergulho no vício. São retratos de um caminho quase sem volta para a morte prematura. Morte física, pois a moral já se instalou há muito tempo.
     Em outra página, a notícia sobre o assassinato de uma mulher, em Alagoas, mostra o outro lado do mundo das drogas. O lado dos traficantes, aqueles seres deploráveis que lucram com a miséria humana. A mulher, que havia denunciado o tráfico, foi arrastada de casa, morta a tiros e esquartejada, no estilo dos mais violentos carteis mexicanos.
     São dois exemplos incontestáveis de que não há beleza, graça, arte ou algo semelhante nesse mundo. E deveriam servir de alerta para todos os que insistem em brincar de modernos quando pregam a liberalização do consumo de determinada droga, sob argumentos pífios, entre eles o mal causado pela bebida e pelo cigarro comum. Mais dignos seriam se lutassem, então, pela restrição a esses e outros males.

domingo, 24 de julho de 2011

Mediocridade fora de campo

     Cada vez que vejo e/ou ouço entrevistas dos senhores Luiz Felipe Scolari, Renato Gaúcho, Muricy Ramalho e quetais, mais eu me convenço do desserviço que prestam ao futebol brasileiro. Nada acrescentam e ainda fortalecem a imagem de mediocridade associada à maioria dos envolvidos no esporte mais popular do Brasil. Normalmente são simplórios, arrogantes e muitas vezes grosseiros e inconsequentes, como o técnico do Palmeiras nos últimos incidentes com torcedores do clube.
     Sua última demonstração de valentia - praticamente desafiou os torcedores que vaiaram alguns atletas, na derrota de ontem (1 a 0) para o Fluminense - não tem o menor cabimento, especialmente quando parte de alguém que deveria demo
nstrar o mínimo de preparo suficiente para minimizar incidentes como esse.
     Ao bravatear que está disposto a um encontro pessoal com o grupo que vaia o time - divulgando seu roteiro em São Paulo -, o técnico Scolari pode ter precipitado acontecimentos que certamente não iriam colaborar com as propostas de levar a paz aos estádios.
     Uma atuação lamentável, sob todos os aspectos.

Minha frase da semana

 "O fanatismo - ficou provado mais uma vez - não é de direita ou esquerda. É simplesmente vazio, oco, doentio."

Um país exposto à corrupção

     A capa da revista Época não poderia ser mais incisiva e direta: denuncia a existência da Agência Nacional da Propina, numa referência explícita à Agência Nacional de Petróleo. O Globo, em manchete, mostra que o Departamento Nacional de Infraestrura Terrestre (DNIT) funciona praticamente sem controle, graças a uma entrincada rede que dificulta ao máximo a verificação dos gastos.
     Ainda no Globo, um dos colunistas cita, como se fosse algo absolutamente corriqueiro, os boatos sobre uma espécie de caderno - um dossiê - com os registros de quem levou dinheiro, quanto e quando. Esse caderno seria a grande arma do ainda diretor-geral do DNIT, Luiz Antonio Pagot (ele está oficialmente de férias), e estaria deixando a República em polvorosa.
     O descrédito no Governo chegou a tal ponto que leva a apenas duas opções: a manutenção de Pagot no cargo, algo absolutamente improvável, confirmaria a existência do tal dossiê; seu afastamento indicaria que o silêncio foi bem pago. Não há terceira via nesse processo. As evidências e informações que vazaram recentemente são, por si só, irreversíveis.
     O avanço dos partidos da base governamental em todo os setores da vida pública, nos últimos oito anos e meio, em especial, gerou um monstro incontrolável, voraz, que corrompeu todo o sistema. Não há cargo em comissão, por mais simplório, que tenha escapado da volúpia do poder. Jamais o setor público esteve tão loteado e atrelado a ideologias ou à ausência delas.
     O país digno sangra a cada fim de semana, a cada manchete.

sábado, 23 de julho de 2011

Fanatismo e crimes

     O fanatismo - ficou provado mais uma vez - não é de direita ou esquerda. É simplesmente vazio, oco, doentio. Um assassino será sempre um assassino, independentemente do seu viés ideológico. Guevara ou Mussolini. Stalin ou Pinochet. Tanto faz. Não há justificativas para a violência, para o ódio. O respeito aos direitos humanos fundamentais deve prevalecer em qualquer circunstância.
     Não há bens coletivos que tornem menos vil um assassinato, um atentado. Excetuando os casos de evidente e inequívoca doença psiquiátrica, que autoexplicam a motivação, casos como o que abalou a Noruega trazem no bojo um quase sempre torturante componente radical. A irracionalidade transformou-se, com o passar dos anos, na maior inimiga da humanidade.

A morte estimulada

     A morte da cantora inglesa Amy Winehouse deveria estar pesando na consciência dos irresponsáveis e liberaloides que, ao exaltarem seu evidente desequíbrio emocional - como se doença fosse estilo de vida -, contribuíram para esse fim trágico.
     Essa jovem, assim como centenas de milhares de outros, não vivia, apenas tentava suicidar-se diariamente, sob aplausos condescendentes.
     O inferno das drogas e bebida não poderia, jamais, ser admitido como opção, ou símbolo de contestação, seja lá a que for. Não é um caminho, ao contrário. Ao exaltarem alguém não apenas pela sua arte, mas pelo 'simbolismo' que fingem ver no seu comportamento, os fazedores de mitos se transformam em cúmplices de crimes.
     Eu gostaria de saber quantos indivíduos, desejariam, realmente, sem demagogia, a 'liberdade' de Amy Winhouse para um filho ou irmão.

Histórias de Júlia e Pedro - 21

Entre tapas e beijos 

   Pedro vem demonstrando, a cada dia, que tem muito ciúme da irmã, especialmente quando ela está brincando com as amigas, e esquece dele. As exibições desse sentimento, no entanto, nem sempre são - digamos - civilizadas: um puxão de cabelo aqui; uma boneca jogada longe ali; e por aí vai.
     Recentemente, para aproveitar uma folga inesperada na escola, Júlia pediu à mãe para convidar algumas amigas para brincar, em casa, à tarde, aproveitando que o irmão estaria na escola. Em outro cômodo, Pedro ouviu aqueles acertos e não fez por menos: pediu para ficar em casa, também.
     Pedido negado e esgotadas as demonstrações de insatisfações habituais - choro, manhas e alguns tapas na irmã -, o moleque resolveu apelar, usando um português bem no estilo do Ministério da Educação e cara de sofrimento:
     - Mamãe, deixa eu 'ficá' em casa. Eu 'pometo' que vou 'se comportá' bem!
     Ficou. Bem comportado.

Um momento imperdível

     Um compromisso imperdível e inadiável vai me obrigar a deixar para amanhã - ou bem mais tarde - alguns temas que certamente comentaria hoje. Mas poucas coisas no mundo me dariam mais prazer do que ver a alegria de Júlia, na sua festinha de aniversário, hoje (ela está completando oito anos).

sexta-feira, 22 de julho de 2011

O ataque das trevas

     É impossível ficar insensível às notícias sobre os atentados terroristas que abalaram a Noruega - um país historicamente pacifista - hoje. As informações ainda são confusas, por óbvio, mas há versões que apontam para quase 40 mortos.
     O primeiro atentado aconteceu quando uma bomba explodiu em uma região da capital onde funcionam diversos prédios governamentais e onde trabalha o premier
premier Jens Stoltenberg. O segundo, em um acampamento de jovens que estava sendo realizado em uma ilha nas proximidades de Oslo, atacado a tiros.
     Nos dois, a possível marca da ignorância, dos radicalismos religioso e ideológico, confirmando que é praticamente impossível conviver o obscurantismo, que prega a destruição, que despreza a vida de todos os que classificam de infiéis.
     Com a observação de que ainda não há confirmação formal, o jornal New York Times revelou que um grupo islâmico, que se autodenomina Ansar al-Jihad al-Alami (Auxiliares do Jihad Global), reivindicou a autoria dos ataques, sob o argumento de que estaria respondendo a insultos proferidos contra o profeta Maomé (remetendo à charge publicada inicialmente em um jornal dinamarquês) e à participação de tropas norueguesas no Afeganistão.
     Sejam muçulmanos ou católicos; protestantes ou assemelhados, é assim que esses grupos radicais agem, movidos pelo ódio que vem da soma de dois fatores presentes, infelizmente, na interpretação deturpada de supostas orientações divinas: fanatismo e a mais completa ignorância.

Cuidado, dona Angela!

     Dona Angela Merkel, cuidado! O 'cara' não está satisfeito com as atitudes tomadas pela Alemanha para enfrentar - em especial - a crise econômica européia. Pelo que li - e pelo que eu conheço do cabra -, acho que ele está invocado. E quando ele está invocado, tudo pode acontecer. Ainda mais depois de receber dois títulos de doutor, hoje em Pernambuco.
     Nós sabemos que são títulos honoríficos, que é uma espécie de doutorado de anedota e de champanhota, mas ele não sabe. Pensa que isso tudo é verdade. E já anunciou que pretende viajar para suprir o que classificou de "fragilidade de lideranças no mundo", segundo a Folha.
     Para o bem do seu governo, que andou enfrentado alguns problemas, é melhor ficar preparada para as próximas investidas internacionais do homem. Ele já deixou entrever - não deve saber o que é isso, mas deixou - que culpa a Alemanha pelos males que assolam o continente. Acusou seu país, que vem sustentando a economia europeia, de não pensar nos vizinhos, de ficar preocupada apenas com seus problemas.
     Como não estava lá, não posso dizer se ele já havia almoçado, antes de falar à Rádio Jornal . Sei que ameaçou o mundo com novas 23 viagens, até o fim do ano, mesmo sabendo que precisaria "dar mais atenção" à Dona Marisa. "Não consigo parar de fazer política", disse, e o repórter Fábio Guibu transcreveu.

O exemplo chinês

     Não precisaríamos chegar a esse extremo. Mas o mais recente exemplo chinês de intolerância com corruptos bem que poderia estimular nossos legisladores e fiscais da ordem. Lá, na única potência 'comunista' do mundo, por muito tempo uma das referências ideológicas para a turma que está mandando por aqui, não sobraria um diretor do Ministério dos Transportes. Mensaleiros? Nem pensar.
     Todos certamente teriam recebido pena semelhante ao ex-subdiretor-geral da companhia estatal China Mobile, Zhang Chunjiang, condenado à morte, hoje, segundo reportagem da Folha, por corrupção. Com uma ressalva: a pena poderá ser transformada em prisão perpétua, se ele tiver bom comportamento durante dois anos.
     O tiro na nuca ou a cela eterna, no entanto, não vai livrar o dirigente chinês da privação dos direitos políticos e do confisco de todos os seus bens. Segundo a Justiça, Zhang, recebeu propina no valor de US$ 1,15 milhão (cerca de R$ 1,54 milhão) , em cinco anos. Uma bagatela, se comparada aos rombos que estão sendo descobertos pelo Tribunal de Contas da União nas obras do tal PAC, quase todas desenvolvidas nos gabinetes do Ministério dos Transportes.
     Ou à dinheirama - no mínimo R$ 50 milhões - distribuída pela quadrilha formada para assaltar os cofres públicos, no episódio que ficou conhecido como Mensalão.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

'Problemas' incontornáveis

     Essa eu vi. Por acaso - a essa hora sempre é por acaso -, passei pelo aparelho de televisão, que estava ligada na Globo News, e acompanhei a entrevista do ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, sobre os escândalos no Ministério dos Transportes, em especial no DNIT. O marido da ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann - citado, assim como ela, nos disse-me-disses que antecederam os depoimentos do ainda diretor Antonio Pagot (ele está de férias, é bom lembrar) - não fez por menos: admitiu que é impossível evitar 'problemas' num órgão que mexe com um orçamento que deve chegar a R$ 13 bilhões este ano.
     Disse e não ficou, sequer, levemente ruborizado. Para ele - depreende-se - roubar (expressão mais próxima do sentido que ele deu à palavra 'problemas') é natural, especialmente quando o dinheiro é farto e a dignidade é reduzida. E, candidamente, sem ser replicado, assegurou que "a presidenta" (para ele, é presidenta, com a, assim como seria gerenta, assistenta etc) vem agindo sempre que há denúncias.
     Não há limites para essas pessoas.

As duas faces do esporte

     A Folha de hoje conta a história de um atleta desconhecido, o goleiro Renê, que jogava no Bahia quando foi flagrado num exame antidoping, pelo uso do diurético furosemida. Renê está muito magoado, e desabafou usando o twitter. Pobre e sem ter a quem recorrer para manter a família, ele garante que não torceu contra o medalhista brasileiro Cesar Cielo, absolvido - foi apenas advertido - de acusação semelhante. Supenso por um ano, ele garante que só queria ter merecido tratamento igual.
     Cesar Cielo e Renê estão nas extremidades opostas desse enorme universo do esporte. Enquanto o nadador é a maior referência brasileira nas piscinas e um insubstituível garoto-propaganda das glórias nativas, o goleiro é um completo estranho para a maioria dos brasileiros, embora tenha jogado no Bahia, um time com tradição e enorme torcida.
     No meio desse abismo, há o caso ainda recente de Dodô, atacante de relativa fama e sucesso (jogara no São Paulo, Santos, Fluminense e Botafogo), que, ao ser flagrado num exame, acabou suspenso por dois anos. No caso do atacante, de nada adiantou argumentar que o remédio foi prescrito pelo médico do clube - como foi. Nem exibir a confissão do laboratório de manipulação, que admitiu ter errado. Ele ainda voltou ao futebol (Vasco, Portuguesa de Desportos), mas já não era o 'artilheiro dos gols bonitos', como ficou conhecido. Atualmente, disputa a segunda divisão, pelo Americana, do interior paulista.
   Já o lateral Athirson, revelado pelo Flamengo e com passagens pela Seleção Brasileira, embora também tenha sido pego em exame andidopagem, conseguiu 'convencer' a CBF que havia usado substâncias ilegais sem intenção de se dopar, e foi absolvido, em julho de 2000.

Coisas do esporte.

Kassab não vê televisão

     Todos nós sabemos que a criatividade dos redatores de novelas, séries e programas afins está diretamente ligada, entre outros fatores, ao acontecimentos que recolhem nas páginas de jornais, nos noticiários de tevê. Esse fenômeno fica bem claro, em especial, nas séries da franquia Lei e Ordem, por mais que seus produtores ressaltem, em cada episódio, que os fatos ali retratados não têm ligação com acontecimentos reais etc etc etc.
     No caso de um dos últimos epísódios de Lei e Ordem Los Angeles, a lógica foi invertida pela realidade brasileira. Aqui, mais precisamente em São Paulo, nossos políticos parecem ter se inspirado no tal episódio, baseado na falsificação de assinaturas para um projeto de lei contra o casamento de pessoas do mesmo sexo. Mas não devem ter assistido ao filme até o fim.
     Para garantir o apoio necessário à sua campanha contra a homossexualidade, um pastor radical se associara a um coletor oficial de assinaturas, que cobrava cinco dólares a cada jamegão confirmado. Em síntese, quase metade das assinaturas era falsa e a ameaça de divulgação dessa falcatrua provovou duas mortes. O cabra que enchia os bolsos com as falsificações e participou de um dos crimes foi descoberto e, é claro, devidamente condenado. Assim como o filho do pastor, parceiro nos assassinatos.
      Se o prefeito Gilberto Kassab ou algum de seus assessores tivesse gasto algum tempo livre (se é que existe isso na 'atividade política')) passeando pelos canais a cabo, talvez esbarrasse nessa história e, com o alerta ligado, escapasse do vexame apontado hoje pela Folha: a lista de apoio á criação do seu (dele, Kassab) PSD está repleta de assinaturas falsas, crime comprovado por perícia grafotécnica.
     E agora, seu Gilberto? O prazo para a oficialização do novo partido está acabando (vai até setembro), e com ele sua chance de se candidatar. E o que é pior: com essas descoberta, todas as listas de adesão estão sob suspeita. O caso pode não dar cadeia, como na Los Angeles de ficção, mas tem tudo para condenar o PSD do prefeito a um castigo inesperado.

Corta o cabelo dele ...

     Pode parecer preconceito, e é mesmo, confesso. Mas aquele zagueiro do Botafogo - acho que o nome dele é Fábio Ferreira - não jogaria no meu time, se eu pudesse dar algum palpite. E acho que também não jogaria no time do botafoguense João Saldanha, com quem trabalhei durante muitos anos no Jornal do Brasil.
     Saldanha, para quem não conheceu ou não lembra, tinha alguns conceitos muito pessoais sobre o tal do futebol. Um deles se referia ao corte (ou à falta de corte) dos cabelos dos atletas. Dizia, sem a menor cerimônia, que não escalaria jogador cabeludo no seu time: "O cara precisa cabecear e o cabelo cai no olho, atrapalhando, ou amortece a bola. Não dá ..."
     Esse tipo de frase era creditado à imagem por vezes irreverente cultivada pelo 'João sem medo', como foi batizado pelo amigo e tricolor Nelson Rodrigues. Mas, podem ter certeza, ele não estava brincando.
     Vendo o jogo de ontem entre Coríntians e Botafogo, vencido com relativa facilidade pelos paulistas (2 a 0), apesar das bobagens cometidas pelo técnico Tite, lembrei do Saldanha e da sua frase, ao testemunhar o misto de espanto e comoção que o - digamos - penteado do zagueiro botafoguense causou no locutor João Guilherme.
     Não tenho restrições muito severas e esquisitices. Mas aquele penteado ... Não dá. Futebol, em especial, exige rapidez de pensamento, criatividade e inteligência, entre outros requisitos. Tudo o que não consegui enxergar olhando aquele personagem de cabeça raspada nas laterais e tufos de cabelo amarelo despontando no cocuruto, como se fossem espetos de piaçava enrolada.
     E o Neymar? São as exceções que fazem a regra. E, cá para nós: acho que aquele topete é um dos responsáveis pelos tombos durante os jogos. Tira o equilíbrio do menino.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Punir é botar na cadeia. O resto é figuração

     Chega a ser comovente - entre aspas, é claro - a insistência de alguns jornais e jornalistas em tentar vender para o público a imagem de uma presidente rígida e decidida a colocar ordem na casa, a qualquer custo. Poucos lembram que essas decisões, tomadas exclusivamente em resposta a denúncias irrespondíveis, têm apenas e tão-somente um efeito pirotécnico. Mais ou menos como quando um tribunal anuncia a punição de um juiz envolvido em maracutaias - e haja maracutaia! O cabra é 'obrigado' a se aposentar, ganhando uma fortuna para ficar em casa.
     É o que depreendo das punições determinadas no Ministério dos Transportes, em consequência da descoberta de tramoias e trambiques sem fim. Essa cambada toda está sendo afastada das funções, quando deveria estar sendo presa e processada. E mais: essas pessoas estão onde estão porque lá foram colocadas pelo governo que elegeu a atual presidente, e do qual ela fez parte ativíssima.
     Nâo aguento mais essa conversa fiada que joga toda a culpa pelo mal-feito no tal do Partido da República. Caros, esse incrível PR é o que é porque está de braços dados com o PT há oito anos e meio (considerando-se o tempo em que ainda era PL, Prona e outros bem menos votados). Tanto que continua lá, no mesmo lugar, aos pés do Palácio do Planalto, fazendo um (o?) trabalho sujo.

População paga mais uma conta da demagogia

     Se eu fosse paulistano estaria, hoje, lamentando profundamente a estapafúrdia decisão oficial de presentear o Coríntians com um benefício fiscal que está orçado, nesse momento, em R$ 420 milhões. É isso mesmo. O contribuinte da cidade de São Paulo vai arcar com esse projuízo, pela 'honra' de hospedar a primeira partida da Copa do Mundo de 2014, no futuro estádio Itaquerão, uma obra particular bancada com o dinheiro público.
     A decisão dá uma trégua na enorme confusão que vem rondando há dois anos a construção de um estádio capaz de atender aos requisitos da Fifa. Como em outras ocasiões - mais ou menos nobres -, a conta fica com a população da maior cidade do país, refém de enchentes a cada chuva, engarrafada até a alma e obrigada a sobreviver à pior qualidade de ar dentre todas as capitais brasileiras.
     Seria uma decisão escandalosa, se já não fosse, por princípio, criminosa. Os pífios argumentos do prefeito Gilberto Kassab - a obra vai garantir melhoramentos para o bairro , na Zona Leste da capital, entre outros - não se sustentam. Com essa montanha de dinheiro, São Paulo poderia fazer muito pela sua população, sem sucumbir à demagogia do apelo esportivo representado pelo clube de maior torcida do Brasil.
     Ao lado do prefeito, tentando roubar um pouco do que acredita ser um bom momento, o insosso governador Geraldo Alkmin e esse incrível ministro Orlando Silva, do Esporte. Sem falar no presidente corintiano, Gilberto Sanchez, que chegou a "chorar", emocionado, segundo a Veja. Eu - se não tivesse um mínimo de vergonha na cara - acho que também choraria, se recebesse um presente desse tamanho.

Um porto risonho e seguro

     Vejo com entusiasmo qualquer iniciativa destinada à recuperação da Zona Portuária do Rio de Janeiro, à sua reintegração, como ocorre em quase todas as cidades civilizadas do mundo. A proposta é à prova de críticas. O antigo Cais do Porto e seus arredores têm, sem a menor sombra de dúvida, uma vocação turística irresistível. Fico imaginando aqueles armazéns abandonados às margens da Baía da Guaranabara transformados em restaurantes, bares, lojinhas estilosas.
     Prevejo a nova paginação da rua de paralelepípedos que acompanha o mar e por onde passavam caminhões e vagões de trens carregados. Jardins, bancos, lampiões, pracinhas. A cúpula da antiga estação de passageiros dos tempos da Viação Costeira, ali no armazém 13, recuperada, transformada em porta de entrada para um pedaço incrivelmente bonito e desprezado da cidade.
     Para quem, como eu, nasceu na região (num sobrado da Rua Leôncio de Albuquerque) e viu a família crescer e viver no e do porto, chega ser emocionante. Menino ainda, não cansava de olhar o mar, debruçado na varanda e nos terraços da velha casa de meus avós, em uma ruazinha paralela à, na época, imponente Rua do Livramento, com o reluzente e revolucionário prédio da revista O Cruzeiro.
     A ponte Rio-Niterói não era sequer um sonho. Para chegar à antiga capital do Estado do Rio, de carro, só mesmo pelo longo caminho daquela que chamávamos de 'estrada do contorno', que circunda o fundo da baía, ou nas barcaças. Uma travessia bem romântica, se bem me lembro.
     A Prefeitura já andou mexendo nas imediações, abrindo espaço para barracões de escola de samba e uma coisa ou outra. Hoje, lançou o projeto de recuperação de dois galpões na Gamboa. É o caminho.
     Só temo pelo que pode vir, depois. Os exemplos de omissão do Estado são fragrantes e agressivos. Locais de enorme beleza, como a Praça da República e o Passeio Público - para ficar apenas em dois exemplos -, estão jogados à própria sorte, invadidos por 'moradores de rua', sujos, destruídos. Poucas pessoas se arriscariam, hoje, a cruzar o Campo de Santana.
     E quem pode ir, com tranquilidade, ao Corvovado? E ao Teatro Municipal, ou ao Museu de Belas Artes? Bandos de assaltantes travestidos de flanelinhas atacam os incautos, sem que haja repressão. Jovens e velhos assaltantes investem nas carteiras e celulares. Não há estacionamento digno em toda a cidade. Prevalece a ilegalidade, a extorsão. Os guardas municipais se omitem. A Polícia Militar se acha acima dessas pequenas mazelas.
     Quero, sim, uma nova Zona Portuária, desde que eu possa ir lá sem medo. Assim como quero de volta o Rio que já foi de todos.

O sofá saiu da sala!

     O sujeito convida uma turma meio safada para fazer parte de seu projeto. Convida sabendo que os novos companheiros são especialistas em atividades não republicanas, conhecem os caminhos que levam aos recursos contabilizados ou - preferencialmente - não contabilizados, para usar um eufemismo (na verdade, estamos falando de dinheiro roubado, mesmo).
     Ele sabe que as estradas sempre têm duas mãos. A que vai buscar o dinheiro e a que volta com ele, e faz exigências. Na verdade, seus principais e mais antigos parceiros já aprenderam os caminhos há algum tempo, mas andaram fazendo bobagens. Uma simples extorsão de empresas de ônibus num município da Grande São Paulo virou caso de polícia, com o assassinato de um prefeito que - segundo a família - queria dar um basta na roubalheira.
     O casamento no início mostrou ser daqueles que têm tudo para durar uma eternidade. De um lado, os 'ideólogos' do assalto aos cofres públicos, argumentando, para suas consciências (se é que elas existem), que os fins justificam os meios. A roubalheira, afinal, ajudaria uma estrutura empresarial mais justa e, já que nem eles são de ferro, daria uma mãozinha para o pessoal pagar as contas, trocar de carro, melhorar de vida.
     Do outro lado, a turma especialista em afanar o que é dos outros, sem vínculos com projeto algum, o que a tornaria - na minha visão - menos canalha. "Se é para o bem de todos...", repetiam os profissionais, fingindo acreditar nas mentiras ditas pelos novos companheiros, a todo o momento.
     O acordo foi selado pelo conselheiro maior da empresa, uma espécie de Rasputin caboclo, com a supervisão do dono do negócio. Ficou decidido que a vice-presidência da empresa ficaria com um dos líderes dos novos amigos de toda a vida, que ganhariam, também, funções de destaque na empreitada.
     Foi um sucesso, com um escorregão no meio da subida da ladeira. O projeto cresceu e todos enriqueceram. Até o dia em que o ciúme começou a corroer a parceria. Uma briga aqui, outra ali. Uma ameaça mais forte e o vazamento de informações para os concorrentes, no entanto, surgiram como um ameaça ao futuro que já fazia tão promissor.
     O jeito foi obrigar a nova gerente-geral a mudar a fachada da empresa e a tirar o sofá da sala.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Quando jovens se enfrentam

     Virou quase rotina. A cada fim de semana, novas notícias sobre brigas entre jovens e adolescentes, pelos motivos mais fúteis - quando há algum motivo. Essas divergências não são, na verdade, o que poderíamos chamar de novidades. Existem há anos. A diferença está no grau de violência, talvez proporcional aos novos padrões físicos da juventude e à sua preparação para embates físicos.
     Esse novo perfil do jovem das nossas cidades poderia explicar, eventualmente, o resultado da última briga: um rapaz de apenas 19 anos acabou no hospital, após ter cinco ossos do rosto quebrados em uma festa no bairro do Grajaú, Zona Norte do Rio. Afirmação, definição de espaços, ciúmes ou, simplesmente, prazer. Há falta de motivos lógicos para todos os gostos.
     Essa última 'ocorrência', além de me entristecer como pai e avô, me remeteu, com certa nostalgia, a um incidente, até certo ponto engraçado, em que estive envolvido, na juventude, suburbano de Marechal Hermes.
     Naquela época, nós, jovens de Marechal, sabíamos que havia limites geográficos bem definidos para nossa presença. Festas, com segurança, só mesmo no perímetro central do bairro, a nossa 'zona de conforto'. Sair, apenas em grupo, para festas em clubes fechados, sabendo que deveríamos evitar provocações.
     Num determinado fim de semana, no entanto, nosso grupo de amigos não teve como recusar um convite para uma festa de 15 anos - eram o máximo, nessa época - de uma amiga comum, que morava em ... Bento Ribeiro.
     Bento Ribeiro, para os que jamais se aventuram pelos caminhos da Central do Brasil, é o subúrbio imediatamente anterior a Marechal Hermes, saindo do Centro. Hoje, o limite de cada um é impossível de ser definido. Naqueles anos 1960, não.
     Mesmo sabendo do risco, fomos à festa. Chegamos cedo, aos poucos, e nos misturamos aos convidados 'locais'. Essa confraternização, entretanto, durou apenas até o momento em que um de nós não resistiu aos encantos de uma jovem amiga da aniversariante e a tirou para dançar, sem saber que havia outro pretendente.
     O alarme soou quase imediatamente. O jovem 'local', sentindo-se ferido, abandonou a festa e reuniu, do lado de fora, uma espécie de pelotão. É isso mesmo: em torno de 20 garotos formaram fileiras e começaram a desfilar - em ordem unida - em frente ao portão da casa onde ocorria a festa, deixando evidente o propósito de nos enfrentar, quando saíssemos.
     Daí em diante, vivemos momentos de muita tensão. Inferiorizados, sabíamos que o saldo do enfrentamento não seria bom. Alguns de nós certamente teriam que recorrer aos ofícios dos médicos de plantão no Hospital Carlos Chagas, no nosso bairro de origem. Até que alguém teve uma ideia brilhante: nomear um conhecido comum aos dois grupos - irmão da aniversariante - para negociar nossa saída. Deu certo.
     Saímos da festa em ordem, seguindo, sem saber, 'preceitos militares' para o recuo: não tão rapidamente, de uma forma que sugerisse covardia; nem vagarosamente, como se fôssemos arrogantes.
     Mesmo assim, fizemos a curva em direção à salvação - a estrada que beira a linha do trem - sob uma saraivada de gritos e pedras. Ofegantes - confesso que corremos desembestadamente, a partir de certo ponto - , chegamos fisicamente inteiros ao nosso bairro. Mas com o amor próprio arranhado.

Um país assaltado

     Vou propor um misto de questão e exercício de imaginação: como poderia ser o Brasil, hoje, sem que tão poucos houvessem roubado tanto, de tantos, durante tanto tempo? As possibilidades, prevejo, são enormes, dependendo do quanto se quer voltar no passado.
     Se recuarmos aos primórdios do descobrimento, vamos encontrar um saque primário, no estilo do ladrão de galinha, voltado para o que mais facilmente se apresentava: o abundante pau-brasil, madeira usada nas cortes europeias para dar cor ao que por lá desfilava.
     Aos poucos, nossos governantes foram se refinando, à medida que avançavam pelo território selvagem. Os batedores de carteira foram dando lugar a exploradores mais ambiciosos, cujos olhos brilhavam ao se deparar com pedras preciosas, ouro e prata.
     A cobiça, nesse momento, agiu, também, como agente de consolidação do território, com o avanço dos pelotões que partiam do litoral em busca das riquezas espalhadas no interior. O próprio país, ainda colônia, começou a tomar forma, com a chegada de mais e mais levas de aventureiros, atraídos pelas possibilidades que se abriam nesse novo mundo.
     E assim se passaram séculos de aprimoramento das técnicas para exploração e exportação de riquezas nacionais. A essa altura, a grande massa da população estava absolutamente alijada da eventual distribuição de rendas, cada vez mais concentrada em grandes famílias, que se transformaram em enormes capitalistas, à frente (ou ao lado) de gigantes empresariais.
     A República, solução simplista para a definição de poder, não mexe nas estruturas da exploração. Mais um século se passa e o país assiste à consolidação do assalto aos bens públicos, ao avanço desenfreado nas riquezas, à multiplicação de escândalos, à desfaçatez dos governantes, em especial nos últimos oito anos, quando um projeto de poder - o do PT - justifica atos abomináveis, que tomaram forma e se estruturaram como entidade no advento do Mensalão.
     Rouba-se pouco - como no caso dos R$ 50 mil recebidos pelo então presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP) - e muito, como na abertura dos cofres rodoferroviários do Ministério dos Transportes aos partidos e pessoas amigas.
     Rouba-se sem a menor dignidade - se é que há alguma em se tratando de crime - o dinheiro destinado a amenizar tragédias, como a ocorrida no Rio de Janeiro, no início do ano, ou a verba destinada a equipar hospitais e escolas. O roubo, mais do que nunca, está consolidado no país.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

O custo dos nossos senadores

     Uma notícia hoje, no Estadão, sobre o uso de verbas indenizatórias por senadores - é, eles recebem uma fortuna (R$ 26.700,00 mensais) e ainda têm direito a indenizações, fora assistência médica etc - apenas exibe o perfil deletério do nosso Congresso, como um todo. Dos 81 senadores, apenas oito não usaram esse 'direito', nos primeiros meses do ano. Em compensação, nem mesmo os arautos da dignidade, como Pedro Simon (PMDB-RS),  abriram mão do reembolso por despesas com passagens aéreas.
     Dois oito destacados - Pedro Simon (PMDB-RS), José Sarney (PMDB-AP), Cristovam Buarque (PDT-DF), Eduardo Braga (PMDB-AM), Itamar Franco (PPS-MG), Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), Eunício de Oliveira (PMDB-CE) e Lobão Filho (PMDB-AM) -, apenas o novato Rodrigo Rollember, José Sarney e o falecido Itamar Franco limitaram-se apenas aos salários. Todos os demais, embora não tenham usado a tal da CEAPS (Cota para o Exercício da Atividade Parlamentar dos Senadores), viajaram às custas do eleitor (Verba de Transporte Aéreo).
     Até mesmo o brasiliense Cristovam Buarque pediu de volta R$ 3.314,65 por despesas por passagens aéreas (de Brasília para Brasília?). Um gasto reduzido, é verdade, se comparado aos absurdos R$ 27.602,15 do senador Lobão Filho, nas suas idas e vindas a Manaus. O outro amazonense, Eduardo Braga, foi mais módico: gastou 'apenas' R$ 7.077,84 em suas viagens. Outro que gasta bem em viagens é o senador Eunício Oliveira. Pelos trajetos entre Fortaleza e Brasília, pediu de volta R$ 19.843,14.
     Mas gastar, mesmo, com vontade, é com o senador Paulo Davim (PV-RN), suplente do ministro da Previdência, Garibaldi Alves. Nos cinco primeiros meses de 2011, sua excelência recebeu R$ 69.418,03 de indenização por gastos parlamentares, além de R$ 41.288,65 de reembolso de passagens aéreas, totalizando um prejuízo de R$ 110.706,68 no bolso dos contribuintes.
     Ser rico também não é impedimento para usar os reembolsos. O senador Blairo Maggi (PR-MT), pro exemplo, que esteve cotado para assumir a vaga do ex-ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, não teve qualquer constrangimento em pedir o ressarcimento de R$ 50.690,75 da CEAPS e R$ 32.862,75 de passagens aéreas, totalizando R$ 83.517,50 no primeiro semestre.

Minha frase da semana

"Hoje, os palhaços estão aliados aos zumbis. Não têm a menor graça."

Não deu 'liga'

     O fracasso das seleções do Brasil e da Argentina na Copa América não pode ser creditado, apenas, à coincidência, ou aos azares da sorte. As duas equipes são - digamos - equipadas com o que há de melhor no mundo da bola. Ou alguém, agora, vai começar a duvidar da capacidade de Messi, Tevez, Neymar, Ganso, Robinho, Pato e outros não tão bem votados, mas certamente com vaga garantida em qualquer time do mundo?
     Há algo de errado - e não é de hoje - na concepção do futebol jogado, em especial, nessas duas grandes seleções. No Brasil, assistimos há algum tempo ao desfile de treinadores absolutamente limitados e simplórios, como o já não tão festejado Luiz Felipe Scolari e o sempre bombardeado Dunga. Dois exemplos do que pode ser chamado de antítese de Josep Guardiola, técnico do campeão Barcelona.
     O estilo sóbrio de Mano Menezes parecia que nos remeteria a outra era, em especial pela necessidade de renovação e configuração da equipe, para a Copa do Mundo de 2014. Mas - e não se pode esconder a verdade - o time não deu o que poderíamos chamar de 'liga'. São todos excelentes jogadores - e por issso destaques em seus clubes -, mas não conseguiram a harmonia que se exige de uma equipe que se propõe a ser vencedora.
     Messi, o melhor jogador do mundo, avaliando o resultado de sua seleção e as comparações inevitáveis entre o futebol que joga pela Argentina e pelo seu clube, arriscou uma resposta que pode, até, ser parcialmente verdadeira. Para ele, o Barcelona - uma espécie de seleção mundial - é melhor do que a Seleção Argentina, simples assim. Por lógico, acredito que ele pense o mesmo sobre a Seleção Brasileira.
     Não deixa de ser uma visão objetiva e defensável. Mas eu ainda tendo a acreditar que, no caso brasileiro principalmente, vem faltando quem consiga reunir tantos talentos individuais e transformar o resultado em uma equipe que jogue com responsabilidade, sim, mas que mantenha a alegria. Valorize o improviso, mas ressalte o conjunto.

domingo, 17 de julho de 2011

Um país sem graça

     Talvez seja a notícia mais importante do fim de semana, pela dimensão nacional. Nacional, sim, embora, pareça restrita à cidade paulista de Mogi das Cruzes.Segundo o jornal O Estado de São Paulo, o deputado federal Valdemar da Costa Neto, do tal Partido da República, dono do Ministério dos Transportes, anuncia que vai apadrinhar a candidadura do senhor Edvaldo Hermenegildo à Câmara Municial, nas próximas eleições.    
    Edvaldo, para todos nós que vivemos além das fronteiras do reduto de Valdemar - um dos acusados pela Procuradoria-Geral da República de integrar a quadrilha do Mensalão, com letra maiúscula - seria apenas mais um entre os milhares de candidatos que vão surgir ao longo do próximo 'processo eleitoral', que vai culminar em outubro de 2012.
     A diferença, destacada pelo repórter Fernando Gallo, é que Edvaldo encarna o palhaço Bubu, conhecido nas ruas centrais da cidade pelo trabalho diário de divulgação das promoções de lojas comerciais. Em bom português, pelas palhaçadas que faz para ganhar o pão de cada dia.
     Bubu, a julgar pelas últimas eleições e nível dos políticos em geral, tem todos os atributos para se transformar no segundo palhaço formal desse incrível PR. O outro, Tiririca, chegou a Brasília rindo à toa da montanha de votos que recebeu e o transformou no deputado mais bem votado do país.
     Valdemar da Costa Neto, pelo que se compreende na reportagem, acredita que Bubu venha a se transformar em uma espécie de Tirica municipal, também sua 'cria', um fenômeno de votos capaz de carregar para a Câmara de Mogi das Cruzes uma legião de companheiros, assim como aconteceu na esfera federal. Não duvido. Lastimo.
     Nada contra palhaços e palhaçadas, no entanto. Cresci vendo Carequinha e Arrelia. Ri bastante, quando moleque, das estripulias dos palhaços dos circos mambembes que aportavam no então ainda mais longínquo subúrbio de Marechal Hermes, no Rio de Janeiro, onde cresci. E eles sempre venciam seus embates com vilões, graças a pontapés nos fundilhos, muitos 'puns' esfumaçados e barulhentos e a uma malandragem simplória, do bem.
     Hoje, os palhaços estão aliados aos zumbis. Não têm a menor graça.

sábado, 16 de julho de 2011

Meia-volta, volver!

     Confesso que não sei se os 'outros' fazem a mesma coisa. Mas acho, no mínimo, que as Forças Armadas brasileiras demonstram desprezo pela ética quando contratam e fantasiam atletas profissionais de militares temporários, apenas e tão-somente para garantir bom desempenho nas competições esportivas internacionais, como o Mundial que está sendo realizado no Rio de Janeiro.
     Indo além, vejo essas manobras como desrespeitosas com os militares de carreira que praticam esportes, relegados a segundo plano. É evidente que militares temporários tradicionais - eu mesmo, tenente R2 de Infantaria, fui um deles - teriam todo o direito de participar de competições. Afinal, embora por tempo determinado, eles são, de fato, militares, com treinamento, obrigações e responsabilidades bem específicos.
     Diferentemente, os especialistas em esportes nos quais as Forças Armadas não teriam bom desempenho são militares de vitrine. Chega a ser embaraçoso, pelo menos para mim, ver essa oficialização do jeitinho brasileiro, essa malandragem cabocla chegar também às casernas.
     Essa prática - em extremo, é claro - me remete aos anos da 'Cortina de Ferro', quando os países da extinta União Soviética usavam expediente semelhante em competições restritas a amadores de fato e de direito.

Os méritos do PR

rr     Vocês acham que o Partido da República - o tal PR, que resultou da junção do Partido Liberal (PL) com o Partido da Reedificação da Ordem Nacional (o Prona, do 'Dr. Enéas') - é dono do Ministério dos Transportes sem 'méritos' para tanto? É claro que não. É o partido, por exemplo, do deputado federal Sandro Mabel, o amigo do peito que emprestou seu jatinho para o ex-presidente Lula chegar tranquilo ao congresso da UNE, onde disparou palavrões contra seus críticos.
     E também o refúgio do deputado Valdemar Costa Neto - lembram do nome? -, um dos acusados no escândalo do Mensalão de Lula; do ex-governador fluminense Garotinho; e do ex-palhaço Tiririca. Sem esquecer que era o partido do ex-presidente José Alencar, uma das testemunhas, ao lado do ex-presidente Lula - segundo noticiário da época jamais desmentido - do pagamento da mensalidade de R$ 10 milhões que o PT, através de José Dirceu, fez ao antigo PL.
     Essa síntese, por si só, ajuda a entender a força desse partido nos dois últimos governos. E ajuda a compreender o fato de o governo Dilma ter tanto tato em relação aos acontecimentos que envolvem diretamente pessoas indicadas pelo partido, parceiro de tantas jornadas. "Mas ela afastou os acusados", poderiam argumentar aqueles que não fazem restrições à degradação política do país.
     Afastou, sim, mas preservando, sem acusações ou os apedrejamentos tão comuns ao PT. Já pensaram se esses cabras são presos, condenados e obrigados a devolver todo o dinheiro arrecadado nos últimos anos? Quem poderia garantir bocas fechadas? Encontrar outros Delúbios Soares não deve ser tarefa tão fácil.

Um futebol diferente

     Como o fim de semana que começa hoje está soterrado de atividades esportivas - além do Brasileiro, temos a Copa América e os Jogos Militares, no Rio -, vou fugir um pouco à temática geral do blog para falar de um time de futebol. Se fosse sobre o Vasco, não seriam necessárias justificativas, pois estaria falando de uma paixão. Mas me vejo compelido a escrever sobre o Coríntians, líder da competição nacional, invicto e com certa folga.
     Não sei até que ponto o técnico Tite é o responsável. Mas o tal time do Parque São Jorge vem apresentando, no mínimo, um futebol diferente dos demais clubes brasileiros. Não é lá um primor de técnica, sou forçado a admitir, mas mas vem compensando eventuais limitações com uma disposição tática, determinação e preparo físico irrepreensíveis.
     Todos os jogadores participam intensamente das partidas, o tempo todo, sem parar, pressionando os adversários no campo de ataque, chegando em todas as divididas, trocando de posição, dobrando a marcação. Os adversários mal têm tempo para parar a bola, esboçar um drible mais largo. Há sempre um Willian ou um Paulinho em cima da jogada. Foi assim contra o Vasco. Foi assim contra o Internacional. Impressionante.
     Pode perder, vai perder algum dia, é evidente. Até por que tem fragilidades individuais, sujeitas a tropeções e passes errados. Mas vai obrigar o adversário a lutar sem parar. E não podemos dizer que é só coração, determinação - que já não seria pouco, convenhamos.
     Há destaques individuais, sim, como Jorge Henrique, melhor a cada jogo, e os já citados Willian e Paulinho, dois atletas surpreendentes também pela habilidade. Se confirmar a volta de Tevez, então, o Coríntians será candidato a qualquer título que dispute, em qualquer lugar.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Corrupção sem limites

     Embora recorrente, o tema é obrigatório: as demissões por conduta 'não-republicana' (corrupção, enriquecimento ilícito, tráfico de influência e outras pilantragens menores) abundam no Governo Dilma, que completou seis meses de paralisia administrativa e período igual de extrema movimentação no setor policial.
     As mais recentes - repito: jamais diga última, pois o projeto petista de poder ainda vai perdurar por algum tempo - estão localizadas no Ministério do Transporte, que faz parte da cota do presidente anterior, feudo do tal Partido Republicano, aquele que troca o apoio ao Governo pela chave do cofre que rega estradas e ferrovias. E tome de demissões, de trocas de pessoas, de exibições de indignação.
     O ministro tagarela de ontem, Paulo Sérgio Passos, segundo O Globo, entrou mudo e saiu calado de uma reunião com a presidente. Não comentou, como era de se esperar, as denúncias que provocaram o afastamento do diretor executivo e diretor-geral interino do Departamento Nacional de Infraestrutura de Trasporte, José Henrique Sadok de Sá. De acordo com o jornal O Estado de São Paulo, a empreiteira da mulher do Sadok de Sá, Ana Paula Batista Araújo, embolsou R$ 18 milhões em obras nas rodovias federais, em cinco anos.
     Se o enriquecimento vem acontecendo há cinco anos, deduz-se - por óbvio - que começou ainda no primeiro governo do antecessor da atual presidente. Como os demais casos de corrupção no Ministério dos Transportes; a fabulosa multiplicação de bens do ex-ministro Antonio Palocci; os redivivos casos dos 'aloprados' e do Mensalão etc etc. Enfim: rouba-se há um bom  tempo. Isso é que é herança ...

Um ser desprezível





"A ignorância dócil é desculpável. A presumida e refratária é desprezível e intolerável"
Maraquês de Maricá


  O inimputável voltou a atacar. Com o linguajar típico do misto de simplório e arrogante, o ex-presidente que mais envergonhou esse país por palavras e atos não se limitou, apenas, a culpar o que ele chama de 'mídia' pelas crises que não enxerga. Desta vez foi mais longe, usando palavrões para se referir a seus críticos, sabendo, de antemão, que a plateia amestrada e alimentada por dinheiro público (participantes da assembléia da falida - em termos morais, e não financeiros - UNE em Brasília) iria ganir de satisfação.
     É típico de uma personalidade doentia e doente. Definitivamente, o presidente do Mensalão -aquele que só ficou no poder graças a uma oposição leniente e covarde e a uma justiça caolha -, além de limitado culturalmente, é totalmente desprovido de superego e da dose mínima de compostura que se exige de alguém que alcançou o posto de mais destaque no país. Medíocre e vulgar, a cada dia mais se revela, expondo seu interior raivoso.
     Por descerebrado, não parou para pensar um segundo sobre a importância que conseguiu ao ser eleito e reeleito presidente de um país das dimensões do Brasil. Ao contrário. A todo instante prova - com comportamentos grotescos e pequenos - que jamais teve o estofo exigido para quem se transformou em personagem da história.
    

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Nós somos do 'Patropi'

     Eu já desconfiava, mas preferi ficar quieto, calado, para não ser acusado, injustamente, de mal-humorado. A partir de agora, no entanto, já não sinto qualquer constrangimento em declarar meus sentimentos, que coincidem em gênero, número e grau (de bizarrice) com os do presidente da Câmara, o deputado federal Marco Maia (PT-RS): nós somos, de fato, o país do futebol e da piada, do gracejo, do grotesco, da palhaçada.
     Maia apenas verbalizou uma impressão que vem tomando forma há algum tempo, ao destacar sua "surpresa positiva" com o desempenho de quatro deputados, em especial: Tiririca (PR-SP), Romário (PSB-RJ), Danrley (PTB-RS) e Jean Wyllys (PSOL-BA).
     Tiririca está lá, sentado ao lado de Maia no apoio do Governo (ele também é desse incrível Partido da República, o ex-PL), sem ter proferido um pensamento sequer durante a campanha eleitoral. Aparecia fantasiado e precisou provar que não era analfabeto para assumir a cadeira de deputado mais votado do país.
     Romário foi premiado, apenas e tão-somente, pelos mil gols que marcou como jogador. Jamais demonstrou alguma preocupação política ou social. Assim como Danrley, que ganhou os votos do torcedor gremista, como se estivesse disputando um clássico em Porto Alegre. Jean Wyllys, dos quatro o mais bem preprado e com alguma proposta (no caso, o combate ao preconceito), deve sua eleição - e ele sabe disso - à fama que conquistou como participante do tal do BBB, um dos programas mais deletérios da história da televisão brasileira.

Na dúvida, sigam a Constituição

     Leio no O Globo (reportagem de Bruno Góes), que o juiz Marlon Reis, um dos fundadores do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral, lamenta a posse de parlamentares que haviam sido atingidos pela Lei da Ficha Limpa. Tem toda a minha solidariedade. Mas, como referência em leis, sua excelência sabe que o Supremo Tribunal Federal apenas respeitou a Constituição, um instrumento que deve, sempre, ficar acima das ondas do momento, das atitudes emocionais. Ela é a garantia dos nossos direitos e a grande arma que a sociedade tem para se defender do que pode ser seu pior inimigo: um governo discricionário.
     É bem verdade - sou obrigado a reconhecer - que o STF anda julgando de olho nas reações populares, nas manchetes de jornais, como se alguns ministros estivessem disputando uma eleição para 'Mr. ou Mrs. Justiça'. A produção pessoal - cabelos e sobrancelhas valorizados, togas jogadas ao ombro, 'displicentemente', etc - de algumas sumidades jurídicas aponta para isso. Mas não foi esse o caso. A Lei não poderia ser aplicada na eleição passada, e fim. Em 2012 será diferente, pois cumprido o prazo de um ano da promulgação.
     Fichas sujas de carteirinha e crachá serão barrados. Mas certamente darão trabalho, pois serão votados, como vem acontecendo historicamente. Nosso eleitor médio, por falta de informação e de cultura, não tem, sequer, condições de fazer a depuração entre os candidatos, para se definir pelos que ostentem os padrões de dignidade que devem ser exigidos no exercício da política, independentemente da orientação ideológica.
     A antiga constatação de que nossos políticos retratam o povo, à perfeição, vem se consolidando, proporcionalmente à progressiva desqualificação do sistema educacional, fundamental na construção de cidadãos conscientes. Basta olhar para o Congresso, Assembléias, Câmaras e ocupantes das principais cadeiras nos diversos níveis de executivo. O que não era bom - não resta dúvida - ficou muito pior.
     Quanto maior for a consciência do eleitor, mais dificuldades para fichas sujas e quetais, como os manipuladores de consciência e demagogos de plantão.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Perguntas sem respostas

     Eu sei que não dá mais tempo - pelo menos hoje. Mas - quem sabe? - talvez a turma de Brasília nos presenteie com uma suíte (continuação do tema, desdobramento), amanhã? De qualquer modo, acho que vale a pena tentar aprofundar algumas questões que passaram de passagem na primeira entrevista do novo ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, concedida exatamente após o fim do depoimento do ainda seu (dele, ministro) colega Luiz Antonio Pagot, de "férias" no Dnit.  
    Vamos lá. Em primeiro lugar, ninguém estranhou a coincidência? Bastou o Pagot inocentar todo mundo para o seu novo chefe sair dando declarações. Por que será que ele ficou esse tempo todo calado, recolhido? Certamente não foi por falta de conhecimento dos temas da sua pasta, já que ele era o secretário-executivo do Ministério e companheiro de partido - esse incrível Partido da República - do agora novamente senador Alfredo Nascimento (PR-AM).
     E os tais "ajustes necessários para que o Ministério trabalhe dentro das melhores regras da administração pública", segundo O Globo? Quer dizer que, antes, não trabalhava de forma republicana? Mas o ex-ministro não estava lá desde 2004? E o atual, há quanto tempo andava 'executando' por lá?
     Troca de pessoas e "maior controle para assegurar o bom uso do dinheiro público?" Será que nos governos Lula o dinheiro público era usado indevidamente? E essas pessoas que serão substituídas, estavam costeando o alambrado da corrupção, para usar um - digamos - eufemismo gaúcho muito empregado pelo governador Leonel Brizola?
     E o Pagot, fica onde disse que vai ficar? Vai perguntar à presidente? Não acredito que até nomeação de diretor tenha que ser discutida com a presidente da República. Ministro, então, serve para quê?
     Descobri agora, lendo o último parágrafo da reportagem: ministro serve para dar "continuidade às ações do PAC", seja lá o que isso for.
     Concordam que essa gente é, mesmo, muito boa?

Um depoimento impagável

     Há um inegável e quase palpável alívio nas hostes governamentais. O desempenho do ainda diretor-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), Luiz Antonio Pagot, no Senado (ontem) e na Câmara (hoje) parece ter atendido plenamento às expectativas. O homem que liberava contratos anabolizados no Ministério dos Transportes - segundo as denúncias que derrubaram o então ministro Alfredo Nascimento - foi só circunlóquios e eufemismos.   
    O ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, e sua mulher, a ministra da Casa Civil, Gleise Hoffmann, nada fizerem, nem pediram. A então ministra da Casa Civil no governo Lula e atual presidente da república, Dilma Roussef, então, jamais soube ou falou sobre aditivos, superfaturamento e comissões nas obras realizadas pela pasta.
     Paulo Bernardo, segundo a Folha, chegou a afirmar depois do depoimento do ainda diretor do Dnit (é bom frisar), "que tinha certeza que Pagot não iria mentir". Seu colega de Governo, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardoso, também se apressou a dizer que não há motivo algum para novas investigações. Enfim: foi tudo um mal-entendido. Tanto que o ex-secretario executivo, Paulo Sérgio Passos, que circulava a duas ou três mesas do centro das denúncias, assumiu o comando do Ministério.
     Já os três colegas de Pagot foram demitidos por um motivo qualquer, que se tornou insondável. Alfredo Nascimento também saiu do Ministério por vontade própria - foi o que ele garantiu na 'carta de demissão irrevogável' que divulgou. Talvez estivesse cansado de ocupar o lugar há tanto tempo.
     E Pagot? Segundo ele mesmo faz questão de destacar, sem provocar reações contrárias, está de férias. Como as férias acabam normalmente em trinta dias (nem todo mundo pode se dar ao luxo de ser político ou servidor da Justiça, para ter dois ou três meses de férias e recessos por ano), daqui a pouco o homem estará de volta. E, se depender do Governo, não vai se falar mais nesse assunto.
     Temos que reconhecer: essa turma é boa.

Polêmicas judiciais

     Com a posse dos primeiros beneficiados pela decisão do Supremo Tribunal Federal, que decidiu pela inconstitucionalidade da aplicação imediata da chamada Lei da Ficha Limpa, devem crescer as manifestações contrárias ao STF, envolvido nos últimos anos em polêmicas que extrapolaram o círculo das togas e barretes.
     Nesse caso específico, reitero, acredito que os ministros apenas e tão-somente fizeram valer a Constituição. Não havia interpretação possível: mudanças na legislação eleitoral não podem valer caso não tenham entrado em vigor com um ano de antecedência. Não há achismos. Está escrito. E o rigor que bateu em petistas, acertou também a turma do PSDB, democraticamente.
     O mesmo distanciamento não ocorreu quando do julgamento do caso do terrorista e assassino italiano Cesare Battisti, apreciado claramente com base em um viés político-ideológico. Com a complacência da nossa corte suprema, um criminoso - condenado em um país democrático com o qual o Brasil mantém relações cordiais - conquistou o direito de aqui viver em liberdade, como se um imigrante digno fosse.
     Battisti é tão culpado de crimes hediondos quanto o ex-comandante do exército sérvio na Bósnia, Ratko Mladic, preso recentemente. A separá-los, apenas, os números, não a essência dos crimes, a distorcida motivação ideológica, o ódio sectário. É claro que a revolta contra alguém que exterminou milhares pode ser maior do que a dispensada a alguém que fuzilou 'apenas' quatro pessoas.
     Talvez Mladic seja condenado a algumas milhares de execuções, mas não sobreviverá à primeira, bastante e definitiva. Com Battisti ocorreria o mesmo, se a Itália também fosse adepta da pena de morte. Condenado por quatro mortes, seria executado apenas uma vez.

Ideologia e política

     Quem acompanhou as crises políticas brasileiras nos governos do ex-presidente Lula certamente se acostumou a ver e - até certo ponto - admirar a atuação sóbria, mas incisiva do ex-deputado federal Gustavo Fruet (PSDB-PR). No ano passado, inchado pela exposição, Fruet tentou, sem sucesso uma vaga no Senado.
     Pois bem. Fruet está de saída do PSDB - entregou a carta hoje -, inconformado por ter sido preterido como futuro candidato à Prefeitura de Curitiba, cargo que, no passado, foi ocupado por seu pai, Maurício Fruet.
     Deve se mudar de mala e cuia para o PDT, ou - tenho o direito de presumir - para qualquer sigla que lhe ofereça a oportunidade de brigar com chances pelo direito de dirigir a capital paranaense. Não é novidade. Ele fez isso antes, mais exatamente em 2004, quando trocou o PMDB pelo PSDB, pelo mesmo motivo.
     Se políticos presumivelmente sóbrios exibem, sem constrangimento algum, essa - digamos - volatilidade ideológica, o que podemos esperar da grande maioria, que sequer se preocupa em manter as aparências?
     É claro que Fruet, em particular, e nosso políticos, em geral, têm o direito de se acharem no direito de administrar a cidade onde nasceram, ou o estado. Ou o país. Mas até que ponto esse direito pessoal se sobrepõe às visões ideológicas, à afinidade de proposições?
     Talvez o curitibano Fruet esteja se espelhando na trajetória do prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, um dos exemplos bem-sucedidos de descompromisso com siglas e programas políticos e seu antigo colega de bancada em Brasília.
     Paes nasceu no antigo PFL (cria do ex-prefeito Cesar Maia), cresceu no oposicionista PSDB (ao lado do próprio Fruet, durante as investigações sobre o Mensalão) e se bandeou para o governista (seja lá qual for o governo) PMDB.
     Plagiando a campanha presidencial que levou Bill Clinton à Casa Branca, em 1992, sou obrigado a admitir, com certa náusea: isso é política, estúpido.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Dividindo tristezas

     A mediocrização da função presidencial, que teve seu apogeu no governo passado, segue célere. A cada declaração, a presidente Dilma Roussef exibe o quanto seu poder de raciocínio é limitado, o quanto ela reduz - ou tenta reduzir - os fatos à expressão mais simplória, talvez acreditando que, com isso, fale mais diretamente com seu público.
     Hoje, ao participar do lançamento do Plano Safra da Agricultura Familiar, no interior do Paraná, segundo o Globo, a presidente disse que "tem (sic) dias que fica triste" quando acontece alguma coisa errada no governo.
     Eu também, presidente. Há dias em que eu fico muito triste ao tomar conhecimento das falcatruas que ocorrem sob as asas do Planalto, dos acordos espúrios, da sonegação de informações, da manipulação dos fatos, da incapacidade administrativa e da demagogia política demonstradas pelo governo.
     Fico muito triste, também, ao verificar que nada vem sendo feito para combater essa enorme propensão à dilapidação do patrimônio público. Ao contrário. Casos de corrupção explícita e de suborno incontrolável são sepultados pela ação do rolo compressor liderado pelo Partido dos Trabalhadores.
     Não há espaço para a apuração dos desvios de conduta. O volume da base governista - que aumentou depois do Mensalão - esmaga qualquer tentativa de expor seus próprios intestinos.
     Fico imaginando como é que essas pessoas conseguem deitar, todos os dias, e dormir o sono que deveria ser apenas dos justos.

Amizade público-privada

     Se Sérgio Cabral Filho fosse, apenas, mais uma pessoa comum a viver uma crise conjugal, o caso não teria a menor repercussão. Separado da mulher, ele teria todo o direito de ir morar na casa de quem ele quisesse, ou de quem oferecesse abrigo. Mas Sérgio Cabral Filho é o governador do Estado do Rio de Janeiro e, nessa condição, não pode se dar ao - digamos - desfrute de usar apartamento emprestado por dono de banco. Simplesmente não pode
     Não me interessa se o dono do banco - Guilherme Paes, do Banco BTG Pactual - é irmão do prefeito da cidade do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, e, por tabela, amigo do governador. Essa espécie de parceria público-privada é inconcebível. Nossos políticos em geral, no entanto, têm esquecido com frequência os ensinamentos da história da mulher de César, aquela que não podia apenas parecer íntegra. Ela tinha que provar essa qualidade a cada minuto.
     Com o salário que ganha e sem ter praticamente despesas pessoais, nosso governador deveria ter se mudado, sim, para um hotel, um flat, ou fazer mais um beicinho e voltar para a casa da mamãe e do papai, pelo período necessário à reorganização do Palácio Laranjeiras, onde - dizem - pretende morar.
     Mas ele não se mudou apenas para um apartamento de um banqueiro amigo. Mudou para um apartamento na esquina da Avenida Delfim Moreira com Rua Rainha Guilhermina, um dos pontos mais caros e exclusivos dessa já tão exclusiva Zona Sul da cidade.
     Enquanto isso, vítimas dos temporais na Serra Fluminense - uma crise com dimensões bem mais profundas - apenas sobrevivem em abrigos, casas de amigos ou em áreas condenadas, como denunciou ontem o Jornal Nacional. E o que é mais grave: sabendo que os recursos para ajudá-los serviram para encher os bolsos de políticos da região.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Uma estranha simbiose

     Notícias - vá lá - são apenas notícias, eu sei. Mas nem mesmo essa desculpa justifica textos como o publicado hoje no Estadão. Textos que parecem ter saído diretamente do computador da ministra Helena Chagas, da Secretaria de Cominicação da Presidência da República, a mente por trás da vergonhosa acusação que se fez ao caseiro Francenildo Costa, quando das acusações que levaram Antonio Palocci a ser demitido, pela primeira vez, em 2006.
     Para refrescar a memória dos leitores, Francenildo afirmara ter visto o então poderosísssimo ministro da Fazenda em uma uma casa bem tolerante, frequentada por diversos - digamos assim - 'estratos sociais', no Lago Paranoá, em Brasília. A atual ministra, na época chefe da sucursal de O Globo, soube, por um jardineiro, que o caseiro de Palocci havia recebido um bom dinheiro. E repassou a informação a Palocci, como se já fosse o que é hoje, uma empregada do Governo, e não uma jornalista independente.
     O então ministro, através da Caixa Econômica Federal, quebrou o sigilo do caseiro e o acusou de ter recebido propina para acusá-lo. Mentira. Ele frequentava, mesmo, a tal mansão. E o dinheiro era uma doação do pai biológico de Francenildo, uma reparação por não ter reconhecido o filho. Helena é ministra atualmente.
     Voltemos, no entanto, ao tema desse texto, a matéria que poderia tranquilamente ser divulgada como release, uma espécie de nota oficial. "Essa afirmação serve de resposta a alguns críticos que vinham se queixando dos gestos de afeto da presidente Dilma ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e a alguns sinais de que ela poderia se afastar do governo anterior", afirma, sem pudor, o noticiário, e não a personagem da reportagem, a presidente da República.

     A tal afirmação não tem a menor importância, nesse contexto. A questão central - na minha ótica - gira em torno da simbiose de dois organismos que deveriam, por definição, serem de espécies diferentes. No caso específico, o Estadão está garantindo que Dilma Roussef, respondeu definitivamente a seus críticos, e ponto final.
     Certamente não foi essa a intenção do jornal, nem - prefiro acreditar - do repórter. Talvez a culpa esteja na pressa, na necessidade de colocar as notícias rapidamente na rede, antes dos concorrentes. Coisas dessa modernidade.

     ET: Nessa mesma ocasião - entrega do Prêmio Anísio Teixeira para professores universitários - a presidente, segundo o jornal, ressaltou que foi a "partir de 2003 que se deu a valorização do ensino público e que se passou a lutar por um processo mais sofisticado de educação". Certamente deveria estar se referindo à cartilha do MEC, aquela do 'nóis vai' e 'a gente vamu qui vamu'.

Resposta a um espanhol

     Vou tentar responder, mesmo sem ter sido convidado, à questão que o jornalista Juan Arias, correspondente do espanhol El Pais, faz hoje em O Globo. Juan, confrontado pelas reações em todo o mundo contra corrupção e desvios de verbas e de conduta, pergunta - em síntese - por que o brasileiro, que derrubou Collor, não reage à maré de escândalos que vem sistematicamente afogando os sentimentos de dignidade da nação.
     Antes, algumas observações nascidas da avaliação de seu texto. Acredito que o jornalista espanhol não tenha vivido intensamente os últimos 30 anos da vida brasileira. Não acompanhou a oposição impiedosa e massacrante feita pelo Partido dos Trabalhadores e seus braços sindicais ao governo Fernando Henrique Cardoso, desde o primeiro minuto de seu primeiro mandato. Não soube que o PT se recusou a assinar a Constituição de 1988.
     Certamente não leu o manifesto lançado imediatamente após a posse do ex-presidente, no seu segundo mandato, pedindo seu impedimento. Não assistiu, pela tevê, à invasão de uma propriedade da família do presidente, os móveis destruídos, a intimidade familiar profanada.
     Não deve ter visto, também, as cenas de vandalismo protagonizadas pelo PT e partidos insignificantes que gravitam a seu redor quando do processo de privatizações; as vidraças de ônibus, prédios e lojas comerciais quebradas pelo ódio; os pontapés covardes - literalmente falando - desferidos contra representantes de empresas estrangeiras e do governo. Não se esgueirou das pedradas, dos coquetéis molotov, da canalhice.
     Não ouviu os discursos do então candidato Luís Inácio, contra tudo e contra todos. O estelionato ideológico, as mentiras que foram ditas e anos depois retiradas, sob a alegação de que faziam parte de um processo eleitoral.
     Juan também não deve ter acompanhado com a atenção devida à montagem do esquema de manipulação dos fatos na Secretaria de Comunicação, entregue à sanha do senhor Franklin Martins, um especialista em gerar notícias que se sobrepunham à realidade, contando, claramente, com a benevolência de parte dos 'analistas políticos'.
     E, finalmente, não entendeu direito como é que funciona esse esquema de distribuição de renda moldado pelos estrategistas do Palácio, o tal do Bolsa Família. Nem como é a engrenagem que rega e robustece as lideranças dos movimentos e centrais sindicais e do MST, destinatários de verbas milionárias.
     Se a tudo isso tivesse vivido, talvez o surpreso jornalista espanhol compreendesse por que o brasileiro não reagiu ao Mensalão, aos aloprados que pagavam pela fabricação de dossiês, aos dólares na cueca, à quebra do sigilo bancário de um simplório caseiro, ao enriquecimento das estrelas petistas, à corrupção na Casa Civil e nos ministérios em geral, à demissão de ministros, à compra de apoio.
     Juan, 'tá' tudo dominado.

domingo, 10 de julho de 2011

Minha frase da semana

"Vocês sabem o valor de cada passagem pelo pedágio da tal LAMSA: incríveis R$ 4,30!!! É isso mesmo: R$ 8,60 ida e volta, em dinheiro vivo, como o do jogo do bicho."

Alinhamento com o poder

     A coluna de 'notícias políticas' da página 2 de O Globo, exceto às segundas-feiras, vem se firmando, a cada linha, como a segunda maior divulgadora de notícias favoráveis ao governo. Só perde, em quantidade e má qualidade do conteúdo, para as matérias expelidas pelos assessores formais da presidência.
     O tom das notas, em especial quando se referem ao que se convencionou chamar de modelo Dilma de governar, remete ao mais puro cabotinismo. Se dois ministros são demitidos, envolvidos até a alma em escândalos, isso se deve, segundo a coluna, à determinação moralizadora da presidente, e nunca à pura e simples podridão dos corredores do poder.
     Os petistas, ainda segundo as notas (epa!!!), estão sempre decididos a confrontar seus parceiros da base, eles, sim, passíveis de de reprimendas. Já a oposição, está invariavelmente metida em brigas internas, lutas de grupos, divergências entre caciques e coisas afins, sem rumo.
     Certa vez, tocando no mesmo tema, lembro que cheguei a especular que esse espaço nobre do jornal - pelo incontestável histórico - me parecia, de fato, ser o caminho mais rápido para um cargo no primeiro escalão. Essa impressão vai se firmando cada vez mais, a cada edição.

Minha avó era cafusa

     Depois de assistir, afinal, a uma vitória do Vasco (2 a 0 sobre o Internacional), vi , no Jornal Nacional, algumas cenas deploráveis, sobre uma revolta de índios de Mato Grosso, que queimaram casas, destruíram plantações e ameaçam ainda mais, para reaver uma terra que foi deles, num passado recente, e que foi vendida, de papel passado (registro em cartórios de imóveis) a algumas centenas de pequenos proprietários.
     Os índios, que haviam sido transferidos para outra região em 1966 - segundo informações da reportagem -, resolveram voltar e o atual governo apoiou essa iniciativa, sem estabelecer uma solução para o contraditório - estimulando, assim, os atos de violência.
     As terras 'pertenciam' aos indígenas? Não tenho dúvida que seus antepassados estavam por lá, sim, bem antes dos atuais ocupantes. Aliás, assim como os antepassados de todos os indígenas brasileiros estavam por aqui antes da chegada de Cabral e companhia. Seria o caso de devolver Niterói (um dos melhores IDHs do país) imediatamente aos netos de Arariboia, por exemplo.
     Radicalizando um pouco, poderíamos requerer a embarque de todos os brancos, negros, asiáticos etc para suas terras de origem. Ampliando as fronteiras, expulsaríamos todos os descentes de espanhóis e ingleses da América de fala espanhola. A América do Sul (o Brasil, em especial), assim, voltaria aos seus velhos donos e práticas culturais, como matar crianças doentes, oferecer sacrifícios humanos aos deuses, beber o sangue e comer os miolos dos inimigos mortos, em sinal de respeito.
     E os Estados Unidos? Só tinha índio por lá, antes de grupos ingleses entrarem nos navios à procura de um novo mundo para se estabelecer e criar a nação mais poderosa da Terra.
     Só não fica bem, no caso do movimento brasileiro pela correção de fatos históricos, a TV Globo apresentar - sem a devida produção - um grupo de pessoas fantasiadas como se estivessem num desfile de carnaval. A cena do 'cacique' de óculos bifocal e calção do São Paulo - "salve o tricolor paulista", diz o hino -, tendo ao fundo alguns 'jovens guerreiros' caindo na gargalhada, desmoraliza qualquer iniciativa.
     PS: Se o movimento for à frente, vou querer minha parte nesse latifúndio, de preferência em moeda corrente. Minha avó materna (casou com um  português que por aqui chegou) era o que podemos chamar de um exemplar clássico de cafusa, resultado da mistura de índio e negro. Eu tenho fotos, para reforçar meu pleito, que estou pensando em estender ao universo de cotas e a um terreninho lá no quilombo do Sacopã.