segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Cheiro de naftalina

     Chega a ser engraçado ver e ouvir os comentaristas e repórteres brasileiros que trabalham nos Estados Unidos criticarem com tanta veemência o país, seus políticos, sua população alienada, sua instabilidade econômica, sua compulsão ao protagonismo. E, ao mesmo tempo, saírem em defesa do Irã, da China, Rússia, Cuba. Agora mesmo, um dos programas da GloboNews produziu mais um desses atos de inconsistência ideológica explícita, ao se alinhar ao corrupto e ditatorial esquema de governo russo, no seu confronto com os americanos.
     Tudo o que os Estados Unidos fizeram, estão fazendo e pretendem fazer está errado. Os russos, esses exemplos libertários, estão apenas reagindo - com o recrudescimento de ameaças nucleares e semelhantes - à compulsão americana por dominar o mundo. Vladimir Putin, o chefe de fato de um governo de exceção, não é um produto acabado do regime comunista, oriundo da KGB, a temida e criminosa polícia secreta soviética.
     Para alguns, Putin é o homem que restabeceu o orgulho do país. Esquecem os massacres na Chechênia, a violência contra estados-satélites que tentam se liberar do jugo russo. Corrupção? Fraude nas eleições? Prisões e assassinatos de dissidentes? Isso não vem ao caso. Preferem, ainda, passados tantos anos, destacar a falta de legitimidade do ex-presidente George Bush, eleito dentro das regras até discutíveis do país mais livre do mundo.
     Esse ranço da dicotomia esquerda-direita - por incrível que pareça! - ainda prevalece. Como se fosse possível classificar um país historicamente usurpador e que foi dirigido por genocidas, por décadas, como de 'esquerda', seja lá o que isso ainda represente de bom nesse mundo.
     O mais assustador é que essa visão maniqueísta e ultrapassada encontra repercussão por aqui, em especial. Não apenas em republiquetas bananeiras, como as da Venezuela, Argentina, do Peru e Guatemala, mas no Brasil, um país fadado a ter um papel preponderante, mas ainda vítima da corrupção e do estelionato ideológico.

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