domingo, 30 de junho de 2013

É hora de reflexão

     Pela minha formação e histórico, jamais contestaria o direito à livre manifestação, um dos pontos inegociáveis em uma democracia que se preze. Ao longo da vida, participei de incontáveis momentos cívicos. Do repúdio às práticas ditatoriais à campanha 'Diretas Já', passando por movimentos gerados no meu sindicato, o dos Jornalistas do Município do Rio de Janeiro, nas décadas de 1970 e 1980, principalmente.
     Sou, também, um crítico insaciável dessa que classifico como a era mais lastimável e medíocre da nossa história, inaugurada pelo ex-presidente Lula. Portanto, fico bem à vontade para manifestar minha insatisfação com o fato de estar virando refém de um processo de 'manifestações' que corre o risco de soterrar os enormes benefícios promovidos pelo despertar da consciência nacional.
     Se todos queremos zelar pelo País, não podemos eternizar o caos. Não é admissível que a vida nacional seja administrada por boatos, insegurança e medo gerados a partir de uma absolutamente etérea rede social. Há alguns dias, decretou-se que haverá uma paralisação geral amanhã, segunda-feira, dia 1º de julho. E a partir dessa decisão, instalou-se uma corrente que avançou por toda a sociedade.
     Por mais que eu, particularmente, tenha motivos para comemorar as consequências políticas desse imenso caldeirão de emoções que nos empolgou - especialmente a devastadora queda na aprovação do atual governo -, não consigo reverenciar o simples desmanche das instituições, por respeito a tudo que defendo.
     É muito saudável, sim, que a sociedade tenha saído da letargia e assumido o papel de protagonista num processo que promete transformações. Mas também é fundamental que a mobilização preserve os ideais que levaram a população para as ruas. É difícil, tenho certeza, até mesmo pela ausência de 'lideranças', aquela gente ligada a grupos radicais e que se prestava a qualquer tipo de serviço, desde que beneficiasse determinados partidos políticos, destaque para o hoje imprensado PT.
     Esse processo, por sua dimensão, precisa uma consciência coletiva que se ajuste às instituições e saiba expor suas reivindicações a tempo e a hora. Até mesmo, e principalmente, para se preservar e colher os frutos.

sábado, 29 de junho de 2013

Lula, desnudo

     As manifestações e suas consequências imediatas - em especial os atropelos desse lastimável Governo Dilma - estão deixando um enorme e ainda não bem dimensionado ganho para o País: o desmascaramento - que espero definitivo - do ex-presidente Lula, esse personagem deletério da nossa vida pública.
     Foragido da opinião pública há alguns meses, desde que foi divulgado seu relacionamento indecoroso com a então chefe do gabinete da Presidência em São Paulo, a senhora Rosemary Noronha, Luís Inácio aproveitou o desastre institucional em que vivemos para solapar sua sucessora e tentar tirar proveito do caos para alimentar sua candidatura em 2014. Como sempre fez, ao longo da vida.
     Sempre escorado em porta-vozes informais, dispostos a tudo pelo guru - o lastimável presidente do PT, Rui Falcão, e o 'ministro' Gilberto Carvalho são dois deles -, o ex-presidente marcou sua vida pública pelo desdém com seus acólitos, condenados ao sacrifício desde que ele fosse preservado. Jamais teve o constrangimento de deixar que outros carregassem sozinhos o peso dos pecados coletivos.
     Foi assim com os ex-ministros José Dirceu e Antônio Palocci; foi assim com o estropiado Delúbio Soares, o ex-tesoureiro do PT que assumiu a culpa pelo assalto aos cofres públicos realizado sob a coordenação do Palácio do Planalto, no episódio do Mensalão. É verdade que a presidente Dilma manteve o perfil do seu criador, ao demitir auxiliares diretos como se nada tivesse com os 'malfeitos' que pesavam sobre eles. Mas acredito que jamais imaginasse que seria alvo das manobras de seu mentor.
     Há um mês, seria improvável que Lula tornasse 'oficial' sua determinação de reassumir o posto que deixou aos cuidados provisórios de Dilma Rousseff. A presidente surfava em índices de aprovação próximos de uma divindade. Seria difícil executar a rasteira. Bastaram, entretanto, algumas semanas de caos e o desastre anunciado nas últimas pesquisas para que o mais medíocre e ignorante dos presidentes que jamais tivemos disparasse seus torpedos e se desnudasse definitivamente.

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Os limites da lei

     Eu já encerrara o dia, mas não resisti ao impulso de dizer mais alguma coisa sobre a polêmica em torno do tal eventual plebiscito sobre a reforma política, sugerido pelo nosso governo, especialmente depois de assistir ao Jornal Nacional. Se tivesse alguma dúvida do risco de submetermos uma decisão de tanta envergadura a um 'sim ou não' - e eu não tinha! -, ela teria se dissipado ao ver e ouvir um representante da 'juventude da CUT' e o lastimável presidente do PT defenderem não apenas a consulta, mas a aplicação imediata de suas conclusões.
     Não precisaria, sequer, ter acompanhado as ponderações seguintes, de um jurista e constitucionalista, sobre a ameaça à Constituição que pode ser provocada por esse tipo de ação açodada. É evidente que não há justificativa alguma para atropelar nossa Carta. E ela é clara quando prega que qualquer mudança na lei, para que passe a valer na eleição imediata, deve ser aprovada com uma antecedência mínima. É a garantia da regra democrática, a barreira que impede a ditadura da maioria.
     Sem esse óbice, nós nos transformaríamos em um arremedo de Venezuela, o que parece ser o sonho dos nossos dirigentes. Passaríamos a ser governados ao sabor dos interesses imediatos dos que detêm o poder. Um plebiscito para cada objetivo. Foi assim que os governos venezuelano, boliviano e equatoriano colocaram em prática o projeto 'bolivariano', atropelando as leis, que foram moldadas para atender aos seus propósitos.
     É evidente - e também não tenho dúvidas quanto a isso - que a estrutura política brasileira precisa ser repensada, reavaliada. Mas de maneira sóbria, clara, abrangente, discutida com a sociedade como um todo e com seus representantes. Do financiamento de campanhas à quase impunidade de políticos de todos os níveis. Mas esse passo, que vem sendo exigido nas ruas, deve ser dado no limite da lei.
     Qualquer desvio terá o peso de um golpe disfarçado.

Um choque na impunidade

     A 'porteira está aberta'. E por onde passa um condenado, podem passar todos os demais. Pelo menos é o que eu e - de certo - a maioria decente desse país esperamos que aconteça o mais rapidamente possível. O encanto foi quebrado. Um deputado federal, em pleno gozo de seu mandato, está na cadeia, como resultado de uma condenação imposta pelo Supremo Tribunal Federal.
     É um ótimo sinal para um tempo conturbado, conflagrado por revoltas absolutamente justas contra a corrupção e seus desdobramentos. A impunidade dos quadrilheiros que assaltaram os cofres públicos durante o governo Lula ficou mais difícil, apesar dos esforços da caríssima tropa de choque jurídica deslocada para o STF.
     Jamais imaginaria que um ministro da nossa mais alta Corte decidisse apenas e tão-somente embalado pelo 'clamor das ruas'. Mas tenho certeza que esse clamor vai exigir mais rigor dos atuais e dos novos magistrados, em especial. Hoje, soa impensável sequer admitir a possibilidade de José Dirceu e comparsas ficarem livres. Se fosse apenas por isso, as manifestações que sacodem o país já teriam valido a pena.
     O País precisa reagir, dar o salto de qualidade que a população exige. Nada melhor do que dar o primeiro passo com a punição exemplar dos bandoleiros que ousaram desafiar a essência da democracia.

A violência exige coragem

     "Uma criança de cinco anos morreu baleada na madrugada desta sexta-feira durante um assalto a uma casa na Zona Leste de São Paulo. Segundo a polícia, a criança foi executada porque os bandidos não ficaram satisfeitos com a quantia entregue pela família, de origem boliviana, que morava na casa. No local, estavam a criança, os pais e mais seis parentes".
     A notícia, assim, crua, está na página da Veja. É um dos retratos mais duros do momento brasileiro, violento, brutal. Um momento que é, em síntese, a antítese do que pedem as ruas e praças, também violentadas pela estupidez de degenerados. O país precisa se definir, decidir como vai enfrentar a barbárie de criminosos que não relutam em matar uma criança de cinco anos, ou saquear e incendiar lojas e bens públicos, desafiar a democracia.
     Os dois atentados - contra a vida e a liberdade - exigem reações duras e corajosas. O grito contra a corrupção que afoga o país tem o mesmo peso da revolta contra a relativa impunidade de bandidos comuns. Uma Nação que se pretende soberana e digna não pode conviver com agressões, vandalismo.
     A tibieza do Estado - compreendendo, nesse conceito, as esferas federal, estadual e municipal - no enfrentamento de arruaças é tão inaceitável quanto a magnanimidade na repressão a crimes hediondos, como o acontecido em São Paulo. A defesa dos direitos exige coragem para assumir um comportamento rigoroso, que não se paute pelo medo das imagens expostas pelas emissoras de tevê, revistas e jornais.

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Em defesa da democracia

     Ao que parece, e para o bem do país, a ideia de modificar o Brasil mediante consultas plebiscitárias 'subiu no telhado'. Demagógico e oportunista, como quase tudo que nasce nas bandas oficiais nos últimos dez anos, esse tipo de interação com a tal 'voz das ruas' vem sendo usado nas terras bananeiras da América do Sul para dar sustentação a projetos personalistas e partidários, a exemplo do que ocorreu e vem ocorrendo na Venezuela, Bolívia e Equador.
     Não por acaso, as reações foram as piores possíveis. O ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, Ayres Brito, lembra hoje, em O Globo, que uma consulta naturalmente vaga à população, sobre se quer reformar a política, seria "um cheque em branco" para o Congresso, através da maioria governista (leia-se PT e seu coadjuvante PMDB), aprovar o que bem entendesse. Já imaginaram? José Genoíno e João Paulo Cunha, por exemplo, expoentes petistas e quadrilheiros condenados, certamente teriam um papel protagonista nas mudanças.
     Extrapolando, podemos imaginar o cenário que, pelo histórico, vem sendo idealizado especialmente pelos próceres petistas: reformar a Constituição, paulatinamente, mediante novos plebiscitos, até adequá-la aos projetos que embalam o grupo que controla o poder maior. É a receita 'chavista', ou 'bolivariana', que vem sendo ministrada nos nossos arredores e que acaba legalizando a ilegalidade, o arbítrio, o esbulho dos direitos consagrados pela democracia.
     De plebiscito em plebiscito, o insepulto Hugo Chávez atropelou e redesenhou as leis, calou opositores, estuprou a Justiça. No Equador, esse lamentável Rafael Correa vem eliminando a liberdade de imprensa, persegue jornalistas, fecha jornais. É a síntese do maquiavelismo, da desfaçatez: acabar com a essência da democracia usando, para isso, os direitos que emanam dessa mesma democracia.

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Sem perdão para os corruptos

     O Senado decidiu, afinal, o que a parcela decente do país vem dizendo há muito tempo. Em síntese: não deve haver perdão também para os crimes de corrupção. Simples assim. O projeto que amplia as penas estava parado desde o ano passado e ainda vai passar pela Câmara, antes de ser levado à presidente Dilma Rousseff. Não interessava à maioria governista aprovar algo que, há um ano, poderia desabar sobre a cabeça dos quadrilheiros petistas e assemelhados.
     Hoje, pressionados pela força das manifestações justas, nossos políticos correm para dar uma satisfação ao distinto eleitorado. Antes tarde do que nunca, é claro. Mas não deixa de ser lamentável que o provável novo peso das punições aos corruptos não possa retroagir. Talvez ajude - e isso é uma possibilidade real - na reflexão dos novos membros do Supremo Tribunal Federal, responsáveis por atender, ou não, aos recursos dos bandoleiros condenados.
     O Brasil que protesta de forma incisiva, mas democrática, provavelmente não aceitaria um retrocesso. Como explicar - à legião que tem ido às ruas exigir renovação e dignidade - que determinados personagens têm autorização para roubar?

Falta determinação

     A viagem estava sendo a mais rápida e tranquila dos últimos dias. De Campo Grande à Estrada da Matriz, principal entrada (e saída ...) da Pedra, uma ou duas paradas apenas. Já havia acontecido algo semelhante no normalmente longuíssimo trecho que passa pelo congestionado e sucateado quilômetro 32 da antiga Rio-São Paulo. Foi o percurso mais rápido entre a UFRRJ (a ' Rural', onde continuo a me desafiar diariamente, no curso de História) e Campo Grande. Certamente o jogo da Seleção Brasileira era o principal responsável pelas ruas quase vazias.
      A surpresa aconteceu já na Pedra. 'Nosso' ônibus foi obrigado a parar e desviar de uma passeata que deveria estar protestando contra alguma coisa (há os que 'protestam' a favor, creiam...). Não consegui perceber, pois um grupo de idiotas - não podiam ser chamados, sequer, de vândalos - passou a dar pontapés e socos na lataria do veículo, assustando os passageiros, que reagiram quase unanimemente.
     A estupidez foi rechaçada aos gritos, evidenciando o enorme desserviço às reivindicações que é prestado por esse tipo de arruaceiro que insiste em sequestrar as mobilizações. Não é possível conviver democraticamente com bandos de desajustados. O Estado tem, sim, que intervir sempre que se fizer necessário. Hoje, como em outras ocasiões, os policiais que acompanhavam o cortejo mantiveram-se à distância, como se coonestassem os atos impróprios.

terça-feira, 25 de junho de 2013

A Constituição se basta

     Como quase tudo que é feito nesse país há dez anos, o Governo disse que não disse e arquivou a ideia de patrocinar a convocação de uma Assembleia Constituinte destinada apenas e tão-somente a dar uma satisfação à opinião pública que resolveu ir para as ruas e ameaça a reeleição da presidente Dilma Rousseff, algo que sequer era cogitado há dois meses. Constituintes, e nossa história está aí para demonstrar, são remédios extremos, aplicados em momentos especiais. Para o bem e para o mal.
     As convocações de 1946 e 1988, por exemplo, foram absolutamente necessárias e atendiam aos reclamos da redemocratização. O Brasil saíra recentemente de duas ditaduras. Não é o caso atual. Nosso problema não está na mudança da Constituição, e sim no respeito às suas diretrizes, amplamente discutidas pela sociedade. É verdade que o partido da presidente não deve ter pela Carta o respeito que os demais segmentos da população devotam. Afinal, não a assinou.
     Ainda bem que retrocedeu, sim, apesar do contorcionismo verbal usado para negar o que não há para negar. A questão não está na Constituição, mas nos poderes que deveriam respeitá-la, em especial o Executivo e o Legislativo, este, amplamente dominado pelos partidos que formam a base governamental, esse saco de gatos ideológico onde cabem todas as tribos.
     Mas nem mesmo a convocação de uma Constituinte extemporânea me parece tão ameaçadora quanto o uso do recurso plebiscitário para definir rumos. Os exemplos vizinhos estão ai, para nos assustar. O insepulto presidente venezuelano Hugo Chávez usou e abusou desse artifício para moldar um arremedo de democracia que permitiria sua presença eterna no poder. O cocaleiro boliviano Evo Morales segue nesse caminho, o mesmo traçado pelo também populista equatoriano Rafael Correa.
     Com a desculpa de atender à voz das ruas, nosso governo pode enveredar por um caminho perigoso para a democracia. Não é preciso consultar a população para saber que ela repudia a corrupção e os corruptos, por exemplo. Um bom sinal de identidade com o clamor público seria retirar de campo a tropa de choque escalada para defender os quadrilheiros petistas e afins que foram condenados à cadeia.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

O poder da consciência

     Isolado da civilização - uma imagem que é absolutamente relativa e pressupõe 'preconceitos', reconheço - por cinco dias e noites, graças à inoperância da telefônica Oi, ganhei a oportunidade de não discutir o aprofundamento da mobilização que vem tomando o país, no dia a dia, como seria natural fazer. Ao ler algumas considerações bem recentes, tive certeza que não teria muito a dizer, além do que já dissera, há oito dias, no texto 'Havia Brasília, no meio do caminho' (O Marco no Blog' de 16 de junho).
     Continuo achando - no melhor sentido da expressão - que o feitiço atropelou os feiticeiros, para gáudio do Brasil. O que se antecipava apenas como mais uma ação isolada, político-partidária, sim!, fugiu do controle, ao ser sequestrada por uma camada da população - essencialmente jovem, ávida por ser protagonista de alguma coisa.
     O repúdio à manipulação alterou o jogo e assustou até mesmo seus mentores. Muito mais do que o desvio de conduta de baderneiros e arruaceiros contumazes, que esse é facilmente combatido com a presença ostensiva da polícia. O nó da questão é que não há meios legais de calar consciências, exceto em regimes de exceção, arbitrários, o que não é o nosso caso.
     Repetindo o título do texto (que também vai reproduzido, abaixo): Havia Brasília, no meio do caminho.
     "Desde o início das recentes manifestações - e discuti esse tema com um jovem amigo, ontem - venho defendendo a tese de que há, sim, um enorme componente político-partidário por trás de tudo. Até mesmo a adesão de grande parcela de jovens é resultado de um exercício de manipulação executado por grupos extremistas e radicais. A garotada vai para as ruas pensando que está mudando o país, mas, na verdade, está sendo usada como fachada para projetos eleitorais, lutas por protagonismo.
     Assumi essa tese bem antes de saber, pela Folha, que investigações da polícia paulista detectaram o uso de grupos de marginais por militantes de partidos de extrema - no caso, PSTU e PCO e outros siglas semelhantes -, que vivem em confronto com tudo e todos, incluindo nesse pacote de adversários até mesmo o PT, antigo parceiro. É a turma que continua defendendo luta armada e ainda se mantém fiel ao espírito do velho e sepultado regime albanês.
     Seria muito simplório acreditar que movimentações que alcançaram essa dimensão estivessem mirando apenas no reajuste das tarifas de transporte público. Há, é verdade, idealismo e insatisfação com a péssima qualidade dos serviços e com o início de crise que começa a nos rondar mais de perto. Como há simples vandalismo de desajustados. Mas o foco central é a luta pela imposição ideológica, que se aproveita da saudável tendência natural dos jovens à contestação.
     Nesse contexto, há uma aposta evidente no conflito. Passeatas que acabam sem cacetadas ou balas de borracha não conseguem a repercussão idealizada. Mostram, sim, inconformismo, mas não exibem as imagens de confronto com as 'forças de repressão' que alimentam novas manifestações e assim sucessivamente.
     Num primeiro momento, o partido que domina o poder há dez anos e meio ficou em uma confortável expectativa. O confronto em São Paulo favoreceria, em tese, a campanha petista para o governo, ano que vem, pois a polícia - quase sempre estúpida - é estadual, comandada pelo governador, que é do PSDB. O papel da prefeitura, que é do PT, ficaria difuso, embora as tarifas de ônibus em questão sejam responsabilidade municipal.
     No Rio, o desgaste do governador Sérgio Cabral não faria diferença. Na melhor das hipóteses, reforçaria a candidatura do senador Lindberg Farias. Entre feridos e feridos (não houve mortes, ainda bem), o saldo seria bom. Alguns próceres petistas chegaram, até, a ensaiar a condenação da arbitrariedade em São Paulo. Sabemos que o PT cogitava liberar sua turma para engrossar as fileiras que protestam em São Paulo.
     Mas, aí, aconteceu Brasília".

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Pacto indigno

     As vidraças quebras, ônibus incendiados, bancas de jornais e lojas saqueadas e agressões generalizadas devem ser colocadas na conta desses governos pusilânimes e covardes que se espalham por todo o país, sem distinção de matiz. São covardes, pautados pelos jornais e imagens da tevê, com o pensamento sempre ligado nas próximas eleições, sejam elas quais forem.
     Acuados pela repercussão da estupidez de alguns policiais, principalmente em São Paulo, prefeitos e governadores firmaram um pacto indigno de abandonar suas cidades e estados nas mãos de desordeiros e vagabundos. A Polícia Militar e as guardas municipais foram proibidas de intervir, com medo de serem flagradas distribuindo cacetadas, que, afinal, é a sua obrigação quando o alvo é um desses celerados que aproveitam a multidão para cometer desatinos.
     Todos - mas todos, mesmo - os que foram atingidos por atos de vandalismo deveriam processar todas as esferas possíveis de governo, por essa atitude omissa e criminosa. Não é admissível que um policial assista passivamente a grupos de desordeiros incendiarem e destruírem bens públicos e particulares. Não há justificativa plausível.
     O protesto, civilizado, como pressupõe a democracia, deve ser respeitado, ouvido e avaliado pelos governantes. A desordem deve ser combatida com todo o rigor. Assim como deve ser garantido o direito dos que não se manifestam.
     O medo das câmeras acuou a autoridade.

terça-feira, 18 de junho de 2013

Vidas incendiadas

     Ao ler sobre o operário que perdeu o carro, um prosaico modelo de 1993, comprado a prazo, na última manifestação ocorrida no Rio - jovens 'ativistas' incendiaram o veículo -, me veio à memória, de imediato, outro atentado perpetrado contra um representante da classe que deveria ser defendida. Estou me referindo a Francenildo Campos Costa, o caseiro brasiliense que ousou denunciar a presença constante do então ministro da Fazenda, Antônio Palocci, em uma mansão suspeitíssima, às margens do lago Paranoá.
     Nessa casa, vigaristas de todos os matizes e origens se reuniam para trocar informações, combinar assaltos aos cofres públicos e participar de bacanais. O Governo de então (essa Era Lula ...), além de desmentir categoricamente o fato, tentou desmerecer o denunciante. Uma das medidas: quebrar criminosamente seu sigilo bancário. Para alegria petista, foi encontrada uma quantia acima das posses do rapaz.
     Não havia mais dúvida: os neoliberais estavam pagando por suas denúncias, destinadas a conflagrar ainda mais o cenário nacional, abalado pelo escândalo do Mensalão. Massacrado, Francenildo foi obrigado a revelar que o dinheiro fora depositado por seu pai biológico, como forma de compensar o abandono do filho. Palocci perdeu a vaga na futura corrida presidencial, foi reabilitado por Dilma Rousseff e caiu novamente em desgraça quando da divulgação do crescimento exorbitante de seu patrimônio. Mas continua rico e influente no PT.
     Já a vida de Francenildo ... De lá para cá - e já se vão sete anos!!! -, seu dia a dia virou um inferno. Mal consegue trabalho. Ficou marcado. Até hoje tenta receber uma indenização pelo crime cometido pelo governo que se nomeia representante dos pobres e oprimidos.
     O operário carioca também foi mais uma vítima da estupidez ideológica.

'Esquerda' de ontem, 'direita' de hoje

     Em 1969, jovem e intrépido repórter associado (trabalhava no extinto O Jornal), acompanhei uma enorme manifestação pela passagem do primeiro aniversário da morte do estudante secundarista Edson Luiz, atingido em março do ano anterior por um tiro, durante conflito com policiais, no antigo restaurante do Calabouço. A marcha estacionou na esquina das Ruas de Santana e Irineu Marinho, ali nas proximidades da Praça XI. Vocês já devem ter se situado geograficamente. É isso mesmo: em frente à sede do jornal O Globo.
     Naquela época - já sob os rigores do Ato Institucional número 5, promulgado em dezembro de 1968 -, O Globo despontava como um dos inimigos das reivindicações populares, representante da direita mais hidrófoba e quetais. Para não perder a viagem, um grupo desandou a atirar pedras contra o prédio do jornal.
     Algum tempo depois, com a expansão do império, uma das 'palavras-de-ordem' entoadas em toda e qualquer mobilização passou a ser o famoso "O povo não é bobo; abaixo a Rede Globo". Principalmente depois do 'episódio Proconsult', em 1982, quando tentou-se interferir na eleição para governador, vencida por Leonel Brizola.
     A Globo, na época, foi acusada de ajudar na manipulação dos resultados, para favorecer o candidato da situação ('direita'), o atual deputado federal Miro Teixeira (PDT e ex-ministro da Era Lula, de 'esquerda'), afilhado politico do ex-governador Chagas Freitas. Miro trabalhava no jornal O Dia, que pertencia a Chagas. Mais uma vez, o império Globo era associado à direita, situação que perdurou por muito tempo e foi explorada exaustivamente pela militância petista. O próprio Lula, em vários momentos, referiu-se à Globo como uma inimiga.
     Os tempos mudaram, o PT se fez poder. Nas mobilizações de ontem, ficamos sabendo que repórteres foram escorraçados pela multidão, que continua vendo o império de comunicações como inimigo, por ser um aliado dos mandatários, logo, parceiro da 'esquerda' , seja lá o que isso for. Ou a presidente Dilma Rousseff e o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, para ficarmos apenas em dois nomes em mais evidência, são direitistas infiltrados?
     "O tempora o mores", diria Cícero.

     PS: Nos meus quarenta anos de jornalismo, tive o privilégio de passar boa parte em O Globo, sem dúvida, o melhor 'patrão' que já tive.

segunda-feira, 17 de junho de 2013

O Brasil em debate

     A presidente Dilma Rousseff é, talvez, a maior vítima das manifestações que explodem em grande parte do país e que extrapolaram a simples contestação do aumento das tarifas de transportes públicos. Os 'vinte centavos' que atingiam prefeitos e governadores, transformaram-se em uma enorme discussão sobre o momento brasileiro. Não mais o ônibus, trens e barcas sucateados e o metrô superlotado. As legiões que tomaram conta da rua também estão debatendo prioridades governamentais. Até mesmo os investimentos no futebol - a ainda imbatível paixão brasileira - estão na pauta.
     Imprensada, a presidente foi obrigada a dizer alguma coisa. Imagino - e me dou a esse direito - que preferisse não ter sido levada a esse ponto. Nos últimos dez anos e meio, o governo tem procurado se manter formalmente a uma distância segura dos grandes temas que mobilizaram o país e que poderiam respingar em Brasília, como o julgamento do Mensalão. A dimensão dos protestos - inacreditáveis mais de 100 mil pessoas no Centro do Rio - impôs uma resposta, que pode ser lida de pelo menos duas maneiras.
     Ao afirmar que o direito à manifestação é uma conquista da democracia, nossa presidente limitou-se ao óbvio. Quando faz a ressalva sobre manifestações pacíficas e ordeiras, embora também óbvia, admite, de alguma forma, que o Estado tem a obrigação de garantir que elas, as manifestações, mantenham-se dentro dos limites impostos pela Lei. É uma espécie de autodefesa. Ninguém pode imaginar passividade frente a turbas que tentem, por exemplo, invadir o Alvorada. Por mais que suas bandeiras sejam respeitáveis.
     Acostumado historicamente a estar do lado da atiradeira, o grupo que está no Poder nacional não tem sabido reagir. Num primeiro momento, defendeu a ordem. Em seguida, aproveitou a chance para criticar o uso de violência por governos liderados por oposicionistas. Hoje, quando temeu até mesmo a ocupação do Palácio, Dilma tentou encontrar uma saída nessa encruzilhada.
     Seu aliado, o governador fluminense Sérgio Cabral, foi atropelado pela tibieza e viu-se obrigado a recorrer a forças de choque para tentar controlar uma situação que delineava-se altamente arriscada. Outro parceiro do poder, o presidente interino do Congresso, o petista André Varga, ao ver que a Casa estava sitiada e prestes a ser invadida, também chamou a polícia.
     Está mais do que na hora de o país se rediscutir.

domingo, 16 de junho de 2013

Havia Brasília, no meio do caminho

     Desde o início das recentes manifestações - e discuti esse tema com um jovem amigo, ontem - venho defendendo a tese de que há, sim, um enorme componente político-partidário por trás de tudo. Até mesmo a adesão de grande parcela de jovens é resultado de um exercício de manipulação executado por grupos extremistas e radicais. A garotada vai para as ruas pensando que está mudando o país, mas, na verdade, está sendo usada como fachada para projetos eleitorais, lutas por protagonismo.
     Assumi essa tese bem antes de saber, pela Folha, que investigações da polícia paulista detectaram o uso de grupos de marginais por militantes de partidos de extrema - no caso, PSTU e PCO e outros siglas semelhantes -, que vivem em confronto com tudo e todos, incluindo nesse pacote de adversários até mesmo o PT, antigo parceiro. É a turma que continua defendendo luta armada e ainda se mantém fiel ao espírito do velho e sepultado regime albanês.
     Seria muito simplório acreditar que movimentações que alcançaram essa dimensão estivessem mirando apenas no reajuste das tarifas de transporte público. Há, é verdade, idealismo e insatisfação com a péssima qualidade dos serviços e com o início de crise que começa a nos rondar mais de perto. Como há simples vandalismo de desajustados. Mas o foco central é a luta pela imposição ideológica, que se aproveita da saudável tendência natural dos jovens à contestação.
     Nesse contexto, há uma aposta evidente no conflito. Passeatas que acabam sem cassetadas ou balas de borracha não conseguem a repercussão idealizada. Mostram, sim, inconformismo, mas não exibem as imagens de confronto com as 'forças de repressão' que alimentam novas manifestações e assim sucessivamente.
     Num primeiro momento, o partido que domina o poder há dez anos e meio ficou em uma confortável expectativa. O confronto em São Paulo favoreceria, em tese, a campanha petista para o governo, ano que vem, pois a polícia - quase sempre estúpida - é estadual, comandada pelo governador, que é do PSDB. O papel da prefeitura, que é do PT, ficaria difuso, embora as tarifas de ônibus em questão sejam responsabilidade municipal. 
     No Rio, o desgaste do governador Sérgio Cabral não faria diferença. Na melhor das hipóteses, reforçaria a candidatura do senador Lindberg Farias. Entre feridos e feridos (não houve mortes, ainda bem), o saldo seria bom. Alguns próceres petistas chegaram, até, a ensaiar acondenação da arbitrariedade em São Paulo. Sabemos que o PT cogitava liberar sua turma para engrossar as fileiras que protestam em São Paulo.
     Mas, aí, aconteceu Brasília.

sábado, 15 de junho de 2013

Uma tarde de vaias

     Se depender apenas das vaias recebidas na abertura da Copa das Confederações, hoje à tarde, em Brasília, a presidente Dilma Rousseff já pode encomendar a faixa e se preparar para o segundo mandato. O público que foi repreendido pelo presidente da Fifa - como se ele tivesse esse direito! - não é absolutamente representativo da massa eleitoral que decide e que torce, mesmo, é pela manutenção dos programas assistenciais que ela - essa massa - vincula à atual Era Lula.
     É verdade que um coro de vaias incomoda, especialmente quando vem logo depois de uma queda na aprovação. E não deixa de ser um aviso, um lembrete. Mas Lula também foi vaiado. No caso atual, os apupos estão ligados, sim, à repercussão das manifestações contra o aumento das tarifas dos transportes urbanos. De algum modo, a presidente também foi atingida pelos cassetetes da PM paulista, em especial, embora seu Governo já tenha começado a esboçar uma mudança de rumo.
     Da condenação aos atos de vandalismo e da aprovação da intervenção policial para restaurar a ordem, passou diretamente à condenação da estupidez da repressão registrada na mais recente manifestação. Sem baldeação na análise dos fatos ou parada reflexiva. Infelizmente, para Dilma, não houve tempo para que o PT e seus aliados mais diretos se aliassem ostensivamente aos manifestantes, como já está programado.
     No meio do caminho havia o jogo da Seleção Brasileira e a grande oportunidade que uma parcela expressiva (mas não determinante) da sociedade manifestasse seu desagrado com os rumos do país, e não apenas com o preço das passagens. Em Brasília, os vinte centavos do aumento sequer apareceram como troco. Quem pode pagar pelos ingressos não está, realmente, preocupado com moedinhas.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Justiça amiga

     Vocês sabem quem presidirá o Tribunal Superior Eleitoral no ano que vem, quando haverá eleições para presidente, senador, governador e deputados federais? Ele, o ministro Dias Toffoli, aquele mesmo que fez dupla com Ricardo Lewandowski durante o julgamento do Mensalão do governo Lula e defendeu abertamente a impunidade. O ministro - acho que ninguém esqueceu - foi empregado do PT e trabalhou ardorosamente em três campanhas.
     Pois, sob sua presidência, teremos dois ministros que também trabalharam para o PT nas últimas eleições, como destaca a Folha de hoje. Certamente são ótimos profissionais, ou não teriam sido escolhidos. E já se declaram totalmente aptos a julgar qualquer incidente futuro que venha a envolver a campanha da presidente que os nomeou. Precisamos acreditar nisso. Mas o histórico recente do Mensalão gera dúvidas. Dúvidas que poderiam ser evitadas.
     Dias Toffoli e Lewandowski não se intimidaram com os holofotes sobre suas atuações nem com a reação da parte decente da Nação, que é maioria. Indiferentes ao clamor por justiça, extrapolaram na defesa dos companheiros petistas que faziam parte da quadrilha que assaltou os cofres públicos.
     Ou - podemos admitir, para efeito de discussão - apenas e tão-somente aplicaram seus conceitos independentes. Mas a estreita ligação partidária lançou as inevitáveis suspeitas sobre suas atuações. Em determinado ponto, os dois passaram a ser hostilizados quando ousavam aparecer em público. Um desgaste desnecessário.
     A atuação dos novos ministros do TSE certamente passará por um crivo semelhante. E a ligação de ambos com o esquema de poder invariavelmente será alvo de restrições. A própria Justiça, em sentido mais amplo, poderá ser vítima de comparações com o arremedo de instituição venezuelano.
     Não quero acreditar que os objetivos sejam os mesmos.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

A capitulação da Lei

     É inacreditável a força que o Brasil vem fazendo para servir de exemplo de país bananeiro, demagógico, populista. A mais recente demonstração de pusilanimidade - o que lamento profundamente - surgiu de um dos raríssimos setores da vida nacional que têm dados sinais de sobriedade, o Ministério Público, como destaca o Estadão, em matéria sobre os atos de vandalismo ocorridos em São Paulo, sob o pretexto repúdio ao reajuste das tarifas de transporte público.
     O MP, no lugar de exigir a punição exemplar dos baderneiros que destruíram bens particulares e públicos, propôs a suspensão da adoção da nova tarifa, para dar tempo a negociações e evitar o confronto anunciado para amanhã. Só faltou exigir a realização de reunião entre os líderes do quebra-quebra e as autoridades legalmente constituídas. Algo como colocar frente a frente um desajustado social e o governador do Estado.
     Por razões claramente ideológicas e insustentáveis racionalmente, as leis de nosso país vêm sendo atiradas no esgoto por grupos claramente induzidos por militantes político-partidários ligados ao esquema de poder que se estabeleceu há dez anos e meio. A irracionalidade dos atos de violência praticados por diversos segmentos, notadamente o MST, se alastrou, graças à complacência e cumplicidade de personagens e instituições que miravam, sempre, no poder.
     Já escrevi sobre isso algumas vezes. Repito agora: como exigir respeito às leis, se os que hoje estão no poder central passaram a vida estimulando a provocação, o desrespeito, as agressões, os pontapés, a destruição de bens públicos e particulares, a pilhagem dos cofres da Nação?
     Não. A discussão não se dá sobre dez ou vinte centavos. Não nos iludamos, nem deixemos que nos iludam.

terça-feira, 11 de junho de 2013

A lei, contra a baderna

     Ônibus, que vão fazer falta, depredados; agências bancárias atacadas; estupidez, ignorância. Repetiu-se o quadro de vandalismo que vem marcando os 'protestos' contra o reajuste das tarifas de transporte público em São Paulo, em escala maior do que o acontecido no Rio.
     Os relatos feito à Folha pelo motorista de um dos ônibus atacados e por um policial militar mostram bem o perfil desses desajustados, que em momento algum levam em consideração os interesses gerais da população. Esse tipo de gente é um misto de vagabundos comuns e militantes partidários desclassificados de algumas siglas que se alimentam do ódio.
     "Eu estava com 15 passageiros e o pessoal de capuz ameaçou atear fogo. Meteram pedra de cima abaixo", contou uma das vítimas desse maré de boçalidades. "Enquanto eo negociava com dois que diziam ser líderes do movimento, outro grupo começou a agredir os policiais. Eu mesmo levei uma paulada na perna", relatou um oficial da PM paulista.
     Convenientemente, o prefeito petista de São Paulo, Fernando Haddad, tenta ficar invisível, como se sua prefeitura e o governo federal nada tivessem com o fato. O ônus fica todo com o governo do Estado, do PSDB, responsável, em última instância, pela repressão.
     Por sorte - e contra muitas expectativas -, não houve um ferido grave ou mesmo um morto entre os 'manifestantes'. Isso é tudo que eles querem. Um troféu sangrento para exibir nas ruas e nas suas campanhas eleitorais.
     Está mais do que na hora de a sociedade decente exigir que os governos punam esses baderneiros com os rigores da lei.

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Vandalismo mascarado

     O direito à manifestação é irrefutável, em uma democracia. Bater panelas, exibir faixas, cantar refrões, eventualmente vaiar. Pedradas, pontapés e incêndios - vandalismo, em síntese - não podem e não devem ser tolerados. É evidente que reajustes de tarifas não agradam, especialmente quando incidem sobre serviços públicos mal-prestados, como nosso transporte coletivo. Mas não consigo encarar naturalmente atos de violência, como os que atingiram o Rio, hoje.
     Embora não tenha participação alguma nas reeleições de Eduardo Paes e Sérgio Cabral e, portanto, nenhum interesse em defender suas administrações, sou obrigado a, mais uma vez, exibir meu inconformismo com o desrespeito que atitudes como essa representam para o cidadão. Particularmente quando tenho absoluta convicção de que são atos com viés político-eleitoral.
     E mais. É inadmissível que manifestantes se escondam atrás de máscaras, como bandidos de filmes de faroeste. O exercício da cidadania - e protestar decentemente é um dos direitos - pressupõe clareza. Quem oculta o rosto está, deliberadamente, tentando fugir à responsabilidade por seus atos. E ainda deixa a conta de seu comportamento repreensível para a sociedade pagar.

domingo, 9 de junho de 2013

Minha frase da semana

     Maduro é a expressão mais acabada do mal que Chávez provocou ao longo de seus sucessivos governos, marcados pela ideologia mais rasteira, populista, esquizofrênica". Extraída do texto 'Fosso venezuelano', de 6 de junho.

sábado, 8 de junho de 2013

Desafio à compreensão

     "Aprovação a Dilma cai pela primeira vez desde a posse e fica em 57%". A manchete é da Folha, com base em pesquisa recentíssima. Se a eleição fosse hoje, a presidente continuaria sendo eleita em primeiro turno. Talvez não consiga esse feito, ano que vem, mas seu segundo mandato é algo praticamente irreversível. Isso, apesar da inflação alta, do PIB ridículo, da ameaça ao emprego e dos escândalos recorrentes nesses dois anos e meio.
     É verdade que a oposição é risível, desfibrada, incapaz de se fazer entender - se é que há alguma coisa para ser entendida em discursos vazios. Assim mesmo, é inacreditável que um governo tão medíocre tenha esse índice de aprovação. E sabemos que a turma de Brasília não consegue evitar uma estupidez retórica, um caso escabroso.
     Os últimos dez anos têm sido um desafio para minha compreensão (é limitada, eu sei ...) do fenômeno político brasileiro.

É duro ser vidraça ...

     Acuado e sem coragem de reagir , com um mínimo de dignidade, à baderna provocada por manifestantes 'companheiros', o atual prefeito de São Paulo, o petista Fernando Haddad, tentou se eximir de qualquer responsabilidade sobre o reajuste das tarifas de transporte público. Alegou, em sua defesa, em entrevista ao Estadão, que nenhum dos candidatos que derrotou prometera sustar o aumento. Algo como um lastimável "eles também iriam aumentar".
     Até o ano passado, Haddad estaria do outro lado do estilingue, atirando suas pedras no governo, para construir sua ponte para o poder. É um exemplo da fragilidade e da falta de consistência de posições meramente politiqueiras, para consumo fácil. Governar - e infelizmente o PT não aprendeu - vai além de piruetas verbais demagógicas e populistas que podem dar certo por um determinado período, especialmente se aquecidas por um cenário mundial favorável.
    

O fosso venezuelano

     Não consigo esboçar sequer um sorriso, mesmo irônico, ou debochado, quando leio as sandices propaladas por esse inacreditavelmente despreparado presidente Venezuelano, Nicolás Maduro. Lamento, profundamente, quando me deparo, como aconteceu hoje, na Veja, com Maduro dizendo que seu antecessor, o ainda insepulto e também lamentável Hugo Chávez, "aparece nas montanhas de Caracas".
     É uma lástima para um país que um personagem tão medíocre, demagógico, homofóbico e ignorante tenha sido eleito para o mais alto cargo, atrelando toda a nação a um futuro ainda mais assustador do que o presente sugere. Maduro é a expressão mais acabada do mal que Chávez provocou ao longo de seus sucessivos governos, marcados pela ideologia mais rasteira, populista, esquizofrênica.
     "Chavez se fez montanha ... voando como um passarinho, como apareceu para mim", recitou para uma plateia idiotizada, incapaz de racionalizar e reforçando a afirmativa que fizera antes, de que seu guru assumira a forma de um pássaro que o visitou.
     É assim, dessa maneira estúpida, que o presidente venezuelano trata seus concidadãos. O que se pode esperar de um governo liderado por um personagem como esse? Não há perspectivas no horizonte venezuelano, atrelado única e exclusivamente aos preços internacionais do petróleo.
     No nosso vizinho, há escassez de muito mais do que o simplório papel higiênico. Falta o estofo fundamental a qualquer projeto de crescimento, de superação dos fossos de ignorância.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Excrescência jurídica

     Houve um momento na minha vida - pouco depois da minha saída de O Globo - em que precisei, mesmo, reduzir as despesas, para equilibrar receita com gastos familiares, muito grandes naquela época - filhas pequenas, prestação de casa etc. Uma das providências foi trocar o carro pela condução coletiva. Outra, adaptar o cardápio do almoço ao tamanho da carteira.
     De esquina em esquina, ali nas imediações do cruzamento das Avenidas Presidente Vargas e Rio Branco, cheguei a um misto de bar e restaurante que atendia às necessidades do organismo.
     Nada de excepcional. Milhões de pessoas fazem isso, diariamente. Nossos ministros de tribunais superiores, não. Continuam comendo às nossas custas. Embora ganhem salários inimagináveis para trabalhadores normais - merecidos, sem dúvida! -, acabam de receber pequenas fortunas referentes ao pagamento, retroativo, de refeições feitas ao longo de nove anos.
     É algo inacreditável e, em, países decentes, inaceitável. A pilantragem - não há outro nome, embora tudo esteja dentro da lei - chegou, segundo O Globo, a estratosféricos R$ 3,64 milhões. Para agravar ainda mais, é público e notório que esse 'benefício' está 'sub judice', para usar uma expressão que deveria ser levada em conta especialmente por magistrados.
     A farra contempla ministros dos Tribunais Superior do Trabalho, Superior de Justiça e Superior Militar e foi aprovada - de acordo com o noticiário - em uma reunião "secreta" realizada em agosto do ano passado. Mais uma excrescência, em especial quando parte de órgãos voltados para a execução da Justiça.
     Não há justificativa possível para esse tipo de atitude. São fatos assim que destroem, por exemplo, a imagem que o STF conseguiu construir ao longo do julgamento do Mensalão do Governo Lula, ao condenar figurões do poder.

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Pelo fim do salvo-conduto para atrocidades

     É um tema controvertido, impulsionado a supostas convicções ideológicas. Estou me referindo, mais uma vez, à controversa maioridade penal, fixada, no Brasil, em 18 anos. Tema que volta à discussão com a noticia sobre a filha de 17 anos que matou a mãe com requintes de sadismo (sufocou-a com um saco plástico), queimou o corpo e 'denunciou' seu desaparecimento, com o auxílio do namorado de 18.
     A barbaridade do crime, que aconteceu aqui no Rio, é tão grande que é capaz de chocar qualquer um de nós. Assim como a motivação: ficar mais livre com o namorado e, ao mesmo tempo, usar os R$ 15 mil do seguro de vida da mãe. A notícia, publicada também no O Globo, destaca que o rapaz foi preso, mas a assassina de fato, a mentora do crime, foi candidamente encaminhada ao Departamento Geral de Ações Sócio-Educativas (Degase).
     Isso que dizer que o rapaz, por ter 18 anos, pode ser condenado a até 30 anos de prisão. A jovem, com quase 18, poderá ser libertada em três anos. Há uma evidente contradição na aplicação dos princípios de justiça, na interpretação da filosofia que norteou a legislação e que vem sendo usada, sistematicamente, como salvo-conduto para atrocidades.
     É preciso repensar a Lei, sim. Uma jovem de 17 anos sabe perfeitamente o que está fazendo, quando planeja e executa a morte da própria mãe. Assim como um adolescente de 16 anos tem plena consciência da gravidade dos seus atos, quando assalta, mata, tortura, estupra ou incendeia suas vítimas.
     Não é uma questão ideológica, fruto de uma luta entre os bons e os maus; entre direita (seja lá o que isso for) e esquerda (isso que sabemos o que é). O mundo mudou, assim como as atrocidades decorrentes dessa mudança. Cada crime tem sua história, seus componentes, motivações. Um menino que pula cercas para roubar garrafas evidentemente não pode ser tratado como marginal. Outro, que sai de arma em punho assaltando e matando, reiteradamente, deve, não tenho dúvidas, ser confrontado com sua responsabilidade.
     Não se trata de uma escala etária, mas da graduação de crimes.

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Um ministro nefasto

     Nunca é tarde para externar, mais uma vez, minha ojeriza por esse personagem nefasto do poder brasileiro. Estou me referindo, sim, ao ministro Gilberto Carvalho, autor de mais uma canalhice retórica, ao dizer que a presidente Dilma Rousseff, sua chefe, deveria ter ordenado ao ministro da Justiça que descumprisse uma ordem judicial, no caso, a ordem para reintegração de posse de uma fazenda invadida e devastada por 'índios' em Mato Grosso do Sul.
     Só mesmo alguém com uma vida pública tão deplorável poderia dizer algo assim. Sempre que posso, lembro que o senhor Gilberto Carvalho foi acusado, formalmente, pelos irmãos do prefeito petista Celso Daniel, assassinado em 2002, de ser o carregador da propina arrecadada nos municípios paulistas dominados pelo PT. Na acusação, o detalhe jamais desmentido: o transporte era feito no seu - dele, Gilberto - Fusca particular e entregue à direção do partido, em São Paulo.
     A reação oficial à estupidez do homem de confiança do ex-presidente Lula no Palácio do Planalto - a presidente, em pessoa, fez questão de afirmar que seu Governo respeita a Justiça - não foi, para mim, suficiente. Se respeitasse, mesmo, o ex-seminarista que adotou Lula como novo deus teria sido escorraçado de Brasília. Não é admissível, sob qualquer ótica, que um ministro de um país que se quer democrático agrida a Nação com tamanha estultícia.
     Vou além. Nenhum governo que se quer digno manteria no cargo tantos acusados de atos ilícitos, como ocorre nessa nossa infelicitada República.

Ameaça ao Supremo

     Há um lamentável e temido odor de acordo espúrio, arranjo por baixo dos panos, pagamento de apoio e troca de favores rondando a mais notória decisão do Supremo Tribunal Federal. Não chega a ser um fedor ostensivo, inebriante. Mas já começa a incomodar. Eu, pelo menos, já começo a sentir um certo desconforto com a possibilidade, real, de os quadrilheiros petistas condenados no caso do Mensalão do Governo Lula escaparem da prisão. Isso, sem falar na redução das penas dos demais bandoleiros.
     Dois fatos relevantes, que se entrelaçam inexoravelmente, são as maiores indicações de que algo pode estar vindo por aí, em breve. E não deve demorar muito, para que seus efeitos não causem reflexos nas próximas eleições. O mais contundente sinal veio, sem dúvida, das declarações do novo ministro do STF, o carioca Luís Roberto Barroso, indicado recentemente pela presidente Dilma Rousseff e que acaba de ter seu nome aprovado na Comissão de Constituição e Justiça do Senado por 26 votos a um.
     Embora ainda não tenha chegado, de fato, à Corte, o novo ministro deixou claro que o Supremo, na sua ótica, extrapolou no julgamento da quadrilha que assaltou os cofres públicos, com a bênçãos do governo da época. Uma de suas declarações, transcrita por O Globo, é emblemática: "Mas endureceu (referindo-se ao STF) no caso do mensalão. O mensalão foi um ponto fora da curva. Não houve um endurecimento geral (em julgamentos parecidos), mas naquele caso específico".
     Pois é. Pelo visto, nosso novo ministro acha que a ridícula pena de cerca de 11 anos de cadeia para o ex-ministro José Dirceu é exagerada. Talvez uma reprimenda - um leve 'puxão de orelhas' - fosse mais indicada. Seguindo-se esse raciocínio, os mais de 40 anos impostos ao publicitário mineiro Marcos Valério teriam sido um escândalo.
     Não é, com certeza, o que a maioria decente do povo brasileiro pensa. O julgamento do Mensalão do ex-presidente Lula foi, não tenho dúvida, o fato mais marcante da recente história brasileira, repleta de pilantragens e pilantras. A atuação do atual presidente da Corte, Joaquim Barbosa, como relator do processo, foi e ainda é reverenciada. As considerações do novo ministro chegam a ser ofensivas. E 'batem' não com as declarações, mas com o recuo de Marcos Valério nas acusações ao ex-presidente Lula.

Por uma lastimável coincidência - há quem garanta que elas, as coincidências, não existem -, o novo ministro e operador do Mensalão protagonizam notícias favoráveis à companheirada. Tomara que eu esteja errado.

terça-feira, 4 de junho de 2013

'Marketada' infeliz

     Já sabemos - pelo menos eu não tenho dúvidas a respeito - que a voluptuosidade demagógica dessa gente que faz parte do Governo alcança patamares impensáveis em nações menos bananeiras. Mesmo assim, somos surpreendidos a todo momento com apostilas e assemelhados que agridem determinados valores, ou campanhas como a que festejou o Dia Internacional das Prostitutas.
     Não é uma questão de pudicícia, preconceito ou religiosidade. Simplesmente, não há justificativa para um órgão oficial, como o Ministério da Saúde, embarcar na exaltação de uma profissão que, sabemos, é de uma absoluta injustiça com as mulheres, no caso, quase sempre exploradas, maltratadas e relegadas à mera função de objetos à venda.
     A retirada do ar da campanha, que tinha direito a uma foto e à frase "Eu sou feliz sendo prostituta", apenas comprova a estupidez da iniciativa, claramente destinada a engrossar o 'perfil político' do atual ministro, Alexandre Padilha, na sua corrida para ser o candidato petista ao governo de São Paulo, nas eleições do ano que vem.
     A reação da sociedade foi tão grande que o candidato a candidato tratou de recuar, argumentando que a tal frase "não atendia ao foco da campanha", que seria a saúde dessas mulheres. Na verdade, segundo O Globo, o ministro teria dito que não atendia "o" foco. Seria demais exigir que ele seguisse determinadas normal cultas de linguagem.
     A bobagem foi tão grande que possibilitou até ao execrado deputado Marcos Feliciano (PSC-SP), o dublê de pastor e presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, cobrar explicações sobre a "famigerada campanha".
     Mais uma marketada infeliz de Padilha, que se soma à recente e devastada ideia de trazer seis mil médicos cubanos para atuar no interior do País, sem obrigá-los a comprovar a qualificação profissional.

segunda-feira, 3 de junho de 2013

De volta às cuecas

     Como andei às voltas como meu retorno às salas de aula, hoje, na Universidade Federal Rural, só agora tive tempo de me atualizar. Abri a página da Veja, que não li no fim de semana, e esbarrei na manchete recorrente: a turma do Palácio terá que explicar a descoberta de um enorme carregamento de dinheiro - muito dinheiro, mesmo!!! - nas meias e cuecas de um grupo ligado historicamente ao PT e a seus dirigentes.
     Pelo que se pode depreender, eles não se emendam. É verdade que a 'cuecada' de anos atrás (2005)ficou no esquecimento. Ninguém mais lembra que um assessor de um deputado do PT, José Guimarães, irmão do atual deputado José Genoíno, foi preso com uma montanha de dólares na cueca. Guimarães foi 'inocentado' recentemente e, como compensação, ganhou o cargo de líder de sua bancada.
     É o escândalo da semana. Mais um, na interminável lista inaugurada há dez anos e cinco meses. Como nas vezes anteriores, o 'eu não sabia' deve retornar com força. Assim como os desmentidos categóricos, inflamados. Foi assim, também, na vigarice perpetrada pelos 'aloprados' que pagaram por dossiês falsos de oposicionistas; no inacreditável Mensalão do Governo Lula; nos escândalos em sequência registrados em ministérios, departamentos e quetais dos governos atual e passado.
     Afinal, vale tudo para manter o poder.

domingo, 2 de junho de 2013

Minha frase da semana

     "Está na hora de o mundo civilizado politicamente dar um cala-boca nesse sujeito homofóbico e ignorante que preside a Venezuela. Infelizmente, não é o caso do Brasil".

     Extraída do texto 'Cala a boca, Maduro!', de 31 de maio, sexta-feira.

sábado, 1 de junho de 2013

Pela prevalência do Direito

     Já estou preparando meu kit invasão para tomar posse de um lote à beira-mar (na verdade, na beira da Lagoa Rodrigo de Freitas) plantado. Dizem as boas línguas que ali existia um quilombo, expropriado por brancos 'neoliberais' e transformado, século e meio depois, em uma das regiões mais exclusivas do país. Já vasculhei baús de fotos e certidões, onde encontrei as evidências irrefutáveis da minha ancestralidade africana, da qual me orgulho, com absoluta sinceridade.
     Se o projeto carioca não der certo, já combinei com minha mulher que vamos ocupar um pedaço de mar, de preferência ali pelas bandas do norte do Espírito Santo, sul da Bahia. Ela também já reservou as provas de sua descendência dos indígenas que eram os donos desse Brasil varonil. Sua bisavó paterna nasceu em uma aldeia tupiniquim.
     A escravidão de meus ancestrais maternos e a expropriação de terras capixabas aconteceram há duzentos anos e - é evidente - jamais serviriam de base para qualquer reivindicação . Mas é mais ou menos isso o que vem ocorrendo por esse país, em maior ou menor escala. Até 1500, Pindorama inteira pertencia aos que aqui viviam. Do Oiapoque ao Chuí. Tudo o que mais aconteceu é fruto da ocupação, que - entretanto - gerou direitos reconhecidos pelo Estado Brasileiro.
     Não há dúvida - espero! - que eu jamais contestaria a luta de quem quer que fosse violentado, especialmente de grupos historicamente perseguidos. Mas, nos casos recentes (invasões de Belo Monte e de fazendas em Mato Grosso do Sul), há uma clara manipulação
dos fatos e uma satanização equivocada de uma das partes.
     Não é razoável que grupos, sejam eles indígenas, negros ou brancos pobres, queiram reescrever a história com tacapes e bordunas. A Lei deve prevalecer sempre, independentemente das partes em litígio. O descumprimento de decisões judiciais atenta contra a Nação. Em uma democracia, como a que vivemos, as reivindicações devem seguir o caminho da legalidade, jamais o da intolerância, da violência.
     O fazendeiro honesto, que comprou as terras e recebeu a escritura legal do Estado, não pode ser tratado a sarrafadas. Se as reivindicações são justas - e já há critérios específicos e bem claros para decidir -, terão acolhida nos Tribunais, certamente. Duvidar disso é admitir que nossa sociedade está plantada sobre bases podres, o que não é definitivamente o caso.

     PS: É claro que usei uma linguagem ilustrada, mas baseada em fatos. Uma de minhas bisavós era, de fato, negra, assim como uma das bisavós de minha mulher era indígena. No caminho delas duas apareceram portugueses. E a história começou a ser recontada.