sexta-feira, 31 de agosto de 2012

O mundo da fantasia

     Esse ministro da Fazenda, Guido Mantega, é a cara dos governos dessa inacreditável Era Lula, pontuada pelos maiores escândalos da história do país. Como se vivesse em outro mundo, apareceu hoje, em todas as tevês, para falar do que chamou de tendência a crescimento da nossa economia, ou algo parecido. Isso, quando o mundo inteiro ficou sabendo que tivemos, fácil, o pior crescimento de todos os países emergentes, ridículo 0,4% no segundo trimestre, fazendo com as previsões sobre o comportamento do PIB caíssem ainda mais.
     Todos os analistas econômicos, com um mínimo de responsabilidade, acreditam em algo entre 1,5 e 1,8%, um resultado pavoroso, especialmente quando sabemos que o Governo esgotou seu arsenal de medidas bombásticas. Para nossa sorte, contamos com um setor agropecuário de primeiro mundo, o principal responsável pelo que ainda há de bom na nossa economia.
     Esse mesmo setor que é atacado a pontapés pela companheirada, acusado de todos os males, vilependiado, refém de bandoleiros do MST e de siglas semelhantes, braços armados do esquema de poder no campo. Os resultados deploráveis são o resultado da absoluta falta de projetos reais desse Era, que nadou de costas na onda do crescimento chinês e deixou as oportunidades passarem ao largo. Não havia e não há um planejamento a médio e longo prazos. As medidas são tomadas de improviso, pensando em sobreviver no mês seguinte, pensando na próxima eleição.
     Perdemos competitividade não apenas em função da invasão mundial provocada pela China, mas também pelo absurdo 'custo Brasil'. Não há estradas decentes, investimentos em portos e aeroportos e a voracidade governamental (impostos), para movimentar a enorme e ineficaz e aparelhada máquina estatal, excede qualquer parâmetro de decência.
     E Guido Mantega vai para a frente das câmeras falar em um futuro promissor.

Em respeito à "última flor do Lácio"

     É claro que já protagonizei muitos erros ao longo de todas essas décadas lidando com as palavras. Errar faz parte do exercício diário do jornalismo. Quer pela urgência; quer pelo eventual desconhecimento. De quando em vez dou uma passada pelos textos que venho publicando aqui no Blog e esbarro com uma troca de letras, com a omissão de uma sílaba, com uma concordância talvez arrevesada (em raras ocasiões, digo sem falsa modéstia).
     Custo a me perdoar os erros, a falta de habilidade ao passar os textos do word para o Blog. Não me importo quando as falhas são observadas. Cada erro apontado - aprendi com o tempo - ramente se repete, o que é algo saudável. Sendo assim, acredito que nossa presidente da República não ficaria aborrecida se nossos observadores jornais e emissoras de tevê a alertassem para um 'detalhe' do bilhete que escreveu para duas de suas auxiliares mais diretas, questionando-as.
     Ela ficaria sabendo, então, por que não deveria ter escrito, juntas, palavras que deveriam estar separadas. Por quê? Porque não fica bem, para um presidente em especial, ignorar a gramática. A língua portuguesa - "última flor do Lácio, inculta e bela" - sofreu muito na boca do ex-presidente Lula e de seus correligionários em geral. Merece um descanso, ser mais bem cuidada, amada, já pregava Olavo Bilac.
 

PT continua absolvendo João Paulo e afins

     As manifestações de apoio ao ainda deputado federal João Paulo Cunha, formais e informais, não deixam dúvidas quanto à vigarice político-ideológica que sempre imperou no Partido dos Trabalhadores. Grupos de vândalos atacaram jornalistas que tentavam registrar sua saída de encontros em Osasco, cidade paulista que se livrou da ameaça de tê-lo como prefeito, e entoaram cânticos de louvor ao ex-presidnte da Câmara, formalmente considerado corrupto.
     Essa é a essência da indigência mental da companheirada. Para essa gente, os ladrões que assaltaram os cofres públicos merecem todo o apoio. Ignoram as leis do País, mentem, ameaçam, agridem, tentando impor seus 'pensamentos ' também pela força. Desmoralizado pela Supremo Tribunal Federal, o PT - sim, o PT, não apenas um corruptozinho que mandou a mulher sacar uma bolada em um caixa de banco - reedita seus piores momentos.
     E a condenação de João Paulo Cunha foi apenas a primeira de uma possível série. O STF, pela maioria absoluta de seus integrantes, mostrou que está convencido de que houve, sim, o assalto institucional aos cofres públicos denunciado pela Procuradoria Geral da República. A fantasia de uma simplório e quase inocente (na visão deturpada que prevalece entre os detentores do Poder) Caixa 2 foi rasgada.
     Ontem, ao iniciar a segunda parte de suas denúncias, o ministro Joaquim Barbosa demonstrou o que o país decente sempre soube, que os tais 'empréstimos' que o Banco Rural teria feito ao PT nada mais foram do que uma grande vigarice, um golpe. Nunca houve, de fato, um empréstimo. Era apenas desvio de dinheiro público, através de esquemas montados no Palácio do Planalto, intermediado pela turma coordenada pelo publicitário Marcos Valério.
     Mas a turma não está preocupada com a ladroagem, com a canalhice. A única preocupação imediata é o resultado das próximas eleições, no quanto essas e as próximas condenações irão interferir no projeto de poder do PT, que passa por ocupar as principais prefeituras do país, por óbvio. E o pior: há 'analistas' apressados em mostrar que o Mensalão já fez o estrago que poderia fazer, que não vai interferir no futuro petista, que é um fato passado, quando, na verdade, está cada vez mais presente na vida nacional.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

O Mensalão foi a pique


     O voto do presidente do Supremo Tribunal Federal, Ayres Britto, proferido ontem, deve ter afogado de vez as esperanças do PT de sobreviver ao maior escândalo da nossa história recente. Além de concordar integralmente com o ministro Joaquim Barbosa, relator do processo desse deplorável episódio do Mensalão do Governo Lula, Britto ressaltou o trabalho do Ministério Público, que teria - segundo ele – conseguido provar todos os delitos, em síntese, o tal “assalto aos cofres públicos”, protagonizado pela quadrilha chefiada pelo ex-ministro da Casa Civil José Dirceu.
     Não houve meio termo. O inatacável e independente presidente do STF corroborou todas as acusações, vislumbrou a associação para cometimento de crimes, o desvio de recursos públicos, a mais asquerosa corrupção. Tudo o que vem sendo negado pelo PT e pela companheirada, incluídos aí os donos dos teclados de aluguel, defensores perpétuos dos atos indignos cometidos ao longo desses nove anos e meio de desgoverno moral. Não há mais espaço para negações, bravatas, vigarices retóricas.
     O resultado da votação dessa primeira fatia do julgamento (crimes do ‘pacote publicitário’) foi emblemático. A maioria absolutíssima dos ministros da nossa mais alta Corte de Justiça repudiou a indignidade. Pelo que se deduz, será muito difícil que essa primeira turma escape da cadeia. Na melhor das hipóteses, todos deverão ser obrigados a dormir em suas celas. É um alento para o Brasil.
     A lamentar, a vergonhosa atuação dos ministros Ricardo Lewandowski (uma inacreditável ‘indicação pessoal’ da ex-primeira-dama, Dona Marisa Letícia) e Antônio Dias Toffoli, da cota pessoal de José Dirceu, a quem serviu com fidelidade canina ao longo de muitos anos. A cada voto condenatório, mais os dois se apequenavam. Lewandowski ainda teve alguns esgares. Toffoli,o ex-advogado do PT, desapareceu, sufocado pelo indisfarçável desprezo jurídico da maioria de seus pares.

O Mensalão nu e cru

     A extrema incompetência da operadora Oi, que novamente me deixou sem telefone e Velox, ontem, impediu que eu comemorasse o resultado quase final dessa primeira fase do julgamento do episódio que ficou conhecido como mensalão do Governo Lula. Os votos dos ministros Celso de Mello, Cézar Peluso e Gilmar Mendes devastaram a teroria canalha de que o maior assalto institucional aos cofres públicos foi, 'apenas', um simplório 'caixa 2', aquele crimezinho vagabundo que a companheirada petista já assumira, por absoluta conveniência.
     Por 8 a 2 (ainda não sabemos como votará o presidente do Supremo, Ayres Brito), o ex-presidente ds Câmara, o ainda deputado federal João Paulo Cunha já foi condenado a, no mínimo, prisão semiaberta, prevalecendo a recomendação do quase aposentado Peluso (seis anos de cadeia). Os demais quadrilheiros dessa 'fatia publicitária e bancária' - Marcos Valério em especial - vão pagar ainda mais caro, pois há unanimidade quando aos seus delitos e diversidade de crimes. É cadeia para mais de 10 anos.
     E o que é melhor, ainda: o julgamento mostra uma tendência, prometendo atingir, com o mesmo rigor, a turma da operação 'política' do roubo, destaque para o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu. Li, há alguns dias, não lembro bem onde, que Dirceu, Genoíno e afins já deveriam estar procurando o caminho mais curto para alguma embaixada amiga. Tomo a liberdade de sugerir a missão do Equador. Seria uma oportunidade de, mais tarde, se juntarem a Julian Assange em uma mesa de pôquer.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Um contraponto à estupidez nos estádios

     Um antigo companheiro de redações, José Sérgio Rocha, botafoguense apaixonado, imaginou um belíssimo contraponto à estupidez das chamadas torcidas organizadas: o 'Samba do Bellini', uma reunião de torcedores de todos os times (na segunda quinzena de setembro) - devidamente uniformizados, de preferência -, em uma das entradas do Maracanã, em torno de boa música e do repúdio à violência. Já é um sucesso.
     A repercussão da iniciativa mostra que há um clamor generalizado, entre os verdadeiros apaixonados por futebol, pela harmonia nos estádios. Não é concebível - e já tratei desse tema algumas vezes, no passado e recentemente - que bandos de marginais transformem o saudável lazer de um domingo de futebol em um risco à integridade física, como nos últimos acontecimentos aqui no Rio.
     O torcedor deve exigir o direito de ir ao estádio sem medo. Deve cobrar, sim, que nossas autoridades sejam implacáveis. Não podemos aceitar, de maneira alguma, que vândalos travestidos de torcedores marchem para os campos escoltados pela Polícia, perpetuando a imbecilidade. O reconhecimento dessas tropas de assalto, por si só, já é uma admissão de incompetência, de tolerância indevida.
     Lamento, hoje, que a prevalência do ódio, acima da rivalidade, seja um subproduto, também, da irresponsabilidade de veículos de divulgação, num passado não muito distante. Houve um acirramento das paixões, com o objetivo de aumentar vendas e audiências. Brincadeiras entre amigos foram transformadas em diferenças irreconciliáveis. A estupidez - que aflora até mesmo em grupos teoricamente bem informados e formados, como se pode verificvar nas redes sociais - encontrou um campo fértil para se desenvolver.
     Talvez o 'Samba do Bellini' ajude a virar essa página.

Justiça não pode ter 'afilhados', muito menos 'filiados'

     A imensa disparidade entre o reconhecido saber da maior parte dos integrantes do Supremo Tribunal Federal e um de seus membros, em especial, o ministro José Antônio Dias Toffoli, é algo constrangedor e exibe o que é, ao meu ver, um componente deletério na formação da nossa mais alta corte de justiça: seu uso político-partidário.
     Não há outra explicação para a indicação, pela presidente Dilma Rousseff, de Toffoli, um advogado sem a menor expressão, reprovado em dois concursos para juiz, que construiu a 'carreira' defendendo o Partido dos Trabalhadores e assessorando seus líderes, como o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu.
     Com esse currículo simplório e limitado, Toffoli chegou ao STF envolvido por desconfiança e descrédito. Ouso dizer que ninguém imaginou, por um momento sequer, que sua indicação era fruto do mérito, de qualificação, de notório saber jurídico. Seu passado, como se fosse um filme, o condenava.
      Visivelmente acuado, sabendo-se alvo de todas as atenções, votou, ontem, pela absolvição não apenas e tão-somente de João Paulo Cunha, mas do seu PT, do PT dos seus líderes, dos seus gurus, dos seus não tão antigos patrões. Um voto anunciado pela sua história, pela sua subserviência ideológica. Um voto tão fragilizado que foi alvejado pela leve ironia do presidente da Corte, Ayres Brito, através de diversas intervenções para esclarecimentos, e pelas exposições realizadas pelos ministros Luiz Fux e Carmem Lúcia.
     Foi um atuação lamentável, que necessitou se agarrar ao revisor do processo, Ricardo Lewandowski, outro personagem que está saindo muito diminuído desse processo, alimentando as críticas sobre sua extrema ligação famíliar com o ex-presidente Lula.
     Talvez fosse o momento de o Tribunal se repensar. Seria inviável, pelas características que envolvem a Corte, fugir de indicações. Mas que elas surjam a partir de outros componentes, de uma eventual lista quíntupla, fruto do pensamento de diversas entidades, incluindo, aí, outras instâncias da própria Justiça. Seria, principalmente, um meio de preservar os magistrados. E evitaria a repetição de algo tão lamentável quando a 'nomeação' do ministro Dias Toffoli para defender quadrilheiros aos quais serviu.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Ministra cala defensores do deputado

     O ministro de confiança do PT, José Antonio Dias Toffoli (um magistrado supremo que sequer foi juiz) cumpriu sua tarefa, como bom obreiro que sempre foi. Livrou o companheiro deputado e amigo João Paulo Cunha e condenou os demais quadrilheiros, em constrangedora parceria com o revisor Ricardo Lewandowski (chegaram a trocar - ou ameaçaram trocar - uma papelada comum), sintomaticamente sentado ao lado do revisor. Em compensação.
     Foi um enorme prazer ouvir o voto da ministra Carmem Lúcia, o último do dia, destruindo os argumentos da defesa e os votos de Lewandowski e Toffoli. Sóbria, elegante, usando linguagem compreensível por todos, restabeleceu a dignidade do julgamento, sem dar margens a que alguém retrucasse: 4 a 2 pela condenação do primeiro bloco de quadrilheiros (os demais votos a favor da condenação foram proferidos pelos ministros Rosa Weber e Luiz Fux, além de Joaquim Barbosa).
     Como se fosse possível - e a ministra deixou isso bem claro - inocentar o ex-presidente da Câmara e atual candidato a prefeito de Osasco e condenar os demais em crimes absolutamente correlatos, que envolveram dinheiro público. São elos de uma mesma corrente desprezível, que se supunha acima da Lei.
     Ainda faltam cinco votos, é verdade. Mas tudo leva a crer que o primeiro personagem de destaque do bando petista vai ser condenado, sim. As intervenções de Gilmar Mendes e do próprio presidente da Corte, Ayres Brito (decisivo, num eventual empate), apontam para o cadafalso. Um cadafalso que, por lógica, deverá engolir, mais tarde, José Dirceu e José Genoíno, entre outros.
     E não podemos esquecer que Marcos Valério - uma unanimidade!!! - ainda não se decidiu a contar o que sabe, como andou anunciando. Sem falar no ex-dirigente do banco do Brasil, Henrique Pizzolato, outra figurinha carimbada em todas as condenações. A proximidade da cadeia tem tudo para provocar uma tormenta ainda maior.

Presidente foge dos 'companheiros trabalhadores'

     A presidente Dilma Rousseff, uma das mais lídimas representante do PT, quem diria, precisou viajar às escondidas, para o Rio, com medo de manifestação de funcionários públicos. Chegou na moita, sem aviso prévio, e ainda assim foi preciso o Batalhão de Choque da Polícia Militar ocupar as cercanias do Teatro Municipal, na Cinelândia, Centro - onde ela participou de uma solenidade de premiação de estudantes -, para livrá-la - quem sabe? - de uma tomatada, ou de uma ovada. Das vaias, com certeza, ela não escaparia.
     É o exemplo mais acabado de um estilingue virando vidraça. O PT passou a vida pré-poder insuflando, aterrorizando, agredindo. Construiu seu perfil na base dos pontapés, pedradas e dossiês falsos. Está, apenas, provando do próprio veneno, sem direito a reclamação. Seria um absurdo, convenhamos, se a companheirada não aceitasse o direito às manifestações, principalmente quando vindas de trabalhadores.
     O noticiário sobre o incidente envolvendo manifestantes e a segurança da presidente refere-se 'apenas' a tumultos no trânsito. Dilma passou longe do turma. Já imaginaram a cena: um grupo de 'companheiros trabalhadores' xingando e empurrando a comitiva presidencial, logo em um ano eleitoral? Ou uma simplória bolinha de papel atingindo a cabecinha da presidente?
     Não, não sou a favor de atos estúpidos. Ao contrário. Jamais aceitei o uso de violência contra quem quer que seja, especialmente um presidente da República. Sempre repudiei a ignorância, o vandalismo. O direito à manifestação pressupõe respeito, pelo menos, à função, o que jamais existiu quando o PT era oposição. Nessa época, valia tudo, sob os olhares cínicos e sorrisinhos complacentes e estimulantes da turma. E se a polícia cumprisse a obrigação, afastando os manifestantes, a vigarice chegava ao limite, com a exposição dos agredidos pelas armas neoliberais.
    
 

Estuprando a verdade

     Menos tímidas e envergonhadas do que se poderia esperar, continuam a surgir, aqui e ali, algumas manifestações de apoio a Julian Assange, o fundador do site WikiLeaks, que continua sob a proteção da embaixada do Equador em Londres, para evitar a extradição para a Suécia, onde é acusado de estupro. Eu até entendo que o presidente equatoriano Rafael Correa use o caso para conquistar almas desavisadas, ao comprar a briga pelo direito de dar asilo ao seu hóspede londrino.
     Afinal, o prestígio de Correa no mundo dos que conseguem raciocinar um pouco além das cartilhas produzidas pelo Ministério da Educação andava muito baixo. O aprendiz de ditador populista perseguiu e processou jornalistas e tentou fechar jornais e emissoras que ousaram denunciar suas boçalidades, no estilo do seu ídolo, o bufão venezuelano Hugo Chávez. Para ele, imprensa boa é a que aplaude todos os seus atos, por mais indignos. Algo semelhante ao que ocorre na Coréia do Norte e Cuba, por exemplo, onde não há liberdade alguma. A turma adora o 'conteúdo' do Granma, aquele jornal que só serve, mesmo, para atender às necessidades higiênicas dos cubanos, compensando a falta crônica de papel higiênico.
     Mas fico assustado, verdadeiramente, ao ler defesas emocionais de Julian Assange, sob o argumento de que sua prisão seria um atentado à liberdade de imprensa, uma tese que não se sustenta. Assange não está sob ameaça de prisão por ser um defensor da informação, da liberdade de impresa, por ter divulgado notícias secretas do governo americano. Isso é uma empulhação.
     A Suécia quer levá-lo a julgamento por estupro. Simples assim. Guardadas as proporções, é o caso do jornalista paulista Antônio Pimenta Neves, que matou a namorada. Sua história no jornalismo não tem a menor importância, nem pode ser colocada na balança. Assange não matou, mas estuprou, crime indefensável e que também merece ser punido com o mais absoluto rigor.
     Esse tipo de estelionato ideológico é preocupante, especialmente porque tem raízes profundas por essas bandas. São raríssimas as vozes que se levantam contra as arbitrariedades cometidas pelos governos companheiros, como os do Rafael Correa, Hugo Chávez, Evo Morales e Cristina Kirchner, para ficarmos apenas com nossos mais lamentáveis vizinhos de continente.
     Prevalece entre nós, embora na segunda década do século 21, o ranço dos anos 1960 e 1970. O discurso fácil para encantar companheiros de botequim. Julian Assange, meus caros, não está sendo procurado pela Justiça sueca por ter denunciado pilantragens americanas e afins. Ele é acusado de estupro. Cadeia nele!

domingo, 26 de agosto de 2012

Lula, para americano ler

     Sem constrangimento algum, como de hábito, o ex-presidente Lula voltou a afirmar - dessa vez em entrevista ao jornal New York Times - que o Mensalão de seu governo não existiu. Na verdade, ele teria dito que não "acreditava" que o maior escândalo da nossa história recente tivesse ocorrido. Mas, daquela forma entronizada na nossa política pela companheirada, saiu-se com essa pérola do diversionismo: "Se houver algum culpado, deve ser punido; e se alguém for inocente deve ser absolvido".
     Confesso que não tenho estômago para esse tipo de declaração tão vigarista, vazia e que tende a tachar de idiotas a todos os que eventualmente tomam conhecimento dela. Mas Lula é assim, sempre foi. Diz essas idiotices naturalmente, como se estivesse em uma reunião de sindicalistas ligados à CUT, com a expressão séria, cenho franzido. E as pessoas ouvem, calam e relevam, pois ele é filho de uma mulher que nasceu analfabeta.
     Disse outras coisas. Que não será candidato em 2014 e que vai lutar pela reeleição de Dilma Rousseff, por exemplo. Mas em nenhum momento nos últimos tempos tem condenado, de fato, as insistentes declarações de apoio à sua candidatura, surgidas entre seus acólitos.
     Como já torceu calorosamente, no passado, para que houvesse uma crise na nossa economia que provocasse uma crise grave no emprego, beneficiando sua candidatura, não seria difícil que, no íntimo e com o apoio do grupo de pelegos que ajudou a alimentar, estivesse na expectativa de um desastre no atual governo, para surgir como a solução, o enviado dos céus.
     Suas constantes interferências e manobras nos bastidores do Poder me autorizam a especular. Lula é isso. Mesmo depois de ter ocupado a Presidência por oito anos, continua o mesmo dirigente de sindicato que cantava as viúvas dos 'companheiros metalúrgicos' que procuravam apoio nos momentos de dor e refestelava-se com uísque escocês nos 'duros' embates com a cúpula patronal nos velhos tempos do ABC.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

A gargalhada dos advogados e a dança da 'pizza'

     A foto da primeira página de hoje de O Globo é o equivalente atual à vergonhosa e indigna dança protagonizada pela ex-deputada paulista Angela Guadagnin, do PT, é claro, ao comemorar, há cinco anos, a absolvição de seu companheiro João Magno, de Minas, das acusações por ter recebido dinheiro proveniente do assalto aos cofres públicos protagonizado pela companheirada, no episódio que ficou conhecido como Mensalão do Governo Lula.
     O grupo de advogados dos quadrilheiros, às gargalhadas, com evidente expressão de deboche, retrata bem a reação da turma toda (incluindo, aí, os que vendem a alma e o teclado) à decisão do ministro Ricardo Lewandowski, que absolveu o deputado federal João Paulo Cunha, aquele cuja mulher foi flagrada recebendo R$ 50 mil diretamente em um caixa do Banco Rural, em Brasília.
     O deboche, a desfaçatez e o desprezo pela opinião pública têm sido algumas das principais marcas dessa Era Lula. Quando vejo o ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos - o mais bem pago advogado de porta de xadrez do Brasil - comemorando uma decisão claramente deturpada, lembro na mesma hora de outro epidósio no estilo petista de ser: a comemoração asquerosa do ministro Marco Aurélio Garcia, ao saber que a morte de 200 pessoas, no acidente com um avião da TAM, em São Paulo, fora provocada por um conjunto de erros, e não apenas pela incúria governista.
     Naquele momento, não importava se o país ainda estava atordoado pela tragédia. A essa gente, só uma coisa importa: a preservação do esquema de poder. Esse é o comportamento histórico do PT. Não preciso exigir muito da memória para relembrar outra comemoração, essa, protagonizada pelo candidato Lula, feliz da vida com uma episódica retração do mercado de trabalho. Para ele, o desemprego dos 'companheiros trabalhadores' vinha a calhar, na sua onde de ataques ao governo.
     Já no Poder, com o cinismo que caracteriza esses nove anos de meio, os arautos do Governo acusam constantemente a oposição de torcer contra o país, justamente o que sempre fizeram.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Só o petista é inocente ...

     O deputado federal do PT paulista e candidato à prefeitura de Osasco, João Paulo Cunha, não cometeu crime algum, segundo o ministro Ricardo Lewandowski, revisor do processo do mensalão do Governo Lula, ao contrário do que pensam o ministro Joaquim Barbosa, que votou pela condenação do ex-presidente da Câmara, e o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, que o enquadrou em vários delitos.
     O revisor teve seus motivos - e os explanou. Para ele, o deputado é inocente de tudo, até mesmo de ter mandado sua mulher ir a um caixa do Banco Rural e receber R$ 50 mil em dinheiro vivo, notas estalando de novas. Seria, no entendimento de Lewandowski, um dinheiro para pagar uma dívida, como teria ficado comprovado. Mas - até prova em contrário - o dinheiro era roubado e o digníssimo petista mentiu várias vezes, na ocasião, tentando explicar o inexplicável.
     Será que o revisor não viu e/ou ouviu as mentiras do deputado? Será que ele ignorou a versão estapafúrdia da ida ao banco para pagar uma conta da tevê por assinatura?
     O ministro Joaquim Barbosa já anunciou a disposição de discutir as justificativas do voto do rervisor. Não poderia ser diferente. Ao absolver João Paulo Cunha, Lewandowski está contestando a qualidade do trabalho feito pelo relator, colocando dúvidas sobre sua exatidão. Promessa de uma batalha bem interessante.
     Além do mais, prevalece uma situação constrangedora: o relator e o procurador enquadram vários personagens da mesma trama, mas apenas um deles é absolvido pelo revisor, justamente aquele ligado umbilicalmente ao PT, ao partido do Governo. Tão constrangedora que pode, eventualmente provocar embaraços ainda maiores para o Partido dos Trabalhadores. Certamente a turma condenada vai reclamar.
     Já há algum tempo nossos jornais e revistas vêm publicando notícias sobre o descontentamente do publicitário Marcos Valério, em especial, que teria ficado com todo o prejuízo financeiro decorrente da divulgação do escândalo. Imaginemos agora, quando ele se vê muito perto da cadeia? Sem dinheiro e no xadrez? Acho que muita sujeira ainda vai rolar. E torço para que isso aconteça.

Ministro gasta sua cota de bobagens

     A notícia, à primeira vista, parece boa, mas induz a erro. Segundo o ministro da Educação (???), Aloísio Mercadante, a presidente Dilma Rousseff vai vetar um trecho da lei que cria o sistema de cotas raciais e sociais para acesso em todas as universidades federais, com base no coeficiente de rendimento (CR) dos alunos durante o ensino médio. Vai prevalecer, segundo o ministro, o resultado do Enem, e não o CR.
     Na essência, não há mudança. Continuarão valendo os absurdos critérios político-ideológicos que marcam a política de cotas brasileira e que condenam o ensino superior público a um futuro semelhante ao que afundou os níveis fundamental e médio geridos pelas diversos patamares de governo.
     O próprio ministro, com a habitual falta de clareza e contorcionismo retórico da companheirada, reconhece que há uma inversão de valores. Em entrevista ao Estadão, Mercadante diz que as universidades serão obrigadas a se preparar para receber esse novo perfil de aluno, que "podem enfrentar dificulades para acompanhar o ensino nessa nova etapa". Podem? É claro que todos terão enormes dificuldades.
     A vigarice não tem limites. Segundo o ministro, com aquela fluência verbal que caracteriza essa Era Lula, "onde houve necessidade de um nivelamento, vai ter que fazer um nivelamento, vai ter que ter um período para os alunos se adaptarem, inclusive nas férias". Resumindo essa pérola: as universidades terão que abrir um cursinho para qualificar seus novos alunos, uma espécie de quarto ano do curso médio.
     E a imbecilidade retórica não acaba aí. Mercadante - aquele que virou mestre defendendo as medidas políticas do Governo Lula - não teve vergonha de soltar mais esse monumento à pilantragem intelecutual: "Assim que este aluno for aprovado, ainda nas férias, ele já teria de estar estudando, para poder chegar na universidade em melhores condições, onde isso for exigido".
     É isso mesmo: o cotista despreparado - por culpa de um sistema de ensino falido -, mas já aprovado, deve começar a estudar ainda nas férias, dois meses antes de começarem as aulas. Esse - digamos - 'intensivão', a prevalecer o raciocínio (?) oficial, capacitaria o jovem e substituiria os 12 ou 13 anos de má-formação, abandono, desleixo do estado.
     Talvez alertado por alguém menos contaminado pela idiotia que toma conta do Ministério, Mercadante admitiu que é preciso melhorar o ensino médio e que já existe um grupo de trabalho incumbido de um projeto para valorizar o ensino médio, "inclusive o redesenho do currículo", seja lá o que isso for.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Cadeia para eles!!!

     Dois a zero para a decência. O ex-diretor do Banco do Brasil, Henrique Pizzolato, não conseguiu convencer os ministros relator e revisor do processo do Mensalão do Governo Lula, Joaquim Barbosa e Ricardo Lewandowski, respectivamente, de que estava fazendo um mero "favor" ao PT ao receber a apreciável soma de R$ 326 mil. Segundo ele, o dinheiro se destinava a um integrante do partido oficial. Como se isso absolvesse alguém do envolvimento na ladroeira.
     Ficou claro, para os dois primeiros ministros a darem seus votos, que Pizzolato estava recebendo uma bela comissão pela liberação de uma fábula (mais de R$ 70 milhões) do Fundo Visanet para as empresas do publicitário Marcos Valério, encarregado de distribuir o dinheiro entre a companheirada e os apaniguados do Governo, através do Banco Rural e do BMG. A essa altura, o ex-diretor de Marketing do BB já deve estar sonhando com a cadeia.
     E se ele, que liberou a dinheirama, é culpado de um par de crimes, os beneficiados pelo esquema também são. Não há meio termo. Se o dinheiro era roubado, todos os que dele se beneficiaram fazem parte do mesmo bando, a tal quadrilha chefiada pelo ex-ministro José Dirceu e apontada pela Procuradoria-Geral da República como responsável por um dos maiores atentados à democracia brasileira.
     A coincidência de opiniões entre o relator e o revisor do processo, que andaram se estranhando ao vivo e cores, deve ter acendido todos os sinais vermelhos e acionado todos os apitos entre os réus. Se dois juízes que divergiam na forma convergem no conteúdo, imaginemos os demais - à exceção, agora não tenho mais dúvida, de José Antônio Dias Toffoli, que continua defendendo seu ex-chefe José Dirceu, como fazia nos seus tempos de advogado do PT.
     A balança, vê-se, começa a pender para o lado da dignidade, do resgate de princípios básicos. Já começo a sonhar com as imagens de alguns próceres dessa Era Lula algemados e entrando no camburão que os levará para as celas de um presídio, por um bom par de anos.

Um ministro leviano

     Tinha, até hoje, respeito pelo cargo exercido pelo ministro José Antonio Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal. Em nenhum momento, até agora, imaginei que alguém que chega a um posto de tamanha magnitude - é um dos onze juízes da mais alta corte de Justiça do país - pudesse ser leviano a ponto de guiar seus julgamentos ou posições pela identificação pretérita com uma sigla política ou sua 'lealdade' a personagens da vida pública.
     Os fatos mais recentes - incluindo sua defesa exasperada do ex-chefe José Dirceu, em evento social em Brasília, como publicado hoje em O Globo - mudaram minha opinião. Sua Excelência não está à altura do cargo, da liturgia que o envolve, da dignidade pessoal que é exigida de alguém que, em síntese, é a última instância do direito.
     O fato de ter sido indicado pelo esquema de poder que se instalou no país há nove anos de meio não pesava nas minhas considerações. Eu, por exemplo, tenho certeza absoluta que jamais seria transigente com um criminoso, independentemente de minhas relações pessoais. Portanto, seria natural que ele, apesar de ter montado toda a carreira servindo com denodo ao PT, mostrasse independência. Poderia, sim, votar pela absolvição dos quadrilheiros que assaltaram os cofres públicos, no episódio conhecido como Mensalão do Governo Lula, mas com base na convicção gerada pelos autos.
      Seu comportamento no tal episódio relatado hoje pelos jornais - xingou o jornalista Ricardo Noblat, inconformado por ele ser duro em relação a José Dirceu, apontado pela Procuradoria Geral da Repúblico como chefe da quadriha -, no entanto, mostra que ele continua sendo um mero tiete do ex-ministro da Casa Civil, a quem assessorou inclusive durante o escândalo do Mensalão. Não tem estatura moral para julgar seu ex-mentor.
     Com seu comportamento leviano, vagabundo e inadmissível num magistrado, Toffoli apenas corrobora as críticas que lhe são feitas desde sempre, fortalecendo a impressão de que só chegou ao STF graças ao servilismo que exibiu durante sua militância petista. Currículo todos nós sabemos que ele não tinha, pois sequer havia passado nos dois concursos que prestou para a magistratura.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

A propósito de alguém genial

     Nélson Rodrigues já era gênio há quarenta anos, quando parte da turma que atualmente - quando se comemora seu centenário de nascimento - o venera torcia o nariz às suas peças, livros e crônicas. O mínimo que se dizia dele é que era um reacionário, quando, na verdade, foi, desde sempre, um inovador, um provocador irônico, criativo, instigante e - qualidade imperdoável - agressivamente inteligente.
     Cobravam dele - e ninguém está me contando isso, pois vivi essa época, além de ter tido o prazer de ser contemporâneo de Nélson em O Globo, na década de 1970 - um engajamento político que não o caracterizava. Jamais lhe perdoaram os afagos ao regime militar, atribuídos à expectativa de que seu filho, o também jornalista Nelsinho, saísse incólume da prisão.
     A genialidade, que aflorava em um teoricamente simples texto sobre o futebol e seus personagens, destinados coluna À sombra das chuteiras imortai', no entanto, foi maior do que o radicalismo que repudiava suas imagens absolutamente únicas, como o 'padre de passeata' e a 'estudante da PUC de calcanhar sujo', referências a personagens absolutamente caricatos que ele exibia com um humor que transcendia a sua época.
     Lembro bem dos cumprimentos matinais que trocava com ele, ao chegar para cada novo dia de trabalho na redação ainda vazia de O Globo, a partir de junho de 1973 e por um bom período. Nélson escrevia sua crônica pela manhã, aboletado na Editoria de Esportes, que ficava - nessa época - quase em frente ao corredor de acesso à redação e era minha parada obrigatória para uma conversa com Henrique Lago, o Laguinho, filho de Mário Lago, antigo companheiro de caserna e que me ciceroneou pelo prédio, quando desembarquei na Rua Irineu Marinho 35, vindo de O Jornal.
     Mesmo já tendo uma produção intelectual de enorme consistência, Nélson amargava momentos de cobrança e preconceito, superadas exclusivamente graças ao seu gênio.

Governo dá apoio oficial a um mensaleiro

     Um texto sem muito destaque, que se limitou a fazer uma constatação, foi o que mais me chamou a atenção na edição de hoje de O Globo, pelo muito que encerra, pela mensagem óbvia. A ministra do Planejamento, Orçamento e Gestão, Míriam Belchior, formalizou seu apoio à candidatura do ainda deputado federal João Paulo Cunha (PT-SP) à prefeitura de Osasco. Não é uma ministra qualquer, daquelas que estão em Brasília para preencher cotas. Trata-se da mais importante do Governo Dilma, não tenho a menor dúvida. Uma lídima representante do esquema de poder. E ela está com João Paulo e não abre.
     Não é uma apenas uma manifestação pessoal, que já seria reveladora da visão desastrada que determinadas pessoas têm da roubalheira desembestada denunciada pela Procuradoria Geral da República e que vem sendo destrinchada pelo ministro Joaquim Barbosa, do Supremo Tribunal Federal. A ministra, ao gravar seu apoio formal a um dos integrantes mais lamentáveis do Mensalão, exibe, sem máscara, o que o Governo Dilma e a companheirada pensam do caso.
     Pelas circunstâncias, é mais do que um simples e singelo apoio a um correligionário de todos os momentos, um amigo de longa data. É um verdadeiro desagravo, a confirmação do desprezo que o núcleo do Poder tem pela dignidade no trato com os fatos públicos. De maneira ao mesmo tempo oblíqua e direta, o Governo manda um recado ao país e atende a exigências das alas mais insanas do PT, as que renegam os fatos e se alinham com criminosos.
     A presidente, como de hábito, finge estar alheia ao processo, como se ele não lhe dissesse respeito. É uma tática antiga que vem sendo usada à exaustão pelo PT, desde que assumiu o poder. Há sempre um menino de recado a postos para dizer o que a presidente quer, mas sem o ônus de assumir a responsabilidade por atitudes e pensamentos que vão de encontro às expectativas da população. Há sempre um gilberto carvalho e um marco aurélio garcia à disposição, para qualquer eventualidade.
     No caso dos quadrilheiros em julgamento, pelo envolvimento de nomes e fatos expressivos do universo petista, o grau de comprometimento vem crescendo, refletindo a exigência da cúpula partidária e do próprio Lula. E ainda não chegamos ao ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, o "chefe da quadrilha que assaltou os cofres públicos", de acordo com a Procuradoria. O homem que administrava a roubalheira, de um gabinete ao lado da sala do então presidente da República.
     A definição pelo ministro Joaquim Barbosa para relatar o processo foi, com certeza, a maior vitória do libelo contra a corrupção e o mau uso do poder político. Escolha pessoal do ex-presidente, Barbosa - por ser negro - inibe as críticas que a turma do poder e seus satélites têm sido obrigados a engolir publicamente, mas que despejam em particular, quase sempre com expressões que não deixam dúvidas quanto aos seus preconceitos.
     A ministra Miriam Belchior externou, com seu apoio a um réu condenado pelos seus atos e mentiras, não apenas uma solidariedade fora de hora, mas o repúdio à independência de um juiz do STF que ousou se afastar da cartilha petista.

Casaca, casaca !!!

     Hoje é um dias especial para a enorme legião de apaixonados pelo Clube de Regatas Vasco da Gama. Há 114 anos, um grupo de 62 jovens portugueses (em sua maioria) e brasileiros fundou o que se transformaria em uma legenda no esporte mundial, com conquistas inesquecíveis e heroicas. A principal delas, talvez, a derrubada do preconceito racial e social no futebol, em 1924, quando optou por ficar ao lado dos campeões de 1923, que os demais clubes - elitistas e racistas - tentavam excluir.
     Os nomes dos nossos primeiros herois não deixam dúvida quanto à origem: Nélson, Leitão e Mingote; Nicolino, Claudionor e Artur; Paschoal, Torterolli, Arlindo, Cecy e Negrito. E foi com eles que o então presidente José Augusto Prestes ficou. Em uma carta histórica dirigida à presidência da Associação da época, exibiu toda a sua indignação:
    
     "Estamos certos de que Vossa Excelência será o primeiro a reconhecer que seria um ato pouco digno de nossa parte sacrificar, ao desejo de filiar-se à Amea, alguns dos que lutaram para que tivéssemos, entre outras vitórias, a do Campeonato de Futebol da Cidade do Rio de Janeiro de 1923 (...) Nestes termos, sentimos ter de comunicar a Vossa Excelência que desistimos de fazer parte da AMEA".
     O Vasco - que já fora o primeiro clube a ser dirigido por um negro - inaugurava, ali, um novo momento também na afirmação da nacionalidade brasileira. Foi por esse Vasco que eu me apaixonei muito cedo e que me me levou a aprender a ler antes mesmo de entrar para a escola, nas páginas esportivas de O Globo. Eu queria saber mais do que as emoções que as fotos de Barbosa e Belini exibiam.
     Foi esse Vasco que encantou e ainda encanta milhões de brasileiros, como a escritora Rachel de Queiroz (1910/2003), nossa primeira acadêmica, que deixou para todos nós a crônica que divido com vocês hoje.

          Por que sou vascaína    
     Como é que eu sou vascaína? Não sei. Amor é assim: você vai atravessando a rua e de repente vê um cara e ele te olha, você olha para ele e pronto: apaixonou!
Comigo e o Vasco também foi assim. Mocinha, mocinha, desembarquei do meu lta, vindo do Ceará.
      Era sábado, no dia seguinte me levaram para assistir a um jogo. Vasco e Fluminense? Acho que sim. Meu tio, vascaíno, me explicou que o Vasco era uma das mais puras expressões do Rio - o português-carioca -, aqui nascido ou aclimado, nesta cidade que eles fundaram e que, já antes de D. João VI, amavam apaixonadamente. Foi um jogo difícil, mas o Vasco venceu. Terá sido aquela vitória suada que me conquistou? Ou a celebração, a gente num carro de capota arriada (ainda havia disso) atravessando a Avenida, cantando e soltando vivas ? Não posso explicar. Como já disse, não se explica: acontece.
      E desde aquele primeiro jogo, nunca mais deixei o Vasco. Em casa o marido era Fluminense - erro dele!
      E por mais que Zé Lins do Rego, o amigo fraterno, fizesse tudo para me arrastar ao Flamengo - até pela imprensa, no Jornal dos Esportes! Eu ficava inabalável. Edilberto Coutinho sabe disso e conta.
      Daí para cá, nestes longos anos, tivemos de tudo - vitórias, anos magros, campeonatos (o Expresso da Vitória) lembram? E quando a concentração era na Praia do Barão, na Ilha do Governador, nós morávamos lá, a gente se visitava. E nas vezes em que o time chegava, Ademir, Barbosa, os outros, era a glória do quarteirão!
      Lembro até um episódio dessa época - foi na década de 50? - os anais do clube dirão. A gente já ganhara o campeonato, mas teve um jogo de arremate; era com o Olaria, e lá fomos nós, sacramentar o título na tribuna de honra. Mas não sei se os nossos rapazes tinham comemorado demais na antecipação segura, sei que a nossa situação foi ficando incômoda: o Olaria estava um brilho só. Não é que o título perigasse, mas podia ser um vexame. E o mais aflito era o presidente do Olaria, o hospedeiro, suando no seu terno branco, constrangidíssimo. A sorte é que de repente mudou, e salvou-se a honra. Todos respiramos - mas o susto foi grande.
      Na noite de festa em que me deram a carteirinha de sócio honorário, escusei-me de fazer discurso, ao recebê-la, mas fiz uma promessa: "Juro que jamais a rasgarei em momentos de desespero !" A promessa foi cumprida; e ainda guardo a minha carteirinha, linda, entre os meus documentos mais preciosos.
      Viva o Vasco!
      Rachel de Queiroz



segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Licença para matar

     A Polícia Rodoviária Federal anuncia: nossas estradas e rodovias estarão liberadas, por tempo indeterminado, a todas as espécies de loucos ao volante, criminosos em potencial, irresponsáveis definitivos. Durante alguns dias - cinco, seis, trinta? -, não haverá radares escondidos atrás de moitas, operações ou algo semelhante. Poderemos, todos nós, matar e morrer livremente.
     É a síntese do absurdo que vem atingindo o país nos últimos meses. O grevismo exarcebado, as reivindicações abusivas, o desrespeito à hierarquia. Se patinamos no ano passado, em função da série de escândalos envolvendo a cúpula da República (sete ministros e uma penca de dirigentes de segundo escalão demitidos por corrupção), estamos paralisados, este ano, por uma série de greves praticamente inédita.
     A mais recente - a anunciada hoje pelos policiais federais -, apenas formaliza um movimento que já vem atravancando o dia a dia do país há um bom tempo, com 'operações-padrão', um eufemismo para o mais absoluto desrespeito ao cidadão. Sem falar nos prejuízos diretos ao país, causados pela combinação desastrada com a inação do pessoal da Anvisa, nas nossas fronteiras.
     Para deixar bem claro: greve de quem ganha salário inicial superior a R$ 7 mil é um acinte, especialmente num país, como o nosso, em que um trabalhador recebe pouco mais de R$ 600 mensais e um professor menos de R$ 2 mil. Além de potencialmente agressiva e perigosa, a greve conta com um componente que não posso deixar de lembrar: quem tem direito a andar armado não pode fazer greve, como se fosse um empregado comum.

Ministro prova desvio de dinheiro público

     O ministro Joaquim Barbosa, com precisão total, vem demolindo as bases da defesa dos quadrilheiros que avançaram nos cofres públicos, no espisódio que ficou conhecido como Mensalão do Governo Lula. Não há alegação que resista ao detalhamento do relator do processo, ao seu cuidado com os acontecimentos, com as ligações entre eles, com apromiscuidade dos participantes desse que foi o maior escândalo da nossa história recente.
     Hoje, Joaquim Barbosa mostrou, sem sombra de dúvidas, que o Banco do Brasil, através do Fundo VisaNet (dinheiro público!!!), irrigou campanhas e bolsos companheiros, usando o esquema administrado pelo publicitário mineiro Marcos Valério, através de suas empresas. Eu venho batendo sistematicamente nesse ponto: o dinheiro saía do Governo e ia para o PT e seus assemelhados (nada pode ser tão semelhante - em essência e ideologia - quanto o PT de Lula e o PP de Paulo Maluf).
     O ministro, além de ter encontrado um desvio de nada menos do que R$ 73 milhões, deixou bem claro que o ex-direitor do BB, Henrique Pizzolato, participava, sim, do esquema. E que sabia de tudo o que ocorria. Aliás, Joaquim Barbosa frisa que não cabe a alegação de desconhecimento. O mecanismo, como vem sendo exposto, era público e notório, pelo menos para parte significativa do Governo.
     Pelo rigor dos votos proferidos até agora, Barbosa leva a crer que será inflexível com todos os envolvidos. Em comentário publoicado em Veja, o ministro teria destacado que não há "blablablá" que resista à análise dos fatos, em uma referência à retórica usada pela defesa dos réus para desqulificar a denúncia e o denunciante (o procurador Roberto Gurgel). Ele trabalha sobre fatos determinados. E contra os fatos, sabemos, não há argumentos.

Bandido não são torcedores

     Tenho certeza que já passou da hora de nós e nossos jornais em geral deixarmos de tratar vagabundos e criminosos como se fossem torcedores. Não são. São baderneiros que, por um lamentável acaso, gostam de um ou de outro clube. Pensando bem, não gostam: seu comportamente deletério é absolutamente prejudicial à imagem do 'seu' clube e do futebol, como um todo. Lugar de notícia sobre bandidos é - no máximo - na página policial.
     É inteiramente injusto que o resultado esportivo de uma partida de futebol, como a de ontem, quando o Flamengo derrotou merecidamente o Vasco, por 1 a 0, divida a repercurcussão e o impacto para a notícia envolvendo confrontos entre delinquentes. Confrontos que ocorreriam por qualquer motivo, independentemente de uma razão especial.
     Acredito, também, que está mais do que na hora de os clubes se unirem em uma campanha que repudie a violência e promova, apenas e tão somente, a saudável paixão esportiva. Pessoas de bem (como a maioria absoluta da população) não podem ficar reféns de marginais. Ontem, grupos de desajustados promoveram atos bárbaros em dois pontos da cidade. Se nada for feito,a sério, a futura presença nos estádios de verdadeiros torcedores ficará abalada.
     Eu, confesso, há muito tempo não me arrisco, a sair de casa sabendo da possibilidade de esbarrar com criminosos armados no caminho.

domingo, 19 de agosto de 2012

Minha frase da semana

"O Brasil não pode se imaginar grande, um dia, sendo tolerante com criminosos do porte dos que estão sendo julgados pelo Supremo Tribunal Federal. É preciso que haja determinação dos juízes, coragem para enfrentar a máquina petista - governamental, por extensão - de calúnias e chantagens". Extraída do texto 'Uma quadrilha bem ensaiada', de terça-feira, 15 de agosto.

Histórias de Júlia e Pedro (Capítulo 50)

O 'nosso' umbigo    

     Não estava me sentindo muito bem. Uma ligeira dor de cabeça, mas suficiente para me fazer optar por me afastar um pouco da saudável bagunça familiar (estávamos reunidos na casa de Fabiana, para comemorar o Dia dos Pais, com atraso de uma semana - Flávia estava em Londres, trabalhando na Olimpíada), dar uma recostada e fechar os olhos, aproveitando a penumbra de um dos quartos.
     Pedro, em uma das passadas pelo corredor, me viu e foi logo falar comigo:
     - O que é você tem, vovô?
     - Nada de mais moleque, dor de cabeça ...
     Com aquele jeito carinhoso que sempre teve comigo, desde bebê, me deu um beijo, um abraço e deitou ao meu lado. Falamos um pouco dos projetos de uma pescaria (o moleque fica sonhando com essas 'aventuras') e ele saiu, convocado a participar das brincadeiras com Júlia, a mãe, a avó e as tias, Fabiana e Paula, prima de direito, mas tia de fato.
     Não demorou muito e voltou. Mais um beijo e uma demonstração de carinho que só nós dois poderíamos entender e que vou tentar explicar.
     Desde muito pequeno, Pedro - como outras crianças - tem o hábito de coçar o umbigo e eu, desde sempre, me habilito a fazer o mesmo, brincando com ele, que adora. Todas as vezes em que nos encontramos, eu pergunto pelo 'meu' umbigo, e beijo, mexo, faço um carinho.
     Pois ontem, não precisei pedir. Vendo que eu não estava como habitualmente, subiu na cama e levantou a camisa, sabendo que seria um remédio infalível:
     - Vovô, olha o meu umbigo!
     Não há dor de cabeça que resista.

sábado, 18 de agosto de 2012

Abaixo os suecos ...

     Sou naturalmente atraído por esse tipo de tema, pela enorme carga de contraditório que carrega. Estou me referindo à cruzada bananeira pela concessão de asilo político a Julian Assange, promovido a representante maior das esquerdas, em virtude da divulgação de informações secretas americanas. De um momento para outro, o aprendiz de ditador Rafael Correa, presidente do Equador, se transformou num ícone da liberdade de imprensa, do direito à informação e todos os etecéteras que possam ser aplicados. E já volto a esse 'detalhe'.
     Ao mesmo tempo, a Suécia - logo a Suécia!!! - vem sendo acusada de ser um mero joguete do imperialismo e que, ao exigir a extradição do fundador do WiliLeaks, o rei Gustavo V (é uma imagem!!!) nada mais seria do que um misto de agente da CIA e do FBI. A estupidez ideológica é tão grande que a companheirada, em especial, não para um segundo para pensar que o cabra é acusado de estupro - é isso mesmo, estupro -, e não de ser um guerreiro da informação. Vale tudo, quando o 'inimigo' mora logo acima do Rio Grande.
     Nessas horas, até o companheiro Obama - a quem eu admito profundamente e em quem votaria, se americano fosse - é convenientemente ignorado. Prevalece a velha e monumental mediocridade, o complexo de vira-latas dos anos 70, o "ianques, go home", o indisfarçável cheiro de naftalina.
     E o Reino Unido? Pedrada nele, composto historicamente por bucaneiros e - pecado dos pecados - algoz dos argentinos, no caso das Ilhas FalKlands, que nós e Cristina Kirchener insistimos em chamar de Malvinas, contra a expressa manifestação de 99,99% dos kelpers, como são conhecidos os habitantes do arquipélago. É verdade que a tal declaração sobre a possibilidade de invadir a embaixada equatoriana e prender o estuprador não foi das melhores peças produzidas pela Coroa, embora o ato, em si, pudesse ser considerado legal, de acordo com as leis britânicas - queiramos nós, ou não. Inconveniente, a lembrança deixou a patriotada alvoroçada.
     Mas voltemos a Rafael Correa, o novo defensor perpétuo da liberdade de imprensa. O Globo de hoje, envergonhado, lembra o deplorável passado recente desse presidente digno de chanchadas. Perseguiu jornalistas, processou jornais, pediu a prisão de adversários, solapou. Tudo o que um ditadorzinho de segunda classe faz, sem que houvesse a menor manifestação contrária dos nossos combatentes da democracia.
     Para compensar - e reproduzo parte da avaliação publicada em O Globo -, seus marqueteiros imaginaram esse golpe de mestre: surgir para o mundo como um libertário. E a ideia foi logo comprada pela turma dessa cada vez mais lamentável comunidade latina da América. A bobagem britânica - inesperada - ajudou a atiçar a bananice latente nessa parte do mundo.
     É mais um caso de vigarice ideológica a serviço da demagogia. Um caso clássico de insensatez na defesa de um acusado de estupro - ou o fato de ter divulgado segredos americanos seria um atenuante? E já ia esquecendo: o tal argumento jurídico para concessão do asilo não é válido nas relações internacionais estranhas aos Estados Americanos. É coisa nossa, para ajudar dirigentes pilantras a escapar da cadeia.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

CPI poderia fazer história

     A cada nova revelação do envolvimento da Delta Construtura com esquemas de corrupção e favorecimento de políticos, ficam mais evidentes - para mim - os motivos para tanta moderação na CPI que investiga o relacionamento do contraventor Carlinhos Cachoeira com os diversos níveis de poder.
     Hoje, O Globo destaca uma prova incontestável da contribuição da empreiteira com candidaturas, através do repasse de verbas. Não são conjecturas, são fatos. E, pelo histórico das relações entre a Delta e os governos Federal (através de obras do tal PAC) e Estadual do Rio de Janeiro, principalmente.
     O empresário Fernando Cavendish, antigo presidente da construtura, precavendo-se, solicitou o direito de ficar calado, quando for testemunhar. Segue o roteiro dos demais envolvidos, mas sem a pressão que seria de se esperar. Essa tolerância me autoriza, em tese, a imaginar que só ocorre porque a maior parte dos integrantes da CPI (da base do Governo) não está interessada em aprofundar questões. Não há outra explicação.
     A CPI do Cachoeira tem a possibilidade de mergulhar profundamente nesse processo de financiamento ilegal de campanhas políticas que tanto mal tem feito ao país. Poderia ser o começo de uma limpeza profunda, atingindo quem atingisse, independentemente do matiz ideológico, do partido, do nome.
     Ao refrear a busca pela verdade e não insistir em não aprofundar a investigação sobre o esquema que mistura contravenção, empreiteiras e políticos em geral, nossos representantes estão abrindo mão de ajudar a passar o país a limpo.

A exploração de tragédias

     Já disse, há algum tempo, que não votei e não pretendo votar em Eduardo Paes, com quem tenho divergências irreversíveis (embora ele não não saiba disso). Portanto, fico bem à vontade para tratar de um assunto que, ao que me parece, vem sendo abordado de forma incorreta e, em determinados momentos, distorcida e com nuances políticas: os acidentes na TransOeste.
     Fui testemunha, hoje, de uma grande manifestação - pelo menos provocou enormes e desastrosos reflexos - de protesto contra os atropelamentos que já se tornaram recorrentes ao longo da nova via, especialmente na pista exclusiva dos ônibus 'Ligeirões'. Um grupo de jovens secundaristas interrompeu a passagem de veículos na pista central da Avenida das Américas, sentido Barra, na altura do Bosque da Barra. Os estudantes lamentavam a morte de um outro jovem, atropelado há duas semanas.
     Infelizmente, outros acidentes vão acontecer, por culpa - e não tenho dúvidas quanto a isso - de pedestres e ciclistas que insistem em desrespeitar a proibição de cruzar e usar a pista exclusiva, a pé ou de bicicleta. Os avisos de proibição estão espalhados por todo o percurso, claros. Mas quem trafega pela região esbarra a todo o momento com pessoas que colocam a segurança em risco. Hoje mesmo, cruzei com quatro ciclistas que usavam a pista dos Ligeirões, como se estivessem em uma ciclovia.
     É verdade que não há uma ciclovia na Avenida das Américas. Mas essa é uma outra questão. Não há também no Túnel Rebouças, nem nas Linhas Amarela e Vermelha. Pode-se questionar essa ausência, mas precisamos reconhecer que não é essa, exatamente, a vocação dessas vias, voltadas para o deslocamento de veículos motorizados, o que é outro ponto que pode ser discutido.
     Os atropelamentos de pedestres também têm sido comuns, como já eram antes das obras. Mas todo acontecem por imprudência: pessoas se arriscam entre os carros, mesmo ao lado de cruzamentos sinalizados ou de passarelas, como acontece rotineiramente na Avenida Brasil, por exemplo. É uma questão cultural, que se soma - e aí, sim, as críticas se justificam - à necessidade de mais opções. E não estou falando de sinais luminosos, em número mais do que suficiente. Mas de passagens subterrâneas.
     De qualquer modo, são absolutante injustificados os protestos por atropelamentos nas proximidades das estações, maioria absoluta. Há faixas de pedestres, sinalizadas, em todas. E não ficam a 200 metros ou mais, como alguns insistem. Ficam bem próximas, a 20 ou 30 metros de distância, no máximo. Lamentavelmente - e eu novamente recorro ao meu testemunho, ao longo do dia de hoje -, muitos preferem arriscar para ganhar três ou quatro minutos, sem pensar que podem estar perdendo a vida.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

A hora de João Paulo Cunha

 
     Já escrevi certa vez que o deputado federal João Paulo Cunha, do PT de São Paulo, a quem não conheço, faz parte da minha lista de dez políticos brasileiros que eu mais desprezo. Lista - acho que jamais deixei dúvidas - encabeçada pelo ex-presidente Lula. Não se trata de um sentimento dirigido às pessoas, em si. Mas ao que representam, à dimensão de seus atos no exercício de funções públicas.
     Portanto, me senti razoavelmente recompensado ao ler, ver e ouvir o voto do ministro Joaquim Barbosa, no qual ele soterra as alegações do então presidente da Câmara, concluindo que ele cometeu, sim, peculato, corrupção passiva e lavagem de dinheiro, sendo, então, passível de uma condenação exemplar.
     O voto não poderia ser diferente. João Paulo protagonizou, na época do Mensalão do Governo Lula, cenas capazes de justificar sua imediata cassação. Escapou, apesar das provas, graças ao espírito de corpo que prevalece no Congresso, onde muitos agem, hoje, pensando em cobrar amanhã. Sua mulher fora flagrada recebendo - em seu nome - R$ 50 mil em espécie, na boca de um caixa do Banco Rural, em Brasília.
     Sem saber o que dizer e ainda não orientado devidamente, o deputado saiu-se com diversas versões para o fato, uma delas assustadora, pela mediocridade: sua mulher teria ido ao banco pagar a conta da tevê por assinatura. Mudou a versão, mais tarde, até chegar ao texto atual, semelhante ao dos demais quadrilheiros em julgamento: caixa 2, um dinheirinho para pagar as contas da campanha eleitoral.
     Não se trata, como sempre alegaram os representantes dessa Era Lula, de conversa de oposição. Joaquim Barbosa foi indicado para o STF pelo PT, que - vê-se agora - sonhava com alguém cordato, suscetível à vigarice dos discursos demagógicos.
     Se vai ser condenado, ou não, é outra questão. Vai prevalecer a opinião do colegiado, mas a contundência do relator certamente vai influenciar o resultado. Embora necessariamente independentes para manifestar suas opiniões, os ministros - em sua maioria - têm entendimentos semelhantes. E será complicado explicar à Nação como alguém tão pesadamente acusado pode sair ileso de um julgamento.
     Acredito que a hora de João Paulo chegou. Fico imaginando o voto em relação a José Dirceu, por exemplo.

Repúdio às agressões

     Os ataques ao procurador-geral da República, Roberto Gurgel, protagonizados, em uníssono, pelos advogados da quadrilha que assaltou os cofres públicos e que está em julgamento no Supremo Tribunal Federal, foram repudiados categoricamente pelo presidente do Conselho Nacional de Procuradores-Gerais (CNPG), Cláudio Lopes, como nos conta O Globo.
     Cláudio Lopes aproveitou a abertura do I Congresso Internacional do Conselho Nacional dos Procuradores-Gerais do Ministério Público Brasileiro, no Rio, para manifestar sua solidariedade, de maneira enfática. E de uma maneira também corajosa: ao lado desse inacreditável ministro da Justiça, José Eduardo Cardoso, um ardente defensor dos acusados, que ouviu tudo com aquela expressão de paisagem que o caracteriza.
     Para o procurador, as agressões "são inaceitáveis e intoleráveis". E tem toda a razão. Como ele mesmo ressaltou, "divergências processuais devem se ater às discussões fáticas e jurídicas e dispensar que descambem para um lado que não tem a ver com o objeto da lide, desvirtuando o verdadeiro foco da causa".
     É aí, no fim da frase, que reside toda a questão: a preocupação evidente em desvirtuar o julgamento, mascarar, atacar, desmerecer, mentir, deturpar, ofender, chantagear. É uma tática antiga que vem sendo explorada sistematicamente pelo PT, um partido que se especializou em agredir, destruir reputações. Fez e faz isso nos campos político (lembram da grande mentira sobre projetos da Oposição de privatizar a Petrobras?) e pessoal (acusações contra Dona Ruth Cardoso). Espalha boatos prontamente aceitos e transformados em notícia pela companheirada, quase sempre paga pelos cofres públicos.
     No caso específico do julgamento do episódio que ficou conhecido como o Mensalão do Governo Lula, a saída encontrada pelos gestores da defesa - e ficou evidente que houve um conluio - foi, em primeiro lugar, mirar na figura do procurador, de sua família, fazer ilações, deixar acusações no ar. Antes e durante o processo. Outro profissional, menos determinado, talvez se deixasse amedrontar pelo poderio dos adversários.
     Algo semelhante ocorreu quando da tentativa de chantagem de ministros, efetuada pelo ex-presidente Lula, segundo denúncia de Gilmar Mendes. Assim como Roberto Gurgel, o ministro enfrentou as ameaças.
     Eles - defensores e réus liderados pelo ex-ministro da Justiça (?) e advogado do contraventor Carlinhos Cachoeira, Márcio Thomaz Bastos - não tiveram coragem suficiente, apenas, para investir mais diretamente contra o ministro-relator do processo, Joaquim Barbosa. Mas bem que tentaram, exibindo o preconceito e o racismo que estão impregnados na sua essência.

Baderna sem limites

     E se eu resolvesse parar meu simplório Celta na Avenida Rio Branco, às três da tarde, em protesto contra a onde de greves e manifestações de classe que paralisam o país há tanto tempo? Certamente seria alvejado por um bando de guardas municipais e policiais militares, talões de multa nas mãos, reboques a tiracolo, sirenes, luzes piscando. Estaria livre, apenas, da ira dos policiais federais, por estarem em greve.
     Mas nada disso aconteceu com os milhares de vans e assemelhados que infernizaram a cidade ontem, assim como nada houve com os motoristas de caminhões que fecharam recentemente a Via Dutra, em total desprezo pelo direito alheio. Para baderneiros - e não há outro termo que caracterize melhor personagens que ignoram a lei -, a tolerância das autoridades, que olham mais para as eleições do que para a Constituição. Para nós, pobres pagantes de impostos, os rigores da lei, pontos perdidos na carteira de habilitação e - eventualmente - o risco de uma detenção por desacato.
     Mais ou menos - guardadas as proporções - o que acontece com os grevistas federais que querem passar de salários enormes para salários ainda mais enormes (exceção aos professores, certamente a categoria profissional menos valorizada nesse país), como os nossos digníssimos policiais federais, que, além de tudo, têm direito a porte de arma e fé pública.
     Na manifestação de ontem, no Rio, houve, ainda, um componente mais deletério: a politicagem. Segundo o noticiário, um dos artífices da balbúrdia é candidato à Câmara de Vereadores e tem sua base eleitoral no transporte alternativo. Deveria ter sido preso, por incitação à desordem. Tem tudo para ser eleito e contribuir ainda mais para a desmoralização do poder legislativo municipal, envolvido historicamente por atos desabonadores de seus representantes.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

A reação paraguaia

     Leio na Veja que o presidente paraguaio, Federico Franco, admite a possibilidade de seu país se retirar do Mercosul, mas que isso só se daria após a realização de um referendo popular, a princípio em abril do ano que vem, juntamente com as eleições. O país, sabemos foi suspenso do bloco, em junho, como represália à destituição do ex-presidente Fernando Lugo, pelo Congresso.
     Eu me arrisco a dizer que, se fosse hoje, o resultado da consulta seria amplamente favorável ao desligamento do país. A punição ainda repercute na população, que também apoiou - em sua grande maioria - a derrubada legal do ex-dirigente. O país vive, claramente um sentimento nacionalista. Embora encerrada há mais de 140 anos (1864/1870), a Guerra do Paraguai, quando o país foi esmagado por seus três vizinhos (Brasil, Argentina e Uruguai), ainda está muito presente no emocional da nação, abalado com o desrespeito a uma decisão (o impeachment de Lugo) que considera legal e constitucional.
     As mazelas atuais ainda são colocadas na conta dos fronteiriços Brasil e Argentina, principalmente o Brasil, visto como uma espécie de imperialista da América do Sul. Governos militares ajudaram a reduzir o distanciamento entre brasileiros e paraguaios, cujo realacionamento foi estreitado com a construção de Itaipu, a binacional de energia que, hoje, pode ser usada como arma paraguaia.
     A identificação ideológica com o destituído presidente Lugo também mascarou as divergências, o que não impediu, entretanto, que o Paraguai exigisse a revisão do valor que o Brasil paga para consumir o excedente energético produzido por Itaipu. A mão de ferro usada contra o país reabriu antigas feridas.
     Como o Mercosul já vem dando sinais de desgaste e com possibilidades de se abrir a investimentos mais diretos de outros países, com relações bilaterais, o Paraguai começa a não se sentir tão dependente do gigante que mora ao lado. Um gigante que, em virtude das circunstâncias, depende da energia paraguaia para movimentar suas engrenagens.

Não se pode elogiar ...

     A presidente não me dá tempo de encontrar algo bom - a admissão de que está se rendendo aos fatos, ao privatizar setores nos quais tem se mostrado absolutamente incompetente - nesse seu trágico governo repleto de roubalheiras (sete ministros e uma penca de diretores de segundo escalão demitidos em um ano!!!), e já desanda a falar bobagens, recuperando, sem citar expressamente, a tal 'herança maldita' inventada por seu guru, o chefe do chefe do Mensalão.
     Quando ela fala em recuperar erros passados, esquece que faz parte de um governo que há quase dez anos (não são dez meses ...) vem somando desastres administrativos e éticos. Essa gente não tem cura. Ontem o ministro da Educação (???), Aloísio Mercadante, ao 'analisar' o último perfil da nossa educação, teve o desplante de receitar medidas, como se o mundo acabase de ser inventado. É outro esquecido que, em quase uma década, o grande feito educacional do governo foi sucatear o ensino superior e quase destruir o Enem e a língua portuguesa.
     É óbvio que houve um erro estratégico quando o Brasil optou por valorizar as estradas, em detrimento das ferrovias. Mas essa distorção tomou forma quando o país começou a olhar para dentro e viu-se na necessidade de abrir caminhos. Na ótica de Washington Luiz, presidente deposto em 1930 por Getúlio vargas, governar era abrir estradas. Juscelino Kubitschek seguiu a toada, no rumo de Brasília. Os governos militares também investiram no mesmo atalho para desbravar a Amazônia - e contribuir para sua devastação parcial.
     Apontar para a recuperação da malha ferroviária é um bom sinal, que vem sendo esperado há muitos anos. Só não pode ser confundido com construção do tal trem bala entre o Rio e São Paulo, uma enorme maracutaia que não para de subir de preço, sem que um mísero dormente tenha sido colocado. Ou com o poço sem fundo aberto com a construção da ferrovia Norte-Sul, que liga nada a lugar nenhum e que custa ao Brasil algo em torno de R$ 12 bilhões por ano em impostos não arrecadados, poluição e cargas que deixam de ser transportadas. Sem falar nos aditivos, sobrepreços e similares, sinônimos de assalto aos cofres públicos.

Governo rende-se às evidências

     Eu seria incongruente se não olhasse com bons olhos o pacote de privatizações lançado hoje pela presidente Dilma Rousseff - privatizações, sim, e não 'concessões', uma vigarice retórica usada pela Era Lula para dizer que não faz o que condenou no governo de Fernando Henrique Cardoso. Repudio, no entanto, a fantasiosa utilização dessa sigla desmoralizada pelos fatos. Não há nem jamais houve PAC algum. Há - ou deveria ter havido (e deixou muito a desejar, como os números e fatos evidenciam, a cada dia) - a reunião de projetos obrigatórios a qualquer administração, sob um apelido criado pela equipe de marketing palaciana.
     Sou, por princípios, defensor de um estado cada vez menor, que gerencie apenas e tão-somente áreas cruciais, vocacionais, por natureza, como saúde, educação e segurança, por exemplo. É claro que também cabe ao estado deixar transparente para a sociedade o que pensa para o país, definir nortes, estabelecer metas. E oferecer os meios necessários aos investimentos, segurança institucional, respeito à legislação. E atuar como um fiscal exigente e correto, gerindo o trabalho, sugerindo caminhos, apontando falhas, cobrando participação e compromissos, coibindo exageros. Não é pouco. Basta ver o que nossos 'parceiros' venezuelanos, argentinos e bolivianos fazem, desrespeitando contratos, invadindo empresas e afastando investidores sérios.
     Quanto menos o estado estiver envolvido em obras e quetais, menores serão as chances de episódios como os que temos acompanhado nos últimos nove anos e meio, de corrupção ativa e enriquecimento ilícito. O empresário que quiser investir, deve ter certeza de não ficar sujeito aos humores e à ganância de indivíduos e grupos políticos. Não será obrigado a fazer doações ao PT, por exemplo, como tem sido, em troca da aprovação de um contrato, de um aditivo.
     A privatização de aeroportos, portos estradas e ferrovias não deixa de ser uma confissão de incapacidade, é verdade, mas é muito bem vinda. Em nove anos e meio de muita publicidade e pouco trabalho, os governos petistas mostraram sua mais absoluta falta de aptidão ao trabalho sério, aos projetos necessários ao desenvolvimento do país. Surfamos no crescimento chinês e esquecemos de criar condições para que nossa indústria renovasse o fôlego.
     O custo Brasil aumentou e afundou o país, que vê seu PIB despencar. E país algum pode viver apenas dos resultados da transferência de renda, quando se sabe que ela apenas mascara um drama social decorrente da nossa incapacidade de gerar riquezas e, por consequência, atacar as causas, e não apenas minorar as consequências.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Uma quadrilha bem ensaiada

     Todos eles são tão inocentes, puros, confiantes. O dinheiro que foram buscar pessoalmente (mas não queiseram assinar recibo), mandaram suas mulheres ou seus auxiliares caiu do céu, enviado por algum anjo da guarda preocupado com suas finanças, alquebradas pelos gastos nas campanhas eleitorais. "Quem disse que o dinheiro era legal foi o Delúbio", alegam uns, sabendo que o ex-tesoureiro do PT vai calar. "O culpado foi ele", reverberam determinador acusados, referindo-se a um deles, que já morreu e, portanto, não vai reclamar. "Era um acordo que tínhamos com o PT", garantem outros. "Caixa 2", bradam todos, em alto e bom som, como um coral (uma quadrilha, seria a expressão mais acertada) bem ensaiado.
     E não há sinais evidentes de que alguém diz essas vigarices com pudor ou um leve sinal de rubor nas faces. A desfaçatez dos envolvidos no maior assalto institucionalizado aos cofres públicos - o espisódio que ficou conhecido como o Mensalão do Governo Lula - não parece ter limites. Roubaram e mentem (levando-se em conta as 50 mil páginas da peça acusatória aprsentada pela Procuradoria-Geral da República) com a indignidade de mafiosos inescrupulosos. E o que é mais grave: sabendo que contam com a indulgência de uma parte significativa dos 'fazedores de opinião', comprados quase todos pelo mesmo dinheiro que irrigou o episódio que está sendo julgado.
    
     É possível - tudo é possível em um julgamento -, sim, que alguns saiam livres, ou com uma leve palmada retórica. Mas é improvável que os principais mentores e executores do grande golpe nas instituições escapem de condenações duras, incluindo cadeia. É o que a opinião pública espera, não como vingança, mas com uma expectativa de resgate de um pouco da decência que tanta falta faz a essa infeliz República.
     O Brasil não pode se imaginar grande, um dia, sendo tolerante com criminosos do porte dos que estão sendo julgados pelo Supremo Tribunal Federal. É preciso que haja determinação dos juízes, coragem para enfrentar a máquina petista - governamental, por extensão - de calúnias e chantagens. Já é muito ruim que o principal responsável por tudo, o ex-presidente Lula - nas palavras do presidente do PTB, Roberto Jefferson, seu antigo parceiro de almoços e quetais no Planalto e a quem daria um cheque em branco - esteja livre. Seria devastador que seus imediatos escapassem também.

A história também condena

     Admito que é um exercício forte, que não pode ser elaborado literalmente, mas há enormes afinidades entre o processo que levou o Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães, ou Partido Nazista, ao poder na Alemanha, em 1933, e a construção do Partido dos Trabalhadores e a entronização de Lula no pedestal de líder máximo, a exemplo de Adolf Hitler. Na verdade, todos os partidos de extrema nascem da mesma receita que também produziu o comunismo e o fascismo.
     Essa composição, que sempre foi clara para mim, tomou formas ainda mais atualizadas ontem, ao assistir ao sensacional e renovado programa exibido pelo Discovery Channel, sobre a trajetória do Partido Nazista e a construção do mito do Fürher (sou um apaixonado pela Segunda Grande Guerra e pela história brasileira do século 19), que evidenciava, a cada cena, a enorme coincidência entre as práticas, especialmente as de propaganda, eternizadas por Joseph Goebells. A empulhação que aproxima Hitler dos trabalhadores, dos homens comuns, e apaga todas as suas inconsistências é exemplar.
     Assim como Lula, Hitler era vendido aos olhos do povo massacrado pela perda de uma guerra e pela crise econômica de 1929 como alguém módico em gastos e gostos, absolutamente íntegro, que sequer dispunha de um lugar para morar, o que jamais foi verdade. Assim como o líder fanático e enlouquecido, nosso ex-presidente também foi adotado por uma parcela significativa da classe altíssima, como um bibelô. Suas extravagâncias pessoais - em 'todos' os campos - também eram e são omitidas. A simplória cachaça em público, Romanée Conti em particular.
     O crescimento estrondoso do Partido dos Trabalhadores também encontra paralelos com o registrado pelo Partido Nazista, que soube, como nenhum outro, usar grandes emprésarios a seu favor, cooptando-os com a promessa de ganhos futuros quando fosse poder. As grandes corporações, pode-se afirmar sem medo de errar, tiveram um papel prepoderante do III Reich, assim como por aqui financiam o projeto de poder petista, numa simbiose inimaginável há pouco mais de dez anos. Não à toa, nossos bancos jamais foram tão lucrativos quando agora, assim como as grande construturas nunca foram tão vencedoras.
     Outra característica marcante de ideologias que exaltam o líder inconteste é o extremo desprezo pelos auxiliares, que são descartados sem piedade, desde que isso ajude a preservar a imagem do chefe. Na Alemanha nazista, incontáveis generais foram executados para que deixassem de interferir na rota de Hitler. Por aqui, Lula e Lima Rousseff deceparam e decepam braços direitos sem a menor cerimônia, na luta pela preservação da imagem pessoal. O episódio do Mensalão e as demissões de ministros ano passado são exemplos dessa prática.
     Os braços armados do Partido Nazista (paramilitares), responsáveis por incontáveis atos de violência, têm, no Brasil, seus correspondentes no MST, na UNE e nas tropas de choque da CUT, sempre a postos. É evidente que estou traçando paralelos relativos. Na Alemanha, grupos de vândalos atacavam propriedades dos judeus, quebravam vidraças, agradiam, matavam e roubavam. No Brasil que formatou o estilo petista de ser, adversários eram apedrejados e recebiam pontapés nas ruas; reitorias de universidades em estados governados pela Oposição eram e são ocupadas; fazendas produtivas são invadidas.
     O método é o mesmo: impor uma ideologia pela violência, pelo terrorismo, pelo atropelo da decência, com a complacência e estímulo disfarçado dos que se apresentam como defensores da liberdade. Tudo em nome de uma causa.




segunda-feira, 13 de agosto de 2012

É claro que ele sabia de tudo

     É claro que o ex-presidente Lula sabia de tudo o que se passava no gabinete ao lado do seu, no Palácio. Só um completo imbecil poderia imaginar que ele, centralizador ao extremo, reeditando práticas do sindicalismo mais obtuso, não tomasse parte da vigarice que era coordenada pelo seu ministro da Casa Civil, José Dirceu, e que ficou conhecida como Mensalão. Mas o advogado do ex-deputado Roberto Jefferson, atual presidente do PTB, não está, de fato, preocupado em punir o antecessor de Dilma Rousseff. Ele só quer tumultuar e, com o tumulto, ajudar seu cliente a se safar da cadeia, como fez hoje.
     Lula, em nome da governabilidade (seja lá isso o que for), foi excluído do processo que está sendo julgado no Supremo Tribunal Federal, contra todas as evidências de que era, de fato, o gestor. Continuo afirmando que foi um erro gravíssimo. Processar governantes claramente envolvidos com falcatruas não deve ser um ato encarado como ameaça à democracia, ao contrário. Mas foi, e isso é irreversível, infelizmente.
     Com a acusação ao ex-presidente, baseada em presunções e nas conversas que teve com seu cliente, o advogado do deflagrador do processo luta apenas pela desqualificação da acusação, um dos caminhos para salvar Jefferson do patíbulo (retórico ...). Mas não deixa de ser bom ler e ouvir que um ex-presidente com a dimensão que Lula teve chegou a um lugar tão baixo, tão deplorável, tão abjeto, desonrando a democracia e o cargo no qual estava investido.
     Essas verdades foram convenientemente soterradas nos últimos anos. Como num passe de mágica, ninguém mais lembrava do encontro de Lula e de seu vice-presidente, José Alencar, na casa de um deputado petista, para sacramentar a compra do apoio 'ideológico' do antigo PL. Suas várias versões para o assalto aos cofres públicos também andavam esquecidas.
     Não é o que Roberto Jefferson queria - também não tenho a menor dúvida. Mas seu desespero, há seis anos, ao se ver envolvido em extorsões praticadas por um companheiro de partido, abriu as comportas das acusações. Uma vingança contra um desafeto de momento, José Dirceu, gerou o maior escândalo da nossa história recente, que só agora começa a ser devidamente analisado.
     Não escondo que torço pela cadeia para todos os comprovamente envolvidos.

O estigma das cotas

     Não satisfeito em sucatear o ensino público em geral, esse governo manobrou para criar uma excrescência no ensino superior, em especial: o fim do acesso meritório, com a adoção de estapafúrdios 50% de cotas. Metade dos alunos seria aprovada por mérito e a outra metade por ser desamparada e tratada com desprezo pelo governo.
     É a essência da admissão de culpa pelo abandono de populações, malformadas academicamente e despossuídas financeiramente. Uma solução medíocre que colabora - no meu entendimento - para consolidar a discriminação, o estigma. O esforço e a dedicação da classe média baixa branca, por exemplo, estariam sendo jogados pela latrina.
     Certamente não é isso que negros, indígenas e pobres desejam, com as exceções que justificam a regra. Todos nós - independentemente de rótulos que já não fazem o menor sentido - queremos a mesma coisa: ensino de qualidade desde a base, para formar gerações informadas, bem formadas e capazes de traçar seus destinos, ou pelo menos lutar em razoáveis condições de igualdade.
     A forma demagógica e populista das cotas - a exemplo do que vem acontecendo em todos os setores da vida nacional - não vai resolver o grande problema desse país: a falta de qualificação de sua mão-de-obra. Universitários mal-formados serão excluídos do mercado e servirão, apenas, para engrossar falsas estatísticas destinadas ao uso nas campanhas eleitorais.
     Não sou totalmente contra o estímulo aos menos aquinhoados, de forma equilibrada, com bom senso. Minha formação e história pessoal (filho de um imigrante português; neto de aldeões analfabetos; bisneto de uma africana que nasceu livre, ao contrário da mãe (minha trisavó) escrava; e ex-aluno exclusivamente de escolas públicas) impediriam isso. Mas não consigo encontrar justiça em institucionalizar uma enorme camada de cidadãos de segunda categoria, os cotistas.
     O resultado dessa política conspurcada pela ideologia barata pode ser terrível para o país e marcar as instituições federais, como acontece nos primeiro e segundo graus do ensino público. Estabelecer cotas discriminatórias apenas mascara o problema da falta de investimentos na base da pirâmide social.

Aquecendo para o Mundial

     Leio no Estadão que a Adidas, fábrica de material esportivo, vai lançar um concurso para escolha do nome da bola da Copa do Mundo de 2014, em terras brasilienses. Algo como a jabulani cabocla. De imediato pensei em três nomes, absolutamente populares e que representariam, talvez como nenhum outro, o espirito brasileiro que prevalece nesses últimos nove anos e meio: 'Mensaleira', 'Caixa 2' e 'Sou, mas quem não é?' (essa última uma referência expressa aos ladrões que infestam o país).
     Confesso que seria difícil, para mim, optar por uma dessas denominações, cada vez mais enraizadas na cultura que essa inacreditável Era Lula institucionalizou do Oiapoque ao Chuí, como nunca acontecera no país. Como a Copa será um evento nacional, com jogos em diversas regiões, a bola precisaria ter essa identificação com nossos políticos em geral, os do PT em especial, por óbvio.
     A 'Mensaleira', por exemplo, rolaria impávida por todos os gramados, assim como a 'Caixa 2', já adotada como símbolo da 'base governista', esse saco de gatos ideológico que reúne, sem o menor pudor, do PT ao PP do deputado Paulo Salin Maluf, parceirão do ex-presidente Lula, passando pelo PTB de Roberto Jefferson,unidos e irmanados na luta por cargos comissionados, ministérios, editais amigos e roubalheira companheira.
     'Sou, mas quem não é?', também teria grande afinidade com o discurso da turma que defende os quadrilheiros do Mensalão, os falsificadores de dossiês, carregadores de dólares na cueca e beneficiados de contratos com ONGs amigas e penas (teclas, na verdade) de aluguel caro. A bola estaria sempre com eles, controlada, pronta para ser usada como resposta às investidas pela 'direita', que é como chamam todos os que denunciam seus roubos em nome da 'causa'.
     "Roubei, sim, mas todos roubam", seria a mensagem mais marcante do futuro Mundial, já carimbado por um recorde absoluto: as obras do Maracanã, que já havia passado por uma reforma recente, começaram orçadas em algo em torno de R$ 600 milhões e já alcançaram a estratosférica cifra de R$ 1,2 bilhão. E temos o escândalo do aporte de verbas para construção do novo estádio do Corínthians (particular!!!"), as alterações de projetos viários etc etc.
     E estamos, ainda, no fim do primeiro tempo de obras. O segundo tempo promete muitas emoções para as equipes das construtoras, que jogarão com o apoio total dos nossos probos administradores públicos. Sem falar que esse tipo de jogo tem sempre prorrogação e, com sorte, disputa de pênaltis.

domingo, 12 de agosto de 2012

A vigarice é uma arte

     Parodiando Ataulfo Alves, depois de ler as 'interpretações' que a compaheirada vem dando ao julgamento do Mensalão do Governo Lula, diria, sem medo de errar: "Pois é, a vigarice dessa gente é uma arte". A mais recente descoberta da turma que não se envergonha em defender ladrões - a maioria é bem paga para isso, com dinheiro público, é claro - é que o dito mensalão nunca existiu.
     E, se não existiu, toda a quadrilha subchefiada pelo ex-ministro das Casa Civil, José Diceu - de acordo com a denúncia da Procuradoria-Geral da república, documentada e explicitada em mais de 50 mil páginas - deve ser absolvida. A turma que apoia ladrões estrutura todo o seu - digamos - 'raciocínio' em uma linha: não havia um pagamento mensal, nos moldes tradicionais. Portanto, não havia o mensalão.
     É o exercício mais vagabundo de uma retórica desmoralizada. Mensalão - e todos eles sabem muito bem disso - foi o nome que sintetizou o assalto institucionalizado aos cofres públicos, para pagar o apoio de partidos amigos, bancar candidaturas (inclusive a do ex-presidente Lula, como confessou o publicitário Duda Mendonça!!!) e encher os bolsos dos amigos mais chegados, quase todos do PT.
     Houve - e não posso acreditar que pessoas decentes duvidem desse fato - um bem-estruturado esquema que tentava legalizar o dinheiro roubado da Nação, através de contratos fictícios com as empresas do publicitário mineiro Marcos Valério. O dinheiro saía principalmente do Banco do Brasil e, depois de 'aquecido', ia parar nas mãos da turma, não necessariamente mês a mês, o que seria , apenas, um mero detalhe.
     Explicitando seu desprezo pela inteligência da população, ficamos sabendo - pela companheirada - que o advogado do ex-deputado e atual presidente do PTB, Roberto Jefferson, vai alegar que seu cliente 'mentiu'. De fato, o tal advogado deve centrar sua defesa na existência de caixa 2, aquele crimezinho safado que já está prescrito. E que o ex-comensal do Palácio do Planalto não recebeu pagamentos mensais, mas uma 'ajuda' do PT, como ficara combinado quando negociou seu apoio ao então presidente Lula..
     Vejam bem a que ponto chega a pilantragem. O inimigo visceral de ontem, o homem que desmoralizou o mandato e denunciou as safadezas do então braço direito de Lula, passa a ser a grande referência para inocentar a todos. É o cúmulo da desfaçataz, da falta de caráter, e explica por que ainda somos considerados uma nação corrupta, o país do jeitinho safado, das propinas ao guarda da esquina.
     O Supremo Tribunal Federal tem a grande chance de dar início a uma nova fase da nossa existência. Torço muito para que o julgamente termine em cadeia para todos os comprovadamente ladrões, independentemente do matiz 'ideológico' ou de um discutível passado de lutas.

Minha frase da semana

"Não há outra explicação. Só o roubo e/ou conchavos podem explicar essa cachoeira de dinheiro jogada nas campanhas". Extraída do texto 'Os números que envergonham', de terça-feira, 7 de agosto.

Argentina precisa se olhar no espelho

     Veja nos fala da repercussão do julgamento da quadrilha do Mensalão em vários países, entre eles França, Espanha, Estados Unidos e Argentina, com base nas reportagens de seus principais jornais. Em comum, a ideia de que o Brasil é condescendente com a corrupção e que uma eventual condenação dos réus poderá mudar essa imagem, embora não afete diretamente o atual governo petista.
     Ressalvando que concordo, em tese, com as críticas que nos colocam entre os países mais tolerantes com corruptos e com a corrupção, não posso deixar de registrar meu incômodo com as críticas vindas especialmente dos nossos vizinhos argentinos. Nós não somos exemplos de seriedade, é verdade. Conseguimos, como nos mostrou Veja na semana passada, desmoralizar até mesmo a Cruz Vermelha. Mas a Argentina ...
     Na terra do tango, os escândalos são recorrentes, no mínimo, tanto quanto por aqui. A indignidade não poupou, recentemente, sequer as 'avós da Praça de Maio', sem falar no enriquecimento estratosférico da família Kirchner, semelhante ao registrado pelo ex-ministro Antônio Palocci. A presidente passou de uma condição econômica - digamos - 'confortável' para entrar no campo dos milionários, registrando uma evolução patrimonial digna de astros das consultorias.
     A nosso favor - e tenho que reconhecer -, registre-se que jornais e revistas têm tido toda a liberdade para apontar as vigarices ocorridas nos últimos nove anos e meio dessa infindável Era Lula, enquanto que por lá, o governo persegue jornais e jornalistas que ousam denunciar as pilantragens oficiais.
     O governo daqui também não fica muito satisfeito com essas manchetes e capas de revistas que apontam suas bandalheiras, admito. De quando em vez retira da gaveta o tal projeto de censura. Mas é obrigado a conviver com a liberdade de expressão, que prevalece, o que não ocorre no nosso principal confrontante.

sábado, 11 de agosto de 2012

Cadeia neles!!!

     Assim, como se nada representasse, a defesa do Valdemar da Costa Neto - um dos réus no processo do Mensalão, o maior escândalo da nossa história republicana - lembrou que a dinheirama recebida por seu cliente (algo em torno de R$ 20 milhões) fazia parte de uma 'aliança política' entre o Partido dos Trabalhadores e o antigo PL, atual PP. E que tudo ficara acertado em uma reunião na casa de um deputado petista, Paulo Rocha, que contou com a presença dos então presidente Lula e vice-presidente José Alencar.
     Já falei nessa história em alguns momentos. Lembrei a ridícula versão apresentada na época em que o tema foi escancarado. Por ela, inocente como um bebê de hiena, o presidente Lula teria ficado na sala, na hora em que o acerto foi sacramento, em um dos quartos. Não sabia e não viu nada. Não tinha a menor ideia do que se passara entre aquelas quatro paredes.
O dinheiro? Seria uma contribuição do PT para a campanha do PL, algo entre amigos, parceiros de fé, irmãos camaradas. Mas de onde veio esse dinheiro? Bem, aí a história começa a tomar rumos diferentes, sempre negados pelos chefes dos quadrilheiros, em especial o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu.
     Vejam mais uma das muitas e incontornáveis vigarices retóricas usadas pela defesa dos mensaleiros: o PT tinha tanto para oferecer, mas precisava fazer empréstimos para pagar suas contas. Só mesmo um idiota acreditaria em uma versão tão simplória e mal-alinhavada.
     Fica óbvio - e essa é a teoria da Procuradoria-Geral da República, respaldada por documentos irrefutáveis - que o dinheiro vinha dos cofres públicos, atravessado pelo Bancos Rural e BMG, com a participação do publicitário marcos Valério, que 'esquentava' a grana mediante contratos fictícios com o Governo.
     Em síntese, o esquema era esse: o Banco do Brasil pagava por serviçlos que jamais seriam feitos e as empresas de Marcos Valério repassavam os recursos - tirando sua parte, é claro! - ao PT. Foi assim que o probo partido do presidente pagou suas despesas de campanha (com dinheiro roubado), as campanhas de partidos amigos, a fidelidade nas votações no Congresso e, de quebra, forrou bolsos particulares companheiros. Essa gente chama isso tudo de 'caixa 2', um crime - é verdade -, mas sem a menor importância e que, por coincidência, está prescrito.
     Mas Lula não sabia de nada. José Alencar, pelo que sempre se soube, sabia de tudo. Mas ele, vice-presidente da República!!! - depois de amargar um câncer brutal, morreu. Seu nome batiza o túnel da Grota Funda, trecho da TransOeste inaugurada recentemente, no Rio.
     Essa turma merece cadeia, mesmo.

Pagando o pato, nas bombas

     Quando me dei conta, o marcador de combustível (na verdade, o alerta para o fim próximo do combustível) acendeu. Parei por ali mesmo, na Rua Pinheiro Machado, quase em frente ao Fluminense. Entreguei a chave do tanque ao funcionário e só aí olhei para o preço do litro da gasolina comum: R$ 3,04. É isso mesmo. Como não havia outro jeito, nem tempo para fazer pesquisa de mercado (não adiantaria muito, mesmo), completei o tanque e saí dali pensando no que eu faria se encontrasse alguém da Petrobras que falasse em disparidade de preços e necessidade de reajuste.
     Na verdade, há uma disparidade, sim, mas contra nós, infelizes consumidores compulsórios dos produtos desse monopólio estatal. E, aqui, cabe uma explicação: é um monopólio, sim, pois a Petrobras controla, de fato, todo o refino. Se alguém ainda não sabe, tomo a liberdade de lembrar que a gasolina vendida por todas as distribuidoras jorra da mesma fonte. Cada marca acrescenta seu toque pessoal, seu aditivo. Mas a base é a mesma.
     Em Nova Iorque - escrevi isso ontem, com base em informações públicas -, o litro da gasolina custa em torno do equivalente a R$ 2,00, sem os riscos do batismo que nos atinge. Os brasileiros que moram nas proximidades do Paraguai cruzam a fronteira para abastecer seus carros. Ostentamos - e essa a grande verdade - algo em torno da vergonhosa 13ª posição entre as gasolinas mais caras do mundo (estou repetindo dados já destacados em O Globo e aqui, no Blog).
     Ao contrário do que tentam nos convencer, nossa gasolina chega ao consumidor final por um preço absurdo. Se, ainda assim, provoca prejuízos a essa gigantesca fábrica de empregos e financiamentos companheiros, isso prova o quanto ela se tornou ineficiente nos últimos anos, ao contrário do que alardeava o marketing que partia do Palácio.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Voando com um mito

     Encontrei Jorge Amado, certa vez, na sala de espera do Aeroporto de Congonhas. Estava sentado, esperando meu voo para o Rio, quando notei a chegada de um grupo, discreto, que sentou exatamente em frente a mim. Levantei os olhos e confesso que fiquei emocionado ao reconhecer o escritor ao qual fui apresentado quando ainda era muito jovem, através da sua obra, estimulado por minha mãe, quase ao mesmo tempo em que me encantei por Machado de Assis e Aloísio Azevedo.
     Jorge Amado já não estava bem. Ao seu lado, irradiando simpatia, Zélia Gatai, e Paloma. Educadamente, nos cumprimentamos. Certamente não consegui disfarçar o ar de tiete - e nem me esforcei para isso.  Meu ídolo da juventude manteve-se calado praticamente o tempo todo, mergulhado naquele silêncio que o caracterizava. Quando anunciaram meu voo, notei que viajaríamos juntos. Eles, na primeira fileira.
     Já estávamos no ar há algum tempo quando não resisti e chamei a aeromoça. Perguntei a ela, delicadamente, se a tripulação sabia que Jorge Amado estava a bordo. A reação foi de uma quase indiferença. A jovem não ligou o nome ao mito. Insisti sugerindo que talvez fosse interessante o piloto destacar essa presença mais do que ilustre. Na verdade, presenças: Zélia era muito mais do que a esposa de um gênio.
     Descemos no Rio sem qualquer referência. Ainda vi a família ao lado da esteira, pegando as malas. Ninguém olhou para o lado.
     Contei essa história aqui, há algum tempo. Repito hoje, modestamente me associando às comemorações pelo centenário do nosso maior escritor do século 20.