quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Pelo menos a dengue é democrática

     Se há algo democrático nesse país é a dengue. Ela atinge quem mora na Zona Sul e nos cafundós da Zona Rural. Os mosquitos pairam acima do poder aquisitivo. Tanto estão nos lagos do Jardim Botânico como nos valões de Inhoaíba. Aqui na Pedra, eles voam livres leves e soltos, fazendo suas vítimas. Eu, por exemplo, passei boa parte dos últimos dois dias nas emergências de dois hospitais, acompanhando Isis. E pude comprovar que há, de fato, uma enorme epidemia na cidade.
     São crianças, adultos e idosos, arriados, com dores, com o sofrimento estampado. O vírus de 2013, como se podia prever, é mais resistente e forte do que os que o antecederam. O tratamento exige mais tempo em repouso absoluto, hidratação total e o acompanhamento da febre, quase sempre alta.
     O combate aos focos, no entanto, é cada vez menos consistente. Para ser coerente comigo mesmo, não posso afiançar que os 'fumacês' desapareceram de todos os bairros. Aqui da Pedra eles sumiram. Uma amiga e vizinha de condomínio, cujo marido está de cama, identificou um eventual foco e pediu providências. Prometeram atender em cinco dias úteis. Nessas 120 horas, quantas pessoas podem ser afetadas?
     Nos anúncios oficiais da tevê, entretanto, a cidade é um mar de rosas - para ser mais exato, um mar azul-turquesa, caribenho. Não há uma imagem sequer do Rio Piraquê, um valão poluído, receptáculo de esgoto, que corta a região e despeja suas águas fétidas na Baía de Sepetiba.
     O pólo de combate à dengue que funcionava no Posto de Saúde do bairro foi desativado logo após as eleições. Quem precisa de atendimento público é obrigado a recorrer à UPA de Sepetiba, absolutamente lotada, apesar da boa vontade dos funcionários.
 

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Um exemplo de liberdade

     Fico imaginando o que passa pela cabeça dos apologistas do governo de Cristina Kirchener ao ler que o jornal britânico The Guardian publicou uma entrevista com o chanceler argentino Héctor Timerman, defendendo a retomada das ilhas Falklands, que os argentinos (com alguma lógica) e alguns brasileiros (sem o menos sentido) chamam de Malvinas.
     Essa gente não consegue alcançar a dimensão da liberdade de informação, a amplitude da do conceito de democracia. Enquanto britânicos abrem espaços em seus jornais até mesmo para seus 'inimigos', os seguidores do 'kirchnerismo' fazem o que podem para calar a voz dos principais jornais do país, processam economistas que ousam apontar os números reais da inflação.
     Essa é uma das enormes diferenças entre países nos quais os direitos humanos estão sedimentados e republiquetas bananeiras, medíocres, dirigidas por pelegos, demagogos e populistas ignorantes. Infelizmente, esse é o perfil de grande parte dessa sofrida América do Sul, em especial.
     Liberto do jugo de ditadores assassinos, nosso continente caiu na mão de assassinos ditadores. Assassinos das liberdades, da verdade, da decência. Os lamentáveis governantes da Venezuela, Equador, Bolívia e Argentina, em especial, refletem o abismo político-ideológico em que esses países mergulharam, sob os aplausos e com o apoio lastimável do Brasil.
     Lamentavelmente, caminhamos em passo acelerado para o atraso.

Marcas da corrupção

     Segundo Veja, o governo brasileiro vem resistindo à proposta americana de impedir o trânsito de corruptos entre os países-membros do G-20, os que ostentam as maiores economias do mundo. O assunto, que conta com o apoio de outras nações, vem sendo discutido há mais de um ano por aqui, sem uma conclusão. Nosso governo, entre outras coisas, quer saber quem se enquadraria na proibição.
     A preocupação é absolutamente compreensível e cada vez mais atual. Essa interminável Era Lula vem produzindo levas de corruptos e quetais. De um momento para outro, se aprovada essa proposta, lideranças do PT e do PMDB, por exemplo, ficariam restritas aos territórios brasileiro e de outras republiquetas bananeiras, como Venezuela, Argentina, Equador e Bolívia, e ditaduras desprezíveis, como Cuba, Irã e Coreia do Norte.
     O conceito de corrupto - especialmente depois do julgamento do Mensalão do Governo Lula, o maior assalto institucional aos cofres públicos - sofreu uma ampliação. Roubar em nome da 'causa' deixou de ser visto como algo politicamente aceitável, como apregoaram os quadrilheiros petistas, com outras palavras , é evidente.
     O Governo brasileiro teme, claramente, que a visão internacional sobre corruptos e corrupção possa atingir o ex-presidente Lula, cuja participação direta na roubalheira denunciada pelo ex-deputado Roberto Jefferson está sendo investigada. Diferentemente do Brasil de hoje, em especial, países decentes não admitem comportamentos erráticos de seus dirigentes.
     Se fosse americano ou alemão, apenas para citar dois entre os 20 países mais ricos da Terra, Lula correria o risco de estar na cadeia há muito tempo. Em algumas repúblicas islâmicas, teria perdido a mão, ou a língua, quando confrontado com as mentiras, negaças e versões desencontradas que vem apresentando ao longo dos anos para explicar o inexplicável.
     Posturas como essa servem apenas para consolidar, no exterior, a convicção de que somos um dos países mais corruptos do mundo.

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Ondem estão os 'jovens socialistas'?

     Perdi algum tempo procurando - nas fotos que retrataram os protestos pacíficos e ordeiros contra a presença de Renan Calheiros na presidência do Senado - algum cartaz do PT, da CUT, da UNE ou de entidades assemelhadas. E houve manifestações no país inteiro. Nada. Não encontrei sequer um 'jovem socialista' a bradar, atirar cadeiras, gritar palavras de ordem, mostrar indignação.
     Imaginei que ainda devem estar cansados da operação de guerra desencadeada contra a blogueira cubana Yoani Sánchez. Não deve ser fácil cuspir tantas idiotices, demonstrar uma estupidez digna dos mais representativos fascistas de todos os tempos. A ignorância pesa. A vigarice ideológica atrofia. Nossa 'juventude socialista' deve estar estropiada e, possivelmente, infeliz.
     A canalhice patrocinada pelas forças do atraso - defensoras de ditadores assassinos e da censura - teve o efeito de um tiro no pé. O Brasil inteiro passou a conhecer a jovem cubana que ousa desafiar a ditadura mais antiga do mundo. A jovem que foi agredida, torturada e perseguida nos últimos anos - pelo crime de expressar opiniões contrárias aos poderosos - passou a ser reconhecida e aplaudida pela população, como hoje, no Rio. A intolerância foi derrotada.
     Alguns, no entanto, tentam resistir. Não discutem, por óbvio, as atrocidades cometidas pelos irmãos Castro. Os argumentos sobre o 'financiamento' da viagem e do documentário sobre a opressão foram demolidos pela realidade. Hoje, com a confirmação de que a hospedagem de Yoani no Rio foi oferecida pelos representantes hoteleiros, caiu mais uma aleivosia.
     Sem munições, alguns combatentes começaram a apelar para absurdos ainda mais sugestivos, argumentando - por exemplo - que enquanto Yoani está solta, Julian Assange, fundador do WikiLeaks, tem prisão decretada. Eu sei que chega a ser inacreditável, mas é verdade. No afã de manipular os fatos, muitos preferem esquecer que Assange é acusado de estupro, e não de divulgar notícias secretas.
     Como ele é de 'esquerda', seus crimes deploráveis são convenientemente ignorados. Nada muito diferente do que acontece com relação aos bandoleiros petistas condenados por corrupção e formação de quadrilha. Delculpem-me, mas preciso encerrar. Comecei a ter ânsias de vômito.

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Uma semana para esquecer

     A semana que hoje se encerra deveria ser apagada da nossa história, por vergonhosa, deprimente, abominável. Os exemplos de truculência e o desatino de 'jovens' desqualificados - como são antigos, carcomidos! - contra a blogueira cubana Yoani Sánchez estão entre os momentos recentes mais lastimáveis. O mal que esses arruaceiros fizeram ao Brasil é incomensurável. Fomos expostos ao mundo como um país onde prevelace o arbítrio, o desrespeito aos mais caros símbolos da democracia, entre eles o direito à liberdade de expressão. E tudo sob os olhos benevolentes - coniventes, talvez fosse mais correto - do esquema de poder que se instalou por aqui há dez anos.
     Não satisfeita em exibir um dos lados perversos da estupidez, do radicalismo inconsequente - ao agredir alguém que prega a liberdade e o diálogo -, nossa 'esquerda', com inegáveis tons fascistas, voltou a fazer a apologia do crime, ao renovar seu apoio incondicional aos bandoleiros petistas condenados pelo Supremo Tribunal Federal, por crimes que vão da corrupção à formação de quadrilha. Os anunciados arautos da dignidade chafurdam cada vez mais profundamente na lama.
     Analisados em conjunto, esses dois acontecimentos traçam o perfil mais aproximado do abismo moral em que a militância petista e assemelhada mergulhou, de braços dados - insisto - com a nossa lastimável camada de dirigentes. Nossa presidente, por exemplo, adotou definitivamente a cor vermelha nos seus modelitos, esquecida de que representa o universo nacional, e não apenas e tão-somente um partido político.
     Aliados do que há de pior no mundo - os governos cubano, venezuelano, iraniano, argentino e quetais - caminhamos velozmente para o limbo, condenados a um futuro que recende ao passado. Mesquinhos, vulgares e ignorantes, os líderes dessa Era flertam constantemente com o arbítrio, sonham com o dia em que nos transformarão em algo parecido com a ilha dos irmãos Castro.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

A caminho das trevas


     A desfaçatez com que petistas de todos os calibres atacam a dignidade nacional é inacreditável. A recepção festiva concedida aos quadrilheiros condenados pelo Supremo Tribunal Federal foi a grande marca da ‘festa’ pelos 10 anos de poder do partido, realizada quarta-feira, em São Paulo. Como destacou o deputado federal Roberto Freire, presidente do PPS, em um programa de entrevistas ontem à noite, na  GloboNews, o PT perdeu inteiramente o rumo. A ovação dirigida a José Dirceu e demais asseclas - “bandidos, criminosos” - foi apenas o exemplo mais recente desse descontrole.
     O desdobramento dessa insensatez, portanto, não surpreende.  As críticas proferidas pelo ex-ministro José Dirceu à Lei da Ficha Limpa são mais um marco do abismo moral em que o PT mergulhou e de onde, ao que tudo indica, não conseguirá emergir. Especialmente quando fica bem evidente que ele fala pelo partido, que há uma enorme unanimidade em torno da defesa do ilícito, do vulgar, do deplorável.
     A busca pelo poder absoluto contaminou definitivamente o partido, que já não disfarça sua vocação deletéria e sua opção pelo desatino, desde que apontem para bons resultados eleitorais. Não há vergonha pelos crimes cometidos ao longo dessa década. Eles sequer são admitidos. Os mentores e artífices do Mensalão – o maior assalto institucional aos cofres públicos e ao coração da democracia – são cultuados.
     Os sucessivos escândalos – e há uma lista interminável de episódios de corrupção em todos os escalões – são ignorados. A atual presidente não se acanha de comparecer a uma solenidade ao lado de bandoleiros. Do ex-presidente não se poderia esperar comportamento menos indigno. Lula é isso: um personagem incrivelmente ignorante e mentiroso. Alguém claramente desprovido de superego.
     A sórdida série de agressões à jornalista cubana Yoani Sánches – com o apoio implícito do Governo - exibiu o caráter fascista dos atuais detentores do poder e de seus seguidores. Essa é a verdadeira face do petismo. Uma seita que ignora os mais elementares conceitos de liberdade de expressão e insiste, como fez mais uma vez, na sua luta pelo controle da informação.  
     Por palavras e atos, o Brasil cada vez mais se parece com Cuba e Venezuela, dois dos mais destacados exemplares das trevas ideológicas.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

A alma petista

     O Estadão deu ao fato o merecido destaque, não tenho dúvida. Estou me referindo às comemorações do PT pelos dez anos no poder e, em especial, à fala do ex-presidente Lula, principal nome do partido. Segundo o jornal, ao sintetizar, no título, o que de mais importante ocorreu, "Lula desafia PSDB, diz que candidata em 2014 é Dilma e defende gestão 'pró-povo'".
     Nada a ponderar em relação ao discurso do ex-presidente. Seria inimaginável que ele fosse à festança aplaudir o desempenho do Governo Fernando Henrique Cardoso - fundamental para explicar o avanço brasileiro no campo social e econômico -, desautorizar a natural candidatura de Dilma à reeleição e atirar pedras na população.
     Eu estranharia se ele, Lula, tivesse a dignidade de apontar os acertos passados. Ou se demonstrasse coragem para assumir a responsabilidade do PT - já não digo a sua, em particular - no maior escândalo institucional da história brasileira, o assalto aos cofres públicos realizado no seu Governo, no episódio que ficou conhecido como Mensalão.
     Ao contrário, o PT, em mais uma oportunidade, festejou os principais artífices da roubalheira - pelo menos os que foram condenados pelo Supremo Tribunal Federal. Embora alijados da mesa principal, apenas para evitar as fotos ao lado da presidente e do seu antecessor, José Dirceu e outros bandoleiros receberam o apoio entusiasmado dos participantes.
     Também não se ouviu uma palavra sequer sobre a mais recente pilantragem protagonizada pela turma ligada à ex-chefe de gabinete da Presidência da República em São Paulo, Rosemary Nóvoa. Aliás, Lula só aparece em público em situações em que não seja confrontado com jornalistas. Desde que estourou o caso da venda de pareceres, intermediados por Rosemary - sua amiga íntima -, ele não abre a boca fora dos círculos petistas.
     A reunião de ontem, em São Paulo, foi uma síntese da alma petista.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Arruaceiros com 'pedigree'

     Aos arruaceiros de Recife e Feira de Santana, somaram-se, hoje, na Câmara, em Brasília, os asseclas dos bandoleiros petistas condenados pelo Supremo Tribunal Federal por corrupção e formação de quadrilha. E não foram, 'apenas', vagabundos comuns, como os que têm se manifestado, mas especialíssimos. Foram deputados e funcionários de seus gabinetes, em conluio para agredir o direito à expressão da blogueira cubana Yoani Sánchez.
     Celerados ideológicos, esses desqualificados - especialmente do PT e de seu capacho, o PMDB - cumpriram o papel deprimente a que se propõem diariamente: fazer coro ao que há de pior na política brasileira, em especial, e mundial. Boçais, deram as piores demonstrações de aversão à democracia, pela qual jamais lutaram. Foram grosseiros, ignorantes e mesquinhos. Não respeitaram, sequer, o fato de Yoani ser uma convidada de diversos de seus pares, entre os quais o senador petista Eduardo Suplicy (SP).
     A imagens e sons dessas manifestações irracionais e totalitárias - típicas de fascistas - já estão correndo mundo, exibindo a verdadeira face dessa gente que está no poder há dez anos. Não bastavam os escândalos protagonizados pelo nosso lamentável e desmoralizado Legislativo. Era preciso demonstrar que a estupidez e a intolerância não têm limites.
     E que não se ouse falar no direito à manifestação, inerente às democracias, pois ele pressupõe o respeito à liberdade do outro. Não é com gritos, empurrões, palavrões, puxões de cabelo e pontapés que se constroi o debate. É com ideias, algo que passa longe do alcance dessa massa ignorante e estupidificada.
     O Brasil, a cada dia sob o comando dos atuais detentores do poder, mais se amesquinha e deprecia. Mais se nivela a republiquetas bananeiras, mais se apequena. A cada dia, mais se parece com Lula, o mais ignorante e despreparado presidente que jamais tivemos.

Parabéns, PT!!!

     Tomo a liberdade de oferecer minha contribuição às comemorações dos 10 anos de poder petista. Algo singelo, mas que - imagino - tocaria o coração da militância. Estou falando de apontar um nome de expressão para cada um dos dez anos. Por exemplo: 2003 seria o Ano de Lula; 2004, o de José Dirceu, e assim sucessivamente. Seria o reconhecimento formal pela inimaginável contribuição de alguns personagens a esse período.
     Para não despertar ciúmes no 'bloco da base', só seriam indicados nomes com o DNA petista, o que exclui a presidente Dilma Rousseff, uma convertida relativamente recente; Paulo Salin Maluf; Renan Calheiros; e José Sarney, entre outros. Abaixo, apresento minha relação de personalidades que têm a cara da útima década, com uma pequena - mas sincera! - explicação para a escolha. Todos, como ressaltei, petistas de carteirinha.

Luis Inácio Lula da Silva - Apontado pelo bandoleiro mineiro Marcos Valério como um dos beneficiários do Mensalão. Entre outros feitos, nomeu a 'amiga' Rosemary Nóvoa - sua companheira de viagens - para chefiar a representação da Presidência da República em São Paulo.

Antonio Palocci - Ex-ministro. Envolvido na quebra criminosa do sigilo bancário de um simples trabalhador que ousou apontá-lo como participante ativo de bacanais em uma mansão às margens do Lago Paranoá, em Brasília. Ficou milionário prestando 'consultorias'.

José Dirceu - Ex-ministro e parceiro de Lula. Chefe da quadrilha de mensaleiros, condenado à cadeia pelo STF.

José Genoíno - Ex-presidente e atual deputado do partido. Bandoleiro também condenado.

João Paulo Cunha - Deputado federal. Quadrilheiro condenado. Mandou a mulher pegar R$ 50 mil no caixa de um banco.

Delúbio Soares - Ex-tesoureiro. Administrou a roubalheira no Governo Lula. Outro bandoleiro condenado.

Rosemary Nóvoa - Ex-chefe da representação do Governo em São Paulo. Envolvida na venda de pareceres e corrupção em geral. Viajou o mundo com o chefe (dizem que na cabine exclusiva), às custas do dinheiro público.

Erenice Guerra - Ex-ministra. Flagrada em atos desabonadores, não por acaso à frente da Casa Civil.

Gilberto Carvalho - Ministro de confiança (cota pessoal do ex-presidente Lula). Acusado pelos irmãos do prefeito Celso Daniel, assassinado quando iria denunciar corrupção no PT, de ser o carregador do dinheiro extorquido de empresas de ônibus do interior paulista.

Fernando Pimentel - Ministro e ex-prefeito de Belo Horizonte. É da cota pessoal da presidente Dilma Rousseff. Recebeu quase R$ 2 milhões de empresários mineiros por palestras que jamais proferiu.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Mesa 'farta'

     Sou obrigado a discordar de O Globo. Pelo menos do título da matéria sobre a reunião de amanhã, em São Paulo, quando o PT vai festejar seus 10 anos no poder. Segundo o jornal, o partido teve o cuidado de excluir mensaleiros e quadrilheiros da mesa principal, onde estarão sentados o ex-presidente Lula e a atual presidente, Dilma Rousseff, além desse lamentável Rui Falcão, presidente da agremiação.
     É verdade que os condenados José Dirceu, José Genoíno, João Paulo Cunha e Delúbio Soares estarão - a princípio - providencialmente em plano secundário, para evitar fotografias em que apareçam ao lado da candidata à reeleição e de seu mentor. Mas não concordo com a premissa de que não haverá mensaleiros à mesa. Pelo menos dois dos que lá estarão - Dilma e Lula - simplesmente não foram indiciados, mas participaram ativamente de tudo, direta e/ou indiretamente.
     E nada mais marcante para celebrar essa data do que a boçalidade dos seus militantes, expressa nas agressões à blogueira cubana Yoani Sánchez, com o indisfarçável apoio das lideranças 'progressistas' em festa. Ladravazes contumazes - nunca houve tantos casos de corrupção e escândalos em tão pouco tempo na história desse país -, agridem também a dignidade da Nação, com palavras e atos deploráveis.

A vanguarda do atraso

     Os vagabundos e celerados integrantes de diversas 'juventudes socialistas' (na verdade, quase todos petistas estúpidos - é uma redundância, eu sei - e assemelhados) continuaram agredindo o direito à liberdade de expressão da blogueira cubana Yoany Sánchez, crítica da ditadura criminosa - outra redundância! - liderada pelos irmãos Castro. Yoani responde a todas essas demonstrações de imbecilidade com a calma e os argumentos dos que defendem princípios que estão muito além do alcance dessa malta desqualificada.
     A cada xingamento e agressão física, mais fica evidente o caráter deletério desses combatentes da iniquidade ideológica, do atraso, da ignorância histórica, do sectarismo, da intolerância, da arbitrariedade. São os defensores da imposição de ideias (se é que podemos classificar assim seus grunhidos) a qualquer custo. São fascistas por natureza. Nazistas pelas práticas.
     O ódio que emana de suas manifestações é proporcional ao seu desajuste social. São incapazes de conviver com o contraditório, com as diferenças, com o respeito às liberdades essenciais ao homem. Em nada se diferem dos que propiciaram o surgimento dos movimentos mais degradantes da nossa história recente. Na China maoísta, queimariam livros, delatariam pais e irmãos, fariam julgamentos sumários de vizinhos e professores.
     Na Rússia stalinista, seriam ardorosos defensores do genocídio que marcou um dos períodos mais emblemáticos do regime comunista. Na Alemanha nazista, estariam na linha de frente do Holocausto. Hoje, defendem ditaduras como a cubana, a iraniana e a venezuelana. Contestam ideias com palavrões e pontapés. São o resultado de um grande processo de estelionato ideológico, de emburrecimento da nossa sociedade. São o fruto perfeito da enorme mentira montada pelos mentores do projeto de poder.
     Mal-formados, absolutamente ignorantes, esses arietes da demagogia barata e do populismo deletério representam bem o país com o qual os atuais governantes sonham. Não por acaso, nosso ministro das Relações Exteriores, o tal do Patriota, teve o descaramento de dizer que a vinda de Yoani ao Brasil deve ser saudada como uma demonstração da liberdade em Cuba. Nem uma palavra sobre a perseguição, ameaças, agressões, prisões e torturas sofridas por ela ao longo dos últimos 20 anos.
     Ele e essa súcia se merecem.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Yoani e os desordeiros

     A democrata e blogueira cubana Yoani Sánchez, crítica contundente da ditadura cubana (a mais antiga do mundo!), em poucos minutos, deu uma aula de respeito à diversidade e ao contraditório, mesmo sendo atacada (chegou a ser agredida fisicamente) por um bando de vagabundos e desqualificados ao desembarcar em Recife, onde fez escala para Salvador.
     Aos desordeiros, que se diziam de uma tal de União da Juventude Socialista - tão moços e tão decrépitos! -, respondeu, segundo o Estadão, com uma frase que deveria ficar entalhada na cabeça oca desses apoiadores de ditadores e assassinos. Segundo ela, a manifestação foi "um banho de democracia e de pluralidade".
     - Isso é algo que não vejo em meu país. Gostaria que houvesse essa liberdade no meu país. Com insultos, estou acostumada. Tenho a pela curtida contra xingamentos. Isso não me machuca. Na ausência do argumento, há o grito. Isso é cotidiano na minha vida", disse aos repórteres que se acotovelavam no aeroporto de Guararapes.
     Ao chegar a Salvador, pela manhã, foi hostilizada por outra súcia, mas manteve a dignidade que vem marcando sua vida há tanto tempo. Uma dignidade que sobreviveu a violências muito maiores - ainda mais ignominiosas -, em Cuba. Yoani já foi presa, espancada, submetida a tortura e obrigada a se despir na frente de agentes da ditadura. Sua família também é rotineiramente vítima de abusos oficiais.
     Até agora, não houve - pelo menos eu não li - um aceno seque de defensores dos 'direitos humanos' em apoio a blogueira, uma vítima constante de abusos. Ao contrário: esses vagabundos que agrediram Yoani são o retrato mais bem acabado do pensamento dominante no governo brasileiro e nos grupelhos que gravitam em torno do PT.
     A demonstração de estupidez ideológica já era esperada. Veja já havia denunciado que havia uma orquestração destinada a agredir Yoani, comandada pela embaixada de Cuba, com a participação de um representante oficial do governo brasileiro. Até um dossiê com ofensas à blogueira teria sido preparado para ser distribuído por essa gente.
     Yoani está no Brasil a convite, para participar de debates sobre liberdade. Não sabe se poderá voltar ao seu país.

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Um Rio sem fantasias

     Um pedaço daquele Rio que não é apresentado aos astros estrangeiros viveu na sexta-feira passada um dia da mais absoluta vergonha, indigno, bárbaro. Estou falando, mais uma vez, da comunidade São José Operário, na Praça Seca, uma espécie de 'porta dos fundos' de Jacarepaguá.
     Há alguns dias, relatei aqui o drama dos moradores, vítimas de uma violenta tentativa de reocupação por parte de traficantes expulsos da própria comunidade e de outros bandidos desalojados de outras regiões 'pacificadas'. Entregue à própria sorte, a maioria decente de moradores viu-se novamente aterrorizada pela presença de jovens alucinados, portando armas de vários calibres e ameaçando recuperar o terreno perdido em uma guerra com milicianos.
     Após alguns embates, houve um intervalo tenso, quebrado violentamente na madrugada de sexta-feira, com um tiroteio que perdurou por várias horas, entre traficantes e milicianos novamente organizados. Pela manhã, o saldo estava exposto na rua principal da comunidade: os corpos de dois jovens, ensanguentados, atirados no meio-fio.
     Essa cena macabra, que se tornou aterradora com o passar das horas e com os efeitos do calor, durou o dia inteiro. Todos os que saíam para trabalhar ou simplesmente para ir a uma padaria ou mercado eram obrigados a esbarrar com os corpos, já cheios de insetos.
     O Estado só apareceu no fim do dia, apenas e tão-somente para recolher os despojos, num procedimento semelhante ao da coleta de lixo. O pavor ficou por lá. Várias famílias fecharam suas casas e saíram do lugar. Outras estão sem saber o que fazer: largam tudo, perdendo investimentos de anos; ficam e enfrentam a ameaça de uma bala perdida; ou - o que já foi prometido - o peso da vingança do grupo expulso e que tenta recuperar terreno?
     Essa é uma história verdadeira, cruel. Um retrato fiel da vida sem o glamour do Rio da fantasia.

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Marina ficou no muro


     Começa mal o novo partido político brasileiro - o Rede Sustentabilidade - lançado formalmente hoje pela ex-senadora e ex-ministra do Governo Lula Marina Silva (é o 31º ou 32º, não sei bem). Claramente disposta a não bater de frente com a presidente Dilma e seus ex-companheiros de PT, Marina saiu-se com uma pérola do 'encimadomurismo'. Segundo ela - e o Estadão reproduziu -, a nova legenda "não será de oposição, nem da situação". Só faltou completar com o "muito pelo contrário", para garantir o tom burlesco.
     Lembrou, por proximidade, o discurso do presidente do PSD, o ex-prefeito paulista Gilberto Kassab, quando da fundação do partido: não seria de direita, de esquerda, nem de centro. Marina seguiu a mesma fórmula genérica. Quer se apresentar como opção, mas sem contestar, denunciar, apontar as enormes incoerências desses dez anos dessa lamentável Era Lula, recheada de escândalos e denúncias.
     Embora apontando essa indefinição política, reconheço na ex-senadora atributos que não consigo enxergar em outros políticos também candidatos ao Palácio do Planalto, incluindo a atual ocupante. Marina Silva tem uma história pessoal irretocável e pode ser apontada, sim, como um exemplo de superação e determinação.
     Por sua independência e postura digna, foi afastada do governo Lula e do PT, o que conta favoravelmente. Falta a ela, no entanto, mais definição. A bandeira ecológica, necessária, é insuficiente para compor o perfil fundamental à disputa pelo mais alto posto da Nação. Dizer-se "diferente", como ela fez referindo-se ao novo partido, é pouco.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Tudo pelo poder

     Onde se lê 'encontros e debates sobre a próxima reforma ministerial' - nos nossos jornais e assemelhados -, entenda-se 'manobras para manter os arranjos e negociatas destinados à eleição do ano que vem'. Em nenhum momento estará em avaliação o aprimoramento dos serviços e políticas administrativas de interesse real do país. Tudo se resume a um par de questões: manter ou ampliar - se possível (e sempre é 'possível') -a enorme base de apoio e garantir a reeleição da presidente Dilma Rousseff e dos aliados, a qualquer custo. Custo que é pago, invariavelmente, por todos nós.
     É assim que se faz política em quase toda a parte, mas especialmente por aqui, onde a compra de partidos e parlamentares é uma instituição. O mérito, o currículo e o histórico dos ocupantes e postulantes a cargos no primeiríssimo escalão não importam nesses momentos. Tanto faz se é um incompetente de carteirinha, ou um vigarista vulgar. Os nomes atendem às cotas distribuídas entre as agremiações que seguem o Governo.
     Os ministérios e grandes diretorias normalmente são entregues de 'porteira fechada', com direito a uma infinidade de nomeações de apaniguados. Quanto maior o partido, mais verbas para manipular, mais exposição. Quantos votos vale uma ponte ou um pedaço de estrada mal-asfaltada? Sem falar na retribuição que sempre acompanha a realização de obras.
     Um dos casos em evidência, hoje, é a provável mudança de comando no Ministério do Trabalho, entregue ao deputado Brizola Neto, do PDT, em maio passado. Por trás das negociações, surge, altaneiro, o presidente do partido, Carlos Lupi, aquele mesmo que saiu do ministério acusado de uma série de irregularidades; que ameaçou a presidente; recuou; declarou seu 'amor' em público. É com Lupi que Dilma negocia pessoalmente, indiferente aos fatos absolutamente desabonadores da conduta de seu ex-auxiliar. Lamentável!
     O PMDB, como o maior fiador e parceiro do Governo, quer fazer valer seu prestígio, ainda maior em função das ameaçadoras presenças do governador pernambucano Eduardo Campos (PSB) e da ex-senadora Marina Silva nas eleições presidenciais, dois concorrentes capazes de disputar a mesma faixa de votos com a presidente Dilma.
     Nesses momentos, aumenta o poder de negociação da turma períférica, que não pretende sair da sombra do poder, como PMDB, PDT, PSD e outros menos votados, como o PP de Paulo Maluf, o grande parceiro do PT em São Paulo.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Mistérios da 'avenida'

     Eu sei que pouco entendo de desfiles, escolas de samba e assemelhados. Mas ainda sei contar de um a dez, ou pouco mais. Sei também que o oitavo lugar entre doze concorrentes é um resultado pífio, em qualquer modalidade. Do cuspe à distância ao tiro ao alvo. E, aí, surge uma indagação que não quer calar: como é que uma escola que fica em OITAVO lugar ganha o prêmio maior de um jornal como O Globo?
     Só posso imaginar que seja mais um dos muitos mistérios insondáveis desse nosso mundo, muito além da minha compreensão. Algo transcendental, só absorvido por seres especiais, dotados de sensibilidade acima dos demais mortais.
     Enfim, vai haver festa pelo menos na Rua Irineu Marinho, em frente ao número 35.

O papa e o 'Bolinha'

     Jamais faltara à sessão da 'Vida de Cristo', obrigatória nas sextas-feiras da Paixão do Cine Lux, o 'Bolinha', o único (*) do subúrbio de Marechal Hermes, naquelas decadas de 1950 e 1960. Fazia parte do meu ritual - ou do ritual que surgia naturalmente na vida da garotada suburbana. Até que decidi que não iria - tinha meus 10 ou 11 anos. A Igreja já não me atraía, mas minha consciência pesou por muito tempo. Optei pelo futebol e custei a me perdoar.
     Desde então mantenho um relacionamento distante, mas respeitoso, com a religião (qualquer uma). Fui praticamente vizinho da Igreja de Nossa Senhora das Graças, em Marechal. Morei na mesma rua - Capitão Rubens -, a não mais de 150 metros, por 21 anos. A 'missa dominical das seis' passou a seu uma referência para rapazes e moças marcarem seus encontros.
     Ao longo da vida, fui sendo apresentado às enormes contradições das religiões em geral, a Católica Apostólica Romana em especial. Mas consegui, naturalmente, colocar os dramas e tragédias sob uma perspectiva crítica pragmática. Embora tenha sérias restrições a diversos posicionamentos do Vaticano, continuo encontrando fatores muito positivos no trabalho social desenvolvido ao redor do mundo.
     Há pedófilos, sim. Há avarentos e ladrões comuns, como em todos os segmentos da humanidade. Mas o projeto espiritual, a luta pela paz e o resultado das ações excedem, com sobras, os desencontros. A renúncia de Bento XVI surge, também para mim, como uma rara demonstração de desprendimento.
     Não comungo com as teorias conspiratórias e apocalípticas que pipocam aqui e ali. Acho desprezíveis as alusões ao 'passado nazista' do ainda papa. A redução da discussão sobre os motivos da decisão papal me parece simplória e - especialmente aqui nesse mundo petista - contaminado pela cegueira ideológica.
     Será que é tão difícil acreditar que um homem - é isso mesmo, o papa é um homem! - com 85 anos, doente e fragilizado decida renunciar a um cargo de tanta relevância, justamente por se sentir incapacitado fisicamente para exercê-lo?
     É evidente que há pressões políticas no Vaticano, mas elas sempre existiram. Um homem forte física e espiritualmente conseguiria contorná-las. Não é o caso de Bento XVI, como ficamos sabendo. Abatido, optou pela saída mais difícil, o que despertou meu respeito por ele.

    (*) Nos anos 1960, Marechal ganhou um novo cinema, o Santa Emília. Durou pouco. Há muito tempo o velho Bolinha foi comprado pela Universal.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Batuques e mandingueiros

     Passo longe de batuques, foliões e assemelhados há muito tempo. Não acompanho desfiles e não dou a menor importância para quem ganha, perde, sobe ou desce. Meu carnaval perfeito é aquele em que eu não escuto bumbos e cuícas. Mas minha relação com o 'período momesco' já foi diferente, admito. Quem me conhece mais de perto não pode imaginar que, algum dia, cometi o desatino de fazer a cobertura de escolas de samba do então primeiro grupo. Na verdade, o desatino partiu de quem me escalou para tal tarefa, há quase 40 anos, quando eu ainda era um jovem e estusiasmado repórter especial de O Globo.
     Para ser fiel aos fatos, fui escalado para acompanhar e avaliar não apenas uma, mas seis escolas. É isso mesmo: as seis mais importantes da época (no futebol, seriam os times grandes) mereceram um repórter exclusivo cada e - é claro - espaços maiores. A meia dúzia de 'times pequenos' ficou comigo. Pelo menos isso.
     Embora não acompanhe, é evidente que ainda sou bombardeado com informações sobre os desfiles, mesmo tentando evitá-las. Foi assim que eu soube que algumas escolas iriam apresentar enredos sobre a Coreia do Sul, Alemanha, gente famosa e novelas da Globo. A princípio, pensei que fosse uma piada. Não era. Isso aconteceu e ainda vai acontecer aqui no Rio, na Marquês de Sapucaí.
     Se ainda tivesse alguma paciência para olhar a tevê, ela acabaria definitivamente. É inacreditável que uma das ditas expressões culturais brasileiras seja submetida a um vexame desse porte. Não chego a ter saudades do tempo em que os temas nacionais eram obrigatórios, embora tivessem rendido alguns dos melhores momentos do carnaval. A diversidade e abertura são fundamentais em qualquer criação. Mas, assim, é demais.
     Coreia do Sul - perdoem-me os que mais entendem da folia e de seus mistérios e discordam - não dá samba, jamais. Assim como a odisseia do "PIS, Pasep e Funrural" também não deixou saudades. Sem ter visto, imagino que tenha sido (ou será) uma vergonha. Se fosse consultado, não teria a menor dúvida em sugerir o rebaixamento da 'alemãozada' toda para desfilar na Intendente Magalhães, em Campinho.
     PS: O epiódio da cobertura especial que fiz em alguns desfiles me remeteu a uma passagem marcante da minha vida 'jornalistica'. Eu ainda estava no O Jornal e fazia de tudo um pouco, incluindo chefiar a reportagem, editar Cidade e cobrir férias de secretários. Em uma das minhas tardes de plantão, o chefe da oficina avisou que não poderia rodar o segundo caderno, pois faltava o horóscopo. Nosso especialista em astros morava em Niteroi e, por algum motivo, que não lembro, não mandou o texto, como fazia naturalmente. Não se cogitava em colocar um 'calhau' (anúncio da casa) para cobrir o buraco. O horóscopo tinha lugar reservado. "Eu resolvo", anunciei. Ato contínuo, produzi um guia completo para os nascidos sob a influência de todos os signos do Zodíaco. Ninguém reclamou.

domingo, 10 de fevereiro de 2013

Histórias de Júlia e Pedro (55)

Delivery  inusitado

   Pedro é bem levado - ainda bem! E não perde oportunidade para fazer uma graça, falar bobagens. Há algum tempo, entrou na fase 'escatológica' mais comum nos meninos do que em meninas. Adora usar e abusar de algumas palavras, como cocô e assemelhadas.
     Ontem, em meio a uma exibição de saltos e cambalhotas, ouviu-se uma sequência de 'flatos'. Sem conter o riso, a avô questionou, em tom de blague:
     - Pedro, o que foi isso?
     A resposta veio de imediato, com a criatividade que ele sem demonstra a todo tempo:
     - Três puns, um extra e outro para viagem. Cinco puns!
     Foi uma gargalhada geral. Pum para 'viagem'.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Momentos de reflexão

     Épocas especiais na nossa vida, como a que começamos a viver hoje, com a entrega da 'chave da cidade' ao Rei Momo, mexem com minhas inquietações, incompreensões, dúvidas. É inevitável. De repente, me vi esbarrando em uma questão que me acompanha há alguns anos, sem uma resposta convincente: por que a Coca-Cola tirou do mercado a Cola Lemon Light?
      De um momento para o outro - ainda lembro! -, minha bebida favorita sumiu das prateleiras do mercado. 'Assim como veio, partiu, não se sabe para onde'. Confesso que fiquei órfão. A Lemon entrara na minha vida para substituir sua irmã mais velha, original e com o açúcar que eu decidira cortar, a contragosto.
     Essa passagem já tinha sido difícil, dolorida e deixara marcas profundas, especialmente na barriga. Minha relação com a Coca-Cola original era integral, absoluta. Mais de uma vez cheguei a levantar de um restaurante ao saber que não servia minha bebida preferida. Eu era fiel aos meus princípios. Nada de Pepsi ...
     Pressionado pelos botões das calças, em especial, que teimavam em não querer fechar, e quando já não via esperanças, prestes a entregar minha silhueta aos azares da sorte, descobri a Lemon Light. Aquela Coca que os garçãos sempre ofereciam ("com gelo e limão?") e ... light. Foram bons tempos de descobertas, prazeres. Eu era feliz, e sabia.
     Um dia, sem aviso, ela desapareceu. É verdade que eu já notara alguns sintomas. Já não era tão fácil encontrá-la. Quando ela chegava, eu arrebatava o estoque, como garantia. Dividi minha inquietação com uma amiga, que também se rendera aos encantos da Lemon. Cheguei, no desespero, a escrever para o distribuidor, questionando o desaparecimento.
     A resposta foi cruel, pois não entrava nos motivos: ela estava "descontinuada". Até hoje, quando tenho uma recaída e peç
o a velha Coca e o garção pergunta se quero limão, sinto uma dor.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Ética e PT, nada a ver ...

     Acho engraçado que alguém ainda se assuste com o descaramento do PT, partido que há muito tempo deixou de ter qualquer resquício de dignidade. A manobra mais recente, para tentar assumir o comando da Comissão de Ética da Câmara - e, assim, tentar salvar os mandatos dos quadrilheiros condenados pelo Supremo Tribunal Federal -, é apenas e tão-somente mais uma atitude indigna, entre as centenas registradas nos últimos anos, em especial nessa inenarrável Era Lula.
     O deputado federal e bandoleiro João Paulo Cunha, por exemplo, presidiu a Comissão de Justiça e Constituição, mesmo tendo sido flagrado levando dinheiro do esquema de corrupção instituído no Governo Lula. Tenho lembrado, em algumas oportunidades, que o eterno ministro Gilberto Carvalho, com assento na sala ao lado da presidência, é acusado de ter sido o carregador das propinas que o PT cobrava de empresas de ônibus de cidades do interior paulista, a bordo de seu Fusca. Acusado pelos irmãos do prefeito de Santo André asassinado em 2002, Celso Daniel, do mesmo partido, e não por algum 'direitista'.
     O tonitroante ministro da Educação, Aloísio Mercadante, tem, no seu histórico recente, o envolvimento com a quadrilha que negociou dossiês falsos sobre líderes do PSDB, os 'aloprados'. O convenientemente esquecido ministro do Desenvolvimento e muitas outras coisas mais, Fernando Pimentel (sumiu do noticiário!!!"), recebeu de empresários mineiros, uma fortuna por palestras que jamais fez. O ex-ministro José Dirceu, chefe dos quadrilheiros (subchefe, para muitos) é unanimidade no PT.
     E Dona Ideli, a que comprou duas dúzias de lanchas em uma empresa do seu estado quando era ministra da Pesca? Coincidentemente, as lanchas jamais entraram na água e a empresa era doadora de sua campanha à governança de Santa Catarina. E Antônio Palocci, José Genoíno, Delúbio Soares. Sem esquecer o atual líder do Partido, o deputado federal José Guimarães (CE), o chefe do sujeito pego com dinheiro na cueca etc etc.
     Esse é o perfil do partido dominante, sempre disposto a lutar as piores batalhas, as mais indecorosas. Podem ter certeza quer nenhum deles fica ruborizado ou deixa de dormir em paz em função dessa briga pela presidência da Comissão de Ética.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Os 'Gomes' voltam a atacar

     Mais uma da família Gomes: o irmão de Ciro Gomes e governador do Ceará, Cid Gomes (PSB), está pensando em representar, no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), contra o procurador da República no Estado, Oscar Costa Filho. Como todo cacique político, ele não admite contestação de seus atos, especialmente quando são claramente perniciosos.
     É o caso da escandalosa contratação da cantora Ivete Sangalo para se apresentar na inauguração de um hospital, em Sobral, 'sua' cidade, pela módica quantia de R$ 650 mil. O absurdo foi denunciado pelo procurador, que luta pelo ressarcimento, em benefício do Estado.
     O pedido foi negado, a princípio, em primeira instância, pela juíza de uma vara federal, sob a alegação de conflito (o dinheiro saiu dos cofres estaduais). O procurador insistiu e o governador lançou a ameaça.
     Esse tipo de gente não tem escrúpulos em avançar no dinheiro público em benefício próprio. Usa o dinheiro da população em iniciativas destinadas a angariar votos, comprar o apoio, especialmente, das camadas mais desinformadas. Merece o desprezo.

Um sopro de lógica

     Afinal, um sopro de lógica na Câmara. Depois de ter deixado no ar a possibilidade de um confronto com o Supremo Tribunal federal, no caso da cassação do mandato dos quadrilheiros condenados no julgamento do Mensalão, o novo presidente da Casa, Henrique Alves (PMDB-RN), retrocedeu, segundo as informações dos nossos principais jornais, entre eles o Estadão.
     Agora, depois de ter se reunido com o ministro Joaquim Barbosa, Alves afirma que não haverá embates com o Judiciário e que o procedimento na Câmara será "rápido". Com isso, fica - teoricamente - afastada a possibilidade de a decisão do STF ser levada a plenário, como defendia o ex-presidente, o petista Marco Maia, companheiro de partido de três condenados (João Paulo Cunha, José Genoíno e José Dirceu), dois deles (Genoíno e João Paulo) deputados no exercício do mandato.
     Antes assim. O enfrentamento não interessa à democracia. Apenas atende aos interesses do PT e às determinações emanadas pelo ex-presidente Lula, que insiste em contestar a decisão do Supremo, que condenou - por tabela - a prática instituída no seu governo.
     Embora passível de críticas, a decisão do STF, pela perda do mandato por condenação colegiada transitada em julgado (o que ainda não ocorreu), é definitiva, pois cabe a ele - Supremo - interpretar as nuances da Constituição. O duelo legal, entre os que interpetram os artigos da Constituição que tratam do tema, é saudável, sim. Mas a decisão é irrecorrível. Afinal, cabe ao STF dar a última palavra em questões constitucionais.
     Sendo assim, findo o prazo para recursos (ainda há a possibilidade, mas eles não deverão ser aceitos) e após a publicação das sentenças, à Câmara caberá, apenas, formalizar a cassação, num processo burocrático, e não colocá-la em votação.
     Bom para o País, que não correrá o risco de assistir ao vexame de uma eventual 'absolvição' dos bandoleiros. Não podemos esquecer que o voto seria secreto.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Prefeito legaliza a ilegalidade

     Acabei de saber, em O Globo, que esse tal de 'alvará' é - ao contrário do que eu imaginava - uma bobagem. Nosso prefeito decidiu que bares, casas de show e similares podem funcionar sem o documento, bastando que atendam a três ou quatro exigências de segurança. O alvará ficará para depois, "para não prejudicar o lazer e o turismo", segundo ele.
     É inacreditável o que a compulsão pelo populismo faz com nossos dirigentes em geral, Eduardo Paes em especial. Todas as suas reações miram as colunas sociais e assemelhadas, sempre com a preocupação de ficar bem na 'foto'. Quando interessa, ele esquece que é o gestor dessa cidade, que não pode compactuar com transgressões.
     Se um estabelecimento não tem o alvará de funcionamento, não pode funcionar. Simples assim. Ou vamos abolir essa exigência e transformar o Rio num grande camelódromo, onde qualquer um abre sua barraca em qualquer lugar. O resto é vigarice.
     Esse jabuticaba legal nasceu na reunião entre o prefeito, o secretário de Estado e Defesa Civil e comandante do Corpo de Bombeiros, coronel Sérgio Simões, e "empresários da noite carioca", aquele turma que ganhava dinheiro sem cumprir com as obrigações, pondo em risco a segurança dos clientes, e que teve suas casas fechadas.
     O acordão prevê que todos poderão requisitar a reabertura, desde que façam alguns ajustes. A legalização, único meio de gerar responsabilidade, fica para mais tarde. Como é que, depois disso, a Guarda Municipal terá autoridade para perseguir algum vendedor de mate na praia?

Mudam apenas as moscas

     É evidente que o enredo seria mantido. O peemedebista Henrique Alves, novo presidente da Câmara, e o petista Marco Maia, seu antecessor, ostentam o mesmo perfil: eles têm a cara da desfaçatez que vem corroendo o poder Legislativo especialmente nos últimos anos dessa inacreditável Era Lula. Um e outro defendem o indefensável, o confronto com o Supremo Tribunal Federal, abrindo brecha para uma possível, sim, preservação dos mandatos dos bandoleiros condenados por corrupção e formação de quadrilha no julgamento do Mensalão.
     Maia, com a arrrogância que caracteriza os despudorados, despediu-se da presidência com um discurso ofensivo, provocador. E não falou apenas por ele mesmo, é claro. Externou o pensamento dominante no seu partido e, por consequência, no próprio Governo. Repetiu o mantra entoado pelos asseclas dos bandoleiros, dando a ele - mantra - um verniz de defesa do Legislativo. Pura vigarice retórica.
     O que ele e seus companheiros querem é desmerecer o STF, transformar um julgamento claro e absolutamente transparente em algo contraditório. Essa turma, que roubou os cofres públicos, não tem o menor constrangimento em esboçar as teorias mais estapafúrdias para desacreditar os juízes da nossa mais alta Corte, único empecilho ao avanço do 'vale-tudo ideológio' destinado a perpetuar o atual esquema de poder.
     Maia, assim como o presidente do PT, o quase inigualável Rui Falcão, dá voz ao que o ex-presidente Lula e seus mentores pensam, mas não têm coragem de dizer, temendo o impacto negativo inevitável gerado pela defesa de condenados. O papel vagabundo de porta-vozes da ignomínia é sempre assumido por algum obreiro menos qualificado. No Governo, por exemplo, essa tarefa cabe aos 'ministros' Gilberto Carvalho (assuntos 'internos') e Marco Aurélio Garcia, quando o tema remete à política externa.
     Henrique Alves, embora reticente, mostrou que está coerente com o que a parceria PT/PMDB espera dele.

     PS: O PSDB escolheu a dedo seu representante no comando do Senado: o senador paraense Flexa Ribeiro. Justamente alguém que é acusado de beneficiar uma empresa de sua propriedade e que responde a processo no STF. Nunca tantos se mereceram tanto.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Dilma e os "picaretas"

     Já foram 300, segundo o ex-presidente Lula. Trezentos "picaretas", disse ele, referindo-se, em especial, a 60% dos deputados federais. Hoje, de acordo com a presidente Dilma Rousseff, em mensagem enviada pela abertura do ano legislativo, o Congresso é uma vítima da incompreensão: "Nesse momento em que a atividade política é tão vilipendiada, faço questão de regustrar meu sincero reconhecimento ao imprescindível papel do Congresso Nacional na construção de um Brasil mais democrático, justo e soberano", destacou a presidente.
     Tenho dúvidas quanto ao domínio que eventualmente nossa presidente tem sobre a nossa língua. Seria vilipêndio apontar as manobras sujas realizadas nos bastidores; os acertos das bancadas; as trocas de favores; as negociatas em torno de emendas; o execrável espírito de corpo que perdoa criminosos pegos em flagrante; o uso abusivo de vantagens?
     É evidente que há exceções, em quase todos os partidos. Mas apenas confirmam a regra. A responsabilidade pela péssima reputação que recai sobre nossos congressistas é toda deles, que dão seguidas demonstrações de desprezo pelos anseios da sociedade.
     As mais recentes ainda estão repercutindo: as eleições dos presidentes do Senado e da Câmara, ambos (Renan Calheiros e Henrique Alves, respectivamente) atropelados por diversas acusações. Voltando um pouco no tempo, assistimos ao ex-presidente da Câmara afrontar o Supremo Tribunal Federal, em defesa de bandoleiros condenados à cadeia.
     A grande diferença entre o Congresso repleto de "picaretas" e o de hoje está na incorporação da imensa maioria pelo Governo. Os "picaretas" de então são a base que dá sustentação ao esquema de poder estabelecido pelo PT.

Um circo mambembe

     Uma notícia curta, em uma das seções de Veja, revela que o deputado federal mais votado do Brasil (mais de um milhão de votos!!!), o palhaço Tiririca (PR-SP) anda amuado, desiludido. Já estaria, até, decidido a não concorrer à reeleição em 2014. Talvez seja o resultado do aprendizado, desses dois anos passados em Brasília, ao lado de 512 outros parlamentares. Tiririca - você devem lembrar - construiu sua 'plataforma política' afirmando que não sabia o que um deputado faz no dia a dia.
     Pela disposição em voltar aos picadeiros, deve ter descoberto que seus novos colegas não têm a menor graça. Ou que não dão a menor confiança à opinião pública. Mal trabalham - de terça a quinta, quando muito -; empregam dezenas de amigos e parentes; viajam e moram de graça; recebem ajuda para comprar roupa; pagamentos extradordinários para cumprir a obrigação; e salários irreais. Raríssimos apresentam projetos dignos desse nome.
     Nos próximos dois anos, Tiririca será liderado pelo novo presidente da Câmara, o deputado Henrique Alves, do PMDB do Rio Grande do Norte, eleito com sobras, hoje, em primeiríssimo turno (teve 271 votos, quando precisava de 249 para sacramentar a vitória). Mais uma vez nossos representantes mostraram que não estão preocupados com a repercussão de seus atos.
     Na semana passada, o Senado deu o tom da 'renovação', ao reconduzir o senador alagoano Renan Calheiros, também do PMDB, à presidência da Casa, substituindo José Sarney. Nos dois casos, com amplo, geral e irrestrito apoio do Governo. Nunca PMDB e PT estiveram tão unidos, entrelaçados, coesos em torno do mesmo projeto de poder. Há uma perfeita identidade entre eles. Uma trama costurada pelo ex-presidente Lula, o artífice dos mais desprezíveis acertos realizados nos últimos 10 anos.
     Dos três Poderes da República, apenas um - o Judiciário - tem dado exemplos de independência, de vigor, inconformismo com a falta de escrúpulos que vem marcando a administração desse país. O Legislativo, com as recentes decisões, assumiu sua submissão e desimportância. Transformou-se em um circo mambembe.

domingo, 3 de fevereiro de 2013

O futuro ameaçado

     Enquanto o ex-presidente Lula - o mais despreparado e ignorante presidente da República de todos os tempos - mantiver o prestígio e o poder senhorial, o Brasil estará condenado à irremediavelmente à mediocridade. Pelo que se pode ler e constatar, estamos longe de superar esse período - essa 'Era' - de imoralidade política que já entrou no seu 11º ano.
     Embora fustigado por graves acusações (a mais recente envolve seu relacionamento com Rosemary Nóvoa Noronha, a ex-chefe de gabinete da Presidência da República em São Paulo) e prestes a ser indiciado por crimes cometidos durante seus mandatos, continua determinando os caminhos que são e serão seguidos pelo PT e partidos satélites.
     Com a desinibição de quem não tem limites - é um caso clássico, permito-me diagnosticar, de ausência de superego -, Lula não se acanha de constranger a atual presidente, deixando claro, a cada intervenção, quem manda e pretende continuar mandando.
     Calçado em seu indiscutível e inacreditável prestígio popular, reúne ministros, deixa vazar que orientou Dilma Rousseff; preside reuniões; determina como deve ser o enfrentamento com a Justiça; e, agora - segundo ratificam nossos jornais e revistas, entre quais O Globo e Veja -, está tratando da sucessão em São Paulo e de suas implicações na corrida presidencial.
     Partiu dele, também, a ordem para que o PT apoiasse integralmente as candidaturas do senador alagoano Renan Calheiros à presidência do Senado e do deputado potiguar Henrique Alves na Câmara. O PMDB, com sua atração irresistível pelo poder, é fundamental no projeto de Lula. Unidos, e contando com o apoio de duas dezenas de siglas de alugual, PT e PMDB (este último, um acessório de luxo) projetam um futuro de dominação.
     A veemente defesa de Renan Calheiros, feita pelo quadrilheiro condenado José Dirceu, foi uma evidência dessa interação. Dirceu fala pelo PT, que repete o discurso de Lula. Nessa tragédia, não há improvisos. Tudo é orquestrado e ensaiado para atingir uma plateia desavisada e alienada.  

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

'A carne e o sangue'

     Acabei de ler A carne e o sangue (Editora Rocco), mais um livro da escritora e historiadora Mary del Priori, a mesma de O príncipe maldito, sobre nosso quase futuro terceiro imperador. Centralizado na paixão avassaladora de D. Pedro I pela Marquesa de Santos (a paulista Domitila de Castro Canto e Melo), traça o perfil de um período determinante para a nossa história: as primeiras décadas do século 19. Uma leitura agradável, fácil - sem pretensões didáticas -, que nos remete não apenas às alcovas, mas aos salões e mexericos palacianos. Uma boa pedida para os dias de carnaval.
     Ao acompanhar a saga da princesa austríaca Maria Leopoldina, nossa primeira imperatriz, não pude deixar de associá-la - talvez pela proximidade da data - ao carnaval e a uma das melhores incursões do jornalista Sérgio Porto (Stanislaw Ponte Preta) no terreno da pura galhofa: o 'Samba do crioulo doido', no qual ele satiriza os sambas-enredo de sua época, obrigados a discorrer sobre um fato histórico. Os versos finais são definitivos: "Dona Leopoldina virou trem; D. Pedro é uma estação também'.
     Transcrevo, abaixo, para deleite geral, a letra, na íntegra:
"Foi em Diamantina
Onde nasceu JK
Que a Princesa Leopoldina
Arresolveu se casá
Mas Chica da Silva
Tinha outros pretendentes
E obrigou a princesa
A se casar com Tiradentes


Lá iá lá iá lá ia
O bode que deu vou te contar
Lá iá lá iá lá iá
O bode que deu vou te contar

Joaquim José
Que também é
Da Silva Xavier
Queria ser dono do mundo
E se elegeu Pedro II
Das estradas de Minas
Seguiu pra São Paulo
E falou com Anchieta
O vigário dos índios
Aliou-se a Dom Pedro
E acabou com a falseta

Da união deles dois
Ficou resolvida a questão
E foi proclamada a escravidão
E foi proclamada a escravidão
Assim se conta essa história
Que é dos dois a maior glória
Dona Leopoldina virou trem
E D. Pedro é uma estação também

O, ô , ô, ô, ô, ô
O trem tá atrasado ou já passou".

Atestado de incompetência

     Movidas pela dolorosa repercussão da tragédia ocorrida em Santa Maria, nossas autoridades foram compelidas a trabalhar. Aqui no Rio - como nos revela O Globo, em parcos quatro dias de fiscalização, foram fechados 127 estabelecimentos, entre teatros, lonas culturais, boates, bares e quetais. Há irregularidades em todas as esferas, públicas e particulares. Um cenário semelhante repete-se em praticamente todas as grandes cidades.
     Ainda abalados, tivemos a confirmação de que estávamos, todos nós, tão ameaçados quanto os habitantes da cidade gaúcha, graças ao evidente desprezo devotado às leis. Extrapolando, essa incúria é constatada em diversos outros segmentos de lazer e serviços, fruto - em muitos casos - da promiscuidade entre fiscais e fiscalizados.
     Não é crível que somente agora os responsáveis pela segurança da população tenham descoberto que essas dezenas e dezenas de locais não estivessem cumprindo as determinações expressas de segurança. Quase todos fazem parte do circuito anunciado e badalado em jornais e revistas.
     Esse número alarmante de intervenções é, na minha avaliação, um atestado de incompetência, de desmazelo. Foi necessário que ocorresse uma tragédia para os agentes da lei e da ordem cumprissem com suas obrigações. Como ocorre recorrentemente, somos movidos a tropeções.

Senado mostra sua cara

r     O Senado Brasileiro mostrou sua face à sociedade. A eleição do alagoano Renan Calheiros (PMDB) para a presidência da casa foi indiscutível, emblemática. Considerando-se o número de votantes (78), ele obteve praticamente 72% dos votos - 56!!!. Se levarmos em conta o colégio eleitoral como um todo (81 senadores), ficou com 'apenas' 69,1%. O anticandidato Pedro Taques (PDT) amealhou parcos 18 votos, já que dois se abstiveram e dois votaram em branco.
     É um resultado acachapante, principalmente quando o histórico recente do novo presidente do Senado aponta para tantas inconsistências. Renan foi obrigado a renunciar ao posto que volta a ocupar, em 2007, alvejado por uma bateria de denúncias que envolviam corrupção (a pensão de um filho fora do casamente era paga por uma empreiteira). Há pouco mais de uma semana, a Procuradoria Geral da República decidiu denunciá-lo ao STF por fraude - usou notas fiscais falsas para justificar receitas e despesas.
     Pedro Taques não conseguiu, sequer, a fidelidade total dos senadores que, em tese, compunham sua base eleitoral. Dos 22 votos 'certos' (cinco do PDT, 11 do PSDB, 4 do PSB, um do PSOL e outro do DEM, que teria quatro votos a ofececer), perdeu quatro, graças ao anonimato proporcionado pelo indecente voto secreto.
     Mais do que nunca nosso Congresso - o deputado Henrique Alves (PMDB-RN) será eleito presidente da Câmara na segunda-feira - reflete o Brasil da Era Lula.