quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

As sambadas do prefeito

     Não vou censurar definitivamente a influência dos jornais - da 'mídia' como um todo - na administração de municípios, estados e nações. Seria uma negação dos meus 40 anos de jornalismo, quase todos passados em redações. Os meios de comunicação normalmente reproduzem anseios, antecipam reações, denunciam comportamentos erráticos.
    Por tudo isso, encaro com certa normalidade que os dirigentes, em geral, se pautem, também, por manchetes. Nunca exclusivamente. Deve haver um mínimo de consistência e independência nos atos, no enfrentamento de problemas. Assim como deve prevalecer o bom senso de refletir e recuar, quando for o caso, sem vaidades.
     O problema surge quando administradores jogam para as arquibancadas, em temas mundanos, e se mostram inflexíveis em assuntos mais profundos, como vem acontecendo no município do Rio de Janeiro.
     Chega a ser constrangedor verificar que nosso prefeito reage prontamente a qualquer notícia publicada nas colunas mais conceituadas, ou está sempre disposto a criar um fato (factoide?) que gere algumas linhas, como o tal 'tombamento' do comércio de ruas do Leblon, uma bobagem sem o menor amparo jurídico, ou as sambadas na porta de um boteco da moda.
     Nada contra - por exemplo - a contratação do cantor Dicró para participar dos shows de fim de ano, no mesmo dia em que O Globo publicou um registro do artista, em cadeira de rodas, vendendo CDs na Cinelândia, e seu desabafo por se considerar "abandonado".
     Dicró é um personagem simpático a todos, com seu jeito de malandro, suas letras engraçadas. E até teria razão, sim, em lembrar que poderia ter sido escalado para a festa que vai acontecer no Piscinão de Ramos, praia que serviu de inspiração para algumas de suas composições.
     Lamento, no entanto, a adoção de medidas sem amparo da estudos lógicos, típicas de quem não conhece a cidade, como a adoção das faixas exclusivas na Avenida Rio Branco. A foto da primeira página de O Globo mostra bem o erro de avaliação: num dia atípico, é verdade, várias pistas vazias e um enorme congestionamento de ônibus, que deveriam se mover com mais rapidez.
     O problema, como diria um velho amigo, não está na baia, mas no burro. A justaposição de linhas deveria ter sido pensada paralelamente às medidas paliativas. Não é possível que tantos coletivos trafeguem pelo mesmo roteiro, ao mesmo tempo. A lógicas indica a adoção de sistema de transposição, como existe em relação aos trens e metrô. Em um dia comum, essa mudança vai transformar o Centro do Rio num caos absoluto.
     Um caos que pode se transformar num martírio - tudo parado, literalmente -, caso nosso alcaide insista no pesadelo de derrubar a Avenida Perimetral.

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