sábado, 3 de dezembro de 2011

Tragédia anunciada

     É difícil, até, imaginar a cena: mais de trinta mortos (entre 31 e 36, ainda não há conformação) em um acidente na BR-116, no Sudoeste da Bahia. São números de tragédia, capazes de impressionar a qualquer um. As vítimas, trabalhadores rurais que ocupavam um ônibus que foi atingido pelo choque entre um caminhão e uma carreta. Cortadores de cana, que estavam se dirigindo a uma nova área de trabalho.
     Mesmo de longe, sem ter visto o acidente (*), é possível presumir que tenha havido uma conjunção de fatores, todos adversos e, infelizmento, comuns em nossas estradas. Desgaste de peças, velocidade excessiva, transporte inadequado e o onipresente cansaço dos motoristas, uma das principais causas de acidentes.
     Obrigados a uma rotina desgastante, nossos motoristas entram nas estradas à base de estimulantes, incluindo bebidas alcoólicas nesse pacote. Fazem turnos inteiros sem dormir, até que o organismo não resiste e cede. Um cochilo ou um cálculo mal feito.
     Faltam fiscalização e compromissos com a vida, dois ingredientes que deveriam estar presentes em cada quilômetro de estrada. Motoristas mais antigos, como eu, que atravesso o Brasil há quase quarenta anos, certamente lembram do tempo risonho e franco em que os caminhoneiros eram parceiros nas estradas, dividindo experiências. Hoje, esmagada por prazos e dívidas, grande parte ignora as regras mínimas de civilidade, transformando-se em ameaças reais à integridade dos viajantes.

(*) No fim do dia, ficamos sabendo que o ônibus acidentado não tinha permissão para fazer essse tipo de transporte. E que a Polícia Federal acredita que a carreta causou o acidente, quando seu motorista perdeu o controle da direção. Tudo anunciado.

2 comentários:

  1. Vi reportagem de empresas que contratam os caminhoneiros e querem que eles façam a entrega em tantas horas,se esquecem de que eles precisam descansar,se alimentar direito. Muitos percorrem kilômetros cansados e acabam dormindo ao volante..o resto nem preciso continuar,já sabemos..

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  2. É uma soma de absurdos, Patrícia, que pune, quase sempre, inocentes, como esses trabalhadores.

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