quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

O coronel, o delegado e um juiz

     Não conheço o coronel da Polícia Militar do Rio de Janeiro Djalma Beltrami. Conheço de arquibancadas (e da tela da tevê) o ex-árbitro de futebol, péssimo, por sinal, como quase todos os que interferem em resultados e beneficiam times de maior apelo popular, com enorme desfaçatez.
     Em tese, pelo histórico, admiti que poderia haver, sim, comprometimento dele com criminosos, o que justificaria sua prisão. Não seria o primeiro - longe disso - nem será o último, certamente. Essa é a realidade com a qual convivemos e que nos assusta e enoja com uma recorrência indesejada.
     A relação promíscua entre policiais (sejam eles militares ou civis) e bandidos vem dando a tônica do noticiário mais recente, mesmo em situações em que - a princípio - haveria um comportamente exemplar, como na recente prisão de 'banqueiros' do jogo do bicho. Ficou latente, nesse episódio, que os grandes tiveram tempo de escapar, claramente alertados por alguém que sabia quando a 'caçada' iria começar.
     No caso de coronel Beltrami, no entanto, prevalecia uma interrogação, uma dúvida quanto à prática investigativa que levou à sua prisão. A evidência mais contundente da relação criminosa entre PMs e traficantes - uma escuta telefônica autorizada pela Justiça - não aponta, diretamente, para ele, embora haja indícios fortes. 'Zero Um', na linguagem dos quarteis, normalmente é o lider, o chefe, o comandante. Mas não obrigatoriamente.
     A precipitação do delegado responsável pelas investigações - ele poderia ter se municiado de evidências mais concretas - abriu a porta da cela onde estava preso o coronel comandante de um batalhão da PM que já está em destaque pelo envolvimento de policiais na morte da juíza Patrícia Acioli. Livre por força de um habeas corpus, Beltrami ganha músculos para usar, a seu favor, os argumentos do magistrado responsável pela sua soltura.
     Segundo O Globo, o desembargador Paulo Rangel, que estava de plantão no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, não fez por menos: afirma que houve "maldade" dos policiais da Delegacia de Homicídios de Niterói e que essa atitude "colocou, até então, um inocente na cadeia". Para arrematar: "Investigação policial não é brinquedo de polícia", criticou.
     Nesse episódio - mais um de uma série lamentável -, todos perderam.

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