sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Terrorismo de estado

     Imagino a inveja dos ideólogos e apaixonados pela Era Lula, que está completado nove anos. Com mais prestígio (percentualmente) e poder, o ex-presidente e seus mentores - entre eles o cassado José Dirceu, chefe da quadrilha do Mensalão que dilapidou o patrimônio público (segundo denúncia da Procuradoria-Geral da República) - não conseguiram o que a dinastia Kirchner, nossa vizinha do Rio da Prata, acaba de conquistar: avançar sobre a liberdade de imprensa, indiretamente, controlando a indústria de papel.
     Isso, sob o manto da legalidade, já que a proposta de transformar papel-jornal em 'insumo de interesse nacional' - algo mais do que simplesmente indecente - foi transformada em lei pelo Senado, de maioria governista. Segundo a Folha, que destaca o assunto, Cristina Kirchner e seus companheiros alegam que essa iniciativa destina-se a "democratizar" o setor, dominado pela empresa Papel Prensa, do grupo Clarin, de oposição.
     A partir de agora, o Estado argentino poderá controlar a empresa e, autoritariamente, decidir para quem vender o papel, na hora em que bem entender. Mais ou menos como já faz com a publicidade oficial, distribuída entre os amigos da Casa Rosada, como se fosse um dinheiro particular, e não algo comum. Algo semelhante ao que os regimes militares fizeram com o extinto Correio da Manhã, sufocado finaneiramente nos anos 1970.
     Na verdade - e isso é indiscutível -, o governo argentino deu um passo determinante na sua luta para calar todos os que não rezam pela sua cartilha populista e ousam fazer oposição à Evita versão anabolizada, à nova mãe dos 'descamisados', absolutamente caricata, com evidentes pendores autoritários e que professa uma política da época dos primórdios do peronismo.
     A ousadia do novo governo não tem limites. Seus arautos chegam ao absurdo de ameaçar enquadrar os opositores numa recentemente aprovada lei sobre antiterrorismo, para punir quem financie o terrorismo "direta ou indiretamente". Os jornais, com razão, temem que denúncias sobre a manipulação dos dados sobre a inflação, por exemplo, sejam enquadradas como crimes contra o governo.
     Em um país que se desse ao respeito, o atual governo seria o primeiro a ser enquadrado, por exercer o mais cínico terrorismo de estado.

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