quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Isonomia na falta de respostas

     Levando-se em conta o princípio da isonomia, não há como cobrar do ainda ministro das Cidades, Mário Negromonte, do PP (seja lá o que isso for), a ausência no depoimento que estava marcado para hoje, na Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara. Segundo o Estadão, Negromonte argumentou que tinha uma reunião no ministério.
     Nem interessa, no caso, o fato de a tal reunião, como noticiou o Estadão, ser uma desculpa esfarrapada. Ele não foi - e se sentiu bem à vontade para isso - porque o Governo está fazendo o possível (nada é impossível para esse pessoal de Brasília) para livrar o também ainda ministro do Desenvolvimento e outras coisas, Fernando Pimentel, do PT, de um encontro - no Congresso - com as interrogações que suas 'consultorias' provocaram no país.
     "Se ele não precisa se explicar, eu também não preciso. Afinal, somos ambos ministros de um mesmo governo", deve ter pensando com seus botões um dos legítimos representantes do PP nesse saco de gatos ideológico que nossos analistas políticos teimam em chamar de 'base governista'.
     Seria mais um exercício de diversionismo tentar justificar a fraude no parecer técnico que condenara um projeto viário em Cuiabá. A proposta condenada (o Veículo Leve sobre Trilhos) acabou sendo aprovada, por absoluta e gravada pressão oficial, o que aumentou o custo total em R$ 700 milhões. Como é que se explica algo assim, sem sair da audiência algemado? Não se explica, por isso ele não foi.
     Assim como não pode ser justificado o recebimento milionário (R$ 2 milhões) por umas vagas 'consultorias' prestadas pelo ainda ministro Fernando Pimentel num período de pouco mais de um ano, após deixar a Prefeitura de Belo Horizonte e antes de assumir, de fato, a coordenação política da campanha vitoriosa da presidente Dilma Rousseff.
     São situações tão inexplicáveis quanto recente frase da presidente, ao justificar o empenho do seu Governo na blindagem do antigo companheiro de lutas: "O governo só acha o seguinte: é estranho que o ministro preste satisfações no Congresso da vida privada, da vida pessoal passada dele. Se ele achar que deve ir, ele pode ir. Se achar que não deve ir, ele não vai", disse Dilma, sem corar.
     Não é por aí, presidente. Políticos, em geral, abrem mão dessa 'privacidade'. Principalmente quando a vida pessoal (com odor de privada) se mistura com a pública, como é claramente o caso. Ou alguém acredita que uma - digamos - 'conversa ao pé do ouvido', sem testemunhas ou propósitos, justifica pagamentos milionários oriundos de empresas e pessoas com interesse direto em contratos com a administração pública?

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