segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Vazou, ministro, vazou!!!

     Assisti, no Jornal Nacional, à entrevista da diretora (ou coisa parecida) do Inep, órgão responsável pela elaboração do exame do Enem. Fiquei impressionado. Acho que esse pessoal faz um cursinho de diversionismo antes de assumir postos em Brasília. A tal senhora, com um ar de ministra Ideli Salvati, confessou que as questões faziam parte de dois cadernos de um pré-teste, aplicado há um ano, mas que não houve vazamento.
     Não satisfeita, repetiu: "Não houve vazamento". Houve o quê, então? As questões saíram dos tais cadernos e, por osmose, em uma espécie de movimento passivo, surgiram diretamente nas apostilas de um determinado colégio cearense, exatamente iguais?
     Pois foi o que aconteceu, um enorme e absurdo vazamento. Vazou, cara diretora (ou algo semelhante), que essas perguntas seriam usadas no exame, como foram. E alguém aproveitou. Simples assim.
     Pode ter sido um vazamento qualificado, pago, comprado. É bem provável que tenha sido. Mas não resta a menor dúvida que a culpa é, mais uma vez, desse incrível Ministério da Educação, dirigido por um catedrático em bobagens (Fernando Haddad) que, oportunamente, saiu de cena, para não ligar sua 'imagem' de candidato à Prefeitura de São Paulo a mais uma estultícia.
     O resultado não poderia ser outro: a Justiça Federal cancelou, em todo o país, as tais 13 questões que vazaram, sim. Mais uma atuação vexaminosa dos apologistas do "nós vai" e do "a gente fomos".
     E antes que eu esqueça: que mediocridade dessa turma que produz as provas. Faz um pré-teste e repete, um ano depois, 13 questões. Bastava mudar o enunciado. Mas talvez seja pedir muito.

Marca da paixão, no futebol

     O futebol tem, mesmo, suas idiossincrasias. O exemplo mais recente é o do atacante Dagoberto, do São Paulo, um jogador acima da média nacional, sem a menor dúvida. Dribla bem, é rápido, sabe cabecear e chuta como poucos, especialmente da entrada da área. Essas habilidades, no entanto, parecem não ser suficientes para mantê-lo na equipe. Hoje, segundo jornais paulistas, o técnico sãopaulino, Leão, já admitiu que o atleta vai, mesmo, para o Internacional. Apesar de ser o artilheiro da equipe, no ano.
     É verdade que há algum tempo o relacionamento entre jogador e clube não é bom. Desde sua discussão com o antigo técnico, Paulo César Carpegani, sobre esquema tático, durante uma partida. Multado, Dagoberto começou apensar na mudança de clube. E pediu, para renovar o contrato, um valor acima do que o São Paulo estaria disposto a pagar. Como vai ficar livre de compromissos, Dagoberto aceitou a proposta gaúcha. Vai ganhar, no Brasil, perto de casa (afinal, ele é do Paraná), o que um jogador de sua idade (28 anos) ganharia no exterior: cerca de R$ 25 milhões por cinco anos.
     A mesma situação acontece com o atacante Kléber e o Palmeiras, que já não se entendem há algum tempo, e aconteceu, por exemplo, entre o Vasco e Carlos Alberto. Três jogadores com vaga certa em qualquer clube brasileiro, mas que não conseguiram contornar dissabores. Os que os tinham preferiram abrir mão, mesmo sem ter as peças de reposição. Mantê-los, certamente seria mais barato do que investir em uma contratação com o mesmo perfil. Assim mesmo, o divórcio foi inevitável. São as marcas da paixão.

A 'inocência' castigada

     "Sou inocente". A afirmação partiu do ex-ministro do Esporte, Orlando Silva, durante a posse do seu substituto, o deputado federal Aldo Rebelo, também do PCdoB, partido que se tornou dono dessa pasta. Segundo o noticiário, Orlando foi aplaudido entusiasticamente, além de ter merecido um afago da presidente Dilma Roussef, que disse confiar no ex-auxiliar.
     Tudo bem. O cabra não levou dinheiro, não ajudou seu partido a expropriar os cofres públicos, não viveu e conviveu com "bandidos", não assinou convênios escandalosos com ONGs não menos vagabundas. Em síntese: tudo o que o país sangrou nos últimos dias não existiu.
     Resta, então, a pergunta: por que ele foi demitido e saiu desmoralizado? Se não há - nem houve - 'malfeitos', Orlando Silva deveria ter sido mantido no cargo, sob pena de a presidente estar cometendo uma enorme injustiça, pensando, apenas, na capitalização de apoio para a imagem de alguém que não é condescendente com a corrupção. Qualquer das hipóteses é desabonadora.
     Se há algo de bom em todo o episódio que culminou com a 'expulsão' do ministro, surgiu agora, com a decisão do Governo de suspender todos os convênios suspeitos com as centenas de ONGs que exploram o dinheiro público. ONG boa é aquela que não vive dos nossos impostos. Se é para usar verba oficial, que sejam órgãos governamentais.
     Só espero que a análise das contas não seja feita por uma dessas ONGs.

Drummond e o 'canarinho'

     Ao ler na Veja sobre o Dia D, hoje, dedicado ao poeta Carlos Drummond de Andrade (por iniciativa do Instituto Moreira Salles, inspirado na data dedicada ao escritor irlandês Jaime Joyce), fui jogado diretamente no túnel do tempo e despenquei na editoria de Esportes do Jornal do Brasil, em 1982, logo após a derrota brasileira para a Itália na segunda fase da Copa do Mundo, por 3 a 2, no episódio que nós, brasileiros, batizamos de 'a tragédia do Sarriá'. A Copa acabou sendo vencida pelos italianos (3 a 1 sobre a Alemanha, na final).
     Todos nós estávamos preparados para fechar mais uma edição festiva. O Brasil vinha encantando o mundo com um futebol diferenciado, que contava com a arte de quatro grandíssimos jogadores: Zico, Falcão, Sócrates e Júnior. O resultado balançou a equipe de jornalistas, que era chefiada, aqui no Rio, pelo saudoso João Areosa, um personagem que marcou nossa crônica esportiva.
     Na época, Drummond era um colaborador ativo do JB. Areosa, em mais um momento inspirado, imaginou uma nova capa para o caderno que, naquele ano, conquistou o 'Prêmio Esso de Jornalismo': um texto do poeta, que gostava de futebol, sobre a derrota. Nasceu um poema: 'Perder, ganhar, viver', cujo título ilustra meu Blog. Um daqueles textos comoventes, mas que, ao fim, exortava o brasileiro a enxugar as lágrimas e voltar ao batente, que já era tempo.
     Coube a mim, nesse dia, ler, reler, eventualmente corrigir algum tropeço do poeta e 'fechar' a página, com o ótimo diagramador Ivani Yasbeck. A ilustração não poderia ter sido mais adequada: Drummond confortando um canarinho machucado, num traço do ótimo Chico, que abrilhantava o JB, nessa época ainda gloriosa.
     Foi o dia em que eu ousei 'copidescar' Drummond.

Uma vergonha para o país

     As ameaças à vida do deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ) envergonham o Brasil. Não se pode conceber que, nos tempos modernos, bandidos travestidos de policiais obriguem uma pessoa e sua família a deixarem sua cidade, seu país, para fugir, independentemente de o alvo ser um deputado ou uma vítima comum de esquadrões da morte.
     Marcelo, que se notabilizou pelo combate ao poder paralelo que se instalou nas comunidades, no vácuo deixado pela ausência do Governo e foi fonte de inspiração para o filme Tropa de Elite 2, vai viver amparado pela Anistia Internacional, por um tempo ainda incerto, num país mantido em sigilo.
     É a admissão mais cínica da incapacidade do Poder Público - em todos os escalões - em proteger o cidadão. Se um deputado, um representante da população, é obrigado a fugir, temeroso do que pode acontecer à sua família, em especial, o que se pode esperar quando o ameaçado é um um homem comum?
     Essa insegurança mais do explica a prevalência das quadrilhas de milicianos em toda a cidade do Rio, diversos municípios do estado e em outras regiões do país. É um poder paralelo, corrompido e corrompedor, capaz de todas as arbitrariedades para preservar os enormes ganhos proporcionados pela venda da segurança e demais serviços que o Estado não provê, como deveria, como é de sua obrigação.
     O Brasil acordou menor hoje, com essa notícia.

domingo, 30 de outubro de 2011

Omissões e desencanto

     O 'alastramento' da presença de milícias por 11 estados, atestado hoje por O Globo, não deve, nem pode, ser tratado, apenas, como um caso de polícia. O exemplo do Rio de Janeiro, talvez o mais gritante do país, está aí, para quem quiser avaliar.
     As milícias surgiram e assumiram a proporção que ainda têm graças quase que exclusivamente à omissão do poder público, que abandonou comunidades inteiras à própria sorte, nas mãos de traficantes e assaltantes.
     Num primeiro momento, a criação de milícias foi a resposta que essas comunidades deram ao desleixo das autoridades. Os grupos surgiram dos intestinos das localidades para preservar sua liberdade, seu direito a não estar subjugadas por bandidos, sua luta para não deixar seus filhos ingressarem nesse mundo quase sempre sem volta.
     Com o tempo - e não demorou muito -, esses grupos se transformaram em braços de políticos vagabundos, de policiais inescrupulosos. Eles - que deram 'nova' cara ao banditismo - enxergaram as enormes possibilidades de ganhos reais. E ocuparam o lugar dos que haviam eliminado, sugando seus vizinhos, assumindo a lei.
     Convivo com pessoas que são obrigadas a conviver com milicianos. Seus relatos não são os mais edificantes. Mas - e isso, infelizmente, alimenta essa indústria - são menos pavorosos do que os do tempo em que eram reféns do tráfico, por exemplo.
     Todos são unânimes, no entanto, em garantir que sonham com a presença eficaz do Governo, com o dia em que não terão que pagar para sobreviver, e não apenas nas visitas das vésperas de eleições.
     As milícias, eu não tenho a menor dúvida, são o produto mais acabado do abandono, do desencanto.

Histórias de Júlia e Pedro (24)

     À sombra do jameloeiro
    
     Eu tentei resistir. Desconversei, brinquei. Mas não houve jeito.
     - Você prometeu, vovô ...", lembrava Júlia.
     - É mesmo, você 'pometeu' ...", reforçava Pedro.
     A promessa? Brincar com eles na piscina. No dia anterior, escapei por pouco, alegando que já estava ficando tarde, que precisava fazer algumas coisas. Diante da possibilidade de esquecimento - confesso -, disse que mergulharia com eles no dia seguinte. Contava com a mudança do tempo, para desanimar a dupla. A água estava fria, eu sabia. E o vento ...
     - Você pro(o)meteu", repetiram os dois, em coro, já dentro da água.
     Imprensado, fui para o sacrifício. A água estava gelada, resultado da chuva da madrugada e do sol apagado. A alegria dos dois, que passaram a me disputar (nem o pai encarou essa 'fria'), no entanto, compensou. Ser avô também é achar água fria uma delícia.









Júlia e Pedro. Não é preciso dizer mais.





    Frases soltas.
     Nesses dois dias, Pedro, com a sabedoria dos seus quatro anos bem vividos, nos brindou com algumas frases que merecem ser repetidas. Vamos a elas:
     1) Sentado num banco sob o jameloeiro da casa: "Ficar na sombra de uma árvore e ler um livro é muito bom, vovô"
     2) Brincando com Cléo, sua amiga inseparável: "Ela está farejando a planta".
     3) Revivendo o passeio com a turma, ao Alto da Boa Vista, no sábado pela manhã: "Eu sou um menino mateiro".
     4) Ao ser 'convocado' para escovar os dentes e ficar sabendo que precisava bochechar, pois a pasta continha flúor, ao contrário da que usa em casa, que pode ser engolida: "Prefiro ficar com os bichinhos da cárie a usar pasta com flúor".
     5) Ao me 'ajudar' a acender as lâmpadas do quintal: "Nós somos parceiros, vovô".

sábado, 29 de outubro de 2011

Capacidade cognitiva

     No 'meu' tempo, estudantes ocupavam ruas, praças e reitorias para expor sua reação ao regime político que perdurou por quase 20 anos no Brasil. Já repórter, embora iniciante, participei dos acampamentos realizados na Praia Vermelha, de onde saíamos - eu e um grupo da liderança intermediária - para realizar atos no centro da cidade. Em muitas ocasiões, com a garotada escondida no carro de reportagem do já extinto O Jornal, na verdade uma Kombi, como já contei no ensaio 'Nariz de Cera'.
     Parávamos o carro, com a complacência do velho e mal-humorado motorista Walter, e em poucos minutos estava criada mais uma manifestação por liberdade. Eu sempre era o 'primeiro a chegar', nessas coberturas.
     Hoje, assistimos a um grupo de estudantes universitários ocupar o prédio de uma faculdade, na USP, para protestar contra a atuação da polícia, que prendeu três jovens que fumavam maconha. A 'liberdade' pela qual eles lutam, ao contrário das gerações anteriores, vai de encontro à lei, à Constituição. Seus ideais, lamento dizer, são proporcionais aos erros absurdos que expuseram em uma das faixas da ocupação.
     Não houve um grito, sequer, contra a corrupção que envergonha esse país. Não houve uma placa para lembrar o escândalo do Ministério da Educação. Nada disso. Os jovens da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas querem fumar maconha à vontade, no campus, na frente dos policiais que foram convocados para dar segurança a todos, depois de um crime ocorrido há alguns meses. Convocados - destaco - pelo Conselho Diretor da Universidade.
     Por acaso, ontem, li um artigo, no Estadão, acho, sobre os efeitos da maconha na capacidade cognitiva do usuário. Artigo sério, de pesquisadores ingleses. Talvez esses efeitos expliquem a dificuldade desses jovens em lidar com a lei e a gramática.

Saúde para errar

     A notícia sobre a doença do ex-presidente Lula (câncer na laringe) é lamentável, sob todos os aspectos. Ninguém, com um mínimo de consciência, pode deixar de se abalar. Lula, em quem só votei uma vez - no segundo turno contra Collor - e de quem me considero um crítico ferrenho, tem, ainda - e terá por muito tempo -, um papel importantísimo no processo político brasileiro. Que o tratamento seja leve e rápido. Para que ele volte a cometer todas as 'lulices' que eu aponto há muitos anos e que - espero - sejam, um dia, desmascaradas pela população. Nada melhor, para a democracia, do que ver a derrota política de um Lula forte, fisicamente.

Festa com chapéu dos outros

     Por definição, Organizações Não-Governamentais deveriam ser exatamente o que o nomenclatura sugere: entidades que não têm vínculo com o poder. Deveriam, como se esperaria, usar fundos particulares, doações e serviços voluntários para desenvolver projetos destinados à melhoria da vida em geral, em todas as áreas.
     À frente de algumas, como a Gol de Placa, por exemplo, os ex-atletas Raí e Leonardo, executam um trabalho que vem sendo considerado de qualidade, sem apelar aos cofres públicos. É o mínimo que se espera em situações como essa. Já nem falo da roubalheira em si, no desvio de dinheiro público para os cofres partidários e campannhas eleitorais, como vem acontecendo escandalosamente nessa Era Lula.
     Estou me referindo, apenas, às tais entidades que enriquecem seus mentores e ainda saem por aí "fazendo festa com o chapeu dos outros", com o dizia o pessoal mais antigo. Pois há os dois casos: uso de dinheiro público em projetos verdadeiros, mas que remuneram muito bem os executores; e o desvio quase total para as 'causas' partidárias e pessoal.
     Como tudo - ou quase tudo no Brasil -, as nossas ONGs ligadas a ministérios e políticos, com as exceções que justificam a regra, transformaram-se em intermediárias no processo de assalto às nossas riquezas. O político tal aprova uma verba para a entidade do seu estado e ela retorna, diretamente, em dinheiro vivo, mesmo, ou indiretamente, na forma de publicidade pessoal.
     As ONGs, como são postas, são mais uma das nossas jabuticabas, sem desmecer, com a lembrança, uma das nossas frutas mais saborosas.

Minha frase da semana

"Lamento por quem é intolerante, mais do que pelas vítimas. O intolerante não provou o gosto da fraternidade."

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Síria sangra diariamente

     O misto de presidente e ditador sírio, Bashar Al-Assad, tem dado ao mundo (incluindo árabe) indícios claros e diários de que vai resistir muito mais às revoltas do que os governantes alijados do poder desde o início do ano. O noticiário internacional de hoje é um exemplo claro do desapreço que Assad tem pela opinião mundial e pelo seu próprio povo.
     Segundo nos informam os principais jornais, entre eles O Globo, com base nas agências de notícias, as forças de segurança sírias mataram, somente hoje, pelo menos 40 manifestantes contrários ao regime. De acordo com cálculos da ONU, a revolta já teria provocado a morte de mais de três mil pessoas, em sete meses. Sem falar nas milhares de prisões, torturas e espancamentos.
     Assad sabe que a violência é sua única saída. Os exemplos estão aí, bem vivos - o principal, Muamar Kadafi, que está bem morto, deve estar aterrorizando suas noites e dias. Com o agravamento da crise e da mortandade, o governo sírio vem perdendo o limitado apoio que ainda tinha no mundo árabe que vem passando relativamente incólume por essas turbulências. Um mundo que tende a procurar uma troca menos traumática no poder sírio, mas dá sinais claros de que não pretende sucumbir com ele.

O gosto da fraternidade

     Notícias sobre discriminação, em geral, e racial, em particular - como as que estão estampadas nos jornais de hoje, ocorridas em Curitiba -, sempre me remetem às minhas infância e juventude em Marechal Hermes, subúrbio da Central do Brasil, entre Deodoro e Bento Ribeiro. Havia discriminação por lá, naqueles idos dos anos 1950/60?
     Não posso afirmar, com convicção, se esse desvio de caráter do homem coexistia com os campos de pelada, as brincadeiras nas ruas, a harmonia na escola pública (nunca vou esquecer os quatro anos passados na Escola Municipal Evangelina Duarte Baptista). Se havia, nunca foi tão grande a ponto de me marcar, de marcar algum momento.
     O subúrbio - pelo menos o meu, menor e mais calmo - era mais igualitário, ensinava, integrava. Vivi 20 anos da minha vida em um pedaço de Marechal Hermes, como já contei aqui. Essa quadra do bairro era conhecida como 'Portugal Pequeno' (por razões óbvias), fazia limite com a 'Favelinha' e ficava um pouco distante do 'Pombal', um conjunto de apartamentos populares. Tão populares quanto a casa de vila onde eu morava, ou as residências simples da Favelinha.
     Aos sábados e domingos, convergíamos - todos os moleques - para os campos do Navarro (que já não mais existe há muito tempo, e onde enfrentei, certa vez, Dario, aquele que acabou na Seleção Brasileira, o Dadá Maravilha, que por lá também morava) - e do União, hoje Botafogo. De segunda a sexta, a saudosa rotina da sala de aula, preenchida pela garotada de todos esses recantos citados e das três ruas 'ricas' do bairro: as antigas Sete, Treze e 1º de Janeiro.
     Já adolescentes, dividíamos - todos, naturalmente juntos - o passeio das tardes/noites dos fins de semana, na avenida principal do bairro (Avenida General Oswaldo Cordeiro de Farias).
     Talvez o aprofundamento das diferenças sociais e da deficiência das formações familiar e educacional venha pressionando e fazendo com alguns reajam com essa intolerância inaceitável. Lamento, mais por quem é intolerante, do que pelas vítimas.
     O intolerante não provou o gosto da fraternidade.

Não chamem esses universitários

     'Os policiais não são trabaliadores (???). São o braço armados (???) dos exploradores'.
     Vocês leram direito. Trabaliadores, assim , com a vogal i, no lugar do h; e braçO armadoS, em uma discordância total com as normas nem tão cultas da língua portuguesa. Pois essas duas frases estão na faixa que um grupo de 'universitários' da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP estendeu na porta do prédio onde esses jovens deveriam estudar e que está ocupado, em represália à atuação da Polícia Militar, que deteve três alunos fumando maconha. Uma atuação solicitada e aprovada pelo Conselho Gestor da Universidade, depois da morte de uma estudante no campus, em maio passado.
     As frases - exibidas em foto da Veja, para vergonha do país -, por si só, condenariam qualquer movimento universitário, em especial de jovens que deveriam zelar  pela língua. Se possível fosse, seriam motivo de revisão do vestibular que levou essa turma a ocupar bancos que deveriam ser destinados a quem quer, de fato, estudar. Analfabetos literais prestes a se formar em Letras, tornarem-se 'cientistas'. É um escárnio.
     Assim como foi um escárnio a posição assumida por um grupo de estudantes, que atacou os policiais solicitados por eles mesmos e queimou carros, na ânsia de libertar os três 'fumantes' detidos. Isso, em nome de uma posição tida como libertária e moderna, favorável à liberação das drogas. Nada contra ser favorável a qualquer coisa, inclusive essa liberação. Mas nunca a ponto de tentar impor, com a força, uma vontade que vai de encontro à legislação. E, no Brasil, algumas drogas são proibidas. Outras não, como o cigarro comum e as bebidas alcoólicas.
     Um policial não pode, por definição, coibir um delito e punir outro, a seu critério. E essa conversa de que a polícia é bandida etc etc é pura bobagem. Há, sim, policiais bandidos, assim como médicos que vendem receitas e assediam clientes, jornalistas que vendem o teclado e a alma e engenheiros que manipulam construções e as fazem desabar sobre nossas cabeças. Como há os corretos. E foram os corretos que cumpriram a lei, na USP, para onde foram designados, a pedidos.
     Leis são feitas e atualizadas nas câmaras, assembléias e no Congresso, refletindo, espera-se, anseios majoritários da população. Nunca a visão restrita e minoritária de grupos, sob pena de o caos se instalar irreversivelmente.


PS: Antes de ser tachado como inimigo da tal faculdade, lembro que passei não muitos, mas bons momentos nas velhas salas de aula do antigo IFCHs, no Largo de São Francisco, nos anos 1970.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Uma homenagem a um gênio

     A televisão nos mostra, eventualmente (menos do que seria desejável), que pode ser, sim, um veículo ao mesmo tempo de diversão e de cultura. Um exemplo recente desse poder aconteceu ontem à noite, na GloboNews, que nos brindou com um especial sobre Pixinguinha.
     Para quem conheceu e se encantou com ele, uma oportunidade de voltar ao passado e assistir a um dos maiores músicos brasileiros de todos os tempos, um gênio do tamanho (ou quase?) de Tom Jobim, a referência mundial brasileira.
     É impossível não ficar emocionado com a melodia e a história desse carioca do subúrbio de Piedade (como ele mesmo destacou, nessa colagem de vários momentos do especial) que, aos 11 anos, já tocava flauta. E que tocava piano, bandolim etc etc, além, é claro, de ter reinventado o saxofone brasileiro.
     Paralelamente, o programa apresentou trechos com Orlando Silva (o verdadeiro, o 'Cantor das Multidões', não essa cópia pecedobedista) e ... Elizeth Cardoso, a 'Divina', uma das minhas musas musicais, talvez a maior. E ainda pudemos ouvir e ver Elis Regina, Tom, Dorival Caimmy e, muito rapidamente, o sorriso de Ciro Monteiro. Senti falta de Nélson Gonçalves. Sua interpretação de Carinhoso (a letra é de João de Barro, normalmente esquecido) é única.
     Pixinguinha e Tom formam, ao lado de um tal Angenor de Oliveira, o Cartola (para mim, o maior de todos, em todos os tempos), a santíssima trindade da música brasileira.
     Ave!

Esporte de luto

     A morte de Luiz Mendes encerra um ciclo do rádio esportivo brasileiro. Antes deles, e ao lado deles, fazia parte dos domingos esportivos, que tinham Jorge Curi e Waldir Amaral; João Saldanha e Doalcei Bueno de Camargo; Orlando Batista e, bem mais recentemente, José Carlos Araújo. Na televisão, comandou por muitos anos uma mesa-redonda que incluía o genial Nélson Rodrigues e Armando Nogueira, entre outros apaixonados por futebol, entre os quais Saldanha. Sua maior virtude, além do conhecimento esportivo: a educação com que sempre tratava a todos. Um bom exemplar de gaúcho.

Mais do mesmo?

     O deputado Aldo Rebelo (PCdoB de São paulo), como estava previsto, foi confirmado no lugar do demitido Orlando Silva, no comando do Ministério do Esporte. Aldo, embora tenha sido contestado pelo Palácio no episódio da reforma do Código Florestal (seu relatório foi considerado favorável à agroindústria), tem um passado de lutas ao lado do PT.
     Foi ministro de Lula, ocupando o cargo que hoje pertence à ex-senadora Ideli Salvati, e teve alguns projetos, como deputado, considerados, no mínimo, polêmicos, como o que prevê adição de farinha de mandioca na farinha de trigo e o que proíbe estrangeirismos na língua portuguesa. Duas bobagens, às quais pode ser somada a criação da União da Juventude Socialista, seja lá o que isso for (temo que seja uma entidade destinada a formar brigadas para entupir portas de bancos ou atirar pedras em governantes imperialistas).
     Mas é inegável que tem um perfil sóbrio, reservado, bem ao estilo do velho partidão. Perdeu recentemente a indicação para ministro do Tribunal de Contas da União, vencido por Ana Arraes, filha de outro comunista ilustre e, certamente, um dos seus inspiradores. Ganha, agora, um ministério. No TCU, verificaria contas. No Ministério, esperamos que não deixe de verificar.
     Sua ligação com o passado recente da Era Lula, no entanto, me leva a crer que teremos mais do mesmo. Espero que esteja errado, que o ministro Aldo Rebelo resgate um pouco da dignidade solapada pelos seus antecessores.

A musa da Casa Branca

     Acabei de descobrir, lendo O Globo, que tinha uma coisa em comum com o ex-ditador e terrorista líbio Muamar Kadafi, morto e sepultado, para o bem do mundo e dos seus compatriotas, em especial: uma certa admiração pela ex-secretária de Estado Condoleezza Rice.
     Sempre me impressionei com a personalidade, a presença forte, a segurança, capacidade de liderança e determinação dessa mulher que foi, durante os oito anos do contestado Governo Bush, uma das personalidades mais importantes do mundo.
     Embora reticentes em atacá-la - seria 'politicamente incorreto', pois, afinal, ela é negra -, os inimigos do 'império' sempre relutaram, no entanto, em destacar, independentemente de avaliações político-ideológicas, a presença marcante dessa mulher em qualquer lugar onde estivesse. Ela tinha - ainda tem, mesmo fora do poder - essa capacidade de ofuscar os que estavam à sua volta. No caso do chefe, isso acontecia naturalmente.
     Pois Condollezza está lançando um livro de memórias sobre os oito anos passados no centro do mundo: 'No higher honor', que pode ser traduzido como 'Não há honra maior', ou algo semelhante. Nele, ela descreve o que classifica de 'obsessão' de Kadafi por ela, a quem homenageou com a música 'A flor negra da Casa Branca' e uma coleção de fotos ao lado de líderes mundiais.
     Com seu modo arrevesado e distorcido de ver o mundo e seus atores, bem ao seu estilo, o ex-ditador expressava uma admiração que as nações que o apoiavam negavam à sua musa. Mesmo ela não tendo os requisitos mundanos que ele exigia das mulheres que o cercavam e serviam. Condoleezza, não podemos esquecer, formou-se em Ciências Políticas antes dos 20 anos. Aos 21 era mestre e, aos 31, recebeu o título de doutora.

Para a antologia do futebol

     Já disse algumas vezes, e repito: prefiro deixar as análises esportivas para a turma que vive o dia a dia do futebol, certamente mais bem qualificada, como Lédio Carmona, Marluci Martins e Paulo Júlio Clements (dos três, só não tive o prazer de trabalhar diretamente com Marluci, mas dividimos tribunas esportivas). A goleada aplicada pelo Vasco, ontem (8 a 3), pela Sul-Americana, me 'obriga', no entanto, a atropelar essa decisão pessoal.
     Nem tanto pelo placar, construído sobre um adversário medíocre, o boliviano Aurora. Mas pela extrema beleza de alguns lances, a exibição de liderança de Juninho e a ressureição de um atacante, Alecsandro.
     O gol do jovem Bernardo, o primeiro do jogo, merece estar em qualquer antologia do futebol, pela plasticidade, rapidez de raciocínio, poder de definição. Os dribles na zaga - com direito a toque entre as pernas de um e a um giro sensacional sobre a bola, que desmontou outros dois zagueiros - e o chute forte, direto, sem a menos chance de defesa, construíram uma das jogadas mais belas do ano, digna - sem favor - de um Lionel Messi.
     Naquele mesmo gol, há muitos e muitos anos (11 de setembro de 1988), num jogo com a Portuguesa de Desportos, Vivinho fez algo semelhante, em beleza plástica: três 'lençois' no zagueiro Capitão e um chute certeiro. Na época, mereceu placa em São Januário, retirada pelas inconstâncias políticas que assolaram o clube. O gol de Bernardo - que ainda marcou mais um, 'apenas' bonito, está nessa categoria: merece, ao menos, que fique passando, indefinidamente, em vídeo.
     Juninho, aos 36 anos e voltando de uma contusão, também exibiu a categoria de um líder natural da equipe, além de enorme visão de jogo, passes perfeitos e um gol, seu quinto desde a volta (cobrou um pênalti não muito bem, mas a bola, sua amiga e companheira, entrou). Foi decisivo em todos os momentos, em especial quando a torcida e até alguns atletas se colocaram contra Alecsandro, que perdera um gol incrível e proporcionara o empate (1 a 1) dos bolivianos.
     Juninho pediu calma e, claramente mostrou a todos que o momento não era de cobranças, mas de apoiar. Ainda no primeiro tempo, o futebol deu razão a ele: Alecsandro fez dois gols e deixou de fazer outros dois por acaso. No segundo, deu um passe perfeito para o quarto gol. Saiu aplaudido, com direito a grito de guerra da torcida.
     Esse Juninho sabe das coisas!

Um mundo bizarro

     O Brasil e os brasileiros, em geral, vivem num mundo estranho, bizarro, onde tudo pode e nada acontece, não necessariamente nessa ordem. Pensem bem: em que planeta ou galáxia um governo é obrigado a se desfazer de cinco ministros em apenas 10 meses (uma incrível média de um a cada dois meses!), todos acusados de corrupção, e nada , nada mesmo, acontece?
     Pois nesse nosso paraíso tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza, a manchete da Folha on line de hoje versa sobre taxa de desemprego. No Estadão, o tema mais sensacional é a operação policial que prendeu 35 pessoas em sete estados. No O Globo, o destaque permanece com o escândalo no Ministério do Esporte, mas levando o foco para a possível escolha de Aldo Rebelo para assumir a pasta. O mesmo Aldo que, há poucos meses, foi alvo de estocadas da 'base governamental', por defender posições diferentes das do Governo, no caso da legislação de meio ambiente.
     A presidente, chefe desse imbróglio todo, sequer falou sobre o tema, poupada de confrontos complicados com os jornalistas, ontem, em Brasília. Como se fosse uma entidade à parte, sem responsabilidade pelos desastres administrativos do seu governo, Dilma Roussef paira acima dos malfeitos. Nem sim, nem não. Muito pelo contrário. E segue em frente capitalizando os efeitos dos programas sociais e a boa maré nos negócios internacionais. Afinal, a natureza nos fez pródigos em produtos essenciais ao mundo que está crescendo.
     O ministro impoluto de ontem, defendido pelo onipresente ex-presidente Lula, saiu para provar que não deveria ter saído - que ironia, que agressão à inteligência das pessoas. No seu lugar, provisoriamente, ficou o imediato, como se nada tivesse com o que vem acontecendo. Como o desmoralizado PCdoB tem lugar cativo nessa bizarrice, conquistou o direito de manter o controle sobre todos os projetos que irrigam ONGs amigas e cofres ainda mais fraternais.
     E assim segue o Brasil, galgando com raça e determinação os postos de nação mais corrupta do mundo.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Para 'lavar a honra'

"Talvez seja a brecha que o Governo espera para pedir a renúncia de Orlando Silva, para que 'ele-possa-se-defender-melhor-das-acusações-e-provar-sua-inocência'"
Frase extraída do texto 'Nas malhas da Justiça', de ontem, aqui no Blog.

     Não foi preciso muito esforço para antecipar, com facilidade, a frase que seria dita e assinada pelo agora e finalmente ex-ministro do esporte, Orlando Silva (PcdoB). Esse modelo de 'saída com a cabeça erguida ' tem sido recorrente no atual governo - foram cinco 'pedidos de demissão' irrevogáveis, em 'defesa da honra'. E, em todos, o mesmo complemento: a presidente apoiou o demissionário até o fim.
     Não havia como ser diferente. Os ministros são dela, escolhidos por ela. Ou, pelo menos, aceitos por ela. Portanto, a responsabilidade é toda dela, presidente, e desse mundo político deletério que convive com composições e fecha os olhos à corrupção, em nome de um projeto de Poder.
     Os 'malfeitos', eufemismo muito usado pelo Governo quando se refere à corrupção institucionalizada, são minimizados, tratados com pusilamidade. Basta lembrar que todos os acusados de corrupção no atual governo estão por aí, livre, leves e soltos. O pedido de demissão é entendido como uma absolvição, como um passe livre, um perdão que a sociedade costuma dar aos mortos.
     A eles, mortos e ministros demissionários, é dado o beneplácito da dor pela 'perda maior'. As acusações desaparecem, os indícios de maldades somem, são eliminados dos 'obituários'. Uma semana depois, o distinto público sequer lembra o nome dos defuntos políticos, em especial. Até que - no caso dos governos - algum descontente, alguém que perdeu alguma coisa, ou quer alguma coisa, procure nossas revistas e jornais para contar o que sabe.

Cariocas e javaneses

     O Globo destaca mais uma reportagem sobre o comportamente deletério do carioca que está ao volante. Ele corre mais do que deve e avança sinais fechados, constata a repórter Taís Mendes. É verdade. Mas não fica nisso: o afável carioca fecha cruzamentos, joga porcaria pela janela do carro, anda na contramão para evitar um retorno e ganhar alguns segundos, usa pistas seletivas no limite, arranca pelo acostamento para driblar engarrafamentos, estaciona em vaga de deficiente, cola na traseira de ambulâncias, escuta 'música' no som mais alto possível etc etc.
     Fora do carro, esse mesmo carioca joga lixo nos rios e córregos; emporcalha as praias; fala ao celular, em público, como se estivesse no aconchego da sua privada; fura filas (se é 'famoso', então ...); se deixa subornar, ou suborna; não respeita o direito do vizinho.
     Enfim: o carioca é um ente tão cheio de defeitos quanto um javanês, ou um senegalês, sem limites, sem educação. E com as mesmas qualidades. O resto faz parte de um mundo fantasioso, que é até agradável de se ler, mas está distante da realidade.

A morte premeditada

     Os legistas ingleses concluíram que a cantora Amy Winehouse morreu por ingestão excessiva de álcool, um acidente fatal. O laudo, técnico, por óbvio, deixa de relacionar as causas paralelas que levaram uma menina de apenas 27 anos a morrer progressiva e inapelavelmente nos últimos sete anos, pelo menos.
     Amy estava morrendo diariamente há muito tempo, vítima de um desastrado modo de vida, desnorteada, explorada de maneira abjeta por produtores, 'amigos' e uma mídia que sobrevive da miséria, que não teve, jamais, a dignidade de olhar para ela como apenas uma jovem - embora talentosa - que necessitava desesperadamente de apoio.
     Todas as lamentações posteriores tiveram, para mim, um gosto de demagogia, inescrupoloso. Cada desmaio em show, provocado por consumo de bebidas e/ou drogas, era apresentado como expressão de rebeldia, de arte, de inconformismo, de talento. Cada queda era exaltada como mais um passo na carreira.
     Quando Amy morreu - talvez por ter duas filhas mais velhas do ela -, fiquei consternado, sim. Não por ser fã de suas músicas, ou de seu talento artístico - na verdade, nunca fui. Mas por ver que o mundo sugou essa jovem, num homicídio anunciado e premeditado.
     Não, a jovem cantora inglesa não moreu acidentalmente, como atesta o laudo da necropsia. Ela foi assassinada, dia após dia, de forma meticulosa e cruel.

Sangramento desnecessário

     O ainda ministro do Esporte, Orlando Silva, sangrou até o fim. Nossos jornais já anunciam o que está previsto desde o primeiro dia: ele vai entregar uma 'carta de demissão' na qual deverá se defender das acusações, agradecer o apoio total da presidente e anunciar que vai provar, em todas as instâncias, que é um homem digno. Exatamente o mesmo script seguido pelos ex-ministros que foram defenestrados, antes dele, pelas denúncias de corrupção.
     Não há 'casco duro' que resista a tantas evidências de atos indignos, de tanta manipulação de verbas públicas, de enriquecimento ilícito, de promiscuidade com elementos desclassificados. Na história recente do país, só um político sobreviveu a uma avalanche de denúncias que soterraria qualquer mortal: o ex-presidente Lula, que se manteve no cargo e foi reeleito mesmo depois do escândalo do Mensalão.
     Mas Lula é um caso especial. Um caso que tem tudo para se transformar em referência para futuros estudos sociológicos. Orlando Silva, ao contrário, não tem carisma, não tem história política. É - era - um quadro partidário com boa formação, inteligente, articulado. Nada mais.
     Só sobreviveu à torrente de denúncias graças aos acertos que costuraram o apoio do PCdoB ao PT desde a primeira eleição de Lula. O partido vem sendo 'fiel' desde então, e cobrou por essa fidelidade, usando até mesmo o ex-presidente como interlocutor.
     Foi um desgaste desnecessário, com um fim previsível e anunciado, inclusive por mim, aqui nesse espaço, exatamente no dia 17 de outubro, no texto 'Na Marca do Pênalti'. Essa tragédia vem se repetindo à exaustão nessa prorrogação da 'Era Lula' e só dá mais força à fama de país corrupto que o Brasil cultivou pelo mundo.
    

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Nas malhas da Justiça

     Se não é inédito, é um caso raro, o que demonstra a força das acusações. Antes de Orlando Silva, recentemente, o Supremo Tribunal Federal investigou os então ministros da Casa Civil e atual presidente, Dilma Roussef, e da Justiça, Tarso Genro, que 'governa' o Rio Grande do Sul, no episódio de divulgação de dados sigilosos e manipulados de despesas do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e de sua mulher, Ruth, já falecida.
     O caso foi arquivado, até mesmo porque a presidente, na época, levando em conta a péssima repercussão do fato e a pronta reação provocada, pediu desculpas oficialmente e garantiu não ter participado da trama. A situação do ministro do Esporte, no entanto, é muito mais frágil, principalmente em função do teor das denúncias, encaminhadas pelo Procurador-Geral da República, Roberto Gurgel.
     O Tribunal de Contas e a Controladoria-Geral da União - segundo noticiam nossos principais jornais - terão dez dias para enviar todos os convênios sob suspeição firmados por Orlando Silva. A ministra Carmem Lúcia, responsável pela ordem, também exigiu que o Supremo Tribunal de Justiça encaminhe o inquérito que já existe, contra o ex-ministro da Educação e atual governador do Distrito Fderal, Agnelo Queiroz. Ela quer decidir se as duas investigações - contra Agnelo e contra Orlando - devem correr juntas, já que tratam dos mesmos temas: corrupção através de ONGs que tinham convênio com o Ministério da Educação.
     Além de rara, é uma situação, no mínimo, embaraçosa: um ministro e um governador sendo investigados formalmente por roubalheira. Talvez seja a brecha que o Governo espera para pedir a renúncia de Orlando Silva, para que 'ele-possa-se-defender-melhor-das-acusações-e-provar-sua-inocência'. E - quem sabe? - o momento de Agnelo passar o cargo.

     Antes de encerrar mais esse texto sobre escândalos da 'Era Lula', uma informação, que acabo de ler: a Polícia americana prendeu o 'empresário' brasileiro Roberto Ribeiro, apontado como o lavador do dinheiro arrecadado nos 'malfeitos' da Casa Civil, na época, sob o comando da demitida e protegida Erenice Guerra. O dinheiro da vigarice era depositado na conta desse sujeito, em um banco de Miami.

Eles não conhecem a cidade

     A cada intervenção desastrosa no trânsito, como a que está sendo realizada na Zona Portuária; a cada criação estúpida de faixas seletivas, como a da Avenida Brasil; a cada urbanização desencontrada com a realidade, como a que foi executada em Campo Grande; mais eu me convenço que essa turma da engenharia e projetos da Prefeitura, em especial, não entende nada de Rio de Janeiro, da sua gente, das suas especificidades.
     Dois dias, apenas, e o inferno instalou-se na área portuária, atingindo milhares de pessoas, atrasando negócios, poluindo e estressando. Será que ninguém avisou aos gênios que estão bolando as mudanças - bem interessantes, é verdade - que a situação na área é de caos, diariamente? E que qualquer redução ou modança, sem alternativas decentes, naturalmente levaria ao tumulto?
     Usar a Perimetral, que será destruída em parte, já era um desafio em condições normais de pressão e temperatura. Com interdições e desvios, o que já é ruim transformou-se em péssimo. Já imaginaram mais quatro anos assim?
     A seletiva da Avenida Brasil é outro exemplo, já antigo, de ignorância total do - digamos - 'espírito carioca' e da situação geográfica em geral. Ela fica na esquerda das pistas e todas - eu disse TODAS - as saídas para bairros ou rodovias ficam à direita. Isso quer dizer que TODOS os ônibus que saem do município do Rio, pela Brasil, são obrigados a cruzar três pistas de rolamento, pelo menos (exceto os que usam a Ponte, cujo acesso fica à direita).
     Num horário de pico, essa obrigação gera um retenção de trânsito quilométrica. Para tudo, em todas as pistas. Um percurso que poderia ser feito em vinte ou trinta minutos leva o dobro, pelo menos. Sem falar na falta total de civilidade dos motoristas que invadem a seletiva e saem pouco antes dos 'pardais' de fiscalização, aumentando o caos e pondo em risco a segurança dos demais. Isso acontece todos os dias, o dia todo. E fica por isso mesmo. E derruba a conversa fiada de privilegiar o transporte coletivo, pois, na prática, apenas pune os que seguem a lei. Será que nossos planejadores acreditavam que o motorista carioca iria respeitar a lei?
     Para encerrar - há diversos outros exemplos pela cidade -, uma referência à obra que alterou o acesso ao viaduto que liga os dois lados de Campo Grande. Antes, o trânsito já era um horror. Há algum tempo, transformou-se numa comédia pastelão.

Um jantar proveitoso

     Torci, até, para que o ex-presidente Lula respeitasse sua história, quando venceu a primeira eleição, em 2002. Não votei nele, não tinha esperanças, mas imagino, sempre, que todos devemos abrir corações e mentes quando olhamos para o bem maior. Mas jamais escondi - ao contrário, reafirmo isso todos os dias - que o ex-presidente, para mim, é a síntese do que há de mais medíocre e melancólico na política mundial.
     Um arremedo dos coroneis que vicejaram no interior brasileiro até a segunda metade do século passado. Aqueles, trocavam votos por dentaduras, criaram dependentes físicos e fisiológicos do seu poder. Lula - que é muitíssimo em retratado, hoje, em O Globo, pelo excelente historiador Marco Antonio Villa, da Universidade Federal de São Carlos - foi além, sem constrangimentos, sem pudores, sem respeito, principalmente, aos miseráveis que acreditam nele. Repito sempre que Lula, por ser desprovido de superego, não tem limites.
     Fiz essa abertura para reafirmar que, apesar das inúmeras divergências ideológicas, acredito que a presidente Dilma Roussef é um mal menor para o país - se comparada a Lula. Mais discreta, mais antenada com o mundo, pelo menos não tem envergonhado - por palavras e atos - a parcela da população que consegue distinguir entre política e politicagem.
     Por isso, sou obrigado a aplaudir a iniciativa de receber, hoje, no Palácio, para um certamente proveitoso encontro, o grupo de personalidades mundiais (The Elders) que está reunido no Rio. Dilma, nos relembra a Folha, vai jantar ao lado de Fernando Henrique Cardoso; do arcebispo sul-africano Desmond Tutu; do ex-presidente norte-americano Jimmy Carter; de Martti Ahtisaari, ex-presidente da Finlândia; de Gro Brundtland, ex-primeira-ministra da Noruega; e de Mary Robinson, a primeira mulher a assumir a presidência da Irlanda e ex-alta comissária da ONU para Direitos Humanos. Só estará faltando o ex-presidente sul-africano, Nelson mandela, criador do grupo, que está adoentado.
     É o tipo de reunião que só acrescenta, a qualquer líder mundial. Que a presidente absorva alguma coisa em visão de mundo; que amplie seu horizonte para além do sectarismo político do PT; que aprenda a encarar o cargo como uma entrega, e não como forma de perpetuar um projeto de poder. O Brasil agradeceria.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Um discípulo aplicado

     O ainda ministro do Esporte, Orlando Silva (PCdoB), está mostrando ter 'casco duro', como recomendou há alguns dias o ex-presidente Lula, referindo-se à necessidade de os acusados de corrupção lutarem até o fim para preservar seus cargos. Ele não disse, mas certamente está se referindo, de maneira indireta, à sua atuação quando do escândalo do Mensalão, em especial, quando ele se calou, negou, transferiu culpas e voltou a negar, apesar de todas as evidências. Evidências que se transformaram no processo que corre no Supremo Tribunal Federal contra "uma quadrilha que assaltou os cofres públicos", segundo o Ministério Público.
     Orlando Silva, atento ao que o mestre mandou, nega, mesmo confrontado com gravações de conversas no seu Ministério e acusações diretas. Se não bastasse negar, anunciou, em nota oficial, que o Ministério abriu sindicância para apurar as denúncias que envolvem funcionários (os que foram gravados, não ele, é claro). Algo como - desculpem a imagem pobre, mas bem realista - mandar um par de raposas malandras verificar se está tudo bem no galinheiro.
     O mais surpreende nos últimos anos - na verdade, não deveria surpreender, pela recorrência - é a extrema capacidade que os donos do Poder têm de tergiversar, de tentar transformar realidades, confiantes na manipulação das informações, na protelação de fatos.
     Nos escândalos anteriores registrados no Governo Dilma, os acusados perderam os cargos, mas saíram, ilesos, esquecidos pelos acusadores. No caso do ministro do Esporte, no entanto, a determinação do tal policial militar João Dias Ferreira parece ser proporcional à sua luta para não ter que devolver os R$ 3 milhões que sua ONG teria embolsado indevidamente. Ou, pelo menos, para dividir o prejuízo: ele perde a grana, mas arrasta seus ex-companheiros de lutas e de partido para a lama.
     Companheiros, no plural, sim. Não podemos esquecer que o ex-ministro Agnelo Queiroz, atual governador do Distrito Federal, também está bem perto da marca do pênalti.

Nas mãos de Lula

      O Globo de hoje nos informa, com destaque, que a presidente Dilma Roussef ainda está avaliando a situação do ainda ministro do Esporte, Orlando Silva (PCdoB). A fonte é a mais 'confiável' do Palácio, o ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral da Presidência da República, um fiel executor das determinações do ex-presidente Lula, "por quem daria a vida", segundo confessou ao final do segundo governo do seu guru.
     Por avaliação, no entanto, devemos entender algo bem simples e prosaico: o noticiário que vem por aí, nos jornais e revistas semanais. Se o volume de denúncias não crescer, o Governo terá oportunidade de empurrar o problema para mais tarde, evitando o confrontamento com o PCdoB, que está unido em torno do ministro e não aceita perder sua parcela de pod$r.
     A pressão da Oposição sequer é considerada, por tênue e a reboque do noticiário. Se sumir do noticiário, atropelado por fatos novos, em outros setores, Orlando Silva conquistará o direito à prorrogação no cargo.
     O grande problema, para o Governo, será tratar com um eventual desdobramento das denúncias. Empurrada contra a parede, nesse caso, a presidente não terá como fingir distanciamento. Embora, oficialmente, renegue a condição de 'faxineira', de intransigente com a corrupção, essa qualificação colou no imaginário da população, que vai cobrar uma decisão.
     Será o momento de avaliar sua liderança política, atrelada e extremamente dependente do ex-presidente. Lula não está em Manaus, hoje, participando da inauguração de uma ponte sobre o Rio Negro, apenas para gozar os aplausos e manter inflado o ego. Sua capacidade de manipular a tal base governamental é um trunfo, na eventual necessidade de demitir o ministro envolvido em pilantragens.
     Lula liderou essa turma durante muitos anos. Costurou os acordos, assessorado por José Dirceu. Dividiu o butim e fortaleceu financeiramente os partidos que o ajudaram a governar e a escapar sem maiores danos do escândalo do Mensalão. Ninguém melhor do que ele para lembrar que todos perdem com a exposição dos malfeitos oficiais.

domingo, 23 de outubro de 2011

Sob o manto do sectarismo religioso

     A morte do ex-ditador Muamar Kadafi, em tese - e somente em tese -, seria o prenúncio de novos tempos, de liberdade e abertura para a Líbia, país que ficou marcado nos últimos meses pela desintegração da sociedade, pela volta às origens anteriores à unificação das várias tribos que dividiam a região.
     Afinal, poucas coisas podem ser piores do que um governo terrorista (embora 'recém-convertido'), que usa a força para manter a população acuada, que privilegia determinados grupos, que atropela leis, que prende, mata e manda matar seus cidadãos.
     Infelizmente, no caso dessa região tão conflagrada do mundo, não há muitos limites para mergulhos nas trevas, no obscurantismo, do sectarismo religioso. Os novos líderes líbios, à falta de outro elemento que reaglutine a Nação, optaram - pelo que se pode ler nos noticiários internacionais de hoje, como nos da Folha - pelo apelo mais simples e imediatista: o fanatismo religioso.
     Segundo nos contam as agências de notícias, o líder do Conselho Nacional de Transição, um certo Mustafá Abdel Jalil, disse que o novo governo, aquele que vai substituir os 42 anos da era Kadafi, deve se basear na sharia (há quem escreva charia), a lei islâmica que mistura tudo - privado e público - e coloca sob o manto da lei religiosa islâmica, interpetrada - pelo que se depreende - da forma mais atrasada.
     Para Jalil, todos os reduzidíssimos avanços legais conquistados ao longo dos últimos anos são nulos completamente, exceto os que estejam de acordo com a sharia (caminho). Sem constrangimento algum, antecipou, para gáudio dos 'revolucionários', que não vai aceitar a legislação que proíbe a poligamia.
     É isso mesmo. Entre as ameaças desse retrocesso, surge a constatação de que as mulheres podem, sim, ser propriedades dos homens, que podem ter - deveria dizer comprar, pois é o que acontece, de fato - quantas seu dinheiro possa pagar. O cutelo começa a pairar, também, sobre homossexuais e adúlteros, sujeitos a perecer sob pedradas.
     Pode piorar, sim.

O 'saco de gatos' e as denúncias

     O tema talvez não seja novo, até mesmo aqui, nesse Blog. Mas a cada desculpa esfarrafada, a cada tentativa de desvirtuar os fatos, de transformar reportagens em crime, mas eu me sinto obrigado a lembrar uma verdade que considero incontestável: não houve uma denúncia, sequer, nessa 'Era Lula', que não tenha partido dos intestinos do governo.
     Do Mensalão - o maior de todos os escândalos na nossa história republicana - aos desvios de dinheiro do Ministério do Esporte. Dos aloprados compradores e fabricantes de dossiês falsos aos 'malfeitos' do Ministério do Turismo.
     Todos as denúncias que explodiram nas capas dos nossos jornais e revistas partiram de gente do Governo, dos partidos que compõem a tal base, que eu classifico de 'saco de gatos ideológico' movido a propina.
     Em todas as acusações, havia o dedo e/ou a marca do rancor de alguém que estava se sentindo preterido, ignorado, mal-tratado, alijado de esquemas, cobrado. Paralelamente, surgiram alguns casos de denúncias encobertas, vindas por trás das portas, oriundas do próprio PT, que luta, sem alarde, para conquistar todos os postos, todos os ministérios, todos os cargos, todo o sistema, todo o dinheiro.
     Assim, quando alguém escutar ou ler alguém do Governo falar em denuncismo, a pergunta que se deve fazer é simples e direta: a denúncia partiu de onde, ou de quem?
     Da Oposição? Nunca. Essa turma que digladia sob as siglas do PSDB e do DEM não tem competência nem mesmo para formular denúncias com sua marca registrada. Apenas flutua nas ondas provocadas pelas brigas pelo poder total sobre o país.

Choro pela Argentina

     A Argentina vai chorar muito, algum dia, o mergulho na mediocridade que vem dando, ano após ano. Ontem, ao assistir ao ótimo Painel, comandado por Willian Waack, na GloboNews, tive a confirmação dessa impressão, ao escutar uma previsão assustadora: o país que já foi um dos mais importantes, economicamento, no mundo, está prestes a ser superado, no PIB, pela Colômbia. É um processo quase irreversível de compromisso com o atraso.
     O fantasma - fantasma, sim, que deveria assustar - do assistencialismo mais medíocre, do Peronismo mais bolorento e fascista, tem, na Argentina, a cara de Cristina Kirchner, a virtualmente reeleita presidente. Um país que já se orgulhou de ter o maior número de leitores de jornais e revistas do mundo (em termos proporcionais), hoje usa de todos os artifícios para empastelar os dissidentes, aqueles que não dizem sim ao dinheiro fácil da publicidade oficial.
     Pobre Argentina, que depende dos petrodólares venezuelanos para não ir à falência mais total e absoluta. Depois de um período tão dramático e repugnante de sua história - os anos da mais violenta e sanguinária repressão ocorrida na América do Sul -, o país merecia um futuro menos simplório.

O encanto da bola que não quicava

     Sou apaixonado, também, pelo futsal, desde o tempo em que era jogado com bola estofada com serragem, a bola que não quicava, e era chamado de futebol de salão. No velho Pedro II da 'Rua Larga', cansamos, eu e outros peladeiros, de escapar, pela lateral da quadra, para conseguir o recheio que garantisse nosso lazer. Não esqueço, também, do primeiro campeonato de futebol de salão que disputei, na ACM (tinha 12 anos), ali da Lapa, num time formado pelos alunos da minha turma do primeiro ano do antigo ginásio (não sei como explicar isso, hoje, nesses tempo de segmentos), cursado no 'Anexo Tijuca', dirigido pelo professor Segadas Viana, em frente ao Colégio Militar.
     As peladas de futebol de campo, no entanto, eram mais comuns, num tempo em que as quadras estavam ao alcance de poucos, dos poucos que frequentavam clubes, o que não era - decididamente - o meu caso de moleque de um longínquo subúrbio. Atualmente, até mesmo pela exiguidade de espaço, as quadras substituíram os campos e estão presentes em toda a parte.
     Com o passar dos anos, as fraturas e torções me expulsaram dos gramados e me atiraram definitivamente nas quadras do condomínio em que fui morar. Apesar de rápido, o futebel de salão exigia menos espaços, menos arrancadas, mais inteligência para ocupar espaços.
     Convivi com alguns excelentes jogadores amadores, como Elson, Wladimir, Valério, Liquinho, Maru, Carlinhos Babá, 'Gomes', um apelido, 'homenagem' a um zagueiro que batia em tudo e em todos que passavem pela sua frente, ou pelos lados. Na verdade, seu nome era Marco, como eu. Os apelidos faziam parte do repertório de Elson, ao lado das suas jogadas sensacionais que, quase sempre - sou 'obrigado a confessar' - terminavam em gols feitos por mim.
     Tudo isso para falar, um pouco do futsal, que conquistou, ontem, mais um título internacional, o do Grand Prix, em Manaus, com uma vitória de 2 a 1 sobre o forte time da Rússia, que contou com três brasileiros. Um jogo duríssimo. Rússia e Irã (sem falar na Espanha) têm, atualmente, um futsal de primeira linha.
     O destaque, mais uma vez, foi Falcão, o maior ídolo do esporte, o maior jogador que já vi jogar (acompanho o futsal há muitos e muito anos). Maior até do que o campeoníssimo Manoel Tobias, uma referência nos anos 1990 e começo dos anos 2000. Falcão faz, nas quadras, o que todo jogador (peladeiro ou profissional, de campo, ou não) sonha. Dribles incríveis, gols cinematográficos, passes perfeitos.
     Falcão não foi o melhor jogador do torneio - mérito de seu companheiro Valdin, também do Santos. Perdeu gols, errou alguns passes. No jogo de ontem passou o maior tempo no banco de reservas. Entrou no final e, na prorrogação (estava 1 a 1), assinou mais uma de suas obras: um gol de peito, que deixou o brasileiro/russo Gustavo sem ação.
     Falcão estava nitidamente amargurado, por estar sendo preterido, justamente numa decisão. Fez o gol do título e desabafou: "Ninguém vai apagar meu brilho, mesmo aos 34 anos". Talvez não precisasse desabafar. Falcão, para os que gostam desse esporte que exige o máximo em desempenho, já garantiu seu brilho eterno há algum tempo. Um brilho que extrapolou, em muito, os limites do futsal.

     PS: Se eu fosse treinador de goleiros de futebol de campo, exigiria que eles vissem partidas de futsal, para aprender a enfrentar os chutes, ir ao encontro das bolas. Goleiro de futsal não fecha os olhos, não vira o rosto, não se esconde das pancadas cara a cara. Quando eu era moleque, escutei, de um peladeiro mais velho, uma frase definitiva: "Bola não morde". Acho que ninguém contou isso aos nossos 'arqueiros', em geral.

sábado, 22 de outubro de 2011

MInistro exibe 'casco duro'

     O ainda ministro do Esporte, Orlando Silva (PCdoB), demonstrou, em todo esse episódio deplorável que envolve o uso da máquina pública para regar contas bancárias de ONGs amigas, partidos políticos e companheiros, que é um legítimo fruto do Governo Lula.
     Seguindo as orientações do ex-chefe e ainda guru, o ministro e seu partido mostraram que têm 'casco duro' e resistiram à demissão anunciada, enfrentando, até mesmo, a decisão que - pelo que sabe - já havia sido tomada pela presidente Dilma Roussef.
     No embate, que já estava na fase de contagem, com o ministro na lona, um jato daquela água miraculosa que levanta atletas que se contorcem de dores deu novo ânimo e, finda a contagem, levou Orlando Silva para um providencial intervalo.
     A tal 'água' tem nome e sobrenome, Lula da Silva, ainda o ator de maior prestígio e poder nessa pobre e aviltada República. Agarrados ao ex-presidente, ministro e PCdoB voltaram à luta e reverteram, por enquanto, um resultado que já estava dado como certo.
     Até quando, só as manchetes dos jornais diárias e as capas das revistas semanais poderão dizer. Como nos casos anteriores (na Agricultura, Transportes e Turismo), a situação só piorou, levando seus titulares a 'pedir afastamento'. Nesses casos, não havia uma pressão muito grande dos amigos da base. Um pouco mais sobre a pasta dos Transportes, pelo volume de dinheiro e diretorias disponíveis.
     O Esporte, não. Desvalorizado há algum tempo, assumiu a projeção proporcional à magnitude dos eventos que vêm por aí. E despertou a cobiça da companheirada. Hoje, é uma das joias da coroa brasiliense.
     Orlando Silva vai precisar enrijecer muito o tal casco que ainda o protege do afastamento.

Minha frase da semana

"É, sim, do interesse do PT, que domina o Congresso, onde nada acontece sem sua aprovação, que o ministro Orlando Silva, que é do PCdoB, derreta ainda no 'segundo tempo', sem direito a prorrogação"

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Pontapés na canela

     Para um país que vai sediar a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016, o Brasil vai mal, muito mal. Ao recente escândalo com o ministro do Esporte, Orlando Silva (a essa hora, ele já pode ser ex-ministro), soma-se a decisão da Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara dos Deputados, que decidiu investigar o presidente da CBF, Ricardo Teixeira.
     Para agravar ainda mais o vexame, a Fifa - segundo a Folha - já retirou o ainda ministro de uma reunião para debater temas relacionados ao Mundial. Logo a Fifa, que não é conhecida pelos seus - digamos - atributos de seriedade no trato com o dinheiro e o poder (prestígio?) que o futebol exerce em várias nações. Isso, antes mesmo de o Governo Brasileiro oficializar a troca da guarda do dinheiro público que rega as ONGs amigas e companheiras ligadas ao esporte em geral.
     O que poderia ser um ponto a 'favor' dos acusados - o fato de seus acusadores e/ou julgadores não terem uma ficha muito limpa - transforma-se um fator negativo a mais.
     O respeito - que é bom e todos deveriam cultuar - passa longe desse pessoal.

Os socos no ar

     O confronto entre torcedores e dirigentes tricolores e os jornalistas que cobrem o dia a dia do clube, me remeteu à época em que, naturalmente - até mesmo por ser vice-presidente da Associação dos Cronistas Esportivos do Rio de Janeiro, em duas gestões, após ter sido diretor financeiro de lendário Oldemário Touguinhó durante vários anos - me transformei em uma referência na antiga tribuna de imprensa de São Januário.
     Foi uma época difícil, não pelos títulos conquistados pelo Clube (muitos, naqueles anos 1990), mas pelo rancor que havia entre a direção (leia-se Eurico Miranda ) e os jornalistas. Um rancor que se espalhava pelas sociais e arquibancadas.
     Em certa ocasião - lembrei perfeitamente disso, agora, ao ler o noticiário de O Globo e ver a foto da quase agressão a um repórter -, precisei usar todas as minhas 'armas' para dissuadir um grupo que queria invadir o setor e dar umas bordoadas em um jovem que não se conteve e festejou, embora timidamente, um gol contra o Vasco.
     O leve soco no ar desferido pelo incauto torcedor/jornalista, não necessariamente nessa ordem - era rubro-negro, sou obrigado a informar -, foi percebido pelos que estavam ao redor. E a gritaria começou. Corri para o lugar da confusão, nas cadeiras mais altas (eu só assistia aos jogos na primeira fila da Tribuna, para ter a visão livre de todo o campo), exibi minha carteira de sócio proprietário - fui sócio do Vasco por muitos e muitos anos -, falei das minhas origens, inventei umas desculpas para o gesto do tresloucado coleguinha e, graças a um gol do 'nosso' time, as coisas se acalmaram.
     Tudo isso para dizer que não há desculpas para a violência. Os meninos que vão às Laranjeiras estão trabalhando, divulgando um clube com uma história enorme no futebol brasileiro. Mas aproveito para lembrar que futebol é pura paixão e, como tal, transcende à razão.
     Cabe à diretoria garantir a segurança dos que vão trabalhar. Mas cabe aos que vão trabalhar manter um comportamento acima de suspeitas. Nada de 'socos no ar'.

Roleta geológica

     No domingo, dia 2 de outubro, publiquei o texto que, tomo a liberdade, repito abaixo. Não mudei de ideia. A decisão de hoje, do Senado, mudando a distribuição de royalties e a participação especial nos recursos arrecados nos campos de petróleo, apenas consolida o consenso de todos os estados, excluindo, por óbvio, Rio, Espírito Santo e São Paulo (esse último, com menos determinação, é verdade). Caberá à presidente Dilma Roussef  decidir. Vamos ao texto, que mantive, incluindo eventuais erros de datas. Há uma expressão da qual gostei especialmente: roleta geológica:

     "Não vou falar do Maranhão, nem de Alagoas, estados onde a miséria e o descaso atingem em cheio a população. Alguém poderia lembrar, de forma incontestável, que os males recentes e maiores desses pedaços do Brasil são provocados pela presença no poder de famílias que dominam a cena política, pois dotados que são de enorme potencial turístico, em especial.
     Vou me ater, como exemplo, ao Piauí, que sequer tem uma faixa litonânea razoavelmente grande, para vender aos viajantes do mundo. Pois o Piauí não teve a sorte do Rio de Janeiro e do Espírito Santo, por exemplo, de ser abençoado com enormes e ainda imensuráveis reservas de petróleo. Até mesmo sua capital - ao contrário do que acontece em todos os estado do Nordeste - fica no interior.
     Por isso, por um acaso negativo da natureza, o Piauí está fadado a não ser beneficiado dignamente pela exploração de um bem natural que é, antes de qualquer coisa, brasileiro. Em virtude dessa roleta geológica, que premiou alguns, os piauienses, a prevalecer a teoria dos políticos fluminenses e capixabas, em especial, estarão fadados à desventura financeira, alijados que seriam dos benefícios da exploração de um bem nacional, como o petróleo.
     É claro que o Rio de Janeiro não pode abrir mão de recursos - sejam eles quais forem, e de onde vierem. Há enormes necessidades de investimento e o direito inquestionável à reparação pelos problemas naturalmente provocados pela exploração de bacias petrolíferas. Mas o debate sobre esses direitos, provocado pela emenda do ex-deputado Ibsen Pinheiro (divide igualitariamente os royalties do petróleo da camada pré-sal), está sendo conduzido de maneira errada, emocional, demagógica.
     A emenda, que foi vetada pelo ex-presidente Lula, ainda será alvo de debate no Senado, marcado para o próximo dia 5. Os governos do Rio e do Espíriro Santo temem - com razão - que o veto seja negado e que prevaleça o teor generalista da emenda, gerando uma luta federativa. O Governo Federal já admitou abrir mão de parte dos seus lucros. Os estados, não. Querem tudo de algo que ainda é uma grande promessa.
    Em nome da defesa de seus cidadãos, ignoram os demais brasileiros, como se fôssemos povos distintos, sem responsabilidades mútuas. Historicamente discriminados, os mais pobres - prevalecendo o veto à socialização dos ganhos - estarão condenados à eternização da sua realidade.
     Não me parece justo, em absoluto.


(*) Nasci no Rio, na Gamboa, ali ao lado de Santo Cristo, em uma transversal da Rua do Livramento. Talvez por ser resultado de integração de imigrantes portugueses e descendentes de escravos africanos, tendo a não considerar separações por origens ou raça.

Na fila para o cadafalso

     Há um clima de evidente pavor na vizinhança da Líbia, principalmente entre os governantes mais afetados pela onde de protestos que vem inundando mundo árabe desde o início do ano. A morte do ex-ditador líbio Muamar Kadafi, nas condições em que ocorreu - executado por uma turba, após ter sido arrastado de dutos de esgoto onde se escondia -, certamente mexeram com os donos do poder da Síria e do Iêmen.
     As consequências imediatas, no entanto, têm sido desastrosas para a população e manifestantes, como nos contam nossos jornais, com base no noticiário das agências internacionais. Agarrados ao poder, o sírio Bahar al-Assad e o iemita Abdullah Salen, recorrem sem pudores à repressão mais violenta possível, acreditando na força do terror aplicado pelas forças nacionais.
     Tanto pior. Se, no caso de Kadafi, havia um relativo consenso mundial contra o ditador, o mesmo não acontece - pelo menos em igual dimensão - em relação aos seus antigos pares. Não há, também, sinais evidentes de divisão no comando militar, de revoltas intestinas.
     A prevalecer o exemplo líbio - Kadafi resistiu durante vários meses à deposição que se anunciava inevitável -, Assad e Salen poderão transformar o movimento por liberdade em uma catástrofe, num genocídio, antes de cederem ou serem executados em praça pública.

Não à barbárie

     Sou obrigado a concordar, em parte, com a presidente Dilma Roussef: não comemoro mortes, embora não lamente algumas, como a dos ex-ditadores líbio Muamar Kadafi e iraquiano Saddan Hussein - já nem falo da execução sumária do terrorista Osama Bin Laden, que considerei, desde sempre, um simples ato de defesa.
     Algumas mortes chocam mais, pela violência explícita, por envolverem personalidades que, de uma maneira outra, faziam parte da nossa vida, das nossas preocupações. Durante muitos anos, foi impossível ignorar a existência do coronel Muamar Kadafi, um líder louco que, entre seus feitos, contabiliza a derrubada de um avião civil, repleto de passageiros.
     Não fiquei feliz ao ver as imagens de seu corpo, tripudiado por uma multidão. Preferia que fosse preso, passasse por um julgamento formal - mesmo que simbólico - e recebesse a pena justa pelos seus crimes hediondos, perpetrados contra o mundo e contra seus próprios cidadãos.
     A barbárie, por definição, alimenta a barbárie. Todo procedimento que siga as leis é sempre preferível do que a tomada das leis. Mesmo que essas leis estejam solapadas pelo arbítrio.
     Concordo, sim, em parte com a presidente. Talvez por motivos diferentes. Jamais defendi ou me alinhei com a parcela do mundo que vem atropelando a razão, por ignorância, sectarismo religioso, deformação ideológica ou o mais medíocre e primário ressentimento.
     Infelizmente, o Brasil dos últimos anos deu demonstrações públicas de cegueira e atraso, ao se colocar quase sempre no lado errado das questões, em busca de um protagonismo infantil, calcado no confrontamento com o 'imperialismo'. Esteve ao lado de Saddan e de Kadafi. Está com os assassinos iranianos e africanos e não esconde sua identificação com ditaduras vagabundas como a venezuelana e a cubana.
     O mundo está se encarregando de mostrar que nossos caminhos estiveram e estão em dessintonia com o futuro.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Não adiante chorar, a guerra está perdida!

     O horário já estava reservado há muito tempo. O script do programa, no entanto mudou, e muito. Imagino a correria, o corte de algumas cenas apoteóticas do ainda ministro do Esporte, Orlando Silva, falando da próxima Copa, tirando uma casquinha da Olímpíada. Quem sabe, comemorando com o paulistano a escolha do tal do Itaquerão para abir os jogos de 2014 (*).
     Atônito e atingido pelo 'tiroteio amigo' que começa a pipocar lá das imediações do Palácio do Planalto, o PCdoB foi obrigado a apelar para uma história encardida, para a cantoria do vereador Netinho - aquele mesmo de sorriso aberto e mão pesada - e para cenas da musa gaúcha Manoela D'Ávila, também citada como benefiária das propinas arrecadadas pelo seu partido, segundo denúncias do ex-militante João Dias Ferreira, 'dono' de uma das ONGs envolvidas na pilantragem.
     Todos no partido sabem, no entanto, que a guerra já está perdida. A presidente Dilma Roussef, com a ressalva de que condena o "apedrejamento moral do ministro", segundo O Globo, já prepara a cena para descartar mais um dos seus ministros. E posar para a galera como 'A Grande Faxineira', sem melindrar - por óbvio - seu antecessor, com eventuais referências a uma herança maldita.
     Afinal, ela e Orlando Silva sentavam à mesma mesa, "farinha do mesmo saco", talvez dissesse o ex-governador Leonal Brizola, ídolo e mentor da presidente, nos seus tempos de PDT.


(*) A presença do ministro, defendendo-se das acusações, foi lamentável, como as demais, até agora.

A viúva do atraso

     O mundo - o nosso, o da crise europeia e o do Oriente Médio, principalmente -, eventualmente, nos leva a olhar para longe, esquecendo o que está acontecendo bem aqui ao lado. A praticamente certa reeleição da presidente argentina Cristina Kirchner atesta, como poucos acontecimentos, o abismo político em que mergulharam quase todos os países sul-americanos.
     Com raríssimas exceções, e enorme boa vontade, Chile e Colômbia (mais há um ano do que agora, sem dúvida) escapam da mediocridade assistencialista, da mais pura vulgaridade intelectual, do apelo fácil e barato à ignorância da população, à manipulação.
     A Argentina, que já foi um símbolo no mundo, pelos inegáveis avanços culturais, econômicos e políticos que ostentou nos últimos anos do século 19 e no começo do século 20, parece que está trilhando um caminho sem volta para o atraso.
     A virtualmente reeleita presidente é uma cópia desbotada de Evita e candidata a clone de Maria Estela Peron, conhecida como Isabelita e chamada, na época de sua presidência, de La Señora. Isabelita assumiu o poder com a morte do marido (era a vice-presidente). Governou de 1 de julho de 1974 a 24 de março de 1976, sob a influência nefasta de um prestigitador, José Lopez Rega, chamado, na época, de El Brujo. Foi deposta pelo golpe  militar liderado pelo general Jorge Rafael Videla, responsável por atrocidades impensáveis.
     Cristina consolidou sua liderança, agora inconteste, após a morte do marido e ex-presidente Nestor. A moldar a trajetória das três, o bolorente peronismo, ou 'novo peronismo', calcado no assistencialismo demagógico, no apelo às multidões.
     A propósito da Argentina atual, talvez não não encontremos uma frase que retrate tão bem a realidade. Uma frase que eu tomo a liberdade de extrair do excelente Guia politicamente incorreto da América Latina, dos jornalistas Leandro Narloch e Duda Teixeira. Está lá, na página 197: "Por conta dele (Peron) e de seus seguidores, a Argentina é um país com um grande passado pela frente".

O sonho dos companheiros

     Eu sei que a crise - mais uma - moral que se abate sobre o Governo toma quase todas as atenções. Eu não posso desconhecer que a morte do ex-ditador líbio Muamar Kadafi e a troca de prisioneiros entre Israel e os palestinos se impõem.
     Mas não posso deixar de registrar meu inconformismo com o tratamento condescendente que nossas entidades libertárias - ABI, Sindicatos e Federações de jornalistas, em especial - deram à escandalosa decisão do governo venezuelano de multar a Globovisión, única emissora não alinhada com a situação, em US$ 2, 1 milhões, como noticiado, hoje, por O Globo.
     O 'crime', apontado por uma tal de Comissão Nacional de Telecomunicação (deve ser o sonho de consumo do PT e companheiros), foi ter feito a cobertura de uma rebelião de presos no complexo carcerário El Rodeo, que fica nas proximidades da capital, Caracas.
     Segundo o 'controlador da mídia', a emissora teria promovido o ódio e feito '"apologia ao crime", ao noticiar que a Guarda Nacional estava massacrando os prisioneiros, como se comprovou que estava - afinal, morreram dezenas de pessoas.
     Já imaginaram a TV Globo - ou outra qualquer - sendo punida por noticiar, por exemplo, o Massacre do Carandiru, ou a invasão, pela Polícia, do Complexo do Alemão?

O Blog acerta, ao se antecipar

     Segunda-feira passada, publiquei mais um dos comentários sobre a crise ética que assola o Governo Dilma, em especial o Ministério do Esporte. Avaliando a situação de Orlando Silva, antevi - sem falsa modéstia ou cabotinismo - o desenrolar do processo e dei, a essa análise, um título que me pareceu apropriado, criativo, mas óbvio: 'Na marca do pênalti'.
     Ontem e hoje, tive o prazer de ver o mesmo título dando o tom da cobertura de O Globo. Assim como vi a confirmação, em forma de reportagem, de uma antecipação feita aqui no Blog, ontem: não houve cochilo algum da 'base governista' quando da convocação do policial militar que acusa o ministro Orlando Silva para falar no Congresso. Houve, sim, um movimento coordenado, destinado a derrubar o parceiro inconveniente, ainda no segundo tempo, sem dar chance à prorrogação.
     O PT quer, há algum tempo, assumir o ministério do esporte, pela importância que já tem e ainda terá, com a realização da Copa de 1014 e da Olimpíada de 2016. Muita exposição e muito dinheiro em jogo.
     Lembrei os dois fatos, agora, não por presunção, ou algo semelhante. Ao longo dos meses em que venho escrevendo esse Blog, tenho me preocupado em ir além da notícia, avaliar, oferecer elementos para discussão - não necessariamente a verdade absoluta. Algo que, lamento, vem faltando no dia a dia dos nossos noticiários, alguns meros repetidores de notícias oficiais e declarações vazias.
     A notícia, embora deva ser, por essência, isenta, não pode, jamais, ser obtusa.

O mundo ficou menos pior

     O mundo livrou-se, hoje, de um de seus menos dignos representantes. A morte do ex-ditador líbio Muamar Kadafi, nas circunstâncias em que aconteceu - ferido durante mais uma fuga, maltrapilho, abandonado - remete à prisão - seguida pelo enforcamento - de outro assassino, o ex-presidente iraquiano Saddan Hussein, entocado em um buraco, sujo, sem a menor dignidade.
     Dois momentos trágicos de uma história que ainda está longe de ser escritas, em uma das regiões mais abaladas pela violência, pelo sectarismo religioso, pela extrema e profunda ignorância das populações, mantidas sob o jugo de tiranos que exploram o poder sobre as massas desinformadas, manipuladas ideologicamente desde o nascimento.
     A lamentar, na verdade, apenas o fato de que o desaparecimento do antigo terrorista que dominou o país por quatro décadas não representa, por si só, a garantia de novos tempos, do início de uma libertação, também, do enorme atraso e do ódio que permeiam a região, resultado - não há como desconhecer - da ganância e da exploração de alguns séculos de dominação e pilhagem.
     O exemplo egípcio está aí, bem vivo. A destituição do ditador Hosni Mubarak, consolidada há alguns meses, após uma mobilização jamais vista no país, não representou a tão esperada transição para, pelo menos, algo próximo de uma democracia. Os mesmos grupos continuam no poder, adiando compromissos, costurando acordos que passam longe da vontade expressa nas ruas e praças do Cairo.
     O Iraque - embora os inegáveis avanços - é, ainda, um enorme turbilhão de mortes, atentados, violência. Na Síria, a tendência - até como forma de se preservar - é o governo aumentar ainda mais a repressão aos movimentos de oposição ao regime, instituindo a violência como única forma de resposta.
     No meio de tudo isso, o Irã, não-árabe, mas talvez o mais descerebrado de todos os regimes, comandado por religiosos extremistas, radicais, ignorantes. Um país terrorista, na essência, assim como foram o Iraque e a Líbia.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Ética companheira

     Não acreditem no eventual, quando o assunto for decência no Congresso. Quando o Conselho de Ética da Câmara dos Deputados arquivou as denúncias contra a deputada Jaqueline Roriz (PMN-DF), há dois meses, estava, apenas, negociando futuras questões, garantindo impunidades, pensando num amanhã risonho e franco, confiante na enorme desinformação do povo brasileiro, na força do tempo, no esquecimento.
     A absolvição da deputada, filmada recebendo dinheiro vivo, proveniente de roubalheira, foi festejada, em especial, pelo líder do PT na Câmara, Candido Vacarezza, flagrado aos beijos e abraços com a colega, após a votação, sob o argumento de que o ato era anterior à posse. Em síntese: você pode ser bandido até o dia da eleição.
     Hoje, mais uma demonstração de pouco caso com a opinião pública, como nos conta a Veja. Por 14 votos a 2, o tal Conselho formalizou a absolvição do deputado Valdemar Costa Neto, do PR de São Paulo, que havia sido indiciado por suspeita de envolvimento em um esquema de superfaturamento de contratos no Ministério dos Transportes, feudo do seu partido, além de outros delitos menores. Valdemar, todos lembram, renunciou ao mandado, para evitar a cassação, quando do escândalo do Mensalão, ainda no primeiro governo Lula.
     Já ia esquecendo: o relator que pediu a absolvição foi o deputado Amauri Teixeira, do PT (é claro) baiano.

O olho grande (e aberto) do PT

     Se há alguém que repudia teorias de conspiração, sou eu. Não tenho paciência para a mediocridade das elocubrações, da falsa malandragem, daquela turma que conta uma história fantasiosa, sem o menor sentido, e jura que soube de tudo por fontes fidedignas. "Você é muito inocente', costumam dizer, quando reajo com total indiferença às bobagens apresentadas como fatos.   
     Todo esse 'nariz de cera' é apenas para justificar minha avaliação do que O Globo chamou de 'cochilo' da base govenista, no caso da aprovação de um convite para o policial militar João Dias Ferreira, contar, na Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara, sua versão sobre a corrupção envolvendo o Ministério do Esporte, seu atual titular e o antigo, Agnelo Queiroz, governador do Distrito Federal, que está convenientemente 'se fingindo de morto'.
     Para mim, não houve cochilo algum. No máximo, alguém escolheu a hora certa para ir ao banheiro. É, sim, do interesse do PT, que domina o Congresso, onde nada acontece sem sua aprovação, que o ministro Orlando Silva, que é do PCdoB, derreta ainda no 'segundo tempo', sem direito a prorrogação.
     O Ministério do Esporte - e não é preciso ser muito perspicaz para ver isso - será um dos mais importantes nos próximos anos, o que, certamente, dará mais visibilidade a seus ocupantes, graças à Copa de 2014 e à Olimpíada de 2016. E - não podemos esquecer!!! - terá muito, mas muito, dinheiro, mesmo.
     Tudo isso nas mãos do PCdoB? Um partideco com meia dúzia de representantes e pouquíssimos votos?
     Eu aposto que, ao contrário do que pode sugerir a primeira leitura, a base (leia-se PT) está de olhos bem abertos. De olho grande, seria apropriado dizer.

Histórias de Júlia e Pedro (23)

A irmã da mãe

     Pedro tem uma relação muito forte com a mãe. Já falei, em textos anteriores, do tom 'edipiano' de algumas de suas reações. Ele repete, sempre, que não vai ter namoradas, porque vai ficar com a 'ma-mãe', a mais linda de todas as mães do mundo.
     Há alguns dias, ampliou esse universo. Ele estava com Sônia - a babá que ajudou a criar Júlia e que faz todas - todas, mesmo - as suas vontades -, brincando no clube. Em certo momento, foram ao bar, para que ele pedisse um lanche ao atendente que o conhece desde bebê.
     Sônia, como toda babá babona, misto de avó precoce, aproveitou para mostrar fotos do aniversário do moleque, uma delas ao lado da tia e madrinha, que foi elogiada:
     - Pedro, sua tia é linda, uma graça.
     E continuou falando dos olhos da tia, sorriso. Pedro calado estava, calado ficou, Fechou a cara e não tocou no assunto. Ao chegar em casa, Sônia puxou o assunto, para ver se ele comentava os elogios à tia.
     Sério, como só ele sabe ficar, fulminou a conversa:
     - Ela é irmã da minha mãe.
     Só ele pode achar beleza na mãe e na tia.

Comendo farelos

     Eu quase estou sentindo, mesmo à distância, as lágrimas irresistivelmente despejadas pelos nossos manipuladores - eu queria dizer analistas, mas minha consciência me obrigou a mudar a qualificação - de notícias políticas. A Folha está chegando úmida às bancas e casas dos assinantes, contaminada pelo pesar de uma das suas principais comentaristas.
     No Estadão on line , permanece em destaque aquele texto sobre a 'faxina' realizada pela presidente Dilma Roussef, uma clara e evidente concessão ao politicamente correto. No Globo, o intimorato e feroz crítico da 'privataria' no governo Fernando Henrique ignora mais um ato espúrio de privatização direta do nosso dinheiro. A coluna da página dois - de onde saíram destacados personagens dos últimos governos - colocou antolhos.
     Ainda bem que, no geral, prevalecem o jornalismo, a notícia e o fato, que atropelam o comprometimento de alguns personagens com a causa petista. As reportagens e manchetes são devastadoras, pois aprofundam o debate da questão do uso de ONGs amigas para financiar o projeto de poder que se instalou no país há quase nove anos.
     Em alguns espaços, no entanto - pasmem -, houve quem enxergasse até determinação e segurança na apresentação do ainda ministro Orlando Silva, do Esporte. Mas essas afirmações não resistem a alguns segundos de avaliação das cenas gravadas no Congresso.
     Claramente acuado, apelando para a única defesa que tem - seu acusador seria um desqualificado -, o ministro não consegue passar emoção, apenas uma atuação linear, sem viço. Não é para menos. Como é que ele poderia explicar seu relacionamento tão amplo e irrestrito com essas pessoas que, agora, repudia?
     Andou com porcos, ministro? Chafurdou com eles? Coma os farelos.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

A 'Guarda Vermelha Petista'

     A audácia e a desfaçatez dessa gente não têm limites. Quando a gente pensa que o arsenal de estupros ideológicos praticados pelo PT está no fim, eis que a sigla nos surpreende com mais um atentado. Não vomitem, mas, segundo a Folha, o Partido dos Trabalhadores vai montar e treinar uma 'patrulha virtual' para atuar nas redes sociais.     
     Não é uma suposição, ou uma ilação do jornal. Quem confirma o projeto é o próprio encarregado do 'trabalho', um tal de Adolfo Pinheiro, credenciado por ter 'operado' na campanha do atual ministro da Ciência, Aloízio Mercadante, ao governo de São Paulo. Vejamos a declaração reproduzida pela Folha: "Vamos espalhar núcleos de militantes virtuais por todo o país", ameaça.
     Esses novos núcleos de Militância em Ambientes Virtuais (eles são ótimos em criar essa bobajada) não é uma iniciativa pessoal. Ao contrário: foi aprovada no último congresso do PT, como uma das estratégias para enfrentar o que eles chamam de imprensa imperialista. Entre as futuras iniciativas, a edição de um 'manual do tuiteiro petista'. Não riam. Eles são assim mesmo.
     E não são engraçados. Esse pessoal quis empastelar a Veja, recentemente, quando da publicação das denúncias sobre um dos seus ideólogos, o ex-deputado José Dirceu, aquele mesmo que é apontado pelo Ministério Público como o chefe da quadrilha que assaltou os cofres públicos no episódio do Mensalão.
     Antes que eu esqueça: a semelhança com a Guarda Vermelha chinesa do 'camarada Mao' não é mera coincidência. Eles odeiam o contraditório e qualquer elemento que remeta à liberdade. São capazes de tudo, mesmo. E queimam livros, também.

Tragédia moral

     Nesse momento, dois personagens da mesma tragédia moral estão conversando com nossos dignos parlamentares. O ministro do Esporte, Orlando Silva (PCdoB), fala a deputados, tentando seguir os 'conselhos' dos dois colegas - Gleisi Hoffmann, da Casa Civil, e Gilberto Carvalho, da Secretaria Geral da República - e ser 'convincente'.     
     Já seu acusador e ex-companheiro de militância partidária e outras coisas mais, o policial militar e 'dono' de ONG João Dias Ferreira, está contando sua história a senadores da Oposição, a portas fechadas. Pela sua determinação em expor tudo o que se passava nos 'vestiários', espera-se uma torrente de acusações.
     Só para não deixar passar sem registro: o texto de O Globo sobre o encontro de Orlando Silva com os outros ministros, nos 'informa' que o acusado de malfeitos foi "orientado a ser convincente nos esclarecimentos".
     Será? Imaginei que ele, por acaso, pudesse ter sido orientado a não encarar os repórteres, na coletiva que condedeu ainda ontem; a não expor sentimentos de culpa; a não deixar transparecer que estava acuado, sem forças para reagir devidamente a uma acusação tão contundente.

Quem levou o meu dinheiro?

     Ficamos sabendo, hoje, pelo O Globo, que o Ministério do Planejamento (leia-se Governo Dilma Roussef, a 'faxineira da República') recusou-se a permitir o acesso da ONG Contas Abertas (essa, não recebe dinheiro público) aos dados sobre os convênios firmados justamente com organizações não-governamentais que se esbaldam com os nossos impostos.     
     Não seria favor, ou algum ato de liberalismo. Nada disso. O acesso aos dados informatizados do Governo Federal é um direito da sociedade, sacramentado na lei de Diretrizes Orçamentárias. Como costumo dizer, simples assim. O resto - e eu vou transcrever, abaixo, algumas das justificativas oficiais - é puro diversionismo, conversa fiada, medo de novas descobertas, na trilha reaberta pelas denúncias de corrupção que se abateram sobre o ministro do Esporte, Orlando Silva, e seu partido, - quem diria!!! - o PCdoB.
     O texto da desculpa oficial é daqueles que merecem ir para o mural das mediocridades, bem de acordo com esse período de treva cultural que estamos vivendo há quase nove anos. Uma mescla de burocratês imbecil com desculpa esfarrada. Vejam só:
     "Durante os eventos do processo do PPA (Plano Plurianual de 2012-2015), realizados no 1º semestre deste ano, foram escolhidas propostas da sociedade civil organizada, o que ensejou alterações que estão sendo analisadas pela áreas técnicas do Ministério, as quais subsidiarão a criação de módulos específicos de acesso pela sociedade civil e o estabelecimento de condições de segurança para a abertura dos sistemas".
     Vocês leram direito: "Durante os eventos do processo do PPA"; "o que ensejou alterações"; "as quais subsidiarão a criação de módulos específicos". O mais grave, é que os autores 'intelectuais' dessa bobajada acreditam que encontraram uma forma de responder às exigências de moralidade. Pior: encontram receptividade em alguns dos nossos analistas mais - digamos assim - liberais.

O poder da corrupção

     O mais recente (tratando-se do PT e companheirada, jamais diga último) escândalo da Era Lula, que se prolonga no Governo Dilma Roussef, expõe claramente um dos tumores da demagogia assistencialista: o uso das tais Organizações Não-Governamentais (ONGs) para atender a interesses pessoais e partidários.
     A distribuição sem controle - que ninguém diga que há fiscalização digna - de verbas para projetos sociais mascara, na maioria absoluta das vezes, uma vagabunda transferência de dinheiro público para ajudar políticos e partidos a ampliarem seus patrimônios, financiarem campanhas.
     O companheiro cria uma ONG, desenvolve um projeto de 'amplo alcance social' e recebe a verba do ministério ou de uma estatal, destaque para a Petrobras. Usa um percentual no tal projeto - para justificar a grana - e divide o resto entre a turma toda. O esquema envolve também fornecedores de notas fiscais e 'auditores' compreensivos na análise dos relatórios.
     Essa pilantragem assumiu proporções incontroláveis a partir da metade do primeiro mandato do ex-presidente Lula. O que era uma 'bandeira' do PT (a participação em movimentos sociais, em lutas sociais) transformou-se rapidamente num esfuziante modo de vida e de apropriação de verbas públicas para programas político-partidários. Tudo pela causa, pela afirmação de um projeto de poder alicerçado no carisma de um personagem medíocre e simplório, desprovido de superego.
     Paralelamente, o aparelhamento dos ministérios e estatais passou a garantir o fluxo de dinheiro, publicidade e o poder de barganha com partidos de aluguel. Esse esquema criminoso, no entanto, quase desabou, quando do escândalo do Mensalão, denunciado, como todos os demais, de dentro para fora.
     Refeitos do baque e aproveitando a inérca, a incompetência e a inapetência da Oposição, os donos do poder perderam qualquer resquício de pudor e avançaram sobre tudo, criando uma rede de corrupção e assistencialismo barato única no mundo.
     Uma rede que conta com uma inacreditável compreensão de alguns dos nossos mais destacados representantes do mundo da informação, atrelados - tardia e bolorentamente - às utopias dos anos 1960/70.