segunda-feira, 31 de março de 2014

Não há motivos para festa

     Como não costumo fugir de desafios, especialmente os meus, não vou me omitir, hoje. Ao longo dos últimos 50 anos, não mudei de opinião em relação ao Brasil e aos fatos mais marcantes dessa fase recente da nossa vida. Admito que tenho, agora, uma visão mais aberta, bem menos incendiária, mas que, em síntese, é a mesma: não há desculpas para a derrubada, pelas armas, de um regime constitucional.
     Não há desculpas - insisto! -, mas talvez seja possível encontrar explicações. Embora muito jovem (tinha 15 anos), acompanhei de perto e atentamente os incidentes que culminaram no golpe militar de março de 1964. Nos anos que se seguiram, vivi de perto - muito de perto - todo o período. Oriundo de família 'getulista' e, já naquela época, absolutamente legalista, fiquei indignado com a quebra dos parâmetros democráticos. Afinal, João Goulart era, de fato e de direito, o presidente.
     Se o presidente era ruim - e era péssimo, em vários aspectos, não tenho, há algum tempo, a menor dúvida quanto a isso!!! -, caberia ao povo que o elegeu (para a vice-presidência do instável, errático  renunciante Jânio Quadros) manifestar-se na eleição seguinte. É assim que as verdadeiras democracias modernas devem funcionar. É assim que ela - a democracia - funciona nos Estados Unidos desde o fim do século 18. Cabe à população decidir pela reeleição e pela eleição de eventuais sucessores.
     Para agir em casos extremos, como o do ex-presidente Nixon, a democracia tem seus instrumentos. Não passa pela cabeça de qualquer americano (e poderia citar os europeus em geral) a hipótese de um golpe militar que suprimisse os direitos constitucionais. O exemplo do impedimento do ex-presidente Fernando Collor de Melo também pode ser lembrado enfaticamente. Portanto, não há qualquer motivo para festejar o rompimento da institucionalidade.
     Essa consciência, no entanto, não me impede de reconhecer que a maioria absoluta do país, à época, clamava por uma atitude mais incisiva das Forças Armadas, talvez por não acreditar nos instrumentos legais à sua disposição. Não foi uma simples quartelada, embora o estopim do golpe tenha sido a anuência de Jango com a quebra da disciplina militar, algo impensável.
     É evidente que não estou sendo simplório a ponto de achar que a 'revolta dos sargentos' tenha sido a única (ou maior) responsável pela destituição do presidente da República. Ela, apenas (se é que posso reduzir, assim, sua importância), consolidou a decisão, antecipou-a em alguns dias ou semanas.
     Em um mundo dividido pela Guerra Fria, o Brasil extremamente conservador e católico optara pelo alinhamento com o Ocidente liderado pelos Estados Unidos. Embora injustificável do ponto de vista institucional, o golpe tinha o apoio maciço da sociedade, da maior parte dos congressistas, da Igreja, da imprensa (exceção à Última Hora) e do empresariado.
     Se - é outra convicção que firmei ao longo dos anos - houvessem cumprido com as justificativas iniciais (restabelecer a ordem no país, sacudido por greves infindáveis, denúncias de corrupção, caos econômico e anarquia nas Forças Armadas) e devolvido o Poder à sociedade civil, como anunciado, as Forças Armadas não arcariam com a pecha do arbítrio e o País não carregaria o fardo da violência dos chamados 'porões da ditadura'. Nossa República, por exemplo, nasceu de um golpe militar.
     Infelizmente, não foi o que aconteceu. A eternização do aparato militar alimentou o radicalismo que se adivinhava, golpeando profundamente a democracia, que não mais estava em disputa, sequer retoricamente. Os dois lado que se enfrentavam objetivavam o poder, e não a liberdade, mergulhando o país num longo período de trevas que ainda deixa marcas na sociedade.

sábado, 29 de março de 2014

Um risco desnecessário

     A utilização das Forças Armadas na ocupação do complexo de favelas da Maré, aqui no Rio, e, em breve, durante a Copa do Mundo pode provocar um abalo irreparável na instituição, maior, até, do que a repercussão dos atos criminosos praticados durante os governos militares. Não custa repetir: Exército, Marinha e Aeronáutica não têm formação e preparação especiais para desempenhar tarefas exclusivas das polícias.
     A alegação de que há precedentes de sucesso não se sustenta, pois as circunstâncias eram absolutamente diferentes das que existem hoje em todo o país, tomado por manifestações que se mostraram incontroláveis. Da Polícia Militar, por exemplo, exige-se que tenha uma atitude mais passiva ao ser destacada para garantir a ordem e o patrimônio público e privado. De um PM, espera-se que vire a face para receber a segunda cusparada,
     Por formação, atribuição e representatividade, é impensável que um militar, fardado e em missão, deixe de reagir com contundência. A cena de um major da PM sendo esbofeteado em uma comunidade do Rio, há alguns anos, jamais seria tolerada caso fosse um oficial do Exército. Não podemos esquecer que as Forças Armadas são símbolos nacionais e que, portanto, não podem ser ofendidas.
     Fico imaginando o impasse: um grupo de manifestantes, insuflado por traficantes, decide incendiar um carro de combate, por exemplo. O que é que vocês pensam que pode acontecer? Não tenho dúvidas que o responsável  pela guarnição usará a força máxima para defender seus homens e equipamentos. É para agir assim que são formados todos os exércitos do mundo. Não existe relutância no vocabulário militar.
E é nessa armadilha que estão sendo jogadas as Forças Armadas. Reagem, e são atiradas à execração; ou se omitem, se acovardam e sua existências perde o sentido.
     Eventualmente - e espero que a exceção se transforme em regra -, o emprego de efetivos militares em confrontos não será necessário. Mas o risco existe, sim. Um risco que não deveria ser assumido e que ganha proporções inigualáveis graças à covardia dos nossos governos estaduais e federal, reféns do calendário eleitoral.

sexta-feira, 28 de março de 2014

A pessoa certa, no lugar certo

     É o caso típico de a pessoa certa no lugar exato. A presidente Dilma Rousseff e seus associados não poderiam ter escolhido melhor. O agora e novamente ministro Ricardo Berzoíni tem tudo para repetir, na Secretaria de Relações Institucionais (seja lá isso que imaginamos que é ...), o destacado desempenho nos escândalos do 'aloprados' (vagabundos que compravam dossiês falsos sobre adversários políticos), da Bancoop (que deu um prejuízo milionário ao fundo de pensão do Serpro) e do chamado 'bunker petista' (grupo que decidia os alvos dos ataques petistas à honra de 'inimigos').
     Pelo seu histórico no comando do PT, do qual foi presidente, e nos ministérios do Trabalho e Previdência, o ainda deputado paulista (a posse será na terça-feira) chega na hora certa para tentar desviar a atenção do público da roubalheira na Petrobras. Ele é daqueles militantes capazes de tudo pelo partido, do qual foi 'afastado' por algum tempo, esperando que a poeira dos seus próprios desmandos baixasse.
     Sua escolha é a prova definitiva do verdadeiro perfil do governo Dilma Rousseff, sempre maquiado pela fantasia da boa administradora, capaz de diálogos. Berzoíni chega para distribuir chutes na linha da cintura, alimentado pela rede que reuniu ao longo das tarefas partidárias que cumpriu zelosamente.
     Estará muito bem colocado ao lado dos demais ministros da 'casa', aqueles mais afinados com o 'ideário' petista, como Marco Aurélio Garcia ( tal do 'top-top') e Gilberto Carvalho (acusado de ser a 'mula' que transportava a propina extorquida de empresas de ônibus paulistas, no início dos anos 2000), muito bem secundados por Ideli Salvati (a ex-ministra da Pesca que comprou lanchas jamais usadas) e Aloísio Mercadante (o chefe do 'chefe' dos aloprados).

Um aviso: chega de corrupção!

     Confesso que não entendo bem como funcionam as pesquisas. Custo a acreditar - embora acabe acreditando!!! - que, ao ouvir duas ou três mil pessoas num universo de 100 milhões, se possa chegar a dados confiáveis. Com um agravante: jamais fui ouvido e não conheço ninguém que tenha sido procurado por um pesquisador encarregado de auferir popularidades ou tendências eleitorais.
     No entanto, historicamente, ao ser confrontado com a maior parte dos resultados, sou obrigado a admitir que não se trata de mera manipulação, como gostam de afirmar os teóricos da conspiração. A estatística, elevada à categoria de ciência, somada a outros campos, mostra que - salvo raras exceções - os fatos confirmam as teses.
     Assim, estou propenso a acreditar que algo está mudando, de fato, no nosso país, nessa relação da população com o governo. Talvez seja o começo do fim dessa era lastimável, soturna, medíocre, ignorante, devassa e corrupta. Ainda é cedo para, sequer, imaginar que o PT e seus assemelhados recebam o merecido pontapé nos fundilhos por toda essa fase de empulhação ideológica, de apelo  à estupidez, de sucateamento do Estado.
     Pode não acontecer imediatamente - as armas à disposição do esquema de poder têmpoder de fogo quase insuperável -, mas as últimas pesquisas foram alentadoras (de acordo com as minhas expectativas, é evidente). Na pior das hipóteses, o aumento da rejeição ao esquema de poder atual pode servir de alerta e gerar algum tipo de mudança, o que seria bom para o país.
     E já que o assunto é pesquisa, vale a pena destacar uma que está sendo feita pelo jornal O Globo, sobre a criação da CPI da Petrobras. É evidente que esse tipo de enquete não tem valor científico e não se compara às tais pesquisas formais, mas serve, pelo menos, como um bom indicativo do que pensam, ao menos, os leitores de um grande jornal sobre determinado assunto.
     Pois bem. Ao contrário do que pregam, de maneira vergonhosa, os arautos do Governo, a CPI é vista muito bem por 90% dos ouvidos pelo jornal. Noventa por cento de um universo que, hoje, já ultrapassava dez mil pessoas. São números impressionantes e atestam, no mínimo, que há uma estado de revolta contra a roubalheira institucionalizada.
     O País decente, não tenham dúvida, já não suporta conviver com esses escândalos que vêm marcando os últimos onze anos da vida política nacional.

quinta-feira, 27 de março de 2014

Os defensores do assalto

     A companheirada, de fato, não tem o menor recato, respeito pela opinião pública, pela decência. O último exemplo da desfaçatez da turma que assaltou o poder há onze anos foi proporcionada pela ínclita ministra Ideli Salvati, ao cumprir a tarefa partidária de combater a Comissão Parlamentar de Inquérito que está sendo criada para apurar a roubalheira na Petrobras.
     Segundo ela, repetindo a toada petista, investigar a ladroagem na nossa principal estatal serviria, apenas, de palanque eleitoral para oposicionistas. É o mesmo argumento que foi defendido pelo inacreditável ministro da Justiça, Jose Eduardo Cardozo. Para eles, segundo se pode entender, seria mais 'patriótico' deixar o assunto de lado, ignorar as evidências do assalto; fingir que não houve dilapidação do patrimônio da empresa; ignorar a possibilidade  real de que parte do produto do roubo tenha se transferido para campanhas e bolsos petistas.
     A simples presença da ministra  em entrevista coletiva destinada a defender o indefensável já seria digna de repúdio.  O fato de ela ocorrer praticamente em seguida à divulgação de mais um dos atos abomináveis desse governo - pela mediocridade, pela sordidez -, beira ao mais vulgar desrespeito.
     Estou me referindo à indicação do marido da ministra, um praça do Exército (subtenente músico!!!), para participar de uma comissão destinada a avaliar a compra de armamentos (baterias antiaéreas).  Foram duas semanas na Rússia, com tudo pago e direito a diárias. Dinheiro que saiu do bolso do cidadão.
     A única 'qualificação' desse subtenente só pode ser o fato de ser casado com a atual ministra, aquela que ocupou a pasta da Pesca e comprou e pagou por duas dúzias de lanchas que sequer saíram das pranchetas (o ministério não tem poder de fiscalização). Por acaso, o fornecedor era um dos patrocinadores do PT de Santa Catarina.
     Pobre Brasil!

quarta-feira, 26 de março de 2014

Nas mãos de bandidos

     O jornal O Globo relacionou, hoje, cinco perguntas sobre os escândalos na Petrobras. Apenas as tramoias que foram descobertas, é bom não esquecer. A lamentar - e me sinto na obrigação de fazer essa ressalva -, o fato de elas, as perguntas, não terem sido feitas ontem, diretamente à presidente da estatal, Graça Foster, a pessoa - em tese - mais indicada a respondê-las.
     Em geral, são questões relevantes, sim (a responsabilidade pelos malfeitos; falta de controle; etc etc), mas passam longe da maior de todas: os danos irreversíveis provocados pelo aparelhamento de toda a estrutura da empresa, usada de maneira deplorável como instrumento político-partidário, com sua mais evidente consequência: a roubalheira que vem marcando os últimos onze anos das administrações petistas.
     Só os mais ingênuos podem imaginar que as fortunas desviadas pela turma colocada no comando da Petrobras pelo PT e assemelhados escorriam (escorrem?), 'apenas', para bolsos particulares. Assim como os assaltos aos cofres públicos registrados no Mensalão do Governo Lula abasteceram partidos da tal base governista, é mais do que lícito supor que haja a canalização de recursos para as - digamos - agremiações e personagens afinadas com os poderosos de plantão.
     É exatamente o que o publicitário mineiro Marcos Valério, operador do Mensalão, deixou a entender nas vezes em que anunciou a disposição de contar tudo o que sabe (infelizmente, recuou). Não é muito diferente das ameaças que já começam a surgir em relação à Petrobras e que, espero, se transformem em fatos.
     A possibilidade de encerrar seus dias na cadeia pode 'estimular' dirigentes da estatal a negociar os termos de uma esperada delação premiada. Graças a esse instrumento até certo ponto discutível, é verdade, o mundo vem se livrando de quadrilheiros de todos os tipos e calibres.
     Infelizmente, é com essa gente que estamos contando para expor as entranhas do esquema de poder. Bandidos dispostos a denunciar outros bandidos.

terça-feira, 25 de março de 2014

Pânico em Brasília

     O Mensalão do Governo Lula, se comparado à potencialmente e infinitamente mais devastadora relação de escândalos na Petrobras, tem tudo para ser considerado 'fichinha'. Tudo vai depender do que os ex-diretores da Petrobras (um deles, preso; o outro, gozando 'férias' na Europa) vão contar à Polícia Federal e aos congressistas, nas comissões que pretendem investigar a bandalheira.
     No caso do Mensalão, o publicitário mineiro Marcos Valério ameaçou contar o que sabia, deu sinais que envolveria outros destaques petistas, mas refugou - pelo menos é o que seu silêncio indica. Ainda há uma possibilidade, sim, de ele finalmente expor as provas que insinuou guardar. É uma testemunha importante, pela participação direta no assalto aos cofres públicos destinado a comprar políticos e bancar despesas da turma petista e de seus asseclas. Mas desmoralizado.
     Já o ex-diretor da Petrobras que foi apontado pela presidente Dilma Rousseff como o responsável pelo escândalo da compra da refinaria de Pasadena, no Texas, Nestor Cerveró, era, até agora, pelo menos em tese, alguém de total confiança. Tanto que foi elogiado formalmente pela então presidente do Conselho de Administração da nossa petroleira, Dilma Rousseff, como nos conta o Estadão.
     Demitido e jogado às feras, Cerveró é, potencialmente, um risco para toda a turma que vem dilapidando o patrimônio da Petrobras. E se ele decide exibir os podres que - tomo a liberdade de inferir - imaginamos?
Calado até agora, o Governo decidiu 'reagir' e escalou o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, para rebater a iniciativa de um grupo de parlamentares (nenhum do PSDB  do DEM, é bom destacar), que decidiu pedir à Procuradoria-Geral da República que investigue a participação da atual presidente na tramoia.
     Quando Cardozo se envolve em alguma coisa, é um bom sinal. Há uma enorme chance de ele estar defendendo indefensáveis, como fez em relação aos mensaleiros e assemelhados.

A institucionalização da ladroagem

     A cada dia, mais aumenta o nojo que eu, particularmente, sinto dessa geração lastimável de políticos que nos governa, sem distinção de partidos, ressalvadas as exceções que confirmam a regra. A vagabundagem dos detentores do poder nacional - se é que podemos chamar assaltos aos cofres públicos de 'ideologia' - contaminou definitivamente todos os setores da vida pública. Não há mais decência, escrúpulos, dignidade.
     A sordidez desse momento brasileiro é tão grande que nossos 'analistas políticos'  fazem teorizações sobre as manobras do PT e dos seus aliados para evitar a apuração de delitos gravíssimos, como se estivessem analisando programas de governo. A canalhice de dirigentes partidários, ocupados, agora, em sufocar as denúncias que envolvem, em especial, a Petrobras, é analisada sob uma 'perspectiva política'.
     A possibilidade de as investigações sobre os desmandos dessa lamentável Era Lula na Petrobras apontarem mais do que desvios de conduta, mas de dinheiro para campanhas eleitorais e partidos da base do Governo justificaria - pasmem!!! - as manobras destinadas a inviabilizar a apuração dos fatos. Esse comportamento execrável é encarado como normal, como se fizesse parte do jogo político.
     Essa talvez seja a maior 'contribuição' que o PT e seus asseclas fazem ao País: a vulgarização da ladroagem, a 'politização' do simples assalto. Tudo em nome de um nebuloso projeto político, de uma causa que essa gente propõe ser justa, mas que rapidamente mostrou que não passa de mais um embuste, de um desvio de conduta gerado por falha de caráter.
     Todas as armas foram válidas para alcançar o poder. O caso - emblemático! - da arrecadação de propina de empresas de ônibus no interior paulista, no começo dos anos 2000, apontou para o vale-tudo que se seguiria. O Mensalão do Governo Lula foi a continuação natural do processo de apropriação de bens e da dignidade nacionais. A essa altura, a ocupação dos cargos públicos já estava estruturada.
     Com o Governo aparelhado e o Congresso comprado, todas as portas - e cofres - se abriram, atraindo uma nova legião de aproveitadores e ladrões. Não havia mais limites para a ganância por poder e dinheiro, não necessariamente nessa ordem. A utilização da Petrobras é, apenas, a parte mais visível desse esquema sórdido. Toda a estrutura nacional está corrompida.
     Até mesmo a Justiça, que se mostrara independente e acima de partidarismos, sucumbiu à ocupação de todas as frentes promovida pelo Governo. Aos poucos, assim como vem fazendo o governo Venezuelano, por exemplo, institucionaliza-se o descalabro, a submissão de todas as instâncias nacionais. E tudo 'dentro da lei'.
     Enquanto os escândalos explodem em todos os setores - em especial na área que esteve sob seu comando direto e pessoal -, a presidente Dilma Rousseff aparece sorridente, sentada em tratores que está distribuindo no interior, em uma evidente e clamorosa antecipação da campanha eleitoral. Sobre a roubalheira na nossa principal estatal, nenhuma declaração.
     Pobre Brasil.

segunda-feira, 24 de março de 2014

Outra 'mala' no caminho

     "Em dezembro de 2011, em sua primeira visita oficial a Caracas, a presidente Dilma Rousseff tratou o assunto diretamente com Chávez, que prometeu, mais uma vez, uma solução. Nessa visita, o presidente da PDVSA, Rafael Ramírez, chegou a anunciar que "havia cumprido seus compromissos" com a empresa e entregue uma "mala de dinheiro em espécie" e negociado uma linha de crédito do Banco de Desenvolvimento da China. Esses recursos nunca se materializaram".
   
     O que vocês  leram acima é um trecho de reportagem do jornal O Estado de São Paulo sobre os acertos entre Brasil e Venezuela para construção da refinaria Abreu Lima, em Pernambuco, mais uma das realizações petistas no campo petrolífero. Não é novidade que a Venezuela, formalmente, jamais cumpriu com a obrigação de bancar 40% do custo da obra, pensada basicamente para dar uma ajuda aos companheiros bolivarianos, que precisavam (e ainda precisam ...) de um lugar para refinar seu petróleo.
     Na época do acordo, os presidentes dos dois países eram o inimputável Luís Inácio Lula da Silva e o ainda insepulto Hugo Chávez, irmãos em oligofrenia. O tempo foi passando e o 'prejuízo' foi ficando para os  brasileiros, que vêm pagando, através da Petrobras, a conta da vigarice ideológica que nos iguala aos atuais súditos desse também lastimável Nicolás Maduro.
     Segundo o Estadão, a sucessora de Lula teria tentado cobrar a parte que tocaria aos nossos vizinhos bolivarianos, aparentemente sem sucesso. No entanto, a prevalecer como verdadeira a informação contida nesse trecho da reportagem que destaquei acima, a história pode tomar outro rumo. Afinal, o presidente da PDVSA, a petrolífera venezuelana, teria afirmado que pagou, sim!!!, a parte combinada, ao entregar "uma mala cheia de dinheiro em espécie" à turma do lado de cá.
     Ou ele mentiu, o que é possível, ou 'alguém' do nosso governo recebeu a dinheirama venezuelana e deu a ela uma destinação incerta e não sabida, o que não seria improvável, tendo em vista o histórico criminal recente dos atuais detentores do poder. Eu quero saber quem recebeu a tal mala. Acredito que a parcela decente da nossa população também gostaria de ser mais bem informada sobre o assunto.
     Ainda não li qualquer 'desmentido' ou nota oficial sobre a tal mala de dinheiro em espécie. Estranho, também, o fato de nossa presidente ter sido 'informada' do tal pagamento e nada ter feito. Talvez tenha recebido outro relatório 'falho'.

sábado, 22 de março de 2014

Uma pratica bandida

     Quando não havia mais jeito de negar a existência do Mensalão, na época, o maior assalto institucional aos cofres públicos, o PT escalou seu ex-tesoureiro, Delúbio Soares, para assumir toda a responsabilidade pelo misto de canalhice e roubalheira. Foi o que ele fez, bovinamente, ressalvando, entretanto, que teria sido um mero 'caixa 2', um crime menor que já estaria enraizado na cultura política brasileira.
     Com essa atitude, estaria tentando livrar seus chefes da cadeia. Conseguiu, ao menos, com um deles, o ex-presidente Lula, que sequer foi a julgamento, apesar da torrente de evidências que o ligavam ao banditismo. Delúbio purgou o afastamento 'formal' do PT, mas viu seu devotamento ser premiado, anos depois, com uma recepção digna de grande líder, na readmissão no partido.
     O resultado final do julgamento do Mensalão não foi exatamente o que a companheirada desejava, em virtude da determinação, em especial, do presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa. Mas, se levarmos em conta a gravidade dos crimes e o impacto nas instituições nacionais, temos que admitir que ficou de ótimo tamanho para as lideranças petistas. Alguns meses na cadeia do companheiro Agnelo Queiroz, governador de Brasília envolvido em uma penca de malfeitos, e a turma estará livre para continuar ameaçando a dignidade do País.
     Delúbio, assim, cumpriu a parte que lhe tocava no roteiro que destacava a importância de o ex-presidente Lula negar que sabia do que acontecia na sala ao lado da sua (no Palácio do Planalto) e/ou no quarto ao lado da sala onde estava reunido com a liderança do antigo Partido Liberal (atual PR), no dia em que houve um 'aporte' milionário na conta da agremiação do seu futuro vice-presidente, José Alencar, aquele mesmo que chamou a mãe de uma filha fora do casamento de "prostituta".
     Essa tática, de alguém se apresentar como bode expiatório dos crimes petistas, vem sendo exercida à exaustão, como se comprovou, por exemplo, nos episódios dos 'aloprados' (a turma petista que comprava dossiês falsos sobre adversários políticos) e dos dólares na cueca de um assessor do deputado José Guimarães, irmão de José Genoíno e destacado líder do governo. A culpa sempre é assumida - ou transferida!!! - para um assessor de menor importância.
     Com a demissão do tal diretor da Petrobras que teria assinado as informações favoráveis à compra da refinaria de Pasadena, mais uma vez os caciques petistas jogam a culpa do colo de um sujeito qualquer, livrando a cara dos chefões. No caso, a cara da grande chefe, a atual presidente Dilma Rousseff, que poderia ser responsabilizada criminalmente pela desastrada decisão que deu um prejuízo bilionário à Petrobras.
     O sujeito sai de cena, mantém a qualidade de vida, assegurada por uma polpuda aposentadoria, e ainda fica como depositário dos sentimentos dos destaques do esquemão que nos governa e deve continuar governando pelos próximos anos.
     Enquanto isso, o inimputável ex-presidente Lula sai por aí falando mal da sua criatura, jogando o jogo baixo que faz parte da sua prática ...' política'.
     Pobre Brasil.

Um domínio bandido

     O Brasil dos últimos anos é o retrato mais fiel de um país dominado pelo banditismo. Os exemplos constantes de ladroagens no primeiro escalão - que se tornaram mais evidentes a partir do episódio do mensalão do Governo Lula - abriram as comportas para uma enxurrada de atos que só colaboram para reforçar a imagem que nos acompanha historicamente: a de que somos uma Nação de corruptos, imorais, desprovida de normas, devassa.
     Não é algo que nos surpreenda. Afinal, como explicar para o mundo decente que o político mais importante e decisivo do nosso país é o líder maior de uma quadrilha que vem assaltando os cofres públicos com desenvoltura e falta de escrúpulos; de um bando que se apropriou das instituições mais rentáveis e representativas da nacionalidade, como a Petrobras e o Banco do Brasil, por exemplo, para transformá-las em instrumentos de seu projeto de eternização no poder e fonte de riqueza escusa.
     A falta de dignidade dos governantes é sustentada por um discurso vazio, mentiroso, demagógico, populista, repleto de lugares-comuns. Com a desfaçatez de mestres da manipulação de dados e mentes, o grupo dominante agride a consciência nacional com a distorção de fatos, com mentiras, com medidas superficiais e claramente diversionistas, como agora, nesse deplorável caso da roubalheira envolvendo, mais uma vez, a Petrobras e petistas do primeiríssimo escalão.
     Na verdade, esse caso é antigo (a canalhice aconteceu em 2006). Há muito tempo vem sendo comentado e apontado como uma das maiores armações praticadas pela turma ligada ao Palácio do Alvorada. A repercussão deve-se ao fato de o jornal O Estado de São Paulo ter atualizado as denúncias e à proximidade das eleições. Em circunstâncias 'normais', o rombo praticado nas contas da Petrobras (mais de US$ 1 bilhão) ficaria no esquecimento.
     Assim como ficaram tantos outros. Basta lembrar que sete ministros tiveram que deixar seus cargos, no primeiro ano do atual governo, envolvidos em trapaças variadas. Não houve uma prisão sequer e o prejuízo foi soterrado. Até mesmo o raríssimo caso de punição a bandidos da cúpula governista, registrado no julgamento do Mensalão, vem sendo desmoralizado por influência direta dos protagonistas dessa lastimável fase da nossa vida.

sexta-feira, 21 de março de 2014

Histórias de Júlia e Pedro (60)

Lógica aplicada

     Não foi, certamente, por falta de 'material'. Mas admito que há algum tempo não reproduzo, aqui, as histórias de Júlia e Pedro (João Pedro ainda não protagoniza esse tipo de caso). Vou me penitenciar contando a mais recente sacada de Pedro, um moleque encantador, de verdade.
     Não sei se já contei que ele saiu da escolinha onde passou os últimos quatro anos e começou nova fase da vida, aos seis anos, no ensino fundamental. Uma fase que inclui trabalhos para serem feitos em casa. Uma das tarefas mais recentes envolvia conceitos, tipos de moradia. E ele fez questão de dizer à mãe que já conhecia todos:
     - Casa, apartamento, restos ...
     - 'Restos', Pedro? O que vem a ser isso", questionou Flávia.
     A explicação veio prontamente, com o auxílio de gravuras:
     - Aqui, mamãe: uma casa, um apartamento e os restos ...
     Fez-se a luz: eram 'sobrados', palavra que ele desconhecia e que entendeu como sobras, os restos ...

quinta-feira, 20 de março de 2014

A batalha do Paraíba

     Ficamos assim, então: os paulistas que se danem. Parodiando a rainha Maria Antonieta, se eles não têm água 'comum', que bebam mineral. Afinal, são nossos primos ricos. É mais ou menos uma repetição da despropositada defesa intransigente do uso exclusivo dos royalties do petróleo extraído por aqui, graças à roleta geológica que nos premiou. O Nordeste e o Norte que sofram eternamente com a carência de recursos.
     Confesso que, para mim, é difícil aturar essa tipo de indigência mental, resultado de pura demagogia e exacerbação de  sentimentos 'nativistas' fora de época e de contexto. Essa nova 'disputa' entre paulistas e fluminenses (na verdade, entre paulistanos e cariocas) fede a naftalina e já provou sua inadequação ao provocar batalhas campais nos limites dos jogos de futebol.
     Guardadas as proporções, São Paulo surge, para o Rio de Janeiro, como uma espécie de 'Inglaterra para a Argentina', o inimigo que estávamos esperando para chamar de nosso. A disputa pela água do Paraíba do Sul interessa diretamente ao governador Sérgio Cabral, afogado em desastres políticos que comprometem a eleição de seu indicado. E como esse tipo de bobagem tem um inegável apelo popular, empurra assuntos que mereceriam manchetes para um canto de página.
     Não sou especialista recursos hídricos - tenho apenas um singelo poço artesiano, nos fundos do meu terreno, cuja água uso para molhar o gramado e os jardins -, mas encontrei verdadeiros absurdos nessa batalha encenada por atores canastrões.
     Em primeiro lugar, pelo que li, o projeto paulista prevê a utilização futura de água proveniente do Rio Jaguari, e não diretamente do Paraíba do Sul. Não por acaso, esse rio, que faz parte da bacia de contribuintes do Paraíba, fica integralmente em São Paulo, onde também nasce o nosso principal fornecedor de água.
     Também não sou dos melhores em matemática, mas me dei ao trabalho de ler algumas especificações do projeto. A principal: seria captado apenas 1/22 (uma parte em  vinte e duas!!!) do volume, parcela infinitamente inferior ao desperdício.
     A grande questão dos problemas que podem provocar o desabastecimento de cidades fluminenses é claro que não está nesse projeto, mas na incúria dos governantes, em primeiro lugar, empresários e da população em geral, que usam nossos rios como depósitos de esgoto. Em momentos de reduzido volume de chuvas, falta água e sobra um caldo impróprio para consumo humano.
     Simples assim.
     E antes que eu esqueça:: parodiando outro autor: sim "sou do Rio de Janeiro ... e já estou de saco cheio".

quarta-feira, 19 de março de 2014

E ela também não sabia de nada ...

     Deu no Globo: "BRASÍLIA - A Secretaria de Comunicação da Presidência justificou nesta quarta-feira, por meio de nota, que a presidente Dilma Rousseff votou pela compra, pela Petrobras, de metade da Refinaria Americana Pasadena Refining System (PRSI), nos Estados Unidos, por ter, à época, informações falhas e incompletas. A compra, que é investigada pelo Tribunal de Contas da União (TCU), foi executada em fevereiro de 2006, quando Dilma era ministra da Casa Civil do ex-presidente Lula e presidente do Conselho de Administração da Petrobras".
     Entenderam? A presidente, que era a segunda na hierarquia do governo passado, diz, agora, que é a primeira, que não sabia que estava participando de uma das maiores pilantragens dos últimos tempos: a compra, por 1,12 bilhão de dólares, de uma reefinaria que havia sido arrematada por 42 milhões. Isso, num espaço de três anos, desde o início da tramoia.
     Admitamos. Se ela não sabia, alguém sabia, é claro. Ou, se não sabia, deveria saber. Portanto, na melhor das hipóteses, houve uma 'omissão', imperdoável. E, nesse cao, não dá para jogar a culpa na tal 'herança maldita'. Afinal, essa turma já estava manipulando nosso dinheiro há quatro anos.
     E essa senhora lidera, com folgas, todas as pesquisas e deve ser reeleita em outubro. Pobre Brasil, que vem sendo espoliado em nome de um projeto de poder.

Eleições e corridas de cavalo

     Ainda não tenho candidato ao governo do Rio de Janeiro. Não consigo me encontrar em qualquer dos nomes já postos. Tenho, no entanto, uma certeza absoluta: não votarei, em hipótese alguma, nos candidatos do PT, PSOL e afins (PCdoB, PSTU ...), sejam eles quais forem. Também não me imagino optando por Garotinho ou Crivela. E quando lembro que Pezão é o homem de Sérgio Cabral e do que César Maia obrou aqui no Rio ...
     Será, talvez, a eleição mais difícil de todas, em toda a minha vida. Nas anteriores, havia alguém, um nome para escolher, mesmo que não fosse o que mais se afinasse comigo. E essa é uma grande preocupação, confesso: como jamais votei em branco ou anulei um voto, procuro sempre - especialmente nos segundos turnos - encontrar algo positivo entre os candidatos possíveis, excetuando os das turmas petista e asssemelhadas, nos quais não voto.
     Como consequência, tenho 'amargado' seguidas derrotas em todos os níveis. Acho que não 'emplaco' um prefeito, governador ou presidente há, pelo menos, onze para doze anos, desde que essa lastimável 'Era Lula' tomou de assalto o país. E o quadro não deve mudar substancialmente. Mas como diz um velho amigo, "eleição não é corrida de cavalo".
     Como não jogo fora o direito que ajudei o país, de algum modo, a reconquistar, já estou prevendo enormes dores de cabeça em outubro. Já sei que serei obrigado a tapar o nariz, mas é um preço razoável pelo direito de votar livremente. Acho que só quem já viveu momentos de opressão sabe valorizar, mesmo, determinadas conquistas.
     Já ia esquecendo: essas 'reflexões' me surgiram agora, ao ler matéria da Veja sobre mais essas pilantragens que o PT estava patrocinando, aqui no Rio, para beneficiar su candidato ao Governo estadual.

terça-feira, 18 de março de 2014

No limite da barbárie

     Normalmente evito temas que não geram polêmicas, nos quais há apenas uma interpretação, uma direção, uma conclusão. Temas de apelo mais fácil. É o caso do conjunto de atos bárbaros que resultaram na morte de uma mulher, mãe e esposa, em uma comunidade carente do Rio de Janeiro, vítima da insensatez de um grupo de policiais militares - mais uma!!!
     As cenas do corpo dessa mulher sendo arrastado por centenas de metros, pendurado na mala/caçamba de um carro da PM - no entanto -, são desclassificantes para a humanidade. Mesmo sob o argumento de que os policiais não teriam percebido que a porta traseira abriu. Aquele mulher não poderia estar ali, atirada como se fosse um pacote de lixo a ser descartado.
     Não há justificativas, desculpas, explicações. Agentes do Estado, com fé pública, atropelam todas as barreiras da dignidade e provocam a morte de uma pessoa que deixa quatro filhos e quatro sobrinhos, dos quais também cuidava.
     Um episódio que necessariamente obriga a instituição policial a se repensar. Não é mais possível admitir a convivência com personagens com o perfil dos policiais envolvidos em mais essa boçalidade, não por acaso envolvidos em atos pretéritos de violência. Cabe à Polícia Militar, formada, em sua maioria, por homens e mulheres decentes e bravos (eu mesmo conheço alguns, nos quais confio integralmente), começar a reescrever sua história.
     Elementos como esses e outros também envolvidos recentemente em atos desastrosos são perniciosos para a própria instituição, em primeiro lugar. Já deveriam ter sido expurgados, como tumores malignos.
A cidade, o estado e o país, como um todo, precisam cada vez mais de agentes de segurança que sem bem-formados profissionalmente e moralmente. Uma polícia correta, impermeável a subornos e barbaridades, é fundamental para o futuro da Nação.
     Talvez - e essa esperança é repetida recorrentemente - esse assassinato detone o gatilho de uma ampla e profunda reestruturação no aparato policial civil e militar.

segunda-feira, 17 de março de 2014

A lógica dos estúpidos

     Já contei aqui, em textos que remetiam às minhas infância e juventude, que morei em um lugar muito especial no longínquo - e, na época, agradável - subúrbio de Marechal Hermes. Todos conheciam aquele aglomerado de casas e pequeno comércio como 'Portugal Pequeno', por motivos óbvios. Em pouco mais de uma quadra, havia uma enorme concentração de imigrantes portugueses, entre os quais meu pai, que aqui chegou ainda criança, no começo dos anos 1910.
     Só na carvoaria que ficava praticamente ao lado da vila em que eu vivi 20 anos, podíamos contar oito portugueses. Na padaria mais à frente, outros dois. Fora os agregados e vizinhos um pouco mais distantes, como os donos do botequim da esquina, o leiteiro e o intrépido proprietário de um caminhão.
Meu pai era o único que destoava do perfil: por obra e graça de uma decisão do então presidente Getúlio Vargas, passara de empregado da Empresa de Navegação Costeira (onde também trabalhavam meu avô e tios) para funcionário público da autarquia que acabara de ser criada. Um caso raríssimo de estrangeiro (ele jamais se naturalizou) que conquistou o status de funcionário público.
     Jogávamos sueca - um jogo de cartas tipicamente português - e torcíamos pelo Vasco, com uma rara exceção: Antônio 'Vassoureiro', cunhado de Zulmiro, dono da carvoaria, que torcia pelo nosso maior rival e, por isso - entre outros motivos -, era detestado. Um deles, sou obrigado a reconhecer, era o fato de ser um ótimo jogador de sueca.
     Não era, entretanto, uma comunidade fechada. Ao contrário. A sueca e a conversa fiada sob a copa de um dos fícus da nossa Rua Capitão Rubens reunia portugueses, brasileiros e até um italiano que por lá morava. Mas havia, inegavelmente, hegemonia de - digamos ... - súditos de Portugal, por essa época ainda governado pelo ditador Oliveira Salazar.
     A prevalecer a estúpida lógica desse estúpido  dirigente russo, o ex-agente da KGB Vladimir Putin, poderíamos - portugueses e seus descendentes - ter feito um plebiscito e declarado nossa volta aos domínios de Portugal, alegando, ainda, o passado colonial. É verdade que os gajos já não estavam com esse bola toda e certamente não teriam interesse naquele pedaço de subúrbio distante, rua de terra batida.
     Mas e o Japão, em relação ao bairro da Liberdade, em São Paulo? Ou a Alemanha, cuja língua ainda é falada em várias cidades do Sul? E Chinatown?

sábado, 15 de março de 2014

E agora?


     Será que ele, afinal, vai desmentir, retrucar, processar? Acho que não. É mais provável que o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva continue quieto, fingindo que não tomou conhecimento das acusações feitas pelo seu ex-auxiliar direto, o ex-secretário Nacional de Justiça, delegado Romeu Tuma Júnior, que o apontou, entre outras coisas, como alcaguete do Dops, nos duros tempos da ditadura militar.
     Lula - e sua história mostra isso - jamais teve coragem de enfrentar acusações e/ou acusadores. Tremeu quando o ex-presidente Fernando Collor (seu atual amigo fraterno) apareceu no último debate das eleições de 1989, de maneira deplorável, com uma pasta que, supostamente, conteria informações sobre seu relacionamento com a mãe de uma de suas filhas.
     Acovardou-se quando confrontado com as denúncias sobre as roubalheiras em seu Governo, no caso do Mensalão. Jurou que não sabia de nada e, em seguida, jogou a culpa em auxilares que o teriam traído. Repetiu o gesto de pouca coragem quando do episódio da falsificação de dossiês contra adversários, atirando a responsabilidade sobre alguns 'aloprados'.
     Escondeu-se, mais recentemente, quando suas relações com a chefe de gabinete da Presidência da República em São Paulo, Rosemary Nóvoa, tornaram-se públicas. Nunca disse uma palavra sobre o comportamento de sua 'protegida', que vendia o prestígio que obtivera graças aos - digamos ...  - 'serviços' que prestava ao patrão. Nunca mais enfrentou jornalistas, Nunca mais deu entrevista.
    E manteve-se calado, acuado, ao ser exposto às revelações feitas pelo ex-delegado Romeu Tuma Júnior, no livro em que conta quase tudo o que viveu, viu e soube ao longo da vida como policial federal. A bem da verdade, não apenas ele, Lula, ficou quieto, fingindo-se de morto. Ninguém da trupe petista que está no poder  enfrentou as acusações, que foram muito além de apontar o ex-presidente como uma espécie de 'cabo Anselmo do ABC'.
     A acusação de que integrantes do primeiríssimo escalão - incluindo a atual presidente  - montaram uma fábrica de dossiês dentro do Governo, para atingir inimigos, foi convenientemente ignorada, o que me direito de acreditar que é verdadeira. Assim como a presença da digital petista no assassinato do prefeito Celso Daniel, de Santo André, que teria se rebelado ao saber que a propina paga por empresas de ônibus do interior paulista abastecia, além dos cofres do partido, bolsos particulares.  Afinal, inocentes, quando acusados, reagem, processam, exigem reparação.
     Talvez - só talvez! - agora, com a ida de Romeu Tuma ao Congresso, convocado para falar  sobre as acusações mais relevantes de seu livro, fique mais difícil para o ex-presidente e sua turma esquivarem-se de perguntas indiscretas, questionamentos. Para alguns temas, o "eu não sabia" pode até funcionar. Para outros, não há saída: o silêncio será visto inexoravelmente como uma confissão.

sexta-feira, 14 de março de 2014

Falência do Estado


     O Estado Brasileiro está falido. As instituições, em geral, deixaram de ser respeitadas pelas mais diversas camadas da população. Hoje, é impossível que alguém possa afirmar, com certeza, que sairá ou voltará para casa em segurança, livre de barreiras, do fechamento de ruas e do ataque de vândalos de todos os matizes e origens.
     A ausência de uma autoridade confiável e digna serviu de estímulo à desordem. Confunde-se liberdade com libertinagem; direito à expressão com desacato. Não há mais limites. O Jornal Nacional de hoje - queiramos, ou não, um painel do nosso dia a dia - exibiu cenas capazes de envergonhar qualquer nação que se considere digna.
     Os fatos registrados em São Paulo são emblemáticos. O descontentamento com uma decisão que poderia, sim, ser contestada (a cobrança de tarifas de estacionamento no maior entreposto do país), transformou-se em pura barbárie. No Rio, as imagens do sepultamento de um jovem oficial da Polícia Militar, assassinado por bandidos (mais um!!!), exibiram o grau de abandono a que estamos submetidos.
     O Brasil desandou nas mãos desse grupo que está no poder central e que parece imbuído do propósito de nos lançar no caos irreversível. Estamos pagando pela  exacerbação da demagogia, do populismo barato e da vigarice ideológica - marcas da política nacional nos últimos onze anos, em especial.
     À falta de coragem em enfrentar seriamente as ameaças à cidadania, somou-se, de maneira cruel, o sentimento de desencanto com os donos do poder.  O Brasil, creio que posso afirmar, há muitos anos não passa por momentos tão delicados, resultado do atropelo dos preceitos que ajudam a construir países dignos.

quinta-feira, 13 de março de 2014

Exemplos imperiais


    Leituras nessas férias escolares (*): 'Sabres e utopias', de Mario Vargas Llosa (Editora Objetiva), recomendado e emprestado por Paulo Sérgio Carvalho, um fraterno amigo de infância; e 'D. Pedro II', de José Murilo de Carvalho para a série 'Perfis brasileiros', da Companhia das Letras, que me foi cedido por Flávia, minha filha mais velha, que o resenhou há algum tempo.
     Em 'D. Pedro II', no capítulo 11 (Autorretrato), alguns exemplos do pensamento do nosso segundo imperador e que poderiam (deveriam?) ser aproveitados por essa gente que está no poder.
    Vamos a alguns trechos: ".. Não posso admitir favores diferentes de justiça..."; "... Também entendo que despesa inútil é furto à Nação..."; "... A nossa principal necessidade política é a liberdade de eleição; sem esta e a imprensa não há sistema constitucional na realidade ..."; e "... A tribuna e a imprensa são os melhores informantes do monarca ...".
     Sábias observações.

     (*) Já falei sobre isso algumas vezes. Mas não custa repetir, até mesmo para situar eventuais novos leitores desse Blog.. Quase 40 anos depois de ter sentado pela última vez em um banco escolar,  (no belo e maltratado prédio do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UFRJ ), voltei à vida acadêmica no ano passado (com direito ao Enem ...) e estou me preparando para começar o terceiro período do curso de História da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. O prazer do convívio com jovens especiais em um campus diferenciado vem servindo de combustível para um 'velho' jornalista.

STF decreta sua própria falência


     De todos os quadrilheiros  (perdão, ex-quadrilheiros ...) condenados pelo Supremo Tribunal Federal pelo assalto aos cofres públicos e à dignidade nacional - no episódio que ficou conhecido como Mensalão do Governo Lula -, o que mais me provocava e ainda provoca náuseas é o ex-deputado petista João Paulo Cunha, que ocupava a presidência da Câmara na época do escândalo.
     Flagrado ao mandar a mulher receber propina de R$ 50 mil diretamente no caixa de um banco em Brasília, tentou escapar alegando, entre outras coisas ridículas, que a esposa estaria pagando uma conta de tevê por assinatura. É isso mesmo: esse personagem deplorável da política brasileira não teve, ao menos, a 'coragem' de ir ele mesmo receber o dinheiro sujo.
     Comprovada a pilantragem, o STF o enquadrou, também, no crime de lavagem de dinheiro. Afinal, ao usar a mulher como sua 'mula', ele estava, justamente, tentando encobrir a origem dos recursos espúrios. Hoje, em mais uma demonstração lastimável de conivência com a cúpula petista, os novos ministros do STF, Teori Zavacski e Luiz Barroso, acolheram o recurso de João Paulo e o absolveram, reduzindo sua pena, prevista inicialmente para ser cumprida em regime fechado.
     Mais do que isentar os 'ex-bandoleiros' do crime de formação de quadrilha - uma aberração que vai marcar indefinidamente o STF -, a absolvição de uma personagem pública que usou, comprovadamente!!!, a própria mulher para receber um punhado de reais é um escárnio, uma agressão à parcela decente da população, que é maioria.
     No caso dos demais ex-quadrilheiros (José Dirceu, José Genoíno e Delúbio Soares, em especial), havia a alegação (indireta, é claro) de que tudo era feito em nome de uma causa, como se isso os redimisse. No episódio envolvendo João Paulo Cunha, entretanto, não há 'desculpas ideológicas'. Tratou-se, simplesmente, de receber propina, com o agravante do uso de mulher e das mentiras que vieram a seguir.
     Com mais essa decisão, os novos ministros do STF, ajudaram a assinar o que parece ser o atestado de falência moral do único dos três poderes que ainda merecia o respeito integral da Nação.

quarta-feira, 12 de março de 2014

Disputa vulgar

     Há uma total e completa inversão de valores nesse Brasil petista. O fato de a Câmara convidar um punhado de ministros para prestar contas de suas atuações e/ou esclarecer denúncias de desvio de verbas é apontado como uma provocação ao Governo, e não como um ato comum em democracias que se respeitam. Em estados decentes, a prestação de contas é uma obrigação moral dos servidores públicos, de qualquer escalão.
     Aqui, não. Essas convocações e convites só acontecem em situações especiais, quando interesses particulares estão sendo contrariados, como agora, nessa disputa eleitoreira entre o PT e o PMDB. Se tudo estivesse transcorrendo dentro das expectativas, mantidos os acordos de distribuição de feudos, certamente o país não teria a chance de saber, ao menos, que há denúncias escabrosas sobre corrupção na Petrobras.
     Já nem chego a imaginar a possibilidade de uma discussão série e profunda sobre os desmandos que vêm provocando a destruição da nossa principal empresa, loteada e a serviço de um projeto político destinado a perpetuar o PT no poder. Acho que o 'desprendimento' dos nobres participantes da comissão de deputados que vai ouvir a senhora. Graça Foster não dará brechas a questionamentos mais profundos.
     Como também não acredito em um questionamento mais sério dos cinco ministros convidados a prestar esclarecimentos à população, através de seus representantes. Ao longo dos últimos anos, o grupo que está no poder, de fato, costurou uma imensa teia de sustentação, capaz de filtrar qualquer tentativa mais séria de furar o escudo protetor oficial.
     O que seria uma obrigação do Congresso - zelar pela correta administração do País - transformou-se em uma mera e vulgar queda de braços pelo protagonismo nas eleições de outubro, fomentada pelo próprio Governo, interessado em aparecer como vítima.

terça-feira, 11 de março de 2014

A covardia brasileira


     A cada assassinato de manifestantes na Venezuela, mais indefensável fica a postura do governo brasileiro em relação à violência de estado liderada por Nicolás Maduro, o mais deplorável e boçal presidente da América Latina, comparável, apenas, ao genocida da Coreia do Norte, outro que conta com a simpatia dessa gente que está no poder há onze anos.
     Hoje, no Chile, onde está participando das solenidades da posse da presidente  Michelle Bachelet, Dilma Rousseff saiu-se com mais uma de suas derrapagens verbais que, no fim, destinava-se a reforçar o apoio que seu governo dá à criatura que vem acelerando o mergulho da Venezuela no caos irreversível.
Mesmo acossada pela realidade dos assassinatos e atropelos constitucionais praticados por Nicolás Maduro, nossa presidente manteve a retórica covarde que, em síntese, pode ser analisada como um estímulo à violência.
     Em dado momento das bobagens proferidas com aquele ar de quem está tratando com imbecis,entretanto, Dilma Rousseff  tentou fazer um paralelo com a situação vivida no Paraguai, quando da cassação do ex-presidente e ex-bispo Fernando Lugo. No fim, acabou dizendo o contrário do que pretendia, ao admitir que a situação paraguaia acabou se estabilizando, após a saída do pastor que arrebanhava ovelhas para seu confessionário e espalhava filhos pelo país.
     Alguém que não conheça os desvios de raciocínio da nossa presidente, poderia até imaginar que ela estava admitindo que tudo se acertaria, com a saída de Maduro. Infelizmente, não é o caso. O Brasil de Dilma e de Lula continua alinhado não apenas com esse lastimável aprendiz de ditador, mas com outros da mesma espécie.
     Não se poderia esperar nada diferente de um governo que entrega a estratégia da sua política internacional a alguém do 'porte' de Marco Aurélio Garcia, aquele mesmo que ficou conhecido como o ministro Top-top.

segunda-feira, 10 de março de 2014

Democracia à moda coreana


     Fico imaginando a inveja que o assassino Kim Jong-un, o mais recente e ridículo ditador da Coreia do Norte, deve estar despertando por aqui, nessa pobre América Latina, especialmente na Venezuela, Bolívia, Equador, Argentina e ... Brasil.
     O grotesco comandante de uma das potências atômicas recebeu nada menos do que 100% dos votos em uma eleição para uma Câmara de representantes, mais um dos cargos que ocupa. E quando se fala em 100% dos votos, é exatamente isso, como nos conta a Veja: todos os inscritos na zona em que Jong-un era 'candidato' votaram nele. Não houve voto em  branco ou ausência.
     Na Coreia do Norte, não apenas é proibido discordar, mas muito perigoso, mesmo. Recentemente, Kim mandou assassinar seu tio e ex-mentor (há notícias de que atirou o tio - vivo!!! - em uma jaula com cães famintos). E esse é mais um ponto de afinidade entre o mais estúpido regime do mundo e as republiquetas que vicejam por aqui.
     Discordar dos poderosos, aqui e em alguns dos nossos vizinhos, também é arriscado, embora não haja o perigo de represálias desse porte, exceto na Venezuela desse lastimável Nicolás Maduro, que já contabiliza mais de duas dezenas de mortes resultantes das manifestações populares contra o governo.
     No Brasil, ousar apontar as mazelas, mentiras e vagabundagens da turma que está no poder há onze anos também tem preço. No mínimo, o crítico é acusado de ser de 'direita', algo que soa como uma condenação ao fogo eterno. Quando o alvo das críticas é o ex-presidente Lula, então, qualquer contestação é apontada, na melhor das hipótese, como preconceituosa e sujeita o autor à ira dos eleitos.
     Talvez por isso - com pavor de se indispor com os seguidores da seita lulista -, o candidato do PSB à presidência, Eduardo Campos, tenha feito questão de eximir Lula das críticas diretas que fez ao Governo Dilma. Mesmo sabendo, como todos os razoavelmente informados, que o ex-presidente é o grande responsável por tudo o que aconteceu nos últimos e desastrosos anos.

Nariz de Cera

     Vou tomar a liberdade de sugerir meu livro, 'Nariz de Cera', para quem acompanha meus textos e quer conhecer um pouco das histórias que formaram meu perfil de jornalista e de crítico. Lançado no segundo semestre do ano passado, está à venda no site da Livraria Relíquia, que pertence ao grupo responsável pela minha editora, a Verve. Vamos ao endereço: www.livrariareliquia.com.br. Aproveitem que está em promoção e  ... boa leitura.

domingo, 9 de março de 2014

Choque de decência


     O operoso secretário de Segurança do Estado do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, admite que está pensando em reocupar o Complexo do Alemão, grupo de favelas da Zona Norte da cidade do Rio. É uma admissão formal de que a pacificação conquistada com tantas dificuldades foi atropelada pela reação do tráfico, responsável pela morte de diversos policiais.
     Se fosse consultado, diria às autoridades policiais que é preciso mais do que ocupar um complexo de favelas. É preciso ocupar todo o estado, implantar o reinado do direito em todos os municípios, em especial na área que conhecemos como Grande Rio, que engloba a Baixada Fluminense e Niterói.
     O Estado do Rio precisa, urgentemente, de uma  enorme e abrangente Unidade de Polícia Pacificadora, que garanta aos cidadãos decentes o direito de ir e vir; de andar pelas ruas sem medo; de explorar as belezas naturais; os calçadões, parques e praias.
     Em síntese, o Rio de Janeiro precisa urgentemente da presença do Estado, que não pode, comodamente, se omitir com relação às população de rua, às quadrilhas de jovens que infernizam a vida de mulheres e idosos, em especial.
     A população - acredito que esteja resumindo uma ansiedade geral - já não suporta mais ficar refém de marginais. O caos urbano chegou ao ponto de banalizar ocorrências que, em passado não tão distante, eram consideradas graves. Arrastões a qualquer hora do dia, em todas as partes da cidade, incorporaram-se à 'paisagem' das nossas cidades, destaque absoluto para o Rio.
     E tudo é encarado com certa bonomia, em tom de troça, superficial. A violência que marcou todos os blocos carnavalescos não mereceu mais do que alguns comentários, alguns em tom de troça. As pessoas que pagaram uma fortuna para ver os desfiles das escolas de samba foram atacadas por gangues no entorno da Marquês de Sapucaí.  Centenas de turistas foram atacados e roubados nas ruas, praças e praias (sem falar nos preços exorbitantes cobrados nos hotéis, restaurantes e pelos ambulantes).
     O Rio precisa, para ontem, de um choque de autoridade e de decência.

sábado, 8 de março de 2014

O 'rolé' do Chioro


     O novo ministro da Saúde, Arthur Chioro, mostrou que está realmente afinado com o espírito que vem marcando a turma de Brasília nos últimos lastimáveis onze anos. Segundo nos conta a Folha, em matéria repercutida também por O Globo, o substituto de Alexandre Padilha, virtual candidato petista ao governo de São Paulo, levou a mulher para passear no carnaval, em avião da FAB.
     Com a desfaçatez que caracteriza essa gente, ao ser questionado, alegou que estava a serviço e que a presença da sua mulher não teve custos. O tal 'serviço' a que ele tão denodadamente se dedicou, em camarotes momescos no Rio, em Salvador e em Recife, consistiu na distribuição de preservativos. É isso mesmo: Chioro passou os dias de folia distribuindo camisinhas entre os convidados VIPs de políticos amigos.
    E ele diz isso - é fácil imaginar! - com a mesma serenidade com que seu líder, o ex-presidente Lula, negou saber da roubalheira registrada no Mensalão. E ainda afirmou, e os jornais reproduziram, que teve o cuidado de fazer consultas sobre a conveniência, ou não, do périplo carnavalesco, com a mulher a tiracolo.
Vejam bem a que ponto de indignidade chegam os atuais detentores do poder maior. Em nenhum momento o tal ministro se questionou sobre a real necessidade de ir, em pessoa, fazer um trabalho que poderia ser realizado por qualquer pessoa. Pelos porteiros dos camarotes, por exemplo.
     Na ótica desse turma que tomou de assalto o poder, o fato de levar a mulher para festas carnavalescas a bordo de um avião oficial é algo normal. Afinal, se a presidente da República escarnece da população desviando o avião oficial para passar uma noite em Lisboa e o presidente do Senado, o alagoano Renan Calheiros, usou o transporte oficial para fazer um transplante de cabelo, ele também pode dar uns 'rolés' com a mulher.
     E o que melhor: recebendo diárias.

sexta-feira, 7 de março de 2014

Indignação seletiva


     A solidariedade 'ideológica' aos garis cariocas, em greve há uma semana, diminuiu na proporção exata da divulgação da ligação de um dos líderes do movimento com o PR, partido do ex-governador e atual deputado federal Anthony Garotinho. E, ao contrário do que aconteceu quando a TV Globo e O Globo expuseram a evidente ligação entre os tais 'black blocs' e o deputado estadual Marcelo Freixo, do PSOL, não registrei qualquer reação ou ato de repúdio às empresas da família Marinho.
     É o que poderíamos classificar de seletividade da indignação levada ao extremo do partidarismo. Quero destacar o seguinte: quando as notícias são 'favoráveis', por atingirem um adversário, refletem a pujança da democracia. Mas quando explicitam o lado podre dos correligionários ... Haja refrão desenterrado.
     Se verdadeiro - não descarto a possibilidade, especialmente pelas personagens -, o envolvimento de Garotinho, virtual candidato ao governo do Estado do Rio, com a greve dos garis apenas reedita práticas que se tornaram recorrentes a partir do surgimento do Partido dos Trabalhadores no cenário político. É a aposta no quanto pior  (para os inimigos), melhor para nós (esse 'nós' é retórico, claro).
     Ao longo dos anos, havia, sempre, a digital dos grupos radicais da tal 'esquerda' (conceito idiota que continua sendo usado como sinônimo de atitudes avançadas, modernas), especialmente petista, em todas as manifestações violentas. Foi assim, por exemplo, ao longo do processo de privatização, quando marginais apedrejavam ônibus e agrediam empresários.
      Essa constatação continua valendo, ainda hoje, mas apenas e tão-somente nos estados governados pela oposição ao poder central. O 'black blocs' que atira pedras na sede do governo de São Paulo é um lutador. Já aquele que ameaça a realização da Copa ... Contra esse, é legítimo usar toda a força possível.

Uma oposição desfibrada


     Mais uma demonstração de mediocridade e covardia dessa turma que se apresenta como 'oposição': representar contra o misto de presidente e candidata à reeleição Dlma Rousseff por ter realizado uma reunião no Palácio do Alvorada - que é mantido pelo dinheiro de todos nós, petistas ou não, é verdade! - com seu mentor e antecessor no cargo.
     Vou me permitir passar ao largo de discussões mais profundas sobre o eventual mérito da questão. Por mim, a presidente-candidata pode se reunir com quem quiser, na hora e no lugar que mais bem lhe aprouverem. Minha questão seria outra: o caráter dos seus interlocutores.
Caberia aos partidos de oposição, se não fossem apenas amontoados de personagens sem estofo, discutir o histórico desses companheiros de reunião, mostrar quem são,  o que fizeram e continuam fazendo. No caso específico do ex-presidente e líder maior do PT, seria o caso de relembrar passagens marcantes, como a denunciada pelo delegado Romeu Tuma Júnior, por exemplo.
     O país decente precisa saber que Lula é acusado de ter sido alcaguete do Dops por uma testemunha ocular acima de qualquer suspeita, pois fez parte do primeiríssimo escalão de seu governo. Precisa ser lembrado que o ex-presidente - de acordo com notícias jamais desmentidas - mantinha uma amante com dinheiro público e que essa amante liderou uma quadrilha que explorava seu (dela) prestígio no Governo.
     Ao invés de reclamar do encontro, essa oposição desfibrada deveria ter a dignidade de relembrar a atuação de Lula no episódio do Mensalão; sua presença na sala da casa onde houve a compra do apoio do partido daquele que seria seu vice-presidente (a negociação teria sido feita em um dos quartos ...). Deveria expor as negociatas com grandes empresas; o valor pago por 'palestras'.
     Enfim: seria preciso enfrentar a máquina populista e demagógica que etá envolvida em um sem-número de falcatruas. Mas essa turma que se apresenta como opção tem medo de enfrentar o ex-presidente, um ser reconhecidamente inimputável. Não tem coragem,. sequer, de recordar a desastrosa sequência de 'malfeitos' do atual Governo.  Ou a nefasta parceria dos dois últimos governos petistas com o que há de mais pernicioso no mundo.
     Prefere apontar a mira para 'legalicidades'.  Está fadada à derrota.

quinta-feira, 6 de março de 2014

A falência do Estado


     Por coerência, vou me permitir discordar frontalmente de todos os que saem por aí generalizando e colocando no mesmo saco manifestações democráticas e meras badernas, mesmo que motivadas por sentimentos relevantes. Não, não são pacíficas as interdições de avenidas a qualquer hora do dia, quase todas manipuladas por traficantes e/ou políticos. Ao contrário. São atos de violência contra a população em geral, que é impedida de exercer seu direito inalienável de ir e vir.
     Hoje, por exemplo, o Rio foi vítima de duas dessas manifestações injustificáveis, embora executadas sob a alegação de exigir justiça para dois assassinatos. Exatamente na pior hora do dia, no fim da tarde, grupos fecharam os acessos ao Túnel Dois Irmãos e à Linha Amarela, isolando a Barra da Tijuca e  parte de Jacarepaguá.
     Um trânsito já naturalmente insuportável ficou caótico. Milhares de pessoas foram impedidas de se locomover para suas casas, em um processo que vem se tornando recorrente, em virtude da mais absoluta ausência do Estado, desmoralizado e refém da ambições eleitoreiras de governantes medíocres e covardes. Doentes, crianças, idosos, todos foram vítimas desse estilo bandido de 'cidadania'.
     Presos no trânsito, milhares de pessoas assistiram à liberdade com que bandidos agiam roubando motoristas, preferencialmente mulheres e velhos. E, como corolário desse caos, o fedor do lixo que se acumula por toda a parte.
     Infelizmente, esse quadro não é privilégio do Rio de Janeiro. Apenas repercute mais. O interior de São Paulo está vivendo a apavorante escalada da violência, expressa na queima de dezenas de ônibus e carros particulares. A estupidez é endêmica e proporcional à omissão das ditas autoridades.
     Esse caos institucional deve ser creditado à demagogia e ao populismo que cresceram avassaladoramente nos últimos anos, sob a regência petista. Já escrevi, em alguns momentos, sobre esse tema. Volto o meu misto de questão e conclusão: como exigir respeito à lei e à ordem quando, num passado não muito distante, os que hoje estão no poder estimulavam a baderna, as quebradeiras, as destruições de patrimônio?
     Essa é, talvez, a maior conquista do projeto petista de poder: a interrupção do processo democrático de retomada dos direitos.

quarta-feira, 5 de março de 2014

As cinzas venezuelanas


     O mais estúpido governante latino-americano, o aprendiz de ditador bananeiro Nicolás Maduro, dessa sofrida Venezuela, acaba de protagonizar mais um dos seus espetáculos ridículos, liderando a solenidade que marcou o primeiro aniversário da morte do seu mentor 'intelectual', o ainda insepulto Hugo Chávez. Isso, logo em seguida ao carnaval prolongado que ele decretou para tentar esvaziar as manifestações populares contra seus desmandos, que já se arrastam há algum tempo e provocaram a morte de quase vinte pessoas.
     Olhando as imagens que chegaram por aqui, tem-se a nítida impressão que o carnaval, de fato, não terminara. Ou que as cinzas serão eternas. A começar pelo desfile de nulidades que acompanharam o espetáculo, destaque absoluto para o ditador cubano Raul Castro e para o cocaleiro boliviano Evo Morales, dois dos mais expressivos representantes do que há de pior nessas bandas americanas.
     Graças às preocupações eleitoreiras, nossa presidente de direito e o cara que manda, de fato, Dilma Rousseff e Lula, ficaram por aqui. Seus marqueteiros devem ter alertado que não pegaria bem os dois aparecerem ao lado de um governante que está matando manifestantes. Suas - deles, Lula e Dilma - últimas manifestações, no entanto, me dão o direito de especular que lamentaram profundamente não estarem pessoalmente em mais essa demonstração de mediocridade política.
     Ambos, no entanto, sabem que têm um lugar especial entre o que há de pior nesse contexto terceiro-mundista populista e demagógico. Não por acaso vêm dando sustentação e apoio irrestrito a cubanos, venezuelanos, colombianos e assemelhados em indigência. Há poucos dias, por exemplo, nosso ex-presidente andou flanando por Cuba, intermediando contatos entre empreiteiras e o governo castrista.
     Pobre América Latina.

terça-feira, 4 de março de 2014

O silêncio dos culpados

     Vocês têm escutado o vergonhoso silêncio da diplomacia brasileira (o Barão do Rio Branco deve estar dando reviravoltas no túmulo nos últimos 11 anos)? E ele se acentua a cada dia, escorado na vigarice retórica da tal 'não-intervenção-em-assuntos-internos-de-outros-países'. Desde que esses outros não sejam, por exemplo, Israel, Estados Unidos, Inglaterra e Colômbia.
     Assim mesmo, na Colômbia, quando o assunto não são as legiões terroristas das Farcs, defendidas por aquele 'ministro' que ficou famoso por espalhar gestos pornográficos em meio à desolação de milhares de pessoas com o horror do desastre com um avião da TAM, em São Paulo  - o tal de Marco Aurélio 'Top-Top' Garcia.
     Há alguns dias, lembrei, aqui mesmo, no 'O Marco no Blog', a canalhice desenvolvida pelo Brasil quando da deposição do então presidente paraguaio, Fernando Lugo, aquele ex-bispo que seguia à risca a parte final do mandamento "crescei e multiplicai-vos". Bastou o Congresso, com apoio maciço da população e respaldo da Justiça, dar um passa-fora no garanhão paraguaio para que nosso governo liderasse represálias duríssimas contra o pobre país vizinho.
     Pois a Rússia invade um país independente, chantageia o governo e humilha as forças armadas ucranianas e o Brasil nada diz, nada fala, num resquício estúpido de reverência à meca do comunismo do século XX. Algo semelhante com o que faz em relação às ditaduras castrista de Cuba, genocida e homofóbica; norte-coreana, assassina e terrorista; e venezuelana, principiante, mas nem por isso menos boçal.
     Hoje, em O Globo, o economista Rodrigo Constantino - mais um integrante da lista de desafetos disso que se diz a esquerda brasileira (que lástima!!!) - lembrou outro fato marcante do estelionato ideológico praticada por aqui. O Brasil, repleto de ONGs dedicadas às minorias, manteve um silêncio vergonhoso quanto à decisão de Uganda, de criminalizar o homossexualismo.
     Analisando por outro ângulo, no entanto, pode ser que o silêncio seja melhor do que as sequências de aberrações retóricas disparadas pela presidente Dilma Rousseff.