terça-feira, 31 de janeiro de 2012

A presidente e os direitos humanos

     Eu tento, sinceramente. Leio, vejo e escuto algumas declarações da nossa presidente e vou adiante. Afinal, prefiro duzentas Dilmas cometendo deslizes e diversionismos, do que um Lula. Mas é difícil. Hoje, por exemplo. Segundo o Estadão, a presidente afirmou, em entrevista coletiva concedida em Havana, que não se pode tratar de direitos humanos como "ferramenta ideológica para criticar apenas certos países".
     É isso mesmo: apontar a total falta de liberdade e a violência do regime cubano seria uma ferramenta ideológica, certamente da direita golpista e da imprensa 'marronzista'. Ela - nossa governante - não chegou ao ponto de dizer isso. Mas me dá a liberdade - por falta de palavras e de atos - de inferir o que vai no seu pensamento. Aliás, ela não deixou de destacar as violações que ocorrem na base americana de Guantânamo, como se umas justificassem as outras e fossem do mesmo - digamos - calibre.
     É, simplesmente, o mais simplório exercício de estelionato ideológico. Uma declaração produzida e embalada para presente nos gabinetes do Planalto. Cuba, e a presidente sabe bem disso, é uma ditadura, dirigida por personagens paleológicos que enxergam o mundo com a visão medíocre característica de pessoas absolutamente mal-preparadas e limitadas.
     Lá, nesse 'paraíso caribenho', é proibido expressar descontentamento com a falta de liberdade, com a extrema limitação cultural , com a formação fascista da juventude, com o cerceamento dos mais elementares direitos do homem, do cidadão, como o de ir e vir. Assim como não há respeito pela opção sexual. Ou alguém esqueceu a deportação em massa de homossexuais, promovida pelo então presidente Fidel Castro?
     Todos sabem ler? Pois é. Pena que não haja liberdade para escolher o livro ou, simplesmente, o jornal do dia a dia. É o Gramna, ou o Gramna, usado, em larga escala, para fins não muito nobres, mas essenciais. Pelo menos serve para esses fins.

Todo apoio à Lei Seca

     Vou defender, sempre, com o vigor que for possível, todas as iniciativas destinadas a - pelo menos - reduzir os números cada vez mais indignos de mortes no trânsito. Como essa, anunciada hoje por O Globo. De acordo com um projeto de lei substitutivo, que deve ser aprovado em breve, quem se recusar a fazer o teste do bafômetro, sob a alegação de que não é obrigado a produzir provas contra si mesmo, como ocorre com frequência, também será enquadrado e punido mais mais rigor.
     O teor de álcool no sangue deixaria de ser o único indicativo de embriaguez, assim como ocorre nos Estados Unidos, por exemplo. O motorista com comportamento suspeito seria obrigado a realizar alguns testes, algund deles bem simples, como andar em linha reta. Tropeçou, processo e multa dobrada. Os atuais R$ 957,65 passariam para R$ 1.915,30. O impedimento de dirigir também dobraria, de um para dois anos, o que ainda acho pouco.
     Lamento, também, que a punição monetária não seja aplicada de acordo com as posses do infrator. Quanto mais rico o carro e o bebum irresponsável, mais alta deveria ser a multa. Atualmente, como temos acompanhado, artistas, políticos e jogadores famosos simplesmente optam por se recusar a fazer o teste e pela multa, um trocado para eles.
     Não podemos - a sociedade como um todo - transigir com essa conduta. É tempo de lutar seriamente para reduzir a estatística de mortes e ferimentos em acidentes provocados pela irresponsabilidade.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Não há direitos humanos na agenda cubana

     Doce ilusão, a dos 'dissidentes' cubanos. Eles imaginam - segundo O Globo - que a presidente Dilma Rousseff, lá na ilha dos irmãos Castro, onde está chegando para uma visita oficial, vai introduzir a o tema dos direitos humanos nas conversações oficiais. Não há menor chance de isso acontecer, a ser mantido o perfil ideológico que orienta os últimos onze anos de poder no Brasil.
     Para nossos dirigentes, até prova em contrário, dissidente cubano merece o tratamento que foi dispensado aos dois boxeadores que fugiram da delegação que participava dos Jogos Pan-Americanos, no Rio, em 2007: prisão e envio, à força, de volta ao paraíso do atraso e da mediocridade. De preferência, como aconteceu na época, em um avião do governo venezuelano, para tentar salvaguardar as aparências, em uma atitude ainda mais covarde do que a deportação.
     Embora tenha dado uma saudável guinada em direção ao bom-senso, nossa política externa continua sendo marcada pelo atraso. O Brasil defendeu, até o fim, o governo do ditador e terrorista líbio Muamar Kadafi. Vem se omitindo, sistematicamente, na condenação à falta de liberdade da capital mundial da arbitrariedade, a Coreia do Norte. Finge que condena o Irã e o governo sírio. Dá o braço a bufões como o misto de ditador e coronel de operata venezuelano Hugo Chávez. Mas está sempre pronto e alerta para condenar Israel, que é um democracia, e criticar os Estados Unidos, num comportamento rançoso que nos retroage aos anos 1960.
     Apesar de os fatos demonstrarem diariamente que Cuba nada mais é do que uma ditadora medíocre - onde milhares de pessoas estão presas por ousarem pensar e contestar, com palavras, o governo -, nossos dirigentes e boa parcela da dita intelectualidade de 'esquerda' (seja lá o que isso for, nos dias atuais) insistem em não enxergar as agressões aos princípios que fingem defender.
     A blogueira Ioany Sánchez, que se inspirou em uma foto da presidente Dilma Rousseff depondo em um tribunal militar para pedir ajuda no seu pleito de vir ao Brasil, certamente não tem conhecimento histórico. Dilma lutava, sim, contra uma ditadura de 'direita', que sufocava as liberdades individuais, torturava e matava. Mas defendia - na época - a implantação de outra ditadura, de 'esquerda', tão assassina quanto qualquer outra.
     A democracia - objetivo que deve ser perseguido a todo momento, como faz Ioany - não estava em primeiro lugar. Os tempos mudaram. O Brasil é, de fato, uma democracia. Mas insiste em ignorar esa conquista. 

Um 'alemão' vence o 'Alberto'

     Vou aproveitar as férias de João Ubaldo Ribeiro, no O Globo, para me apropriar de algumas imagens que ele criou para sua ilha natal, Itaparica, e transferi-las aqui para a Pedra, esse bairro com cara de cidade do interior, embora plantado à beira-mar.
     Pois o único assunto dessa manhã de segunda-feira, por aqui, mais precisamente no Bar Tricolor, encravado na Praça do Rodo, era a vitória de um 'alemão' no 'Alberto' da Austrália. De nada adiantavam as intervenções de Uóshinton de Assis, misto de garção e cozinheiro, um jovem ligado em todos os esportes e o único assinante do jornal ali na roda de bate-papo: "Não é alemão, é sérvio. E não é Alberto, é Aberto", repetia.
     Rivelino da Silva, frequentador assíduo do bar, estava eufórico: "O alemão destruiu o Nadador", garantia, ignorando solenemente o fato - relembrado por Assis, batizado assim em homenagem aos 'carrascos' do rubro-negro - de Djokovic ter derrotado o espanhol Rafael 'Nadal'.
     E cada um que chegava e tomava conhecimento do assunto - que provocava tanta excitação - acrescentava um comentário sobre o esporte. Afinal, deveria ser um esporte, já que ocupou o espaço historicamente destinado aos assuntos esportivos nas edições de segunda-feira. Houve até quem garantisse que o torneio era jogado em uma reserva de cangurus, responsáveis por saltar e pegar as bolinhas atiradas a esmo pelos contendores.
     Na verdade, ninguém tinha visto o tal jogo do século (5h30), "épico", segundo manchete de O Globo. Além de Assis, nenhum deles jamais havia assistido a uma partida de tênis na vida, assim como 99% da população brasileira. Mas se foi manchete de um jornal brasileiro e carioca, em uma segunda-feira, logo após um domingo inteiro de futebol, o assunto merecia um bom par de horas de prosa, antes do cochilo da tarde.

Paes e os desabamentos

     Tenho feito, ao longo do último ano, sérias e contendente críticas ao prefeito Eduardo Paes, especialmente pela falta de consistência política (navegou com desinibição do antigo PFL ao PMDB, com passagem pelo PSDB) e evidente deslumbramento com o cargo. No recente caso dos desabamentos de prédios no Centro do Rio, procurei manter o distaciamento que minha consciência mandou. A exploração de catástrofes está entre os grandes males que atribuo à mediocridade do nosso debate político, que tende a ser rasteiro principalmente em períodos eleitorais.
     Sou obrigado, no entanto, a reconhecer o comportamento sóbrio e ponderado que o prefeito vem tendo ao longo desses dias. Presente e consciente, Eduardo Paes em nenhum momento se deixou levar pela pressa no julgamento das causas do acidente, participou diretamente - desde os primeiros momentos - da organização do atendimento às vítimas e a seus parentes e reagiu com a indignação que se poderia esperar ao comentar os saques aos escombros, fruto dos piores instintos que infelizmente estão presentes na sociedade.
     Um desempenho digno, o que não isenta a Prefeitura de responsabilidades, é claro. Mas não apenas a 'sua 'prefeitura, e sim a instituição em si, quase sempre omissa na fiscalização e, como os demais mecanismos de controle, sujeita às 'variáveis' que todos sabem que existem.
     Já o governador Sérgio Cabral, seguindo ao pé da letra os ensinamentos de seu guru, o ex-presidente Lula, desapareceu e continua desaparecido. As tragédias não fazem parte da sua cota de responsabilidade.

O sabor das amoras

Um cacho de amoras silvestres, da Pedra

     Minhas lembranças têm, normalmente, cheiros e sabores. Ao aproveitar, ontem, a 'safra' de amoras silvestres aqui da Pedra, senti mais uma vez o gosto da casa dos meus avós paternos - não conheci os maternos -, encarapitada em um quase beco, no bairro mais carioca do Rio, a Saúde, onde nasci, e de onde tínhamos uma visão quase infinita da Baía da Guanabara. Nos dias claros, o horizonte era recortado apenas pelos mastros dos cargueiros que se espalham ao longo do velho Cais do Porto.
     Com um pouco de fantasia infantil, conseguia ver até mesmo o escritório onde meu pai trabalhava, no armazém 13, ao lado da antiga estação de passageiros. Meus avós - imigrantes portugueses - desembarcaram quase em frente à casa onde moraram enquanto viveram. E era uma casa portuguesa, com certeza, que gravitava em torno da ampla cozinha onde o fogão a lenha estava sempre aceso com alguma coisa saborosa.
     Foi lá, nessa casa, que foi experimentei, pela primeira vez, uma amora silvestre, colhida diretamente do arbusto. A amoreira ficava exatamente após o limite da área 'urbanizada', um galinheiro que garantia os ovos frescos que abasteciam a mesa dividida pelos seis filhos dos meus avós e, mais tarde, pelos netos que por lá andavam. Uma amora roxa, doce, que brotara por ali naturalmente, fruto da semente que algum pássaro depositou.
     A amoreira era a primeira das muitas plantas e arbustos que se espalhavam pelo quintal, encosta acima. Para chegar até lá, precisávamos subir uma enorme escadaria de concreto - que dava acesso, também, a dois quartos usados para acolher filhos e netos que continuavam agregados - e atravessar o galinheiro. Uma aventura, para meninos como eu e meu irmão mais novo.
     Minha amoreira foi uma das primeiras fruteiras que plantei aqui na Pedra, como uma tentativa de preservar momentos especiais. E relembrá-los, com carinho.

domingo, 29 de janeiro de 2012

Uma resposta à demagogia

     Mais uma demonstração inequívoca de que a população da cidade de São Paulo repudia a demagogia populista e eleitoreira normalmente praticada pelo PT. Uma pesquisa do Datafolha, divulgada hoje, demonstra que 82% dos paulistanos aprovam a atuação da prefeitura e do estado contra o consumo e o tráfico de drogas na região que ficou conhecida como 'cracolândia'. Entre os que votam no PT, esse número é ainda maior: 83% (entre os que se aproximam do PSDB a aprovação chega a 90%).
     A explicação, pelo menos para mim, é simples: as pessoas comuns, independentemente da ideologia política, não encaram a degradação física e moral de seus semelhantes como algo natural, uma opção de vida (de morte, na verdade) que deve ser respeitada. Não é, e eu tenho me manifestado constantemente em relação a esse tema.
     A democracia não pode ser confundida com irresponsabilidade, omissão. Como é que alguém pode dormir tranquilamente sabendo que milhares de miseráveis estão se matando, dominados por um vício capaz de destruir uma pessoa em pouquíssimo tempo? - eu me pergunto cada vez que leio ou escuto um desses vigaristas de plantão falando da desgraça alheia no conforto de suas casas.
     Que o dependente não pode ser tratado como criminoso, não há a menor dúvida. Ele é uma vítima, sim, mas normalmente privada - pela destruição provocada pela droga - da capacidade de tomar decisões. A mãe que troca o filho recém-nascido por duas pedras de crack é uma infeliz, que precisa de apoio. E esse apoio deve ser oferecido, por bem - o que revela-se praticamente impossível, nesses estágios -, ou por mal, à força, compulsoriamente.
     O Estado existe para defender seus cidadãos, dar a eles chances iguais, zelar pela sua saúde física e mental, garantir alimento a quem tem fome e tratamento para seus doentes. A omissão histórica, sob os mais diversos e vagabundos argumentos populistas, é a responsável pela proliferação dos nossos maiores males.
     A população de São Paulo demonstrou que entendeu isso.

O Pinheirinho do PT

     Estou esperando as manifestações de repúdio - vindas da Presidência da República - à prisão da cantora Rita Lee, pela Polícia Militar de Sergipe, estado comandado pelo PT. Não vou dormir enquanto não ver, ouvir ou ler uma entrevista do ministro Gilberto Carvalho sobre a violência policial, que não teria 'esgotado todas as possibilidades de negociação' antes de optar pela decisão mais drástica.
     Também estou ansioso para saber que a presidente Dilma Rousseff classificou a prisão como uma "barbárie", a exemplo do que fez em relação à atuação absolutamente legal da PM paulista à reação à retomada de posse de área invadida em São José dos Campos, conhecida como Pinheirinho. Nesse caso sergipano, não havia, sequer, uma determinação judicial para a prisão da provecta senhora, que fazia seu último show.
     A polícia petista sergipana justificou a prisão - segundo a Folha - por "desacato e apologia ao crime ou ao criminoso (Art. 287 do Código Penal)". O mais representativo prócer petista do estado, o governador Marcelo Déda, que estava no show e assistiu a tudo, foi o primeiro a defender a prisão, como destaca o jornal. Afirmou que a cantora protagonizou "um espetáculo deprimente" e que "a polícia não tinha feito nenhum tipo de ação que justificasse [a atitude da cantora]".
     "Rita Lee xingou os policiais de vários palavrões (vou me permitir não repeti-los aqui no Blog) e ainda mandou os policiais fumarem um 'baseadinho'", poderiam argumentar os defensores da polícia petista, fazendo coro ao governador. É verdade. A recém-aposentada cantora, de fato, insurgiu-se contra a ação de policiais destacados para dar segurança ao espetáculo, num claro ato de desacato, punível com deteção.
     Nesse caso, a ação policial petista estaria plenamente justificada. Foi uma reação. Já em São José dos Campos, cidade governada por um prefeito do PSDB em um estado também dirigido pelo PSDB, a violentíssima atitude de um grupo de invasores - queima de pneus, carros e casas comerciais incendiados, apedrejamento etc - não foi considerada atenuante pelos arautos da liberdade. A PM paulista, que tinha ordens expressas da Justiça para cumprir uma decisão transitada em julgado, deveria ter sido mais compreensiva, colocado o rabo entre as pernas e dado meia volta.
     Essa é a lógica vagabunda e demagógica do petismo e dos seus dirigentes. Prender uma senhora que grita palavrões é legal. Retirar invasores cumprindo ordem judicial é barbárie.
     E aí, 'seu' Gilberto, vai falar alguma coisa?

sábado, 28 de janeiro de 2012

O dedo sujo do PT, na lama do DEM

     A falta de escrúpulos, a canalhice e a vigarice política parecem, mesmo, não ter fim, nesse nosso país. A cada dia, a cada fim de semana de manchetes e capas de revistas, novas e devastadoras denúncias sobre o envolvimento de personalidades do primeiríssimo escalão da nossa república com chantagens, roubalheiras, subornos, uso de informações privilegiadas.
     A vergonha dessa semana - apontada por Veja - envolve personagens conhecidos pelo comportamento não muito digno, como o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), relacionado, há pouco tempo, com os escândalos no Ministério do Esporte, que ele ocupou imediatamente antes do demitido Orlando Silva, do PCdoB, partido de origem do atual petista.
     Dessa vez, as denúncias exibem seu envolvimento na montagem das denúncias - verdadeiras - do bilionário esquema de corrupção que culminou com a prisão do governador de então, José Roberto Arruda, várias cassações de mandato e a renúncia do vice, Paulo Octávio, no episódio que foi chamado de 'Mensalão do DEM'.
     A fonte não é das mais dignas de respeito: o delegado aposentado Durval Barbosa, ex-secretário de Relações Institucionais do Distrito Federal, que gravou os episódios de corrupção ativa. Segundo Durval, tudo foi feito de comum acordo com Agnelo Queiroz, que disputaria a eleição e pretendia tirar proveito do roubo alheio.
     As fitas da distribuição da propina, segundo o delegado, foram entregues com antecedência a Agnelo e ao atual ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) José Antônio Dias Toffoli, ex-advogado geral da União.
     Os dois, de acordo com Durval, prepararam, em segredo, a denúncia que detonou todo o esquema, seguindo um cronograma montado com base em um calendário eleitoral estabelecido pelo PT. Agnelo venceu as eleições e José Antonio foi indicado, pelo Governo, para o STF.
     O delegado aposentado afirmou, ainda, à Veja, que o atual governador do DF havia prometido uma secretaria, caso tudo desse certo, como deu. Agora, para "comprar" seu silêncio, teria recebido uma oferta de R$ 150 mil.
     Como se pode ver, não há mocinhos em mais essa chanchada com a marca brasiliense. Só bandidos, da pior espécie.

A Justiça e o Mensalão

     A acusação pode recender a mais uma das muitas 'teorias da conspiração' que trafegam livremente e inconsequentemente na sociedade. Pode, também, ser um ato desesperado de um poder - o Judiciário - que jamais foi tão contestado quanto nos últimos tempos. Afinal, nossos magistrados, de todos os níveis, estão sendo acusados das práticas mais reprováveis, comuns naqueles que passam pelos bancos de réus.
     Supersalários - absolutamente incompatíveis com qualquer parâmetro que se possa imaginar -, eventuais vendas de sentenças (algo estarrecedor) e uma enorme capacidade de blindagem são alguns dos males atribuídos aos nossos juízes, que em pouco tempo têm assistido ao prestígio do Judiciário despencar em queda livre.
     Por trás de toda essa pressão, no entanto, segundo magistrados reunidos em Teresina para discutir caminhos para melhorar suas atividades e ouvidos pelo Estadão, estaria um projeto de desestabilização planejado para favorecer os réus do Mensalão - maior escândalo da história recente do país -, que irão a julgamento provavelmente este ano.
     Para alguns de seus representantes, os acusados (são 38) trabalham principalmente para pressionar o Supremo Tribunal Federal, que se sentiria sem força para condenar personagens como José Dirceu - o chefe da quadrilha que assaltou os cofres públicos, segundo denúncia da Procuradoria-Geral da República -, temendo reações organizadas.
     Ainda segundo o Estadão, o desembargador Marcus Faver, dirigente máximo do Colégio de Presidentes dos Tribunais de Justiça, é um dos que desconfiam das ações contra o Judiciário: "O Judiciário brasileiro está sofrendo um abalo nas suas estruturas. A quem interessa abalar as estruturas de um Poder constituído e que defende os princípios democráticos de um País?", questiona.
     Teoria da conspiração, desculpa ou a sensibilidade de quem está acostumado a tratar com delinquentes?

Histórias de Júlia e Pedro (34)

Pedro e o português
     Júlia desde muito pequena fala corretamente. Usa os tempos verbais e as concordâncias quase com perfeição - a perfeição que se pode exigir de uma criança de oito anos. Ela sabe exatamente que é para ela 'vir', e não para 'vim', um conhecimento simples que parece faltar à grande maioria dos nossos analistas televisivos, sejam eles esportivos ou políticos.
     Nunca houve uma cobrança direta, chata. As correções surgiam naturalmente, nas conversas, no seu aprendizado, no estímulo à leitura. Com Pedro acontece o mesmo. Embora, para a idade (apenas 4 anos e meio), tenha um vocabulário bem acima da média e muito bem empregado, comete lá seus enganos, comuns e naturais.
     Um deles é o do emprego indevido do pronome 'se'. É um tal de "se eu se molhar"; " eu posso se lavar sozinho" e afins. E, como acontecia com Júlia, é lembrado da forma correta, especialmente pela mãe:
     - Eu 'me' lavar, Pedro. 'Me' ...", destacava Flávia, sempre.
     De tanto ouvir essas correções em um mesmo dia, Pedro não aguentou e desabafou:
     - Eu não sei por que tem tanto me, me, me, mamãe ..."
     Todos riram, é claro. E lembraram da 'ponderação' que ele fez quando vítima de outra correção. Ao ouvir que não deveria dizer "eu vou ir", e sim "eu vou", não teve dúvidas:
     - Mas eu vou 'ir', mamãe ...", reforçando o ir.
     Aos poucos ele está indo, sim, e muito bem.

Minha frase da semana

"A sanha arrecadadora de todos os níveis governamentais assume, a cada dia, um perfil ainda mais nefasto e leviano no Brasil."

Extraída do texto 'Extorsão sem limites', do dia 24, terça-feira.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Mais uma sinecura

     Quem tem padrinho ... Pois é. Essa máxima antiga é uma das que mais bem explicam os arranjos, mutretas e outras malandragens que afogam o governo em denúncias, escândalos e chantagens. O mais recente exemplo nos foi dado hoje, pelo ínclito ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, da cota do PMDB. Embora não mande nada na Petrobras, que apenas teoricamente fica sob seu comando, coube a ele anunciar a criação de mais uma sinecura na nossa maior estatal: uma tal de Diretoria Corporativa.
     Segundo O Globo, Lobão 'explicou' que caberá a esse novo cabide de empregos milionário administrar a maior empresa do país. E quem deverá ser o capo? José Eduardo Dutra, que já presidiu a empresa e que estava afastado da vida pública, em tratamento médico. Refeito e curado (ainda bem, para ele e sua família, em especial), não poderia ficar de fora do bolo, e vai comer logo uma bela fatia, daquelas só oferecidas à companheirada mais fiel.
     Alguém que não esteja embotado, poderia se perguntar como é que a Petrobras funcionou até agora. Será que não era administrada, que corria tudo solto e livre, ao sabor dos jorros de petróleo e jatos de gás?
     Essa resposta, só mesmo a turma do Planalto pode dar. Não acredito que uma bagunça generalizada imperasse na joia da nossa coroa. Só me resta imaginar que não foi possível dar um pontapé em um dos diretores indicados pelo PMDB, para realocar um dos príncipes petistas. Imprensado, o governo optou por ampliar o número de boquinhas (na verdade, bocarras ...). No fim, nós pagamos a conta.

Salve o Corinthians...

     Baseado no princípio da isonomia, eu também quero ser beneficiado com isenção do pagamento de impostos, como se fosse um estádio de futebol. E não me venham com o argumento que os atingidos pelo Governo Federal pelo tal de Recopa - um regime de benefícios tributários para construção de estádios destinados Copa das Confederações do ano que vem e ao Mundial de 2014 - são entes públicos.
     O Estadão divulga hoje, sem a devida e necessária análise, que o novo estádio do Corinthians foi incorporado à farra, embora seja absolutamente particular e vá beneficiar, no futuro, apenas e tão-somente um clube de futebol e seus sócios. Isso quer dizer que, além de todas as vantagens anunciadas quando do início das obras, mais algumas serão incorporadas, aumentando compulsoriamente os gastos do nosso dinheiro.
     Nada contra o futebol, os as copas que estão vindo por aí. Ao contrário. Futebol, eu sei, é uma das maiores paixões dos brasileiros, entre os quais me incluo. Mas não vejo argumentos morais que justifiquem o desembolso (ou renúncia fiscal) de quantias fabulosas em estádios - especialmente particulares -, quando há tanto por fazer no país.

Pelé foi ... Pelé

     A - digamos - 'polêmica' em torno de quem seria o melhor jogador de futebol de todos os tempos ganhou um novo ingrediente, com a última capa da revista Time, que retrata o argentino Lionel Messi, com o sugestivo título de 'King Leo'. Que o astro maior do Barcelona é o mais destacado jogador em atividade no mundo, não tenho a menor dúvida. Messi está em outro patamar, em outro nível. Mas entre ele e Pelé existe toda uma galáxia.
     Não é à toa que alguém é campeão do mundo aos 17 anos, e fazendo os gols que ele fez na Copa da Suécia. Assim como ninguém é tricampeão mundial e faz 1.238 gols por acaso. Pelé - e isso não e apenas uma imagem - parou uma guerra; obrigou um juiz a recuar na sua expulsão, por exigência dos fãs apaixonados; cativou reis, rainhas e presidentes.
     Pelé pairou acima do bem e do mal, assim como se equilibrava no ar para dar cabeçadas mortais, com os olhos abertos. Pelé, em campo, fazia tudo com perfeição. Quem não o viu atuando, jamais verá algo igual. Não há comparações com qualquer outro. Maradona? Esse é um misto de discussão e brincadeira de péssimo gosto. Não é preciso ir muito longe, basta colocar a história de cada um lado a lado.
     Em relação Maradona, tenho sérias dúvidas se ele foi melhor do que Zico, Garrincha ou Rivelino. Quem me conhece e à minha paixão pelo Vasco sabe que eu sou absolutamente insuspeito para dizer isso.
     Voltando a Messi: ele é sensacional, sim. Suas arrancadas, dribles em velocidade e visão de jogo encantam a qualquer um. Mas Pelé foi absolutamente genial. Pelé foi ... Pelé.

A luta está apenas começando

     Por mais que a gente saiba que governar é fazer acordos, não consigo me acostumar a ler e ouvir, todos os dias, que os cargos tais são do PMDB; que aqueles mais importantes são do PT; que os intermediários são do PSB; que os sem prestígio pólítico (mas com verbas sempre generosas) ficam com PTB, PP, PTB, PCdoB e outros menos votados.
     Não se trata de distribuição de funções por mérito, formação, histórico. Ministros, diretores e até burocratas sem autonomia conquistam seus lugares graças, quase sempre e apenas, à fidelidade canina (não há outra explicação para a presença de personagens como Gilberto Carvalho e Marco Aurélio Garcia no primeiro escalão, há tanto tempo) e aos interesses político-partidários mais nebulosos, com as raras exceções que confirmam a regra, como o novo ministro da Ciência e Tecnologia, Marco Antônio Raupp.
     Há algum tempo o país convive com essa realidade: a luta pela conquista de espaços, travada, principalmente, entre o PT e o PMDB, os dois maiores partidos brasileiros. A presença de peemedebistas nos mais importantes escalões consolidou-se no primeiro governo Lula e faz parte de um amplo acordo para formar a tal base de apoio não apenas às iniciativas oficiais, mas ao projeto de poder alimentado e desenvolvido pelo PT.
     Maleável e marcado indelevelmente pela genética adesista, o PMDB aceitou de bom grado o papel de parceiro de todos os momentos, desde que o Governo garantisse sua cota no poder, no manuseio das verbas públicas, fundamental na hora da afirmação eleitoral. Seus mentores sabem que são determinantes e, apesar de discriminados 'ideologicamente', indispensáveis.
     A sanha petista, agravada pela proximidade de eleições municipais importantíssimas, no entanto, está mexendo com esse equilíbrio. Com um agravante, para os projetos peemedebistas: a esfuziante aprovação do Governo Dilma, que deu à presidente respaldo para enfrentar seus parceiros.
     O embate, no entanto, não acabou. O PMDB não vai aceitar tranquilamente a perda de prestígio e poder. Em algum momento, a mediação do vice-presidente Michel Temer vai esbarrar na reação mais dura e inflexível de um cacique. Nesse momento, talvez, o país vai saber, de fato, quem tem balas na agulha.

O Brasil e Cuba

     A desfaçatez com que o governo brasileiro trata as agressões aos direitos humanos em Cuba não tem limites. Há quase dois anos, o ex-presidente Lula comparou os presos políticos do regime dos irmãos Castro a bandidos comuns, logo após a morte do ativista Orlando Zapata, vítima de uma greve de fome que durou 85 dias.
     Na época, o mais medíocre dirigente brasileiro de todos os tempos construiu o seguinte 'raciocínio', em entrevista a uma agência de notícias estrangeira, a Associate Press: "Eu penso (?) que a greve de fome não pode ser utilizada como pretexto de direitos humanos para libertar pessoas. Imagina se todos os bandidos que estão presos em São Paulo entrarem em greve de fome e pedirem liberdade? Se os presos brasileiros entrassem em greve de fome e se você fosse o governante, você iria libertar todos?"- questionou. Será difícil encontrar uma declaração tão estúpida e desqualificada como essa em toda a história brasileira.
     Dois anos depois, a posição brasileira em relação à ditadura cubana é praticamente a mesma. Não houve um comentário sequer sobre a mais recente morte, a do dissidente Willman Volaer Mendoza, de apenas 31 anos, também vítima de greve de fome realizada na prisão onde se encontrava pelo 'crime' de discordar do regime.
     Ontem, imprensado na parede por um pedido de visto de entrada da mais famosa dissidente cubana, a blogueira Yoani Sanchez, às vésperas da visita da presidente Dilma Rousseff à ilha, nosso governo não teve outra saída, exceto conceder a autorização, mas com a ressalva expressa por esse incrível 'assessor' Internacional da Presidência, Marco Aurélio Garcia, ao Estadão: "O visto foi concedido. Agora, obter a autorização para sair de Cuba é problema dela".
     Não é, 'assessor'. O problema não é de Yoani. Ao contrário, é integralmente desse regime arbitrário e criminoso que sufoca o país há mais de cinco décadas, um dos poucos no mundo que cerceiam o direito de ir e vir, consagrado na declaração dos direitos humanos.
     É possível 'entender', no entanto, as restrições à saída da ilha. Se as fronteiras forem abertas, restarão poucos dispostos a viver sob o jugo de dirigentes sofríveis, em um país de mentira, edulcorado pela fantasia de um grupo de 'intelectuais' que estacionou nos anos 1960. Basta ver a população de Miami, que aumenta a cada dia, em virtude da chegada, em embarcações toscas, de fugitivos do paraíso comunista do Caribe.
     Se abrir, 'assessor', não fica um.

(*) O questionamento quanto à capacidade de pensar do ex-presidente (expresso por uma interrogação) é meu, e não da Associate Press.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

A fuga do 'paraíso'

     As duas notícias convivem lado a lado na página de O Globo. Dois exemplos marcantes do que é o paraíso cubano, exaltado por muitos de nossos mais destacados pensadores do que se convencionou chamar de esquerda - seja isso o que for, no mundo atual. Pois em um das pouquíssimas ilhas comunistas do mundo, literal e metaforicamente, o assunto do dia deveria ser - não é, pois lá não liberdade para tanto - a fuga de duas atletas e a obtenção de visto pela blogueira Yoani Sánchez, que tenta há vários anos sair do país.
     Yoani está com um dos pés fora da ilha: o Brasil - por não ter como negar, destaque-se! - concedeu-lhe um visto de entrada, para participar de um encontro para o qual foi convidada, em Jequié, Bahia. Não se sabe, ainda, se a ditaduta comandada por Raul Castro vai permitir que a 'dissidente' possa viajar. São fatos distintos. É até provável que permita, para afagar a presidente Dilma Rousseff, a nobre visitante que chegará por lá no fim do mês.
     Já as duas atletas participavam da seleção de futebol que disputa o pré-olímpico das Concacaf, no Canadá. Como se vivessem um roteiro de filme passado na antiga Alemanha Oriental, driblaram o cerco no hotel onde estavam hospedadas - eram proibidas de sair -, desceram uma escadaria, pegaram um táxi e ordenaram ao motorista: "Para a fronteira". A fronteira, no caso, era a dos Estados Unidos, onde pediram e receberam asilo político.
     Se o destino da fuga fosse o Brasil, as duas certamente teriam sido embarcadas a força em um avião venezuelano e devolvidas aos irmãos Castro, como aconteceu com os lutadores de boxe que participavam dos Jogos Pan-Americanos do Rio. Ao contrário do que ocorreu com o assassino e terrorista italiano Cesare Battisti, acolhido com extremo carinho por nossos governantes.
     Yoani, caso seja liberada para viajar e imagine por aqui ficar, precisa levar em conta o que a espera. O assessor de Assuntos Internacionais da Presidência, Marco Aurélio Garcia (aquele mesmo que comemorou com gestos indecentes o resultado da perícia sobre o acidente com o avião da TAM, que provocou a morte de 200 pessoas, em São Paulo), já antecipou o que nosso governo pensa sobre a hipótese de a blogueira pedir asilo: "Acho difícil. Exilado político não pode ter atividade política. Não me parece que ela queira isso", disse, a O Globo.
     Está aí o recado: pode até ficar por aqui, mas com a boca e o computador fechados. Para o governo cubano, pode ser um grande negócio. Eliminaria uma voz conhecida mundialmente, sem que fosse necessário cortar a língua de mais um inimigo da revolução.

Mais um que 'pede demissão'

     Mais um demitido 'a pedido'. Nesse governo, ninguém é posto para fora a pontapés, como seria esperado, pelo menos oficialmente. Mesmo quando os demitidos são pegos com - digamos - as duas mãos no cofre. O mais recente demitido a 'pedido' é o tal diretor do Departamento Nacional de Obras Contra a Seca, Elias Fernandes, apadrinhado pelo deputado federal Henrique Alves, um dos manda-chuvas do PMDB e que peitara o Governo, ontem, ao defender seu protegido.
     Acusado de irregularidades que provocaram prejuízo de impressonantes R$ 312 milhões, o ex-dirigente mereceu defesa incondicional do PMDB, até que sucumbiu, sob a alegação de estar facilitando a reestruturação no setor, como nos conta o Estadão (entre outros).
     Sai, como os seis ministros do Governo Dilma acusados de corrupção, com a certeza de que nada vai acontecer. Um inquérito administrativo aqui, umas explicações ali e tudo cairá na vala comum do esquecimento, garantindo, assim, que as parcerias dos bens públicos com a privada continuem marcando a atual administração petista, assim como aconteceu nos períodos anteriores, sob o comando do cada vez mais decisivo ex-presidente Lula.
     Tudo isso em nome não da governabilidade - jamais ameaçada -, mas do projeto poder que passa pelos arranjos mais espúrios, capazes de manter nos cargos, por exemplo, os ministros da Integração, Fernando Bezerra, chefe do tal Elias; Fernando Pimentel, do Desenvolvimento, aquele que desapareceu do noticiário depois que foi descoberta sua enorme 'capacidade' de prestar consultorias; e Mário Negromonte, das Cidades.
     Sempre que possível, um pedidozinho de demissão ajuda a ajustar as desavenças e a tirar a sujeirada do foco dos jornais e revistas.

Argentina vai 'à guerra'

     A presidente argentina Cristina Kirchner voltou à ativa - depois da cirurgia para eliminar um câncer que não era câncer e que jamais ficou bem explicada - com o discurso afinado, típico dos governantes sem projeto, que sobrevivem da demagogia e da manipulação dos sentimentos das camadas mais simplórias da população, em especial.
     O alvo de hoje - um deles, mas o mais emblemático - foi a Petrobras, acusada, ao lado de outras empresas, de formar cartel e não investir de fato no país, que estaria apenas e tão-somente explorando. É um comportamente tão medíocre quanto esperado. Tem sido usado ao longo dos séculos por governantes desqualificados: se a situação interna está difícil, ou promete piorar, basta eleger um inimigo para unir o país em torno de uma causa, despertando sentimentos nacionalistas que não deveriam ter espaço num mundo globalizado como o nosso. Especialmente na esfera do Mercosul.
     A história recente argentina tem outro exemplo emblemático: a guerra pela posse das Ilhas Falklands (ou Malvinas, como insistem nossos vizinhos). Os ditadores da época (abril de 1982) apostaram na guerra para aglutinar a população, assim como haviam feito com a Copa do Mundo de 1978, vencida pela Argentina em circunstâncias até hoje contestadas. Em dois meses a Inglaterra resolveu a questão e contribuiu para a queda de um regime que se mostrou assassino.
     Populista e ideologicamente vazia, a presidente Kirchner apela - como os ditadores que ela diz ter combatido - para o enfrentamento de inimigos da pátria. O Brasil, enorme e incomodamente protagonista, é o alvo mais próximo e seguro, pois não oferece o risco de uma surra militar, que seria fácil e rápida, destaque-se.
     Ma nem mesmo a patacoada dos militares parece ter servido de exemplo. A presidente, que luta contra a liberdade de imprensa, tem esboçado abrir novamente a frente pela incoporação das Ilhas Falklands (ou Malvinas). Ela sabe que não teria a menor chance em novo enfrentamento, mas usa o histórico emocional para manter o discurso rasteiro que a reconduziu ao poder.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Corrida pela indignidade

     A velha e usada frase do jornalista Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta, não poderia ser mais atual: "Restaure-se a moralidade, os nos locupletemos todos", pregava na velha Ultima Hora, inconformado com os rumos da dignidade pátria. Não sabia que estávamos apenas dando os primeiros passos de uma corrida para a indignidade que parece não ter fim.
     Não há praticamente um dia, sequer, que não sejamos atingidos por alguma notícia deletéria, quase sempre oriunda dos poderes da República, destaque absoluto para o Executivo, em estreita parceria com o Legislativo. São escândalos seguidos, apropriação de verbas, desvio de dinheiro público, tráfico de influência, roubalheira pura e simples. E tudo isso sem a punição exemplar que a sociedade exige.
     No mais recente, envolvendo o Departamento Nacional de Obras Contra a Seca, vinculado ao malfadado Ministério da Inregração, há um caso comprovado - pelo Tribunal de Contas - de irregularidades. Mas nem assim a presidente Dilma Rousseff tomou as medidas indispensáveis.
     Feudo do PMDB, nada pode ser feito sem o aval do deputado federal Henrique Eduardo Alves, do Rio Grande do Norte. E ele foi claro no misto de mensagem e desafio que enviou ao Governo, condicionando - segundo O Globo - a demissão de seu indicado, um tal de Elias Fernandes Neto, à "comprovação" de malfeitos, como se fosse necessário encontrar impressões digitais no segredo do cofre.
     Mais uma evidência do preço aviltante que todos nós pagamos pelos acordos elaborados pelo ex-presidente Lula para criar e manter a tal 'base aliada' que dá sustentação ao projeto de poder petista.

Vandalismo à paulista

     Quem me conhece, ou lê, conhece minha opinião sobre o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, presidente e fundador do adesista PSD. Sabe, também, que não morro de amores pelo governador paulista, Geraldo Alckmin (PSDB), em quem (confesso!!!) votei - por absoluta falta de opções -, quando enfrentou o ex-presidente Lula, para mim, o personagem mais nefasto da nossa vida pública recente, pelo retrocesso ideológico que produziu no país.
     Mas não é por isso que vou deixar de apontar o vandalismo de grupos paraterroristas que se abrigam no PT e assemelhados, como os tais de PCO e PCdoB. As imagens expostas pelo Estadão, hoje, mostram bem a 'índole' política dessa gente, seus 'argumentos' ideológicos: bandos de desajustados, armados com paus e pedras, bandeiras vermelhas ao fundo, atacando a Polícia Militar (sim, é isso mesmo, atacando a Polícia) e o prefeito paulistano, que saía de uma missa pelo aniversário da cidade.
     Essas - digamos - 'pessoas' não se contentam em protestar, vaiar, gritar palavras de ordem. Em ... votar para mudar os dirigentes, democraticamente. Apostam sistematicamente no confrontamento físico, nas agressões, torcendo para que a reação oficial provoque algum derramamento de sangue, uma boa imagem de algum ogro policial despejando o cassetete na cabeça de um jovem idealista.
     E eles estão no poder há 11 anos, com algumas exceções, como São Paulo.

Rio 40º, a cidade do caos

     Mais uma manhã infernal no trânsito do Rio. Dessa vez, a culpa foi de um caminhão velho que enguiçou na Ponte Rio-Niterói. Mas se não fosse o tal calhambeque - que só estava trafegando porque a fiscalização é deficiente e sujeita a 'chuvas e trovoadas'-, seria outra coisa qualquer, como um palito de fósforo atirado pela janela do carro por um dos milhares de motoristas porcos que transformam as ruas em latas de lixo.
     Na verdade, não é necessário que algo excepcional aconteça para o caos se instalar livremente nas nossas ruas e avenidas. Ontem à tarde, ninguém se movia na Zona Sul. Há um evidente e cada vez mais acentuado desrespeito ao cidadão que precisa se mover para produzir, trabalhar, movimentar a economia. As intervenções urbanísticas - que já chegam atrasadas em alguns anos - não são precedidas das necessárias obras de infraestrutura que, ao menos, amenizariam os transtornos.
     A presença de guardas municipais é eventual e empurrada pelas evidências do despreparo público em lidar com as exigências de uma cidade mal planejada e abandonada à sua própria sorte por décadas de desgovernos. A realização da Olimpíada em 2016 obrigou nossas autoridades a despertar do marasmo. Tudo o que deveria estar sendo feito ao longo dos anos foi concentrado num período pequeno. E a cidade virou um imenso canteiro de obras, infernal canteiro de obras, especialmente sob uma temperatura que beira os 40 graus.
     E tudo pode piorar ainda mais, pois nosso intimorato prefeito, movido sabe-se lá por quais motivos, insiste na estúpida demolição da Avenida Perimetral, uma obra paga pelo imposto do carioca, cuja opinição está sendo ignorada, até agora. Basta ler as páginas de cartas dos nossos jornais, para aferir o humor do cidadão do Rio em relação a esse monumento ao ego de um administrador.
     Não li - e sou um leitor fevoroso das cartas - sequer uma opinião favorável à demolição da Perimetral, desde que ela foi anunciada, no tal pacote do Porto Maravilha e afins. Ao contrário. Todas as manifestações indicam uma forte rejeição a essa ideia, apontando óbvios prejuízos à fluidez do tráfego e aos cofres públicos. Não podemos esquecer que o município pretende gastar uma montanha de dinheiro público para destruir algo que, ao menos, funciona. Em síntese: pagamos para construir e pagaremos para destruir.
     Pagar duas vezes parece, mesmo, ser a sina do carioca. Agora mesmo, estamos pagando, caro, para melhorar as condições de tráfego, atendendo às exigência do Comitê Olímpico Internacional. E vamos pagar para usufruir dessa melhoria, na forma de pedágios urbanos, uma excrescência que conquistou amparo legal, ontem, com a assinatura da tal lei destinada à melhorar a 'mobilidade urbana'. Pela sanha arrecadatória dos nossos admistradores, em breve ficaremos adstritos ao quarteirão onde moramos.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

O pior dos piores

     O Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário apenas confirmou o que o brasileiro sente na pele há muitos anos: nosso país é o que menos oferece, em relação ao que cobra, em impostos. Foram analisados 30 países, justamente os que ostentam as maiores cargas tributárias, que foram comparadas à assistência prestada. Somos os campeões absolutos da obsolescência.
     O assunto foi destaque, ontem, no Jornal Nacional, e continua em evidência, pelo descalabro que encerra. Pagamos muito - nossos impostos correspondem a 35, 13% do Produto Interno Bruto - e, em contrapartida, somos obrigados a recorrer a planos de saúde particulares (ou a morrer nas filas dos hospitais públicos), a pagar escolas para nossos filhos (ou a nos contentarmos com um sistema falido e medíocre) e a contratar seguranças para nossas casas (ou a nos arriscarmos, como a maioria absolura da população, à violência que assola nossas cidades).
     O sistema de transporte público é risível e as estradas sem pedágio são meras sequências de buracos. Comprar qualquer coisa no Brasil custa muito mais do que na maior parte do mundo e nossos salários estão entre os menores, excetuando mediocridades totais, como Cuba e Coreia do Norte; países da África, que mal se sustentam; e casos específicos, como o do Haiti.
     A estúpida carga tributária, além de achatar os ganhos, inibe o crescimento da economia, o que nos mantém nessa faixa insossa e inodora que, eventualmente, se beneficia das crises mundiais. E, para completar esse caos, há a absurda 'cultura' da corrupção, aliada incondicional do inchaço da máquina pública.

Extorsão sem limites

     A sanha arrecadadora de todos os níveis governamentais assume, a cada dia, um perfil ainda mais nefasto e leviano no Brasil. A partir de abril, nos lembra O Globo, passa a vigorar a Lei de Diretrizes da Política Nacional de Mobilidade Urbana, sancionada hoje pela presidente Dilma Rousseff. Em síntese, essa jabuticaba fiscal quer dizer o seguinte: todos os prefeitos de cidades com mais de 20 mil habitantes podem inventar um pedágio para extorquir seus cidadãos, como já acontece aqui no Rio, nessa famigerada Linha Amarela, o caminho mais rápido entre dois monumentais e constantes engarrafamentos.
     Não será mais necessário, sequer, fingir que consulta a população. Os alcaides, a exemplo do nosso jovem, impetuoso e desastrado prefeito Eduardo Paes, quando obrigados a abrir caminhos para que todos possam usufruir do direito de ir e vir, estarão autorizados a sapecar uma taxa vergonhosa nos cidadãos que pagam impostos justamente para receber serviços. Tudo, maquiado com o argumento da tal Mobilidade Urbana que, no caso Rio de Janeiro, não passa da mais desastrada imobilidade.
     É esse tipo de excrescência que já pune uma parcela da população, obrigada - é isso mesmo, obrigada - a usar a Linha Amarela, um negócio que rivaliza, em falta de controle público, com o jogo do bicho e transporte de ônibus. Dezenas de milhares de usuários usam a tal 'via expressa' entre a Linha Vermelha e o posto de pedágio, livremente. Já o mesmo pagador de impostos que mora na Freguesia, por exemplo, é obrigado a arcar com uma despesa diária de R$ 9,40. Onde está a lógica?
     Além dessa discrepância no tratamento de iguais, a simples existência de cobrança de pedágio para ir de um bairro a outro de uma mesma cidade é um acinte, uma vergonha que enche os bolsos dos felizardos que administram a via - construída e paga com o dinheiro dos nossos impostos - e, pelo que se vê no país, certamente de mais alguns beneficiados.
     Assim, nossa 'Cidade Maravilhosa' está prestes a ganhar mais dois presentes, pouco divulgados. A nova avenida que vai atravessar a Zona Norte e o futuro Túnel da Grota Funda, fundamental na ligação das Zonas Sul e Oeste, serão pedagiados, também. No caso específico da Grota Funda, a prefeitura, preocupada com as repercussões negativas em ano eleitoral, vem mentindo à população, ao omitir que haverá, sim, cobrança de pedágio.

À procura de um cadáver para chamar de seu

     Mais uma vez, por clara e determinada ação política, os grupos radicais que se aninham no PT e nos seus satélites provocam o caos. A questão não é - jamais foi - a retomada de posse determinada pela Justiça, em São José dos Campos. Os arruaceiros dessa malta de demagogos procuram cadáveres, um ao menos, para exibir, para servir de bandeira no processo eleitoral que vai definir os novos prefeitos.
     Em nenhum momento esses 'defensores dos fracos e oprimidos' tentaram uma solução para um fato consumado, pois a Constituição prevê o direito à propriedade, independentemente de o proprietário ser um ex-ministro que enriqueceu em dois anos, um trabalhador que economizou a vida toda ou um vigarista de carteirinha. Desde que a aquisição do bem tenha características legais.
     O confronto era apenas uma questão de tempo, até que se esgotassem os recursos legais, meramente protelatórios. Todos sabiam que a Polícia Militar seria compelida a agir, por determinação da Justiça. E decisão judicial não se discute, cumpre-se. Houve, no entanto, a preparação do cenário mais favorável ao embate. Não faltou, sequer, a presença do secretário nacional de Articulação Social do Governo Federal, Paulo Maldos, um militante petista que viaja pelo país, com dinheiro público, para participar de conflitos, e que acena sua revolta por ter sido atingido por uma bala de borracha, que ele procurou e ... achou.
     O enfrentamento é tão deletério e encenado que não poupou sequer uma biblioteca pública, duas padarias e uma penca de veículos, todos incendiados pelos 'manifestantes'. Houve, ainda - segundo o Estadão -, a invasão da residência de um casal de idosos, por uma turba. Todos esses atos foram estimulados pelos personagens de sempre, postulantes do ódio e da luta.
     Onde estava o Governo Federal, nesses últimos cinco anos, tempo que já dura a invasão? E as tais casas e apartamentos anunciados pelo 'Pactoide'? O dinheiro que poderia ter sido usado em um programa sério de moradias, já sabemos, foi parar nos bolsos de vigaristas, ao longo dos anos mais recentes.
     Os embates registrados em São José dos Campos apenas provam que os irresponsáveis históricos continuam a postos para provocar a desordem. Desde, é claro, que ocorram em terras governadas pela Oposição. Ou será que alguém viu uma passeata dessa turma contra os escândalos registrados em Brasília?

Por onde anda o Pimentel?

     Há uma pergunta que insiste em não calar, a cada vez que eu  'abro' o computador e começo a garimpar as notícias que merecem uma avalição, uma análise, um debate - a meu critério, é claro: onde está o ministro do Desenvolvimento e muitas outras coisas, Fernando 'Wally' Pimentel, do PT mineiro?
     Ele não fala; não aparece em cerimônias; não explicita seu apoio ao ex-colega Fernando Haddad, que ameaça governar a cidade de São Paulo; não criticou a desocupação da área invadida em São José dos Campos; nada. O ex-prefeito de Belo Horizonte e um dos maiores 'consultores político-empresariais do mundo' simplesmente mergulhou nas sombras.
     Por enquanto, a tática vem dando certo. Poupado dos holofotes e das perguntas indiscretas sobre seus fantásticos ganhos para não trabalhar, durante um ano -, logo antes de assumir a cooordenação da campanha da presidente Dilma Rousseff -, Pimentel aposta no anonimato para escapar do julgamento público e das vassouradas hiperbólicas que caracterizaram a simples demissão de um punhado de ministros acusados de corrupção.
     A bola da vez, ao que indica o noticiário, será mesmo o ministro das Cidades, Mário Negromonte, do ideologicamente oco PP. Aquele mesmo que está envolvido na manipulação criminosa de um laudo técnico que condenava uma obra viária em Cuiabá, que acabou sendo 'aprovada'.
     Segundo nos conta a Folha, a turma do ministro andou mantendo conversas sigilosas com um lobista e um empresário, interessados na informatização do ministério. Negromonte, que vinha sobrevivendo à degola, deve ficar pelo caminho, a qualquer momento, com a desculpa esfarrapada da tal 'reforma ministerial', na verdade, apenas uma acomodação para facilitar o lançamento de candidatos petistas (a maioria) às principais prefeituras do país.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

A exploração da miséria

     O ministro Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência e carregador das malas da propina que as empresa de ônibus de Santo André pagavam ao PT - segundo a família do ex-prefeito Celso Daniel, no processo que apura seu assassinato, há 10 anos -, decidiu falar sobre a retirada das pessoas que invadiram uma área particular em São José dos Campos.
     Com a seriedade de ex-seminarista que jurou dar a vida pelo ex-presidente Lula, cometeu mais um dos pecados que vem acumulando ao longo dessa vida de penitências: a mentira. A esse, podemos somar, sem mede de errar, a avareza, que - de acordo com as novas interpretações bíblicas - é irmã da corrupção nas esferas do poder público, marca registrada dos governos aos quais ele vem servindo com fervor.
     Pois o ministro aproveitou esse episódio lamentável, insuflado pelos grupos partidários de sempre, para fazer campanha política da forma mais rasteira, esquecendo seu papel de servidor público. Com a lógica dos demagogos irresponsáveis, disse que ainda existiam "caminhos de negociação não esgotados", sem citar um sequer. Não satisfeito, acusou o governo estadual, não por acaso do PSDB, de intolerante.
     Fazendo eco a um dos seguidores mais fieis da doutrina lulista, o presidente do PT, deputado Rui Falcão, condenou os governos estadual e municipal (ambos do PSDB, é claro) e o Tribunal de Justiça pelos atos que classificou de "lamentáveis". Em nenhum momento os dois próceres citaram o fato de a retomada de posse ter sido ordenada pela Justiça, depois de esgotadas todas as tentativas de acordo. E que a Polícia Militar apenas e tão-somente cumpriu uma ordem, respaldada pelo presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ministro Ari Pargendler.
     O desfecho foi agradável? É claro que não. Aliás, era previsível, em função da exploração partidária promovida pelos baderneiros de sempre. Mas ordens judiciais não podem ser discutidas pelos executores, devem ser cumpridas. Ou estaria estabelecido o caos institucional. Só há um caminho em contraditórios.
     A necessidade de uma reforma judicial e as denúncias contra juízes são outras questões, que não podem ser invocadas em debates sérios. Paralemente, a Polícia Militar estaria assinando seu atestado de óbito, ao não conseguir executar uma determinação da Justiça.
     Em um país mais justo, não haveria necessidade de invadir um local para garantir o direito à moradia. Caberia ao Governo - dominado pelo PT há 11 anos - proporcionar teto a seus cidadãos, o que não fez até hoje. Não existiria, portanto, necessidade do uso da força policial para garantir direitos adquiridos. Mas a companheirada está sempre de plantão, para explorar todo o qualquer incidente, com a cumplicidade da irreponsabilidade com o país.

Ouvindo estrelas

     'Esses ingleses ...'
     Nós já lemos e ouvimos essa expressão muitas vezes, repetidas vezes, sempre com um tom entre o incrédulo e o invejoso, no melhor sentido da palavra. A história - antiga e recente, que mistura reis, rainhas, princesas, autores e atores inigualáveis, astros maiores da música e a mais tolerante sociedade - gerou e desenvolveu essa aura mítica que circunda aquele pedaço de terra isolado de uma tal de Europa.
     Pois vem de lá uma notícia que só de lá poderia ter vindo. Segundo nos conta o Estadão, reproduzindo nota da BBC, uma pequena cidade (Dulverton) de pouco mais de dois mil habitantes voltou-se, literalmente, para o céu, à procura da luz. E, para tanto, desligou a energia elétrica durante algumas horas, à noite.
     Às escuras, fez-se a luz, das estrelas, quase sempre escondidas sobre as nuvens, diluída no halo artificial. A ideia era essa: exibir a beleza de astros e estrelas. Um bom motivo para relembrar Olavo Bilac e a sua Via Láctea:

     "Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
     Perdeste o senso"! E eu vos direi, no entanto,
     Que, para ouvi-las, muita vez desperto
     E abro as janelas, pálido de espanto...

    E conversamos toda a noite, enquanto
    
A Via Láctea, como um pálio aberto,
    Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
    Inda as procuro pelo céu deserto.

    Direis agora! "Tresloucado amigo!
    Que conversas com elas? Que sentido
    Tem o que dizem, quando estão contigo?"

    E eu vos direi: "Amai para entendê-las:
    Pois só quem ama pode ter ouvido
    Capaz de ouvir e de entender estrelas".

Irã critica Dilma. Ponto para ela.

     Uma boa notícia na área internacional. A Folha nos revela que ninguém menos do que um tal de Ali Akbar Javenfekr, o porta-voz pessoal do ditador iraniano, Mahmoud Ahamadinejad, fez críticas muito duras à postura recente do Brasil em relação ao seu país e, em especial, ao seu governo. Segundo ele, a presidente Dilma Rousseff teria 'golpeado' tudo o que o ex-presidente Lula teria feito ao longo dos anos e "destruiu um bom relacionamento".
     Essa irritação ficou ainda mais clara após a melancólica visita de Ahmadinejad à América Latina, quando não foi recebido por Dilma, num roteiro pensado para dar força ao Irã, justamente quando o país se vê mais pressionado do que nunca, em razão das suas atitudes belicosas e fanfarronices, como a ameça de fechar o Estreito de Ormuz, rota obrigatória dos superpetroleiros que partem do Golfo Pérsico.
     Na época, escrevi que o presidente iraniano fora à Disney e não vira o Mickey, apenas o Pateta, em uma referência explícita aos encontros que ele teve com líderes da estatura do cubano Raul Quadros e do bufão venezuelano Hugo Chávez.
     Pelo que podemos depreender, agora, o descaso brasileiro aprofundou as marcas que já vinham sendo deixadas pela mudança na orientação da nossa política externa, não mais alinhada obrigatoriamente com o que há de pior no mundo, como aconteceu nos oito anos do governo anterior.
     As reações iranianas, nos lembra a Folha, já haviam começado, com boicotes às importações de determinados produtos brasileiros, como as carnes de frango e bovina. É um preço pequeno a pagar pelo destanciamento de um governo terrorista, que não respeita os mínimos direitos individuais e se esbalda perigosamente na idade das trevas.
     Não fui ouvido na consulta Datafolha que avaliou o Governo Dilma (59% de aprovação). Se fosse, especialmente hoje, tenderia a marcar um 'razoável para bom', levando em conta apenas a política externa. Finalmente estamos começando a nos afastar dos mais medíocres líderes com os quais o mundo nos pune atualmente.

domingo, 22 de janeiro de 2012

Os números da presidente

     Os números normalmente não mentem, e se explicam. Portanto, não há motivos para espanto com o resultado da pesquisa do Datafolha que deu à presidentte Dilma Rousseff o maior índice de aprovação no primeiro ano de governo entre os quatro últimos presidentes eleitos pelo voto popular (José Sarney assumiu o posto com a morte de Tancredo Neves).
     Dilma ostenta nada menos do que 59% de opiniões favoráveis (consideradas as indicações de ótima e boa, para sua administração), contra 42% de seu mentor e antecessor, o ex-presidente Lula, e 41% de Fernando Henrique Cardoso. Fernando Collor, após as medidas econômicas extremas que adotou, como o confisco da Poupança, afundava em apenas 23%. Contra, mesmo, só 6%.
     Esse resultado, apesar de um ano de paralisação em virtude dos seguidos escândalos, retrata a imagem que a presidente conseguiu passar para a população: a de uma administradora que não transigia com o ilícito, a tal 'faxineira' da República, rótulo que pegou, apesar de jamais aceito formalmente, até em função dos riscos à manutenção da tal base eleitoral, que poderia se sentir ofendida, ao ser tratada como lixo a ser varrido do Governo.
     Com esse índice de aprovação, apesar de não ter produzido rigorosamente nada de relevante, a presidente consolida seu direito a disputar a reeleição. Afinal, além dos seguidores fiéis do beato Lula, ela conseguiu conquistar uma parcela da opinião pública que não se alinhava obrigatoriamente com o petismo, ou o lulismo, sua forma mais vulgar.
     Com esses números, Dilma poderia, se quisesse, ousar e conquistar de vez seu espaço, livrando-se do peso de um líder limitado, simplório e sempre disposto a acertos não muito republicanos, em troca de apoio ao projeto de poder do seu grupo.

Uma rede de descobertas

     É uma rede complicada. Há exato um ano, quando fui capturado por ela, ao iniciar o Blog, foi convencido por minhas filhas que ela seria fundamental para alguém que fora instado a escrever diariamente e que precisaria de um veículo para estimular a leitura dos seus textos. E nada melhor, para isso, que contar com a paciência e a boa vontade de amigos e amigos dos amigos.
     E foi assim, com esse objetivo, que criei meu perfil no Facebook. O primeiro passo foi reatar antigas amizades, especialmente dos tempos de redação, algumas tão antigas que acreditava perdidas definitivamente, soterradas pelo peso de quarenta anos. Acho que fui um dos últimos, do meu círculo de amizades, a adotar esse já não tão novo veículo de comunicação. Acreditava que o e-mail me bastava.
     Com o tempo, descobri que a rede não era formada só de chamadas para o Blog e velhos amigos e companheiros com os quais tive o prazer de dividir mesas nos extintos O Jornal e Jornal do Brasil e no sempre atualizado O Globo. O universo de pessoas cresceu, ganhou novos contornos e perfis. As possibilidades de troca de informações e de comentários sobre os mais diversos temas mostraram-se desafiadoras. Houve, em muitos momentos, instantes de boas discussões sobre alguns temas, política em especial.
     A intimidade que a rede gera - fotos, divisão de experiências e descobertas comuns - facilitou, também, a conquista de amigos que sequer faziam parte do meu universo pré-Facebook. Alguns desses amigos tornaram-se fundamentais, inclusive, no estímulo para a produção dos textos diários de O Marco no Blog.
     Superficial, às vezes, vazia em muitas ocasiões, a verdade - admito - é que a rede social me ajudou a melhorar, a respeitar ainda mais o contraditório, as opiniões e as expressões de carinho que chegam através dela.
     Está sendo bom, enquanto dura.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Minha frase da semana

"O Brasil, não pelas copas que ganhou, deve ser respeitado. Se eu fosse do Itamaraty, cassaria o visto de entrada desse camarada e o enfiaria no primeiro voo para a Venezuela".

Extraída do texto do dia 16, sobre declarações inaceitáveis do secretário-geral da Fifa.

A vitória da incompetência

     As confusões, falhas, vazamentos e derrotas jurídicas do Ministério da Educação no caso do ENEM são a face mais clara da incapacidade administrativa do virtual candidato à prefeitura de São Paulo, o péssimo burocrata Fernando Haddad, responsável por enormes fiascos desde que assumiu a pasta, que vem usando para carregar sua empreitada política, apadrinhado pelo ex-presidente Lula.
     As bobagens registradas na gestão Haddad seriam capazes, em qualquer lugar razoavelmente informado, de afundar a mais simples veleidade política. No caso brasileiro, o fracasso transforma-se, por obra e graça do marketing, em plataforma, contando pontos na corrida eleitoral pelo comando da maior cidade da América Latina.
     Haddad mostrou-se incompetente, faltou com a verdade inúmeras vezes e ainda tem, no currículo, a mancha de ter editado um livro didático que contém as maiores sandices já registradas em relação à língua portuguesa. Mas nada disso foi suficiente para retirá-lo da lista de pretendentes à prefeitura paulistana, graças unicamente ao apoio de Lula.
     Atropelou Marta Suplicy (candidata ao posto de a mais preterida do Brasil), espancou Aloísio Mercadante, ignorou o avoado senador Suplicy e surge como um candidato fortíssimo à eleição mais emblemática de 2012. Uma eleição que pode soterrar de vez qualquer chance da oposição em 2014, quando a presidência da República estará em jogo.
     Sua mais recente realização - o caos na correção das redações do último ENEM - levou a Justiça a abrir um precedente capaz de inviabilizar as provas previstas para este ano. Mais um desastre na sua conta. Se fosse , ele mesmo, um candidato ao ensino superior, estaria definitivamente reprovado, por total incapacidade.
     No Brasil dos escândalos premiados (ao menos com a impunidade), não é de se estranhar que desponte como um novo líder.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Histórias de Júlia e Pedro (33)

A filosofia de Júlia
     A viagem de Laranjeiras para a Pedra de Guaratiba começara há uns 15 minutos quando Pedro, por um motivo qualquer, absolutamente irrelevante, começou uma sinfonia que durou seguidos e atordoantes 50 minutos, até que ele foi vencido pelo cansaço e dormiu. Durante todo esse tempo, sentado na sua cadeirinha, ao lado de Júlia, ele chorou e repetiu apenas e tão-somente quatro palavras: "Eu quero minha mãe".
     De nada adiantavam as tentativas de explicações - eles estavam indo para a Pedra, com antecedência (mãe e pai só virão em dois dias), para que seu quarto fosse pintado. Ele, como quem já teve crianças por perto sabe, não escutava uma palavra do que se dizia. A partir de determinado momento, não sabia sequer por que estava chorando. Mas continuava chorando.
     Júlia, com aquele seu jeito muito engraçado e 'maduro', não parava de reclamar:
     - Pedro, eu estou com dor de cabeça. Fica quieto. Para de chorar ..."
     Era pior. Aí mesmo é que o tom do misto de choro e mantra do moleque aumentava. Foi então que Júlia nos brindou com dois daqueles momentos impagáveis. Vamos ao primeiro.
     Irritada com a insistência do irmão e sem a menor paciência, virou para nós e disse, com toda a seriedade possível em uma mocinha de 8 anos e meio, quatro a mais do que Pedro:
     - Vocês estão vendo como é difícil viver com esse menino. E eu ainda tenho que dividir o quarto com ele."
     Mais tarde um pouco, com um ar mais maduro ainda, saiu-se com outra pérola, que merece ser dividida com todos vocês. Virou-se para o irmão, que dera uma pequena trégua na lamentação, e constatou:
     - Pedro, a gente não tem tudo o que quer na vida. Você, por exemplo, não vai ver a mamãe agora. E eu não consigo que que você pare de chorar."
     Júlia é assim.

Tiro de festim

     A grande virada do Governo Dilma, o seu grito de independência, a ansiada e esperada Reforma Ministérial, não passou de um tiro de festim, saído - com certeza - de uma arma semelhante à do ex-ministro do Trabalho, Carlos Lupi. Um daqueles revólveres de espoleta que faziam a alegria dos meninos da minha época, e que desapareceram sob o peso do politicamente correto.
     Sai Fernando Haddad, da Educação - aquele que afundou o Enen em vergonhosas falhas e vazamentos e dilacerou a língua portuguesa, atingida por uma saraivada mortal de 'nós vai' e a 'gente fomos' - e entra o polivalente e sem mandato Aloísio Mercadante, que ocupava a pasta de Ciência e Tecnologia e que recebera um título de 'doutor' em economia e quetais graças a uma redação primária sobre o governo Lula. Haddad ameaça São Paulo, candidato à Prefeitura.
     E estamos conversados, por enquanto. Fernando Pimentel, do Desenvolvimento e outras coisas, o mago das consultorias, continua por lá, calado num canto, torcendo para ninguém lembrar que ele recebeu R$ 2 milhões para não trabalhar, em pouco mais de um ano, logo apóps ter deixado a Prefeitura de Belo Horizonte. Mas ele é amigo da rainha e um destacado líder do PT.
     Fernando Bezerra (PSB), aquele que desviou 90% das verbas contra enchentes para seu estado natal, Pernambuco, e que berrou alto quando sentiu que o cutelo estava caindo no seu pescoço, também ficou, apoiado na cerca construída pelo governador Eduardo Campos.
     Pelo menos, ao que nos informa o Governo, teremos um nome de peso para substituir Mercadante. A ciência brasileira vai ficar a cargo do atual presidente da Agência Espacial Brasileira, Marco Antonio Raupp.
     Um leve consolo.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Pedra sobre pedra

     Há muitas pedras no nosso caminho. Além de não ser novidade, é uma daquelas frases mais feitas e repetidas do mundo. Eu mesmo moro em uma, a Pedra de Guaratiba, um lugar que remete às cidades do interior, mesmo à beira-mar. Esse tal mar é que não é mais - há muito tempo - o que eu conheci ainda moleque, quando me aventurava por essas bandas, que incluíam a então limpa Sepetiba, nossa vizinha.
     O relativo progresso e o enorme desleixo das autoridades transformaram o mar da Pedra num vertedouro do esgoto da região, que não é tratado e quase sempre corre na rede de águas pluviais, ou pelos rios e canais que um dia já foram limpos. Mesmo assim, abstraindo o banho, as nossas praias são bonitas, especialmente quando a maré cheia cobre o cheiro que exala da mistura de lodo e dejetos.
     Os barcos da colonia de pesca se espalham ao longo da costa, modificando e colorindo a paisagem. O pôr-do-sol é outra atração e já inspirou muitas fotos ao longo desses onze anos de vida (exílio?) nesse canto do Rio.
     Mas a pedra que me motiva nesse texto é outra, que nada tem de beleza ou romance. Uma pedra que vinha me lembrando que existia há 23 dias, com pequenos e enganosos intervalos. Muitos - muitos, mesmo - sabem do que estou falando. Outros ainda imaginam, por ouvir dizer, por relatos detalhados do que dizem ser uma das piores experiências, um dos mais sérios sofrimentos.
     Estou falando dela, mesmo, de uma pedra no rim esquerdo que rolou pelo meu corpo por mais de três semanas, ditando meus humores e afazeres, risos e lamentos. Ontem, ela 'pulou', literalmente, alojando-se no fundo da louça, não sem antes provocar as reações que vocês podem imaginar. Grande (enorme, para mim), um meio termo entre um um grão de arroz e um de feijão, pesada, escura, dilacerante.
     Carreguei essa pedra sem direito a descanso, diariamente. Tratei dela como se fosse uma fugitiva da seca, com doses cada vez maiores de água, mate, sucos, chás. Acho que purguei, nesses dias, alguns dos meus muito pecados cometidos ao longo dos anos.
     Estou pronto, até, para ser mais benevolente com os desmandos oficiais. Mas não sei se vou resistir à anunciada reforma ministerial. Se a pedra ainda estivesse em mim, não teria a menor dúvida de afirmar que minha benevolência teria acabado hoje, ao ler que o ex-presidente Lula continua dando palpites no governo e indicando ministros. E o que é pior, mais grave: é ouvido.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Os inimigos moram ao lado

     As declarações feitas ontem pelo ainda ministro Fernando Bezerra (PSB-PE), da Integração, apenas reforçam a tese que eu venho defendendo aqui há algum tempo: todas as crises provocadas por denúncias contra a turma do primeiríssimo escalão foram, são e serão oriundas da própria base governamental, em especial do PT, que finge aceitar a divisão do bolo, mas sonha em abocanhar tudo, ou pelo menos as fatias mais gordas, calóricas, saborosas.
     Segundo Bezerra, transcrito pela Folha, "vivemos um momento de reforma ministerial e é evidente que, às vezes, interesses partidários podem se aguçar". Traduzindo: tem muita gente de olho nas verbas e poder de determinados ministérios, que garantiriam não apenas um trampolim para voos mais altos, como a oportunidade de manipular uma boa dinheirama.
     E quando ele cita os tais "interesses partidários", está se referindo, de maneira comedida, à sanha do principal gestor brasileiro, o Partido dos Trabalhadores, que tem olhos e ouvidos plantados bem no centro do Planalto. Não tenhamos dúvida: só mesmo quem está no meio de tudo, com acesso a todas as informações, investigações, dossiês e afins tem condições de jogar nos ventiladores a porcaria produzidas nos ministério.
     Os jornais e revistas - sempre apontados como os vilões, inimigos - apenas noticiam e, a partir desse ponto, repercutem e avançam nas investigações. A oposição? Não existe, por opção, incapacidade e descerebramento. Seus líderes mal conseguem balbuciar duas ou três frases, normalmente retiradas de algum texto da Veja.
     Vem sendo assim desde a 'mãe de todos os escândalos', o Mensalão que sustentava o projeto de poder do Governo Lula e da companheirada. As evidências do maior assalto aos cofres públicos da nossa história surgiram a partir da acusação de um comensal do Palácio, o ex-deputado Roberto Jéfferson, que jamais imaginou - e eu a cada dia mais tenho essa convicção - que estava gerando um caso capaz de quase derrubar o governo.
     Todas - todas, mesmo - as acusações contra ministros, tiveram e têm a marca de algum companheiro, mesmo oculto. E a mira está sendo dirigida aos detentores não só de poder, mas de verbas bilionárias. Ou alguém já viu briga para ocupar a Secretaria de Assuntos Estratégicos (Moreira Franco, PMDB-RJ), ou Pesca e Aquicultura (Luiz Sérgio, PT)?

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

O 'Estadão' e as notícias

     Ontem, entre decepcionado e descrente, registrei, num texto, a mediocridade que nos assola, com base na reação dos leitores da Folha - e da Veja, pude comprovar e lamentar mais tarde - às notícias do dia. As estatísticas do Estadão redimem um pouco o leitor, independentemente de posição política ou ideológica.
     Não estou levando em conta a essência dos textos, e sim o fato de esses textos lideraram os comentários. Essa constatação abre algumas perspectivas. Eventualmente, o resultado pode ser creditado ao fato de o jornal ser mais conservador, com um público menos ligado a temas vulgares, mas antenado.
     Não importa muito. O bom, nessa história, é saber que assuntos como os citados abaixo merecem mais atenção do que o estupro no BBB: "Serra chama de lixo o livro sobre privatizações do governo FHV"; "Dilma deve se responsabilizar por ministros, diz FHC"; País tem queda de 7,26% no número de católicos em 6 anos"; e "Faxina extrapola ministérios e atinge PF, Receita e até CGU".
     É um bom sinal, nesses tempos de mediocrização.

Arrogância intolerável

     Essa tal de Fifa é muito marrenta, para usar uma expressão menos vulgar. Além de ter sido responsável por uma atitude não muito nobre do nosso Governo - a presidente Dilma Rousseff, aproveitando viagem à Europa, foi à sede da entidade, para se reunir com um burocrata -, continua alfinetando o país e exigindo alterações na nossa legislação, o que é inconcebível.
     Hoje, o mesmo burocrata que recebeu nossa presidente (o secretário-geral Jérôme Valcke), deitou falação em Brasília, como nos contam os principais jornais nacionais, destaque para a Folha. Entre outras coisas, anunciou mais uma exigência: que nosso governo seja responsabilizado por qualquer prejuízo provocado por eventuais catástrofes naturais durante a Copa de 2014.
     Não satisfeito, fez algumas gracinhas, uma delas reproduzida pelo jornal: "Talvez porque o Brasil é o país que ganhou cinco vezes a Copa, vocês acham que podem pedir, pedir e pedir. Mas a vida tem princípios", ousou dizer, como se acusasse o país de não os ter. Tudo isso,sem que o nosso ministro do Esporte, Aldo Rebelo, fizesse uma ponderação sequer.
     Não há desculpa para que sejamos obrigados a ouvir esses exemplos de arrogância, aqui, na nosa casa, principalmente. Não há competição, por mais importante que seja, que justifique interferência na vida legal de um país. Bebida alcoólica e futebol, por exemplo, não combinam por aqui. Tanto que nossa legislação proíbe a venda nos estádios. Mudar essa postura por causa da chantagem de uma entidade esportiva é abandonar o respeito próprio.
     O Brasil, não pelas copas que ganhou, deve ser respeitado. Se eu fosse do Itamaraty, cassaria o visto de entrada desse camarada e o enfiaria no primeiro voo para a Venezuela.

Fascismo à moda baiana

     Ao contrário de alguns amigos, aos quais respeito muito, pela sinceridade com que defendem seus argumentos, sou visceralmente contra qualquer tipo de controle, ingerência e quetais nos meios de comunicação. Aprendi, desde muito cedo, que censura, seja ela ostensiva ou disfarçada de participação da tal 'sociedade organizada', é o pior dos caminhos, é a negação da democracia, do direito inalienável à livre expressão.
     É assim, portanto, como uma investida autoritária e fascista, que eu vejo a recente criação do tal Conselho de Comunicação Social da Bahia, não por acaso - nunca é, podem ter certeza - um estado governado pelo PT. Por mais que a turma companheira tente dar uma dourada no remédio, não há como ele deixar de ser amaríssimo.
     O mundo livre conta com um secular 'conselho de comunicação', formado naturalmente pelo distinto público, que compra ou não jornais e revistas; ouve, ou não, rádios; e assiste, ou não, a determinados canais de televisão. Simples assim. Se eu gosto, compro. Se não gosto, não compro. Não é preciso - nem saudável - que alguém (órgão de qualquer esfera governamental) venha me dizer o que é bom ou ruim. Normalmente, o que é bom para essa gente é péssimo para a liberdade.
     Não é à toa que apenas governos ditatorais - como os de Cuba, Coreia do Norte e da China, por exemplo - utilizam o controle dos meios de comunicação. Nesses arremedos de nações, vale apenas a palavra do poderoso de plantão, a verdade ditada pelos servidores da versão oficial. Seria impensável tentar impor um conselho semelhante ao baiano na - digamos - Inglaterra. O projeto seria apedrejado publicamente na Trafagal Square.
     No Brasil, o grande sonho dos atuais detentores do poder passa obrigatoriamente pelo controle das comunicações. Essa turma odeia as manchetes que apontam as vigarices oficiais, as imagens que exibem o desleixo e a irresponsabilidade com a população, como as que temos assistido nesses dias de temporais.
     Eles - os falsos defensores da democracia - não desistem. Recuam um pouco, quando percebem a reação indignada dos que ainda pensam, mas não desistem. Essa comissão baiana nada mais é do que um balão de ensaio, um aperitivo do veneno que vem sendo manipulado nesse processo lento e progressivo de achatamento intelectual imposto ao país.
     Censura, meus caros, fede, mesmo quando embrulhada em seda. Quem a conheceu, como eu conheci, de perto, jamais esquece.

domingo, 15 de janeiro de 2012

Pegou geral

     Acho que fui uma das últimas pessoas a ouvir e ver o tal do 'Ai se eu te pego', que até Pedro, meu neto de quatro anos, cantarolava ontem, enquanto armava uma batalha entre os personagens de Guerra das Estrelas. Normalmente eu não ouço rádio. Programas de tevê, só o das emissoras pagas (noticiário, esportes e séries, basicamente), com algumas raras exceções, como o Jornal Nacional, principalmente em dias de noticiário mais relevante.
     Hoje, por acaso, esbarrei com uma reportagem do Fantástico com o - digamos - cantor Michel Teló, a quem eu jamais tinha visto, sobre seu estrondoso sucesso na Europa e Oriente Médio. E não mudei de canal, como habitualmente. A música é uma enorme brincadeira, mas o cabra até que é simpático e o ritmo mostrou ser contagiante, para o público em geral, pelo menos.
     Em Portugal e na Espanha, virou febre, após Cristiano Ronaldo dançar sua música, ao comemorar um dos muitos gols que faz. Foi reconhecido em toda a parte e personagem de entrevistas nas televisões. Pela primeira vez na Europa, o jovem cantor 'sertanejo' mostrava-se encantado com tudo e um pouco assustado com a fama.
     Caitituou os craques do Real Madri, ganhou um camisa personalizada e agradeceu muito o apoio do lateral brasileiro Marcelo, responsável pelas aulas de 'pegação' ministradas a Cristiano Ronaldo, que se difundiram por todos os campos de futebol e alcançaram até mesmo um pelotão de soldados israelenses.
     Confesso que me surpreendi achando graça dessa grande bobagem. E fui obrigado a concordar com uma das jovens portuguesas que tentou explicar os motivos de tanta sucesso: "A música entra na cabeça", disse a rapariga, a sorrir. Pedro é uma evidência dessa verdade.
     Pegou geral.

Mediocridade atávica

     Nossos pensadores vivem se questinando e alimentando discussões sobre os motivos que fazem do Brasil uma das capitais da corrupção, da alienação, da manipulação política. Teses enormes foram e são escritas sobre essa que é uma das nossas piores qualidades.
     Não me atrevo a avançar muito nesse debate, mas acredito que posso, eventualmente, como hoje, levantar algumas premissas, baseado em algo que - em tese - eu conheço: o destaque dado às notícias, em um jornal do porte da Folha de São Paulo, por exemplo.
     Não tive o prazer, nos meus 40 anos de profissão, de trabalhar na Folha, entre outros motivos, porque sempre morei no Rio. Por aqui, passei meus anos de redação entre o O Jornal, O Globo e o Jornal do Brasil. Há muitos anos, cobrindo férias de uma amiga, trabalhei por dois ou três meses na sucursal do Estadão, mas foi uma ocupação paralela à que mais me motivava: o desafio que representava fazer o O Jornal todos os dias, num momento em que ele praticamente vivia a agonia acelerada pela morte do fundador dos Diários Associados, Assis Chateaubriand.
     'Dr. Assis', como todos nós nos referíamos a ele (e aos demais donos de jornal, como 'Dr. Roberto' e 'Dr. Brito'), morreu seis meses antes de eu entrar pela primeira vez na redação associada, mas seu espírito ainda vagava pelos corredores do velho prédio da Rua Sacadura Cabral, 103, ali bem perto da Praça Mauá, naqueles últimos meses de 1968.
     Nessa época, talvez tenha cometido uma das muitas opções erradas que devo ter feito ao longo da vida profissional: convidado a ficar no Estadão, optei pelo O Jornal, que acabara de criar um Caderno de Educação, que cabia a mim editar. Atos de quem não tinha muito mais de 20 anos e uma encanto enorme por aqueles desafios.
     Lembro bem da expressão de incredulidade do chefe da sucursal carioca, ao escutar minha recusa. Certamente pensou que estava tratando com um sujeito meio perdido. Abrir mão do Estadão, naquele momento, não fazia nenhum sentido para ele. Alguns anos depois, revivendo esse momento, não pude deixar de rir de mim mesmo.
     Mas vamos voltar a uma das minhas possíveis explicações para nossa mediocridade atávica. As três notícias mais lidas da Folha de São Paulo, hoje, foram, pela ordem, as seguintes: "Após críticas no Twitter, Boninho nega estupro no BBB12"; "Monique diz que não se lembra se fez sexo com Daniel no BBB12"; e "Miss Bumbum vai a lançamento de revista sem calcinha".
     O Brasil se autoexplica, a todos os momentos.

Histórias de Júlia e Pedro (32)

Júlia e o espelho

    Há um determinado momento que marca o começo do que virá a ser uma nova fase da vida, uma espécie de rito de passagem da infância para a pré-adolescência, especialmente - acredito - no caso das meninas, esses seres doces e intensos que mexem com a alma de pais, avós. Falo sobre isso com a 'experiência' do convívio sempre emocionante com duas filhas e, nos últimos anos, uma neta
     Júlia ainda é uma criança, com seus oito anos e meio de vida. Uma criança adorável e alegre, inteligente, repleta de amigos. Mas já começou a olhar para si mesma, no espelho, e descobriu que está mudando. É alta, para a idade (é uma das maiores da turma que vai para o terceiro ano do ensino fundamental, no Pedro II do Humaitá), e toda engraçadinha, com seus cabelos cacheados, "cor de mel", como os olhos, como ela diz, e uma pintinha especial no lado esquerdo do rosto (*).
     Ontem, repetindo um ritual que começamos há uns cinco anos, fomos tomar sorvete 'no posto' - na loja de conveniência de um posto de combustível que fica perto da sua casa e parada obrigatória na saída do maternal onde ela 'estudou' dos 2 aos 6 anos. Ela escolheu o vestido, a sandália e colocou um aplique no cabelo. Linda. Pedro, como sempre, use a roupa que usar, não escondia seu jeito moleque, com aquela ginga no andar, todo malandro, olhos verdes contrastando com a pele morena do sol.
     Já em casa, na volta, Júlia abriu o seu armário e se olhou no espelho. Deu uma volta, virou e perguntou à avó, com um jeitinho absolutamente natural:

     - Eu estou bonita, não estou?"
     Ao escutar a confirmação óbvia, emendou, assumindo - sem qualquer afetação - o indiscutível ar da tal fase que começa a transparecer, com a precocidade dos tempos modernos:
     - Eu fico bem com esse vestido. Vou usar sempre. Quando ficar curto, vou colocar como se fosse uma bata. Ele me deixa magra ...
     Júlia é um amor.


     (*) Eu ganhei, há alguns anos, uma das pintinhas. Júlia me 'deu' a que fica na parte de trás do pescoço, no lado direito. "A sua é essa, vovô", disse e mantém até hoje.

sábado, 14 de janeiro de 2012

Mais uma do meu personagem favorito

     Não sei onde foi parar o texto. Talvez na lixeira, quem sabe? Ou desapareceu em algum momento da falta da energia elétrica e do colapso do Velox ocorridos ontem. Mas como o personagem principal é um dos meus favoritos, vou tentar reproduzir algumas linhas, com a atualidade que a notícia ainda proporciona. Estou falando - e quem tem a paciência de me ler já imagina - do canastrão venezuelano Hugo Chávez, poço sem fundo de bobagens e impropriedades, campeão mundial de charlatanismo, seguido bem de perto por outros expoentes latino-americanos (Evo Morales, Rafael Correa, irmãos Castro, Daniel Ortega, Cristina Kirchner e o nosso brasileiríssimo ex-presidente Lula).
     Nos contam os jornais e revistas, que o aprendiz de ditador venezuelano, num 'arroubo democrático', garantiu que, se perder as próximas eleições, vai entregar o cargo de presidente do país, que ele considera vitalício, não tenham dúvida. Isso quer dizer que ele vai fazer o que todos os dirigentes razoavelmente dignos fazem, em países onde prevalece o direito. Quem perde, sai, e ponto final. Vai para a oposição, faz campanha e, no máximo, tenta voltar na eleição seguinte.
      No caso do coronel bolivariano, no entanto, a entrega do poder a um eventual adversário é apresentada como uma concessão, uma liberalidade de alguém iluminado e que está acima do bem e do mal. Ninguém contou - ou, se contou, ele não entendeu - que a alternância de poder é uma das dádivas da democracia, algo saudável e que rejuvenesce as nações.
     A eternização de uma pessoa ou de um grupo corrompe e atrofia um país, que se vê sob constante ameaça dos detentores do poder. Hugo Chávez jamais absorveu os conceitos de liberdade, direito, autodeterminação. Golpista histórico, é um dos remanescentes da geração de militares que, sob o argumento do nacionalismo, vilipendiaram a democracia no nosso continente.

Minha frase da semana

"É como se fosse à Disney e não visse o Mickey, só o Pateta."

Extraído do texto sobre a visita do ditador iraniano Mahmoud Ahmadinejad à América Latina, na qual ele não foi recebido pela presidente Dilma Rousseff, e sim pelo bufão venezuelano Hugo Chávez, entre outros.

Tremoços e vinho verde

     Mesmo indo e voltando, lendo e relendo, sem pressa, saboreando cada capítulo, concluí há alguns dias as quinhentas e poucas páginas do romance Equador, do autor português Miguel de Souza Tavares, ambientado nos primeiros anos do século passado, especialmente em Lisboa, na antiga colônia de São Tomé e Príncipe - duas ilhas principais no Golfo da Guiné, às costas da África -, e, em parte, na Índia.
     O requinte da pesquisa histórica é envolvente. Embora romance, o livro nos remete a personagens e momentos reais de um mundo que começava a definir sua nova face, naqueles idos de 1900, quando a monarquia agonizava em Portugal, aparentemente sem se dar conta. É um belo retrato de uma época, sustentado num personagem que mistura insolência e inocência, o jovem advogado, galante e idealista, à maneira da época, Luís Bernardo.
     Com temperos de Eça de Queiroz (1845/1900) e alguns momentos épicos camonianos (1524/1580), Equador investe na alma e na paixão de alguns personagens mais fortes, como a irresistível Ann, uma inglesa que jamais pisara na terra natal de seus pais e que se revela determinante na história. Além de desnudar o pensamento da classe dominante, da qual Luís Bernardo fazia parte.
     Mais moderno e ousado, o autor, advogado e jornalista, consegue inocular doses certas de um erotismo intenso e envolvente, mas elegante, que não resvala em apelos baratos. É verdade que há um certo atropelo no fim - é claro que não vou contar -, mas nada que comprometa a obra.
     Para quem gosta de boa literatura, que vá além da ficção, Equador (Editora Nova Frenteira, 2003) é um bom companheiro para os últimos dias de férias. Ou para essas tardes e noites chuvosas de um verão que ainda não começou. Dependendo da temperatura, pode ser acompanhado por tremoços e vinho verde.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

O país dos absurdos

     O Globo, repercutindo notícia publicada por um jornal da Coreia do Sul (Daily NK), confirma algo que estava nas mentes e bocas de muita gente ao redor do mundo: aquela choradeira toda quando da morte do ex-iluminado ditador coreano do norte Kim Jong-il, pai do atual fosforecente Kim-Jong-un, não era tão gratuita, assim. A turma que carpia em frente à câmeras de tevê não tinha outra saída: ou chorava, convincentemente, ou acabava em cana.    
     Foi o que aconteceu - segundo o jornal sul-coreano - com boa parte dos lacrimejosos manifestantes e com os que não se dispuseram a prantear seu amado líder. Aqueles que não demonstraram firmeza na choradeira e desmaios, teriam sido enviados a campos de trabalho forçado, no estilo chinês da Revolução Cultural, para reencontrarem o caminho de luz.
     Se já não comiam quando soltos (liberdade eles não têm há 50 anos), os infelizes norte-coreanos, na verdade, estariam sendo condenados a uma morte lenta, por desnutrição e excesso de trabalho, em condições absolutamente desumanas.
     Paralelamente - nos conta o Globo -, está em curso uma campanha intensa e diária destinada a convencer a população que o ditador de plantão é o sol das suas vidas.
     E essa gente já foi apoiada pelo nosso governo.

A vigarice mora ao lado

     Se alguém contasse a um marciano recentemente desembarcado no Brasil que um órgão do Ministério da Justiça - no caso, um tal de Departamente Penitenciário Nacional (Depen) - comprou produtos contrabandeados e - o que é 'pior' - falsificados para equipar presídios, certamente nosso visitante balançaria as antenas até estourar de rir, acreditando que estaria ouvindo uma enorme piada, uma anedota tropical.
     E continuaria gargalhando, ao ver as imagens do ministro da Justiça (???), José Eduardo Cardozo (aquele ex-deputado federal do PT que se notabilizou defendendo o partido no episódio do Mensalão), denunciando o fato, como se tivesse acontecido a algumas galáxias de distância, e não a alguns metros do seu gabinete. Parodiando Ataulfo Alves, eu diria que a capacidade diversionista dessa gente é uma arte.
     As pilantragens acontecem na mesa ao lado e nossos dignatários esbravejam, denunciam o seu próprio crime como se perpetrado por uma figura abstrata, à parte do governo. As denúncias contra o abandono das vítimas das enchentes são outro exemplo. Partem de figuras do próprio Poder que, por óbvio, deveria ter agido.
     Uma das frases mais ouvidas nos últimos tempos, nos circulos brasilienses, tem sido a afirmativa de que não o Governo "não transige com os malfeitos", quando fica claro que essa ruptura com a dignidade é absolutamente intestina.
     Nosso governo, que já tem nove anos, continua manipulando fatos, transformando fracassos estrondosos em feitos, sem constrangimentos ou pudores. Na melhor das hipóteses, aposta no tempo para apagar vigarices, como o enriquecimento, com 'consultorias, do ex-prefeito de Belo Horizonte e atual ministro do Desenvolvimento e muitas outras coisas, Fernando Pimentel. O homem desapareceu há quase um mês, enfurnado em alguma sala.
     Nossos ministérios não param de gerar escândalos e atos inimagináveis, até mesmo para os padrões brasileiros.