terça-feira, 30 de outubro de 2012

Torcendo para Marcos Valério contar tudo

     Torço muito - mas muito, mesmo!!! - para que o quadrilheiro mineiro Marcos Valério decida contar tudo o que sabe à Justiça, como pode acontecer a qualquer momento. O Supremo Tribunal Federal, segundo a Folha, confirmou que recebeu, há um mês, um pedido do publicitário para ser ouvido formalmente, alegando, entre outras coisas, que sua vida está ameaçada. Por quem? Ainda não sabemos, embora possamos imaginar.
     A defesa de Valério estaria tentando usar a delação premiada para reduzir a pena (que passa de 40 anos de cadeia) do operador do Mensalão, o maior assalto aos cofres públicos da história brasileira, realizado no Governo Lula sob a chefia (ou subchefia, como pretendem muitos, entre os quais eu me coloco) do ex-ministro José Dirceu, de acordo com decisão da nossa mais alta Corte.
     A notícia sobre a delação premiada foi divulgada, num primeiro momento, pela revista Veja, no fim de semana passado, e confirmada pelo STF hoje. De acordo com a Folha, alguns ministros do Supremo explicaram que uma delação de Valério, envolvendo outros personagens da vida pública (eu acho que o país inteiro sabe o nome de pelo menos UM deles, mas ...), não teria influência direta no atual julgamento, mas poderia beneficiá-lo em outros processos. Na melhor das hipóteses, poderia ser atenuante para a pena final, que ainda será atribuída.
     De qualquer modo, em qualquer hipótese, Marcos Valério estaria prestando um enorme serviço ao país, contando tudo o que presenciou durante os anos em que esteve encolvido não apenas no escândalo do Mensalão de Lula, mas na pilantragem anterior, durante o governo do atual senador Eduardo Azeredo (PSDB) em Minas.
     É claro - e disso não tenho e jamais tive qualquer dúvida - que são fatos distintos, embora a companheirada insista em repetir que são iguais em canalhice, para desculpar seus bandoleiros. Não são, mas ambos devem ser deplorados, em respeito à parcela decente do país, que é a grande maioria.
     Enquanto o tema - a delação - estava restrita às páginas de Veja, poderíamos imaginar que era apenas mais uma tentativa de pressionar a turma petista. Algo como "se vocês não me ajudarem, eu conto tudo o que sei sobre o Lula". Agora, quando o próprio STF confirma a disposição de Marcos Valério em formalizar denúncias, a questão ganha novos contornos e assume uma dimensão capaz, sim, de mexer com a República.
     Não podemos esquecer que o atual senador Fernando Collor, parceiro de fé do PT (assim como Paulo Maluf e José Sarney, entre outros menos votados), começou a ser escorraçado do palácio do Planalto graças à denúncia de um simplório motorista.

A verdadeira face petista

     Uma bem desenvolvida matéria do Estadão, hoje, exibe, à perfeição, a face deplorável do PT e de sua cúpula. A expressiva vitória em São Paulo, em especial, foi esquecida, ou - melhor! - passa a ser usada (por sua dimensão) como mais um elemento na chantagem que continua a ser exercida sobre os ministros do Supremo Tribunal Federal.
     Inconformado com a condenação de alguns de seus líderes mais expressivos, o partido, atendo-se ao estilo deletério de fazer política que marca suas ações institucionais, confirmou a divulgação, na próxima quinta-feira, de um manifesto à Nação, com críticas ao julgamento dos quadrilheiros que assaltaram o país no Governo Lula.
     Mal terminado o segundo turno das eleições, a trégua estratégica acabou. O relativo silêncio dos asseclas dos bandoleiros começou a ser rompido. Até domingo passado, a condenação dos companheiros mensaleiros ficou adormecida, segregada no que costumo classificar de um 'eloquente silêncio'. Eleições garantidas, o partido volta à carga, elegendo, além dos ministros da nossa mais alta Corte, o inimigo de sempre, a tal 'mídia' que essa gente quer submeter ao Estado, como acontece nas ditaduras mais vagabundas do mundo.
     O inefável presidente da sigla, o obscuro Rui Falcão, uma espécie de estafeta do ex-presidente Lula, já antecipou o tom dessa nova fase da defesa dos criminosos (corruptores, bandoleiros, corruptos e 'lavadores' de dinheiro). A luta, agora, passa a ser dirigida à imposição de penas levas, que não resultem em cadeia, que é o que todos eles merecem. "Todos têm serviços prestados ao País", argumenta esse personagem nefasto.
     "Eu não me conformo com esse julgamento", afirmou ao Estadão o deputado André Vargas (PR), secretário de Comunicação do PT, lamento corroborado por outro esteio do partido, o ínclito deputado federal paulista Jilmar Tato, para quem "o julgamento de todos eles foi político".
     A pilantragem chega a um nível tão absurdo que o PT, segundo informa a Folha, pensa efetivamente na hipótese de abraçar a candidatura do ex-presidente do partido, José Genoíno, nas próximas eleições para a Câmara, atropelando os cânones da Lei da Ficha Limpa, que elimina da vida política personagens condenados por colegiados, como é o caso.
     Esse, em síntese, é o verdadeiro PT, que jamais abandonou o projeto de ocupar o poder de maneira absoluta, como acontece a ainda acontece nos seu paradigmas, como Cuba, China e a companheira Coreia do Norte, países sempre citados como referências. Ou nas republiquetas bananeiras da Venezuela e Argentina, dominadas pelo mais ignominioso populismo, por ideologias bolorentas.
     Infelizmente para o País, nem mesmo vitórias conquistadas sob os auspícios da democracia demovem o PT de seus propósitos discricionários e totalitários.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

A vitória da democracia

     É absolutamente justa a euforia petista pela eleição de Fernando Haddad para a prefeitura de São Paulo. Governar a maior cidade da América do Sul é meio caminho para a probabilíssima reeleição da presidente Dilma Rousseff e para a ampliação do poder do partido, nas eleições de 2014. É assim, através da expressão majoritária da vontade popular, que se deve alcançar o poder.
     Independentemente do que se possa achar da capacidade do novo prefeito paulista - seu currículo político é deplorável -, sua vitória deve ser respeitada e reconhecidos os créditos de seu mentor e inventor, o ex-presidente Lula, personagem que mantém o prestígio em alta, apesar de todas as evidências do seu comportamento deletério através dos anos.
     É bem verdade que o ex-presidente teve derrotas de grande dimensão, como a eleição de dois desafetos diretos, o amazonense Artur Virgílio (PSDB) e o baiano ACM Neto (DEM), os novos prefeitos de Manaus e Salvador, respectivamente. Ao contrário de outros analistas, não dou importância muito grande às vitórias dos adversários dos candidatos de Lula em Belo Horizonte e em Recife. Em ambos os casos, os resultados obtidos pelos candidatos do PSB ficaram praticamente em casa, pois o partido está alinhado ao PT, de corpo e alma.
     Eu sei que essas demonstrações de força ampliaram o cacife do governador pernambucano Eduardo Campos, mas não acredito que sejam suficientes para alavancar sua candidatura já em 2014, enfrentando Dilma Rousseff. É mais provável, na minha interpretação, que - mantida a pujança do neto de Miguel Arraes - haja um grande acordo entre PT, PSB e PMDB, nas próximas eleições, que garanta ao governador o posto de candidato comum em 2018.
     De qualquer modo, as eleições mostraram, de maneira insofismável, que o caminho para o poder passa pela democracia mais plena. A vitória nas urnas - ao contrário de absolver práticas ignominiosas, como as praticadas no episódio que ficou conhecido como Mensalão do Governo Lula - é um recado direto aos maus políticos, àqueles que usam todos os meios para alcançar seus fins. Antes de ser um atenuante, é um agravante.
     É preciso, de uma vez por todas, que não reste dúvida sobre a prevalência dos métodos democráticos na saudável disputa pelo poder. Mensaleiros, nunca mais.

domingo, 28 de outubro de 2012

São Paulo se curva a Lula

     A vitória de Fernando Haddad em São Paulo exibe, mais do que a pouca importância que o eleitor médio conferiu ao julgamento do Mensalão, a enorme popularidade do ex-presidente Lula, capaz de eleger para governar a principal cidade do país um ilustríssimo desconhecido que tem no currículo uma passagem desastrosa pelo Ministério da Educação. É verdade que Lula levou uma surra em Manaus, onde seu desafeto, Artur Virgílio, ganhou com folga. Mas o resultado que vai repercutir é o da capital paulista, até mesmo pelo simbolismo de ter ocorrido em um embate direto com o PSDB, representado por José Serra.
     Mesmo seus adversários mais ferrenhos - entre os quais modestamente me coloco - não podem deixar de reconhecer o enorme capital político do ex-presidente, que sobrevive, mais uma vez, ao escândalo do assalto aos cofres públicos realizado no seu governo. O inimputável Lula exibiu mais uma vez sua capacidade de driblar os fatos e situações constrangedoras normalmente suficientes para acabar com a carreira política de qualquer um.
     Vencer em São Paulo é sempre emblemático, pelo que irradia no país. Por isso o empenho não só de Lula, mas da presidente Dilma Rousseff. Derrotar a Oposição na principal cidade do país confere ao PT força para as próximas eleições, em 2014, quando estará em jogo o segundo mandato da presidente. Com essa derrota melancólica - mais uma!!! -, encerra-se definitivamente a carreira política de José Serra e escancaram-se as portas para a entronização do governador Aécio Neves na liderança nacional da oposição.
     Aécio, ao contrário de Serra e do grupo paulista do PSDB, venceu a disputa com o PT, ao ajudar a eleger Márcio Lacerda, do PSB, que concorria com o petista Patrus Ananias. Mas não foi uma vitória pessoal. O governador pernambucano Eduardo Campos, do PSB, sai dessas eleições com um invejável capital. Seu partido conseguiu se libertar das amarras petistas e alçou voo pelo país. Será, sem dúvida, o nome capaz de desequilibrar a próxima disputa.
     Talvez ainda não tenha a dimensão nacional suficiente para lançar-se à presidência, mas Fernando Collor também era desconhecido.

sábado, 27 de outubro de 2012

Minha frase da semana

     "A vigarice é tão grande que os chefões da quadrilha já estão se autodenominando "prisioneiros políticos". Eles achavam que tinham licença para roubar em nome da tal 'causa', como 'james bonds' da patifaria ideológica". Extraída do texto 'Os james bonds' da patifaria ideológica, do dia 25.

O passado é um agravante

     A chicana jurídica iniciada pelo inacreditável ministro Ricardo Lewandowski - ao defender veementemente a 'história' de criminosos condenados no processo do Mensalão do Governo Lula - teve a continuação que se anunciava e - tomo a liberdade de especular - estava previamente combinada. Os advogados do ex-ministro José Dirceu, corrupto e quadrilheiro já 'sufragado' pela maioria absoluta do plenário do Supremo Tribunal Federal, entraram com um memorial pedindo que os magistrados, ao aplicarem a pena por seus crimes, levem em consideração seu - dele Dirceu - passado.
     Como em uma chanchada bananeira, os representantes do chefe da quadrilha estavam esperando, apenas, que o ministro companheiro estabelecesse as bases para que pudessem agir; que preparasse o terreno para os argumentos já imaginados. Ficamos assim, então: todos nós, desde que não tenhamos condenações anteriores, podemos sair por aí matando, assaltando, roubando.
     No caso específico do ex-ministro, o argumento é ainda mais desprezível, pois - em tese, na minha interpretação - serviria como agravante. Afinal, alguém que tenha enfrentado o regime militar tem por obrigação e norte, um comportamento superior. José Dirceu, ao chefiar o bando que tentou subverter as bases da República através da corrupção, traiu não apenas a confiança recente do país, mas as bandeiras da sua geração.
     Não, meus caros, não há atenuantes para os crimes cometidos por todos os quadrilheiros, em especial pela cúpula petista. Nada, sob qualquer ângulo, pode justificar essa violência cometida contra as instituições, em nome de um projeto de poder que não se acanhava diante dos ilícitos.
     A estratégia da defesa - e estou incluindo, sim, os ministros Lewandowski e Dias Toffoli entre os defensores dos criminosos - configura-se ainda mais desonesta, pois usa a essência de um momento ainda cultuado pela Nação - a luta pela redemocratização do país - como gazua para abrir portas de cadeia. Uma luta que - não me perdoaria a omissão - passou longe dos ideais do grupo que abrigou o ex-ministro e seu companheiro, José Genoíno, ex-presidente do PT e também condenado.
     Embora o inimigo fosse comum - os governos ditatoriais instalados no Brasil pelo movimento militar de 1964 -, lutava-se por causas distintas. A maioria, na qual me incluía, pela reafirmação da democracia plena. A minoria, pela submissão do país ao regime comunista, comprovadamente ainda mais arbitrário e sanguinário, como a história vem comprovando.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

A percepção dos crimes

     Veja destaca o sucesso pessoal de um dos condenados no processo do Mensalão do Governo Lula, o ex-deputado do PMDB, José Borba, atual prefeito (do PP) da cidade de Jandaia do Sul, no Paraná, que conseguiu eleger seu sucessor e mantém o prestígio inabalado. Se não fosse essa condenação - por um colegiado, é bom ressaltar! -, Borba seria 'pule de 10' na próximas eleições e acabaria sendo reconduzido à Câmara. No entanto, mesmo que escape da prisão, estará impedido de exercer cargo eletivo.
     Borba - nos lembra a revista - recebeu a bagatela (perto do que receberam outros criminosos) de R$ 200 mil e, para não ser cassado, renunciou ao cargo, preservando os direitos políticos, como fizeram diversos outros congressistas ao longo dos anos, principalmente dos 'últimos anos'. Acusado por dois crimes - corrupção passiva e lavagem de dinheiro -, livrou-se da segunda acusação, graças a um empate que (decidiu o STF) beneficiaria todos os réus.
     A questão, no entanto, não se resume a um eventual esquecimento da população. Mas à difusa percepção que a sociedade tem de determinados delitos, em determinados momentos, em função de resultados específicos. E, talvez, esteja nesse exemplo a explicação para o relativo sucesso do PT nas atuais eleições. Tal como reagiu a José Borba, que é bem avaliado na sua cidade, graças - segundo nos conta a revista - a várias obras, o eleitor médio do país, embora indignado, não transferiu esse sentimento para os representantes petistas, graças, principalmente, à inegável força eleitoral do ex-presidente Lula e às incontestáveis conquistas sociais.
     Assim, embora condene o assalto aos cofres públicos no atacado, absolve no varejo das eleições. Com um agravante: sem ter a dimensão exata da dimensão dos crimes em julgamento no STF. O fenômeno José Borba, portanto, não é exceção. É apenas a regra que vigora no eleitorado brasleiro.

Um olhar inflexível

     Sempre que me proponho a escrever sobre algum tema, em especial quando ele é naturalmente polêmico, faço a mim mesmo uma pergunta: como eu reagiria, pessoalmente a uma situação semelhante? Nesses momentos, guardo eventuais teorias sociológicas e ideológicas no fundo do bau e passo um cadeado na tampa.
     Essa postura vale tanto para a análise tanto de um caso político-policial, como o o assalto aos cofres públicos realizado no Governo Lula, quanto na discussão sobre a postura da sociedade com relação às drogas.
     Naturalmente, em especial na hipótese de comportamentos deletérios, prevalece a absoluta convicção de que os fins jamais justificam o uso de meios ilegais. Não consigo aceitar - sob argumento algum! - a leniência com criminosos de qualquer espécie, em função do seu - digamos assim - 'matiz ideológico'. Assassinos e/ou ladrões não são menos danosos por professarem, teoricamente, uma ideologia mais bem deglutida. Jamais.
     Avaliações com esse viés - exploradas ao extremo nos últimos dias - remetem ao mais vagabundo estelionato ideológico. Não consigo encontrar diferenças marcantes entre os comprovadamente genocidas Adolf Hitler, Josek Stalin e Mao Tse-Tung. Assim como não vejo distinções entre criminosos comuns, meros assassinos, como Che Guevara e o delegado Fleury. Entre Pinochet e Fidel Castro. Todos - a princípio - cometeram crimes hediondos em nome de uma causa na qual acreditavam, como se isso justificasse a ação.
     Tudo isso para reforçar uma posição de coerência que procuro manter: não há justificativa decente ou atenuantes ao comportamento indigno de todos os participantes da quadrilha que investiu não 'apenas' contra os bens materiais da Nação, mas contra a própria essência da democracia. E isso vale para todos os criminosos, sejam eles do PT nacional (como os chefões do Mensalão), do PSDB mineiro, do DEM goiano ou do PMDB fluminense.
     Em relação à leniência de parte dos nossos 'pensadores' em relação ao consumo de drogas, também sou inflexível: não há glamour algum no vício. Há, ao contrário, devastação moral, além de uma indiscutível associação com o crime organizado, no fundo, um dos grandes responsáveis por essa legião de infelizes consumidores de crack.
     A sociedade está exigindo uma resposta, sim, das autoridades. E, nesse caso, quero deixar bem claro que aplaudo não apenas a iniciativa da prefeitura carioca, de intervir diretamente, recolhendo, para tratamento, esses miseráveis que se espalham pela cidade. Mas a sensibilidade do Ministério da Saúde, que encampou a ideia.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Lewandowski chega ao fundo do poço e elogia caráter de condenado

     É impossível ignorar a vergonhosa atuação do ministro Ricardo Lewandowski no julgamento do assalto aos cofres públicos organizado, realizado e chefiado pela quadrilha e pelos corruptos petistas do primeiro Governo Lula. Eu tentei - até mesmo em benefício do meu estômago, que se revira a cada citação do seu - dele, ministro - nome. Não consegui. Quando se pensa que ele já chegou perto do fundo do poço na ardorosa defesa dos quadrilheiros, eis que Sua Excelência nos brinda com um novo repertório, como hoje, quando reforçou o discurso iniciado ontem.
     Ao justificar sua decisão sobre a pena reduzida que deveria ser imposta a um dos sócios do publicitário Marcos Valério (condenado a mais de 40 anos de prisão!!!), o ministro, sem ruborizar, proclamou ao País que o criminoso em questão tinha ótimos antecedentes; que ganhara prêmios internacionais; que era reconhecido como uma excelente pessoa; etc etc. Não estou exagerando: foi exatamente isso que aconteceu. Um ministro do Supremo Tribunal Federal abriu mão da liturgia do cargo para defender um criminoso já condenado por ele mesmo.
     O motivo? Só não vê quem não quer. É óbvio que o revisor não tem a menor preocupação com o destino dos réus, até agora, nessa fase da imposição das penas. Ele está "plantando hoje para colher amanhã", como destacou ontem o relator Joaquim Barbosa. Elogia o passado dos 'rolembachs' da vida para justificar as futuras loas aos principais quadrilheiros petistas que serão entoadas não por ele - que os absolveu -, mas por Dias Toffoli, que condenou José Genoíno, e - posso até me enganar, mas acho que vou acertar, mais uma vez - Rosa Weber, que os condenou com o coração aos pedaços.
     A tática é a mais indigente possível: estabelecer penas mínimas e encontrar atenuantes. A conjugação desses dois fatores poderia - é o que a companheirada espera - contornar a cadeia, o que seria inevitável caso as penas superem oito anos, como devem superar. Quem sabe - com muita sorte -, a obrigação, apenas, de dormir na jaula. Seria uma vitória inestimável.
     É evidente, no entanto, que os demais ministros também perceberam essas manobras. Celso de Melo, em especial, conseguiu que a maioria aprovasse um critério progressivo (de um sexto a dois terços) para imposição do aumento da pena, no caso da condenação por vários crimes semelhantes (delito continuado).
     Mais de seis, não haveria como escapar de acrescimo de dois terços sobre a pena-base. O chefe dos quadrillheiros, se não me falha a memória, foi condenado por oito crimes de corrupção ativa, além da formação de quadrilha. Oito é mais do que seis, como todos sabemos, mas Lewandowski insiste em fingir que ignora. Tanto que manteve o 'critério' de aumentar a punição em um terço, contra decisão do colegiado, mesmo sendo comprovada a ocorrência de 48 'incidentes', como ocorreu com o sócio de Valério, Ramon Rolembach.
     Certamente está pensando nos antigos chefes de seu companheiro de absolvições, o ex-empregado do PT José Antônio Dias Toffoli.

Os 'james bonds' da patifaria ideológica

     A desfaçatez desses quadrilheiros e corruptos não tem limites. Condenados pela mais alta Corte de Justiça do País, o ex-ministro José Dirceu e seus asseclas do PT e assemelhados anunciam uma investida contra - adivinhem? - a imprensa, culpada, segundo esses 'elementos' (a expressão extraídas do vocabulário policial é proposital), pelo desmantelamento do esquema de assalto aos cofres públicos e ao poder elaborado e executado durante o primeiro Governo Lula..
     Já se anuncia, até, a divulgação de um manifesto com a assinatura de 'intelectuais' em defesa dos bandoleiros petistas (eles foram condenados por formação de quadrilha, ou bando, de acordo com o Código Penal, daí o uso da palavra bandoleiro). É fácil imaginar os nomes que encabeçarão a lista. Basta consultar a relação de beneficiados por financiamentos oficiais. A turma que vive de sugar as tetas governamentais certamente vai colocar o nome no papelucho, cineastas em especial.
     Para essa gente, imprensa boa é a cubana, representada pelo jornal Granma, risível órgão oficial do Partido Comunista, cuja utilização mais elevada remete a preceitos higiênicos. Antes que algum desavisado pense que estou me referindo ao uso do jornal para forrar gaiolas, quero relembrar (faço isso sempre que posso) que o Granma, na verdade, serve como papel higiênico, produto praticamente inexistente na ilha da fantasia dos irmãos Castro.
     Segundo pode-se extrair do noticiário que escorre do PT, a companheirada vai reduzir o nível das acusações ao Supremo Tribunal Federal, pelo menos por enquanto. Alguém deve ter lembrado aos quadrilheiros que os magistrados também acompanham o noticiário e que não devem estar gostando muito das ameaças e críticas que têm sido feitas à atuação do colegiado. Tentativa semelhante - a chantagem executada pelo ex-presidente Lula contra o ministro Gilmar Mendes -, ao ser denunciada, teve um efeito devastador.
     Em síntese, para os condenados e seus seguidores, foram os jornais e revistas que nortearam a decisão do STF, e não os crimes cometidos por eles. Crimes comuns, vagabundos, canalhas, que a petezada tenta desclassificar. A vigarice é tão grande que os chefões da quadrilha já estão se autodenominando "prisioneiros políticos". Eles achavam que tinham licença para roubar em nome da tal 'causa', como 'james bonds' da patifaria ideológica.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Lewandowski defende Marcos Valério pensando na companheirada

     O ministro Joaquim Barbosa não poderia ter sido mais claro e objetivo em um dos momentos das recorrentes discussões que vem mantendo com o revisor do processo do Mensalão do Governo Lula: o misto de ministro e defensor da companheirada Ricardo Lewandowski "está plantando agora para colher mais tarde", destacou. Trocando em miúdos. Está defendendo penas menores para a bandidagem do núcleo publicitário (leia-se Marcos Valério), para tentar salvar a pele dos quadrilheiros e corruptores do PT, quando eles estiveram recebendo suas condenações.
     Foi - data venia - o que escrevi ontem. Lewandowski luta por penas menores para os demais qaudrilheiros, contando com a possibilidade de seus 'clientes' responderem por seus crimes em liberdade. Derrotado na defesa veemente que fez dos acusados, adaptou seu discurso à nova realidade.
     Vem conseguindo relativo sucesso na empreitada. Em especial na desestabilização emocional do relator - que se perdeu algumas vezes -, usando sua inegável facilidade retórica e um tom de bom moço, preocupado com a Constituição e com os direitos do cidadão. Chegou a bradar, em determinado momento, que o plenário não poderia esquecer que as penas estavam se somando, que até àquele momento o 'pobre' (o adjetivo é meu) publicitário já estava condenado a mais de 20 anos de prisão, "quase três décadas".
     Sua tese é tão defensável quando a de um advogado de porta de xadrez que prega apenas uma condenação para alguém que tenha assassinado dez pessoas. Pura vigarice.
     Argumentava em defesa de Valério e pensava - eu me permito fazer essa divagação, em função do histórico recente - na cúpula do PT vendo o sol nascer quadrado, como se dizia há algum tempo. Ele sabe que Joaquim Barbosa vai pedir a condenação dos Josés de Delúbio Soares por cada um dos crimes cometidos. E que, provavelmente, as penas vão passar facilmente do mínimo exigido para que sejam cumpridas na cadeia.

Pelo direito a uma vida decente

     Só mesmo o ranço pseudo-ideológico e a mais simplória e vagabunda demagogia populista podem justificar a insistência com que alguns setores combatem o projeto que foi encampado pela Prefeitura do Rio, destinado a recolher, abrigar, tratar e tentar salvar essa legião de mortos-vivos - as vítimas do que podemos chamar de epidemia de crack - que se espalha por diversos pontos da cidade.
     Em nome de um etéreo direito à autodeterminação, demagogos de todos os matizes acusam um eventual cerceamento da liberdade para defender o opção que esses infelizes teriam à morte mais miserável; à destruição moral e física; à devastação de milhares de famílias que, de modo direto e indireto, são atingidas por essa catástrofe.
     Não é possível que alguém, consciente e minimamente racional, acredite que esses miseráveis que agonizam nas chamadas cracolândias tenham capacidade de discernir sob re o que é melhor para suas vidas. Não têm. São incapazes absolutos e devem sim, ser tutelados pelo Estado, responsável - em primeira e última instâncias - pelo bem-estar de seus cidadãos.
     Abandonar uma parcela de seus cidadãos, relegá-los a um fim degradante, é uma atitude moralmente desprezível e não se sustenta sob o princípio da responsabilidade social. O prefeito do Rio, Eduardo Paes - a quem podemos atribuir uma vasta coleção de defeitos e incoerências , como eu mesmo venho fazendo há algum tempo -, assumiu, com uma coragem impensável, essa bandeira, quando seria muito mais cômodo agir como a maioria e fechar os olhos à praga do crack, em especial.
     As drogas em geral são uma ameaça não apenas - como se fosse pouco! - aos indivíduos, mas também à paz social. Não há glamour nas drogas. Há devastação e enriquecimento de criminosos. A sociedade não admite a leniência, como ficou comprovado em pesquisa recentíssima na qual 89% dos brasileiros rejeitaram a descrimininalização das drogas.
     Se o crack é um subproduto da cocaína, os zumbis que ele gera são o rejeito do que se convenciona chamar de 'consumidores sociais'. Cada carreira cheirada por desajustados de alta classe representa uma pedra que devasta uma vida.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

O pensamento vivo do petismo

     O Globo nos regala com uma entrevista imperdível e extremamente elucidativa de um exemplar irretocável do verdadeiro petismo, o ex-ministro da Secretaria de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi. Vale a pena saborear cada palavra, cada pensamento, cada afirmação desse personagem que parece saído de um campo de cultivo de cana-de-açúcar da Cuba dos anos 1960. Ou de um centro de reeducação política da China maoísta pós-'revolução cultural'.
     Para começar, a definição do ex-ministro para a condenação dos principais quadrilheiros (6 a 4) e corruptos ( 9 a 1 e 8 a 2) do seu partido: "São prisioneiros políticos de um julgamento de exceção". Todos nós, em algum momento - especialmente nos últimos nove anos e dez meses dessa lamentável Era lula -, ouvimos e/ou lemos idiotices semelhantes. Embora seja uma afirmação que flerta com o mais profundo e vulgar estelionato ideológico, é o pensamento dominante entre os criminosos que acabam de ser condenados, seus asseclas e simpatizantes. Em síntese: pura vigarice.
     Mas o preclaro ex-ministro que - pelo visto - defende o direito de seus companheiros assaltarem os cofres públicos em nome da 'causa', não se contentou. Afirmou com aquela inflexão que acompanha as declarações normalmente proferidas pela companheirada, que "vai ser a razão de viver de Genoíno e do Dirceu mostrar que eles foram condenados sem provas". Eu, ao ler mais essa estultícia, fiquei entre uma estrondosa gargalhada e o vômito desenfreado.
     E foi além. Afirmou, num misto de ameaça e chantagem (atitudes comuns entre os membros do seu partido), que eles, os petistas, vão acompanhar "com lupa" cada voto futuro dos ministros em casos que envolvam corrupção. Mas ressaltou que o PT "acatará a decisão (do STF) apesar de descordar dela em todos os aspectos". Como se essa gente pudesse fazer outra coisa a não ser uma vaquinha para comprar cigarros e revistas para os futuros presidiários. 'Esquece', esse tal ex-ministro, que não está em Cuba, na Venezuela ou na Coreia do Norte. Ou na Albânia que provavelmente embalou seus sonhos pretéritos.
     Graças à coragem, dignidade e determinação da maioria absoluta dos ministros do Supremo Tribunal Federal, o Brasil inaugurou uma nova fase na sua existência como nação. A condenação dos quadrilheiros que assaltaram o país é um marco na nossa vida. A cadeia que se aproxima dos criminosos petistas é a grande resposta que a sociedade dá a um comportamento deletério que tentou e ainda tenta subjugar a democracia e a liberdade.

Lewandowski continua defendendo a quadrilha

     Apesar de derrotado fragorosamente na sua tarefa partidária de defender e absolver os quadrilheiros e corruptores do Partido dos Trabalhadores, o ministro Ricardo Lewandowski continua, no entanto, fazendo o possível para tumultuar essa fase do julgamento do assalto aos cofres públicos praticado no Governo Lula, a que está estabelecendo as penas dos criminosos.
     Contando com a parceria do ministro Dias Toffoli - aquele ex-empregado do PT que também não se envergonha de ser ridicularizado pelos seus pares -, o revisor tenta reduzir os anos de cadeia que estão sendo impostos de imediato ao publicitário Marcos Valério, de olho - e isso é tão óbvio!!! - nas sentenças que desabarão sobre as cabeças da companheirada chefiada pelo ex-ministro José Dirceu.
     O trabalho de Lewandowski, a partir de hoje, é evitar penas altas que influenciem o resultado da dosimetria quando referente aos integrantes do que ficou conhecido como 'núcleo político'. Embora não tenha o direito de abrir a boca quando da imposição de penas a réus que absolveu, encontrou um meio de interferir justamente quando estavam em discussão as punições por crimes também imputados, em especial, a José Dirceu e José Genoíno: formação de quadrilha e corrupção ativa.
     Não conseguiu, a princípio, seu intento, mas criou a confusão a que se propunha. Marcos Valério já acumula, em apenas dois dos vários crimes pelos quais foi condenado, oito anos de cadeia. Pelo que ainda virá, deve chegar, com facilidade, aos 30 anos de prisão, o que tornará (tornaria?) a tarefa de Lewandowski (livrar os chefões da roubalheira do xadrez) mais difícil.
     Ficou claro, ainda, que o ministro cuja indicação foi defendida por Dona Marisa Letícia Lula da Silva - fato jamais desmentido - está empenhado em situar os crimes em data anterior à mudança da Lei que estabeleceu penas mais duras nos casos de corrupção, em especial. É uma manobra deplorável destinada a limitar a pena a de um ano a oito anos (desde o fim de 2003 os limites foram aumentados para de dois a 12 anos). Seu objetivo parece claro: conseguir que seus pares estabeleçam o limite de dois anos, agora, o que favorecia a prescrição e poderia influir na dosimetria que será imposta aos quadrilheiros do PT. E isso ficaria mais fácil caso a pena mínima fosse um ano.
     Em síntese: a quadrilha, embora condenada e desmoralizada, continua ativa e atuante.

A verdadeira essência da presidente

     Um tema absolutamente escabroso não teve, ainda, a repercussão merecida: o arquivamento da investigação sobre o - digamos - comportamente não muito republicano do atual ministro Fernando Pimentel, do Desenvolvimento e 'muitas' outras coisas. Pois foi o que aconteceu ontem, com a decisão da Comissão de Ética da Presidência da República de sepultar as denúncias contra o ex-prefeito de Belo Horizonte.
     Pimentel era acusado de ter usado um jatinho fretado por um empresário, em outubro do ano passado, para participar de seminário em Roma, Itália, e de ter recebido uma fortuna (R$ 2 milhões) por palestras e consultorias jamais realizadas, pouco antes de ser oficializado como coordenador da vitoriosa campanha da presidente Dilma Rousseff.
     Dois escândalos que em qualquer país do mundo seriam suficientes não apenas para abertura de um procedimento interno, mas do repúdio do Governo e de processos criminais. Mas Pimentel é amigo pessoal da presidente, é de sua 'cota pessoal' no Governo. Para livrá-lo, Dilma Rousseff vetou a recondução de dois conselheiros - que tendiam a condenar o comportamento do homem da presidente - e indicou outros, que já cumpriram o papel. Algo semelhante ao que os ministros Ricardo Lewandowski e Dias Toffoli fazem no STF. Essa atitude da presidente - ressalta-se - já havia provocado a renúncia do ministro Sepúlveda Pertence, que presidia a Comissão e não aceitou a manipulação que se adivinhava.
     Foi apenas mais um exemplo da enorme distância entre o real comportamento da presidente e a fantasia que a estratégia de marketing do Palácio criou para ela, a de alguém preocupado coma moralidade e intransigente com malfeitores. Não é verdade. Jamais foi. Nossa presidente, ao contrário, vem se esmerando em enxovalhar o mandato, protegendo criminosos, acobertando pilantragens e participando de modo lamentável nas disputas eleitorais.
     Jamais tive o que se poderia chamar de dúvida razoável quanto à essência do atual governo. Esse comportamente deletério está no DNA do PT, como ficou comprovado agora, com a condenação de parte da cúpula partidária por corrupção e formação de quadrilha. Basta recapitular os 'incidentes' ocorridos ao longo desses quase dez anos dessa lamentável Era Lula. Todos - eu disse TODOS - os envolvidos nos assaltos aos cofres públicos e em falcatruas generalizadas estão por aí, apoiados e prestigiados pelo PT.
     A presidente Dilma, embora originada de outro partido (no caso, o PDT), há muito incorporou a essência petista, esse 'jeitinho' de fazer política condenado veementemente pelo Supremo e pela parte digna da sociedade.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

A quadrilha foi condenada!!!

     Não há mais argumentos, vigarices retóricas ou quetais. Uma quadrilha formada pela cúpula petista durante o primeiro governo do ex-presidente Lula assaltou, sim!!!, os cofres públicos, visando a um delirante e canalha projeto de poder. O Supremo Tribunal Federal, por 6 votos a 4, concluiu por aceitar a denúncia da Procuradoria-Geral da República, brilhantemente apresentada pelo ministro Joaquim Barbosa.
     José Dirceu, o ex-ministro da Casa Civil de Lula, foi, sim!!!, o chefe 'formal' de uma quadrilha que roubou recursos públicos, corrompeu, foi corrompida, lavou dinheiro e ajudou a evadir divisas, entre outros delitos. O crime de quadrilha, como denunciado, ficou provado para os ministros mais relevantes, destaque para o decano Celso de Melo, uma inegável referência para a Corte. E ele foi enfático, duro, inflexível.
      "Nada mais ofensivo e transgressor à paz pública do que a formação de quadrilha no núcleo mais intimo e elevado da República, para domínio do aparelho de Estado e submissão do Parlamento aos desígnios criminosos de um grupo", afirmou Celso de Melo.
     E disse mais:"Vilipendiaram (os réus) os signos do estado democrático de direito, em um dos episódios mais vergonhosos da história política do país". Por isso, ressaltou o ministro, "devem ser punidos como delinquentes". Mais diante, reforçou: "Estamos a condenar, aqui, não atores políticos, mas protagonistas de sórdidas ações criminosas. Criminosos, mesmo ungidos por votação popular, não se subtraem à Justiça".
     E foi peremptório: "Ninguém, absolutamente ninguém, tem legitimidade para transgredir as leis. Ninguém está acima da autoridade do ordenamento jurídico".
     Ayres Brito, encerrando a votação, seguiu o relator e consolidou a condenação dos quadrilheiros, com um voto - mais um! - irretocável. "O trem da ordem jurídica não pode descarrilar", disse o presidente. "O sossego coletivo resulta da confiança", reafirmou. E proferiu o voto que o Brasil esperava: a quadrilha foi condenada.
     Lamento, em especial, pela ministra Carmem Lúcia. Poderia ter encerrado sua participação de maneira menos deslustrosa.
      PS: Tomo a liberdade de reproduzir, abaixo, trecho de uma postagem realizada quinta-feira, dia 18, aqui mesmo no Blog ('A quadrilha desmascarada'). Modestamente devo 'admitir' que acertei. Até mesmo ao admitir que a ministra Carmem Lúcia poderia votar pela condenação. Não votou, mas absolveu envergonhadamente. Vamos ao texto:
     "Partindo dessa avaliação e da análise das votações anteriores, ouso prever um placar de 6 a 4 pela condenação. Resultado que pode chegar, com facilidade, a 7 a 3. É o que o Brasil decente aguarda ansiosamente. Uma resposta contundente e abrangente à maior ameaça à nossa democracia nas últimas décadas: o uso de dinheiro público para financiar um ousado e criminoso esquema que pretendia engolfar o país com o projeto de poder petista".

Votos envergonhados e comprometidos

     O ministro Dias Toffoli absolveu os 13 acusados por formação de quadrilha num voto que não durou um minuto, como destaca, em manchete, o Estadão. Não houve defesa de pontos de vista, nem mesmo uma despropositada ou envergonhada, como as elaboradas pelas ministras Rosa Weber e Carmem Lúcia, respectivamente. Absolveu, simplesmente, seguindo de cabo a rabo os argumentos da defesa, abraçados com sofrequidão pelo ministro Ricardo Lewandowski, aquele que já não pode transitar livremente pelas cidades, por temor de ser hostilizado pela população.
     O ex-empregado do PT e assessor direto do ex-ministro José Dirceu, principal acusado no processo que julga escândalo que ficou conhecido como Mensalão do Governo Lula, economizou o tempo dos demais pares e a paciência de todo os que acompanham o desenrolar dos fatos. Fez bem. Afinal, ele não está lá para julgar, e sim para executar uma tarefa partidária. Ouso dizer que qualquer outro, em seu lugar (exceção, talvez, do seu companheiro Lewandowski), teria se julgado impedido.
     Tofolli - não é uma expressão apenas retórica, é um fato - foi empregado do PT; uma espécie de estafeta de José Dirceu; e vive com uma advogada que defendeu o ex-ministro. Excetuando o próprio acusado, alguns parentes muito (mas muito, mesmo!!!) próximos e o ex-presidente Lula, chefão de Dirceu, não há um cidadão brasileiro mais moralmente impedido de participar do julgamento do Mensalão do que ele, Dias Toffoli.
     Ninguém jamais teve alguma dúvida sobre seus votos. Até mesmo a condenação de José Genoíno, ex-presidente de seu partido, o PT, por corrupção ativa era esperada. Ele estava, apenas e tão-somente, valorizando a absolvição de José Dirceu, que poderia ter um desfecho favorável à companheirada. Genoíno - ele, Toffoli, sabia - já estava condenado. Restava, apenas, saber o placar: se 9 a 1 (como foi), ou 8 a 2. Em suma: seu voto não teria a menor importância.
     A condenação de Dirceu - equivalente, de fato! - à condenação do ex-presidente Lula, era o pior dos pesadelos. Para evitá-la, valia tudo, até mesmo sacramentar o arremesso do ex-companheiro na jaula dos leões. Outro obreiro do PT, o ex-tesoureiro Delíubio Soares , vem fazendo isso - assumir a culpa pelos crimes da cúpula companheira - há seis anos.
     Dias Toffoli, portanto, não surpreendeu. Seguiu o script traçado desde sempre. Surpreendente - podemos chamar assim - foi o voto da ministra Carmem Lúcia, autora de um discurso emocionado contra os desmandos e roubalheiras realizados em nome de um projeto político. Cabisbaixa, a ministra absolveu e viu-se obrigada a retomar a palavra para tentar justificar o injustificável. Calou-se, em seguida, face ao voto de Luiz Fux, muito mais duro e incisivo do que o do próprio relator e que não se furtou de devastar suas - dela, Carmem Lúcia - opiniões.
     A ministra Rosa Weber optou pela mais profusa reunião de argumentos contraditórios. Cada tese levantada por ela atendia claramente aos argumentos da acusação. Foi preciso realizar um enorme contorcionismo para usar argumentos de acusação em armas de defesa. Dessa vez não houve olhos marejados pela dor de condenar velhos companheiros.
     Vamos agora a Marco Aurélio. O início é promissor.

O brilho de Luiz Fux

     O ministro Luiz Fux, por sua clareza, objetividade, extrema segurança jurídica e simplicidade, conquistou definitivamente meu respeito. Ao lado do decano Celso de Melo e do presidente do Supremo Tribunal Federal, Ayres Brito, transpira conhecimento e extrema facilidade de comunicação. Embora o relator Joaquim Barbosa venha simbolizando a reação da sociedade digna face aos crimes cometidos pela quadrilha responsável pela Mensalão do Governo Lula, Fux é, para mim, o personagem mais brilhante da nossa mais alta Corte.
     Sempre respeitoso em relação aos seus pares, jamais abriu mão do direito de se impor sua visão jurídica, sempre bem amparada, de forma enfática e incisiva. Luiz Fux tem - é verdade - um diferencial em relação a Barbosa: uma avassaladora fluência verbal (o relator, embora brilhante, não tem o dom da oratória).
     Seu voto, hoje, pela condenação da maioria absoluta dos acusados de formação de quadrilha - seguindo a tese do relator e contrariando frontalmente a visão das ministras Rosa Weber e Carmem Lúcia, que se aliaram lamentavelmente à tese do revisor Ricardo Lewandowski - deveria ser gravado e apresentado como um referência da qualidade dos nossos juristas modernos.
     Foi objetivo, didático e factual. Lembrou as recentíssimas condenações impostas pelo plenário do STF como provas irrefutáveis da realização dos crimes, realizados - como deixou evidente - por uma quadrilha, ou bando. Destruiu uma a uma cada afirmação das ministras Rosa Weber e Carmem Lúcia, que me pareceu extremamente envergonhada ao votar pela absolvição dos acusados. Já a ministra Rosa Weber exibiu o ar de enfado que vem caracterizando suas últimas apresentações. Talvez um arrependimento tardio por ter condenado os dirigentes do PT por corrupção ativa.
     Luiz Fux foi seguido pelo sóbrio e circunspecto ministro Gilmar Mendes, que também seguiu o relator e optou por aceitar a existência do crime de quadrilha, empatando o julgamente: 3 a 3. O voto de Dias Toffoli foi o esperado: absolveu todo mundo, tarefa a que se impôs. O de Celso de Melo também se antecipa, por suas intervenções: vai condenar. A decisão, portanto, ficará a cargo dos ministro Marco Aurélio Mello e Ayres Brito. Está 4 a 3 para os quadrilheiros.
     Continuo acreditando em 6 a 4 pela condenação.

Ave, Messi!!!

     Muitos vão achar que estou cometendo uma heresia. Mas a cada dia, a cada jogo, a cada gol sensacional, mais eu me convenço que Lionel Messi é o maior jogador, depois de Pelé, que eu vi jogar. E vi muitos, grandíssimos, geniais como Garrincha, Didi, Nílton Santos, Rivelino, Zico e Romário (para ficar apenas entre os brasileiros, os melhores dentre todos, no geral, não tenho a menor dúvida).
     Messi - eu já estou convencido - é o mais completo de todos. Sozinho - como Pelé o fazia e Garrincha fez na Copa de 1962, em especial -, consegue devastar times inteiros, defensores com o dobro do seu tamanho, muralhas intransponíveis para simples atletas (perto dele, todos os demais são simples ...).
     No futebol que nos emociona hoje, Cristiano Ronaldo e Neymar são os que mais se aproximam dele, mas não têm a genialidade, regularidade, criatividade, determinação, simplicidade e tudo o mais que possamos imaginar em um jogador-símbolo.
     Nos piores dias - e eles existem até mesmo para gênios -, é capaz de decidir um jogo em duas ou três jogadas. Messi é um dos casos raros em que quase todos os apaixonados por futebol são obrigados a admitir, reverencialmente, que estão diante de alguém diferenciado.
     No último fim de semana, fez três gols na vitória por 5 a 4 do seu Barcelona. No ano, já marcou 171 vezes, e ainda faltam dois meses para 2012 virar 2013. Pelé - lembravam ontem os programas esportivos - ainda é o recordista mundial, com 175 gols em uma temporada. Messi está muito perto de atropelar mais esse recorde. E com o jeito mais simples possível; correndo o tempo todo; apanhando e mantendo-se de pé; driblando: dando passes: fazendo gols de cabeça, com ambos os pés; com a bola rolando e de falta.
     Os argentinos já podem abandonar a idolatria exagerada e desproporcional que nutrem por Maradona, um grande jogador, mas aquém de Zico, por exemplo. Eles já têm um gênio completo para exaltar.

sábado, 20 de outubro de 2012

Presidente vulgariza o cargo e desafia a dignidade do país

     A presidente Dilma Rousseff, lamentavelmente, vem dando exemplos diários de sua verdadeira postura. Não satisfeita em conspurcar o cargo que exerce - a de presidente de todos os brasileiros -, participando de comícios, como se fosse um cabo eleitoral vulgar, exibiu, ao lado do indefectível ex-presidente Lula, o que realmente pensa sobre os assaltantes que saquearam cofres públicos, sob o comando do ex-ministro José Dirceu (comando oficial, pelo menos).
     Ontem, em Campinas, afirmou que o PT - esse mesmo que liderou o Mensalão - "representa uma nova forma de fazser política no Brasil". Deprimente. Isso, quando o país decente acompanha estarrecido o Supremo Tribunal Federal condenar duas dezenas de criminosos, entre os quais,. três dos mais destacados representantes da cúpula do seu partido.
     Que Lula repita essa vigarice, é compreensível. Afinal, mentir e manipular fazem parte do histórico desse que foi o mais medíocre e ignorante presidente que esse país jamais teve. Se já mentia quando estava no cargo, não é de se estranhar que continue agredindo a diginidade alheia agora, quando está formalmente fora do poder.
     Um presidente em exercício, entretanto, não tem o direito de se comportar dessa maneira tão vulgar e - o que é mais grave - desafiadora. Pois foi exatamente isso que a presidente Dilma fez: desafiou não apenas os magistrados do STF, que por maioria absoluta vêm condenando a prática vagabunda desenvolvida pelo PT, mas a própria Nação.
     Pensando bem, seria absolutamente improvável que a presidente tivesse um comportamento diferente. Afinal, ela participou ativamente e decididamente do governo que vilependiou o país. Embora tenha raízes diferentes - é egressa desse lastimável PDT!!! -, fez a opção preferencial pela companheirada e pelo seu - dela, companheirada - modo de ser.
     A presidente deixou bem claro: ela é PT de corpo e alma.
     PS: Lula também recitou uma série de impropriedades no mesmo palanque, ao lado da presidente, como o Estadão registrou. Mas dele se espera tudo.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Valeu mesmo, STF!!!

     Vou me permitir discordar do meu velho companheiro da antiga redação de O Globo, nos anos 1970, Altamir Tojal, um dos organizadores da manifestação 'Valeu STF', que será realizada domingo, a partir das 10h30, no Leblon, Zona Sul do nosso Rio. Segundo Altamir, em entrevista ao jornal onde trabalhamos, será uma homenagem a "todos os ministros", independentemente dos votos proferidos até agora, no julgamento do Mensalão do Governo Lula.
     Eu não teria o menor constrangimento em excluir os ministros Ricardo Lewandowski e Dias Toffoli da homenagem. Embora respeite o contraditório, não consigo respeitar esses dois representantes petistas no Tribunal. Eles não estiveram, não estão e não estarão no plenário para julgar com independência, seriedade e dignidade. Ambos apenas cumprem uma tarefa partidária, mais lamentável, ainda, no caso de Lewandowski, que vem se esmerando em desafiar a inteligência da Nação.
     Creio que Altamir está sendo educado e gentil, duas de suas características. Ele sabe que a sociedade decente desse país aprendeu a desprezar os dois ministros, pela evidente determinação de absolver seus companheiros, mesmo que, para isso, seja necessário conspurcar a Corte que deveriam defender e respeitar. Se Lewandowski, por acaso, atravessasse a passeata em apoio ao STF, certamente receberia uma sonora e estrondosa vaia. Não levaria pontapés nem pedradas - expedientes de 'convencimento' exclusivos da companheirada, historicamente -, mas seria expulso do convívio dos decentes.
     Que se diga, a bem da verdade, que até é possível ter dignidade pessoal tendo militado no PT. O presidente do STF, Ayres Brito, foi filiado ao partido, mas não vendeu a alma, como seus ex-companheiros fizeram. Lewandowski é a grande exceção. Pior até do que Dias Toffoli, de quem nada se esperava.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Lewandowski se supera a cada minuto

     O ministro revisor Ricardo Lewandowski - aquele que, segundo consta (e nunca foi desmentido), foi indicado para o cargo por Dona Marisa Letícia Lula da Silva (???)-, como já se esperava, absolveu todos os 13 acusados de formação de quadrilha no processo do Mensalão do Governo Lula. Para o digníssimo ministro do STF, as turmas do PT, do BMG, do Banco Rural e das empresas do publicitário Marcos Valério se reuniam para falar de futebol e outras amenidades.
     As dezenas de encontros entre José Dirceu, José Genuíno, Delúbio Soares, Marcos Valério e outros eram - podemos depreender do voto de Sua Excelência - simples 'meetings' sociais, nos quais os temas mais emocionantes remetiam às novelas da época. Não importa ao ministro indicado por Dona Marisa que todos os atuais acusados tenham sido condenados por outros crimes, que se complementam e cruzam, inexoravelmente, nesse tenebroso escândalo.
     O preclaro ministro Lewandowski ignora o clamor nacional, a indignação dos decentes. Extrapolando, absolutamente, a função que se espera de um ministro com a incumbência de revisar um processo, transformou-se no mais ferrenho e vibrante defensor dos bandidos que assaltaram os cofres públicos, apequenando seu papel.
      É evidente que cada magistrado tem o direito de interpretar a lei, com base no seu conhecimento e convencimento. No caso do revisor, não é o que ocorre - e isso ficou bem claro para a população desde o início do julgamento. Sua lastimável atuação agride a consciência do cidadão que cumpre suas obrigações, é digno e exige dignidade em todas as esferas do Poder. Não por acaso foi vaiado e xingado quando foi votar, no primeiro turno. Acovardado, saiu pelos fundos da seção eleitoral, como se fosse um dos criminosos que vem absolvendo.
     Lewandowski talvez consiga deitar a cabeça no travesseiro e dormir. Não duvido. A paixão partidária e a evidente submissão aos desígnios petistas podem dar a ele a tranquilidade que alguém menos comprometido não teria. Mas ele sabe que está prestando um enorme desserviço ao País, ao servir ao PT e ao esquema de poder de maneira tão óbvia e deplorável.

A quadrilha desmascarada

     Como se imaginava e aguardava, o ministro Joaquim Barbosa traçou um retrato irretocável do conluio que se formou entre políticos, publicitários e banqueiros para assaltar os cofres públicos, no episódio que ficou conhecido como Mensalão do Governo Lula. E, com o rigor e a independência que vêm caracterizando sua atuação, pediu a condenação de 11 dos 13 acusados de formação de quadrilha (Artigo 288 do Código Penal), destaque para a facção política do PT, formada por José Dirceu, José Genoíno e Delúbio Soares.
     Tudo é possível. O STF, por maioria, pode eventualmente decidir pela inocência de um, dois ou todos os integrantes desse time de horrores. Será difícil, no entanto. Todos sabemos que os ministros Ricardo Lewandowski e de Dias Toffoli devem manter a toada e seguir perdoando, em especial, a companheirada. É para isso que eles estão lá, cumprindo uma tarefa partidária, que independe da quantidade ou peso das provas. Mas os demais ministros têm demonstrado a isenção e a independência exigidas de um representante da nossa mais alta corte.
     É verdade que alguns votos não me agradaram, particularmente. A ministra Rosa Weber tende a ser mais compreensiva com a turma mais chegada ao partido da presidente que a indicou para o cargo. Condenou José Genoíno e José Dirceu, é verdade - mas com os olhos rasos d'água. A ministra Carmem Lúcia mostrou seguidamente sua indignação com o comportamento dito 'político', até mesmo em função de suas atribuições frente ao Tribunal Eleitoral. Mas absolveu o publicitário Duda Mendonça e sua sócia, que confessadamente receberam dinheiro ilegal em um banco no exterior.
     Luiz Fux e Gilmar Mendes têm sido inflexíveis, assim como o presidente Ayres Brito, apesar de sua história petista - o que só valoriza seus votos. O decano Celso de Melo e Marco Aurélio também são muito rigorosos.
     Partindo dessa avaliação e da análise das votações anteriores, ouso prever um placar de 6 a 4 pela condenação. Resultado que pode chegar, com facilidade, a 7 a 3. É o que o Brasil decente aguarda ansiosamente. Uma resposta contundente e abrangente à maior ameaça à nossa democracia nas últimas décadas: o uso de dinheiro público para financiar um ousado e criminoso esquema que pretendia engolfar o país com o projeto de poder petista.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

A emoção continua

     O julgamento do episódio que ficou conhecido como Mensalão do Governo Lula (o maior assalto aos cofres públicos já realizado nesse país, em todos os tempos) entrou hoje em mais um momento decisivo e que promete emoções semelhantes à da condenação do ex-ministro José Dirceu e do ex-presidente do PT, José Genoíno, por corrupção ativa. Joaquim Barbosa começou a apresentar a seus pares, no Supremo Tribunal Federal, os argumentos para pedir a condenação de representantes da cúpula petista também por formação de quadrilha, ao lado dos integrantes dos chamados núcleos financeiro e publicitário, destaque absoluto para o onipresente Marcos Valério.
     Será difícil que a maioria dos ministros não opte pela condenação dos quadrilheiros. Há todo um histórico de canalhices já apresentado e condenado anteriormente. De lavagem de dinheiro à mais 'deslavada corrupção', como diria o ministro Luiz Fux. De algum modo, todos os acusados de formação de quadrilha já foram condenados por crimes que se entrelaçam de maneira clara e insofismável.
     Excetuando o lamentável ministro Ricardo Lewandowski - que se esmera diariamente em desmoralizar a Justiça - e o ex-empregado do PT, Dias Toffoli - que está apenas cumprindo uma tarefa partidária -, os demais tenderão a aceitar a denúncia, até mesmo para justificar votos anteriores. A trama só foi bem-sucedida por ter sido imaginada e realizada por um grupo afinado, a tal quadrilha à qual se refere desde sempre a Procuradoria-Geral da República. E tudo ainda este mês, provavelmente antes do segundo turno das eleições municipais.
     É bem verdade que o ministro 'revisor', Ricardo Lewandowski, tentou impedir a celeridade do processo - como vem fazendo desde o início -, mas foi derrotado pela aboluta maioria dos magistrados, que aceitou os argumentos do relator Joaquim Barbosa e concordou com a realização de sessões extraordinárias. O misto de juiz e advogado de defesa foi vencido mais uma vez.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Um país de cócoras

     A vergonhosa posição brasileira em relação ao mundo - quase sempre de cócoras, quando trata de interesses de republiquetas governadas por aprendizes de ditadores, como a da Venezuela, e terroristas, como o Irã - foi criticada severamente pelos participantes da 68ª assembléia da Sociedade Interamericana de Impresa, realizada em São Paulo.
     O ex-chanceler mexicano Jorge Castañeda, por exemplo, não fez por menos. Disse, com toda as letras, que o Brasil tem sido cúmplice das investidas dos governos venezuelano e equatoriano contra a liberdade de imprensa e de expressão e classificou nosso país como um "anão diplomático", quando envolvido em ações internacionais.
     Antes, nosso governo já fora acusado, pelo diretor da UNG Human Rights Watch, José Miguel Vivanco, de se omitir quanto à postura de países que fazem tudo para reduzir a dimensão da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, que é ligada à Organização dos Estados Americanos.
     Essa é a percepção que entidades dedicadas à defesa da liberdade têm do Brasil, do nosso governo. E os fatos estão aí, ao alcance de qualquer analista. O alinhamento incondicional com o que há de pior no mundo vem sendo a principal característica da 'diplomacia' dessa Era Lula. Apoiamos ditadores sanguinários até o limite, como fizemos no Iraque e no Líbano, fazemos em relação ao Irã e, de forma disfarçada, à Síria.
     Estamos sempre ao lado de governantes medíocres e arbitrários, como os lastimáveis dirigentes argentino (Cristina Kirchner), venezuelano (o coronel de opereta Hugo Chavez), equatoriano (Rafael Correa) e boliviano (o 'cocaleiro' Evo Morales). A submissão ideológica aos irmãos Castro é digna de um estudo psicanalista.
     Mas não poderia ser diferente. Os últimos governos têm manifestado claramente uma posição de antagonismo com a liberdade de imprensa, intolerável, pois vem expondo as contradições abissais de uma forma de fazer política que se dizia íntegra e que a prática mostrou ser corrupta. Se pudessem - mas não podem!!! -, há muito tempo teriam ressuscitado a censura, sonho que jamais deixou de ser acalentado.
     Como não podem, os atuais detentores do poder nacional tentam influir na opinião pública comprando dignidades, através do patrocínio de teclados sempre dispostos a aplaudir assaltantes e demonizar a Justiça.

Derrota do Brasil decente

     O Globo de  hoje 'verbaliza' uma sensação que - temo - prevaleu em muitos, após a absolvição do publicitário Duda Mendonça e de sua sócia, ontem, da acusação de lavagem de dinheiro e evasão de divisas, por terem recebido dinheiro sujo em pagamento do trabalho realizado para a campanha do ex-presidente Lula, em 2002. Para o jornal, o ministro Joaquim Barbosa teria sofrido sua maior derrota no julgamento do Mensalão, o maior assalto institucionalizado aos cofres públicos e à dignidade desse país.     
     De maneira alguma. A grande derrotada - na minha ótica - foi a sociedade brasileira, como um todo, que viu, mais uma vez, a vitória do nosso deletério 'jeitinho malandro de ser'. Pois foi o que aconteceu. Não há dúvida que o PT usou dinheiro roubado para pagar o trabalho realizado pelo publicitário. Isso já ficou provado, sem questionamentos. E também não restou dúvida que Duda Mendonça - talvez pressionado, admito - utilizou um artifício para receber esse dinheiro, através de depósitos escusos principalmente em uma conta no exterior, municiada por doleiros a serviço da quadrilha de mensaleiros.
     A abertura da conta - a tal conta Dusseldorf -, seguindo orientação de uma consultoria especializada, teve esse único propósito: receber um dinheiro que não poderia ser pago no Brasil sem que os pagadores fossem para a cadeia. O próprio publicitário deixou isso bem claro no depoimento que prestou à CPI do Mensalão. Chorando, admitiu que aceitou a negociata, fato que poderia - deveria!!! -, até, ter provocado o impeachment do então presidente Lula.
     Seus advogados formais e o defensor eterno de todos os mensaleiros, Ricardo Lewandowski, no entanto, conseguiram provocar, na maioria dos ministros do STF, a tal dúvida razoável que justificou a absolvição, perfeita em termos jurídicos, mas moralmente desastrosa. O resultado dessa parte do julgamento passou ao Brasil a impressão de que sempre é possível escapar da Lei, usando desvios e contratando advogados caríssimos.
     Joaquim Barbosa, pessoalmente, nada perdeu. Ali, naquela tribuna, ele está representando o Brasil decente, que cansou de ser assaltado por todos os tipos de criminosos, em especial por aqueles que usam a 'ideologia' como gazua para chegar ao interior dos cofres.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Duda Mendonça divide STF

     Até agora, tudo vai correndo como razoavelmente previsto. Os ministros Ricardo Lewandowski e Dias Toffoli votaram como sempre: a favor dos quadrilheiros. Rosa Weber também não surpreendeu e livrou os principais acusados, Duda Mendonça e sua sócia, de evasão de divisas e lavagem de dinheiro. Surpresa, mesmo, foi seu voto pela condenação dos integrantes das cúpula petista, por corrupção ativa. Carmem Lúcia mostrou-se tolerante, o que não vinha sendo seu feitio.
     Há uma lógica em especial nos votos de Lewandowski e Dias Toffoli. Ao condenar quem recebe dinheiro roubado, automaticamente estariam condenando os 'ladrões', no caso a turma petista e seus asseclas. No caso específico de Duda Mendonça, sua condenação - como pode acontecer - colocaria uma nódoa na primeira eleição do ex-presidente Lula, pois os custos de sua campanha eleitoral foram quitados com dinheiro espúrio.
     Até agora, depois de seis votos, Duda Mendonça está se saindo muito bem. Quatro (Lewandowski, Toffoli, Carmem Lúcia e Rosa Weber) a dois (Joaquim Barbosa e Luiz Fux) a seu favor. Gilmar Mendes está começando seu voto, que poderá ser determinante. Ficarão faltando os votos de Marco Aurélio Melo, Celso de Melo e Ayres Brito, que têm sido rigorosos.

Dignidade x 'leviandade'

     A intervenção açodada do ministro Ricardo Lewandowski no meio do voto de Joaquim Barbosa chegou a ser cômica. Assim que percebeu a opção do relator por absolver o publicitário de Lula, Duda Mendonça, especificamente do crime de desvio de divisas - atendo-se exclusivamente a um detalhe legalista -, Lewandowski apressou-se a dizer que também absolvia o sujeito que recebeu dinheiro roubado pelo trabalho realizado na campanha eleitoral de 2002, aquela que ajudou a eleger o ex-presidente Lula, pela primeira vez.
     Depois de tantas surras - entre as quais a emblemática condenação do ex-ministro José Dirceu, defendido ardorosamente por ele -, Lewandowski parece que ainda não percebeu que Barbosa é cirurgico, inflexível e que não vai compactuar com a impunidade. Bastaram alguns minutos para o reral propósito do relator emergir: condenou Duda e a sócia por lavagem de dinheiro, 53 vezes!!!
     Lewandowski, que começou - em seguida - a fazer a defesa do esquema de assalto aos bens públicos, terá uma tarefa complicada. Afinal, o próprio Duda Mendonça confessou, em depoimento à CPI do Mensalão, que recebeu dinheiro fora do país, em uma conta aberta apenas para isso. E foram R$ 10 milhões. Dinheiro que, já ficou provado, era fruto de um esquema deletério, canalha, de assalto aos cofres públicos.
     'Entende-se' a preocupação do 'revisor', na verdade, o principal advogado de defesa da quadrilha do Mensalão. Se os gastos da campanha foram pagos com dinheiro roubado, essa campanha e suas consequências, a própria eleição de Lula, estariam definitivamente conspurcada. Por associação, seria a aplicação da teoria do frutos da árvore envenenada: o que surge de um ato criminoso, criminoso é.
     Como o Brasil decente continua a acompanhar, trava-se no STF uma enorme batalha entre a dignidade e a 'leviandade'.

Em defesa da liberdade de informação

     O atropelo do direito à liberdade de informação vem tomando formas cada vez mais agudas na vizinha Argentina, governada por essa lamentável presidente Cristina Kirchner, um arremedo de Evita, uma 'mãe dos pobres' de chanchada. Cristina, Hugo Chávez, Evo Morales, Rafael Correas, irmãos Castro e petistas brasileiros em geral odeiam todos os meios de comunicação que ousam criticar seus atos, expor suas feridas, denunciar seus desmandos, roubalheiras e canalhices.
     Para esses personagens, imprensa (eles chamam de mídia) boa é aquela que diz 'sim senhor' a todos os atos governamentais. Já a imprensa ótima é a do estilo do cubano Granma, órgão oficial do Partido Comunista, usado pela população miserável em substituição ao papel higiênico, que inexiste na ilha da fantasia adorada pela companheirada. A parte mais cobiçada é a dos classificados, por ser menos carregada nas tintas.
     A perseguição do jornal Clarín, desenvolvida pelo governo Kirchner, é tema de destaque na 68ª Assembléia Geral da Sociedade Interamericana de Imprensa, que está sendo realizada em São Paulo. O delegado argentino - segundo nos conta o Estadão - fez um relato contundente da situação em seu país, destacando, inclusive, ataques físicos a jornalistas (foram, segundo deúncias, 161).
     Segundo o delegado argentino, Daniel Dessein "a presidente põe em perigo o direito da cidadania a estar informada", ao ameaçar cerca de 15 mil emissoras e jornais. "O governo não intimida só jornais, mas todo cidadão que se lhe anteponha", disse ele
      Por aqui, a turma do Poder e a que gravita em torno das sinecuras ainda não chegaram a esse ponto, mas não se acanham em ameaçar a liberdade, como vêm fazendo desde que o julgamento do Mensalão do Governo Lula se encaminhou para punir os quadrilheiros que assaltaram os cofres da Nação. Não são vozes isoladas, de alguns estúpidos e/ou comprados (não necessariamente nessa ordem), mas um verdadeiro e afinado coral, regido pelo PT e seus tentáculos, como a CUT.

domingo, 14 de outubro de 2012

Índios querem carrão do ano

     Eu certamente não sou o que se poderia chamar de um 'parceiro' do atual governo. Ao contrário, sou um crítico retumbante da falta de um projeto sério, das medidas adotadas paliativamente, pensando no voto da maioria desinformada. Por isso fico muito à vontade para dizer que estou de saco cheio, há muito tempo, com esses índios de araque (calça jeans, camisas de time de futebol e utilitários esportivos na porta das 'ocas').
     Pela enésima vez um bando de legalmente inimputáveis invadiu o canteiro de obras da Usina de Belo Monte e interrompeu o trabalho, ameaçando operários com seus arcos e flechas, o que deveria ser passível de prisão, imediata, se não fosse a demagogia que cerca o tema. O investimento em usinas hidrelétricas talvez seja a única coisa razoavelmente bem feita dessa lamentável Era Lula, e os índios de chanchada da Atlântida atrapalham.
     Por mais intolerante que eu seja com o Governo, não posso acreditar que obras desse porte tenham sido autorizadas sem que houvesse um estudo detalhado do impacto ambiental. E mais: hidrelétricas, salvo melhor juízo, são as fontes de energia menos agressivas e mais acessíveis ao País, que conta com uma imensa bacia hidrográfica.
     Ou será que os estimuladores dos invasores (é evidente que eles estão sempre a postos) acreditam que é possível crescer - e o país tem que crescer - sem energia? As alternativas mais imediatas - usinas nucleares e a carvão - são potencialmente muito mais arriscadas.
     Na verdade, existe uma grande chantagem por trás dessas invasões. Nossos 'índios' há muito tempo deixaram que apenas querer um apito. Querem tevês de plasma, aviões, carrões e, se possível, passar o dia deitados nas redes. Não, não sou contra minorias, jamais seria. Já contei aqui, no Blog', que minha bisavó materna nasceu em uma senzala e que minha avó paterna era uma imigrante analfabeta.
     Ocorre que não aguento mais essa fantasiosa idealização dos nossos índios como protetores da terra e guardiões da floresta, mais uma enorme e rídícula bobagem que é repetida como verdade eterna. Assim como não suporto ver aquelas danças coreografadas para as televisões.

sábado, 13 de outubro de 2012

Minha frase da semana

     "A condenação por maioria absolutíssima desse esquema espúrio instalado nessa lamentável Era Lula é irretorquível. O Brasil decente venceu essa etapa lamentável da vida republicana, conspurcada pelas mãos enlameadas de uma quadrilha constituída para assaltar o país, em nome de uma causa indefensável, em nome de um projeto de poder".
     Extraída do texto 'O Brasil decente venceu', de 9 de outubro.

Não há limites para a indignidade

     Não há mais dúvidas - se é que houve algum dia - da origem vagabunda do dinheiro que o PT arrecadou e distribuiu entre correligionários e aderentes. Restou provado que a dinheirama que regou o Mensalão do Governo Lula era ilegal e, em grande parte, roubada dos cofres públicos, através de manobras que envolveram a cúpula partidária e membros do grupo liderado pelo publicitário mineiro Marcos Valério.
     Por filigranas jurídicas, no entanto, pelo menos dois dos mais destacados acusados de se beneficiarem desse dinheiro sujo - o ex-deputados Professor Luzinho (SP) e Paulo Rocha (PA) foram absolvidos (Paulo Rocha ainda não está tecnicamente liberado, mas será). Os dois reconhecidamente receberam seu quinhão no roubo, mas foram acusados, apenas, de 'lavagem de dinheiro', crime que, de acordo com os magistrados do Supremo Tribunal Federal, não ficou claramente comprovado. Em síntese, é isso: receberam e usaram dinheiro roubado, mas alegaram que não sabiam a origem. Tão ingênuos ...
     Eu, particularemente, comungo da tese defendida pelo relator Joaquim Barbosa e apoiada pelo ministro Luiz Fux. Os dois acusados, íntimos do poder, sabiam claramente da origem e se aproveitaram do momento. Como não sou juiz e tenho por norte respeitar decisões judiciais - mesmo as que não me agradam -, me obrigo a aceitar o resultado do julgamento. Assim como os juízes vencidos a aceitarão. Não imagino grupos de defensores da dignidade saindo por aí fazendo campanha contra o STF, por ter absolvido esses dois acusados. É assim que a democracia funciona.
     Não é o que vem acontecendo, no entanto, com a companheirada. Claramente condenados pela maioria absoluta da sociedade - basta uma lida nas seções de cartas dos jornais e revistas -, petistas e afins insistem no discurso canalha que culpa o que chamam de 'mídia' e "as elites" pela condenação dos atos indignos cometidos em nome de um projeto de poder. Reagem de maneira repugnante, tentando transferir a culpa pelos seus atos desqualificados, sem atacar - é isso é emblemático! - o principal acusador, Roberto Jefferson e Marcos Valério.
     E ainda não reagiram com maior indignidade, permito-me inferir (baseado no histórico de vandalismo que marca as manifestações desse grupo e de seus satélites), em virtude de a campanha eleitoral ainda estar em plena efervescência. Temem que uma atitude mais agressiva possa prejudicar, em especial, o candidato à prefeitura de São Paulo. Blasfemam, mas não quebram vidraças ou invadem fazendas produtivas.
     E mesmo que o fizessem - ou venham a fazer -, ficou claro que o Brasil decente não compactua com assaltantes de seus riquezas, independentemente de estarem sob as asas de políticos ainda inimputáveis. O Páis mudou, mas eles ainda não entenderam isso.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Chorem pela Argentina

     Pode até parecer implicância - e, na verdade, é. Mas o medíocre governo argentino, comandado por essa inacreditável Cristina Kirchner, além de perseguir jornais, jornalistas e todos os que se atrevem a se opor às suas decisões, acaba de inaugurar mais uma etapa da escalada de absurdos que parece não ter fim.
     Segundo o jornal Clarín, cuja reportagem foi reproduzida por Veja, todas as agências de turismo que trabalham no país serão obrigadas - esse é o termo exato - a repassar ao Governo informações precisas de todos os argentinos que viajam para fora do país, incluindo a previsão de gastos. Com esse determinação - publicada no equivalente ao nosso Diário Oficial -, o governo pretende controlar o gasto com dólares, que vem aterrorizando as finanças pátrias.
     De posse dessas informações, o governo decidirá se autoriza, ou não, a compra de dólares. É assim que funciona a democracia argentina: como ainda não pode simplesmente proibir viagens, como ocorre em Cuba, por exemplo, pretende usar um arifício e, com isso, evitar a evsaão de divisas, através do turismo.
     É mais uma tentativa desesperada de mascarar o fracasso da política econômica. Ninguém quer ficar com o peso, cada vez mais desvalorizado. A compra de dólares tem sido uma das âncoras da população, que teme - com absoluta razão - a falência.
     Em escala menor, a outrora poderosa Argentina (era um exemplo de sucesso no ínício do século passado) repete a situação deplorável de Cuba, que dependia das esmolas soviéticas para sobreviver. Sem a ajuda do companheiro Hugo Chávez, o país há muito tempo estaria no caos total.
     Cristina Kirchner é mais um marco dessa geração sofrível de dirigentes latino-americanos - populistas, simplórios, demagógicos e com evidente tendência ditatorial -, cuja estrela é o presidente reeleito da Venezuela e que tem no ex-presidente Lula outro de seus luminares.

Omissão histórica

     É evidente que todo cidadão de bom senso aprovará quaquer medida destinada a disciplinar e a moralizar o transporte de passageiros. Uma cidade como o Rio não pode ficar refém de grupos que desrespeitam a lei e a ordem. Mas não podemos esquercer, em momento algum, sob pena de cometermos uma injustiça histórica, que o 'sistema alternativo de transporte' (nome enfeitado para essa bagunça generalizada) é o resultado da mais completa e indigna ausência do poder público, ao qual caberia prover o cidadão de meios decentes para se locomover.
     A omissão dos poderes públicos é a gazua que legitimiza transgressões, em todos os níveis. No trânsito; na preservação das encostas; na degradação de rios, lagoas e baías; na segurança. Só há vans porque não há ônibus, metrô e trens decentes. Assim como só há milícia porque existe um vácuo nas comunidades, obrigadas a conviver - e não a escolher - entre milicianos e/ou traficantes.
     O Rio, através dos anos - e principalmente nos últimos anos - viveu a apoteose da demagogia, o ápice do populismo. À falta de liberdade durante o período de exceção dos regime militar, há a contraposição da tolerância, no pior sentido que se pode dar á palavra. Em nome de uma suposta dívida histórica, tudo foi permitido. As causas não eram combatidas, ao contrário. Sempre foi mais facíl (como ainda são é) aceitar comodamente as consequências.
     O resultado está aí, visível no mais absoluto caos urbano e social, mascarado pela extrema beleza natural da cidade, em especial da sua orla e da área de mata atlântica que ainda resiste à devastação.
     As vans ilegais e o 'altinho' que atormenta os banhistas das nossas praias são resultados do mesmo caldo.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Em defesa do STF

     Mais do que confirmar a condenação do ex-ministro José Dirceu por corrupção (indiscutíveis e acachapantes 8 votos a 2), a sessão de hoje do Supremo Tribunal Federal serviu para que, de maneira elegante, porém rigorosa, os magistrados - à exceção esperada de Ricardo Lewandowski e à omissão de Dias Toffoli - reafirmassem a independência e o caráter institucional da Corte.
     Em uma evidente e muito bem elaborada 'tabelinha', os ministros Ayres Brito (presidente e último a votar) e o decano Celso de Mello construíram uma defesa vigorosa dos princípios que nortearam o Tribunal especificamente nesse julgamento, em virtude dos ataques ensejados pelas insinuações, gracejos e irresponsabilidade jurídica do revisor, que agiu como um elemento desagregador, pondo em dúvida - claramente!!! - a isenção dos seus pares.
     Apesar de expostas suas contradições, erros factuais e manipulação de depoimenos, tudo no intuito de absolver os principais acusados, todos do PT, Lewandowski não abriu mão da tarefa a que se propôs desde o primeiro momento: desqualificar não apenas o ministro relator, Joaquim Barbosa, mas o próprio julgamento, lançando dúvidas sobre doutrina, embaralhando depoimentos, dizendo uma coisa aqui, outra ali.
     Em determinado momento, há alguns dias, chegou ao cúmulo de argumentar que seus pares estavam atrasados 50 anos, no que foi contestado imediatamente pelo ministro Ayres Brito. Hoje, saiu-se com uma "suposta propina", sendo corrigido de imediato por Marco Aurélio: "Suposta para Vossa Excelência. A Corte já se manifestou sobre o tema", disse o ministro, mais ou menos com essas palavras. Lamentável.
     Embora tenha feito o possível, o 'afilhado' de Dona Marisa Letícia viu-se acuado pelo brilhantismo intelectual de Celso de Mello e Ayres Brito, pela extrema ironia de Marco Autrélio de Melo e pela enorme capacidade de comunicação de Luiz Fux. Se tivesse um mínimo de sensibilidade, Lewandowski deveria pedir demissão imediatamente, por desmoralizado e definitivamente estigmatizado. Seu voto absolvendo os principis acusados do assalto aos cofres públicos realizado no início da Era Lula vai ficar nos anais como um exemplo deletério de diversionismo.

PT aclama corruptores e afronta a Nação

     José Dirceu e José Genoíno foram aclamados pelos membros do Diretório Nacional do PT, reunido em São Paulo. Não foi 'apenas' uma afronta ao Supremo Tribunal Federal, que acaba de condenar os dois pelo gravíssimo crime de corrupção ativa. Foi uma agressão seriíssima à democracia, à consciência da Nação. O PT não se contentou, apenas, em um discreto apoio a seus antigos dirigentes, o que seria até compreensível. Foi além, num verdadeiro desafio à dignidade pública.
     Quase ao mesmo tempo, em Brasília, logo após a eleição de Joaquim Barbosa para a presidência do STF, o ministro Celso de Melo, decano da instituição, começou seu voto. E foi absolutamente inflexível, duro. Condenou veementemente o "exercício desonesto do governo"; os "governantes que perpetraram, delitos infamantes"; que "constrangeram didadãos honestos do país, em uma ação deletéria".
     O ministro apontou ainda a "avidez pelo poder, a ação predatória, a falta de decência, de honra e a desonestidade" dos reus do processo, essencialmente os representantes do chamadado núcleo político, exatamente os ex-dirigentes petistas.
     Foi o sétimo ministro a condenar José Dirceu; o oitavo a condenar José Genoíno; e o nono a culpar Delúbio Soares por corrupção ativa. Ministros das mais variadas origens e formações acadêmicas convergiram no repúdio ao esquema instituído no primeiro momento da Era Lula. O único a se insurgir integralmente contra a visão do Tribunal foi Ricardo Lewandowski, que funcionou não como um digno revisor, como se espera de um membro da mais alta Corte brasileira, mas como um vergonhoso advogado de defesa.

Dilma se distancia do 'PT de Lula'

     Qual será o PT da presidente Dilma Rousseff? O da turma do ex-presidente Lula, maioria absoluta, que está indignado com a condenação dos companheiros José Dirceu e José Genoíno (a companheirada não dá a menor importância para Delúbio Soares, que desde sempre assumiu a tarefa de levar toda a culpa, para inocentar os criminosos mais destacados)? Ou será o seu - dela, Dilma - PT, aquele que está pensando na reeleição e que já rifara Genoíno, antes mesmo de ele pedir afastamento do cargo que ocupava no Ministério das Defesa?
     Para quem não vive os intestinos do PT, é sempre complicado entender o que se passa por lá. Parece claro, no entanto, que a presidente quer se distanciar ao máximo da pilantragem que está sendo condenada pelo Supremo Tribunal Federal e pela consciência nacional. Não deve ser uma tarefa fácil, em virtude da dependência e submissão aos desígnios e vontades de Lula, que manda e desmanda, impondo sua vontade praticamente sem reação.
     Lula e o seu PT estão com Dirceu e Genoíno. Seria complicado ficar contra eles, ou mesmo manter uma distância de segurança. Dirceu, em especial, foi o mentor do projeto de poder que tem o ex-presidente como referência. Era - de certa maneira continua sendo - o estofo ideológico que Lula jamais teve, seu balizador e - provou-se agora - o condutor aparente dos acordos espúrios que miravam a eternização do poder petista.
     Ao condenar José Dirceu por corrupção ativa, o STF condenou também o ex-presidente e a maneira abjeta de fazer política levada ao extremo pelo PT. Lula sabe disso, o que explica seu destempero. Dilma também sabe, o que - para mim - explica o distanciamento que vem tentando colocar entre seu governo e os agora condenados. Se alguma dúvida persistia quanto à determinação da presidente de postular a reeleição, ela se desfez completamente.
     Ao se desvincular dos quadrilheiros que assaltaram os cofres públicos - seus companheiros de partido e de Governo, não podemos esquecer - , Dilma Rousseff deixa claro que quer preservar a imagem da dirigente que não compactua com os malfeitos daquele 'outro PT', o PT de Lula.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

O Brasil decente venceu

     A já incontestável e irreversível condenação dos coordenadores políticos do Mensalão do Governo Lula - configurada com o duríssimo voto do ministro Marco Aurélio Melo - vai exigir uma enorme reflexão, em especial, do próprio Partido dos Trabalhadores, o principal atingido por essa vaga de indignidades.
     Não consigo imaginar que seus adeptos mais esclarecidos - eles existem, certamente - continuem a insistir na tese já desacreditada formalmente de que não houve delito, que tudo não passou de uma tentativa de golpe perpetrado pelas 'elites', como afirmou o inimputável ex-presidente Lula a O Globo, ontem.
     De Lula, espera-se qualquer coisa. Jamais teve qualquer compromisso com a ética, com a decência. Mentiu e continuou mentindo compulsivamente, apresentando várias versões para o mesmo fato, de acordo com o momento. Passou da condenação (" Fui traído", chegou a dizer, transferindo a culpa) à mais absoluta negação, quando já se sentiu menos ameaçado. E assim continua agindo, apostando - sempre - na falta de informação das camadas menos esclarecidas da população. Portanto, dele e dos seus comparsas mais diretos pode-se esperar tudo.
     A virulenta campanha contra os ministros do Supremo Tribunal Federal, claramente destinada a criar um mal-estar que favoreceria os petistas acusados, tende a perder força. Até mesmo Dias Toffoli, ex-empregado do Partido, enxergou corrupção e condenou dois próceres petistas, embora tenha absolvido seu ex-chefe direto, José Dirceu.
     O resultado que surge no horizonte - Dirceu deve ser condenado por oito votos a dois; Genoíno por 9 a 2; e Delúbio por 10 a zero; todos por corrupção ativa - derruba qualquer argumento que porventura venha a ser imaginado pela legião de aproveitadores que sugam os cofres públicos, incluídos nesse mesmo saco a UNE e o MST.
     Ministros acima de qualquer objeção política ou ideológica - como Carmem Lúcia, Rosa Webber - foram duríssimos. Ayres Brito tem sido inflexível. Sem falar no próprio relator, Joaquim Barbosa, um símbolo da luta pela dignidade. Marco Aurélio chegou a detalhes.
     A condenação por maioria absolutíssima desse esquema espúrio instalado nessa lamentável Era Lula é irretorquível. O Brasil decente venceu essa etapa lamentável da vida republicana, conspurcada pelas mãos enlameadas de uma quadrilha constituída para assaltar o país, em nome de uma causa indefensável, em nome de um projeto de poder.

O sacrifício pela causa

     O ministro José Antônio Dias Toffoli bateu na trave. Condenou o ex-presidente do PT, José Genoíno, e o ex-tesoureiro, Delúbio Soares, seus antigos companheiros de partido, por corrupção ativa. Mas seguiu a toada da defesa - defesa, sim, pois foi o que ele fez no seu voto - realizada pelo ministro revisor, Ricardo Lewandowski, e absolveu seu ex-chefe, José Dirceu.
     Preciso admitir, no entanto, que Toffoli foi além do que se poderia fazer supor. Imaginava-se que absolvesse a companheirada toda, especialmente Genoíno, já que Delúbio há muito tempo aceitou a tarefa de admitir a culpa por tudo. Com seu voto, o ministro deu ares de dignidade à absolvição de Dirceu, que - para ele - não cometeu o crime de corrupção ativa. Para chegar a esse argumento, chegou a admitir que seu ex-chefe poderia ter sido acusado de outros crimes, mas não o específico.
     Com a continuação do voto, deixou claro que usou a condenação de Delúbio e Genoíno para evidenciar que estava sendo 'justo' com Dirceu.  

Os cavalos de Marechal Hermes

     A volta a Marechal Hermes, domingo, proporcionada pela eleição (é lá que ainda mantenho meu domicílio eleitoral) trouxe com ela muitas lembranças, como costuma acontecer. Não precisava, mas me obriguei a passar pela Rua Capitão Rubens, onde cresci, e que já não guarda qualquer vestígio do que era nos anos 1950.
     Em virtude das mudanças provocadas pelas obras do antigo Rio-Cidade, todo o trânsito oriundo da Avenida Marechal Oswaldo Cordeiro de Farias, a principal do bairro, vindo da estação ferroviária, passa obrigatoriamente por dois de seus quarteirões, acompanhando a lateral do Hospital Carlos Chagas. É um trânsito intenso, que modificou inteiramente o perfil do lugar.
     Quem passa por ali, hoje, não imagina que há 50 anos aquele trecho de rua ainda era de terra batida, onde a molecada jogava intermináveis peladas, e repleto de ficus (não sobrou um, sequer), que espalhavam sombra e refrescavam os longos dias do subúrbio. Junto às calçadas precárias de então, crescia o capim que alimentava os burros usados para puxar a carroça usada para recolher o lixo das casas.
     Essa imagem, de burros pastando, me remeteu a um momento da adolescência, quando eu cursava o então chamado ginásio, no Colégio Pedro II da Tijuca. Entre meus vários amigos, um se destacava: Armando, o melhor aluno da classe, um jovem tranquilo, que morava por ali mesmo, perto da Praça Saenz Peña.
     Em um dos dias das férias de meio de ano, combinamos que ele iria passar o dia lá na minha casa, almoçar, jogar uma pelada com meus colegas de rua. Preocupado, fiz um mapa completo, com o roteiro que teria que cumprir, quando descesse no ponto final da antiga linha de ônibus 75. Afinal, Armando jamais ousara se aventurar por aquelas bandas da cidade.
     Chegou bem, cedo. Quis saber se ele teve algum problema, se o mapa funcionara a contento. Com a ironia que normalmente caracteriza pessoas inteligentes, ele não deixou passar a oportunidade de me provocar:
      - Foi tudo bem. Mas você não precisava detalhar tanto. Era só dizer para eu entrar na rua onde alguns cavalos estavam pastando, soltos, na calçada.

Está chegando a hora

     O ex-ministro da casa Civil de Lula, José Dirceu, deve ser condenado hoje à tarde, quando o Supremo Tribunal Federal retoma o julgamento do assalto aos cofres públicos que ficou conhecido como Mensalão. Há uma expectativa de goleada, como ressaltei aqui mesmo no Blog, há quase uma semana: 8 a 2 (já está 3 a 1). Será - se confirmado, como espero - um resultado avassalador, capaz de renovar a confiança da sociedade nas instituições brasileiras, a Justiça em especial. Uma confiança que é fundamental ao exercício da democracia.
     O principal futuro condenado, entretanto, continua sinalizando com o desrespeito à Nação. Segundo destaca a Folha, José Dirceu tem repetido que "pretende liderar um movimento político, com desdobramentos internacionais, contra sua provável prisão". Avaliando essa 'ameaça', tomo a liberdade de imaginar um cenário em que o 'chefe da quadrilha de mensaleiros' (segundo tese da Procuradoria-Geral da República que já foi parcialmente aceita pelo STF) monta um exército liderado por Lula, Hugo Chávez, os irmãos Castro e o ditadorzinho da Coreia do Norte para defender a 'integridade dos princípios revolucionários'.
     Na segunda frente de batalha, personagens tão nefastos quanto o já citados, mas de menor importância, como a argentina Cristina Kirchner, o cocaleiro Evo Morales e - quem sabe? - o iraniano Mahmoud Ahamadinejad.
     Não incluí a preclara presidente Dilma Rousseff - sua, dele, companheira de lutas e de Governo - nessa lista porque ela já disse que quer ficar longe de mais essa vigarice - não com essas palavras, é claro. Tanto que, de acordo com vários jornais e revistas, orientou a companheirada a não se manifestar, para passar a impressão de que não há vínculos entre ela e os certamente condenados.
     Não há solidariedade em época eleitoral.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Lula e suas lulices

     A entrevista com o ex-presidente Lula, publicada em O Globo de hoje, é mais um exemplo pronto e acabado da sua - dele, Lula - mediocridade abissal. Seus conceitos continuam os mesmos, simplórios, pequenos. Para ele, adversários políticos são "inimigos" que devem ser destruídos. E o Mensalão - pasmem!!! - continua sendo apresentado como uma tentativa das "elites" para desestabilizar seu governo.
     Lula é incorrigível. Não se acanha em dizer as mais vulgares idiotices como se estivesse tratando com uma plateia de parvos. Esse personagem lamentável da nossa história política recente age como um ser inimputável, sem dar a menor importância à consciência da Nação, sem respeitar seus Poderes. Une-se de maneira abjeta ao deputado federal Paulo Salim Maluf, procurado pela Interpol; ao presidente do Senado, José Sarney; ao senador Fernando Collor e a tantos outros e ousa falar em elites. Só mesmo alguém sem princípios seria capaz de agredir a dignidade alheia com tamanha desenvoltura.
     A cada entrevista, a cada aparição ignominiosa, a cada mentira, Lula reduz ainda mais seu papel, que tinha tudo para ser respeitável, caso não fosse o resultado de uma grande empulhação. Seus impropérios de nada vão adiantar. A retomada do julgamento da quadrilha do Mensalão de seu governo, amanhã, servirá para desmascará-lo e às suas versões fantasiosas um pouco mais.

Eleitor rejeita babá e filhotes

     Sempre é possível extrair alguma coisa boa em qualquer disputa eleitoral, especialmente quando olhamos - por exemplo - para os resultados dos candidatos à Câmara Municipal do Rio de Janeiro. Afinal, votar faz bem e não tem contraindicações. E, como diria aquela propaganda de cartão de credito, saber que um tal de Babá (aquele que prega a destruição do Estado de Israel) e os 'filhos' de Wagner Montes e Cidinha Campos - entre outros mais e menos votados - não foram eleitos não tem preço. Isso, para ficar apenas nos limites da nossa heroica e muito leal cidade.
     No Brasil, há, pelo menos, 450 mil outros possíveis exemplos de desastres abortados, embora milhares de outros acidentes de percurso tenham sido consagrados pela mais absoluta falta de consciência, educação e sensibilidade dos nosso eleitorado. É verdade que sempre haverá um nicho para ser ocupado por mães louras, morenas, ruivas, mulatas etc. Não podemos esquecer que São Paulo deu ao palhaço Tiririca a maior votação para deputado federal. E não foi por um eventual protesto, como se tentou enfiar pela nossa goela abaixo. Mas já damos alguns sinais de evolução.

domingo, 7 de outubro de 2012

A vitória do bom gestor

     Passada a eleição e com o os números já sacramentados, aqui no Rio, não estaria sendo justo comigo mesmo se não admitisse que o resultado - a reeleição de Eduardo Paes - é um bom sinal para a cidade. Nesses quatro anos, nosso serelepe prefeito confirmou a vocação para administrador e - isso é inegável! - realizou um bom trabalho. Eu sei - e repito sempre - que nada fez além da sua obrigação, mas também sei que a maioria sequer passa perto do índice de produtividade demonstrado por Paes.
     O Rio continua carente - e muito - de um verdadeiro choque de cidadania. Não podemos aceitar a ocupação das ruas por legiões de infelizes, vítimas do crack, drama que deve ser dividido com o governo estadual. O caos diário do trânsito tem que ser atacado com mais tenacidade. O atendimento nos hospitais é sofrível. Mas a cidade mudou, para melhor, especialmente na Zona Oeste. E vai mudar ainda mais, mesmo que compulsoriamente, em função da Copa do Mundo e da Olimpíada.
     Há muito o que fazer. E um bom gestor não é algo que se jogue fora. E a ideologia? Pois é ...

Eu voto em Marechal

     Há muitos anos, dia de eleição também rima, para mim, com emoção, reencontro. Nesse caso, não 'apenas' com um direito inalienável e do qual eu nunca abri mão (jamais votei em branco ou anulei meu voto), mas com uma volta no tempo. Embora já não more em Marechal Hermes há 35 anos, é lá que mantenho meu domicílio eleitoral, atrelado à casa modestíssima (que hoje é de meu irmão) onde passei infância, adolescência e juventude. Foi em Marechal que casei e vi minha primeira filha nascer. "Flávia é de Marechal", costuma provocar Fabiana, a mais nova, reforçando o histórico 'suburbano 'da irmã, como se não tivesse nascido em Jacarepaguá.
     Votar, portanto, também é uma grande e quase sempre gratificante volta às minhas origens de carioca nascido em algum lugar incerto nos limites da Saúde e da Gamboa, mas criado no distante subúrbio da Central do Brasil (fica entre Bento Ribeiro e Deodoro, bem perto da Vila Militar), quando ainda era mais risonho, franco e inocente do que nos dias de hoje.
     Minha seção eleitoral ficava justamente na Escola Municipal Evangelina Duarte Batista, onde cursei o que, na época, chamavam de Primário. Por muito tempo, a urna ficava exatamente na minha última sala de aula, que pouco mudara desde os tempos em que era tomada pela presença de Gladys, uma das minhas professoras inesquecíveis.
     Por algum desses desígnios insondáveis, passei a votar na Escola Municipal Santos Dumont, que fica ao lado, e com a qual nós, alunos da Evangelina, mantínhamos uma saudável e pueril disputa. As duas escolas - prédios imponentes e bonitos - dominam uma grande praça - Praça XV de Novembro - onde despontava um coreto do começo do começo do século passado, destruído pelo modernismo desencontrado das obras do 'bairro-cidade' (lembram?). Parece - assim eu li em algum momento - que 'nosso' coreto será reconstruído, no mesmo lugar, com base nas fotos antigas.
     Em Marechal Hermes - especialmente no lado esquerdo de quem chega, de trem, o da Rua João Vicente, que acompanha a linha férrea -, quase tudo recende a civismo, Pátria, desde o nome do bairro (homenagem ao nosso primeiro presidente militar eleito pelo voto direto, Hermes da Fonseca, sobrinho do também marechal Deodoro da Fonseca, o primeiro presidente do Brasil República), às denominações das praças (a que fica em frente à estação de trens homenageia a campanha da Itália: Praça Montese), avenidas (Avenida Marechal Oswaldo Cordeiro de Farias, a principal, por exemplo) e ruas, como a General Savaget e Capitão Rubens, onde morei.
     Dessa vez, além do espírito cívico, vou 'armado' com minha máquina fotográfica, decidido a, pelo menos, tentar reproduzir a velha estação ferroviária, a mais bela de todas, inaugurada em 1913, pelo então presidente que batiza o bairro, e tombada pelo Patrimônio Histórico. Aliás, Marechal Hermes é um exemplo de projeto residencial: foi um dos primeiros bairros projetados da cidade, com ruas largas e arborizadas e casario baixo (destinado à nova classe operária que surgia no país) e que resistem, até hoje, ao avanço da modernidade.