Por conhecer
um pouco da nossa história recente, marcada pelos mais devastadores desvios de
conduta, não ficaria totalmente decepcionado se descobrisse que o ex-governador
e atual senador mineiro Antônio Anastasia, do PSDB, recebera, de fato, a tal
mala com R$ 1 milhão para sua campanha à reeleição em 2010, como teria acusado
um dos quadrilheiros envolvidos na Operação lava-Jato, o ex-policial federal
conhecido como ‘Careca’, uma das ‘mulas’ do doleiro petista Alberto Youssef.
A dignidade,
pelo que depreendemos do desenrolar dos fatos nos últimos doze anos, não é,
definitivamente, uma das características mais marcantes da política brasileira.
A sucessão de escândalos em todos os níveis, em especial no primeiríssimo
escalão dessa nossa sofrida Nação, chegou a níveis jamais vistos, comparáveis
ao de países sob governos historicamente corruptos, como a Rússia e republiquetas
africanas. Portanto, a presença de pessoas teoricamente honradas, como o
senador mineiro, na relação de bandidos comuns não me surpreenderia.
Nossos
jornais, hoje, entretanto, começam a colocar a acusação em termos, com a
divulgação de declarações de advogados e do principal operador do roubo
petista, o doleiro Youssef, inocentando o ex-governador, que se confessou devastado,
reforçando a determinação de ir até o fundo das investigações, o que incluiria
uma acareação com seu acusador.
Esse último conjunto
de acontecimentos dá um certo estofo à tese levantada pelos líderes
oposicionistas: seriam acusações falsas, destinadas a minar o andamento das
investigações e refrear o ímpeto de alguns políticos mais destacados, entre
eles o senador Aécio Neves (PSDB-MG). Uma espécie de chantagem semelhante à que
o ex-presidente Lula submeteu o ministro Gilmar Mendes, do STF, quando do
julgamento do Mensalão, até então o maior assalto institucional aos cofres
públicos.
Uma espécie
de aviso: “Ou vocês param, ou nós vamos jogar lama em muita gente”, é o que
sugere o episódio, que parece ter sido mais um tiro no pé desferido pela
quadrilha instalada no país. Ao invés de retrocederem, temerosas, as lideranças
oposicionistas vêm exibindo mais disposição de aprofundar as investigações sobre
o assalto à Petrobras, destinado – segundo depoimentos oficiais e aceitos pela
Justiça – a financiar campanhas e candidatos petistas e assemelhados, entre
eles a própria presidente Dilma Rousseff.
Pelo
retrospecto recente, essa interpretação – a de que o PT e seus asseclas
estariam tentando chantagear adversários – é a que, a meu ver, tem mais sustentação.
Nos últimos anos, tudo de mais desprezível nesse país teve as digitais
petistas, começando pelas circunstâncias do assassinato do ex-prefeito de Santo
André (SP), Celso Daniel, em 2002, após ele ter decidido denunciar o esquema de
achaque de empresas de ônibus no interior paulista, destinado a arrecadar
fundos para o PT, segundo irmãos do prefeito morto.
Seguiram-se,
não necessariamente nessa ordem de importância, o Mensalão do Governo Lula; a
produção e compra de dossiês falsos contra opositores; o escândalo envolvendo a
empresa Portugal Telecon, que continua rendendo ‘frutos’, em Portugal; a
distribuição de dinheiro pelo país, abortada com a prisão de um assessor
petista com a cueca recheada de dólares; o balcão de vigarices instalado na
Casa Civil, à época da ‘ministra’ Erenice Guerra, que continua sendo convidada
para as festas palacianas; o lastimável envolvimento do ex-presidente Lula com
a chefe do gabinete da Presidência da República em São Paulo, Rosemary Nóvoa, financiado
com dinheiro público; as falcatruas da mesma Rosemary, que usava o nome do ‘chefe’
para abrir portas e cofres; a série de demissões de ministros e funcionários de
primeiro escalão no início do primeiro governo Dilma; e, afinal (nunca diga
finalmente, em casos envolvendo o PT), a abissal roubalheira na Petrobras.
Para que
vocês não tenham dúvida quanto à dimensão estratosférica da devassidão, só me
dei conta, agora, que deixei passar mais um escândalo de proporções
gigantescas, relegado ao fundo do baú de indecências petistas e assemelhadas: o
assalto produzido por agentes públicos e pela Delta, a empreiteira queridinha
do PAC, que também irrigou campanhas e bolsos com caminhões de dinheiro roubado
de obras públicas.
E ainda há
quem defenda essa corja.