quinta-feira, 31 de maio de 2012

CPI blindou Cabral, o amigo do Poder

     A convocação dos governadores Marconi Perillo (PSDB de Goiás) e Agnelo Queiroz (PT do Distrito Federal) para depor na CPI que investiga as relações ignóbeis do contraventor Carlinhos Cachoeira com políticos em geral, empresários e governantes deve ser comemorada, sim. Quanto mais relevante a o politico, maior deve ser a cobrança, a exigência de um comportamento digno, para que não haja o aviltamento da função pública.
     Os dois convocados - Perillo por unanimidade ... - têm muito a explicar à sociedade. Suas relações promíscuas com crimes e criminosos merecem ser investigadas e expostas sem subterfúgios. O país - antes tarde do que nunca - começa a dar sinais de indignação com as pilantragens oficiais, os atos lesivos aos cofres e caráter públicos. Afinal, a corrupção começa a nos incomodar, a alterar nosso humor, nossa relação com a vida.
     Inadmissível, portanto, que essa mesma CPI tenha livrado o governador Sérgio Cabral (PMDB) de enfrentar não apenas os membros da comissão, mas a consciência do eleitor fluminense, em especial. As imagens e falas da farra na Europa, envolvendo o governador, o presidente da Delta Construtora, Fernando Cavendish, secretários de estado, outros empresários e - paira no ar! - pelo menos um jornalista que frequentava o topo da profissão no Rio são extremamente acusatórias e remetem a um comportamento inaceitável.
     Essa promiscuidade e as revelações sobre o comportamento criminoso da Delta atingiram em cheio o ocupante principal do Palácio Guanabara, um belo monumento à arquitetura do século 19. Cabral deveria, não tenho a menor dúvida, ser obrigado a prestar contas de seus atos, de sua estreita ligação pessoal e funcional com uma empresa notoriamente envolvida em corrupção, em sobrepreços.
     Mas Cabral tem o apoio incondicional do PT e da quase totalidade do PMDB, especialmente por sua subordinação ao ex-presidente Lula, a quem - também não tenhamos dúvida - pretendia suceder, na Presidência da República, em algum momento de um futuro não muito distante. Escapou com facilidade da convocação, confirmando a essência do diálogo com o ex-líder do PT na Câmara, o paulista Cândido Vacarezza.
     Cabral teve a certeza que, mais do que nunca, entrou no rol dos amigos de fé da companheirada. Eles se merecem.

Um discurso lamentável

     Com a mediocridade verbal que o caracteriza, o ex-presidente Lula adicionou mais um discurso vazio à coleção de bobagens que diz impunemente há tantos e tantos anos. Imprensado - literalmente - pelas notícias de sua tentativa de chantagear ministros do Supremo Tribunal Federal (Gilmar Mendes em especial) para adiar o julgamendo do Mensalão de seu governo, apelou para recursos dignos dos pastores eletrônicos nos quais ele claramente se inspira.
     Ao falar no 5º Fórum Ministerial de Desenvolvimento, para dirigentes de dezenas de nações de países africanos e latinos americanos, citou 'de passagem' os incidentes recentes, apelando para um sentimentalismo que deve ficar fora de qualquer discussão séria. Não teve o menor constrangimento em citar sua doença (câncer na laringe), para arrancar aplausos e lágrimas.
    
     Segundo O Globo, o ex-presidente abriu sua participação no encontro com a frase que transcrevo em seguida: "Eu vou falar de pé porque senão podem dizer que estou doente, então é para evitar esses pequenos dissabores. Vocês sabem que tem muita gente que gosta de mim, mas tem outras que não gostam e eu tenho que tomar cuidado com essas. Elas são minoria, mas estão aí no pedaço".  
     Vejam bem: ninguém está discutindo sua doença - lamentável, sob todas as formas. A questão é seu envolvimento indigno em manobras que atingem a Justiça, como instituição. As ameaças disfarçadas ao ministro Gilmar Mendes, as citações desairosas e racistas sobre Joaquim Barbosa, a indicação de que pretende usar 'amigos comuns' para pressionar outros ministros.
     Sua doença, ao contrário do que ele tenta passar, vem sendo lamentada por quase toda a sociedade (infelizmento, há, sempre, alguns desajustados), desde que anunciada. E jamais esteve em questão. Discute-se, sim, sua manobra para manipular a CPI e esvaziar o noticiário do Mensalão; a pressão exercida sobre julgadores, seu comportamente incompatível com a democracia.
     Lula - e repito issso à exaustão -, por devastadora limitação intectual e formação deficiente, jamais teve a noção exata do seu papel, do papel de um presidente de um país como o Brasil. Continua agindo como se ainda estivesse na diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos, avançando sobre jovens viúvas de ex-companheiros, como ele mesmo contou em uma entrevista histórica à finada revista Realidade.

Um show de mediocridades

     Só há um interessado nas lamentáveis cenas ocorridas no plenário da CPI que investiga as atividades criminosas do contraventor Carlinhos Cachoeira e suas ligações escusas com parlamentares e governantes: o grupo de acusados. O destempero verbal de um insignificante deputado federal do PTB de Pernambuco, 'reagindo' à decisão do ainda senador Demóstenes Torres de ficar calado, como lhe porporciona a Constituição, destinava-se, claramente, às câmeras.
     Conseguiu, parcialmente, seu objetivo. De completo desconhecido, conquistou seus minutos de fama, de olho na repercussão em sua próxima campanha eleitoral. Estúpido e ignorante, não ofendeu apenas outro membro da Comissão, o senador Pedro Taques, do PDT de Mato Grosso, com palavrões, quando advertido sobre a necessidade de manter um comportamento digno. Esse personagem que se apresenta nefasto ofendeu o decoro já tão afetado do Congresso.
     A estupidez não é novidade no comportamento desse deputado (prefiro não citar seu nome). O jornal Folha de Pernambuco, em dezembro passado, noticiou o envolvimento de 'sua excelência' em mais um tumulto: invadiu os estúdios da Rádio Jornal, transtornado, exigindo espaço para defender seu filho, deputado estadual e ex-secretário de Turismo de Pernambuco, que renunciara ao cargo após ser alvejado por denúncias de irregularidades e superfaturamento.
     Em 12 minutos de exibição de truculência, atacou oposição, aliados e pediu a prisão de um prefeito pernambucano, além de garantir que seu filho querido seria candidato à Prefeitura de Recife, este ano.
     Não é de se estranhar, portanto, que tenha tido o comportamente histriônico destinado às manchetes. Ao desmoralizar a CPI, está, apenas, ajudando a libertar criminosos, assaltantes dos cofres públicos. Algo bem de acordo com o perfil de seus comapanheiros de legenda.

Prefeitura ignora a Lei

     Depois de um longo período - pelo menos três anos -, recebi, pelo Correio, um aviso de infração de trânsito. Segundo a Prefeitura do Rio de Janeiro, que administra as lombadas eletrônicas, passei por uma delas a 'considerados' 42 quilômetros por hora, dois a mais do que o limite máximo. Falta leve, quatro pontos na carteira e multa de pouco mais de R$ 60, se paga até a data do primeiro vencimento.
     Lembrei, de imediato, de um detalhe pouco divulgado do Código Brasileiro de Trânsito: o Artigo 267, que prevê a transformação da multa pecuniária em advertência, desde que o infrator não tenha sido reincidente na mesma infração nos últimos doze meses. Perfeito. Estava enquadrado totalmente.
     Para recorrer, segundo orientação de sites de direito especializado em trânsito, bastaria ir ao órgão responsável pela autuação e preencher um formulário. A conversão seria feita automaticamente. Os pontos perdidos prevaleceriam, mas o dinheiro ficaria, para ser usado em algo menos insensato do que pagar por uma ligeiríssima e ocasional distração que não gerou qualquer prejuízo.
     No guichê de recursos da Prefeitura, localziado na Região Administrativa da Barra da Tijuca, uma surpresa: a Prefeitura não cumpre esse dispositivo legal. Gentil, é verdade, a atendente disse que só o Detran atende a esse dispositivo da Lei, que seria de aplicação opcional. É isso mesmo: o cumprimento da Lei seria 'opcional', e os cofres municipais não abrem mão dessa receita: É perda de tempo recorrer", explicou a atendente. "É melhor pagar logo".
     Para mim, estudioso informal do direito, leigo, a situação me pareceu completamente esdrúxula, além de contrariar o preceito básico, que é o da educação, e não o da simples e cômoda investida nos bolsos dos contribuintes. É uma lei, mas o Município pode adotá-la, ou não. Só mesmo a sanha arrecadatória dessa máfia de pardais e quetais explica esse comportamento absurdo e indigno.
     PS: Para ilustrar, transcrevo, abaixo, o texto do Artigo 267, atropelado pela prefeitura carioca:
     "Art. 267. Poderá ser imposta a penalidade de aqdvertência por escrito à infração de natureza leve ou média, passível de ser punuida com multa, não sendo reincidente o infrator, na emsma infração, nos últimos doze meses, quando a autoridade, considerando o prontuário do infrator, entender esta providência como mais educativa".
     A prefeitura desconsidera o prontuário e a recomendação legal, assim com o faz em relação às normas que deveriam prevalecer para o uso de bicicletas elétricas.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Falta de argumentos

     Doenças e um histórico de pobreza - como o de milhões de brasileiros - não devem e não podem ser acenados como atenuantes ou desculpas para atos indignos. Lamento, como já tive a oportunidade de escrever em outras ocasiões, que o ex-presidente Lula tenha sido atingido por um mal tão grave. Escrevi, e repito, que torcia para que ele se recuperasse totalmente, para enfrentar a responsabilidade pelos seus desatinos. Isso, antes mesmo de estourar o mais recente escândalo envolvendo seu comportamento, o da chantagem sobre ministros do STF, especialmente Gilmar Mendes, para adiar o julgamento do Mensalão.
     Não me afasto um milímetro dessa postura. A tentativa vigarista de usar as condições de saúde do ex-presidente como arma contra seus críticos é algo indigente, pilantra, vagabundo, uma demonstração da mediocridade (ou da ausência) de argumentos sólidos que justifiquem comportamentos tão dissonantes quanto os que marcaram os últimos anos dessa nefasta Era Lula.
     Do Mensalão à chantagem pura e simples, passando pela produção de dossiês falsos e e pela institucionalização do assalto aos cofres públicos, a Era inaugurada por Lula vem acumulando ignomínias, ao lado de inegáveis avanços sociais, moldados - é muito bom não esquecer - por governos anteriores.

O fator Delta (4)

     Nada melhor do que tal 'mídia', que a turma do Poder tenta controlar, para sacudir uma CPI criada para atingir um grupo específico (o ainda governador goiano Marconi Perillo, do PSDB, e o quase cassado senador Demóstenes Torres, do DEM) e que, de um momento para outro, transformou-se em uma ameaça real ao Governo, seus apaniguados e não-apaniguados.
     Imprensados pela torrente de informações despejada das gravações de conversas do contraventor Carlinhos Cachoeira, os senadores e deputados da Comissão foram forçados ontem a aprovar a quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico nacionais da Delta Construtora, a grande beneficiária do PAC, esse conjunto de letras que encerra uma enorme jogada de marketing e que mal saiu do papel, apesar dos anúncios fantasiosos, da enorme propaganda e das pilantragens com o dinheiro público, pelo que se depreende das análises realizadas pela Controladoria Geral da União.
     Já foi um enorme passo, para uma Comissão tão tímida na corrida para passar parte do país a limpo. A Delta, ficamos todos sabendo, parece estar para o PAC assim como o Banco Rural estava para o Mensalão. Por ela passariam verbas desviadas, comissões vagabundas, corrupção desenfreada e patrocínio de campanhas políticas, além de passeios pela Europa, apenas a parte mais visível desse que aparenta ser um enorme iceberg.
     A registrar, o único voto contrário à quebra dos sigilos: o do deputado paulista Cândido Vacarezzaa, do PT, é claro, aquele mesmo que foi flagrado trocando mensagens indecorosas com o governador do Rio de Janriro, Sérgio Cabral, do PMDB. É claro que ele sabia que não conseguiria evitar a catástrofe, mas não 'recuou os halfes". Continuou cumprindo a tarefa que lhe foi confiada.
     Lamentavelmente a convocação dos governadores envolvidos nas investigações, de um modo ou de outro - Marconi Perillo, Sérgio Cabral e o petista Agnelo Queiroz, do Distrito Federal - não chegou a ser considerada. Perillo, por iniciativa própria, esteve no Congresso e se ofereceu formalente para depor. É, no mímino, um bom jogo de cena. Os outros, mal são vistos. Estão em recesso público há algum tempo.

terça-feira, 29 de maio de 2012

Uma ameaça vazia

     O presidente do PT, Rui Falcão, tenta atropelar novamente a dignidade nacional. Segundo nos conta O Globo, o indigitado cidadão convocou a militância para defender a honra do partido e do seu líder maior, acusado de tentar chantagear ministro do STF para adiar o julgamento do Mensalão: "Vamos desbaratar mais esta manobra daqueles que querem desmoralizar o PT, o presidente Lula, com nítidos objetivos eleitoreiros", exortou, em vídeo, como se fosse possível chegar a um nível mais alto de devassidão.
     Esse personagem é recorrente em situações semelhantes. É mais um dos obreiros, aqueles personagens que se prestam a qualquer papel, por mais indecoroso que seja. Esquece que o país é outro, menos suscetível à chantagens, não só a tentada por Lula, mas a que o PT acena ao ameaçar colocar sua milícia nas ruas.
     No episódio do Mensalão, além da mediocridade e inexpressividade da Oposição, havia no ar o temor de um confrontamento, face à inegável popularidade do então presidente. Optou-se pela saída menos drástica, que preservou o mandato de Lula, mas sacrificou seu braço direito, José Dirceu.
     Não há mais espaço para essas manobras. As ameaças embutidas em determinadas convocações não transmitem qualquer temor. Apenas asco.

Um senador ainda menor

     O ainda senador goiano Demóstenes Torres - ele é do DEM, sim, apesar de ter 'renunciado à legenda' - saiu ainda menor, se é que é possível, do depoimento que prestou ao Conselho de Ética do Senado, sobre suas escandalosas relações com o contraventor Carlinhos Cachoeira. Foram duas horas de lamentações, demonstrações tardias de arrependimento e apelos sentimentaloides ao que ele chamou de sua vida política.
     Agarrou-se a outro salva-vidas furado: o fato de as gravações absolutamente comprometedoras de suas conversas com o contraventor terem sido obtidas - segundo ele - de maneira ilegal, pois necessitariam de autorização do Supremo, pelo fato de ele ser um senador da República. Já destaquei isso antes, mas não custa repetir: a gravação de suas vigarices (dele, Demóstenes) foi uma consequência de investigações legais, e não a motivação.
     Além do mais, o argumento remete a uma confissão de crimes, mais graves ainda por terem sido cometidos por alguém investido da responsabilidade de representar uma parcela significativa da população. A teoria dos 'frutos da árvore envenenada', já abordada aqui, não se sustenta. É mais uma chicana, um apelo ao juridiquês que não pode comover os integrantes do Conselho, que devem optar pela abertura do processo de cassação.
     A única chance do ainda senador é o eventual comprometimento de seus pares com esquemas ilegais, o espírito de corpo, o toma-lá-dá-cá. O "eu absolvo hoje, para ser absolvido amanhã", facilitado pelo indigno sistema de voto secreto. Nossos representantes deveriam ser obrigados a assumir claramente seus votos e pensamentos. A proteção conferida pelo anonimato é um escárnio.

Sem defesa

     Nelson Jobim, ex-ministro da Defesa, recuou o 'grupo' de choque verbal (não chegou perto sequer de um mero 'pelotão') que usou para tentar livrar o ex-presidente Lula da acusação de ter chantageado diretamente o ministro Gilmar mendes, do STF, na sua mais recente tentativa interferir no julgamento do Mensalão, o maior escândalo institucional da história da nossa República. Interpelado hoje, em Brasília, Jobim, respondeu, laconicamente, que não iria mais falar no assunto, já superado, segundo sua interpretação.
     Face à fragilidade do adversário (teórico, é claro), tomo a liberdade de reposicionar meus argumentos em posição de ataque. O ex-ministro, depois de se ver cercado pelas diversas versões que lançou sobre o mesmo fato e - não tenham dúvida!!! - de ter sido chamado à responsabilidade por indignados ministros do STF, unidos e coesos em torno da independência de seus atos, foi compelido a evitar novos confrontos. E, afinal, já tinha feito seu papel, ao tentar minimizar as consequências do encontro que intermediou e hospedou, entre Gilmar Mendes e Lula.
     Talvez não esperasse a reação de seus antigos colegas, a indignação de diversos ministros com o comportamento do ex-presidente e de seus pares, unidos e coesos na batalha pela desmoralização da Justiça, que consideram mero apêndice do esquema de poder. As pressões - o fogo amigo - sobre José Antonio Dias Toffoli, ex-advogado do PT, para que não se abstenha na votação do Mensalão (desde que a favor da quadrilha chefiada pelo ex-ministro José Dirceu, segundo denúncia do procurador-geral da República), e o assédio a outros ministros já vinham incomodando a Corte.
     A divulgação, pela revista Veja, de um fato (a tentativa de chantagem) que já era do conhecimento do presidente do Supremo, do procurador-geral da República e do advogado-geral da União obrigou os ministros a reagirem de maneira forte. Ao contrário das versões que a companheirada tenta vender (compra e venda é com essa turma, mesmo), Gilmar Mendes já havia denunciado o fato, antes de a revista tomar conhecimento.
     A publicação da denúncia - que contou com a corroboração do ministro - serviu como deflagradora de um sentimento que já estava tomando forma no STF. E que só se agravou com a interferência indecente do ex-presidente, autor, também, de um comentário racista sobre o ministro Joaquim Barbosa, relator do processo do Mensalão.
     Tudo isso é a cara de Lula, o mais medíocre e limitado presidente de toda a nossa história. Um personagem que jamais teve a noção exata do papel que exercia e ainda exerce no país.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Atestado de culpa

     O ex-presidente Lula levou dois dias para dizer que não disse o que o ministro Gilmar Mendes, do STF, reafirmou, hoje, que ele disse, sim, em um encontro no escritório do ex-ministro da Defesa Nélson Jobim. A julgar pelo histórico de seu comportamento - negar sempre, mesmo quando confrontado com provas irrefutáveis -, não pode ser levado a sério. E mais: a tibieza da negativa, expressa em nota oficial, é um constrangedor atestado de culpa.
     Alguém, especialmente com a dimensão política do ex-presidente, passaria um trator sobre seu acusador, caso fosse inocente. Além de um convencional "estou indignado", Lula limita-se a garantir que a versão da conversa, divulgada pela revista Veja - a chantagem para adiar o julgamento do Mensalão do seu governo -, é "inverídica". Não aponta o dedo para seu acusador, convenientemente resguardado, também, pela companheirada que defendeu seu líder oficialmente durante o dia.
     Em qualquer situação semelhante, uma pessoa acusada injustamente de um crime tão vil seria inflexível com o desafeto. Lula, não. Dois dias - vejam, bem, dois dias!!! - depois da divulgação do novo escândalo, após reuniões infindáveis com seus assessores diretos, a única defesa é uma nota insossa. No Congresso, seus comandados, como se esperava, acusaram a Oposição de estar tramando contra o Governo e o PT.
     É, exatamente, a mesma vigarice 'retórica' que vem sendo usada desde o Mensalão, passando pelas dezenas de atos indignos que marcam essa Era Lula. Silêncio, num primeiro momento, para avaliar o estrago; negativas em seguida; e transferência de responsabilidade logo depois. O ex-presidente agiu dessa forma quando explodiu o caso do maior assalto institucional aos cofres públicos da Nação.
     Calou e culpou outros ("fui traído", lembram-se?). Com o tempo - remédio para quase todos os males - passou à negação total. No escândalo da falsificação de dossiês contra políticos da Oposição, atirou a responsabilidade sobre uns indefinidos 'aloprados', quando todo o país sabia que tudo fora tramado e executado pela tropa de choque do seu Governo, tendo o atual ministro da Educação, Aloísio Mercandante, à frente, de acordo com as denúncias que vieram a público na epoca.
     A fórmula continuou sendo adotada à risca. Os seguidos atropelos da Casa Civil, ainda no seu governo, foram sendo ignorados, apostando-se sempre no esquecimento e na falta de informação da maioria da população, hipnotizada por um inegável crescimento no poder material. O Governo Dilma, embora mais discreto, manteve o perfil: transferir para a imprensa e/ou a oposição toda responsabilidade pela mais deslavada corrupção já registrada em um período tão curto no poder.
     Ao negar tão timidamente mais essa incursão no ilícito, o ex-presidente Lula e o PT novamente apostam na cumplicidade que geram em uma camada de formadores de opinião, dividida entre os comprados pelo patrocínio oficial e a atrelada a conceitos ultrapassados, a um passado de mentiras que deveria ter sido soterrado com a queda do Muro de Berlim.

Juristas condenam Lula

     A repercussão da tentativa de chantagem feita pelo ex-presidente Lula contra ministros do Supremo Tribunal Federal, em especial Gilmar Mendes, tem sido a pior possível, exceto - como se podia prever - entre alguns 'comunicadores' mais sujeitos aos efeitos da temperatura e dos cofres de Brasília. No meio jurídico, a reação tem sido dura e inflexível. O presidente do Conselho Fundador da Academia Brasileira de Direito Constitucional, Flávio Pansieri - como nos informa O Globo - não fez por menos: para ele, houve um crime.
     Segundo o jurista, a proposta de adiamento do julgamento do Mensalão - em troca de uma eventual blindagem na CPI que apura as relações entre o contraventor Carlinhos Cachoeira, políticos, empresários e governantes - foi "a maior afronta tornada pública da história do Judiciário brasileiro" e que cabe, agora, ao STF, "mostrar sua independência e autonomia absoluta de relações espúrias com o poder ou ex-autoridades da República". Em seguida, sugere que o Ministério Público entre imediatamente com uma ação contra Lula, "para evitar que fatos semelhantes voltem a ocorrer no mais importante tribunal do país". Não poderia ter sido mais claro.
     A OAB, que tem tido um comportamento bem amistoso com o esquema de poder que governa o país há nove anos e meio, também reagiu com dureza. Em nota oficial, a entidade destaca que "ainda que o processo de nomeação de seus membros (do STF) decorra de uma escolha pessoal do presidente da República, não cabe a este tratá-los como sendo de sua cota pessoal, exigindo proteção ou tratamento privilegiado, o que, além de desonroso, vergonhoso e inaceitável, retiraria dos ministros a independência e impessoalidade na análise dos fatos que lhe são submetidos".
     Dependendo do desenrolar dos fatos, o ex-presidente pode ser obrigado a dividir os ofícios de seu ex-ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, com o contraventor Carlinhos Cachoeira.

A blindagem de Lula

     Raríssimas pessoas no mundo - e não há exagero nessa afirmação - são tão protegidas e recebem tratamento tão gentil e amável quanto o ex-presidente Lula. Há sempre um grupo de - digamos - 'formadores de opinião' disposto a distorcer fatos, encontrar explicações onde só há atos condenáveis, passar a mão pela sua cabeça, sorrir de suas inúmeras bobagens, gargalhar com suas inconveniências, encontrar teorias onde só há mediocridade.
     Excetuando ditadores formais, em países onde não há liberdade alguma, especialmente de expressão, não houve, na história recentíssima do nosso mundo, algum dirigente que tenha escapado incólume de tantos escândalos, mentiras e revelações absolutamente comprometedoras. É verdade que o ex-presidente americano Bill Clinton conseguiu sobreviver à divulgação de suas estripulias sexuais, principalmente no caso de Mônica Levinski. Mas purgou até o último momento, submetido a um vergonhoso processo público.
     O ex-primeiro-ministro italiano, Sílvio Berlusconi, resistiu além do imaginável, mas, ao fim, recebeu o devido e merecido pontapé que o expulsou do comando do país. Durante meses seguidos, foi alvejado por revelações de seu comportamento indigno, corrupção. Não houve trégua, nem um milésimo da tolerância dispensada ao ex-presidente brasileiro.
     O mais recente e vergonhoso fato envolvendo Lula - a chantagem sobre ministros do Supremo Tribunal federal para beneficiar seus correligionários do Mensalão - vem repercutindo, sim, mas - até agora - de maneira tênue, pela dimensão do fato. Um exemplo claro? Não houve uma palavra na edição de sábado do Jornal Nacional, o mais influente veículo de informação brasileiro, pela abrangência. Também não escutei uma frase sequer sobre o caso ontem, nos momentos (confesso que raros) em que sintonizei a Rede Globo.
     Nos jornais, o caso levantado pela revista Veja - a cada semana aumenta o ódio de governantes e governistas à essa incontrolável liberdade de imprensa - vem tendo algum destaque, sim. Mas muito aquém do que julgo merecer. Afinal, um ex-presidente que continua decidindo os rumos do país - é (pobre Brasil...) o mais importante político nacional - tentou chantagear ministros para beneficiar a si mesmo, seus companheiros e seu partido, o indefectível e enlameado PT.
     Mesmo confrontados pela evidência, pela revolta provocada no âmbito do STF, os personagens de sempre, regiamente pagos pelo Planalto, através de patrocínios indecorosos, já estão em ebulição, encontrando justificativas, desmerecendo os acusadores, numa tática antiga e comum em advogados de pilantras. Cumprem seu papel, indigno, sim, mas que faz parte do jogo, especialmente de um jogo que movimenta fábulas em verbas públicas.
     Essa condescendência com o ex-presidente e - por extensão - com seus seguidores, vem de longe, tudo em nome de uma difusa causa que o tempo vem mostrando que se limita a assaltar o Estado, dominá-lo. Não foi a primeira, nem a segunda - longe disso - incursão do ex-presidente e de seus parceiros de sempre no terreno da ignomínia. O Mensalão é, apenas, o exemplo mais evidente da dissolução moral institucionalizada no país nos últimos nove anos e meio.
     A chantagem de agora é apenas mais um viés da impunidade conferida a Lula, por seu histórico de vida. Como se o fato de ser nordestino, pobre e imigrante justifique todos os atos indignos que cometeu e comete. E vou me poupar de relembrar um dos mais deploráveis, divulgado por um correligionário acima de qualquer suspeita. Basta ficarmos no plano 'político'.

domingo, 27 de maio de 2012

Sem direito ao perdão

     A degradante iniciativa - mais uma!!! - do ex-presidente Lula, ao chantagear o ministro Gilmar Mendes, na tentativa de adiar o julgamento do Mensalão, conforme denúncia publicada em Veja, não pode servir de arma para o PSDB negociar a impunidade do governador goiano Marconi Perillo, envolvido de maneira inegável nas escandalosas relações entre o contraventor Carlinhos Cachoeira, políticos, governos e empresários.
     São fatos absolutamente distintos, que merecem apuração séria e punições exemplares. O governador precisa, sim, explicar direitinho a venda de sua casa, os favores oficiais, os telefonemas gentis e servis, a evidente presença do contraventor nos vários escalões de seu governo. Não cabe discutir como os fatos chegaram a público, mas agir. A cassação do mandato que o governador desonrou com palavras e atos serviria como advertência, um aviso. O Brasil não pode conviver indefinidamente com a falta de dignidade.
     O mesmo raciocínio se aplica ao ex-presidente Lula, que a cada momento dá novas e contundentes demonstrações do quanto é simplório e limitado. Na presidência, inflado por ventos favoráveis da economia mundial, pôde exercer com facilidade a arte de mistificar, tergiversar (embora não deva saber o que vem a ser isso), exatamente como agia como sindicalista. Jamais teve a exata dimensão do cargo que ocupava, da sua importância histórica.
     Lula escapou por pouco da cassação, quando do episódio do Mensalão, o maior assalto institucional aos cofres públicos realizado até agora. Mentiu no primeiro momento, escondeu-se em seguida, culpou auxiliares (como sempre fez) e aproveitou-se da mediocridade de uma Oposição desfibrada e desorientada, incapaz de assumir a postura republicana que a ocasião exigia.
     Renovado, o monstro alimentado no Palácio do Planalto envolveu todos os setores e corredores de empresas e ministérios. Montado sobre a base parlamentar mais deplorável da nossa história recente, o esquema de poder consolidou-se e ramificou-se. Praticamente não houve um ministério sequer que tenha escapado de acusações de roubo, desvio de verbas, corrupção. Os males estenderam-se pelo governo atual, praticamente paralisado desde que chegou ao poder.
     Hoje, quando ameaçado pelo confronto com a Justiça, o esquema corrupto que vicejou à sombra de Lula tenta reagir. Com o fracasso da estratégia que redundou na CPI do Cachoeira, destinada, apenas a acertar opositores e afogar o julgamento do seu Mensalão, o ex-presidente recorreu a mais uma tarefa desqualificante: chantagear a mais alta Corte de Justiça do país, de acordo com as acusações de um de seus ministros, alvo principal do ataque.
     Não deve haver perdão.

Censura, nunca mais!

     Lamento, diariamente, ler seguidas, raivosas e totalitárias manifestações favoráveis aos 'mecanismos de controle da liberdade de expressão', um eufemismo vagabundo para um dos instrumentos mais nocivos à liberdade e à autodeterminação dos povos: a censura. Quem, como eu, viveu e trabalhou sob o jugo do arbítrio (com censores rabiscando, cortando e proibindo), sabe os males que são gerados pela ingerência do Estado no direito à informação, que deve ser ampla e plural.
     Censura só interessa a ditadores, regimes autoritários e criminosos, como os de Cuba, Coreia do Norte, China e Irã, para ficar apenas em alguns dos piores exemplos. Essa relação poderia ser ampliada com modelos mais próximos de nós, como o da Venezuela chavista e o da Argentina kirchnerista, candidatos aos primeiros lugares do pódio da mediocridade, do cerceamento das críticas, da célere corrida em direção ao mais profundo e vergonhoso atraso.
     As nações dignas e os exemplos históricos mostram que não há melhor controle da qualidade da informação do que o exercido pelo distinto público que se dispõe a comprar seus jornais e revistas e/ou a acionar os botões de seus aparelhos de tevê e de rádio. Particularmente, não posso sequer imaginar que, no século 21, depois de ter passado por duas décadas de governos autoritários, corro o risco de ser tutelado por conselhos ou quetais, que julgariam o que eu posso, ou não, ler, ver, ouvir e escrever.
     Infelizmente, não é o que pensam e repetem os representantes dessa era melancólica que se abateu sobre o que podemos, genericamente, classificar de consciência nacional. Com a mediocridade que caracteriza nossos governantes e acólitos, assistimos, a todo momento, a manifestações de servilismo partidas de segmentos que - por sua própria vocação - deveriam estar na dianteira na luta pela liberdade mais ampla, geral e irrestrita, especialmente a de pensamento.
     Poucas coisas podem ser mais lamentáveis do que jornalistas e 'inteletuais' em geral que pregam a censura, o desprezo pelo contraditório, o abafamento de opiniões discordantes, o deletério 'controle social da mídia'. Não é novidade, entretanto, que muitos desses defensores do arbítrio são pagos para cumprir esse papel deplorável de submissão a projetos de poder, patrocinados diretamente pelo dinheiro dos impostos e contribuições sindicais compulsórias de todos nós.
     É sintomático, pelo seu simbolismo, que a liberdade de expressão tenha que ser defendida, como o foi hoje, no jornal O Globo, por uma senadora (Kátia Abreu, do PSD) normalmente apontada como de 'direita', seja lá o que isso for. Os 'esquerdistas' - e a cada escândalo, como o do Mensalão, roubalheira, corrupção institucionalizada e sobrepreços mais sabemos o que isso quer dizer - lutam hoje em outra trincheira, a da coação à liberdade.
     Censura, nunca mais!

sábado, 26 de maio de 2012

Lula, o chantagista!

     O que ainda restava - pelo menos para mim - da máscara do mais medíocre, despreparado e desprovido de caráter presidente que essa infeliz República já teve caiu hoje, graças a mais uma denúncia irrespondível publicada em Veja e repercutida pela Folha de São Paulo, como o fato merece. Segundo a revista, o ex-presidente Lula tentou chantagear o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, na tentativa de adiar o julgamento do Mensalão, o maior assalto institucional - até agora - aos cofres públicos.
     Com a desfaçatez que caracteriza sua verdadeira história política, o ex-presidente ofereceu ao ministro uma espécie de blindagem na CPI que investiga as relações nefastas do contraventos Carlinhos Cachoeira com bandidos de todos os naipes, destaque para políticos (como o ainda senador Demóstenes Torres) e empresários, como Fernando Cavendish, da Delta Construtura, a filha pródiga do PAC.
     Na sua fixação em desmentir o indesmentível, o ex-presidente citou - como elemento claro de chantagem - uma viagem a Berlim, na qual o ministro Gilmar Mendes teria se encontrado com o ainda senador Demóstenes. Para não deixar dúvidas, a denúncia foi totalmente referendada por Gilmar Mendes, que, segundo a revista, disse que ficou "perplexo com o comportamento e as insinuações despropositadas do presidente Lula". O encontro entre Lula e Gilmar ocorreu na casa do ex-ministro da Defesa Nélson Jobim.
     A vigarice do maior pestigitador da nossa história não parou por aí, de acordo com a revista. O passo seguinte foi convidar o presidente do STF, ministro Ayres Britto, um confesso petista, para um vinho, na casa de um amigo comum, Celso Antonio Bandeira de Mello, um dos responsáveis pela indicação do atual presidente do Supremo. O convite ocorreu durante almoço no Palácio, quando da instalação da Comissão da Verdade.
      Veja conta que Ayres Britto não foi. À Folha, o presidente do STF admitiu que esteve com Lula umas quatro vezes nos últimos nove anos e que ele nunca pediu nada, mas que a "luz amarela" acendeu quando Gilmar Mendes contou sobre o encontro. "Mas eu imediatamente apaguei, pois Lula sabe que eu não faria algo do tipo," amenizou Britto.
     A Folha destaca que a assessoria de Lula não quis comentar o assunto, coisa dessa imprensa que precisa ser "controlada", segundo prega a turma do ex-presidente e os 'progressistas' pagos com o dinheiro público. Em Cuba, na Coreia do Norte e na China, ideais dessa gente, essa notícia certamente não seria publicada.

Minha frase da semana

     "Fica fácil entender a mobilização governista para barrar as investigações (na CPI que investiga as relações entre o contraventor Carlinhos Cachoeira e o mundo político). Enquanto a pilantragem atingia apenas representantes da Oposição, como imaginava o guru de Garanhuns, estava tudo bem. Mas havia uma Delta no caminho".
     Extraída do texto 'O Fator Delta (3)', de 21 de maio.

A parceria petista com a privada

     Há notícias que se autoexplicam a partir do título. O texto, em si, serve, 'apenas', para detalhar o que o fato exibe, sem subterfúgios. É esse o caso de uma das manchetes de hoje de O Globo: "Partido dos Trabalhadores teve R$ 50 milhões em doações em 2011". Os números são esses mesmos, estarrecedores. O partido da presidente da República colocou nos cofres uma fortuna, vinda, em especial e principalmente, das grande empresas que prestam serviço ao Governo.E tudo isso, em um ano sem eleições.
     "Tudo Legal", apressou-se a dizer a assessoria de imprensa de Ruy Falcão, o presidente do PT, inimigo número 3 dos que tentam condenar os quadrilheiros do Mensalão (os dois primeiros são, sem a menor dúvida, o ex-presidente Lula e seu ex-ministro da casa Civil José Dirceu). Ele - mais do que pessoas comuns - sabe que o fato de algo ser legal não impede de ser imoral. No caso específico das 'doações' empresariais ao PT, é algo imoral e deletério, que engordou seus cofres e praticamente saldou as dívidas históricas do partido, entre elas, uma com o Banco Rural, ainda dos tempos do Mensalão.
     A imoralidade fica ainda mais explícita e indefensável quando ficamos sabendo o valor das doações que as tais empresas (todas elas com estreitísimas ligações com obras e quetais) fizeram aos demais partidos: pouco mais de R$ 2 milhões ao PSDB e ao PMDB, por exemplo. Por baixo, o PT vale, hoje, 20 vezes mais do que o PMDB, normalmente apontado como depositário de quase todas as malandragens e malfeitos nacionais.
     O Globo destaca ainda - com rara acuidade - que as principais empresas amigas do PT pertencem aos setores de construção civil (olha o PAC aí, como sempre!!!); setor financeiro (bancos amigos e cada vez mais lucrativos); energia (construtores e fornecedores das novas usinas hidrelétricas): e frigoríficos. Nesse último item, chama a atenção o destaque do frigorífico JBS - o quinto maior doador!!! -, que recebeu aporte milionário do BNDES e, há poucos dias, decidiu comprar a Delta Construtora, a filha pródiga do PAC, e envolvida até a medula no escândalo que envolve o contraventor Carlinhos Cachoeira, políticos em geral e governos (municipais, estaduais e federal) em especial. É muito coincidência ...
     Outro exemplo, destacado na matéria, é emblemático. A construtora Andrade Gutierrez, principal 'doadora' do PT ano passado (R$ 4,65 milhões), foi a que mais embolsou dinheiro público: R$ 393,2 milhões.
     Não é preciso ser um Maquiavel para entender essa engrenagem. Um grupo de empresas acusadas formalmente de falcatruas - sobrepreço, atrasos, corrupção de políticos - decide dar suporte financeiro ao partido oficial, exercendo seu "direito democrático de escolha", diria Delúbio Soares, o ex-tesoureiro do Mensalão, se abrisse a boca, o que não fez quando deveria.
     Como a CGU anunciou há poucos dias que a maioria absoluta das obras fiscalizadas registra pilantragens, podemos deduzir - sem risco de estar cometendo injustiças ou ilações sem lastro - que parte expressiva do dinheiro roubado dos cofres públicos está sendo transferida diretamente ao Partido dos Trabalhadores, seus candidatos e afilhados. Um assalto institucionalizado, como o que foi executado no Mensalão do Governo Lula.
     E "tudo legal", como explicou o Partido, com a indecência que vem caracterizando suas ações nas últimas duas décadas, pelo menos. Nós pagamos impostos; o Governo (por desídia e/ou cumplicidade) desvia parte do dinheiro para empresas (através dos tais sobrepreços, aditivos etc); e as empresas repassam o roubo ao partido do Governo, já 'lavado' e regularizado. É coisa de gênio.  A expressão mais vigorosa do que podemos chamar de parceria do que é público com a privada.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

A farra 'progressista'

     Vejam bem até onde podem ir a vigarice retórica e o ranço bolchevique de um grupo financiado pelo dinheiro público. Segundo o Estadão, Salvador vai receber a terceira edição de um tal de Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas, que tem como tema principal o que essa gente chama de "democratização da comunicação", que passa - é claro!!! - pelo "controle social da mídia" e o ataque ao que eles classificam de "grande imprensa".
     Essa grande farra, promovida pelo Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, presidido pelo secretário de Questão da Mídia do democrático e liberal PCdoB, está sendo bancada por sindicatos e confederações de trabalhadores - olha a CUT aí, gente! -, e terá como grande nome o ex-ministro da Comunicação do Governo Lula, Franklin Martins.
     Fica fácil imaginar o que essa gente quer: calar os que discordam, sufocar a liberdade de expressão, regredir aos modelos cubano e da Coreia do Norte. Liberdade, para eles, é apoiar o projeto de poder que se estabeleceu no país há nove anos e meio. Mídia boa é aquela no estilo do Granma, cuja única utilidade - repito sempre - é servir como alternativa ao papel higiênico que não existe em Cuba.
     Segundo a matéria, o representantedo PCdoB (não vou sequer citar o nome) justificou o encontro: "Precisamos fazer uma consulta à sociedade brasileira para saber quais as regras necessárias para a comunicação". É exatamente o contrário: a liberdade de expressão não deve ter regras, exceto as que já estão previstas em lei. O resto é só saudade dos tempos do Muro de Berlim.

Dilma une os extremos

     A presidente Dilma Rousseff - ao vetar/aprovar 'mais ou menos' o texto do novo Código Florestal - conseguiu, mais uma vez, algo quase impossível: unir, no descontentamento, extremos tão distantes quando o deputado federal Ronaldo Caiado, do DEM, um dos porta-vozes dos ruralistas, e a WWF-Brasil, representante dos ambientalistas mais ferrenhos.
     Caiado, no entanto, prendeu-se mais aos aspectos legais. Segundo entrevista a O Globo, ele contesta a edição de Medida Provisória referente a texto já aprovado pelo Congresso, sem que os vetos sejam avaliados, como determina o Artigo 62 da Constituição. Seus companheiros da bancada ruralista, no entanto, aceitaram bem os cortes. Já a WWF radicalizou: só aceitaria o veto total ao texto.
     Se Caiado e a WWF estão 'juntos' no repúdio, sou levado a acreditar que a solução não deve ter sido ruim.

O meio ambiente de Dilma e Aldo

     A fonte é a mais 'isenta' possível. Pelo menos aos olhos governistas: a Agência Brasil. E está lá, no notificário oficial do dia 25 de abril do ano passado, a entrevista na qual o então deputado federal e atual ministro do Esporte, Aldo Rebelo (PCdoB de São Paulo) defende o texto do projeto de lei de reforma do Código Florestal, relatado por ele. Na época - há exíguos 13 meses -, um dos mais notórios comunistas brasileiros - além de em Cuba, na China e na Coreia do Norte, eles sobrevivem por aqui, aos magotes - não acreditava em vetos da presidente Dilma Rousseff.
     Segundo ele, literalmente, a presidente estava "muito desinformada sobre este assunto" e influenciada pelas notícias que recebeu "só de um dos lados que circularam pelo Palácio, que foi o do lobby ambientalista". De acordo com a Agência Brasil, Rebelo foi ainda mais longe nas considerações, tachando o governo de incompetente: "Se reunimos em torno de um texto 410 votos, com um único destaque, é porque o Congresso conseguiu mediar, com alguma competência, um problema que o Executivo só resolveu por meio de um decreto que anistia e suspende multa de quem desmatou em área de preservação permanente e em reserva legal."
     Pois bem. Pouco mais de um ano depois e na crista da mais primária vaga de 'protesto a favor' estimulada pelo Governo, a presidente Dilma acaba de vetar partes do tal Código (12 artigos), atendendo ao "lobby" denunciado pelo seu atual auxiliar e derrubando todas as teses defendidas por ele e pelo relator do texto que ela acaba de rasurar, o deputado federal Paulo Piau, do PMDB mineiro, unha e carne com o Governo, do qual o partido faz parte intensamente - e não 'apenas' por ter o vice-presidente.
     Modestamente sou obrigado a concluir que há algo muito estranho ocorrendo nesse nebuloso primeiríssimo escalão republicano. Ou o atual ministro de Dilma é um completo idiota, por ter defendido algo indefensável e contrário aos interesses nacionais; ou a nossa presidente, como disse o então deputado, continua "totalmente desinformada" e sujeita à influência de lobistas. Sem falar no companheiro mineiro, exposto à sanha dos ambientalistas.
     São as inconsistências de um governo que vive às voltas com ondas de mais ondas de escândalos, mas que consegue, por arte de um muito bem-sucedido esquema de marketing, pairar acima das tormentas.
     A mão que hoje consagrou algumas firulas, para sair bem na foto com fundo verde, é a mesma que assinou contratos fabulosos com a Delta Construtora, mesmo sabendo que a empresa estava sendo acusada de uma relação enorme de falcatruas. Mas o Ibope ...

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Um vigoroso 'protesto a favor'

     A expressão não é nova, mas é perfeitamente adequada à onda de pedidos para a que a presidente (eliminei o trema dos meus textos, mas me recuso a flexionar) Dilma Rousseff vete a versão do Código Florestal aprovada pela Câmara, o que deve acontecer muito em breve. Trata-se do mais simplório e primário 'protesto a favor', carinhoso, amigo, claramente decidido a mostrar que os manifestantes confiam nela, no seu engajamento nas boas causas.
     "Veta, Dilma", pedem cartazes e manifestantes das mais variadas camadas, com a certeza de que serão atendidos, pelo menos parcialmente. Nada de pedradas ou ovadas, xingamentos, ameaças, invasões. Tudo muito gentil, como - aliás - exige a boa educação e o respeito. Máscaras amigas, shows, malabarismo e uma comovedora cumplicidade: 'Veta, Dilma".
     É claro que a presidente vai vetar alguma coisa. Não acredito que vete tudo, pois estaria, no mínimo, dizendo que seu atual ministro do Esporte, Aldo Rebelo, autor do texto aprovado, na função de deputado federal pelo PCdoB, é um assassino de florestas, parceiro de fazendeiros e latifundiários, inimigo do planeta, destruidor da atmosfera, poluidor de rios e mares. Em síntese: um bem-acabado bandido.
     Mas se ele é tudo isso, como é que faz parte do Governo, no primeiríssimo escalão? E a base governista, que domina o Congresso, responsável por tudo o que é aprovado ou rejeitado? Afinal, o tal Código, como se põe, é fruto exclusivo da companheirada, de uma forma ou de outra. Assim como todos os mais relevantes escândalos registrados nos últimos nove anos partiram da turma palaciana, destaque absoluto para o Mensalão.
     Antes que alguém possa pensar que tenho algum interesse na aprovação do tal Código: meu único latifúndio é o lugar onde moro, 'infestado' de árvores e flores, todas plantadas por mim.

As amizades goianas

     Palavra de bandido não pode ser considerada, literalmente. Mas também não pode ser desprezada, jogada na sarjeta, descartada sem maiores avaliações. Por isso, a arrogante declaração do ex-vereador goiano Wladimir Garcez à CPI que investiga as atividades do seu comparsa, o contraventor Carlinhos Cachoeira, não pode ser ignorada.
     Além de se declarar inocente - é claro! - e de se recusar a responder a qualquer questão, seguindo os passos de seu chefe, Wladimir arrotou suas ligações com expoentes dessa nossa pobre República. E não fez por menos. Abriu a lista citando o ínclito ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, do PT de São Paulo, que ostenta no currículo o fato de ser um combativo defensor de mensaleiros, aloprados e quetais.
     Não satisfeito, o ex-vereador arrolou outros amigos: o ex-presidente do Banco Central no Governo Lula, Henrique Meirelles, a quem teria ajudado a se eleger deputado federal quando ainda militava no PSDB goiano; o ex-governador Iris Rezende, do PMDB; o senador gaúcho Paulo paim, do PT; o governador Marcono Perillo, do PSDB: e outros menos votados, mas nem por isso menos importantes nessa 'cadeia' de amizades, ou amizades que mereceriam cadeia.
     A frase é antiga e já foi citada por mim algumas vezes. Mas expressa perfeitamente o momento e o padrão dessas relações: quem anda com porcos come farelos, não necessariamente nessa ordem.

O país da chicana

     Para quem duvidava que o ainda senador Demóstenes Torres, do DEM, pode escapar da merecida e esperada cassação, a notícia publicada hoje, em O Globo - sobre os conchavos e acertos em andamento no Senado - é de arrasar. O parceiro do contraventor Carlinhos Cachoeira precisaria, apenas, de mais 11 votos para manter o mandato e continuar agredindo a dignidade do país.
     Hoje, pelas contas de Demóstenes e de sua trupe, já existe o compromisso de 30 senadores, que se sentiriam acobertados pela prática deletéria do voto secreto. Chegar a 41 (um a mais do que a metade exigida nas cassações) não parece tarefa difícil, a julgar pela recepção que o ex-arauto da dignidade teve ontem: foi cumprimentado, no plenário, por gente de todos os partidos. Do 'seu' DEM, ao 'ínclito' PT, passando pelo indefectível PMDB e pelo PSDB.
     E foram cumprimentos públicos, daqueles posados para as câmeras de jornais, revistas e tevês. Quando Eduardo Suplicy - um dos maiores expoentes do PT - levanta para dar um aperto de mão no mais recente símbolo da indignidade política, marca o descompromisso com os valores que deveriam nortear a política. Referenda que tudo é possível e aceitável nessa nossa pobre República, onde a falta de escrúpulos se consolidou e foi entronizada há nove anos e meio.
     Só o fato de essa possibilidade - a da absolvição de Demóstenes - ser considerada já é um fator de extrema preocupação, em virtude do acúmulo de provas de sua ação promíscua e vagabunda com uma quadrilha. Em um país que se pretende sério, essa hipótese sequer estaria sendo levada em conta.
     Vivemos, no entanto, lamentavelmente, um longo momento de desagregação moral, no qual a corrupção foi institucionalizada e defendida com argumentos supostamente ideológicos. Não é apenas o vulgar "rouba mas faz", consagrado nas referências ao ex-governador paulista Ademar de Barros. A questão é mais ampla e pilantra, mas encontra ecos entre o que se convencionou chamar de 'intelectualidade de esquerda': rouba-se, mas por uma 'boa causa'.
     Essa filosofia absolveu politicamente o ex-presidente Lula, o maior beneficiário do Mensalão. Essa mesma postura mantém o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, apontado como "chefe da quadrilha que assaltou os cofres públicos", blindado por um séquito de próceres da 'esquerda', seja lá o que isso for hoje em dia. Essa mesma subserviência - regiamente paga, em muitos casos - faz com o país tenha convivido e ainda conviva com a maior série de escândalos de sua história recente.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Mais um gol contra

     O tema é destaque em todos os jornais e revistas: o Governo, através do Ministério do Esporte, admitiu que só 5% das obras previstas para a Copa do Mundo de 2014 estão prontas, o equivalente a apenas 1% - é isso mesmo, um por cento - dos investimentos previstos.
     A notícia me remeteu a recentes entrevistas de Romário, como deputado federal (PSB-RJ). Sem meias palavras, ele disse que o país vivia a véspera de um enorme fracasso e que praticamente todas as obras estavam paradas e/ou atrasadas. Os dados divulgados hoje dão total e completa razão a ele e apontam para um horizonte ainda mais sombrio, também denunciado pelo ex-craque: esse ritmo lento vai justificar, ao fim, a aprovação de gastos extraordinários, para que os prazos sejam cumpridos.Um jogo de cartas absolutamente marcadas.
     Em outras palavras: a pilantragem está sendo institucionalizada e sinaliza um enorme prejuízo para os cofres públicos. E o ministro Aldo Rebelo, do Esporte, ainda se deu o direito de fazer gracinhas com o atraso e com a preocupação dos jornalistas.
     Romário - os fatos estão comprovando - não perdeu a capacidade de acertar pontapés na hora exata.

Argumento envenenado

     Sou um ardoroso defensor do texto da lei. Prefiro sempre uma decisão que atenda à Constituição do que ao clamor popular, ou algo semelhante. Se a legislação é falha e já não atende às expectativas da sociedade, há os caminhos naturais - os rituais - para sua modificação, modernização. O problema que nos aparece, agora, no caso das investigações sobre as atividades criminosas do contraventor Carlinhos Cachoeira, não invalida esse raciocínio, embora dê margens a tentativas marginais, destinadas a subverter a essência da legislação em benefício de criminosos.
     É o que está tentando o advogado do contraventor, o ex-ministro da Justiça de Lula, Márcio Thomaz Bastos, ao pedir a anulação das escutas telefônicas produzidas durante as Operações Vegas e Monte Carlo, que jogaram uma torrente de acusações sobre seu cliente e uma penca de notáveis dessa nossa pobre República. A alegação é simples: como as escutas flagraram conversas especialmente com um ainda senador, o desmoralizado Demóstenes Torres, deveriam ter sido autorizadas pelo STF (ele tem direito a foro especial), e não por um juiz de primeira instância.
     É a antiga doutrina dos 'frutos da árvora envenenada', copiada de vários países, em especial dos Estados Unidos. Por ela, todas as evidências e provas obtidas a partir de um ato ilegal não podem ser usadas. Thomaz Bastos sustenta que, durante as operações, o tal senador que defendia a moralidade foi investigado, sem autorização. É a mesma linha de defesa empregada pelo advogado de Demóstenes Torres. Não discutem se senador e contraventor cometeram crimes, e sim se esses crimes podem ser julgados. É o mais puro exemplo de vigarice retórica usada para confrontar e manipular a Lei.
     Ao estabeler essa doutrina, os juristas do início do século passado pretendiam, na verdade, preservar o cidadão, coibir a violência e o uso de outros meios ilegais na busca por informações. A confissão conseguida por tortura, por exemplo, não poderia ser aceita, pois fruto da tal árvore envenenada. A essência é a melhor. Seu uso, no entanto, nos dois casos brasileiros em questão, é absolutamente deletério.
     O envolvimento do senador, deputados estaduais e governadores foi uma consequência das escutas realizadas legalmente, e não seu objetivo. Os policiais miravam atividades claramente criminosas e se depararam com uma impensada ramificação de bandidos pelos corredores do Congresso e de palácios governamentais. Não havia a disposição de burlar a lei para atingir objetivos paralelos. Foi uma notável coincidência.
     Em respeito à essência da Constituição e à decência nacionais, espera-se que o Tribunal Regional Federal da 1ª Região considere o pedido improcedente, por destilar veneno na sociedade.

O Rio a menos de cada dia

     Acredito que está na hora de falar a sério sobre a Rio+20 que se aproxima e desperta - pelo que lemos em toda a parte - arroubos infantis e dissociados da dura realidade do meio ambiente, vivida aqui mesmo, na sede do encontro, uma das cidades mais cantadas e decantadas em todo o mundo.
     Eu sei que escancarar nossas problemas recorrentes não é politicamente agradável, nem bem aceito. O Rio do imaginário é aquele das paisagens de cartão postal, do Pão de Açúcar emoldurando a Baía de Guanabara, das praias da Zona Sul, da Lagoa, do Cristo. Uma cidade perfeita, ao menos nas fotos.
     Nossas tão vivamente festejadas praias passam de 70% a 80% do tempo impróprias para o banho de mar. E não estou falando das abandonadas praias da Baía de Guanabara (Flamengo, Botafogo, Ilha do Governador ) ou do fundo da Baía de Sepetiba. Essas, todos nós sabemos que são meros depositários de esgoto e lixo. Eu me refiro a Copacabana, Ipanema e Leblon. Se o distinto público se desse ao trabalho de ler o quadrinho publicado pelo jornal O Globo, diariamente, sobre as condições de balneabilidade de nossas praias, não encostaria o pé em suas águas, caldo de cultura para doenças de todas as espécies.
     As tão decantadas coleta seletiva e reciclagem estão limitadas a uma parcela ínfima da cidade. No geral - 95% -, quase todo o lixo produzido por aqui vai mesmo para o mesmo lugar, sem separação ou qualquer cuidado ambiental.
     O mundo da fantasia é tão envolvente que, a julgar pelas peças publicitárias que nos são impostas pela goela, o cuidado é a regra, enquanto o abandono é a exceção. O exemplo de Pedra de Guaratiba, que poderia ser aplicado à quase totalidade das Zonas Oeste, Norte e Subúrbios, é um retrato do descaso público com o meio ambiente.
     A coleta de lixo, que é feita regularmente - é preciso deixar claro -, não obedece a qualquer conceito seletivo. Particularmente, tento dar minha contribuição, separando jornais e embalagens de de plástico, metal e vidro. À toa. Vai tudo para o mesmo carrinho e, dele, para os aterros.
     E o esgoto? Assim como na Baixada Fluminense, o rejeito da Zona Oeste e favelas em geral desemboca diretamente nos córregos, rios e praias, dividindo caminho com as águas pluviais.
     Como se pode ver, nossos males são bem mais prosaicos do que as preocupações mais elaboradas com o futuro do planeta. Nossas questões são presentes, mantendo-nos no passado.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Futebol e violência

     Nunca participei de torcidas organizadas, ou algo semelhante, apesar de frequentar arquibancadas e gerais desde sempre e da minha declarada e reconhecida paixão pelo Vasco. Confesso que a vibração de algumas 'entidades', como a Força Jovem, mexiam com meus sentimentos, quando entravam no Maracanã. Mas isso foi acabando.
     A recorrentes brigas e enfrentamentos entre torcidas adversárias, as agressões estúpidas, os crimes e o vandalismo me afastaram dos estádios. Ainda acompanho, pela tevê, a festa nas arquibancadas, mas não consigo dissociá-la da violência, da mais absoluta falta de esportividade. Já escrevi aqui mesmo, em algumas ocasiões, que minhas filhas, Flávia e Fabiana, muito novas ainda, aprenderam a gostar do Vasco nas arquibancadas. Iam comigo aos jogos, nos anos 1980 e 1990 (Flávia com muito maior intensidade), sem restrições ou receio.
     Hoje, repito também, não levaria meus netos a jogos decisivos ou de maior rivalidade. O risco não compensaria o prazer. Por isso, me vejo compelido a aplaudir a decisão do Ministério Público de São Paulo, que entrou com ações civis destinadas a extinguir, especialmente, seis das tais torcidas organizadas: a palmeirense Mancha Verde; a corintiana Gaviões da Fiel; Serponte e Jovem Amor Maior, da Ponte Preta; e Guerreiros da Tribo e Fúria Independente, do Guarani.
     O motivo é um só: "o envolvimento dessas agremiações em atos de violência". O exemplo paulista deveria ser exportado para todo o país e vigorar, a partir de uma avaliação séria do comportamento dessas torcidas, que marcham - literalmente - para os estádios como se partissem para a guerra.

O recado de Cachoeira

     O contraventor Carlinhos Cachoeira, mesmo ficando calado durante o tempo em que esteve na CPI que investiga seu envolvimento com políticos e governos, conseguiu deixar seu recado, ao se apresentar. Seguindo o script traçado por seu bem-sucedido advogado de malfeitores, o ex-ministro Márcio Thomaz Bastos, limitou-se a dizer que nada diria, mas deixou uma ameaça no ar: tem muita coisa a informar, mas só depois da audiência perante a Justiça.
     O alerta foi dado. É bom que a companheirada dê um jeito de tratá-lo bem, como fez e vem fazendo com os 38 quadrilheiros do Mensalão, os seus em particular, reintegrados integralmente à vida partidária, com voz, voto e um enorme poder decisório, como o demonstrado pelo chefe de todos - de acordo com denúncia do Ministério Público -, o ex-ministro da Casa Civil de Lula, José Dirceu.
     É simples assim. Não poderia haver melhor 'intermediario' entre contraventor e Governo e governistas do que Thomaz Bastos, homem de confiança do ex-presidente. O aviso foi dado, com todas as letras, e referendado logo em seguida, como nos conta O Globo, na única resposta que Cachoeira se dignou a dar a seus inquisidores: "Essa é uma boa pergunta, para ser respondida depois".
     Eu, particularmente, torço muito para que ele, de fato, responda a todas as questões, mesmo "depois". Quero saber tudo que envolve suas relações com o ainda senador Demóstenes Torres, do DEM; com os ainda governadores Marconi Perillo (PSDB-GO) e Agnelo Queiroz (PT-DF); com deputados; delegador; juízes; e - em especial - com o Governo Federal, através da Construtora Delta, a queridinha do PAC.

Cachoeira reedita Delúbio Soares

     Como já se esperava, o contraventor Carlinhos Cachoeira usou as prerrogativas legais às quais todos têm direito e nada disse à Comissão Parlamentar de Inquérito que investiga suas ligações escusas com políticos e governos municipais, estaduais e federal. Calar e negar, quando for o caso, é uma arma desse tipo de criminoso, especialmente quando encontra um palco perfeito para encenações.
     Se alguém tinha alguma dúvida sobre o que ele, Cachoeira, iria fazer, essa se diluiu no momento em que chegou acompanhado do seu caríssimo advogado, Márcio Thomaz Bastos, o ex-ministro que instruiu o ex-presidente Lula e o ajudou a se salvar da cassação quando do escândalo do Mensalão, o maior assalto aos cofres públicos já perpetrado nesse país, até agora.
     Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT, acusado de ser o articulador da roubalheira do Mensalão, ao lado do publicitário mineiro Marcos Valério e sob o comando do deputado cassado José Dirceu - o "chefe da quadrilha", segundo o Ministério Público -, agiu exatamente assim, quando depôs. Entrou calado e saiu mudo, em um dos episódios mais burlescos e constrangedores da história das CPIs.
     O ex-presidente Lula também optou pelo silêncio, nos primeiros dias. Esperou a poeira baixar, mas como ela não baixou, lançou um bom par de versões sobre o assunto, todas mentirosas, de acordo com a investigação. Com o tempo, já livre da cassação, mudou de tom, saiu da defensiva e passou a tentar desmentir o indesmentível e a acusar os acusadores.
     Ao sair do governo, afirmou que iria patrocinar uma investigação para provar que o Mensalão não existiu. Ficou na promessa até pouco tempo atrás, quando decidiu bombardear o julgamento de seus pares, que está para acontecer no STF a qualquer momento.
     O sucesso de Lula no caso do Mensalão - escapou, foi reeleito e elegeu sua sucessora - é o grande trunfo de Carlinhos Cachoeira. Além de contar com um proeminente quadro petista ao seu lado, sabe que a maioria absoluta da Comissão é formada por companheiros do seu advogado.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

O fator Delta (3)

     Uma notícia publicada hoje pelo Estadão certamente ajuda a explicar a enorme preocupação da base governista - esse inacreditável saco de gatos ideológico que acolhe com carinho e pompa personagens como Fernando Collor de Melo e Paulo Maluf - em evitar a quebra dos sigilos da Construtora Delta e de seu ex-presidente, Fernando Cavendish, pela CPI que investiga o escandaloso relacionamento do contraventor Carlinhos Cachoeira com políticos, em geral, e governos, em particular.
     Segundo a matéria, o Tribunal de Contas da União (TCU) identificou irregularidades em 545 obras patrocinadas pelo Governo Federal. Em quase 200, a roubalheira foi considerada 'grave'. O sobrepreço - eufemismo para assalto ao dinheiro público - lidera o ranking de pilantragens, com 55%, seguido muito de perto por uma tal de "inadequação de projeto básico", que ostenta vigorosos 54%.
     Se considerarmos que essa tal "inadequação" nada mais é do que uma vigarice que altera projetos para que se tornem mais caros e, portanto, mais rentáveis para empresários e administradores, chegaremos a fabulosos 99% de gatunagem.
     De acordo com os dados divulgados, a obra de transposição das águas do Rio São Francisco - prevista para ser inaugurada em 2010 e que já não tem prazos para acabar - é campeã de safadezas. Não por acaso, a Delta figura entre as empresas 'envolvidas'.
     Fica fácil entender a mobilização governista para barrar as investigações. Enquanto a pilantragem atingia apenas representantes da Oposição, como imaginava o guru de Garanhuns, estava tudo bem. Mas havia uma Delta no caminho.

A indignação faltou ao trabalho

     Estou indignado com a falta de indignação do noticiário esportivo, em geral, com o destempero de dois técnicos do primeiríssimo escação: Vanderley Luxemburgo, do Grêmio, e Oswaldo de Oliveira, do Botafogo. Dei tempo ao tempo e ... nada. Uma referência aqui, um puxão de orelhas paterno ali. Esperava, no mínimo, a metade da ira que se abateu sobre o presidente e alguns jogadores do Vasco, pela reação destemperada ao fim da partida vencida pelo Flamengo, na Taça Rio, graças a uma atuação - digamos - 'amiga' do árbitro.
     Na época, li e reli pedidos que chegaram perto de exigir justiçamento em praça pública. Horror dos horrores, alguns atletas teriam cercado e xingado 'sua senhoria', que deixou de dar um pênalti claro quando o jogo ainda estava 1 a 1 (terminou 2 a 1 para o Flamengo que - nunca é demais ressaltar - não teve nada a ver com o favorecimento, nem com a revolta registrada no noticiário sempre que o clube é afetado, pela qual jamais precisa pagar). Roberto Dinamite, por ter reclamado da arbitragem, sem usar palavrões, foi acusado de fomentar a violência e de dar péssimo exemplo.
     Pois ontem, assisti a dois atos que, no conteúdo, foram tão ou mais graves do que os ocorridos no tal jogo do Vasco. O técnico botafoguense precisou ser contido pela polícia, tal a sua exasperação, que durou vários minutos. Expulso, chegou a ameaçar invadir o campo. O do Grêmio, não fez por menos: invadiu o gramado, cercou o juiz, xingou, blasfemou e ameaçou, de dedo em riste, a autoridade do árbitro. Também exigiu a participação policial.
     E daí? Nada. Não houve qualquer corrida às súmulas, para verificar o conteúdo, nem editoriais desabridos. O tema foi tratado com a ligeireza costumeira, quando o foco não é São Januário. Assim como a participação da exuberante gandula botafoguense no jogo decisivo da Taça Rio. É claro que o Vasco não perdeu por causa do passe que ela deu para o primeiro gol - algo claramente orientado. O Botafogo jogou melhor, quase sempre, e mereceu a vitória, sem a menor dúvida.
     A questão é outra: imaginemos a mesma cena protagonizada por um gandula do Vasco, em São Januário. No mínimo, seria exigida a interdição do estádio por prazo indeterminado. Paranoia? É só consultar os arquivos.
     PS: Já que o tema enveredou, também, por arbitragem, deixo aqui uma pergunta: para que servem esses ex-árbitros que comentam as atuações dos seus sucessores em campo? As imagens mostram, repetem e escancaram as falhas gritantes de 'suas senhorias' e os comentaristas ignoram tudo, torcem e distorcem. São uns sopradores de microfones.

A 'democracia' petista

     José Eduardo Cardozo é, para mim, um dos exemplos mais acabados da irresponsabilidade oficial na escolha do primeiríssimo escalação dessa nossa pobre República. Seu antecessor mais destacado no cargo de ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, ao menos, provou e vem provando a capacidade de lidar com malfeitores. É, no mínimo, um excelente advogado de porta de xadrez.
     Seu - dele, Bastos - feito mais eloquente foi, sem dúvida, administrar com sucesso o maior escândalo da história brasileira, o Mensalão do Governo Lula, na época, o mais bem-sucedido assalto formal aos cofres públicos. A capacidade de livrar criminosos da cadeia e da cassação imediata e merecida o credenciou, como estamos acompanhando, a lutar com todo denodo pelo contraventor Carlinhos Cachoeira, um comprovado corruptor de políticos em geral e governantes em especial.
     Já as credencias do atual ministro da Justiça, ex-secretário-geral do PT, limitam-se a uma fidelidade canina ao ex-presidente Lula e à quadrilha de mensaleiros e aloprados, aos quais sempre defendeu, e à fantasia de liberal, compreensivo e contemporizador que vestia e continua vestindo. Continua, no presente, exercendo a enorme capacidade de tergiversar, de fingir equilíbrio, de não dizer, de esgrimir pensamentos, manipular palavras. Mas sempre com aquele ar de artista mambembe que, por incrível que pareça, engana muita gente, especialmente aqueles que querem ser enganados.
     A entrevista que concedeu hoje ao Estadão é um exemplo dessa arte. Para começar, é classificado como alguém conhecido por "recomendar juízo a seus interlocutores". Que bonzinho ... Em seguida, ao falar, retoricamente, sobre o julgamento do Mensalão e a CPI destinada a apurar o envolvimento de Carlinhos Cachoeira com políticos e empresas, saiu-se com essa pérola, que reproduzo, integralmente:
     "Um julgamento como o do Mensalão será amplamente debatido, ao longo das eleições. Se vai atrapalhar ou ajudar, vamos aguardar. Pode ajudar uns, prejudicar outros. O mesmo pode valer para o caso Cachoeira e outras campanhas eleitorais, como por exemplo a de José Serra, caso as forças políticas que as apoiem estejam envolvidas no escândalo."
     Em poucas linhas, o ajuizado ministro disse que não sabe se o julgamento do Mensalão vai atrapalhar ou ajudar alguém, mas destaca que o caso Cachoeira pode interferir na campanha de José Serra - citado nominalmente - à prefeitura de São Paulo. Como se a pilantragem descoberta em Goiás afetasse apenas os partidos de Oposição (DEM e PSDB), e não a praticamente todas as agremiações, com destaque para o PT do governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz.
     O Mensalão, que é do PT, pode afetar alguém (no caso, o candidato petista Fernando Haddad), ou não. Já a torrente de crimes liderada por Cachoeira, que é de quase todos, deve atingir Serra. É um ponto alto da capacidade de manipular ideias.
     Ainda na entrevista, ao falar da Comissão da Verdade, o ministro consegue alcançar outro destaque na vigarice retórica. Eu não estava lá, mas imagino sua expressão de canastrão mexicano ao falar em liberdade e democracia, quando instado a comentar a reação de agremiações militares ao rumo das investigações sobre o passado recente: "Nós vivemos numa democracia. Então, mesmo aqueles que no passado foram contra essa democracia hoje podem se valer dela para expressar suas opiniões. Talvez um dia, quem sabe, eles se convençam de que a democracia é bem-vinda."
     Vejam bem: para ele, apenas os militares que participaram da ditadura eram contra a democracia. Convenientemente, nosso preclaro ministro esqueceu que grande parte dos adversários do regime tinha horror à liberdade e lutava pela implantação de um regime tão ou ainda mais violento e arbitrário quanto o que por aqui reinava. E que a democracia, mesmo quando já reativada aqui, foi constantemente agredida por seu partido, que negou seu voto a Tancredo Neves, recusou-se a assinar a Constituição de 1988, pregou a desordem no governo de FHC e defende ardorosamente a censura.
     Se há uma instituição, nesse país, que vem usando a liberdade da democracia para destrui-la, é, sem a menor dúvida, o PT do ministro da Justiça e seus assemelhados.

domingo, 20 de maio de 2012

A imprensa dos sonhos (deles...)

     Eles não se emendam. Aproveitam qualquer chance para reclamar da imprensa, lamentar que jornais e revistas divulguem o que não está sendo feito ou - o que é pior - está sendo realizado de maneira, digamos, não muito clara e/ou 'republicana'. Eles, acho que não dúvida quanto a isso, são os ilustres componentes do Governo em geral e petistas em especial.
     Hoje, segundo nos conta a Folha, foi a vez de o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, do naftalínico PC do B, se queixar que "só os jornalistas se preocupam com os atrasos das obras para a Copa de 2014". Para o sucessor de Orlando Silva (aquele mesmo que andou envolvido em acusações de tramoias com ONGs, até 'pedir demissão'), "a sociedade não desconfia da realização do evento".
     Talvez sim, ministro. A sociedade vem engolindo quase dez anos de propaganda enganosa, acreditando em PACs e outros fantasmas e na existência de uma proposta séria de limpeza em todos os escalões. Não seria espantoso que acreditasse que tudo vai bem, que não há atrasos absurdos e desvios de verbas escandalosos. Talvez exista, sim, quem crê na integridade dos que assinam contratos superfaturados e negociam dificuldades, para garantir vantagens adicionais.
     O papel de uma imprensa digna, no entanto, deve ser outro. Por definição e vocação, deve investigar as manobras de corredores e desvãos de escada, avaliar os pontos fracos da discurseira oficial, somar e diminuir verbas e aditivos. Quando um jornalista sério é confrontado com os números astronômicos da reforma do Maracanã, por exemplo, deve destacar que é a terceira obra em 10 anos e que só essa fase vai custar quase duas vezes o preço de um dos mais modernos estádios da Inglaterra e da Europa, o do Manchester United, inaugurado recentemente.
     Assim como deve - ela, a imprensa - denunciar as manobras destinadas a falsificar projetos, como aconteceu em Cuiabá, para benefiar empresas amigas. Essa é a imprensa que o Brasil precisa ter. A da preferência da companheirada é outra. É aquela no estilo do cubano Granma, a única 'opção' para fins sanitários que existe na ilha da fantasia, ou a brasileira impulsionada por verbas oficiais.

O fator Delta (2)

     Para mim, a notícia vai além da eventual perda, pela Delta Construções, de R$ 1,2 bihão de contratos em andamento, com o Governo Federal, como destaca, hoje o Estadão. Minha indignação maior refere-se ao fato de uma empresa claramente envolvida com corrupção, sobrepreços e manipulação de concorrências ter chegado ao topo do ranking de parcerias com o Executivo, exatamente nos últimos três anos.
     Para ser mais incisivo, o desencanto é saber que ela, a Delta, só chegou a esse ponto exatamente por usar meios escusos, cultivar relações não-republicanas, cortejar poderosos, patrocinar candidaturas e partidos. Enfim: exercer o que há mais degradante na vida nacional, conspurcada por essa atordoante simbiose entre Poder e corrupção.
     Como não poderia deixar de ser, o grosso dos negócios da Delta refere-se a contratos com o malfadado Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte, o Dnit, aquele mesmo envolvido em pilantragens de todos os calibres, principalmente ao longo do ainda breve e já tão tumultuado governo Dilma.
     A Delta também tem uma presença muito marcante em outra joia da coroa petista: a transposição das águas do Rio São Francisco, obra que deveria estar concluída há dois anos, pelo menos, vem sendo aditivada por novos contratos - vitaminados - e ainda não tem data certa para terminar. Assim como brilhava na Petrobras e no Governo do Rio de Janeiro.
     Todos esses tentáculos exibem o grau de dissolução das nossas instituições, atropeladas pelos interesses mais mesquinhos, vigaristas. Não foi à toa - nem por ser uma apologista da democracia e das eleições livres - que a Delta 'doou' uma fortuna para recentes campanhas do PT e PMDB. Ou alguém imagina que o dinheiro 'doado' tenha saído do bolso dos donos da empresa?
     Afinal, é também para esses fins que servem os tais sobrepreços (roubalheira pura e simples) e aditivos. As vergonhosas 'comissões' acertadas em desvãos de escada ou em encontros secretos deram lugar a uma indústria de canalhices, institucionalizada nos últimos nove anos.
     O assalto aos cofres públicos flagrado no Mensalão do Governo Lula renovou-se e adotou posturas mais profissionais. E explica a determinação da tal 'base governamental' em reduzir as investigações da CPI do Cachoeira e uma singela punição ao ainda senador Demóstenes Torres e, quem sabe?, uma pena leve para o contraventor, parceiro de tanta gente.
     Os advogados, sem dúvida, são experientes em lidar com malfeitores - especialmente o ex-ministro da Justiça de Lula, Márcio Thomaz Bastos. Os 'juízes' normalmente são - digamos - 'condescendentes' com seus pares. E ainda corremos o risco de ver um delegado ou outro transferido para uma fronteira distante.

 


sábado, 19 de maio de 2012

Marchas e contramarchas

     Marchei muitas vezes. Literalmente - no curso de Infantaria do CPOR-RJ, naqueles idos de 1967 -; como integrante ativo de passeatas; e cobrindo, já como repórter, diversas andanças pelas ruas do Rio. As mais pesadas, literalmente, foram, não há dúvida, as que realizei carregando o pesado equipamento que caracteriza o infante daqueles tempos. Eram marchas profissionalizantes, se é que posso chamá-las assim. Obrigatórias e com um fim específico.
     As mais emocionais e envolventes - e não há dúvida, também - foram as que marcaram o fim dos anos 1960 e início dos 1970. Também tinham objetivos definidos: protestar contra o regime militar, expor insatisfações, marcar posições, pedir liberdade.
     Foram atividades bem mais objetivas do que as duas marchas que infernizaram e ainda infernizam a vida das duas cidades mais importantes do país, hoje: a da maconha, em São Paulo, e a 'Marcha para Cristo', no Rio, na verdade, um ato discriminatório.
     Ambas foram autorizadas, é verdade, e obedecem ao princípio da liberdade de expressão conquistada ao longo das últimas décadas. A do Rio, liderada pelo pastor Silas Malafaia, de fato, foi dirigida contra a formação de famílias 'não-convencionais', através da união entre pessoas do mesmo sexo, um direito assegurado pela Lei e que deveria ser respeitado - não falo em aceitação -, especialmente por religiosos.
     Tenho restrições semelhantes à passeata paulista, formada principalmente por jovens. Não consigo vislumbrar algo de defensável na apologia de um comportamento que formalmente está associado ao crime. Maconha, que eu saiba, é uma droga proibida, só acessível por meios ilegais. E enquanto assim for, deve ser combatida. Nossa juventude poderia estar se dedicando a algo mais proveitoso. Talvez devesse olhar para trás, para entender o significado real de liberdade. E marchar por ela. 

Minha frase da semana

     "São duas evidências claras (as perdas de valor da Petrobras e da Vale) dos males que uma agenda político-ideológica pode fazer a um país e só reforçam uma das minhas convicções: quanto menos estado, melhor para todos."
     Extraída do texto 'O peso do Estado', do dia 17 de maio.

O fator Cavendish

     O texto principal da Veja, hoje, explica o imenso ódio que bandidos em geral, petistas e asseclas em especial, têm da revista e de todos os que não comungam com as pilantragens perpetradas em nome de um projeto de poder. Com o potencial gerado por uma tiragem superior a um milhão de exemplares, os fatos formatados nas suas reportagens repercutem acentuadamente e expõem os bastidores da enorme engrenagem de corrupção e pilantragens que se consolidou no país principalmente nos últimos nove anos dessa lamentável Era Lula.
     Imagino os esgares desses personagens deletérios ao lerem - todos eles compram a revista - as vigarices distribuídas ao longo da semana consolidadas, aprofundadas e - quase sempre - antecipadas, num caldo que sufoca. O impacto é enorme, doloroso, até por atingir uma camada mais esclarecida da população, que não se contenta com a - digamos - 'ligeireza' do Jornal Nacional.
     Particularmente, fico feliz em ter a possibilidade de ver que muito do que escrevo durante a semana - a partir da análise livre e descompromissada politicamente dos fatos que surgem diariamente - é corroborado. Como a minha indignação com a associação indecorosa entre um dos mais destacados petistas do Congresso, o deputado paulista Cândido Vaccarezza, e o governador fluminense Sérgio Cabral (PMDB).
     Ao manobrar para evitar a convocação e a quebra dos sigilos do governador do Rio de Janeiro e do presidente da empreiteira Delta, o lídimo representante da decência petista estava atuando, também, para preservar o esquema de poder que se instalou no país e que - ao que demonstram os fatos - é sustentado pela mais desenfreada e escandalosa parceria do público com a privada.
     O assalto aos cofres públicos e à dignidade executado no Mensalão do Governo Lula - prestes a ser julgado - foi substituído, ao ser descoberto, por um modelo mais simples e direto de roubalheira: a distribuição de dinheiro a partidos e políticos, através de empresas que executam trabalhos para os diversos escalões.
     Praticamente não há uma grande obra - é a CGU que diz - sem superfaturamento, sem o tal sobrepreço, eufemismo usado para designar o roubo mais canalha. Esse 'sobrepreço', pago por todos nós, é usado para distribuir benesses e dinheiro vivo entre partidos e políticos, para financiar campanhas e bolsos, quase todos companheiros.
     É assim que o Brasil vem andando. É verdade que a corrupção não é coisa nova, nem só nossa. Mas é indiscutível que a ladroagem foi institucionalizada nos últimos anos, sob o argumento 'ideológico' de estar financiando uma causa. Era a desculpa que davam os achacadores de empresas de ônibus de municípios paulistas comandados pelo PT, no começo dos anos 2000. Foi a desculpa espalhada por pilantras que se dizem de 'esquerda' para absolver o Mensalão e seus 38 ladrões formais (falta gente nessa relação).
     É a tônica do discurso de hoje, quando a promiscuidade entre um contraventor e diversos 'representantes' da sociedade descortina a possibilidade de a sociedade aprofundar sua fiscalização sobre as relação entre empreiteiras e governos. Não foi por outro motivo que o PT - com o apoio indecoroso de alguns dos poucos representantes da Oposição na CPI - arquitetou a manobra destinada a livrar o empresário Fernando Cavendish de investigações mais objetivas.
     Investigações que - como lembra Veja - desaguariam implacavelmente nas estreitas conexões entre a Delta, o ex-ministro e deputado cassado José Dirceu (contratado como 'consultor' pouco antes de a empresa decolar rumo ao infinito) e outros elementos da base. Já calcularam o potencial destrutivo de um empresário que, de um momento para outro, além de ver sua vida de prazeres e fausto ameaçada, experimenta o amargo sabor do abandono?
     A provável 'absolvição' - pela Comissão de Ética(???) da Câmara - dos três deputados citados nominalmente nas escutas policiais (sugerida pela Folha), perto disso tudo, é fichinha. Suja, imunda, mas bem pequena.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Altos e baixos

     Imaginemos a cena. O telefone toca na sala do ministro da Fazenda, Guido Mantega. Do outro lado, sua chefe, aos brados, pergunta o que está sendo feito para evitar a subida do dólar e da inflação. "Mas, presidenta (ele já está seguindo a nova lei), o dólar estava muito baixo e nós decidimos intervir para frear as importações e ...". Não houve tempo para completar a frase. Dois ou três berros depois a ligação é cortada.
     Ainda abalado, o todo-poderoso ministro manda o Banco Central fazer alguma coisa - seja lá o que for - para segurar a moeda americana. "Segunda-feira a gente volta a falar e a pensar qualquer coisa".
     De longe, leigo nesses mistérios insondáveis para simples mortais, é assim que eu vejo a política econômica brasileira: movida a impulsos, decisões paliativas, berros e socos na mesa, sem rumo e norte. Não encontro uma linha mestra que aponte para o crescimento sustentado, o maior remédio para qualquer país. Há pouco mais de um mês, a desvalorização do dólar - chegou a rondar R$ 1,60 - era apontada como fatal para nosso projeto de equilíbrio.
     E o governo mexeu no mercado. Hoje, faz exatamente o contrário. É claro que o Banco Central tinha que fazer alguma coisa. Essa disparada já começava a sinalizar problemas a curtíssimo prazo. Como a queda também apontava. Entendo que há sempre a necessidade de correções eventuais. Mas no nosso caso, a eventualidade é a regra. Falta consistência e clareza.
     A maré favorável - crescimento de 10/12% da China - está refluindo e expondo nossa extrema dependência e o risco de a crise mundial nos atingir mais rapidamente do que imaginava o Governo. Inflação alta e crescimento baixo (já se fala em PIB de 2,5%) são prenúncios de problemas.

Fiz, mas fui autorizado

     Fernando Pimentel, ainda ministro do Desenvolvimento e outras coisas, é um dos fenômenos da congregação petista dos últimos tempos. Mal-saído da prefeitura de Belo Horizonte e já envolvido na campanha presidencial de Dilma Rousseff, inovou e revolucionou o programa destinado a ganhar dinheiro fácil em palestras para um público interessado, na verdade, no que não é dito.
     Recebeu, da Federação das Indústrias de Minas Gerais, cujos associados tinham e fariam contratos com a Prefeitura, algo em torno de R$ 2 milhões para não dar palestras. É isso mesmo: recebeu essa bolada sem ter que abrir a boca um minuto sequer. Pelo menos, em tese, 'poupou' uma centena de pessoas de ouvir mesmices e palavras escritas por assessores. Evitou a chateação alheia e embolsou o pagamento.
     Agora, ministro 'da casa' (é assim que são considerados os petistas 'puros'), constrangido pela revelação de que usou um avião fretado por um empresário para se deslocar, da Bulgária para a Itália, onde falaria para outros empresários, em programação particular, afirma que não houve irregularidadea na sua ação.
     Segundo nos informa a Folha, a assessoria do probo ministro afirmou que ele obteve "expressa autorização" da Comissão de Ética Pública para aceitar o convite e a mordomia implícita. Então, estaria tudo resolvido. Essa saída me lembra uma máxima antiga, atribuída aos que defendiam o ex-governador paulista Ademar de Barros: rouba, mas faz.
     Estamos combinados assim. Pimentel não deu as palestras pelas quais foi pago, mas poderia ter dado. Assim como viajou às expensas de um empresário com evidentes interesses no governo, mas pediu permissão.

Negando os fatos

     O deputado federal paulista Cândido Vaccarezza, do PT é claro, mostrou, mais uma vez, hoje, que é um fiel e aplicado discípulo do ex-presidente Lula, aquele que negou o Mensalão, absolveu mensaleiros, prometeu investigar e tentou corromper o julgamento da companheirada. Flagrado em troca de mensagens 'indiscretas'com o governador Sérgio Cabral (PMDB-RJ), teve a audácia de negar o conteúdo, como se nós fôssemos idiotas.
     É a prática desenvolvida pelo PT ao longo dos últimos nove anos: negar, sempre - de preferência de maneira indignada, olhos rútilos, expressão cerrada -, sob qualquer circunstância, mesmo quando alguém é pego abrindo o cofre. Teoricamente, o sujeiro pode alegar que estava 'fechando', para evitar um assalto, mesmo que as notas escorram de seus bolsos. Tem sido assim.
     É o que, por exemplo, o deputado cassado e ex-ministro da Casa Civil José Dirceu vem fazendo desde que o esquema do Mensalão foi exposto. É o que repete o deputado federal João Paulo Cunha (não há dúvida quanto ao partido, mas vamos lá: do PT de São Paulo), cuja mulher foi filmada recebendo uma bolada no caixa do Banco Rural.
     Pois Cândido Vaccarezza, com toda a desfaçatez, teve a coragem de afirmar à Veja que não há blindagem e que "a mensagem (na qual tranquilizava o governador fluminense, garantindo que ele não seria convocado para depor na CPI do Cachoeira) não tratava do Cabral nem da CPI". Segundo ele, "há várias questões, de alianças políticas no Brasil inyeiro, alianças eleitorais, várias coisas".
     É verdade. Não há dúvida. Há "várias coisas" acontecendo por esse Brasil. Quase todas merecedoras de cadeia para seus autores.

Indignidade e promiscuidade

     Tenho repetido, ao longo dos meus textos, uma frase que sempre me ocorre quando os personagens são nossos políticos, especialmente - e disso não tenho a menor dúvida - os que são do PT e se alinham com ele, para montar a mais deletéria 'base de apoio' aos governos dos últimos nove anos. A frase é simples e direta: não há limites para a indignidade dessa gente.
     Da extorsão pura e simples de empresas de ônibus nas cidades governadas pelo PT em São Paulo, no início dos anos 2000, à atual promiscuidade das relações com o contraventor Carlinhos Cachoeira e empresas por ele dominadas, passando pelo Mensalão, o maior assalto aos cofres públicos nacionais de toda a história republicana brasileira.
     Os fatos estão aí, à disposição de quem se propõe a avaliá-los com independência. Nunca na história desse país tantos líderes políticos, ministros e funcionários dos primeiros escalões estiveram envolvidos em escândalos, desvios de verbas, chantagens e falsificações. Os últimos nove anos e meio vêm sendo marcados pelo comportamento mais indecente, pela desfaçatez mais absoluta, pelo aparelhamento do Estado, pelo avanço no dinheiro público.
     As relações escusas surgem a todo momento envolvendo a nata do Poder. Ministros, como Fernando Pimentel, do Desenvolvimento e muitas outras coisas mais, que ainda não explicou os ganhos com palestras que jamais foram proferidas e afunda em novas denúncias sobre suas estreitas e nebulosas relações com empresários. Soubemos, agora, que o ínclito ex-prefeito de Belo Horizonte (do PT, é claro) andou pegando carona em avião fretado por um empresário, quando já era ministro.
     Ontem, graças à perspicácia de um repórter cinematográfico do SBT, fomos brindados com a troca de mensagens entre o ex-líder do Governo na Câmara, o petista paulista Cândido Vaccarezza, e o governador do Estado do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, do PMDB, aliado de toda a hora do Governo e atirado ao centro das calamitosas relações oficiais com a empreiteira Delta, a queridinha do PAC e de nove entre dez governos das Regiões Centro-Oeste e Sudeste.
     Vaccarezza, um dos homens de confiança do ex-presidente Lula, o mentor 'intelectual' da CPI (não poderia dar certo, com essa sumidade mexendo os cordeis), diz a Cabral - com aquela linguagem típica do petismo - que ele não precisa se preocupar, "você é nosso e nós somos teu".
     Estava, assim, sacramentada a vigarice que excluiu Sérgio Cabral e outros governadores - entre eles o goiano Marconi Perillo, do PSDB - do risco da quebra de sigilos bancário, fiscal e telefônico. No mesmo pacote de venialidades, foram blindados a Delta nacional e seu presidente, Fernando Cavendish, amigo pessoal (ex-amigo, pelo que sugerem os fatos mais recentes) do governador fluminense.
     Como pano de fundo, a enorme preocupação em afastar as investigações do Governo, envolvido até a medula com a Delta, a grande tocadora das obras do PAC, esse pacote marqueteiro inventado pelos ideólogos do Planalto e que nada mais é do que a reunião de obrigações de qualquer governo. Com uma diferença crucial: são obras - como apontam relatórios da CGU - superfaturadas em até 350%.
     Eles se merecem, mesmo.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

CPI sacramenta um acordo indigno

     Depois de um começo de dia animador, a decepção com um acordo formatado, mais uma vez, entre quatro paredes, de um modo indigno, comum em Brasília. A tal CPI instituída, em tese, para esmiuçar as relações canalhas entre o contraventor Carlinhos Cachoeira, políticos dos mais diversos matizes, governos municipais, estaduais e federal, está decidida, mesmo, a ignorar o lamaçal anunciado. Nossos dignos congressistas (deputados e senadores) optaram por livrar governadores, colegas seus e a empreiteira Delta (em termos nacionais)do risco representado pela quebra de sigilo bancário, fiscal e telefônico. O pacote de bondades beneficiou até mesmo o empresário Fernando Cavendish, presidente 'licenciado' da filha pródiga do do PAC.
     É claro que essa vigarice foi comandada pelo PT e pelo PMDB, parceiros 'ideológicos' de toda hora, mas também contou com o desprezível apoio de representantes da oposição, certamente interessados em preservar os governadores goiano, Marconi Perillo, e do Tocantins, Siqueira Campos, ambos do PSDB. Esse acordão asqueroso livra, pelo menos por enquanto, também os governadores do Distrito Federal (Agnelo Queiroz, do PT) e do Rio de Janeiro (Sérgio Cabral, do PMDB), além dos beneficiários das tenebrosas transações entre a Delta e Governo Federal, através do PAC.
     É mais uma demonstração da tragédia moral que assola nosso país. A CPI, formatada por Lula - o mais medíocre presidente brasileiro de todos os tempos - para atingir a Oposição e esvaziar o julgamento da quadrilha do Mensalão de seu governo, assustou o Governo, principalmente quando foram divulgadas as relações espúrias - diretas ou indiretas - com a empreiteira Delta.
     Falando à Folha de São Paulo, dois dos próceres petistas, ambos paulistas, deram o tom da pilantragem que vão tentar vender ao país:  "Nós não vamos fazer devassa", disse o deputado Cândido Vaccarezza. "A generalização cheira a devassa", completou deputado Paulo Teixeira.
      E assim caminha o Brasil, no que parece ser uma inexorável marcha para a impunidade, para a aceitação de crimes e criminosos, para o conluio com malfeitores. Tudo com as bênçãos do Poder.

O peso do Estado

     Duas das mais representativas empresas brasileiras - A Petrobras e a Vale - estão pagando o preço do uso político, da ingerência do Planalto nas suas administrações e vocações. A enorme perda de valor de mercado, revelada hoje em O Globo, com base em avaliação de uma consultoria internacional especializada, acende um luz e emergência, especialmente quando está em jogo o patrimônio do país.
     A Petrobras, acossada pela comemorada alta do dólar, registrou uma considerável perda no lucro líquido e foi superada pela colombiana Ecopetrol no ranking das empresas com maior valor na América Latina. Isso, apesar de a Colômbia continuar vivendo momentos de conflagração interna, com o recrudescimento das atividades dos mistos de bandidos e guerrilheiros das FARCs.
     Entre outros argumentos e justificativas para a perda de R$ 31, 5 bilhões no seu valor, a Petrobras alinha a defasagem no preço do combustível, que estaria sendo mantido artificialmente, apesar de ser um dos mais caros do mundo.
     É uma admissão, atravessada, de incompetência e falta de planejamento. A tão propalada autussuficiência da extração de petróleo - usada sem o menor pudor pelo governo anterior - mostrou-se incapaz de atender às demandas de uma economia aquecida. Não há estrutura de refino para atender ao mercado interno, o que nos obriga a importar em quantidades cada vez maiores. A produção está parada em insuficientes 2,6 milhões de barris por dia. O Brasil continua dependendo dos ventos externos para mover sua frota.
     Quanto à Vale, a interferência na substituição da presidência, há um ano, estimulou a desconfiança na empresa, obrigada a atender não às suas prioridades, mas a uma diretriz estabelecida no Planalto, seu real controlador.
     São duas evidências claras dos males que uma agenda político-ideológica pode fazer a um país e só reforçam uma das minhas convicções: quanto menos estado, melhor para todos.