sábado, 31 de agosto de 2013

Pelo fim de Assad

     Sempre há algo a ser feito no mundo, incluindo intervir em países que comprovadamente solapam a democracia e promovem o assassínio de seus cidadãos. A forma de intervenção, talvez, deva ser repensada. A militar, como está sendo proposto agora pelos Estados Unidos, em relação ao governo genocida da Síria, deve ser a última, a opção quando já não há escolhas possíveis.
     Tudo, desde o início dos conflitos internos sírios, induzia a um fim trágico. Em algum momento, sabia-se, não seria mais possível admitir transgressões tão graves quanto a morte de homens, mulheres e crianças apenas e tão-somente por pertencerem a grupos rivais, que contestam o governo.
     O desastre iraquiano e o atoleiro do Afeganistão, certamente, contribuíram para a timidez americana e alimentaram a sensação de impunidade que estimulou o ditador e assassino presidente sírio, Bashar al-Assad. Além, é evidente, do peso em vidas e gastos de uma nova guerra.
     Para o bem ou para o mal - e eu acredito que, na maior parte das vezes seja para o bem -, os Estados Unidos, pelo protagonismo, não podem ficar alheios ao que ocorre no restante do mundo. A Segunda Grande Guerra e a divisão ideológica do mundo que sobreveio ao conflito soterraram a doutrina não-intervencionista, além - e também sabemos disso - dos interesses econômicos.
     Ditadores criminosos, como Assad, precisam ser lembrados, a todo momento, que não têm imunidade para cometer desatinos. Ignorar matanças, como as que ocorrem sistematicamente na África, por exemplo, é algo intolerável.
     É evidente que o papel de interventor caberia à ONU, mas esse organismo internacional vem perdendo credibilidade e força decisória. Que a intervenção seja breve, mas eficiente. E que devolva ao poivo sírio o direito de definir seu presente e orientar o futuro.

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

O atoleiro brasileiro

    Se levarmos em consideração o nível dos nossos políticos em geral, não há motivos para espanto com a decisão da Câmara de preservar o mandato do deputado federal Natal Donadon, condenado e trancafiado no presídio da Papuda por formação de quadrilha e desvio de dinheiro da Assembleia Legislativa de Rondônia. Há algum tempo o Legislativo brasileiro, em todos os níveis, perdeu o respeito da população.
     Segundo nos conta O Globo, o presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, lamentou essa decisão, que classificou de "impasse constitucional absurdo", e que poderá se repetir quando, afinal, o julgamento dos quadrilheiros do Mensalão do Governo Lula terminar, definitivamente. Não por acaso, os petistas condenados e seus parceiros, destaque para João Paulo Cunha, ajudaram a liberar o companheiro de 'vicissitudes'.
     É assim que grande parte da política e dos política funciona, à base de compromissos escusos, troca de favores deletérios, omissões, envolvimentos espúrios, corrupção. Lamentavelmente, essa parcela vem se mostrando majoritária na nossa vida pública, em detrimento da ala digna dos nossos representantes, que existe, sim, independentemente do matiz ideológico.
     Joaquim Barbosa, na declaração feita no Rio, onde estava para receber uma homenagem pela sua postura petica, ressalva a soberania do Congresso, mas adverte - com toda a firmeza - que "ele terá que conviver e lidar com as consequências desse ato". Infelizmente, ao que tudo indica, nenhum dos comparsas do deputado presidiário perderá um minuto sequer de sono.
     Dramas de consciência só surgem em seres dotados de caráter, dignidade. Não é o que os nossos representantes nos apresentam.
     Assim como é difícil conviver com a ideia de que um dos ministros da nossa mais alta Corte, o ex-funcionário petista Dias Toffoli, não se sentiu impedido de julgar processos envolvendo não a companheirada do partido, mas, sim, um banco ao qual deve uma pequena fortuna e que, graciosamente, decidiu reduzir a taxa de juros cobrada, como nos contam o Estadão e a revista Veja.
     Está cada vez mais difícil acordar e não lamentar esse período de trevas vivido pelo Brasil.

Histórias de Júlia e Pedro (59)

O 'menino-canguru'

     Não chega a ser uma história, completa, de vários parágrafos, mas vale por uma, certamente. O tema é a paixão de Pedro pela mãe, Flávia, que fica cada dia mais apurada. Há alguns dias, o moleque interrompeu um inusitado silêncio e perguntou:
     - Mamãe, por que nós não somos cangurus?
     - Porque somos humanos, Pedro. Você queria ser um canguru?
     - Sim. Para ficar dentro da sua bolsa ...

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Em má companhia

     O ministro Marco Aurélio Melo, na sua volúpia pelo protagonismo e por marcar suas diferenças com o presidente do STF, Joaquim Barbosa, aproximou-se perigosamente de dois advogados da causa dos bandoleiros petistas, os também ministros e seus colegas Ricardo Lewandoweski e Dias Toffoli. Tem sido assim, especialmente nessa fase de apreciação de recursos. Hoje, mais uma vez, estava ao lado da dupla companheira, na análise da tentativa do ex-ministro José Dirceu de evitar a cadeia.
     Não houve jeito. Para alívio da parcela decente da população brasileira, o plenário do Supremo manteve a condenação e novamente isolou o trio, obrigado a ouvir a explosão de revolta do decano da Corte, Celso de Mello, que voltou a externar seu repúdio aos que participaram do lastimável episódio do Mensalão do Governo Lula, o mais expressivo assalto institucional aos cofres públicos do País.
     Segundo Celso de Mello, o STF não estava "a impregnar a atividade política, mas a punir aqueles que, como o ora embargante, não conseguiram fazê-lo com integridade e honestidade". Não poderia ter sido mais objetivo. José Dirceu e seus asseclas agiram com desonestidade. E, por isso, merecem ir para a cadeia.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Diplomacia bananeira

     Nosso país anda mal, muito mal, mesmo. No plano interno, a lei e a ordem há muito tempo deixaram de ser relevantes. A economia passa por momentos desastrosos, fruto da incompetência de uma administradora lastimável. No campo das relações exteriores, passamos a nos alinhar, há algum tempo, com o que há de pior no mundo, destaque para Irã, Cuba, Venezuela e um par de ditadores africanos.
     Algumas recentes atitudes governamentais expuseram o nível do nosso declínio moral como nação democrática. Ao mesmo tempo em que estimulamos as agressões à blogueira cubana Yoani Sánchez, aceitamos calorosamente a presença do terrorista e assassino italiano Cesare Battisti. Expurgamos o Paraguai do Mercosul e lideramos a entronização da Venezuela, que jamais atendeu às cláusulas democráticas.
     Tratamos a Colômbia com reservas, mas apoiamos entusiasticamente os governos do Equador, Venezuela, Bolívia e Argentina, legítimos representantes da falta de respeito com as práticas democráticas, amantes da censura, inimigos da liberdade de imprensa.
     Pois agora, quando ensaiamos a única atitude corajosa e digna da nossa politica externa (garantir a incolumidade de um senador boliviano perseguido pelo governo), o mundo desabou sobre o Itamaraty, soterrando o agora ex-ministro Antônio Patriota. Essa é a lógica deletéria da turma do poder, que não contava com a reação categórica do diplomata Eduardo Saboia à condenação oficial à sua decisão de coordenar a fuga do político boliviano que estava abrigado na Embaixada Brasileira em La Paz.
     Imagino os esgares palacianos ao assistir à pronta resposta de Saboia, que não se deixou intimidar, como aqueles ministros que tremem de medo e choram quando repreendidos pela presidente Dilma Rousseff. Sobrou para Antonio Patriota, substituído pelo representante brasileiro da Organização das Nações Unidas, Luiz Figueiredo. A julgar pelas posições defendidas pelo Brasil, na sua luta obsessiva por um lugar de destaque no plano internacional, não devemos esperar muita coisa do novo chanceler.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

A caminho da prisão

     Delúbio Soares, o ex-tesoureiro do PT que tentou assumir toda a responsabilidade pela ladroagem no episódio do mensalão do Governo Lula, talvez esteja arrependido. Ele e seus comparsas apostaram na prevalência da tese do tal 'caixa 2', um crimezinho vagabundo que acarretaria - quem sabe? - apenas num singelo puxão de orelhas. Afinal, "todos" usariam esse artifício, segundo a versão do partido, na ânsia de nivelar por baixo o tamanho do assalto.
     A vigarice retórica não colou. Condenado à cadeia, na primeira fase do julgamento, o sofrível ex-dirigente petista viu, hoje, suas esperanças de escapar das grades ruírem. O Supremo Tribunal Federal manteve sua punição. Delúbio não contou, sequer, com a solidariedade dos dois representantes oficiais do seu partido no Tribunal, os ministros Ricardo Lewandowski e Dias Toffoli, mais preocupados com o futuro que de membros mais categorizados..
     Réu confesso - acreditou nos seus mentores ideológicos -, não havia escapatória. Como "negar o que não há para negar". Até mesmo o argumento do início da pilantragem, que poderia acarretar em uma revisão da pena, foi ignorado. Prevaleceu o entendimento anterior. Delúbio vai para a cadeia, mesmo, caminho que deve ser trilhado por seus parceiros no crime, o ex-ministro José Dirceu e o ainda e inexplicavelmente deputado federal José Genoíno.
     A turma dos bancos e da agência publicitária também já deve estar separando escovas de dente para enfrentar os rigores da prisão. A lamentar, a ausência de outros notáveis, que escaparam por falta de provas materiais e uma evidente e lamentável concertação política.

    

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Um governo sem limites

     Não achei graça alguma na suposta brincadeira do ministro da Educação, Aloísio Mercadante, sobre a contratação de professores estrangeiros para suprir a dramática falta de profissionais, destacada pela Folha. Falando a deputados, em audiência na Câmara, o ministro anunciou um etéreo programa semelhante ao 'mais médicos', e tentou ser engraçadinho ao fazer uma alusão aos cubanos que estão para desembarcar por aqui.
     É claro que seria algo absolutamente inadmissível, mas a contratação de médicos estrangeiros, como está se dando, também era inaceitável e está acontecendo. Nessa era que começou há dez anos e oito meses, tudo é possível, por mais estapafúrdio que pareça. O caso dos agentes cubanos que serão espalhados pelo interior do país é o exemplo mais óbvio de que não há limites para a desfaçatez oficial.
     Assim, eu me permito imaginar que, se não houver uma grita retumbante, a turma de Brasília pode pensar, sim, em trazer mestres cubanos e venezuelanos para doutrinar nossos estudantes, sob o pretexto de atender à demanda em regiões menos favorecidas.
     Nossa presidente, ao afirmar, no início do ano, que vale tudo em período eleitoral, deixou bem clara a filosofia oficial. Para ganhar eleição, não há limites de decência. O Mensalão do Governo Lula foi uma demonstração explícita do respeito que os atuais detentores do poder têm pelas instituições.

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Primado da incompetência

     A admissão formal do ainda e inexplicavelmente ministro da fazenda, Guido Mantega, de que não sabe onde "isso vai parar", referindo-se à escalada incontrolável do dólar em relação ao real, não deveria provocar tantas surpresas ou manchetes. Se ele soubesse, aí, sim, seria surpreendente. O ministro é um retrato da falta de rumos, conteúdo e projetos dessa Era Lula, que se aproveitou o quanto pôde do crescimento fenomenal da China e da valorização das commodities.
     Não é uma questão apenas e tão-somente cambial, que - garante ele!!! - estaria sob controle. Há, na verdade, uma grande indefinição sobre o que nosso país pretende fazer. O diagnóstico que aponta para a falta de projetos, de investimentos bem-planejados e boas escolhas vem sendo recorrente. Há algum tempo o mundo se desiludiu com o milagre brasileiro. Perdemos a credibilidade e estamos pagando por isso.
     Toda a estratégia montada sobre a base de responsabilidade fiscal em governos anteriores foi devastada pela ambição desmesurada de perpetuação no poder. Gastamos sem medida e sem pensar no amanhã, apostando nas condições favoráveis do mercado externo. A infraestrutura desintegrou-se. O custo Brasil cresce a cada dia. No lugar de estradas decentes e portos que funcionem, jogamos nossas cartadas em estádios de futebol.
     A corrupção enraizou-se de tal forma que tornou-se impossível administrar as chantagens, o afano dos bens públicos. A presidente, apontada como modelo administrativo, está imobilizada há dois anos e oito meses. Nada foi feito nesse país, a não ser contabilizar crises. Em toda a nossa história recente, talvez não tenha ocorrido uma coincidência igual de lastimáveis gestores públicos reunidos em um só ministério.
     A solução, a única encontrada pelo Governo de direito, é convocar o governante de fato, esse lamentável ex-presidente Lula, para resolver os conflitos surgidos no dia a dia, como agora, como nos revela Veja. Para controlar esse incontrolável ministro da Fazenda, a solução foi pedir ajuda ao que jamais foi universitário.

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Reencontrando a história

     Foi irresistível, confesso. Naveguei, sim, pelas páginas digitalizadas do jornal O Globo, ao encontro de alguns momentos que me marcaram na passagem pela Rua Irineu Marinho, nos anos 1970. Procurei, em especial, determinados acontecimentos, como a inauguração da Ponte Rio-Niterói (março de 1974), que eu cobri, desde a madrugada anterior, acompanhando a formação do 'grid de largada' para a primeira travessia, conversando com os motoristas que fizeram uma grande uma festa.
     Naqueles tempos, nossos jornais mais formais eram módicos em assinar reportagens. No O Globo, apenas alguns textos. Lembro que minha primeira matéria assinada no jornal do Dr. Roberto foi uma viagem à Argentina, em pleno governo Isabelita Peron, 'La Señora'. Eu deveria aproveitar as delícias das estações de inverno, para o caderno de turismo, mas acabei ficando mesmo em Buenos Aires, que efervescia.
    As velhas páginas de O Globo, nas quais eu me reencontrei, reavivaram, no entanto, a lembrança de outro dos momentos mais marcantes do jornalismo brasileiro, protagonizado pelo antigo e decente Jornal do Brasil, onde também tive o prazer de trabalhar por quase duas décadas.
     Nesse dia - 14 de dezembro de 1968 - eu ainda (ou já...) estagiava na Meridional, a agência de noticias que fornecia reportagens para os jornais, emissoras de rádio e tevês dos Diário Associados (O Jornal e Jornal do Commercio, aqui no Rio). Ganhávamos por um e trabalhávamos para algumas dezenas. Invenção diabólica do Dr. Assis Chateaubriand Bandeira de Melo.
     Nesse dia - o seguinte à edição do Ato Institucional Número 5, que mergulhou o país, de fato e de direito, em uma ditadura -, o JB fez uma primeiras página irrepreensível, um marco na resistência que iria marcar seus próximos anos. No alto da página, ao lado do título, dois quadrinhos exibiam a enorme capacidade criativa da grande equipe que fazia o jornal.
     Do lado esquerdo, a previsão do tempo, ressaltando que o ar estava 'irrespirável'. Do outro, uma lembrança que se mostraria absolutamente verdadeira, com o passar dos tempos: 'Ontem foi o Dia dos Cegos', alusão perfeita ao dia de Santa Luzia e que passou incólume pela censura que acabara de ser instaurada no País.

     PS: Esse texto é uma homenagem, também, ao Dia do Historiador, comemorado hoje.

domingo, 18 de agosto de 2013

Sobre desculpas

     Tenho lido, nos últimos dois dias, alguns brados que se propõem retumbantes contra o presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, exigindo que ele peça desculpas ao ministro Ricardo Lewandowski, a quem acusou de estar fazendo 'chicanas' para favorecer os bandoleiros condenados pelo assalto aos cofres públicos realizado no governo Lula. Isso, em nome do respeito à Corte, às relações entre ministros e a qualquer coisa a mais que possa ser usada contra Barbosa.
     Lewandowski, coitado!, surge no episódio como um simples defensor das leis, dos pobres e oprimidos que é tratado a pontapés por alguém destemperado. E haja lenço para enxugar as lágrimas derramadas pelo ministro ofendido. Pura vigarice retórica e tendenciosa. Com a desculpa de zelar pela integridade das relações no STF, a companheirada está, mesmo, é alimentando a fornalha acesa para cozinhar o processo do Mensalão e apresentar um 'prato feito' de pilantragens para o consumo da população.
     Por trás das críticas transparece, colossal, a determinação de usar tudo o que for possível para aliviar as penas dos quadrilheiros chefiados pelo ex-ministro José Dirceu (o ex-presidente Lula, acusado de ser o verdadeiro chefe, foi excluído do processo), especialmente os petistas. Não há uma palavra, sequer, sobre o comportamento juridicamente indigno de Lewandowski ao longo de todo o julgamento e nessa fase de apelações.
     Comodamente, os críticos de Joaquim Barbosa - que comete seus excessos, não há dúvida - esquecem tudo o que foi tentado pelo ministro indicado por Dona Marisa Letícia Lula da Silva, com a extremada colaboração do ex-empregado do PT, o atual ministro Dias Toffoli, aquele que não teve o menor constrangimento de participar do julgamento de seus ex-patrões e chefes políticos, quando deveria se declarar impedido, por razões, no mínimo, morais.
     Nas suas invocações contra Barbosa, determinados críticos ignoram vergonhosamente um fato recente que não pode ser dissociado do conjunto: a denúncia formal e documentada contra Lewandowski, que teria beneficiado o PT e a presidente Dilma Rousseff quando presidia o Superior Tribunal Eleitoral, ao qual também pertence. São fatos distintos? Não, não são. Fazem parte do mesmo pacote que provocou e provoca as reações indignadas de Joaquim Barbosa.
     É isso - defender petistas e governistas de modo geral - que, infelizmente para o País, Lewandowski vem fazendo seguidamente, ano após ano. Alguém poderá, até com certa razão, ponderar que o comportamento do ministro é subjetivo, que não se pode afirmar categoricamente que ele faz "chicanas", pela imponderabilidade da interpretação. Joaquim Barbosa, pela proximidade, e a maior parte da população decente desse país pensam diferente.
     Para mim, Lewandowski é quem deve desculpas ao Brasil.

sábado, 17 de agosto de 2013

A condenação de Lewandowski

     Costumo dizer, sempre que posso, que as páginas das cartas dos leitores são um ótimo indicativo da opinião majoritária da população que vai além do noticiário do Jornal Nacional. São espaços democráticos, que dão voz a insatisfações, solidariedade, críticas e elogios (menos presentes, é verdade ...).
     A página de O Globo de hoje é um reflexo incontestável do sentimento dessa população em relação não apenas ao novo incidente que envolveu os ministros Joaquim Barbosa, presidente do Supremo Tribunal Federal, e seu vice, Ricardo Lewandowski, mas ao foco central da desavença: a condenação à cadeia de uma quadrilha de assaltantes liderada por próceres petistas.
     Todas - insisto, todas!!! - as cartas sobre o tema são favoráveis ao presidente do STF, pois seus autores também identificaram no comportamento de Lewandowski a marca da "chicana", algo que ficou claro, para mim, no mesmo dia. Escrevi sobre isso, aqui no Blog, ainda na quinta-feira. Ontem, Veja deu destaque a essa mesma interpretação.
     É evidente - vou me permitir repetir a tese que venho defendendo há muito tempo - que o ministro Ricardo Lewandowski está exercitando, na mais alta Corte do país, um papel subalterno, partidário, incompatível com os preceitos mínimos de dignidade que devem marcar alguém que tenha chegado à sua posição.
     Jamais foi um juiz, e sim um mero e vulgar defensor dos criminosos que ainda infestam o partido e o governo e que foram responsáveis pela sua indicação para o Supremo. Fez o que pôde, durante o julgamento em si, no segundo semestre do ano passado, para tumultuar, criar factoides, agindo clara e vergonhosamente em favor dos bandoleiros. Nessa tarefa, é bom não esquecer, contou com a desfaçatez jurídica de outro ministro, Dias Toffoli, aquele mesmo que foi empregado do PT e do ex-ministro José Dirceu.
     Pode-se, eventualmente, criticar a forma encontrada por Joaquim Barbosa para apontar o desvio do colega. Talvez fosse possível evitar o desgaste de mais uma discussão pública. Mas entendo a reação e me incluo entre os que absolvem integralmente o presidente do Supremo, um homem indignado com a corrupção e com os atentados às nossas instituições.
     Seria muito exigir que Joaquim Barbosa tivesse um comportamento de lorde inglês ao assistir à renovação das manobras desse inacreditável 'Lewiandowski', que jamais desistiu da tarefa partidária que lhe foi atribuída. É para isso - livrar seus correligionários da cadeia - que ele foi indicado por ... Dona Marisa Letícia Lula da Silva, fato que jamais foi contestado.
     Esperar o quê, de alguém que chega a ministro do STF pelas mãos da mulher do ex-presidente?

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Lewandowsky ataca novamente



     Confesso, de imediato, que não assisti à sessão de hoje, no Supremo Tribunal Federal, do julgamento de recursos interpostos pelos bandoleiros condenados pelo assalto aos cofres públicos durante o Governo Lula. Nesse horário, estava às voltas com uma exigente prova de História Medieval, no curso de História da UFRRJ, um dos desafios desse retorno aos bancos universitários a que venho me submetendo, prazerosamente, até agora.
     Li que o presidente do Supremo, o íntegro Joaquim Barbosa, discutiu asperamente com seu desafeto declarado, o ministro Ricardo Lewandowski, aquele mesmo que ficou marcado definitivamente pela conduta deplorável na defesa especialmente dos quadrilheiros petistas, durante todo o julgamento, no segundo semestre do ano passado.
     Não precisaria ter avaliado os detalhes para ficar ao lado de Joaquim Barbosa, o único que tem a coragem de dizer, com todas as letras, que seu colega de Tribunal está ali, na mais alta Corte do país, cumprindo uma reles tarefa partidária, pagando pela nomeação, fazendo "chicanas", como destacou.
     Pois tem sido essa, exatamente, a conduta de Lewandowsky ao longo dos últimos tempos. Não apenas no recente julgamento do Mensalão. Antes, muito antes - de acordo com denúncia formal de um procurador do Tribunal Superior Eleitoral, onde também dá 'plantão' -, já vinha atuando para favorecer o PT e o Governo, desmoralizando a função que deveria exercer com isenção e nobreza.
     Hoje, ao defender um desses parceiros petistas de menor porte, tentando beneficiá-lo com um eventual novo julgamento, estava mirando - é tão óbvio!!! - nos companheiros cujos recursos serão apreciados. Para ele, essa gente que levou dinheiro por tabela (deputados e quetais dos partidos da base de 'sustentação' do Governo, esse saco de gatos ideológico que aceita qualquer um e qualquer coisa) não tem a menor importância. É apenas um meio para que ele alcance o fim desejado desde sempre: livrar o ex-ministro José Dirceu e seus demais companheiros do PT da cadeia.
     Raciocinar de outra maneira, tomo a liberdade de afirmar, é usar das mesmas armas retóricas deletérias que vêm sendo empregadas pela dupla Lewandowsky/Toffoli.

Reforço togado

     A tropa de choque togada do PT ganhou um reforço de peso, ao que indica a primeira aparição formal do novo ministro do Supremo Tribunal Federal, o carioca Luís Roberto Barroso, ontem, no primeiro dia da retomada do julgamento do Mensalão do Governo Lula, o maior assalto institucional aos cofres públicos já realizado nesse país, em todos os tempos. Um assalto que, para o nosso novo arauto da Justiça, não teve a dimensão que a sociedade entendeu, e nem foi do PT, em especial.
     Partindo de uma tese genérica aceitável - corrupção não tem matiz -, o novo ministro escorregou por uma indisfarçável passada de mão na cabeça da liderança petista da quadrilha que comprou alianças e distribui benesses entre correligionários, tudo em nome de uma causa que passa pela eternização no poder. Segundo o ministro, não houve um episódio de corrupção do PT, mas, sem, de corrupção, como tantos outros.
     Discursinho vagabundo, talvez preparatório de futuras ações 'lewandowskas', ou 'toffolicas'. A corrupção é um tumor que está espalhado por todos as agremiações políticas, não se discute. Está enraizada na trato diário dos governantes, de qualquer escalão e isso jamais esteve em questão. Mas chega ser deplorável usar esse argumento para minimizar a responsabilidade do partido oficial na bandalheira generalizada que tomou conta do país a partir, principalmente, do Mensalão.
     Ou o novo e preclaro ministro ignora que os bandoleiros condenados à cadeia e a pagar multas foram chefiados pelo ex-ministro José Dirceu (continuo com minhas dúvidas quanto ao fato de ele ter sido, de fato, o chefão)? Será que ele esqueceu que a responsabilidade pela coleta e distribuição do dinheiro roubado das Nação estava nas mãos de outros dois petistas de carteirinha, o presidente e o contador do partido, e beneficiou uma turma bem chegada ao poder?
     É evidente que nada disso é novidade para o novo ministro. Seu discurso, portanto, surge , para mim, como o primeiro gesto oficial de reverência ao partido e à presidente que possibilitaram sua chegada à mais alta Corte do país. Esse negócio de "todos roubam" é uma saída retórica indigna para personagens com responsabilidade face à sociedade.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Exemplos de uma época

     As duas principais matérias de hoje, de O Globo, remetem para os mesmos temas, recorrentes nos últimos dez anos, sete meses e 14 dias: roubalheira e desperdício de dinheiro público. O grande destaque do noticiário é a constatação, formal, mediante números, de que o tal trem-bala entre Rio, São Paulo e Campinas, anunciado com pompa pelo atual governo - algo que sequer materializou um dormente sequer - já está custando algo em torno de R$ 1 bilhão.
     Só de olhar esse número podemos imaginar a dimensão da vigarice. É, mais ou menos, o quanto custou o novo Maracanã, que já foi escandalosamente caro e está lá, vazio, mas está. E sequer estou discutindo a necessidade do tal trem, que, na minha visão, será (se algum dia virar realidade) algo absolutamente elitista, em função das tarifas estimadas. Mais bem faria o governo se investisse no aprimoramento das redes ferroviárias já existentes e na recuperação de ramais abandonados pela febre rodoviária.
     O conceito de trem-bala é excelente, não resta dúvida. Quem já teve o prazer em viajar em algum deles, ao redor do mundo, provou seus benefícios, ou seu custo-benefício. Mas nesse mundo de moderno, o estado já oferece uma excelente estrutura de transportes paralela. Não é bem o que acontece por aqui.
     O outro tema de destaque de hoje é a volta do julgamento dos recursos interpostos pelos quadrilheiros do Mensalão do Governo Lula. O ministro Gilmar Mendes, ontem, deu um aviso aos meliantes, ao afirmar que, embora respeitando o procedimento, toda essa tentativa de reversão das condenações não passa de algo protelatório. As decisões, garante, não serão reconsideradas.
     É o que espera a parcela majoritariamente digna da sociedade brasileira. Um eventual afrouxamento das condenações seria encarado como mais um momento de fraqueza institucional, reforçando a crença de que a Justiça só atinge os menos poderosos. Não há justificativa para abrandamento de penas. O processo foi exaustivamente esmiuçado e democraticamente exposto à sociedade.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Os bom ares que chegam da Argentina

     Afinal, uma boa notícia nessa decadente América Latina - com as exceções que confirmam a regra. O Estadão nos informa que os argentinos começam a se libertar dessa lastimável Era Kirchner. O alento vem dos resultados das prévias das eleições para o Legislativo. A turma da Casa Rosada, aninhada em uma tal de Frente para a Vitória, despencou de 54% dos votos, obtidos na última eleição, para apenas 26%, um número sofrível especialmente para quem tem o controle do cofre e da caneta públicos.
     Foi, segundo destaca o jornal, o resultado da crescente insatisfação popular com a incrível sequência de escândalos (denúncia de corrupção em todos os escalões oficiais), incremento da criminalidade e forte alta da inflação, fatores que vinham sendo contornados pelo Governo.  
     Como consequência imediata dessa derrota retumbante, surge o quase inevitável cancelamento do projeto de manter dona Cristina - esse arremedo de Evita - no poder por mais um mandato, o terceiro consecutivo.
     Só isso já seria motivo de comemoração no mundo decente e que consegue articular algum pensamento que fuja da medíocre retórica dessa turma 'bolivariana' que se alastrou pelo nosso continente. A lamentar, no entanto, o fato de, no nosso vizinho, a oposição representar um pouco mais do mesmo.
     Essa notícia deve tirar o sono de muita gente aqui no Brasil, em virtude das inegáveis coincidências fáticas. É verdade que nossa ´presidente conseguiu respirar mais aliviada, depois da última rodada de pesquisas. Mas continua com o pescoço ameaçado pela onda de insatisfação que, embora tenha refluído, pode voltar a qualquer momento, na forma de tsunami.
     Bastaria, por exemplo, que a 'suprema tropa de choque' conseguisse salvar a quadrilha de bandoleiros petistas e assemelhados da cadeia.

sábado, 10 de agosto de 2013

Lewandowski, sempre ele ...

     Essa Veja ... Lá vem a revista, de novo, mostrar bandalheiras dessa gente que está no poder há dez anos e oito meses. A matéria principal da edição desse fim de semana é destrutiva. Com base em depoimentos formais de um auditor do Tribunal Superior Eleitoral, surge, impávido colosso de adesismo e falta de compostura, o ministro-advogado da quadrilha de bandoleiros que assaltou os cofres públicos quando do episódio que ficou conhecido como Mensalão do Governo Lula.
     Ele mesmo, Ricardo Lewandowski, aquele ministro do Supremo Tribunal Federal que não podia mais ir a um restaurante sem sentir o repúdio da população. Segundo Veja, o indicado pela sra. Marisa Lula da Silva (suas famílias são amigas ...), usou seus poderes na Justiça Eleitoral, na qual também está assentado, para manipular relatórios que apontavam a roubalheira petista em 2003 (início do Mensalão) e, mais tarde, as 'traquinagens' da campanha da atual presidente da República. No primeiro caso, salvou o PT da degola, mas não conseguiu evitar a condenação posterior dos principais dirigentes.
     No segundo, talvez ainda mais grave, Lewiandowski, teria manipulado pareceres técnicos que reprovavam categoricamente as contas da campanha de Dilma Rousseff. Contas rejeitadas, não haveria a posse. Afinal, é isso que diz a lei. Como quem tem apadrinhados sempre consegue abrir caminhos na vida, os pareceres desapareceram e o Brasil continuou a ser dirigido pelo mesmo grupo que institucionalizou a devassidão nas relações entre o público e o privado.
     Alguma surpresa? De fato, nenhuma. Os escândalos são a tônica dessa lastimável Era Lula. Tão grave quanto eles - os escândalos recorrentes -, só mesmo a mobilização de todos os meios para abafá-los, cercar e proteger seus protagonistas, explorar recursos de marketing para desviar o foco da opinião pública. É desse malabarismo que ainda sobrevivem o PT e suas lideranças mais proeminentes.
     De alguma maneira, sobrevivemos a essa quadra vergonhosa da nossa história. As manifestações de junho deram o sinal de que nem tudo está perdido. Há chances de o país se reencontrar, passando, inexoravelmente, pela crítica implacável das ignomínias praticadas em nome de uma causa que se perdeu no tempo.
     Ainda bem que exercemos, por aqui, o direito à informação, à liberdade de expressão. Discussões como essa, que envolve a dignidade dos atuais governantes, são decisivas. Por isso a democracia, na sua expressão mais ampla, é tão duramente atingida nos discursos e programas do grupo político majoritário. Por isso, a luta pela censura, visível na fixação petista no tal 'controle social da mídia'.
     Mídia boa, para essa gente, é a 'ninja'. Ou a de Cuba.

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Desmonte institucional

     Nossas instituições estão muito perto de falir, inexoravelmente, devastadas pela desordem, pelo caos, pelo desrespeito à ordem natural. Por mais frágeis que sejam, por mais que estejam engolfadas nesse lamaçal que afoga política e políticos, em especial, não posso deixar de repudiar o atropelo dos preceitos legais, expresso pelas invasões, ocupações e depredamento das casas legislativa e judiciária, principalmente.
     Olho para nossa - dos cariocas - Câmara de Vereadores e claramente não me vejo representado. Vou além: fico envergonhado ao ser obrigado a admitir que nós, a população, os elegemos. Mas nem por isso vou me associar a desordeiros, obviamente filiados a partidos políticos que tentam impor suas doutrinas através de pontapés. Essa gente, ligada a projetos políticos personalistas não tem o menor compromisso com as regras democráticas.
     No lugar de denúncias e do convencimento mediante o debate, oferecem pedradas e agressões. Por trás de tanto 'envolvimento ideológico' surge, sem sombras, o perfil de personagens sem representatividade, sempre dispostos a aproveitar as possibilidades abertas pela democracia para pisotear constituições.
     Não é quebrando vidraças ou costelas que um país sai de um lamentável estado letárgico para um movimento de renovação e purificação. Ao contrário. Cada pedra portuguesa arrancada das calçadas e atirada contra uma vitrine representa um passo atrás no processo de desenvolvimento.
     O caos e a baderna só interessam aos que desprezam a potencialidade das democracias. O 'manifestante' que tenta se impor pela estupidez é um militante da exceção. Ao escoicear o adversário, quando deveria vencê-lo pelo argumento, pelo exemplo, antecipa o que faria caso estivesse no poder.
     Tomo a liberdade de insistir: não é assim que vamos construir um país decente.

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Há mais de uma pergunta no ar

     É claro que eu me alio aos muitos que querem saber o que aconteceu com o pedreiro Amarildo, que desapareceu aqui no Rio, logo depois de sair de um posto policial. As novas versões para o caso estão transbordando nos nossos jornais e revistas, destaque para Veja, que tem mais uma excelente matéria de Leslie Leitão, de fato um repórter vocacionado para a investigação, para a fuga da rotina, do trabalho fácil.
     Talvez, a partir de agora, quando se vislumbra a possibilidade real de o pedreiro ter sido morto por traficantes, em represália a algum problema que envolve também sua mulher, haja uma debandada na bancada da indignação dirigida apenas e tão-somente a um determinado grupo, no caso, a polícia. E, aqui, devo ressaltar as exceções, que existem e sou o primeiro a reconhecer.
     Algo semelhante acontece, também, quando o assunto envolve bandalheiras oficiais e oficiosas. A turma que sai, indócil, pelas ruas, atirando pedras nos governos 'conservadores e/ou neoliberais' é a mesma que recolhe as baterias quando o alvo é o grupo de frente dessa lastimável era política que se abate sobre o Brasil há dez anos e meio.
     As últimas manifestações, aquelas apropriadas pelos profissionais do protesto, são a maior prova do estelionato ideológico que movimenta muitos atos supostamente libertários. Não vi, por exemplo, uma faixa da UNE, da CUT ou do MST pedindo rigor nas punições aos quadrilheiros envolvidos no Mensalão do Governo Lula, o maior assalto institucional aos cofres públicos já registrado nesse país.
     Também não consigo ver mobilizações para discutir as relações escandalosas do ex-presidente com a ex-chefe de gabinete da Presidência da República em São Paulo, Rosemary Nóvoa. Aliás, acho que poucos sequer lembram dessa senhora e da sua estreita afinidade com o grande senhor petista.
     Sinto falta de faixas perguntando, por exemplo, 'onde está Lula', que foge de entrevistas há quase um ano. Ou de questionamentos à nossa presidente, que faz e desfaz, diz e desfiz, afirma e desmente com a maior naturalidade, como se tratasse com imbecis.
     Enfim. Sinto falta de manifestos independentes.

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Desmoralizando as manifestações

     Setenta 'gatos pingados' estão infernizando, há algum tempo, a vida do paulistano que é obrigado a passar pelo centro da cidade. Simplesmente fecharam a Avenida Paulista para, segundo a Folha, pedir a saída do governador Geraldo Alckmin e a desmilitarização da Polícia ... Militar. Para não perder tempo, admitamos, sem discutir, que as duas reivindicações são justas e procedentes. E daí?
     Por mais meritórias que sejam as proposições, não há a mais remota justificativa para que um bando de manifestantes se ache no direito de prejudicar toda uma coletividade. Isso é a antítese dos preceitos democráticos. Esse grupo está literalmente atropelando o direito de milhares de semelhantes, em nome da sua - dele, grupo - liberdade de manifestação.
     Essa absoluta incongruência está se transformando na maior aliada dos alvos de qualquer que seja a manifestação. É praticamente impossível a alguém medianamente esclarecido se alinhar com essa exorbitância. Assistimos a uma extrema e inócua vulgarização do protesto, a um desfile de meros baderneiros que empunham algumas bandeiras para justificar sua falta de responsabilidade cívica.
     As imagens são lastimáveis. O grupelho, mascarado, interrompendo o trânsito e a polícia acompanhando, ao lado, temerosa de impedir e, alegadamente, garantindo a liberdade de manifestação, quando, na verdade, está se nivelando no desrespeito aos direitos.
     Para que o enredo desse pastelão fique completo, só faltam o quebra-quebra de bancos e revendas de automóveis e a consequente farta distribuição de bombas de gás e balas de borracha.
     O Brasil dessa lastimável era que já dura dez anos e meio está conseguindo, até, desmoralizar a instituição das manifestações populares.

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Um presidente 'doidão'

     Por mais que eu tente, não consigo imaginar (ou aceitar) a existência de um país que produza qualquer tipo de droga, formalmente. Sabemos - ou pelo menos eu acho que sei - que a Bolívia é, no mínimo, condescendente com a indústria da cocaína, sob o argumento de que o consumo de folha de coca está enraizado na cultura da nação. Mas nem mesmo Evo Morales ousou propor a institucionalização de um 'mercado do pó'.
     O caso uruguaio - guardadas as proporções maléficas que existem entre o consumo de cocaína e o de maconha - é inusitado. Um governo se propõe a plantar e vender maconha, 'só' para seus cidadãos, que também poderiam cultivar seis plantas em casa, ressalta.
     Para isso - e não há como fugir dessa constatação -, teria que investir em fazendas, equipamentos, mão de obra especializada (técnicos capazes de garantir a pureza das plantas), em uma rede de distribuição e na fiscalização do mercado, para evitar que estrangeiros se aproveitassem das 'facilidades'.
     Custo a acreditar que esse tipo de proposta tenha partido - como partiu, eu sei! - de um governante com a responsabilidade inerente a um presidente da república. E que essa ideia tenha prosperado no poder Legislativo, como nos informa Veja.
     Certamente seria muito mais barato e saudável que procurasse sensibilizar seus jovens (os grandes usuários, segundo reconhece o Governo) para os malefícios do uso de drogas, de qualquer droga, incluindo nesse pacote as que já são lícitas.
     Não estou defendendo - é bom que fique bem claro - a criminalização do dependente, sua prisão. Dependente químico - qualquer que seja a 'química' - necessita de tratamento, jamais de incentivo ao mal que o acomete.
     Não por acaso, a maioria da população uruguaia, como reconhece o próprio José Mujica, está contra esse projeto. Não por ser um povo de velhos, como diagnosticou o presidente, mas por temer pelo futuro de seus jovens filhos e netos em um país de maconheiros.

domingo, 4 de agosto de 2013

Sobre assaltos aos cofres públicos

     A Folha divulgou mais uma demonstração explícita de desrespeito às normas mínimas de decência que devem reger a vida pública, em especial de quem deveria zelar pela lisura, como juízes. No caso específico da reportagem, o personagem da vez é o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Teori Zavascki, quando ainda pertencia ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), um 'viajante' inveterado, de acordo com levantamentos feitos pelo jornal a partir de dados oficiais.
     Em pouco mais de três anos, o ministro fez inacreditáveis 164 viagens pagas - é claro!!! - com dinheiro público, aquele que resulta dos nossos impostos. Os números são impressionantes. O total de gastos, por exemplo, chegou a R$ 176 mil, dos quais R$ 128,3 mil em passeios sem justificativa formal. A Folha chega a detalhes, lembrando que o ministro é chegado a viagens no carnaval.
     Legalmente, não houve atropelos. Os ministros do STJ, assim como de outros tribunais, têm direito a uma cota mensal de R$ 48 mil em passagens aéreas. Podem gastar à vontade. Algo muito semelhante ao que ocorre nos ministérios e no Congresso, cujos membros dispõem ou de dinheiro fácil, ou de aviões da FAB para seus deslocamentos.
     Os recentes casos envolvendo os presidentes da Câmara e do Senado e ministros desse lastimável governo deram uma ideia bem aproximada da farra com recursos da Nação. Por qualquer motivo, aciona-se a Força Aérea, que deveria existir, apenas, para preservar as instituições. Sem falar nas outras e absurdas verbas para tudo o que se possa imaginar.
     Essa turma encastelada - infelizmente - nos três poderes é insaciável. Os salários, que já são altíssimos, praticamente quadruplicam com as verbas extraordinárias, diretas ou indiretas. Um verdadeiro acinte, uma agressão à população decente.
     Tenho sido recorrente - reconheço! - ao afirmar, em tom de lástima, que, com raríssimas exceções, nossos governantes (e englobo nesse pacote todos os que têm o poder de interferir nas nossas vidas) servem-se do País, quando deveriam servir a ele.

sábado, 3 de agosto de 2013

Um 'sonho' companheiro

     Leio as notícias sobre a sétima 'reeleição' de Robert Mugabe para a presidência do Zimbábue e fico imaginando a inveja galopante e companheira que deve estar acometendo nossos atuais - 10 anos e meio!!! - detentores do poder. O sujeito não larga o osso desde 1980. Mais longeva, acho, só mesmo a ditadura personalista dos irmãos Castro, impávidos colossos do desafio às liberdades, uma referência para nossos mandatários.
     A diferença apontada pelas 'urnas' (61% dos votos, contra 39%!!!) dá o ar de seriedade a um atentado a um dos princípios básicos de uma democracia, que é o da alternância de poder. Confere um certo tom de dignidade: "Houve disputa, estão vendo?", parece dizer a publicação oficial do Comitê Eleitoral do país, contestado veementemente pela oposição. Na verdade, uma oposição que seria como 'mais do mesmo', que teve como candidato o premiê Morgan Tsvangirai, como destaca a Folha.
     Não por acaso - nunca é por acaso ... -, o representante brasileiro nas eleições, um dos observadores independentes, o diplomata Antônio Carlos de Souza Leão, lotado na embaixada em Pretória, na África do Sul, referendou o processo, classificando-o de "tranquilo e bem organizado". Como se fosse possível apoiar algo ou alguma coisa que institucionaliza a eternização de alguém no poder.

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Os inimigos públicos

     O 'manifestismo' está se transformando no maior inimigo das reivindicações por mais decência e respeito na vida pública. Embora algumas cobranças sejam justas, como a que exige respostas para o desaparecimento de um operário na favela da Rocinha, a maior parte das últimas mobilizações tem gerado repulsa na média da população.
     Ninguém suporta, mais, assistir às cenas de quebra-quebra e estupidez como as que vêm se repetindo especialmente aqui no Rio e em São Paulo. Não é possível que esses desajustados que destroem obras de arte e bens públicos tenham alguma sensibilidade em relação ao momento em que vivemos. Só posso olhar para essa gente e vislumbrar inimigos a serem neutralizados, pelo mal que produzem à democracia que custamos tanto a institucionalizar.
     Se essa turma acredita que, ao destruir, está construindo alguma coisa - ou alguma candidatura, como é o que me parece -, pode esquecer. A clara afinidade desses baderneiros com determinados partidos mais prejudica do que ajuda, não tenho a menor dúvida.
     Parece, no entanto, que persiste a aposta no 'quanto pior, melhor'. Não leio ou escuto qualquer reação do PT e do PSTU, por exemplo, contra os desmandos dessas tropas de choque da ignorância, o que caracteriza um comportamento indigno, de quem tenta fingir distanciamento, mas contabiliza eventuais lucros.
     Reféns da sua própria covardia e ineptos, nossos governantes ainda não definiram a estratégia de combate ao vandalismo que vem afogando nossas principais cidades, com as seguidas exibições de intolerância, arrogância e boçalidade desses grupos extremados.