Ninguém jamais vai me ouvir ou ler defendendo golpes contra
governos eleitos democraticamente, como o atual e, infelizmente, próximo. A
grande arma para derrubar, em especial, presidentes incompetentes e medíocres é
o voto, a cada quatro anos. Estendo essa posição até mesmo em relação a
governantes que usam os meios mais deploráveis e canalhas para manipular a
população, principalmente os menos assistidos, como ocorreu na última eleição.
Cabe aos que se opõem a essas táticas lastimáveis conscientizar o eleitor,
mostrar que está sendo manipulado por pessoas sem escrúpulos, capazes dos atos
mais indignos.
Não resta dúvida que a população menos esclarecida e mais
necessitada vem sendo manipulada de maneira torpe. Instrumentos de redução da
miséria, que não pertencem a qualquer partido político, mas a governos, foram e
continuam sendo usados por chantagistas, por pessoas desclassificadas. O
discurso vagabundo do “eles vão acabar com isso e aquilo” é o único ‘argumento’
de campanhas sórdidas.
Há algum tempo, estabeleci um paralelo entre o uso ‘político’
de programas assistenciais e a distribuição de dentaduras no sertão dos velhos coronéis
apontados como referências do populismo mais vergonhoso, da manipulação de
almas, da exploração dos necessitados. Pragmaticamente, entretanto, reconheço
que essas armas fazem parte do arsenal ‘ideológico’ de grupos como o que está
no poder. Cabe a nós, sociedade decente, exibir o reducionismo dessa prática
nebulosa. E temos mais quatro anos pela frente.
Tudo isso não invalida, entretanto, minha esperança de que
os que vêm empolgando o poder há doze anos e que foram reeleitos para mais
quatro devem, sim, ser expostos, cobrados, denunciados sem tréguas. O esquema
de assalto à Petrobras e outras empresas públicas deve ser investigado
profundamente, até que não restem entranhas escondidas.
No Mensalão do Governo Lula, até então o mais volumoso
achaque já realizado no país, alguns nomes foram poupados, em benefício da
estabilidade nacional. Essa postura mostrou-se perdulária. A impunidade do
principal responsável por todo o esquema ilícito gerou a confiança empregada
nessa nova empreitada de malfeitos. Uma empreitada teoricamente mais
sofisticada, com profissionais do ramo da canalhice.
Ninguém contava, entretanto, com a coragem e independência
de um juiz do Paraná. Dessa vez, não haverá desculpas ou subterfúgios. Pelo que
ficamos sabendo, graças à independência de nossos jornais e revistas, toda a
desfaçatez pública está documentada e registrada. Valores pagos, números de
contas bancárias no exterior, extratos, recibos.
Escaldados pelo exemplo do
publicitário mineiro Marcos Valério, o único a ser condenado, de fato, à cadeia
(mais de 40 anos de prisão), dois dos operadores da roubalheira companheira
decidiram contar tudo, em troca de benefícios legais. Outros ainda podem seguir o mesmo caminho.
Não é hora de golpes, jamais foi. Em uma democracia como que
a que almejamos ser, a grande arma para expulsar criminosos do poder, excetuando o voto, é a Justiça.