sábado, 28 de abril de 2012

Vitória da segregação

     A página de cartas de O Globo, hoje, é uma demonstração bem clara do repúdio do leitor médio brasileiro à aprovação do sistema de cotas nas universidades. Não há uma, sequer, no entanto, que possa ser considerada racista, segregacionista ou elitista. Treze leitores expõem com objetividade a sensação de que o Supremo Tribunal Federal ignorou o princípio básico da Constituição - todos são iguais perante a Lei - e instituiu, oficialmente, o apartheid no país.
     Uma amiga querida e a quem respeito muito intelectualmente, lembrou, em conversa recente, que, infelizmente, há muitos que são 'mais iguais', o que justificaria a adoção de salvaguardas, de tratamento diferenciado para negros e seus descendentes. Concordo com a tese, mas não com o resultado. Ao institucionalizar o tratamento diferenciado, em função da cor da pele, nossa mais alta corte perpetuou, ao meu ver, o estigma, sem exigir o cumprimento da Lei maior: igualdade de oportunidades para todos.
     O que deveria estar em discussão - a enorme segregação social - passou ao largo dos debates no STF, pontilhados, como sempre, pela colossal tendência ao vedetismo dos ministro, egos superinflados, togas jogadas 'casualmente' sobre os ombros, cabelos (os que os têm) gelificados.
     Nossos seguidos governos - por 10 a 0 - foram absolvidos do abandono a que relegaram o ensino fundamental, mergulhado num atoleiro há algumas décadas. A responsabilidade pela segregação foi atribuída à sociedade branca, e não à histórica desídia dos governantes (não podemos esquecer que o sistema de escravidão não é exclusividade de brancos). É como se o STF estivesse dizendo: "Não é preciso lutar por investimentos sérios na educação de base. O diploma de doutor está garantido".
     A decisão oficializa, agora sim, a discriminação. Cada negro que entrar em uma universidade será olhado de maneira diferente, avaliado pela cor, não pela capacidade. É um retrocesso na luta pela igualdade, que passa inapelavelmente pelo acesso a uma educação de qualidade, a única forma de reduzir o abismo que marca nossa sociedade. Acho que foi uma vitória da segregação.
     Mas foi uma decisão democrática e, como tal, deve ser respeitada por todos. Sem discriminação.

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