quarta-feira, 18 de abril de 2012

Relações promíscuas

      O Globo nos conta hoje que o deputado federal João Paulo Cunha, do PT de São Paulo, um dos 38 acusados no processo do Mensalão - o maior (até agora) assalto oficial aos cofres públicos, realizado no primeiro governo Lula -, andou circulando por gabinetes de ministros do Supremo Tribunal Federal, às vésperas do início do julgamento de seus crimes.     
     Não há justificativa moral para esse procedimento, que lança - de algum modo - uma torrente de desconfianças no desfecho do caso. Por princípio, tendo a acreditar na dignidade dos integrantes da nossa mais alta corte de justiça. Mas sou humano o suficiente para temer as consequência dessa intervenção, especialmente quando ficamos sabendo que um dos ministros visitados, José Antônio Dias Toffoli, é egresso das fileiras do PT e teve envolvimento funcional direto com o ex-ministro da casa Civil, José Dirceu, apontado pelas Procuradoria Geral da República como o "chefe da quadrilha" que roubou o país.
     Esses encontros - dois ou três confirmados e outros tantos solicitados - ferem os princípios exigidos em situações semelhantes e reavivam as desconfianças - humanas, repito - sobre a isenção de magistrados indicados diretamente por um governo interessado claramente em abafar o maior escândalo vivido pelo partido que lhe dá sustentação. Especula-se - e a reportagem nos lembra isso - que o ministro Dias Toffoli pode se declarar impedido, justamente por suas estreitas ligações com a maior parte dos acusados.
     Particularmente, prefiro que ele exiba, no julgamento, suas convicções jurídicas, fundamente seu voto, seja ele qual for. O Brasil não merece dúvidas quanto à lisura dos seus mais destacados magistrados. Assim como não merece que esse tipo de encontro seja realizado.

     PS: Para avivar a memória. João Paulo Cunha, quando ainda era presidente da Câmara, foi apanhado com as duas mãos enterradas no lamaçal do Mensalão. Sua mulher foi flagrada recebendo R$ 50 mil, em diheiro, em uma agência do Banco Rural de Brasília. Compelido a se explicar, João Paulo alegou, entre outras coisas mirabolantes, que a esposa tinha ido à agência pagar a assinatura da tevê. Desmentido, enredou-se em outras versões.
     Em depoimento à Polícia Federal, na época, uma diretora do grupo do publicitário mineiro Marcos Valério (acusado de ser o operador do Mensalão) afirmou que o deputado recebera uma ajuda total de R$ 200 mil. João Paulo, contando com a cumplicidade de seus pares, foi absolvido do processo de cassação de seu mandato e conseguiu se reeleger pelo PT. Por mais absurdo que pareça, apesar do peso das acusações, ele é o presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara.

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