domingo, 22 de abril de 2012

Manhã de fogos, dia de ócio

     Já sei, hoje, que serei acordado amanhã, antes das seis horas, com uma tonitroante salva de fogos, uma alvorada festiva, em homenagem a São Jorge ou a Ogum, não sei bem. Dizem por aí que os dois personagens do absurdo feriado municipal são a mesma pessoa. O nome invocado depende, apenas, do terreiro onde ele, o Jorge da Capadócia, é reverenciado.
     Não tenho restrição alguma às religiões, seitas e afins. Não sou religioso, mas passei minha infância indo a missas, estimulado por minha mãe, católica. Em tese, elas - as religiões - pregam o bem, ajudam a transformar e recuperar pessoas. Mas não posso deixar de registrar a incoerência de mais esse dia de folgança, restrito a essa cidade que já foi bem mais maravilhosa. Afinal, vivemos, ou não, em um Estado laico? A tradição de muitos séculos e nossos componentes históricos até podem explicar alguns outros feriados religiosos. Mas já não justificam.
     A Semana Santa, por exemplo, transformou-se há muito tempo num aguardado período de viagens festivas que nada tem a ver com sua - digamos - proposta. O recato que ainda existia há quarenta, cinquenta anos, desapareceu, atropelado pelo século 21. Ficou apenas a certeza de mais um período de ócio, churrascada, cervejada, engarrafamentos munumentais nas estradas e uma centena de mortes em acidentes, esse, um verdadeiro calvário.
     No caso específico do feriado de amanhã, nossos vereadores aprovaram apenas um festival pirotécnico, de olho nas urnas. Não sei bem quantos santos existem (há, pelo menos, um para cada dia do ano, com certeza). Já imaginaram - apenas num exercício - se todos fossem agraciados com um feriado?
     Esse tipo de comemoração, embora discutível, a meu ver, ainda tem lá suas razões. Já os que serão decretados em junho, durante a realização da 'Rio +20', são apenas a confissão da incompetência do município do Rio de Janeiro. Para evitar a vergonha do caos nosso de cada dia, a Prefeitura vai tirar, metaforicamente, o sofá da sala: sem aulas e trabalho, nossas ruas e avenidas ficarão vazias, livres e desimpedidas para a passagem das delegações de vários países e chefes de estado.
     É um artifício, no mínimo, maroto. O mesmo que já está sendo programado para os dias de jogos da Copa do Mundo de 2014. No Rio, a desordem urbana é tratada com decretos.

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