Imagens e fatos

     A secretária de Estado americana, Hilary Clinton, deu mais uma demonstração do quanto os Estados Unidos estão querendo massagear nosso ego. Há alguns dias, coube ao presidente Barack Obama anunciar os esforços para reduzir a burocracia e os entraves na concessão de vistos para brasileiros. Chegou, até, a cogitar a eliminação da exigência, num futuro não muito distante.
     Hoje, coube a Hilary avançar no chamego, ao afirmar que a presidente Dilma Rousseff está estabelecendo um padrão mundial na luta contra a corrupção e a favor da transparência, o que provocou uma explosão de sensações, refletida em manchetes emocionadas.
     Vou me permitir discordar de uma das pessoas que admiro no cenário mundial. A secretária talvez não tenha sido informada direito sobre a quantas anda o envolvimento de enormes setores do governo com a corrupção. Imagino que ela saiba que sete ministros caíram ao serem descobertos com as duas mãos nos cofres públicos, mas não acredito que admita que todos estão livres, leves, soltos e faceiros. E que tudo ficou por isso mesmo. Ninguém devolveu o dinheiro roubado ou foi processado por esse governo que 'não compactua com a corrupção'.
     E mais. Será que Hilary sabe que há pelo menos outros dois ministros - Ideli Salvatti e Fernando Pimentel, ambos do PT - desviando-se, com as bênção da nossa presidente, de uma cascata de dejetos que ainda pode afundá-los?
     Talvez não tenha sido esclarecida sobre a mudança de rumo palaciana quanto à CPI que será aberta para apurar os escândalos que envolvem o contraventor Carlinhos Cachoeira e luminares de quase todos os partidos, incluindo, por óbvio e histórico, o PT. O Governo - e não há dúvida - preferia não mexer nesse caldo de iniquidades.
     O assessor que prepara seus discursos pode não ter tido tempo de entender bem a trama que mistura no mesmo mar de lama o contraventor, políticos e a mais importante parceira do tal PAC, a construtora Delta, componentes - pelo que as gravações da Polícia Federal anunciam - de uma mesma engrenagem bandida.
     À presidente - e isso fica mais claro, para mim, a cada dia - interessa pairar acima dos escândalos (jamais investigá-los e puni-los com seriedade), que foram e são usados por sua equipe para fortalecer uma imagem de intransigência com o 'malfeito'. Uma imagem que colou na população e vai rendendo dividendos internacionais.