quarta-feira, 25 de abril de 2012

Morte na estrada

     Ainda estou abalado com a morte estúpida dos cinco jovens universitários em um acidente de carro no Sul da Bahia. Viajei - e ainda viajo - muito - por todo o Brasil e América do Sul, sempre de carro, grande parte a trabalho. O carro foi uma parte fundamental da minha vida especialmente nas décadas de 1990 e 2000.
     Obrigado a me reeducar, até para poder editar, com seriedade, o caderno de automóveis do antigo Jornal do Brasil, fui descobrindo, progressivamente, o quanto nossos motoristas - e eu me incluo (incluía?) entre eles - são irresponsáveis ao volante e ignoram um fator fundamental: os limites que devem ser obedecidos são os do motorista, e não os do veículo.
     O fato de um carro 'popular' atingir com relativa facilidade mais de 150 quilômetros por hora não quer dizer que haja segurança a essa velocidade. Um simples descuido provoca, sim, acidentes irreparáveis. Um animal que atravessa a pista, um dos milhares de buracos escavados pela ganância dos empreiteiros, um cochilo de frações de segundo.
     De um companheiro de viagens inesquecíveis a lugares tão distantes quanto a Patagônia e Caracas, ouvi uma frase que repetíamos sempre aos que nos acompanhavam nas aventuras: errou uma entrada, uma pista, não tenta consertar. Vá à frente, faça o retorno, com calma.
     A morte desses jovens me remeteu a um acidente, também fatal, ao qual assisti e socorri. Aconteceu em uma recente viagem ao Jalapão, meu destino favorito no Brasil. Estávamos - eu e meu genro, Guilherme, companheiro de muitas jornadas - trafegando pela BR-040, ainda em Minas Gerais.
     O dia estava claro, seco e estávamos em uma grande reta. Como o carro oferecia segurança, viajávamos a algo em torno de 110 km/h, acima do permitido, reconheço. De repente, um brilho no retrovisor me alertou para um veículo que pedia passagem, ainda ao longe. Cheguei a comentar com Guilherme: "Vem um cara voando aí atrás".
     Encostei o máximo possível e abri passagem. Lembrem-se: eu estava a 110 quilômetros por hora. O tal carro passou de passagem, a uns 150 km/h. Vinte segundos depois derrapou, capotou várias vezes e parou no meio de um campo. Paramos e corremos para prestar socorro. O motorista, um jovem - soubemos depois que era um médico -, saiu das ferragens gritando, desesperado.
     Sua acompanhante - uma senhora de uns 75 anos, sua avó - não conseguiu. Morreu ali, na nossa frente. Estupidamente. O causador do acidente havia acabado de retirar o carro de uma concessionária e estava testando os limites do veículo, esquecido dos seus.

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