Entre as muitas ações protecionistas anunciadas pelo Governo, uma, em especial - pela relação direta com um período muito produtivo dos meus quase 18 anos no antigo e razoavelmente decente Jornal do Brasil, à frente da editoria de automóveis -, mexe com minhas lembranças. O Estadão anuncia que o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior confirmou a criação de uma cota de importação para as montadoras, "para possibilitar entrada de veículos e construção de mercado".
Imagino a felicidade das marcas que já estão aqui, com essa - digamos - ida a um passado feliz e trigueiro, quando carroças travestidas de automóveis saíam das linhas de montagem a preços de carruagens. Sem concorrência, as montadoras podiam se dar ao inverso do luxo, fabricando aqui veículos que já pertenciam aos museus dos países civilizados.
A abertura do mercado - talvez a única coisa decente produzida no infeliz Governo Collor - mostrou ao brasileiro que ele podia ter carros mais modernos e seguros, pagando até menos. Essa constatação obrigou nossas montadoras a investir em tecnologia, a criar novas plataformas. É verdade que os preços continuaram absurdos - um carro no Brasil custa duas vezes mais do que nos Estados Unidos, por exemplo. Mas há, ao menos, o consolo de pagarmos por algo mais decente.
Ao impor barreiras, cotas, o país limita a oferta, com o argumento de estar incentivando a produção nacional e gerando mais empregos por aqui. Temo que essa equação não termine bem.
O melhor estímulo que se pode dar a um setor produtivo é o da concorrência, arbitrado pelo mercado. Em condições semelhantes, eu, por exemplo, jamais compraria um produto importado. Costumo brincar com amigos, dizendo que prefiro um carro produzido por uma montadora nacional, com a qual eu possa brigar, do que um produzido por uma marca que não me ofereça um 0800.
Mas ele tem que ser bom.
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