segunda-feira, 23 de abril de 2012

Histórias de Júlia e Pedro (43)

Desculpas entre os dentes

     Vinha relutando em contar mais essa história protagonizada por Pedro. Flávia, a mãe, ponderou, com alguma razão, sou obrigado a reconhecer, que não é das mais - digamos - edificantes, pois poderia ser encarada como uma certa conivência com uma daquelas má-criações que ela repreende sempre. O que não é verdade. Embora doce, Flávia não transige, assim como não transigíamos com ela e Fabiana (especialmente!!!), embora os risos disfarçados.
     Tentei - e o tempo passado entre o ato e esse texto (duas semanas) é a maior testemunha. Mas acabei cedendo, até por que eu acho que o moleque não teve - de fato - a intenção que lhe foi atribuída. Para mim, apesar de todas as evidências relatadas pelas testemunhas, houve uma espécie de 'movimento involuntário da mão' que acabou no braço da babá, e não um ... tapa ou algo parecido. Dito tudo isso, vamos à história.
     Pedro já estava atrasado para tomar banho e mudar a roupa para ir à escola. Ele normalmente vai com prazer. Gosta dos amigos, das brincadeiras, da professora. Mas, nesse dia, estava ligado em uma brincadeira qualquer e ignorava as chamadas do misto de babá e avó precoce, a mesma que ajudou a criar Júlia e que ajuda a embalá-lo desde que ele nasceu.
     A babá chamava, a mãe falava e o moleque sentado, ignorando. Até que Sônia resolveu pegá-lo no colo, para levar para o banho. Foi nessa hora que a mão 'pulou' e acertou seu - dela, babá - braço. A bronca foi imediata, promessa de castigo e a exigência, feita pela mãe, de que ele pedisse desculpas.
      Depois de algum tempo, o pedido saiu, meio entre os dentes, olhando para o teto, mas saiu:
      - ... culp...".
      Não foi suficiente. Ele precisava completar com uma promessa: não faria mais isso. E, aí, criou-se um complicador. Sério, com a cara fechada, Pedro, com a maturidade dos seus quatro anos, ponderou:
     - E se eu esquecer?
     - Você não vai esquecer, Pedro", decidiu a mãe. - Você é um menino inteligente e não esquece essas coisas. Então, prometa que não vai repetir isso.
     - Mas mamãe, eu posso esquecer ...".
     Tomou banho, mudo, trocou a roupa e saiu. Ainda no elevador, olhou com um olhar atravessado para a babá - a quem adora e que revelou essa parte rindo, encantada com a travessura - e disparou:
     - Idiota.
     E mais não disse até chegar na porta da escola, a 15 minutos de caminhada.

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