quinta-feira, 12 de abril de 2012

Lembranças apaixonadas

     Vou me permitir contar um história antiga, absolutamente verdadeira, mas omitindo os nomes dos personagens principais, em respeito ao momento em que os fatos se passaram e à relação que existia entre nós, então. Ela é apenas mais um dos exemplos do tratamento diferenciado que é dado ao Vasco no noticiário esportivo diário.
     Durante muitos anos, foi 'acusado' por diversos companheiros de redação de enxergar complôs onde eles não existiam, face ao meu inconformismo com manchetes e textos manipulados, mais latentes aos meus olhos e sentimentos apaixonados, reconheço.
     A repercussão dos incidentes que se seguiram ao fim do último jogo entre Vasco e Flamengo reavivou minhas lembranças. Voltei à segunda metada dos anos 1970, quando ocupava a chefia da reportagem de O Globo. Nessa época, embora já contássemos (na chefia) com a assessoria de ótimas secretárias que nos ajudavam a administrar - entre outras coisas - a distribuição de carros entre as diversas editorias, alguns pedidos eram feitos diretamente a mim, especialmente os oriundos do Esporte, onde eu já militara e tinha grandes companheiros.
     Quase todos chegavam para pedir o carro e sentavam ao meu lado, para colocar a conversa em dia. Certa vez, aproveitei a conversa com um dos jovens repórteres de então, enquanto verificava a possibilidade de atender à sua solicitação extraordinária (na minha época, o esporte tinha um carro exclusivo, mas sempre queria mais), para questionar o tom do noticiário que envolvia o Vasco, que era coberto por ele. Perguntei se ele não achava que havia dureza excessiva, uma busca pelo pior, diferentemente do que acontecia com outros clubes.
     A resposta veio de maneira sincera e, de certa forma, ingênua. O setorista do Vasco confessou que fazia o que mandavam, que a orientação dos seus chefes era essa: bater, sempre que possível.
     Lamentei, como lamento até hoje. Os tempos mudaram, mudaram os personagens, mas a filosofia é a mesma, fruto do preconceito com um clube suburbano, que combateu o racismo e a segregação desde sempre e quebrou a hegemonia da elite da época.

2 comentários:

  1. Só não concordo com as razões que você atribui a esse preconceito. Acho que ele decorre da situação ocupada pelo Vasco: é o maior adversário do Flamengo, dono de 60% da torcida e que é por isso tão paparicado pela mídia.
    O mesmo ocorre, com gravidade ainda maior, na área política. Nesse caso, a ordem, no que se refere aos militares ou à direita, é a mesma: bater, sempre que possível.

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  2. A rivalidade, para mim, é uma consequência do preconceito, Paulo. Quanto aos militares, também achoque há uma enorme restrição, um preconceito que se generalizou. Talvez por falta de um relacionamento mais estreito, capaz de separar os fatos, como eles se deram e dão.

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