segunda-feira, 9 de abril de 2012

Lembrando Nílton Santos

     Violência, jamais. Em qualquer setor da vida. No esporte, então, é uma espécie de antítese. Não vejo lutas, especialmente esse vale-tudo estilizado que virou moda e seduz muita gente. Sempre que o tema volta à discussão, lembro que no Jornal do Brasil do início dos anos 1980, deixamos de publicar notícias sobre boxe, como uma forma de protesto contra algumas mortes que ocorreram nos ringues. O excelente e doce João Areosa, o editor de então, e que já não está entre nós, assumiu essa atitude corajosa.
     Seria, por tudo isso, um dos últimos a justificar agressão a juízes de futebol, mesmo quando eles claramente prejudicam alguma equipe, como aconteceu sábado, na partida entre Vasco e Flamengo, vencida pelos rubro-negros por 2 a 1. Alguns jogadores vascaínos se excederam, sim, ao contestar o árbitro, ao fim do jogo. É verdade que ele, o árbitro, foi decisivo - é isso mesmo, decisivo -, mas deveria ser interpelado na Federação, expurgado do futebol, e não no meio do campo.
     E não estou falando do pênalti marcado contra o Vasco, já na prorrogação. Foi pênalti, sim. Assim como foi 'muito pênalti' um lance anterior, quando um jogador do Vasco - Tiago Feltri, se não me falha a memória - foi calçado (e as imagens mostram isso sem a menor dúvida, e não adianta o 'comentarista' Arnaldo César Coelho - com cinismo e gracinhas - tentar desmentir o que nossos olhos viram e as câmeras gravaram) ao se antecipar à zaga, em um cruzamento. Quem já jogou uma pelada que seja, sabe que, quando se está em velocidade, basta um toque no pé de apoio para provocar a queda. E foi o que houve, com a bola já na frente. Dois lances claros de penalidade. Apenas um foi marcado.
     Pouco antes, uma falta inquestionável na meia lua da grande área foi premiada com a apresentação de cartão amarelo para o jogador - do Vasco, é claro - que foi derrubado, sob a alegação de que havia simulado. E houve outros lances semelhantes, como um empurrão clamoroso do lateral-direito do Flamengo Leonardo Moura no mesmo lateral Tiago Feltri do pênalti, ao lado da área, simplesmente ignorado.
     O árbitro também 'não viu' uma agressão por trás - mais uma, de Ronaldinho Gaúcho no lateral Fágner, em um início de contra-ataque. Como a bola ficou com o Vasco, mandou seguir e convenientemente esqueceu o lance. Assim como não teve dúvida em mandar continuar a jogada que resultou no primeiro gol do Flamengo, onde houve de tudo um pouco - o que explica a revolta do zagueiro Rodolfo.
     Esse 'conjunto da obra' - embora não justifique, ao menos para mim - pode tornar menos incompreensível a revolta dos jogadores e do presidente Roberto Dinamite. Roberto, aliás, lembrou que esteve em campo durante 20 anos e viveu situações semelhantes. O Flamengo? Não tem nada com isso, diretamente. Não comprou juiz e auxiliares, nem paga o salário de 'especialistas' em futebol que escrevem e falam com o uniforme do clube oculto sob a camisa e que estão sempre prontos a 'repercutir' incidentes assim, tirando o foco dos erros.
     Os árbitros erram contra todos, é verdade, por mediocridade. Mas erram - e muito! - por paixão clubística enrustida (nunca vou esquecer a emblemática atuação de José Roberto Wright no jogo que garantiu o tricampeonato do Fluminense, seu clube de coração, em 1985, contra o Bangu), interesses mercadológicos e preconceito.
     E não é de hoje. Nílton Santos, um dos maiores jogadores do nosso futebol, despediu-se dos campos, em 1968 (quando já era dirigente do Botafogo), com um soco que atirou o ex-árbitro Armando Marques escada abaixo no túnel de 'suas senhorias' no Maracanã. Já não suportava a sequência de anos seguidos de erros. Repetiu o sopapo desferido quatro anos antes, no mesmo árbitro, em São Paulo, quando ainda era atleta. Foi ovacionado pela torcida.
      Eu, se dirigente do Vasco fosse, simplesmente exigiria árbitros de outros estados nos meus jogos. Não sendo atendido, abandonaria o torneio estadual (colocaria uma equipe de juvenis, com uma 'quarta camisa' qualquer), e me fixaria nas competições nacionais e internacionais.

     PS: Não explicitei, nesse texto, que sou um apaixonado torcedor do Vasco. Quem me conhece sabe disso. Nunca escondi a paixão. Mas faço questão de lutar para que ela não enodoe minha visão, como acontece com grande parte dos que se aventuram nesse incrível mundo do futebol.


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