sábado, 14 de janeiro de 2012

Tremoços e vinho verde

     Mesmo indo e voltando, lendo e relendo, sem pressa, saboreando cada capítulo, concluí há alguns dias as quinhentas e poucas páginas do romance Equador, do autor português Miguel de Souza Tavares, ambientado nos primeiros anos do século passado, especialmente em Lisboa, na antiga colônia de São Tomé e Príncipe - duas ilhas principais no Golfo da Guiné, às costas da África -, e, em parte, na Índia.
     O requinte da pesquisa histórica é envolvente. Embora romance, o livro nos remete a personagens e momentos reais de um mundo que começava a definir sua nova face, naqueles idos de 1900, quando a monarquia agonizava em Portugal, aparentemente sem se dar conta. É um belo retrato de uma época, sustentado num personagem que mistura insolência e inocência, o jovem advogado, galante e idealista, à maneira da época, Luís Bernardo.
     Com temperos de Eça de Queiroz (1845/1900) e alguns momentos épicos camonianos (1524/1580), Equador investe na alma e na paixão de alguns personagens mais fortes, como a irresistível Ann, uma inglesa que jamais pisara na terra natal de seus pais e que se revela determinante na história. Além de desnudar o pensamento da classe dominante, da qual Luís Bernardo fazia parte.
     Mais moderno e ousado, o autor, advogado e jornalista, consegue inocular doses certas de um erotismo intenso e envolvente, mas elegante, que não resvala em apelos baratos. É verdade que há um certo atropelo no fim - é claro que não vou contar -, mas nada que comprometa a obra.
     Para quem gosta de boa literatura, que vá além da ficção, Equador (Editora Nova Frenteira, 2003) é um bom companheiro para os últimos dias de férias. Ou para essas tardes e noites chuvosas de um verão que ainda não começou. Dependendo da temperatura, pode ser acompanhado por tremoços e vinho verde.

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