quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

A fuga do 'paraíso'

     As duas notícias convivem lado a lado na página de O Globo. Dois exemplos marcantes do que é o paraíso cubano, exaltado por muitos de nossos mais destacados pensadores do que se convencionou chamar de esquerda - seja isso o que for, no mundo atual. Pois em um das pouquíssimas ilhas comunistas do mundo, literal e metaforicamente, o assunto do dia deveria ser - não é, pois lá não liberdade para tanto - a fuga de duas atletas e a obtenção de visto pela blogueira Yoani Sánchez, que tenta há vários anos sair do país.
     Yoani está com um dos pés fora da ilha: o Brasil - por não ter como negar, destaque-se! - concedeu-lhe um visto de entrada, para participar de um encontro para o qual foi convidada, em Jequié, Bahia. Não se sabe, ainda, se a ditaduta comandada por Raul Castro vai permitir que a 'dissidente' possa viajar. São fatos distintos. É até provável que permita, para afagar a presidente Dilma Rousseff, a nobre visitante que chegará por lá no fim do mês.
     Já as duas atletas participavam da seleção de futebol que disputa o pré-olímpico das Concacaf, no Canadá. Como se vivessem um roteiro de filme passado na antiga Alemanha Oriental, driblaram o cerco no hotel onde estavam hospedadas - eram proibidas de sair -, desceram uma escadaria, pegaram um táxi e ordenaram ao motorista: "Para a fronteira". A fronteira, no caso, era a dos Estados Unidos, onde pediram e receberam asilo político.
     Se o destino da fuga fosse o Brasil, as duas certamente teriam sido embarcadas a força em um avião venezuelano e devolvidas aos irmãos Castro, como aconteceu com os lutadores de boxe que participavam dos Jogos Pan-Americanos do Rio. Ao contrário do que ocorreu com o assassino e terrorista italiano Cesare Battisti, acolhido com extremo carinho por nossos governantes.
     Yoani, caso seja liberada para viajar e imagine por aqui ficar, precisa levar em conta o que a espera. O assessor de Assuntos Internacionais da Presidência, Marco Aurélio Garcia (aquele mesmo que comemorou com gestos indecentes o resultado da perícia sobre o acidente com o avião da TAM, que provocou a morte de 200 pessoas, em São Paulo), já antecipou o que nosso governo pensa sobre a hipótese de a blogueira pedir asilo: "Acho difícil. Exilado político não pode ter atividade política. Não me parece que ela queira isso", disse, a O Globo.
     Está aí o recado: pode até ficar por aqui, mas com a boca e o computador fechados. Para o governo cubano, pode ser um grande negócio. Eliminaria uma voz conhecida mundialmente, sem que fosse necessário cortar a língua de mais um inimigo da revolução.

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