sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

O Brasil e Cuba

     A desfaçatez com que o governo brasileiro trata as agressões aos direitos humanos em Cuba não tem limites. Há quase dois anos, o ex-presidente Lula comparou os presos políticos do regime dos irmãos Castro a bandidos comuns, logo após a morte do ativista Orlando Zapata, vítima de uma greve de fome que durou 85 dias.
     Na época, o mais medíocre dirigente brasileiro de todos os tempos construiu o seguinte 'raciocínio', em entrevista a uma agência de notícias estrangeira, a Associate Press: "Eu penso (?) que a greve de fome não pode ser utilizada como pretexto de direitos humanos para libertar pessoas. Imagina se todos os bandidos que estão presos em São Paulo entrarem em greve de fome e pedirem liberdade? Se os presos brasileiros entrassem em greve de fome e se você fosse o governante, você iria libertar todos?"- questionou. Será difícil encontrar uma declaração tão estúpida e desqualificada como essa em toda a história brasileira.
     Dois anos depois, a posição brasileira em relação à ditadura cubana é praticamente a mesma. Não houve um comentário sequer sobre a mais recente morte, a do dissidente Willman Volaer Mendoza, de apenas 31 anos, também vítima de greve de fome realizada na prisão onde se encontrava pelo 'crime' de discordar do regime.
     Ontem, imprensado na parede por um pedido de visto de entrada da mais famosa dissidente cubana, a blogueira Yoani Sanchez, às vésperas da visita da presidente Dilma Rousseff à ilha, nosso governo não teve outra saída, exceto conceder a autorização, mas com a ressalva expressa por esse incrível 'assessor' Internacional da Presidência, Marco Aurélio Garcia, ao Estadão: "O visto foi concedido. Agora, obter a autorização para sair de Cuba é problema dela".
     Não é, 'assessor'. O problema não é de Yoani. Ao contrário, é integralmente desse regime arbitrário e criminoso que sufoca o país há mais de cinco décadas, um dos poucos no mundo que cerceiam o direito de ir e vir, consagrado na declaração dos direitos humanos.
     É possível 'entender', no entanto, as restrições à saída da ilha. Se as fronteiras forem abertas, restarão poucos dispostos a viver sob o jugo de dirigentes sofríveis, em um país de mentira, edulcorado pela fantasia de um grupo de 'intelectuais' que estacionou nos anos 1960. Basta ver a população de Miami, que aumenta a cada dia, em virtude da chegada, em embarcações toscas, de fugitivos do paraíso comunista do Caribe.
     Se abrir, 'assessor', não fica um.

(*) O questionamento quanto à capacidade de pensar do ex-presidente (expresso por uma interrogação) é meu, e não da Associate Press.

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