domingo, 15 de janeiro de 2012

Histórias de Júlia e Pedro (32)

Júlia e o espelho

    Há um determinado momento que marca o começo do que virá a ser uma nova fase da vida, uma espécie de rito de passagem da infância para a pré-adolescência, especialmente - acredito - no caso das meninas, esses seres doces e intensos que mexem com a alma de pais, avós. Falo sobre isso com a 'experiência' do convívio sempre emocionante com duas filhas e, nos últimos anos, uma neta
     Júlia ainda é uma criança, com seus oito anos e meio de vida. Uma criança adorável e alegre, inteligente, repleta de amigos. Mas já começou a olhar para si mesma, no espelho, e descobriu que está mudando. É alta, para a idade (é uma das maiores da turma que vai para o terceiro ano do ensino fundamental, no Pedro II do Humaitá), e toda engraçadinha, com seus cabelos cacheados, "cor de mel", como os olhos, como ela diz, e uma pintinha especial no lado esquerdo do rosto (*).
     Ontem, repetindo um ritual que começamos há uns cinco anos, fomos tomar sorvete 'no posto' - na loja de conveniência de um posto de combustível que fica perto da sua casa e parada obrigatória na saída do maternal onde ela 'estudou' dos 2 aos 6 anos. Ela escolheu o vestido, a sandália e colocou um aplique no cabelo. Linda. Pedro, como sempre, use a roupa que usar, não escondia seu jeito moleque, com aquela ginga no andar, todo malandro, olhos verdes contrastando com a pele morena do sol.
     Já em casa, na volta, Júlia abriu o seu armário e se olhou no espelho. Deu uma volta, virou e perguntou à avó, com um jeitinho absolutamente natural:

     - Eu estou bonita, não estou?"
     Ao escutar a confirmação óbvia, emendou, assumindo - sem qualquer afetação - o indiscutível ar da tal fase que começa a transparecer, com a precocidade dos tempos modernos:
     - Eu fico bem com esse vestido. Vou usar sempre. Quando ficar curto, vou colocar como se fosse uma bata. Ele me deixa magra ...
     Júlia é um amor.


     (*) Eu ganhei, há alguns anos, uma das pintinhas. Júlia me 'deu' a que fica na parte de trás do pescoço, no lado direito. "A sua é essa, vovô", disse e mantém até hoje.

2 comentários:

  1. Que história linda, vovô! Adorei!!!!
    Uma delícia ler sobre seus netos, especialmente por causa de como você escreve!!! Parabéns! Tudo de bom pra você e sua super linda família!
    Quando for ao Brasil, vou lhe avisar antes, pois adoraria rever você e conhecer sua família!!!

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  2. Eu vou esperar seu aviso, Solange. Tenho certeza que todos gostarão muito de você,também.

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