sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

O crack e a demagogia

     Será que alguém acha, realmente, que esses milhares de farrapos humanos que se matam diariamente nas 'cracolândias' têm o direito de optar por essa devastação física e moral? Eu tendo a acreditar que essa sociologia de botequim de zona sul não passa de uma vigarice pseudo-intelectual, de uma pose liberaloide, de - isso, sim - um crime.
     No caso específico das reações à intervenção do município de São Paulo, esse estelionato ideológico tem razões políticas evidentes. A turma petista saiu a campo para detonar a iniciativa, com argumentos semelhantes aos usados na condenação do nazismo. É uma empulhação, embora eu reconheça que a prefeitura paulistana e o governo estadual também tenham mirado nas próximas eleições ao desencadear esse processo.
     Mas alguma coisa teria que ser feita, em algum momento. Se a internação compulsória de dependentes vai dar resultado, ou não, ainda é uma incógnita, para mim, pois ainda não foi tentada, de fato. Inadmissível, na minha ótica, é assistir com olhares doutorescos à destruição lenta e inexorável desses infelizes. Todos nós temos o direito, sim, a ter uma vida digna, e não a esse mergulho no pior dos mundos.
     A tentativa vagabunda de misturar os fatos - a necessária prisão de traficantes e o recolhimento dos dependentes - é mais uma demonstração do mal que os interesses eleitoreiros podem causar.
     Tenho, em relação ao prefeito Gilberto Kassab, enormes e intransponíveis diferenças, assim como as tenho com o carioca Eduardo Paes, que fazem parte - é bom não esquecer - da base de apoio ao Governo. Mas não me perdoaria se usasse divergências ideológicas para justificar mistificações.
     O crack vem demonstrando ser o grande inimigo a ser combatido na nossa sociedade, pelo efeito rápido e devastador. É um pesadelo ainda mais terrível do que o das demais drogas. E, por isso, deve ser enfrentado com todas as armas disponíveis. Jamais com a omissão demagógica, destinada aos aplausos de ocasião da turma que apoia a liberação da maconha nas universidades e enriquece traficantes, contribuindo com os altos índices de violência registrados no país.

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