quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Pedra sobre pedra

     Há muitas pedras no nosso caminho. Além de não ser novidade, é uma daquelas frases mais feitas e repetidas do mundo. Eu mesmo moro em uma, a Pedra de Guaratiba, um lugar que remete às cidades do interior, mesmo à beira-mar. Esse tal mar é que não é mais - há muito tempo - o que eu conheci ainda moleque, quando me aventurava por essas bandas, que incluíam a então limpa Sepetiba, nossa vizinha.
     O relativo progresso e o enorme desleixo das autoridades transformaram o mar da Pedra num vertedouro do esgoto da região, que não é tratado e quase sempre corre na rede de águas pluviais, ou pelos rios e canais que um dia já foram limpos. Mesmo assim, abstraindo o banho, as nossas praias são bonitas, especialmente quando a maré cheia cobre o cheiro que exala da mistura de lodo e dejetos.
     Os barcos da colonia de pesca se espalham ao longo da costa, modificando e colorindo a paisagem. O pôr-do-sol é outra atração e já inspirou muitas fotos ao longo desses onze anos de vida (exílio?) nesse canto do Rio.
     Mas a pedra que me motiva nesse texto é outra, que nada tem de beleza ou romance. Uma pedra que vinha me lembrando que existia há 23 dias, com pequenos e enganosos intervalos. Muitos - muitos, mesmo - sabem do que estou falando. Outros ainda imaginam, por ouvir dizer, por relatos detalhados do que dizem ser uma das piores experiências, um dos mais sérios sofrimentos.
     Estou falando dela, mesmo, de uma pedra no rim esquerdo que rolou pelo meu corpo por mais de três semanas, ditando meus humores e afazeres, risos e lamentos. Ontem, ela 'pulou', literalmente, alojando-se no fundo da louça, não sem antes provocar as reações que vocês podem imaginar. Grande (enorme, para mim), um meio termo entre um um grão de arroz e um de feijão, pesada, escura, dilacerante.
     Carreguei essa pedra sem direito a descanso, diariamente. Tratei dela como se fosse uma fugitiva da seca, com doses cada vez maiores de água, mate, sucos, chás. Acho que purguei, nesses dias, alguns dos meus muito pecados cometidos ao longo dos anos.
     Estou pronto, até, para ser mais benevolente com os desmandos oficiais. Mas não sei se vou resistir à anunciada reforma ministerial. Se a pedra ainda estivesse em mim, não teria a menor dúvida de afirmar que minha benevolência teria acabado hoje, ao ler que o ex-presidente Lula continua dando palpites no governo e indicando ministros. E o que é pior, mais grave: é ouvido.

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